Em 60 anos, um país diferente

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RETRATO BRASILEIRO
Em 60 anos, um país diferente
Ao comparar censos, IBGE constata que população quadruplicou, migrou
para cidade, ficou mais mestiça e menos católica. Analfabetismo
despencou de 56,8% para 12,1%
Da redação
A população brasileira quadruplicou, ficou mais mestiça, mais urbana e
menos católica em 60 anos, de acordo com estudo do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem, que mostra ainda uma queda
vertiginosa dos índices de analfabetismo. O estudo compara o censo de 1940 com
o de 2000 e mostra que, nesse período, a população saltou de 41,1 milhões de
habitantes para 169,8 milhões. Desse total, 2,6% viviam no Centro-Oeste, em
1940. Em 60 anos, a região aumentou sua participação no total de habitantes do
país para 6,9%, principalmente por causa do desenvolvimento de Brasília e do
Entorno do Distrito Federal. Outro fator que impulsionou o crescimento
populacional da região, de acordo com o IBGE, foi a expansão tardia da fonteira
agrícola do país, o que também contribuiu para o aumento populacional da região
Norte (de 4% para 7,6% do total). Com isso, a densidade demográfica subiu, no
período, de 0,7 habitante por quilômetro quadrado para 7,2 na Região CentroOeste e de 0,4 para 3,4 na Região Norte.
A comparação entre os dois censos mostra que a população brasileira
continua muito concentrada no Sudeste (42,6% do total) e no Nordeste (28,1%),
apesar de a participação relativa das duas regiões ter caído no período. No Sul,
vivem 14,8% dos brasileiros. O estudo revela também disparidades dentro das
regiões: a densidade demográfica no Sudeste era de 78,3, habitantes por
quilômetro quadrado em 2000. No Rio de Janeiro, a taxa chegou a 328 e em São
Paulo, a 149.
No censo de 1940, os cinco estados mais populosos do Brasil eram São
Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Em 2000, a Bahia
trocou de posição com o Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro, que era o município mais
populoso, perdeu o lugar para São Paulo.
Imigração
O crescimento, de acordo com o IBGE, alterou também o perfil da população
brasileira: a quantidade de pessoas de cor branca e de negros caiu de 63,4% da
população para 53,7% e de 14,6% para 6,2%, respectivamente. Em
compensação, a taxa de habitantes da cor parda subiu de 21,2% para 38,5%, o
que indica “um considerável índice de miscigenação racial”. A maior concentração
de negros está no Nordeste, enquanto os brancos estão no Sul. Isso, segundo o
IBGE, é resultado da política de imigração adotada pelo Brasil no século 19, que
estimulou alemães e italianos a se fixarem na região. Já os escravos africanos iam
mais para o Nordeste, principalmente para o Maranhão.
Em 1940, 96,6% dos pesquisados eram brasileiros natos. Em 2000, a taxa
subiu para 99,6%. No último censo, os japoneses estavam presentes em 9% dos
5.507 municípios brasileiros, com maior concentração nos estados de São Paulo e
Paraná. Os portugueses estavam em 6,1% das cidades, principalmente no Rio e
em São Paulo, enquanto os italianos podiam ser encontrados em 5,1% dos
municípios.
Há 60 anos o catolicismo era a religião de 95% dos brasileiros. Em 2000, o
percentual tinha caído para 73,6%, numa demonstração de que o catolicismo
perdeu terreno para as religiões evangélicas. No período, o número de evangélicos
cresceu de 2,6% da população para 15,4%. Ao mesmo tempo, aumentou a
quantidade de pessoas que declararam não ter religião (de 0,2% para 7,4%), com
destaque para o Rio de Janeiro, onde 15,4% das pessoas não têm religião.
Esses 60 anos, informa o IBGE, alteraram também “a dinâmica dos arranjos
conjugais”: a família baseada no casamento legal, formada de pais e filhos, foi
substituída por mães solteiras e pais separados e casais com filhos de uniões
anteriores. De acordo com o estudo, o número de pessoas casadas subiu de 42,2%
para 49,5% do número de habitantes com mais de 10 anos de idade. O de
solteiros caiu de 51,6% para 38,5%.
O estudo demonstra ainda que a taxa de analfabetismo despencou de 56,8%
para 12,1% da população com mais de 10 ano de idade, uma queda de cinco
vezes. Em números absolutos, entretanto, a taxa de analfabetos se manteve em
16,4 milhões. Já a taxa de alfabetização saltou de 43,2% para 87,9% no período.
De acordo com o IBGE, os maiores índices de analfabetos estão no Nordeste, com
destaque para Alagoas, Piauí, Paraíba, Maranhão e Ceará.
No período, o Brasil deixou de ser um país rural: a taxa de moradores nas
cidades subiu de 31,3% para 81,2% ou de 12,8 milhões de habitantes para 137,9
milhões. Mesmo assim, 31,8 milhões de pessoas continuam vivendo no campo. De
acordo com o IBGE, as pessoas migraram para as cidades, principalmente as
capitais, em busca de serviços públicos, como saúde e educação, e de melhores
condições de vida. O estudo destaca ainda que no período foram criados 3.933
novos municípios. O número total de municípios saltou de 1.574 para 5.507.
Jornal CORREIO BRAZILIENSE-26/05/2007
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