XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE ACÚMULO DE BIOMASSA SECA DA MELANCIEIRA IRRIGADA COM ÁGUA SALOBRA A. R. F. C. COSTA1; J. F. MEDEIROS2 RESUMO: A seleção de híbridos tolerantes à salinidade e o manejo da irrigação são práticas agrícolas estudadas no sentido de melhorar o crescimento e desenvolvimento das plantas que se desenvolvem em meio salino, e consequentemente a sua capacidade produtiva, assim, objetivou-se avaliar o efeito de concentrações de sais da água de irrigação sobre acúmulo de biomassa seca de cultivares de melancia, na região de Mossoró, RN. Os tratamentos consistiram em aplicação de água de irrigação com cinco concentrações de sais (0,57; 1,36; 2,77; 3,86 e 4,91 dS m-1), duas cultivares de melancia (Quetzali e Shadow) e quatro épocas de amostragem de plantas (15; 29; 43 e 60 dias após o transplantio), delineados em blocos casualizados com quatro repetições. O maior acúmulo de biomassa seca da planta foi observado no final do ciclo da cultura, entre 50 e 60 DAT. Houve uma redução da biomassa seca na parte vegetativa (25%) e na parte aérea da planta (27%) em função do aumento da concentração de sais da água de irrigação. O acúmulo de biomassa seca foi maior nos frutos, para ambas cultivares. Palavras-chave: Citrullus lanatus; concentração de sais; desenvolvimento ACCUMULATION OF DRY BIOMASS FROM WATERMELON IRRIGATED WITH BRACKISH WATER SUMMARY: Hybrids tolerant to salinity and irrigation management are agricultural practices studied to improve the growth and development of plants that living in saline, and consequently its production capacity, thus, this study aimed to evaluate the effect salts concentration of irrigation water on dry matter accumulation of watermelon cultivars in the region of Mossoró, RN. The treatments consisted of water application with five salts concentrations (0.57; 1.36; 2.77; 3.86 and 4.91 dS m-1), two watermelon cultivars (Quetzali and Shadow) and four seasons of evaluation (15; 29; 43 and 60 days after transplanting), outlined in a randomized block with four replications. The greatest accumulation of dry biomass was observed at the end of the cycle, between 50 and 60 DAT. There was a reduction of dry biomass in the vegetative part (25%) and aerial part of the plant (27%) due to the increased concentration of salts. The dry biomass accumulation was higher in fruits for both cultivars. Keywords: Citrullus lanatus; salt concentration; development INTRODUÇÃO A melancieira é uma das principais espécies olerícolas cultivadas no Brasil, em especial na região Nordeste, por apresentar condições de solo e clima favoráveis ao seu 1 Pós-doutoranda em Engenharia Agrícola, UFERSA, Caixa Postal 137, CEP 59625-900, Mossoró, RN. Fone (84) 998488281, e-mail: [email protected]; 2 Engenheiro Agrônomo, Depto de Ciências Ambientais e Tecnológicas, UFERSA, Mossoró, RN. 1381 XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE desenvolvimento, podendo ser cultivada o ano inteiro sob condições irrigadas (COSTA et al., 2013). A região apresenta não só condições favoráveis ao cultivo, mas também, disponibilidade de água. A água disponível na região obtida a custo compatível é proveniente de poço que explora o aqüífero Jandaíra, que tem o inconveniente de apresentar elevados teores de sais. Nessas regiões, a salinidade tem sido apontada como um dos principais fatores responsáveis pela diminuição do crescimento e produtividade das culturas (MELONI et al., 2003; PEREIRA et al., 2007). Assim, a utilização destas águas fica condicionada à tolerância das espécies e cultivares à salinidade e às práticas de manejo da irrigação, que devem evitar impactos ambientais aos solos e consequentes prejuízos às culturas (MEDEIROS et al., 2003). Além da importância da tolerância das espécies e cultivares a salinidade e das práticas de manejo da irrigação, a análise de crescimento e desenvolvimento da planta também é útil no estudo do comportamento vegetal sob diferentes condições ambientais, de forma a selecionar híbridos ou espécies que apresentem características mais apropriadas (diferenças funcionais e estruturais) aos objetivos do experimentador (BENINCASA, 2003). Assim, objetivou-se por meio desse trabalho avaliar o crescimento de cultivares de melancia, por meio da análise de acúmulo de biomassa seca, submetidas a diferentes concentrações de sais da água de irrigação, na região de Mossoró, RN. