perfil epidemiologico clinico-radiologico e fatores prognoticos de

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ESCOLA DE SAÚDE PÚBLICA DO CEARÁ
HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM NEUROLOGIA
LÍGIA CORREIA VIEIRA
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, CLÍNICO-RADIOLÓGICO E FATORES
PROGNÓTICOS DE PACIENTES COM HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA
ATENDIDOS NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
FORTALEZA
2016
LÍGIA CORREIA VIEIRA
PERFIL EPIDEMIOLÓGICO, CLÍNICO-RADIOLÓGICO E FATORES
PROGNÓTICOS DE PACIENTES COM HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA
ATENDIDOS NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
Monografia apresentada ao serviço de Neurologia
do Hospital Geral de Fortaleza e submetida à
Escola de Saúde Pública do Ceará como parte
dos requisitos para conclusão do Programa de
Residência Médica em Neurologia.
Orientador: Prof. Dr. Norberto Anízio Ferreira
Frota
Coorientador: Prof. Dr. Francisco José Arruda
Mont’Alverne
FORTALEZA
2016
Dados internacionais de catalogação na publicação (CIP)
Elaborado com auxílio da bibliotecária: Maria Sílvia Nascimento Oliveira
Biblioteca do Hospital Geral de Fortaleza
Reprodução parcial autorizada para fins didáticos e acadêmicos.
VIEIRA, Lígia Correia.
V657p
Perfil epidemiológico, clínico-radiológico e fatores prognósticos de
pacientes com hemorragia subaracnóidea atendidos no Hospital Geral
de Fortaleza / Lígia Correia Vieira. – Fortaleza, 2016.
119 p.; il.; (algumas color.)
Orientador: Prof. Dr. Norberto Anízio Ferreira Frota.
Coorientador: Prof. Dr. Francisco José Arruda Mont’Alverne.
Monografia (Programa de Residência Médica em Neurologia)
- Escola de Saúde Pública do Ceará. Hospital Geral de Fortaleza.
2016.
1. Hemorragia Subaracnóidea. 2. Fatores de Risco. 3. Sinais e
sintomas. 4. Neuroimagem. 5. Prognóstico. 6. Resultado funcional.
7. Casos fatais em 30 dias. II. Título.
CDD: 617.1
LÍGIA CORREIA VIEIRA
PERFIL
EPIDEMIOLÓGICO,
CLÍNICO-RADIOLÓGICO
E
FATORES
PROGNÓSTICOS DE PACIENTES COM HEMORRAGIA SUBARACNÓIDEA
ATENDIDOS NO HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA
EPIDEMIOLOGICAL,
CLINICAL
AND
RADIOLOGICAL
PROFILE
AND
PROGNOSTIC FACTORS OF PATIENTS WITH SUBARACHNOID HEMORRHAGE
TREATED AT THE GENERAL HOSPITAL OF FORTALEZA
Monografia apresentada ao serviço de Neurologia
do Hospital Geral de Fortaleza e submetida à
Escola de Saúde Pública do Ceará como parte
dos requisitos para conclusão do Programa de
Residência Médica em Neurologia.
Aprovada em ___/___/_____.
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Norberto Anízio Ferreira Frota (orientador)
Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
Prof. Dr. Francisco José Arruda Mont’Alverne (coorientador)
Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
Prof. Dr. Francisco Ramos Júnior
Hospital Geral de Fortaleza (HGF)
Ao meu avô José Maurício Moura Martins e
meu amigo André, in memorian.
(causa mortis: hemorragia subaracnóidea)
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, ao todo poderoso Deus por ter guiado meus passos e me
protegido, propiciando também uma jornada de autoconhecimento entre erros e
acertos.
À minha família por sempre me incentivar para que meus esforços
desafiassem as impossibilidades. A minha mãe pela obstinação de não me deixar
desistir jamais e pelo apoio incondicional em todos os momentos. Ao meu pai, por
ser meu ideal de compromisso, postura e ética.
Aos meus amigos, médicos e não médicos, que tornaram esses três últimos
anos mais suportáveis, sempre me fazendo lembrar que a vida é cheia de
possibilidades. Aos colegas, residentes e internos que se tornaram amigos nesta
jornada, dos quais podemos compartilhar momentos. Que nunca nos falte o desejo
de melhorar o mundo com nossas pequenas ações.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Norberto Anízio Ferreira Frota, pelos
conselhos e pela paciência durante esta jornada. Obrigada pelas cobranças sutis e
pela generosa orientação.
Ao Prof. Dr. Francisco José Arruda Mont’Alverne, coorientador e
idealizador deste estudo, pelos incentivos ao início deste trabalho, pelas críticas
sagazes e pelos ensinamentos compartilhados.
Ao Dr. Edson Lopes Júnior, neurocirurgião e coordenador do serviço de
Neurocirurgia do Hospital Geral de Fortaleza, pelo desprendimento de ter permitido
que alguém fora do serviço de neurocirurgia realizasse este trabalho.
Aos colegas que trabalham na emergência deste hospital pelo apoio
logístico durante a execução da fase de campo deste estudo e pelo incentivo
durante esta caminhada.
A todos os funcionários do SEAP do HGH, em especial a Márcia Vânia
Maciel Rodrigues (“Marcinha”) pela presteza nas informações oferecidas.
À bibliotecária do HGF Maria Sílvia Nascimento Oliveira que me auxiliou na
elaboração da ficha catalográfica.
Aos colegas de todas as turmas de residência que fizeram parte desta
jornada.
Por último e igualmente ou mais importante, aos pacientes e familiares pela
confiança depositada, que contribuindo para meu aperfeiçoamento técnico e
pessoal.
“Non est ad astra mollis e terris via”
(Não há caminho fácil da terra às estrelas)
Lucio Anneo Seneca. Hercules furens – ato II, falado por Megara.
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
Escola de Saúde Pública do Ceará
 Hospital Geral de Fortaleza – Serviços de Neurologia
FONTES DE FINANCIMENTO
1. Recursos Próprios
VIEIRA, Lígia Correia. Perfil epidemiológico, clínico-radiológico e fatores
prognósticos de pacientes com Hemorragia Subaracnóidea atendidos no
Hospital Geral de Fortaleza. 119 p. Monografia (Programa de Residência em
Neurologia) – Escola de Saúde Púbica do Ceará, Hospital Geral de Fortaleza, 2016.
RESUMO
INTRODUÇÃO: A Hemorragia Subaracnóidea (HSA) constitui uma patologia
complexa e, por vezes, catastrófica. Apesar dos avanços tecnológicos, segue com
elevada morbimortalidade em grande parte do mundo. OBJETIVOS: Avaliar o perfil
epidemiológico, clínico e radiológico dos pacientes adultos com HSA atendidos em
um centro de referência terciário no Brasil, além de determinar os preditores
prognósticos quanto ao desfecho em 30 dias do ictus. METODOLOGIA: Estudo
unicêntrico, de coorte, prospectivo realizado com pacientes acometidos por HSA no
Hospital Geral de Fortaleza de abril de 2015 a janeiro de 2016. Os pacientes com
diagnóstico de HSA confirmado por neuroimagem ou punção lombar foram
submetidos à aplicação de uma ficha de avaliação e acompanhamento para registro
de anamneses e exame físico. O desfecho funcional foi avaliado com a escala de
Rankin modificada (ERm) em 30 dias do ictus. Para analise dos dados, foi utilizado o
programa
Statistical
Package
for
Social
Sciences
(SPSS)
versão
23.0.
RESULTADOS: Um total de 105 pacientes foram incluídos no estudo, 78 (74,3%) do
sexo feminino e 27 (25,7%) do sexo masculino [idade média: 57,25 (± 13,58); H: F =
1: 2,9]. A apresentação clínica mais frequente foi cefaleia com 84 pacientes (80%).
Outros achados clínicos prevalentes na admissão foram: vômitos 39%; convulsões
30,5%; déficit focal 34,3%; alteração de nível de consciência 51,4% e hipertensão
intracraniana 23,8%. Os fatores de risco mais prevalentes foram hipertensão arterial
sistêmica (56,7%) e tabagismo (23,1%). Na admissão hospitalar, 94,3% dos
pacientes apresentaram neuroimagem classificada como III ou IV na escala de
Fisher. Na avaliação ao final dos 30 dias do ictus, o desfecho funcional foi favorável
(ERm 0 a 2) em 26,7% dos pacientes; 29,5% estavam dependentes ou gravemente
comprometidos (ERm 3 a 5) e houve 43,8% de óbitos (todos intra-hospitalar). Na
análise de regressão logística multivariada, a pontuação inicial à escala de Hunt &
Hess e a submissão a tratamento neurocirúrgico foram preditores independentes
tanto de funcionalidade quanto sobrevivência em 30 dias do ictus. As pontuações na
admissão nas escalas de Hunt & Hess, da WFNS e da escala de coma de Glasgow
mostraram boas correlações com a escala de Rankin modificada em 30 dias do
ictus, respectivamente: rs2=0,706 (p<0,001); rs2=0,648 (p <0,001) e rs2=–0,671
(p<0,001). Não foram evidenciadas correlações significativas entre a classificação
inicial
à
escala
de
Fisher
tradicional e
a
ocorrência
de
vasoespasmo,
ressangramento ou hidrocefalia. CONCLUSÃO: A HSA consiste em uma afecção
com alto impacto sobre morbidade e mortalidade também em nossa população,
sendo predominante em mulheres na sexta década de vida. As escalas clínicas
mostraram uma forte correlação com o desfecho funcional em 30 dias do ictus nos
pacientes analisados.
PALAVRAS-CHAVE: Hemorragia Subaracnóidea. Epidemiologia. Fatores de risco.
Sinais e sintomas. Apresentação neurorradiológica. Prognóstico. Desfecho funcional.
Mortalidade em 30 dias.
VIEIRA, Lígia Correia. Epidemiological, clinical and radiological profile and
prognostic factors of patients with Subarachnoid Hemorrhage treated at the
General Hospital of Fortaleza. 119 p. Monograph (Residency Program in
Neurology) – Pubic Health School of Ceará, General Hospital of Fortaleza, 2016.
ABSTRACT
BACKGROUND: Subarachnoid hemorrhage (SAH) is a complex disease and may
have catastrophic consequences. Despite technological advances, SAH follows with
high morbidity and mortality rates in most of the world. OBJECTIVES: To evaluate
epidemiological profile, clinical and radiological characteristics, management, and
overall outcome of the adult patients with SAH at a tertiary care center in Brazil within
30 days of presentation. METHODS: A unicenter prospective cohort study with
patients affected by SAH in General Hospital of Fortaleza between April 2015 and
January 2016. Patients with diagnosis confirmed by neuroimaging or lumbar puncture
responded to a questionnaire to record history and physical examination. Outcome
was assessed with the modified Rankin scale (mRS) at 30 days of initial
presentation. For data analysis, was used the Statistical Package for Social Sciences
(SPSS) version 23.0. RESULTS: A total of 105 patients were included in the study, of
them 78 (74,3%) females and 27 (25,7%) males [mean age: 57,25 (±13,58);
M:F=1:2,9]. The most common clinical presentation was headache in 84 patients
