INPERPELAÇÃO ÉTICA *Antonio Sidekum Resumen: Este artículo presenta la idea de la alteridad ética en la filosofía de Enmanuel Levinas como fundamento para la ética de la filosofía de la liberación; la exterioridad como una nueva categoría de la antropología filosófica. La ruptura ética con la totalidad se da através de la aproximación con el otro. La subjetividad se hace plena siempre en la relación para con el otro. La verdad será experienciada por el ser humano en la práctica de la justicia. La realidad humana en la filosofía de la liberación es la historia de la concientización del oprimido pobre que grita por justicia. Abstract: This paper presents ideas such as the ethics of alterity as first philosophy in the philosophical anthropology of Emmanuel Levinas as a basis for the ethics of the philosophy of liberation; the exteriority as a new category of the philosophical anthropology; the ethics breaks with the totality happens through the proximity of the other. Subjectivity is always planned in relation to the other. Truth will be experienced by the human being in the practice of justice. The human reality in the philosophy of liberation is the history of conscientization of the oppressed poor that shout for justice. O Ponto de partida: a interpelação do outro Alteridade ética na filosofia de Emmanuel Levinas como fundamento para a ética da filosofia da libertação1. Irrompendo a ética como filosofia primeira. A exterioridade é refletida como uma nova categoria da antropologia filosófica que trata da subjetividade, da justiça para com o outro do outro (terceiro)2 e finalmente como interpelação ética3. A ruptura ética com a totalidade excludente se dá através da proximidade para com o outro que reclama por justiça. A subjetividade torna-se plena sempre na relação para com o outro, numa exigência de um imperativo categórico da intersubjetividade. A verdade será experimentada pelo ser humano na prática da justiça. A realidade humana na filosofia da libertação é a história de conscientização do pobre oprimido que clama por justiça. Na obra filosófica de Emmanuel Levinas poderemos focalizar uma nova ênfase sobre a concepção antropológica e ética. “O homem enquanto Outrem chega-nos de fora, separado – ou santo – rosto. A sua exterioridade – quer dizer, o seu apelo a mim – é a sua verdade”4. O rosto do ser é humano desvelado com a interpelação ética5 e a ética como filosofia primeira. Aqui ética como filosofia e teologia primeira Em toda a obra de Levinas esboça-se uma constante preocupação em torno da reflexão sobre ética da alteridade e da transcendência. Essa dimensão nova da antropologia filosófica estende-se por toda a filosofia contemporânea. Esta antropologia atinge em profundidade também a filosofia intercultural e a filosofia da libertação latino-americana como ética da libertação. Com o pensamento ético de Levinas inicia-se uma nova etapa na história de ética e da antropologia filosófica. A concepção fundamental da imagem do homem a partir de seu pensamento será correlacionada com o “Humanismo do Outro Homem”, como a ética e a solidariedade e ao mesmo tempo como fundamento originário da ética da libertação. O Outro como princípio ético 1 Enrique Dussel. Introduz a categoria de proximidade para dimensionar o fundamento da ética da libertação. Estar na proximidade é estar na relação de justiça com o outro que se encontra na exterioridade pela totalidade. Antonio SIDEKUM. Ethik als Transcendenzerfahrung, Aachen: Augustinus Verlag, 1993, p. 2 Emmanuel Levinas. " O encontro com o Outro é uma responsabilidade minha para com ele. A responsabilidade para com o próximo que é, sem dúvida, o nome severo do que chamamos amor sem Eros, caridade, amor em que o instante ético domina sobre o instante passional, amor, portanto, sem concupisciência " In Raúl FORNET-BETANCOURT & Alfredo GOMEZ MULLER. Posições atuais da filosofia européia. S. Leopoldo: Nova Harmonia, 2002, p.169 3 Enrique DUSSEL.Ética da libertação. Petrópolis: Vozes, 2000 p. 529 4 Emmanuel LEVINAS. Totalidade e Infinito. Lisboa: edições 70, 1988 p.271. 