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no município de Mossoró-RN, situada na latitude 5º03’37”S e longitude de 37º23‟50”W Gr, com altitude de aproximadamente 72 m. O solo da área experimental foi classificado como Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico latossólico (EMBRAPA, 2013). O preparo do solo foi realizado 15 dias antes da instalação do experimento e constou de uma aração, gradagem, elevação de camalhões com altura em torno de 0,20 m e colocação do mulch plástico dupla face de coloração prata/preto. A adubação foi realizada por meio da fertirrigação, utilizando-se venturis, tendo sido fornecidos 96 kg ha-1 de N, 75 kg ha-1 de P2O5 e 150 kg ha-1 de K2O. A cultura 1382 XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE utilizada no experimento foi a melancia (Citrullus lanatus), cultivares Quetzali (com sementes) e Shadow (sem sementes). Os tratamentos consistiram em aplicação de água de irrigação com cinco concentrações de sais (0,57; 1,36; 2,77; 3,86 e 4,91 dS m-1), duas cultivares de melancia (Quetzali e Shadow) e quatro épocas de amostragem de plantas (15; 29; 43 e 60 dias após o transplantio), arranjados no esquema de parcelas subsubdivididas 5 x 2 x 4 e delineados em blocos completamente casualizados com quatro repetições. A água de menor salinidade (S1) foi proveniente do poço artesiano profundo (composição: Na - 2,0; Ca - 2,0; Mg - 1,0; K - 0,4; Cl - 2,0; HCO3 - 3,0 mmolc L-1) e a água de maior salinidade (S5) foi produzida previamente em tanque com capacidade para 5000 L com a mistura dos sais NaCl, CaCl.2H2O e MgSO4.7H2O, de modo que a relação entre Na, Ca e Mg, medida em molc fosse de 7:2:1 Os outros três níveis de sais da água foram obtidos da mistura dessas duas águas, sendo monitorados diariamente com o uso de condutivímetro portátil, a partir de amostras coletadas durante toda a irrigação em emissores distribuídos na área. As parcelas experimentais foram constituídas por três fileiras de plantas de 20 m, com espaçamento de 2,0 m entre fileiras e 0,5 m entre plantas. O arranjo das plantas foi feito de modo que ficasse uma planta de fruto com sementes, alternada com uma planta de fruto sem sementes, na linha da parcela experimental. Uma fileira de plantas foi utilizada para a coleta do material vegetal. O sistema de irrigação utilizado no experimento foi o gotejamento. O manejo da irrigação foi realizado com base na estimativa da evapotranspiração máxima da cultura (ETm) diariamente, conforme método proposto pela FAO 56 (Allen et al., 2006), aplicando-se a metodologia do Kc dual (para fase III – 1,0 e Final do ciclo – 0,7). Para obtenção dos dados de biomassa seca foram realizadas quatro coletas da parte aérea da planta, sendo a 1ª aos 15, a 2ª aos 29, a 3ª aos 43, a 4ª aos 60 DAT, utilizando as plantas das cultivares Quetzali e Shadow. Esses materiais foram pesados e colocados em estufa à temperatura de circulação forçada mantida em cerca de 65 oC, até atingirem massa constante. Ao final, determinou-se a biomassa seca da parte vegetativa da planta (BSVG) (folha + caule) e a biomassa seca total (BST) (folha + caule +fruto). Os dados foram interpretados por meio de análises de variância e da regressão, utilizando-se para tanto o Sistema de Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG versão 9.0). 