Félix Maranganha Halgarovisagens JOÃO PESSOA 2012 ÍNDICE 3 Índice 5 Parte 1: Poesia Avulsa 27 Parte 2: Reflexões Cruz-souzianas de Karl Marx 41 Parte 3: Proserberações Proteicas 48 O Autor Poesia Avulsa O MISTÉRIO DO ORNITORRINCO Deus, grande e maravilhoso, que criou o céu e a terra, pôs nela os animais e encheu-a de ervas. Criou o ornitorrinco, vírus e moscas tsé-tsé. Deus criou o masculino, e também criou mulher. É tão grande, tão incrível, que nos deu racha e prazer, deu hormônios, deu instintos, e idade pra fazer. Mas, o mais legal do Eterno, em amor e sabedoria, é que você vai ao inferno se provar desta iguaria. 7 SUICÍDIO Cada verso que nasce é o silêncio dito. Cada poema que vive é um indivíduo em branco. Cada poeta que morre é um epitáfio incompleto. 8 GARRAFAS NO MAR DO TEMPO Ali sou eu, tirando alguns retratos, filmando alguns eventos, e aos leitores do futuro dou cartas de mias dores, que nelas ponho em grupos de palavras. Ergo uma casa, planto algumas árvores, e mesmo descendentes dou ao mundo. Umas idéias lanço, outras derrubo. Confirmo e desconfirmo a voz dos álgures. A voz do tempo é'a voz das criações, pois que como cortiços sobre as águas são garrafas no mar que o tempo traz. O Mar do Tempo ganha gerações de garrafas com cartas solitárias do passado ao porvir e tempos mais... 9 INFERÊNCIAS Oi poema, há tempos não te escrevo... ponto ponto pontinho ponto ponto ponto ponto pontinho ponto ponto ponto ponto pontinho ponto ponto. Tenho notícias novas pra contar: me casei com a prosa finalmente. Ponto ponto pontinho ponto ponto ponto ponto pontinho ponto ponto. Mas eu ainda lembro dos momentos em que nas noites íamos passando; sem não mais preocuparmo-nos com tempo. Mas finalmente a lira debandou... ponto ponto pontinho ponto ponto ••.•• 10 O ENIGMA DE GANDHI Dorme uma guerra dentro de meu corpo, um mundo novo em mim também cochila, se sou a guerra e quem vai explodi-la, é em mim que deve vir o mundo novo. 11 PRETÉRITOS OU VERSOS A JOHN TOLKIEN Brilhou a paz de Beren, o Maneta, de antigas luzes do passado cinza. Da Terra Média, renascer das cinzas vimos um João lutar com sua caneta. Luta, um pequeno entre gigantes, contra o exército em branco de epopéias... Gládio-caneta escreve Terra Média, caneta-espada escreve Beleriand... Mas lutou e venceu o esquecimento. Aos seus soldados-letras disse: “Poupem inacabados contos violentos.” e assim gravou-se o nome escrito ao vento, e, na jornada do anel, lutou com livros João Ronaldo Rivelido Tolkien. 12 O TERCEIRO MOVIMENTO DO SILÊNCIO Vozeiros extintos. Conversas sem voz nem verbo. Falares comprados. 13 SONETO DO TEMA VAGO No varal da memória há esquecido três quartos de um poema inacabado, e os milhares de temas já perdidos só retornam-me sendo temas vagos... 14 NAS RAÍZES DAS DONZELAS Mulheres verdes em tropa, por todo lado plantadas; aves seus braços adornam; cantos e cores folheadas; dos coqueiros, as madeixas, como que verdes bandeiras; toda fuá, a algaroba, com seu cabelo assanhado; a castanhola dondoca com seus galhos maqueados; e atrás, fazendo escolta, um exército gramado. 15