5 O Documento de Puebla do CELAM utiliza-se da categoria da epifania do rosto humano para denunciar o estado de injustiça, de sofrimento histórico e da exclusão social Levinas acentua a dimensão absoluta dos pólos do eu ou do outro. O outro é outro, isto é, unicidade; o outro é exterior, é estrangeiro para mim, jamais será alcançável plenamente pelo meu eu. A alteridade do Outrem, absolutamente outro nunca poderá ser alcançado e dominado pelo meu Eu. O outro se encontra na distância infinita em relação para com o meu eu. Essa distância é provocadora da ipseidade como a consciência finita da experiência da finitude do meu eu. O qual se apresenta como total autonomia diante do mundo e dentro de uma indiferença. Essa autonomia conhecida como absoluta diferença e como infinita distância para o ser humano num sentido ontológico da vivência e da experiência do mundo e da historicidade da mesma proximidade e da autonomia presente no mundo de vivência de cada ser humano, porém, sempre experimentamos nosso mundo de vida como o apresentado da consciência e como o separado dos elementos da vida do mundo da alteridade infinita e absoluta do outro e pela epifania da infinita distância e da proximidade dialética do outro. E como poderíamos chamar a partir desses novos aspectos éticos? Por anatomia? Será essa a diferença? - Ou será ela dimensionada pela distância infinita dum sentido ontológico. Mas, a alteridade do outro não se encontra somente nesse nível ôntico apenas, porém, na experiência de sujeito absoluto e da intersubjetividade. Mas, o outro se revela numa nova dimensão da história seria sempre aquele considerado diferente sem uma distância infinita no sentido ontológico, apesar de ser considerado não ontologicamente diante de mim como sendo um desprotegido e sem forças, ou seja: distante infinito – mas, próximo ontologicamente em relação ao sujeito; ele apresenta-se em sua plena nudez diante do meu Eu. O outro confirma a minha unicidade. O Outro está na exterioridade de toda relação de poder e da relação absoluta da liberdade do meu eu. O sujeito em relação ao outro que não é distante ontologicamente, é, com efeito, exterior de todas as relações de poder e de liberdade; porém onticamente tem dois sentidos: 1. No sentido afirmativo poderia estar como exterioridade em relação ao poder e liberdade, no qual ontologicamente não caberia no melhor dos casos a exclusão nem a vulnerabilidade, por exemplo de uma estrutura humanista ou algo que tendesse a isso, 2. Quer dizer como simples exterioridade ôntica do sujeito da relação de poder e de liberdade; prováveis sentidos de Levinas para referir-se ao outro: 1) num primeiro sentido, seria situarse numa relação tanto ontológica como onticamente distantes em relação ao sujeito, 2) num segundo sentido, quando é onticamente distante, ou seja, também distante infinito, porém próximo ao sujeito conhecido ontologicamente; 3) num sentido último, seria pela simples exterioridade ôntica, como uma realidade da coisa falante reveladora da realidade do sujeito, a linguagem, na tomada de consciência de sua opressão e da alienação, e, esta perspectiva parece ser o sentido mais forte e radical do mundo de vida do excluído. Uma subjetividade que tem seu horizonte utópico negado enquanto princípio de esperança e que vê seus projetos existenciais refutados pelo sistema totalitário econômico e pelo pensamento fundamentalista do mercado único e absoluto, qual forma de um monoteísmo. O ser humano aspira por um tempo infinito para sua plena realização. Por um tempo da plenitude existencial. “Mas o tempo infinito é também a impugnação da verdade que ela promete. O sonho de uma eternidade feliz, que subsiste no homem ao lado da felicidade, não é uma simples aberração. A verdade exige simultaneamente um tempo infinito que ela poderá selar – um tempo acabado. O acabamento do tempo não é a morte, mas o tempo messiânico em que o perpétuo se transforma em eterno. O triunfo messiânico é o triunfo puro6. Ser aberto para o eu ou para o outro significa na originalidade ser excluído e vulnerável pelo outro. Aqui, postula-se um problema fundamental da relação ética: antes de tudo, uma série de problemas deve ser enumerada: o eu que é excluído e vulnerado pelo outro: o outro vulnerado e excluído pelo outro; o eu do outro excluído e vulnerado pelo eu do Outro? Uma segunda série de problemas que poderíamos formular assim: depois de esclarecido tudo isso como passar ao sentido forte do falante ético – do excluído em sua interpelação ética. A vulnerabilidade. A vulnerabilidade no sentido ôntico é bastante clara e, no entanto, delimitada segundo a Teoria da Dependência tanto para os países da Ásia, África como para América Latina na razão da geopolítica de Centro hegemônico e da Periferia excluída. A vulnerabilidade ontológica parece afetar todo o sistema