1383 XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE RESULTADOS E DISCUSSÃO Observou-se efeito significativo (P<0,01) da condutividade elétrica da água de irrigação (CEa) e da interação dias após o transplantio e cultivares (DAT x CULT) sobre o acúmulo de biomassa seca da parte vegetativa (BSVEG) e da biomassa seca da parte aérea da melancieira (BST). O maior acúmulo de biomassa seca da parte vegetativa da planta (243,26 e 176,15 g planta-1), das cultivares Shadow e Quetzali, foi estimado aos 52 e 48 DAT, respectivamente (Figura 1 A). A. B. Quetzali Shadow Quetzali 1200 Acúmulo BST (g planta-1) Acúmulo de BSVEG (g planta-1) Shadow 300 250 200 150 100 50 1000 800 600 400 200 0 0 0 20 40 60 80 Dias após o transplantio ** 2 ** ln(y)= -0,0034 x +0,35 x- 10,61 ln(y)= -0,0040**x2+0,38**x- 10,81 0 20 40 60 80 Dias após o transplantio 2 R =0,84 R2=0,68 ln(y)= -0,0025**x2+0,32**x-10,31 R2=0,94 ln(y)= -0,0031**x2+0,35**x-10,61 R2=0,88 Figura 1. Acúmulo de biomassa seca (A) na parte vegetativa e na parte aérea da planta (B) da melancieira em função dos dias após o transplantio. Em relação ao acúmulo de biomassa seca na parte aérea da planta (Figura 3B), observou-se que a cultivar Shadow atingiu a máxima absorção no final do ciclo da cultura (60 DAT), obtendo-se um valor médio de 962,95 g planta-1, já a cultivar Quetzali obteve o máximo acúmulo aos 56 DAT (506,73 g planta-1). Até os 40 DAT, o acúmulo de BST entre as cultivares foi similar, a partir daí a cultivar Shadow apresentou um acúmulo de BS superior a cultivar Quetzali. Pelas curvas pode-se considerar que a cultivar Shadow tende a apresentar um ciclo maior, razão pelo qual apresentou um maior acúmulo de BS no final do ciclo. Grangeiro et al. (2005) trabalhando com cultivar de melancia Mickylee verificaram também um maior acúmulo de massa seca ocorrendo no período compreendido entre 40 e 50 DAT. 1384 XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE Ao comparar a figura 1A com 1B observa-se um maior acúmulo de biomassa seca em favor dos frutos, comprovando-se que estes são o dreno principal da planta, desde o início da frutificação até a sua colheita. Para o efeito da CE da água de irrigação sobre o acúmulo de biomassa seca observase o acúmulo de biomassa seca na parte vegetativa (BSVEG) e na parte aérea da planta (BST) estimado para a menor condutividade elétrica da água de irrigação de 48,61 e 81,49 g pl.-1 caindo para 36,37 e 59,07 g pl.-1, quando se irrigou com água de maior salinidade (4,91 dS m-1) proporcionando uma perda de 25,2 e 27,2% de biomassa seca, para as cultivares Shadow e Quetzali, respectivamente. A menor produção de fotoassimilados pelas plantas cultivadas em condições salinas reflete o efeito do potencial osmótico da solução do solo, inibindo a absorção de água pela planta (FIGUEIRÊDO et al., 2009) e, consequentemente, reduzindo seu crescimento. Resultados semelhantes foram obtidos em outros trabalhos com outras cucurbitáceas (PORTO FILHO et al., 2006; MEDEIROS et al., 2007; SILVA et al., 2008). B. 90 60 Acúmulo de BST (g pl.-1) Acúmulo de BSVEG (g pl.-1) A. 50 40 30 20 10 80 70 60 50 40 0,0 1,0 2,0 3,0 CE da água de irrigação (dS ln(y)= -0,064*x-3,01 4,0 5,0 m-1) 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 CE da água de irrigação (dS R2=0,57 ln(y)= -0,071**x-2,51 5,0 m-1) R2=0,94 Figura 2. Acúmulo de biomassa seca (A) na parte vegetativa e na parte aérea (B) da melancieira, média das cultivares Shadow e Quetzali, em função da CE da água de irrigação. CONCLUSÕES O maior acúmulo de biomassa seca da planta foi observado no final do ciclo da cultura, entre 50 e 60 DAT. A cultivar de melancia Shadow apresentou um ciclo mais longo do que a cultivar Quetzali, a partir dos 40 DAT. O incremento da concentração de 1385 XXV CONIRD – Congresso Nacional de Irrigação e Drenagem 08 a 13 de novembro de 2015, UFS - São Cristóvão/SE sais na água de irrigação proporcionou redução no acúmulo de biomassa seca da melancieira entre a agua mais salina (4,91 dS m-1) e a de menor salinidade (0,57 dS m-1), na proporção de 25% parte vegetativa e de 27%, incluindo os frutos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BENINCASA, M.M.P. Análise de crescimento de plantas: noções básicas. 2.ed. Jaboticabal: FUNEP, 2003. 41p. COSTA, A.R.F.C.; MEDEIROS, J.F.; PORTO FILHO, F.Q.; SILVA, J.S.; COSTA, F.G.B.; FREITAS, D.C. Produção e qualidade de melancia cultivada com água de diferentes salinidades e doses de nitrogênio. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande, v.17, n.9, p.947–954, 2013. EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação de solos. 3.ed. Brasília, 2013. 353p. FIGUEIRÊDO, V. B.; MEDEIROS, J. F.; ZOCOLER, J. L.; ESPÍNOLA SOBRINHO, J. 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