(80%). Other clinical findings on admission were: vomiting 39%; seizures 30,5%;
focal deficit 34,3%; altered level of consciousness 51,4% and intracranial
hypertension syndrome 23,8%. Risk factors most prevalent were systemic arterial
hypertension (56,7%) and smoking (23,1%). On admission 94,3% patients had
neuroimaging classified as III or IV on Fisher’s scale. At 30 days of the ictus, good
outcome (mRS 0 to 2) was observed in 26,7 %; poor outcome (mRS 3 to 5) in 29,5%;
and death in 43,8% patients (all in-hospital case fatality). In multivariate logistic
regression analysis, admissional score to Hunt & Hess scale and submission to
neurosurgical treatment were predictors of good prognosis (both functionality and
survival). The scores on admission to Hunt & Hess, the WFNS and Glasgow coma
scale have shown good correlations with the mRS at 30 days of the ictus,
respectively: rs2=0,706 (p<0,001); rs2=0,648 (p <0,001) e rs2=–0,671 (p<0,001). No
significant correlation was observed between Fisher’s scale and occurrence of
vasospasm, rebleeding or hydrocephalus. CONCLUSION: SAH is a disease with
high impact on morbidity and mortality also in our population, also being prevalent in
women in the sixth decade of life. Clinical scales showed a strong correlation with
functional outcome at 30 days of the ictus in the patients studied.
KEYWORDS: Subarachnoid hemorrhage. Epidemiology. Risk factors. Signs and
symptoms. Neuroradiologic presentation. Prognosis. Functional outcome. 30 days
case fatality
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE FIGURAS
Figura 1
–
Tipos de aneurisma ................................................................................................
28
Figura 2
–
Representação ilustrativa das localizações mais comum de
aneurisma intracranianos saculares .......................................................................
30
Figura 3
–
Escala visual analógica de dor (EVA) .....................................................................
52
Figura 4
–
Fluxograma de constituição amostral .....................................................................
55
Figura 5
–
Questionário validado para aplicação de entrevista estruturada
da Escala de Rankin modificada por telefone ........................................................
115
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 –
Etiologia da Hemorragia Subaracnóidea ................................................................
31
Quadro 2 –
Escalas de classificação clínica para HSA: de Hunt & Hess e
da Federação Mundial dos Neurocirurgiões ...........................................................
34
Quadro 3 –
Escala de coma de Glasgow ..................................................................................
34
Quadro 4 –
Fatores de Risco associado a aneurisma ...............................................................
35
Quadro 5 –
Escala de Fisher .....................................................................................................
38
Quadro 6 –
Escala de Rankin modificada .................................................................................
114
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
– Mortalidade por HSA no Ceará de 2010 a 2013 .....................................................
27
Gráfico 2
– Distribuição de pacientes por faixa etária e sexo ...................................................
56
Gráfico 3
– Relação entre as pontuações à admissão nas escalas de
avaliação clínica .....................................................................................................
59
Gráfico 4
– Distribuição de pacientes quanto à faixa etária e à pontuação à
Escala de Rankin modificada em 30 dias ...............................................................
69
Gráfico 5
– Curva de sobrevivência em 30 dias do ictus ..........................................................
80
Gráfico 6
– Correlação entre a pontuação admissional às escalas de
avaliação clínica e a pontuação da Escala de Rankin
modificada em 30 dias............................................................................................
81
Gráfico 7
– Correlação entre as intercorrências neurológicas e a
classificação admissional à Escala de Fisher .........................................................
82
Gráfico 8
– Correlação entre as intercorrências neurológicas e a
classificação admissional à Escala de Fisher, excetuando os
pacientes não sobreviventes à primeira semana do ictus ......................................
83
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
–
Estudos populacionais com casos fatais de HSA incluindo
revisões sistemáticas .............................................................................................
26
Tabela 2
–
Relação entre as escalas de avaliação clínica e a
sobrevivência..........................................................................................................
43
Tabela 3
–
Dados demográficos e manifestação clínica à admissão .......................................
57
Tabela 4
–
Dados das escalas de avaliação clínica à admissão ..............................................
59
Tabela 5
–
Parâmetros fisiológicos admissionais .....................................................................
60
Tabela 6
–
Dados sobre fatores de risco ..................................................................................
62
Tabela 7
–
Dados de achados de neuroimagem à admissão...................................................
63
Tabela 8
–
Dados sobre provável etiologia ..............................................................................
64
Tabela 9
–
Dados sobre o tamanho e localização do aneurisma .............................................
65
Tabela 10 –
Dados sobre intercorrências em 30 dias do ictus ...................................................
67
Tabela 11 –
Dados sobre tratamento específico ........................................................................
68
Tabela 12 –
Dados da Escala Rankin modificada em 30 dias do ictus ......................................
68
Tabela 13 –
Desfecho para morte encefálica .............................................................................
70
Tabela 14 –
Relação entre as variáveis e funcionalidade em 30 dias do
ictus: comparação de desfechos clínicos baseados em ERm 0-
2 vs. ERm 3-6 .........................................................................................................
72
Tabela 15 –
Modelo de preditores admissionais de funcionalidade em 30
dias .......................................................................................................................
74
Tabela 16 –
Relação entre variáveis e sobrevivência em 30dias do ictus:
comparação entre os grupos Sobreviventes vs. Não
sobreviventes .........................................................................................................
76
Tabela 17 –
Modelo de preditores admissionais de sobrevivência em 30
dias .......................................................................................................................
79
LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES
ACA
Artéria cerebral anterior
ACM
Artéria cerebral média
ACoA
Artéria comunicante anterior
ACoP
Arteria comunicante posterior
ACP
Artéria cerebral posterior
AngioRM
Angiorressonância
AngioTC
Angiotomografia
APericalosa Artéria Pericalosa
AVC
Acidente vascular cerebral
bpm
Batimentos por minuto
DCV
Doença cerebrovascular
DLP
Dislipidemia
DM
Diabetes mellitus
DPOC
Doença pulmonar obstrutiva periférica
DWI
Diffusion weighted imaging
ECG
Escala de Coma de Glasgow
EF
Escala da Fisher
EFMN
Escala da Federação Mundial dos Neurocirurgiões
EME
Estado de mal epiléptico
ERm
Escala de Rankin modificada
EUA
Estados Unidos da América
FLAIR
Fluid attenuated inversion recovery
GRE
Gradient echo
HAS
Hipertensão arterial sistêmica
HGF
Hospital Geral de Fortaleza
HH
Escala de Hunt & Hess
HIC
Hipertensão intracraniana
HSA
Hemorragia subaracnóidea
IC
Intervalo de confiança
IRA
Insuficiência renal aguda
ITU
Infecção do trato urinário
LCR
Líquido cefalorraquidiano
mRM
modified Rankin scale
N
Número de pacientes
OR
Odds ratio
P
Significância estatística
PIC
Pressão intracraniana
PL
Punção lombar
RM
Ressonância magnética
SAH
Subarachnoid hemorrhage
SIRS
Síndrome da resposta inflamatória sistêmica
SPSS
Statistical Package for Social Sciences
SUS
Sistema Único de Saúde
TC
Tomografia computadorizada
TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TID
Tempo entre o ictus e o diagnóstico
TPE
Tempo de permanência na emergência
WFNS
World Federation of Neurological Surgeons
LISTA DE SÍMBOLOS
≥
Maior e igual que
>
Maior que
≤
Menor e igual que
<
Menor que
=
igual
–
menos
♀
sexo feminino
%
Porcentagem
ºC
grau Celsius
rs
Coeficiente de correlação de Spearman
L
Litro
mg
miligramas
mm
milimetros
mmHG
milímetro de Mercúrio
mEq
miliequivalente
&
E de imprensa
N
Número de casos
X2
Qui-quadrado
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 20
2
OBJETIVOS....................................................................................................................................... 22
2.1
OBJETIVO GERAL ....................................................................................................................... 22
2.2
OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................................... 22
3
REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................................... 23
3.1
BREVE HISTÒRICO .................................................................................................................... 23
3.2
DEFINIÇÃO ................................................................................................................................... 24
3.3
EPIDEMIOLOGIA E PROGNÓSTICO ....................................................................................... 24
3.4
ETIOLOGIA.................................................................................................................................... 28
3.5
FISIOPATOLOGIA ........................................................................................................................ 32
3.6