capitalista contemporâneo, incluindo o primeiro mundo, enquanto a perda do sentido do ser; do anterior no qual parece localizar-se o problema no sentido ôntico. O mesmo quer dizer que a vulnerabilidade excluiria o primeiro mundo. A partir dessa ótica, como por exemplo, em Heidegger, não seria essa uma experiência mais global ou novamente mais totalizadora? Se a análise filosófica reduzir-se a um solipsismo, então, sim. Mas, Levinas aponta para o pensador do Sein und Zeit que irrompe com a categoria central para a filosofia contemporânea, ou pós-moderna, que é a condição do ser-com no mundo. Porém, é a partir dessa nova ruptura da filosofia, que se dará a dimensão da ética, a qual rompe com toda neutralidade ética do Dasein sem fome e configura-o como rosto que irrompe no mundo pela fome e desejo de fruir incomensuravelmente o mundo, revelando uma obsessão para alteridade e rompendo a totalidade e instaurando a exterioridade pela infinita alteridade que se plasma no rosto. O rosto do outro exige um compromisso ético na ação histórica, que se dá na sua epifania da interpelação ética: Tu não matarás! O eu será constantemente colocado em questionamento pelo outro, com efeito, a interpelação parece ter 6 T I, p. 265. três níveis: a) manifesta-se pela indiferença diante do outro; b) aparece como redução do excluído na realidade do fenômeno da coisa falante, e c) e pela experiência da vulnerabilidade no sentido ôntico. A interpelação ética é forte nos três sentidos, porém acentua-se mais na vulnerabilidade. Neste questionamento, que é um questionamento ético, trata-se especialmente da responsabilidade que eu tenho para como o outro. Ele gera uma consciência ética. Podemos afirmar que o sentido da responsabilidade gera consciência ética, porém isso não implica necessariamente compromisso ético na ação histórica, em todo caso compromisso tem um sentido muito amplo e flexível, como o conteúdo daquilo que aqui se denomina ação, que não necessariamente é igual à práxis histórica ou simples atividade; esse é um desafio ético para ser constantemente esclarecido. Esta perspectiva da antropologia filosófica significa: amor pela verdade, isto é, ela apela pelo outro enquanto tal, ela interpela pelo ser do outro. Apelar ao outro tem um sentido de amor à verdade enquanto mostrar que poderá induzir a pensar que basta enunciar ou descrever o que não necessariamente é denunciar, e apelar ao ser do outro sugere o sentido do amor de amor à verdade sendo o desvelamento do outro enquanto não sendo coisa falante, um homem dado como simples condição ôntica, atitude esta que não deverá ser confundida com uma mera reflexão abstrata do eu em seu solipsismo . O Transcender Levinas mostra-nos como, na relação da excludente solidão criada para a alteridade, se dá um rompimento, um real transcender, que não significa mais um retorno do eu para si mesmo. O transcender, como evento da relação para com o outro, não acontece mais nas categorias do ser. O ser é temporalidade, mas, a visão do ser como excludente da esperança é típico de certa ontologia, da fase helênica principalmente, que não tematizou a esperança dentro da busca sustentada por eles para alcançar a totalidade do ser. Porém, é na sua temporalidade: ou seja, na esperança, na qual se dá a expectativa da libertação. O rompimento ético com a totalidade se dá através da aproximação para com o outro numa certa metafísica principalmente helênica. Levinas chama de metafísica o impulso para a exterioridade radical. É um impulso metafísico é sempre esta busca pelo outro, que é absolutamente outro. Esta busca é uma busca do absolutamente outro, do infinito. Sustentamos como correto o primeiro argumento como evidente, porém o segundo argumento pressuposto, que é a busca do outro, é uma dificuldade para a filosofia ocidental. A cultura contemporânea principalmente marcada pelo individualismo não testemunha a favor de do pensamento ético de Levinas. O impulso metafísico para o outro se torna uma implosão ôntica, o devir do autismo ôntico convertido em presença metafísica; a transcendência tem desse modo um sentido, a busca do outro não é algo que emerge do nada como impulso metafísico, ela precisa ser cultivada, caso contrário será o individualismo o dominante da experiência humana, e a postura de Levinas aqui seria inconsistente. O outro está abandonado na exterioridade. A idéia do infinito é desejo infinito pelo outro. Este desejo metafísico abarca toda a