2005 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2005 Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA N UCLEAR - ABEN ISBN: 85-99141-01-5 RADIOVERTEBROPLASTIA PARA TRATAMENTO DE METÁSTASES ÓSSEAS DA COLUNA VERTEBRAL Rodrigo D’alessandro e Tarcisio P. R. Campos Programa de Pós-graduação em Ciências e Técnicas Nucleares Universidade Federal de Minas Gerais Av. Antonio Carlos, 6627, Prédio PCA1, S.2285 RESUMO Metástase no esqueleto é uma complicação comum em pacientes com câncer. A maioria das metástases acomete a coluna vertebral. Dor intratável e paresia causada por compressão medular ou radicular são os sintomas mais proeminentes das metástases da coluna. A abordagem terapêutica proposta pelos autores consiste no acoplamento de duas técnicas, a vertebroplastia e os implantes de microsementes emissoras betas, definindo uma nova modalidade radioterápica: radiovertebroplastia. A vertebroplastia percutânea é um procedimento radiológico intervencionista, minimamente invasivo, que consiste na injeção de biomaterial no interior do corpo vertebral, utilizado nas regiões cervical, torácica e lombar, objetivando redução da dor e aumento da resistência de carga do corpo vertebral. Considerando que a vertebroplastia e a radioterapia megavoltagem podem ser utilizados de forma conjunta na modalidade de radiovertebroplastia. Espera-se que este protocolo poderá gerar o controle local da metástase além da redução da dor e do reforço estrutural do corpo vertebral. Para a avaliação da proposta, um modelo tridimensional antropomórfico-antropométrico da coluna vertebral foi construído. Este modelo de voxel, aplicado ao MCNP5, produzirá a distribuição de dose absorvida no corpo vertebral, além da medula e pulmão. O instrumental para a implantação da semente radioativa in vivo, através de técnica percutânea, considerando as normas de radioproteção, são discutidos. A inoculação do polímero de polimetilmetacrilato na forma semipastosa associada o material radiopaco juntamente à sementes radioativas foi preparado a frio e implantado em um modelo in vivo, em um corpo vertebral de um porco, e acompanhado por fluoroscopia. A resposta visual do instrumental e da er sposta do composto no corpo vertebral permitem concluir a viabilidade da técnica radiovertebroplastia. O artigo discute as indicações, riscos potenciais e vantagens e desvantagens da técnica em relação aos outros tratamentos. 1. INTRODUÇÃO Metástase para o esqueleto é uma complicação comum em pacientes com câncer, sendo que a maioria das metástases acomete a coluna vertebral. O esqueleto axial é o terceiro local mais freqüente de metástase, após pulmão e fígado. Estudos de autópsia revelaram que a freqüência de metástases epidurais acomete cerca de 5 a 10 % de todos os pacientes com câncer.[1] A abordagem terapêutica é complexa , a depender de uma série de condições como :condição clinica do paciente, expectativa de sobrevida, quadro clínico em relação à dor, o comprometimento neurológico, radioresistência e quimiossensibilidade do tumor primário entre outras. Geralmente faz-se necessário uma abordagem multiprofissional para propiciar um tratamento mais coerente com as necessidades desses pacientes.[2,3] A vertebroplastia percutânea, é um procedimento radiológico intervencionista, minimamente invasivo, que consiste na injeção de biomaterial no interior do corpo vertebral, utilizado nas regiões cervical, torácica e lombar, objetivando redução da dor e aumento da resistência de carga do corpo vertebral.[4] A radioterapia é outra forma de tratamento freqüentemente utilizada. O mecanismo de alívio da dor após radioterapia não é definido, mas o alívio precoce com terapia em meio corpo (“half body”) é tão rápido que é improvável de estar relacionado com a destruição de células tumorais. O alívio tardio é durável e está provavelmente relacionada à destruição de células tumorais. Irradiação externa produz alguma cicatrização e reossificação em 65 a 85% das lesões líticas em ossos não fraturados.[5,6,7] Os dois procedimentos têm indicações definidas, com complicações, vantagens e desvantagens em relação a outras propostas terapêuticas. Os tratamentos propostos para neoplasias malignas da coluna, freqüentemente envolvem a utilização de duas ou mais terapias. Considerando a vertebroplastia e a radioterapia, ambos os procedimentos podem ser utilizados de forma conjunta. Alguns centros, utilizam como protocolo a associação dessas técnicas, obtendo resultado satisfatório com relação a analgesia e controle local da doença. A braquiterapia direcionada para a coluna vertebral é um procedimento que até então não tem descrição na literatura científica , e que teoricamente poderia ser utilizada para tratamento de lesões tumorais da coluna . A associação desse procedimento com a vertebroplastia teria um efeito