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .................................................................................................... 32
3.7
FATORES DE RISCO E COMORBIDADES ............................................................................ 35
3.8
DIAGNÓSTICO ............................................................................................................................. 36
3.9
INTERCORRÊNCIAS................................................................................................................... 38
3.10
TRATAMENTO.............................................................................................................................. 40
3.11
PREDITORES PROGNÓSTICOS .............................................................................................. 42
4
METODOLOGIA ............................................................................................................................... 44
4.1
LOCAL DO ESTUDO ................................................................................................................... 44
4.2
DESENHO DO ESTUDO ............................................................................................................. 44
4.3
POPULAÇÃO E SUJEITOS ........................................................................................................ 45
4.4
CRITÉRIOS DE INCLUSÃO ....................................................................................................... 45
4.5
CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO ...................................................................................................... 45
4.6
COLETA DOS DADOS ................................................................................................................ 46
4.7
VARIÁVEIS ANALISADAS .......................................................................................................... 47
4.8
ANÁLISE ESTATÍSTICA.............................................................................................................. 52
4.9
ANÁLISE BIOÉTICA..................................................................................................................... 54
5
RESULTADOS .................................................................................................................................. 55
5.1
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS ............................................................................................ 55
5.2
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .................................................................................................... 56
5.3
FATORES DE RISCO .................................................................................................................. 61
5.4
NEUROIMAGEM........................................................................................................................... 62
5.5
INTERCORRÊNCIAS................................................................................................................... 66
5.6
TRATAMENTO.............................................................................................................................. 67
5.7
DESFECHO CLÍNICO .................................................................................................................. 68
5.7.1 Análise Estatística de Comparação entre os Grupos ERm 0-2 vs. ERm 3-6 em 30
dias do Ictus............................................................................................................................................... 71
5.7.1.1
Análise dos grupos ERm 0-2 vs. ERm 3-6 ........................................................................... 71
5.7.1.2
Preditores de prognóstico quanto à funcionalidade em 30 dias do ictus ......................... 74
5.7.2 Análise Estatística de Comparação entre os Grupos Sobreviventes vs. Não
Sobreviventes em 30 dias do Ictus ...................................................................................................... 75
5.7.2.1
Análise dos grupos Sobreviventes vs. Não sobreviventes em 30 dias do ictus ............. 75
5.7.2.2
Preditores prognósticos quanto à sobrevivência em 30 dias do ictus .............................. 79
5.7.2.3
Avaliação de sobrevivência em relação ao tempo do ictus ............................................... 80
5.7.3 Correlações entre as Escalas de Avaliação Clínica e a Escala de Rankin Modificada
em 30 dias do Ictus .................................................................................................................................. 81
5.7.4 Correlações entre a Escala de Fisher e as Intercorrências Neurológicas em 30 dias
do Ictus........................................................................................................................................................ 82
6
DISCUSSÃO ...................................................................................................................................... 84
6.1
DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS ............................................................................................ 84
6.2
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .................................................................................................... 84
6.3
FATORES DE RISCO .................................................................................................................. 85
6.4
NEUROIMAGEM........................................................................................................................... 86
6.5
INTERCORRÊNCIAS................................................................................................................... 87
6.6
TRATAMENTO.............................................................................................................................. 88
6.7
DESFECHO E FATORES PROGNÓSTICOS .......................................................................... 89
7
CONCLUSÃO .................................................................................................................................... 92
8
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................ 95
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................... 97
APÊNDICES .............................................................................................................................................. 109
APÊNDICE A – Ficha de avaliação dos pacientes com Hemorragia Subaracnóidea no
Hospital Geral de Fortaleza .................................................................................................................. 110
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................................... 112
ANEXOS .................................................................................................................................................... 113
ANEXO A – Escala de Rankin modificada ........................................................................................ 114
ANEXO B – Questionário validado para aplicação de entrevista estruturada da Escala de
Rankin modificada por telefone .......................................................................................................... 115
ANEXO C – Aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética .......................................................... 116
ANEXO D – Termo de fiel depositário do pesquisador................................................................. 119
20
1 INTRODUÇÃO
A Hemorragia subaracnóidea (HSA) é caracterizada pela presença de sangue
no espaço subaracnóideo, ocasionada pela ruptura de vasos nele contido ou
adjacentes a ele junto à dura-máter. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012; ROPPER;
SAMUELS; KLEIN, 2014). A HSA espontânea constitui uma patologia complexa e,
por vezes, catastrófica. Conhecida como potencialmente fatal desde a época de
Hipócrates, vem sendo estudada sistematicamente na busca de uma solução
salvadora.
A HSA representa em torno de 4,5 a 13% de todos os casos de eventos
vasculares encefálicos (AVC), com incidência em torno de 4 a 16 casos por 100.000
habitantes ao ano na maioria dos países (LALL et al., 2009), variando de 2 por
100.000 habitantes ao ano na China (INGALL et al., 2000) a 32 por 100.000
habitantes ao ano na Finlândia. (JUVELA; LEHTO, 2015).
Hoje sabemos um pouco mais sobre sua fisiopatologia, seus fatores de risco
e suas perspectivas de tratamento, porém persiste com altos índices de
morbimortalidade.
A
mortalidade
pré-hospitalar
é
estimada
em
10-15%.
(LOVELOCK; RINKEL; ROTHWELL, 2010). Alguns estudos nas últimas décadas
apontam uma redução da mortalidade, contudo isso não teria se refletido em
melhoria funcional. (LOVELOCK; RINKEL; ROTHWELL, 2010; TJAHJADI; HEINEN;
KONIG, 2013; LO; MACDONALD, 2013; AL-KHINDI; MACDONLD; SCHWEIZER,
2010). Estima-se que até 15% persistem severamente desabilitados e somente 2035% a 64% dos pacientes apresentam boa evolução funcional. (FOUNTAS et al.,
2009; LOVELOCK; RINKEL; ROTHWELL, 2010; RINKEL; ALGRA, 2011).
Em países onde os recursos aplicados em saúde são limitados e nem sempre
há políticas públicas empregadas em manejo de situações difíceis e dispendiosas, a
morbimortalidade desta afecção pode ainda ser mais devastadora. Também, apesar
desta ser um objeto de estudo frequente em alguns países, temos o agravante de
que são escassos os estudos dessa grave afecção em nossa população. Em estudo
de Carvalho et al. (2011), englobando instituições públicas e privadas de nossa
21
cidade, evidenciou-se boa evolução funcional em somente 26,5% dos pacientes;
severo prejuízo funcional em 39,2% e óbito em 34,3% dos pacientes com HSA.
Neste sentido, o presente estudo procurou traçar o perfil sociodemográfico e
comórbidos destes pacientes, entender quais eram as manifestações clínicas ictais
mais prevalentes, os fatores de risco associados a maiores complicações e
identificar os fatores implicados na morbimortalidade desta afecção em um hospital
terciário, público, sobre a gestão do governo estatual, sendo referência no
tratamento de distúrbios neurológicos.