filosofia de Levinas. No desejo pelo outro a minha solidariedade torna-se concreta ação histórica, como forma de irrestrita responsabilidade que tenho pelo outro. Esta responsabilidade ultrapassa a todas as dimensões dos meus limites e finitude, através da idéia do infinito. O desejo não parte de mim, ele vem do outro. Essa relação precisa ser cultivada necessariamente, onticamente se pode viver na mais completa alienação face à interpelação; e nem mesmo, assim observe-se por exemplo como pessoas preparadas para atender à interpelação permanece cerrada em si: o estrato intelectual e especificamente a franja filosófica. Minha liberdade é questionada pelo olhar do outro, que de mim reclama justiça, pela sua palavra pela qual ele se revela e pala sua experiência do infinito. Este desejo pelo outro é, segundo Levinas, a medida para o infinito. O desejo pela alteridade suscita em nós sempre mais desejos. Este desejo não poderá ser saciado por nenhum fim e satisfação. A idéia do infinito, em conjunto com a idéia da bondade e a idéia do desejo, desperta a subjetividade para com o outro. Esta responsabilidade antecede ao próprio eu. Levinas fundamenta, através da idéia do infinito, sua crítica à totalidade, pois, a idéia de infinito não é incompatível com a totalidade contrária à ontologia helênica. A Ética como Filosofia Primeira A categoria da proximidade será pensada por Levinas fora das categorias ontológicas. A partir de Levinas a filosofia da libertação concebe e sustenta profundamente a existência do ser humano pela proximidade da relação. Esta relação será a plenitude da relação ética, da responsabilidade infinita pelo outro. A proximidade não se entende, na filosofia de Levinas, como a da dimensão da especificidade, porém como pura relação, sem intermediações; ela não se compreende sem o peso do drama do ser. Através da obsessão pelo outro na qual se dá a ruptura para com a totalidade, e o ser humano entra, assim, na relação para com a alteridade absoluta do outro como Outrem. A subjetividade torna-se plena na dimensão de sua historicidade e da consciência de sua autonomia sempre em relação para com o outro. A alteridade tem uma dimensão metafísica, é ética. O nosso mundo permanece, através da alteridade, um mundo aberto. O outro é a origem radical e o fim do “ser-no-mundo”. A totalidade será rompida a partir da subjetividade. A subjetividade aparece como aberta para a exterioridade, sem poder escapar-se da relação assimétrica, a qual, por seu lado, se manifesta ao outro de maneira diacrônica como culpada e responsável. A experiência ética é, na verdade, uma experiência metafísica, isto é, não é nem um processo dialético de um "desvelamento", nem ontológico, mas é um processo interpessoal da revelação. Porque a revelação não é dada nunca sem uma alienação para sua compreensão, como muito bem se poderá observar em Tomás de Aquino , na primeira parte da Suma Teológica, e se inspirar na ética como experiência da transcendência. O desejo pela transcendência será despertado através do grito pela justiça e pela revelação do rosto do outro. Através dos conceitos da alteridade e da exterioridade, desenvolvidos na filosofia de Levinas, somos levados ao ponto central da filosofia da libertação latino-americana: a experiência pela libertação do outro que se encontra na injustiça. Aqui voltamos ao segundo parágrafo do presente texto. A alteridade tem uma dimensão ética; o rosto do outro é justamente o começo da filosofia isso no sentido de uma antropologização ou na perspectiva kantiana da eticalização da religião. Mas, aqui a filosofia é compreendida como um humanismo radical. Que não será um humanismo helênico e tampouco judaico-cristão. Falar da alteridade significa, antes de tudo, incluir a ética no pensar afirmação que denuncia precisamente o inverso como o comum: a amoralidade no pensar ou o moralismo no pensar. A relação para com o outro se estabelece na forma da bondade, que se chama de justiça e verdade, e que se concretiza historicamente numa infinita experiência de transcendência, como solidariedade e responsabilidade pelo outro. Ë uma experiência certa, mas, nunca será espontânea na cultura da unidimensionalidade e unidirecionalidade contemporânea, deve-ser uma experiência ensaiada, pois o simples impulso para a sociabilidade não significa consciência positiva automaticamente, mesmo que possamos tratar da inclinação para o social, como fato emocional e sentimental, seria uma