potencial para o tratamento de pacientes . A segurança e eficácia devem ser avaliadas antes de se propor como modalidade terapêutica . O objetivo do presente trabalho é apresentar um modelo computacional de um segmento da coluna lombar que permita estudos dosimétricos em radiovertoplastia. Após escolha de radionuclídeos que sejam principalmente emissores beta como integrantes do processo de aplicação da vertoplastia, pretende-se realizar estudos dosimétricos e distribuição da dose no corpo vertebral. Está sendo também proposto a introdução de um macroagregado de hidroxiapatita (HA), bem como a realização de simulação da técnica na coluna de porco in vitro para avaliar a viabilidade da técnica em que se utilizaria: polimetilmetacrilato (PMMA), sulfato de bário e hidroxiapatita com a utilização do instrumental da técnica de vertebroplastia.[8] 2. MATERIAIS E MÉTODOS Foi obtida uma seqüência de imagens de ressonância nuclear magnética ponderados em T2 com cortes axiais com espessura de 5 mm, de três segmentos consecutivos da coluna lombar (L1, L2, L3) .Esse exame ,de características imaginológicas normais, isto é sem lesões patológicas. Estas imagens foram digitalizadas corte a corte e desta maneira transferidas para o sistema computacional SISCODES [9], que esta sendo desenvolvido no Departamento de Engenharia Nuclear. Após tal procedimento, todas as imagens foram centralizadas e colocadas em um mesmo enquadramento, de modo tal que as distâncias das figuras até as margens laterais, superiores e inferiores fossem as mesmas ou aproximadamente as mesmas. O enquadramento das imagens procurou garantir que o ponto central fosse o mesmo para todas . O propósito desse procedimento foi criar um programa que agrupasse as imagens trazidas da ressonância nuclear magnética e, construir uma estrutura volumétrica tridimensional , capaz de reproduzir dois segmentos da coluna lombar (respectivamente L1-L2-L3), de aspecto o mais realístico possível usando um programa somatório de imagens . Nesta reconstrução volumétrica , os INAC 2005, Santos, SP, Brazil. segmentos da coluna foram estudados em sua totalidade.Utilizando o programa SISCODES e a barra escalonadora, imagens foram gravadas em escala, um a um dos cortes de RNM. À luz dos conhecimentos de anatomia de RNM ,específica da coluna, cada estrutura foi identificada tal que cada pixel selecionado de um determinado tecido foi relacionado a uma cor pré-definida. Previamente foi dado a cada tecido ou estrutura uma determinada cor , gerando dessa maneira uma imagem de vóxel colorida, onde cada corte de RNM retrata as estruturas anatômicas por cores e não por graus de cinza. Nessa etapa, o importante foi identificar cada estrutura tecidual, separá-las uma das outras, através da atribuição a cada uma delas de uma cor definida, sem deixar nenhum voxel sem definição. Para garantir um destaque suficiente entre duas estruturas teciduais contíguas, foram utilizadas cores contrastantes. As imagens então coloridas foram tratadas pelo programa SISCODES, sendo alinhadas uma a uma , centralizadas e corrigidas individualmente, afim de que todos os voxels fossem identificados de forma morfológica e anatômica corretamente. Como cada 5 cortes axiais da ressonância nuclear magnética formava uma vértebra consideramos arbitrariamente que o tamanho médio da vértebra fosse de 25mm. No caso dos discos intervertebrais, utilizamos o mesmo processo e consideramos o tamanho médio com 10 mm. Construímos portanto um modelo composto por três vértebras, denominadas L1 ,L2 e L3 e dois discos intervertebrais D1 e D2. O programa SISCODES permite uma visualização do modelo nos três planos (axial, longitudinal e coronal). Foram realizados estudos sobre a composição química de cada tecido, devidamente identificado e individualizado pelo método computacional descrito. Foram consideradas as estruturas que compõem o segmento estudado: osso vertebral cortical, osso vertebral esponjoso, medula vertebral, músculo paravertebral e psoas, artéria aorta, veia cava, tecido gorduroso, pele e ar. Utilizando-se a tabela de composição química dos diversos tecidos do corpo humano, foi dada a densidade e a composição química percentual em peso de cada tecido, referendado por sua cor específica. Para esse estudo, utilizou-se a tabela da ICRU-44 [10], Body Tissue Compositions, avaliandose, dessa maneira, a quantidade relativa dos principais elementos químicos, presentes em cada tecidos estudado. Segue-se abaixo a tabela 1 com os referidos dados. Tabela 1. Composição Elementar dos tecidos utilizados no fantoma computacional Elemento de composição (porcentagem por massa) Tecido H C N O Outros Tecido Adiposo Adulto # 2 Média de tecido Adulto ICRU-44 (feminino) Sangue(aorta,v.iliaca) Adulto # 2 Esqueleto-osso cortical Adulto Esqueleto-osso esponjoso Cérebro-Medula