Não temos como inferir como essa composição mista quanto ao capital empregado
nos serviços de saúde pode ter interferido nesse desfecho.
22
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o perfil epidemiológico, clínico e prognóstico dos pacientes com HSA
atendidos no Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1. Avaliar perfil dos pacientes em relação aos dados demográficos de
sexo e idade.
2. Averiguar o tempo médio entre o surgimento dos sintomas e o
diagnóstico.
3. Identificar as manifestações clínicas iniciais mais prevalentes em
pacientes com HSA no nosso meio.
4. Avaliar o perfil clínico dos pacientes quanto aos fatores de risco, como
comorbidades, hábitos, histórias pessoal e familiar.
5. Identificar as alterações mais comuns em neuroimagem à admissão.
6. Verificar as intercorrências mais prevalentes durante à evolução os
primeiros 30 dias de internação hospitalar.
7. Identificar fatores correlacionados ao desfecho de funcionalidade e de
sobrevivência em 30 dias do ictus.
8. Comparar as escalas de avaliação clínica inicial e o desfecho em 30
dias do ictus.
9. Comparar pontuação inicial na escala de Fisher como preditor de
intercorrências neurológicas.
23
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 BREVE HISTÒRICO
Há 25 séculos com as descrições de Hipócrates (460-370 a.C.) já se sabia do
surgimento súbito e do difícil prognóstico dessa afecção: “...Quando uma pessoa
está com boa saúde é subitamente acometida por dores de cabeça e fica
imediatamente sem falar e a respiração com ruídos, ela morrerá em sete dias, se
surgir febre”. (SEHBA, F. A. et al, 2012 apud DA SILVA, 2014; MORGADO, 1899
apud ROZIN, 2012; FIELDS; LEMAK, 1989 apud CAPLAN, 2009, p. 5, tradução
nossa).
Tentativas de tratamento vêm sendo aplicadas há muito. A perfuração
craniana (trepanação) e craniectomia constituem, provavelmente, os atos cirúrgicos
mais antigos da humanidade. (RIBAS, 2006 apud ROZIN, 2012).
Galeno de Pérgamo (131-201 d.C.) foi o primeiro a descrever a anatomia do
cérebro e dos vasos sanguíneos. (NULAND, 1988 apud CAPLAN, 2009;
MORGADO, 1899 apud ROZIN, 2012). Porém, somente, em 1679, com Bonet e
depois, em 1696, com Wiseman, sugiram a hipótese de haver uma correlação entre
a HSA e a ruptura de um aneurisma cerebral. (QUEIROZ, 2010). Essa foi
confirmada, em 1761, por Morgagni e, em 1778, por Biumi ao apresentarem os
primeiros de HSA por ruptura aneurismática via necróspsia, tomando força, em
1891, com o advento da punção lombar por Quincke, confirmando, assim, em vivo a
HSA. (QUEIROZ, 2010).
Egas Moniz, em 1927, divulga a técnica de arteriografia cerebral e, em 1933,
publica o primeiro caso de diagnóstico de HSA atribuído a aneurisma in vivo,
contribuindo na localização das lesões e tornando viável a programação da
abordagem cirúrgica. (ROZIN, 2012; QUEIROZ, 2010). Nas décadas de 60 e 70, viuse surgir os maiores avanços cirúrgicos com Charles Drake e com os estudos
anatômicos de Yasargil, Rhoton Jr. E J. L. Fox, dimensionando uma neuroanatomia
24
aplicada à neurocirurgia para um enfoque direcionado. (RIBAS, 2006; GUSMÃO;
FERREIRA, 2006; MORGADO, 2011 apud ROZIN, 2012).
Em 1972, Hounsfield divulga a tomografia computadorizada (TC) e, em 1978,
Takemae propõe uma relação direta entre a quantidade de sangue encontrada na
Tomografia (TC) e o desenvolvimento posterior de vasoespasmo. (QUEIROZ, 2010)
Idéia essa aprimorada, em 1980, por Fisher como fator prognóstico. (ROZIN, 2012).
Na década de 70, Serbinenko divulga a técnica de tratamento por via
endoscópica por balão insuflável e, posteriormente, Gugliemi e Viñuela descrevem a
utilização de coils de platina. (QUEIROZ, 2010). Com o advento das endopróteses
(stents) e com o emprego da angiografia tomográfica (AngioTC) e angiografia digital
expandiu-se as possibilidades de tratamento. (BARBOSA, M. apud QUEIROZ,
2010). E, desde então, tem-se buscado, cada vez mais, aprimorar as técnicas de
diagnóstico e de tratamento.
3.2 DEFINIÇÃO
A HSA é caracterizada pela presença de sangue no espaço subaracnóideo,
ocasionado pela ruptura de vasos neles contidos ou adjacentes a ele junto à duramater presentes no polígono de Willis. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012; ROPPER;
SAMUELS; KLEIN, 2014). Em alguns casos, a hemorragia pode dissecar o
parênquima cerebral, concentrando-se no parênquima encefálico ou atingindo o
sistema ventricular. (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014).
3.3 EPIDEMIOLOGIA E PROGNÓSTICO
A HSA espontânea é um problema de saúde mundial. Embora represente em
torno de 3-5% dos AVC. (SUDLOW; WARLOW, 1997 apud VAN GIJN; RINKEL,
2001; VAN GIJN; KERR; RINKEL, 2007). Contribui para 5-25% dos óbitos.
(JOHNSTON et al., 1998 apud VAN GIJN; RINKEL, 2001).
25
Sua incidência constitui em torno de 4 a 16 casos por 100.000 habitantes ao
ano na maioria dos países (LALL et al., 2009), variando de 2 por 100.000 habitantes
ao ano na China (INGALL et al., 2000) a 32 por 100.000 habitantes ao ano na
Finlândia. (JUVELA; LEHTO, 2015). No geral, a incidência não se modificou nas
últimas três décadas (CONOLLY et al., 2012), exceto no Japão e na Finlândia, onde
apontam-se para um modesto aumento de incidência, possivelmente, influenciada
pelo incremento tecnológico das últimas décadas. (SANDVEI et al., 2011).
É
uma
doença
predominantemente
feminina
(SHEA
et
al.,
2013;
NIEUWKAMP et al., 2011; CARVALHO et al., 2011), sendo evidenciado uma
predominância de mulheres 2:1 em relação aos homens. (PATEL; SAMUELS, 2012).
No trabalho de Carvalho et al. (2011), encontrou-se uma evidente predominância em
mulheres (77,1%), sendo encontrado por Nieuwkamp et al. (2011), apenas modesta
predominância do gênero feminino, perfazendo 59.5%.
Na grande maioria dos estudos, a incidência aumenta com a idade (JUVELA
et al., 1992; SANDVEI et al., 2011), tendendo a incidir em faixas etárias inferiores
em relação aos outros tipos de AVC, sendo predominante na sexta década de vida.
(CARVALHO et al., 2011;DE ROOIJ et al., 2007).
A HSA é apontada como causa significante de morbidade e mortalidade,
especialmente nos primeiros 30 dias do ictus, sendo alta incidência de casos fatais
(SANDVEI et al., 2011), variando a mortalidade de 8 a 67% no primeiro mês.
(NIEWKAMP et al., 2009). Na maioria desses estudos, contudo não consta a
mortalidade
pré-hospitalar,
estimada
em
10-15%.
(LOVELOCK;
RINKEL;
ROTHWELL, 2010). Observa-se, ainda, em muitos estudos que a proporção de
casos fatais em 30 dias tende a aumentar com a idade. (POBERESKIN, 2001;
KOFFIJBERG et al., 2002). Embora seja mais prevalente no sexo feminino, são os
homens que estão sob o maior risco de óbito nos primeiros 30 dias do ictus.
(SANDVEI et al. 2011, NIEWKAMP et al., 2009).
Entretanto há estudos que mostram uma diminuição significante de casos
fatais de HSA globalmente. (LOVELOCK; RINKEL; ROTHWELL, 2010) (vide tabela
1). Isso seria atribuído à sobrevivência dos pacientes hospitalizados propiciada pelos
cuidados
neurointensivos,
terapia
microcirurgia. (DIRINGER et al., 2011).
endovascular
e
técnicas
refinadas
de
26
Tabela 1. Estudos populacionais com casos fatais de HSA incluindo revisões
sistemáticas
Região
Período
Duração
%
N
TC+/-
% Casos
T
Média
Fatais
(dias)
de
PL
%♀
idade
Cincinati, US
1988
1988
86
80
45
30
-
61
Washington, US
1988
87-89
97
171
32
30
-
65
Devon & Cornwall, UK
1994
92-96
99
800
44
30
61
64
Izumo, Japão
1994
90-98
98
188
36
180
65
-
Northen Manhattan, US
1995
93-97
85
53
26
30
51
60
Adelaide, Australia
1997
95-98
92
158
44
28
57
57
Hobart, Australia
1997
96-98
100
35
26
28
51
71
Riga, Latvia
1998
96-2000
81
292
57
28
52
57
Lund-Orup, Suécia
1994
93-95
89
59
32
28
57
56
2001
01-02
94
17
18
28
59
65
1982
81-83
85
176
53
28
52
64
1992
91-93
97
166
46
28
52
65
1998
97-98
86
92
35
28
54
58
1987
85-89
97
297
40
28
-
-
1993
90-95
97
335
36
28
-
-
2011
84-07
-
214
36
30
59
60
1998
96-2000
97
271
31
28
-
-
1994
93-95
89
59
32
28
57
56
2001
01-02
94
17
18
28
59
65
Oxford (OCSP)
1983
82-84, 86
82
25
60
30
60
79
Oxford (OXVASC)
2005
2002-08
98
38
38
30
60
79
Auckland, NZ
Norte da Suécia
Noruega
Lund-Orup, Suécia
Fonte: Adaptado de Lovelock, Rinkel e Rothwell (2010).
Legenda: TC: tomografia de Crânio; PL: punção lombar; N: número de casos; T: tempo do óbito; ♀:
sexo feminino.
Contudo, os pacientes sobreviventes apresentam importante perda funcional,
levando a um grande impacto na qualidade de vida. (TJAHJADI; HEINEN; KONIG,
2013; LO et al., 2015; AL-KHINDI; MACDONLD; SCHWEIZER, 2010). Foi reportado
27
que 15% dos pacientes sobreviventes permanecem severamente desabilitados e,
apenas, 20% a 35% evoluem com boa evolução funcional. (FOUNTAS et al., 2009).
Há em outros trabalhos, entretanto, relato de uma boa funcionalidade em 64% dos
pacientes, sendo menor a proporção entre os pacientes com HSA aneurismática,
apresentando recuperação funcional em 58% dos casos. (LOVELOCK; RINKEL;
ROTHWELL, 2010; RINKEL; ALGRA, 2011).
Há poucos estudos epidemiológicos abordando HSA em nosso meio. No
nosso estado, houve leve incremento nos casos de HSA nos últimos anos como
observar-se no gráfico 1. Em estudo epidemiológico na nossa cidade, utilizando
dados do sistema informatizado de saúde no período de junho de 2009 a outubro de
2010, incluindo pacientes admitidos na rede SUS e privado, evidenciou uma
porcentagem de 6% dos AVC, com media de idade de 58,3 anos. (CARVALHO et
al., 2011). Nesse estudo, apontou-se ainda que 34,3% dos pacientes com HSA
foram a óbito, enquanto, somente, 26,5% evoluíram com boa evolução funcional,
pontuando à escala de Rankin modificada de 0 a 2. (CARVALHO et al., 2011).
Gráfico 1. Mortalidade por HSA no Ceará de 2010 a 2013
Fonte: MINISTERIO DA SAÚDE. MS/SVS/CGIAE (2015).