experiência positiva para aceder à uma consciência positiva. As categorias bíblico-semíticas, tais como: o órfão, o pobre, a viúva e o estrangeiro, que são utilizadas na filosofia de Levinas, recebem uma concreta significação e destino na filosofia da libertação. O outro é o oprimido, que se chama do índio, o colono sem terra, dos povos originários da América Latina, o marginalizado nas periferias dos grandes centros urbanos, o desempregado, o pobre do povo que clama por justiça. A revelação deste outro exige uma correspondente práxis libertadora. Assume-se, assim, uma postura mais concreta e mais radical em relação a Levinas, pois, trata-se da Práxis e da Ética libertadora como filosofia primeira. Este outro não poderá ser negado e nem desconsiderado, uma vez que ele se encontra justamente fora da dimensão do jogo do meu eu. O outro que vem ao meu encontro, que clama por justiça em sua interpelação, rompe com o sistema da opressão, com a ideologia ou ilusão, ele rompe com o egoísmo do eu. Aqui, será necessário e fundamental discutir, segundo minha compreensão, o tema da hermenêutica do problema da alteridade no pensamento de Levinas, pois está implicada uma situação de interpretação filosófica. Isso em dois sentidos: 1. como interpelação ética do outro enquanto excluído, pobre, sofredor, órfão, mulher, estrangeiro, no sentido forte como interpretação da vulnerabilidade e exclusão social; 2) no sentido da perda do sentido, isto é não exclui o primeiro mundo, categoria e problemas não enunciados específica e claramente em Levinas. O ser humano experiência a presença concreta do outro em sua exterioridade e se encontra com ele mesmo na transcendência, necessariamente tomamos um outro rumo em relação a Levinas, pois é num sentido ontológico e ôntico diferente de Levinas. Neste sentido a proximidade no horizonte do ser-para-o-outro não tem nenhuma delimitação espacial e temporal, porém abarca toda a humanidade enquanto consciência da interpelação ética, e num sentido mais avançado do conceito de ser para-o-outro de Levinas. O ser-para-o-outro é sempre compreendido como uma relação a um saber moral, ou seja para um pensar moral, para a bondade, para a diaconia, para substituição pelo outro e para a responsabilidade infinita para com o outro pela prática da justiça. A relação para com o outro, na dimensão da interpelação ética do ser-para-o-outro, alcançará sua plenitude de responsabilidade ética infinita, e fundamentalmente, no ser da comunidade, o que corresponde à responsabilidade ética para com o outro, como uma experiência originária da plenitude da alteridade. Na definição da interioridade soberana, Levinas descreve a liberdade como vontade e obsessão para com o outro. A verdade será vivenciada radicalmente, no sentido de uma categoria absoluta, como também na expressão divina da subjetividade de Jesus, quando ele em sua condição messiânica oferece ao ser humano a salvação através da prática da justiça para com os outros. Através do outro comparecem diante do meu “eu” “muitos outros”. Levinas chama a estes “muitos outros” de terceiro. Aqui reside a razão por que a relação do eu com o outro alcança uma dimensão infinita. A verdade correlaciona-se com as relações sociais, que exigem a realização da justiça. A justiça consiste em reconhecer a alteridade do outro na sua absoluta alteridade. A solidariedade consiste em ouvir o grito e a interpelação do outro. A tradição da filosofia latino-americana da libertação está profundamente enraizada na experiência da história do êxodo e da ressurreição e com isto ela se manifesta comprometidamente com uma tradição crítica. A perspectiva da filosofia latino-americana está no fato de se poder realizar uma releitura crítica da realidade, a partir da experiência das categorias vivenciais do pobre, do órfão, da viúva e do estrangeiro (excluído), na perspectiva de uma ética da libertação. O que fazer da filosofia latino-americana da libertação consiste em não retomar o logos grego ou de usar a “ratio” da Europa imperialista, mas está inserida numa centralidade do compromisso ético pela interpelação da alteridade do outro negado e é chamada a fazer uso da palavra e dos gestos da América Latina oprimida, numa perspectiva hermenêutica no sentido de uma hermenêutica do sentido originário (Ursprung) do êthos cultural, ou seja da dimensão existencial na historicidade, porque não é nem exegética nem analítica, porém relacional com muitos níveis de contradição