vertebral Adulto Músculo (Esquelético) Adulto Esterno (Adulto) Costelas (Adulto) Pele Adulto Água 11.4 59.8 0.7 27.8 0.1 Na, 0.1 S, 0.1 Cl 10.6 31.5 2.4 54.7 0.1 Na, 0.2 P, 0.2S, 0.1 Cl 02 K 10.2 3.4 8.5 10.7 11.0 15.5 40.4 14.5 3.3 4.2 2.8 2.2 74.5 43.5 36.7 71.2 0.1 Na, 0.1 P, 0.2 S, 0.3 Cl 0.1 Na, 0.2 Mg, 10.3 P, 0.3 S, 22,5 Ca 0.1 Na, 0.1Mg, 3.4 P, 0.2S, 0.2 Cl, 0.1 K, 7.4 Ca 0.2 Na, 0.4 P, 0.2 S, 0.3 Cl, 0.3 K 10.2 14.3 3.4 71.0 0.1 Na, 0.2 P, 0.3 S, 0.1 Cl, 0.4 K 10.5 6.4 10.0 11.2 41.4 26.3 20.4 - 3.4 3.9 4.2 - 43.9 43.6 64.5 88.8 0.1 P, 0.2 S, 02 Cl, 0.2 K, 0.1 Fe 0.1 Na, 0.1 Mg, 0.6 P, 0.3 S, 0.1 Cl, 0.2 K, 13,1 Ca 0.2 Na, 0.1 P, 0.2 S, 0.3 Cl, 0.1 K (kgm-3 ) 950 1020 no (m-3 x 10 26) 3180 3390 1060 1920 1180 1040 1050 3510 5950 3840 3460 3480 1030 1410 1090 1000 3420 4500 3600 3340 Na segunda fase do experimento, obteve-se uma coluna de porco in vitro, para realização de uma simulação do experimento proposto. De acordo com a técnica de vertebroplastia foi INAC 2005, Santos, SP, Brazil. introduzida uma cânula com trocater via transpedicular ate o centro do corpo vertebral, com o auxílio de radioscopia para tornar a simulação o mais parecida possível com a vertebroplastia. Os materiais utilizados para inoculação dentro do corpo vertebral foram o PMMA associado a 5 g de sulfato de bário e 10g de HA com Samário natural incorporado. Estes materiais foram misturados até que assumissem uma consistência de “pasta–de-dente”. Foi feita a inoculação da mistura pelo cateter de forma lenta e observando a manobra pela radioscopia em perfil. A simulação foi documentada por imagens digitais para documentação do experimento. 3. RESULTADOS A Fig.1 apresenta uma das seções do modelo de voxel tridimensional, bem como de sua respectiva imagem tomográfica. A Fig. 2 apresenta os materiais envolvidos no procedimento cirúrgico. E, por sua vez, a Fig.3 ilustra a resposta radiológica após aplicação no corpo vertebral do composto. Figura 1. Ilustração do processo de criação do modelo de vóxel utilizando o codigo SISCODES. Em (A) é apresentado uma seção de RNM e em (B) o modelo de vóxel equivalente do segmento vertebral com os tecidos com cores. (A) (B) (C) Figura 2. (A) Materiais utilizados no procedimento: PMMA, Sulfato de Bário e HÁ; (B) instrumentação utilizada para a vertebroplastia, cânula com o trocater inserido, trocatere cânula separados e seringa injetora; (C) Coluna de porco in vitro. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. (A) (B) Figura 3. Imagens radiológicas finais após a inoculação da mistura no corpo vertebral, onde (A) e antero-posterior e (B) lateral. 4. DISCUSSÃO A vertebroplastia e a radioterapia têm indicações definidas, com complicações, vantagens e desvantagens em relação a outras propostas terapêuticas. Os tratamentos propostos para neoplasias malignas da coluna, freqüentemente envolvem a utilização de duas ou mais terapias. Ambos os procedimentos podem ser utilizados de forma conjunta. Alguns centros, utilizam como protocolo a associação independente dessas técnicas, obtendo resultado satisfatório com relação a analgesia e controle local da doença. A braquiterapia direcionada para a coluna vertebral é um procedimento que até então não tem descrição na literatura científica, e que teoricamente poderia ser utilizada para tratamento de lesões tumorais da coluna. A associação desse procedimento com a vertebroplastia teria um efeito potencial para o tratamento de pacientes. O PMMA, teoricamente, aumentaria a estabilidade do corpo vertebral e a semente radioativa atuaria para destruição de dose no tumor envolto na vértebra e favoreceria a reossificação .Com a utilização da braquiterapia, poderíamos obter doses maiores no tecido tumoral, tornando desnecessário o fracionamento das doses. Entretanto, a segurança e eficácia devem ser avaliadas antes de se propor como modalidade terapêutica. A criação de um fantoma computacional permite que se realizem estudos dosimétricos para aferição das doses obtidas ao redor do corpo vertebral, com preocupação em especial para a medula e a região tumoral. Torna possível a proposta de testes com outros materiais radioativos. A simulação in vitro com a coluna de porco mostrou que é possível a combinação da braquiterapia e vertoplastia com a utilização do instrumental já utilizado para a vertebroplastia. Consideramos que se trata de um estudo preliminar que necessita além de comprovação com outros estudos científicos, a realização de ensaios clínicos para que se confirme como uma proposta terapêutica para o tratamento de lesões tumorais na coluna. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Gilbert, R.W., Kim, J.H., Posner, J.B.: Epidural spinal cord compression from metastatic tumor. Diagnosis and treatment. Ann Neurol, 3: 40-51,1978. 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