Em 2011, houve uma mudança no conteúdo da Declaração de Óbito, com maior detalhamento das
informações coletadas. Para este ano, foram utilizados simultaneamente os dois formulários.
28
No HGF, segundo o sistema de informação de mortalidade do Ministério da
Saúde (2016), houve 106 óbitos por HSA no período de abril de 2015 a janeiro de
2016, contudo não há informações precisas ou estimadas indicando quantos teriam
sido internados por essa patologia neste mesmo período. Isso, per se, ajuda a
dificultar a realização de estudos nesta população e a implementação de políticas
públicas direcionadas a estes pacientes.
3.4 ETIOLOGIA
A HSA é causada por uma ampla variedade de patologias. (TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012;ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014; VIVANCOS et al., 2012;
VAN GIJN; KERR; RINKEL, 2007). A maioria dos casos de HSA é atribuída ao
trauma, perfazendo 80%. (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014). Contudo, nosso
estudo se restringe aos HSA espontâneas.
Aproximadamente 80% a 85% dos casos de HSA espontâneas são oriundos
de ruptura aneurismática. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; RINKEL et al., 1993;
VAN GIJN; RINKEL, 2001). Quanto à fisiopatologia, dividem-se os aneurismas em
três tipos: saculares, fusiformes e dissecantes. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012)
(vide figura 1).
Figura 1. Tipos de aneurisma
Fonte: Mayfield Brain & Spine (2015).
29