e tem como desafio filosófico pensar a diferença radical. A filosofia da libertação como um pensar que surge de uma história do sofrimento e que, portanto, serve como fundamento ético para tal, para compreender a alteridade, será, neste sentido, uma nova dimensão da história da filosofia. Esta filosofia coloca um novo horizonte na luz da história. Ela aponta para os direitos fundamentais dos oprimidos e de suas virtudes. A filosofia da libertação fundamentar-se-á numa perspectiva positiva. Na filosofia da libertação as categorias da paz, justiça, amor, solidariedade e promoção humana recebem um espaço especial pela reflexão interior e terão um status específico, são realidades éticas e, portanto, portadoras de uma utopia histórica concreta para o povo. O filósofo, ao ensaiar a práxis libertadora, desenvolverá sua filosofia não mais numa pura abstração especulativa, mas, na busca da fundamentação originária de seu pensar no meio do povo sofredor a caminho da libertação. Sua ética será filosofia primeira, não mais sustentada por uma dialética abstrata neohegeliana, como na dialética dos proclamadores do Fim da História e dos que tem necessidade de sustentar um Totalitarismo do Absoluto, mas, o filósofo comprometido com o projeto do oprimido buscará uma outra dialética. A dialética anunciada por Ludwig Feuerbach A práxis libertadora parte da verdade do oprimido. O pobre, o oprimido, possui consciência de sua contingência histórica. Quando falamos de uma práxis libertadora, não falamos de um mero desejo, porém de uma realidade transformadora. A realidade é a realidade do pobre oprimido que ensaia sua libertação. A libertação é uma reação da dimensão comunitária do ser humano. Esta libertação se expressa como solidariedade e atinge em plenitude a vida social. Assim desenvolvem-se sempre muitas outras relações sociais radicais de solidariedade, da participação social, da coresponsabilidade para com o povo e como uma experiência de uma utopia concreta. Nesta perspectiva e na da liberdade de ação histórica do povo e de muitas outras realizações sociais do povo consciente de seu processo libertador, cria-se uma nova realidade para o ser humano, que redundará numa sociedade com princípios de justiça e de solidariedade. Esta nova forma de sociedade se construirá e se estabelecerá pelas lutas solidárias históricas contra o totalitarismo. Sem embargo deve-se aqui fundamentar a minha visão de mundo político no sentido da totalidade, nesse sentido vejo a perspectivos da Weltanschauung de maneira diferente, isto é um humanismo radical que não é helênico nem judaico cristão, eu sugiro aqui uma subjetividade radicalmente ética porém pelo fato de estar fora do horizonte grego e judaico-cristão, sugiro outro enfoque da subjetividade ao conceber a totalidade: um humanismo radical nem helênico nem judaico-cristão, está sugerindo outro enfoque da subjetividade ao conceber a totalidade na linha de uma práxis que implica no compromisso real com a história dos pobres pela justiça, por conseguinte não excludente de certo tipo de guerra se levado o compromisso ao extremo], descrita por Levinas, que se manifesta como a guerra, o imperialismo, a força militar, a ditadura econômica estendida hoje, através da nova ação beligerante imperialista por todo Mundo, contando com os sofisticados processos da alienação da população pela manipulação ideológica, unidirecional da sociedade. A solidariedade é o novo caminho da esperança transformando-a em possibilidade renovadora da utopia humana. A comunidade de comunicação real existe na solidariedade, na responsabilidade vivida plenamente pelo outro. Esta solidariedade desperta e gera uma vida de comunidade real, na qual todos terão participação da libertação. A verdadeira libertação origina-se do outro, que se encontra na exterioridade, na injustiça. Este outro possibilita a experiência de transcendência do eu, através do seu rosto que se revela na expressão da interpelação ética. Esta práxis libertadora ética é a vocação do ser humano, que a realiza em plenitude pela solidariedade e comprometida na construção da ética comunitária. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BLOECHL, Jeffrey. The Face of the Other and the Trace of God. Essays on the Philosophy of Emmanuel Levinas. New York: Fordham University Press, 2000. BRIDGES, Thomas. The Culture of Citizenship. Inventing Postmodern Civic Culture. 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