O aneurisma sacular é ocasionado por dano na parede do vaso entre a
média e a elástica, levando a destruição focal na membrana elástica
interna produzida pelas forças hemodinâmicas, como resultado a
adventícia, finalmente, rompe. (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014).
Segundo Schievink e Wouter (1997) apud Queiroz (2010), a maioria
dos aneurismas intracranianos (80-85%) estão na junção da Artéria
Carótida Interna com a Comunicante Posterior, no complexo da Artéria
Comunicante Anterior e bifurcação da Artéria Cerebral Média. Segundo
Weir, Disney e Karrison (2002), 43% dos aneurismas rotos estariam na
Artéria Cerebral Anterior ou Artéria Comunicante Anterior. Na
circulação posterior, ocorrem até 15% dos aneurismas saculares: 10%
na artéria basilar e 5% na artéria vertebral. (QUEIROZ, 2010).

Os aneurismas fusiformes são referidos como decorrente de doença
ateroesclerótica, formado por depósito ateromatóticos na parede do
vaso. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012; RORIZ, 2012).

Aneurismas dissecantes são ocasionados pela separação da parede
arterial pelo fluxo sanguíneo, com estreitamento do lúmen arterial e
abaulamento da parede do vaso, simulando em aneurisma sacular.
(TATESHIMA; DUCKWILER, 2012).
Os aneurismas mais sujeitos a ruptura são os com diâmetro maior que 10
milímetros (mm). (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012; ROPPER; SAMUELS; KLEIN,
2014).
Aneurismas
múltiplos
podem
ocorrer
em
10-30%
dos
pacientes.
(VILLABLANCA et al., 2008 apud VENTI, ACCIARRESI e AGNELLI, 2011;
ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014), Esses são dispostos assimetricamente em
diferentes localizações do polígono de Willis. (INGANA, 1990; JUVELA, 2001;
QURESHI et al., 1998 apud TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). (vide figura 2).
30
Artéria Cerebral Anterior
Nervo Óptico
Artéria Comunicante Anterior
Artéria Cerebral Média
Artéria Coróidea Anterior
Artéria Carótida Interna
Artéria Comunicante Posterior
Nervo Oculomotor
Artéria Cerebral Posterior
Artéria Cerebelar Superior
.
Nervo Trigêmio
Artéria Basilar
Artéria Cerebelar Ántero-Inferior
Artéria Vertebral
Artéria Espinhal Anterior
Artéria Cerebelar Póstero-Inferior
Figura 2. Representação ilustrativa das localizações
mais comum de aneurismas intracranianos saculares
Fonte: Adaptado de Hacke (2010, p. 263)
Outras causas de HSA espontânea abrangem:

Malformações arteriovenosas: A ruptura de malformação arteriovenosa
(MAV) é responsável por aproximadamente 3-5% dos casos,
parecendo ter uma evolução menos devastadora que a ruptura de
aneurisma.
(REDEKOP,
CARDENTEY-PEREDA;
G.;
FERGUSON,
PÉREZ-FALERO,
G.,
2002).
1993
São
apud
lesões
congênitas por erro na embriogênese, não devidas a neoformações e
não apresentam correlação familiar. (TATESHIMA; DUCKWILER,
2012).

Perimesencefálicas: é caracterizada pela presença de sangramento de
na cisterna em torno do mesencéfalo e Ponte simetricamente
preenchida por pequena quantidade de material hemático. (ROPPER;
SAMUELS; KLEIN, 2014). É encontrada em 10% geralmente
associada a bom prognóstico. (VAN GIJN; RINKEL, 2001).
No quadro 1, pode-se observar outras de aneurisma. (VIVANCOS et
al., 2012; VAN GIJN; KERR; RINKEL, 2007).
31
Quadro 1. Etiologia da Hemorragia Subaracnóidea
MALFORMAÇÕES VASCULARES

Aneurismas intracranianos saculares

Aneurismas ateroscleróticos

Aneurismas fusiformes

Aneurismas micóticos
DISCRASIAS SANGUÍNEAS

Coagulopatias congênitas: hemofilia A e B,
doença
de
von
Willebrand,
afibrinogenemia;
anemia falciforme

MALFORMAÇÕES ARTERIOVENOSAS
Coagulopatias
adquidiridas:
uso
de
anticoagulantes,
fibrinotícitos;
coagulação
intravascular
disseminada;
purpura

Fístulas durais arteriovenosas
trombocitopenica idiopática; Leucemia; mieloma

Cavernomas
múltiplo,

Telangiectasias capilares
Macroglobulinemia
Malformações vasculares medulares
aplásica;

ALTERAÇÕES HEMODINÂMICAS CEREBRAIS
síndrome
HELLP;
de

Sepse

Síndrome de hiperperfusão

Meningoencefalite

Síndrome de encefalopatia posterior

Estenose crítica carotídea

Exposição ao frio

Aspergilosis
Picada de escorpião

Febre tifoide

Boreliose

Leptospirose
Listeriose
VASCULOPATIAS
tuberculose
Endocardite bacteriana

Angiopatia amiloide


Dissecção de artérias cervicais e cranianas

Malária

Displasia fibromuscular

Toxoplasmose

Síndrome de vasoconstrição cerebral

Síndrome de Moya-moya

Vasculite

Gliomas

Colagenopatia

Meningiomas

Doença de Moya-moya

Schwannoma

Doença de Rendu-Osler-Weber

Neurinoma Acústico

Metástatase
TÓXICOS

Apoplexia hipofisária

Drogas de abuso (cocaína, anfetamina)

Hemangioma

Fármacos (fenilefedrina, sildenafil, efedrina)

Papiloma dos plexos coróideos

Arsénio

Melanomas

Monóxido de carbono

Metanol
INFLAMATÓRIAS

Doença de Behçet

Angeíte primária

Poliarterite nodosa

Síndrome de Churg-Strauss

Granulomatose de Wegener
Anemia
e
herpes
zoster


Waldenstron;
INFECCIOSAS
Trombose venosa central

Trombocitopenia;
NEOPLASIAS CEREBRAIS
INTERVENÇÕES NEUROCIRÚRGICAS

Cirurgia craniana

Cirurgia medula espinhal
PERIMESENCEFÁLICA E IDIOPÁTICAS
TRAUMATISMO CRANIOENCEFÁLICO
OUTRAS: endometriose cerebral; síndrome de Zieve
Fonte: Adaptado de: Vivancos et al. (2012); Van Gijn, Kerr e Rinkel (2007); Quresh et. al, (2001).
32
3.5 FISIOPATOLOGIA
Os mecanismos são variados. Há a ruptura da parede arterial no caso de
aneurismas ou de veias nos casos de malformações vasculares arteriovenosas.
(ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014; TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Este último
mecanismo
é
ainda
implicado
no
sangramento
espontâneo
da
HSA
perimesencefálica. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). A diapedese dos elementos
sanguíneos através da parede capilar ocorre nos transtornos de coagulação,
infecciosos e tóxicos. (ANÁLISES DE REVISTAS, 1953).
Com a hemorragia intracraniana, ocorre a elevação a pressão intracraniana,
interferindo com a perfusão intracerebral. (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014). Há,
então, elevação do tônus simpático a partir do tronco cerebral, produzindo a
resposta de Cushing. (CIANCANGLINI, 2005). A diminuição da pressão de perfusão
e reperfusão levam a uma cascata de eventos bioquímicos que, com o surgimento
de espécies reativas de oxigênio e com aumento do cálcio iônico intracelular, podem
aumentar ainda mais o dano inicial. (AL SHAHÍ, 2001; FARREL, 2003 apud
NEGRETE, 2010).
3.6 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os pacientes podem ter um amplo espectro de apresentação inicial.
(ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014).
A apresentação clássica da HSA consiste na cefaleia de inicio súbito, muitas
vezes referida como a pior da vida (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; CONOLLY JR,
2006), sendo importante para orientar o diagnóstico diferencial (VAN GIJN; RINKEL,
2001). A cefaleia acomete em torno de 25% a 33% (VIVANCOS et al., 2012; LINN et
al., 1994) a 51-78,7% desses pacientes. (KUMAR et al., 2010; CARVALHO et al.,
2011). Os pacientes com cefaleia sentinela podem apresentar uma latência média
de 10 dias entre os sintomas e a HSA principal (GREENBER, 2003) e representar de
33
30-60% dos casos. (OKAWASA, 1973; WAGA et al., 1975 apud TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012).
Apresentações atípicas com o acometimento de outros tipos de cefaleia, de
convulsões ou de síndrome confusional podem surgir como manifestação inicial,
dificultando o diagnóstico. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; VAN GIJN; RINKEL,
2001). Os pacientes confusos, agitados ou inquietos e com impossibilidade de
fornecer dados da história podem ter inicialmente um diagnóstico psiquiátrico.
(EDLOW; CAPLAN, 2000). Isso se torna importante na medida em que o
rebaixamento de nível de consciência no ictus é um dos melhores preditores de pior
prognóstico. (KASSEL et al., 1990).
Os sinais meníngeos, que poderiam auxiliar na suspeição diagnóstica desses
pacientes com manifestação inicial atípica, podem surgir somente com três a doze
horas do ictus e mesmo com o decorrer deste período podem ainda estar ausentes
no paciente em coma. (EDLOW; MALEK; OGILVY, 2008).
Outros sintomas decorrentes da elevação da hipertensão intracraniana são
vômitos e alterações retinianas. Os vômitos correm em até 70% dos pacientes com
ruptura aneurismática. (LINN et al., 1994). A síndrome de Terson, hemorragia
perirretinal ou subhialóide visualizada no exame de fundo de olho (ROPPER;
SAMUELS; KLEIN, 2014), acomete de 14,3% (HASSAN et al., 2011) a 29,4% dos
pacientes (SONG et al., 2003), tendo neste último estudo contado com mapeamento
de retina e avaliações longitudinais.
Com algumas exceções de localização especificas, diferente dos outros tipos
de AVC, geralmente, não há sinais clássicos, como hemiparesia, hemihipoestesia,
hemianopsia ou alterações de linguagem à apresentação inicial. (TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012). Contudo, em uma análise posterior na população na nossa
região, foram observados sintomas motores em 33,8% dos pacientes; sensitivos em
16,2% e alteração de fala em 31,1%. (CARVALHO et al., 2011).
As escalas clínicas de Hunt & Hess e da Federação Mundial dos
Neurocirurgiões (em inglês: World Federation of Neurological Surgeons – sigla:
WFNS) são as mais utilizadas na prática diária (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012)
(vide quadro 2), sendo também utilizada a escala de coma de Glasgow (ECG) (vide
quadro 3). Além de terem boa correlação prognóstica. (PATEL; SAMUELS, 2012).
34
Quadro 2. Escalas de classificação clínica para HSA: de Hunt & Hess e da
Federação Mundial de Neurocirurgiões
Escala de Hunt &Hess
Grau
Descrição
I
Assintomático, cefaleia leve, leve sinais meningeos
II
Cefaleia, claros sinais meníngeos, envolvimento de Nervo Craniano
III
Confusão ou Sonolência, déficit neurológico focal leve
IV
Torpor, Hemiparesia moderada a severa
V
Coma, postura de descerebração
Escala da Federação Mundial dos Neurocirurgiões para HSA
Grau
Escala de Glasgow
Déficit motor
0
--
--
1
15
ausente
2
13-14
ausente
3
13-14
ausente
4
7-12
presente ou ausente
5
3-6
presente ou ausente
Fonte: Adaptada de Tateshima e Duckwiler (2012, p. 1078).
Quadro 3. Escala de coma de Glasgow
Parâmetro
Graduação
Abertura ocular
Espontanea
4
Ao comando verbal
3
Ao estímulo doloroso
2
ausente
1
Melhor resposta verbal
Orientado
5
Desorientado
4
Palavras inapropriadas
3
Sons inapropriados
2
Sem resposta
1
Melhor resposta verbal
Obedece comandos
6
Localiza estímulo doloroso
5
Retirada ao estimulo doloroso
4
Flexão anormal (decortização) à dor
3
Extensão anormal (decerebração) à dor
2
Sem resposta
1
Fonte: Adaptada de Rosen e Macdonald (2005, p. 114).
35
3.7 FATORES DE RISCO E COMORBIDADES
São muitos os fatores implicados no surgimento da HSA. O aneurisma
intracraniano, presente em 3% da população, apresenta aproximadamente 25% de
chance de ruptura ao longo da vida e tem sido fortemente correlacionado com alta
incidência de casos fatais. (OGILVY, 2001).
Os outros fatores de risco não modificáveis, que estão associados a aumento
de incidência de ruptura de aneurismas são: sexo feminino e idade. (NAKAGANA;
HESHI, 1994 apud TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Observa-se ainda que com
parentes de primeiro grau acometidos por HSA apresentam três a sete vezes mais
chance de apresentar esta doença. (GAIST et al., 2000; OKAMOTO et al., 2003).
Nos estados Unidos, relata-se ainda predomínio em afrodescendentes e naqueles
de origem hispânica quando comparado aos calcasianos. (GO et al., 2014). No
quadro 4, observamos algumas desordens geneticamente determinadas que
também contribuem para ruptura aneurismática. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012,
p. 1075; SCHIEVINK et al., 1994 apud VAN GIJN; RINGEL, 2001).
Quadro 4. Fatores de Risco associado a aneurisma
Doença Renal policística autossômica dominante
Ehlers-Danlos tipo IV
Displasia fibromuscular
Coarctação da aorta
Síndrome de Moyamoya
Pseudoxantoma elástico
Deficiência de alfa-1-antitripsina
Lúpus eritematoso sistêmico
Anemia falciforme
Endocardite bacteriana
Infecção fúngica
Neurofibromatose tipo 1
Esclerose tuberosa
Feocromocitoma
Malformação arteriovenosas
Anastomoses anormais carótida-vertebrobasilar
Uso de cocaína
Tabagismo
História familiar
Fonte: Adaptado de Tateshima e Duckwiler (2012, p. 1075);
Schievink et al. (1994) apud Van Gijn e Ringel (2001).
36
Entre os principais fatores de risco modificáveis, estão: a hipertensão arterial
sistêmica (HAS), tabagismo, etilismo e uso de drogas simpaticomiméticas. (FEIGIN
et al., 2005; CONOLLY JR. et al., 2012). No estudo de Carvalho et al. (2011), foi
evidenciada a HAS em 80% e o tabagismo em 44,4% dos pacientes acometidos por
HSA. O consumo de álcool também está relacionado ao aumento do risco de HSA
(JUVELA et al., 1993), com relato de libações precedendo o ictus de HSA
aneurismática. (NIEUWKAMP et al., 2011). A HSA induzida por uso de
anticoagulante oral isolada é um evento raro, devendo se excluir causas etiologias
mais prevalentes como a presença de aneurisma ou ocorrência de traumas
cranioencefálicos. (FOERCH et al., 2008).
Alguns fatores de risco encontrados nos outros tipos de AVC não são
observados nesta condição. O diabetes (DM) tem se mostrado fator de risco
somente para HSA perimesencefálica. (VIVANCOS et al., 2012). Ao contrario do
AVC isquêmico, os contraceptivos orais não afetam o risco de HSA. (FEIGIN et al.,
2005).
Em meio às outras comorbidades, a cardiopatia tem alta prevalência em
pacientes com HSA, sendo muitas vezes implicada em piores desfechos.
(NIEUWKAMP et al., 2011; JUVELA; LEHTO, 2015). Nieuwkamp et al. (2009) relata
ainda uma alta percentagem de recidiva de HSA
e de antecedente de AVC
isquêmico.
3.8 DIAGNÓSTICO
O diagnóstico médico inicial é errôneo em até 12-50% dos casos. (CROSS 3rd
et al., 2003; SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006). Isso pode atrasar o tratamento
adequado (SCHIEVINK et al., 1988) e pode propiciar a ocorrência de complicações
(VAN GIJN; KERR; RINKEL, 2007), estando associada a um risco 4 vezes maior de
morte ou dano neurológico permanente. (CONOLLY JR. et al., 2012).
A Tomografia de Crânio (TC) sem contraste é indicado para ser o primeiro
exame de imagem realizado para confirmação diagnóstica (BENDERSON et al.,
2009), sendo associado a achados de hiperdensidade no espaço subaracnóide com
37
até 100% de sensibilidade nas primeiras 6 horas do ictus a 92% dos casos dentro
das primeiras 24 horas. (BACKES et al., 2012). Apesar da boa sensibilidade na fase
aguda, esta cai rapidamente, especialmente nos sangramentos mínimos, o que
acaba por constituir um dos desafios ao diagnóstico por detecção nos estudos de
neuroimagem. (CUVINCIUC et al., 2010).
Em alguns casos de TC inconclusiva, pode-se realizar ressonância magnética
(RM). A RM é especificamente superior a TC na fase aguda e subaguda dos
sangramentos pequenos. (DA ROCHA et al., 2006). Especialmente o Fluid
attenuated inversion recovery (FLAIR) e o Diffusion weighted imaging (DWI)
(SHIMODA et al., 2010), que é extremamente sensível a patologias que afetam o
espaço subaracnóideo. (MAEDA et al., 2003). O Gradient echo (GRE) é preferível na
fase subaguda e crônica da HSA. (KIDWELL et al., 2009 apud TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012).
Uma neuroimagem negativa, entretanto, não descarta HSA. Além do que
estudos apontam que 15% os exames falham em detectar hemorragia, tendo esses
HSA perimesencefálica em até 38%. (KAPADIA et al., 2014).
Em caso de suspeita clínica sem achados confirmatórios em neuroimagem,
deve-se proceder a punção lombar (PL) na busca de xantocromia no liquido
cefalorraquidiano (LCR), que costuma ser perceptível à punção de 6 horas a até 2
semanas após ictus. (DE PAEPE et al., 1988 apud VAN GIJN; RINGEL, 2001). Os
achados característicos do LCR são acima de 500 hemácias por milímetros cúbicos
(mm3), com leves aumentos de leucócitos e proteínas, com glicose normal ou
reduzida (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014), devendo o sangramento ser
distinguida do acidente de PL pela presença de xantocromia, decorrente da
degradação da hemoglobina. (STEWART et al., 2013).
No caso de TC e PL não evidenciarem alterações durante o período de duas
semanas do ictus, pode-se procurar outro diagnóstico. (AL SHAHI et al., 2006 apud
DA SILVA, 2014). No entanto, em caso de positividade da PL, orienta-se buscar
etiologia
aneurismática
com
realização
de
angiotomografia
(AngioTC),
angiorressonância (AngioRM) ou arteriografia. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006;
VAN GIJN; RINKEL, 2001; STEINER; REUBEN; MCDONALD, 2014).
38
A severidade do sangramento inicial é apontada como um bom preditor para
prognóstico. (JUVELA; LEHTO, 2015). A escala de Fisher (quadro 5) está implicada
como um forte preditor de complicações neurológicas. (FISHER et al., 1983;
RABINSTEIN; LANZINO; WIJDICKS, 2010).
Quadro 5. Escala de Fisher
Grau
Sangramento na Tomografia
I
Ausência de sangue
II
Difuso ou em camadas verticais com espessura inferior ou igual a 1 mm
III
Coagulo localizado e/ou camada vertical igual ou maior que 1 mm
IV
Coagulo intracerebral ou intraventricular com HSA difusa ou não
Fonte: Adaptada de FISHER et al. (1980) apud Manual de rotinas para atenção ao AVC.
Ministério da Saúde do Brasil (2013).
Entre outros achados que podem ser evidenciados na neuroimagem inicial,
estima-se que até 8% dos pacientes apresentam edema cerebral à admissão.
(CLAASSEN et al., 2001).
3.9 INTERCORRÊNCIAS
Os
sobreviventes
adversidades,
incluindo
do
sangramento
complicações
inicial
estão
neurológicas
e
expostos
clínicas.
a
várias
Entre
as
intercorrências neurológicas, destacam-se o vasoespasmo, o ressangramento e
hidrocefalia como as principais fontes de morbidades entre esses pacientes.
O vasoespasmo clínico constitui a mais comum complicação neurológica.
Segundo Vergouwen et al. (2010), o vasoespasmo cerebral corresponde a uma
síndrome com deterioração clínica, sugerido por novos sintomas ou piora dos préexistentes, e evidências imaginológicas de isquemia cerebral, que ocorrem após a
hemorragia inicial. Ocorre em aproximadamente em 20,3% a 30% dos pacientes
sendo associada a piora funcional. (GUARESI, 2011; VERGOUWEN et al., 2010).
Embora o vasoespasmo angiográfico, detectado por neuroimagens e Doppler
39
transcraniano - exame padrão ouro para detecção de vasoespasmo na fase préclínico é Doppler transcraniano (VERGOUWEN et al., 2010), ocorra em 70% dos
pacientes com aneurisma (ROMMER; REINSTRUP, 2001 apud TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012), não se consegue identificar todos os pacientes que evoluem
para dano neurológico. (FRONTERA et al., 2006). Levanta-se a hipótese de que a
inflamação provocada pelo produto da degradação do sangramento inicial altera a
função dos miócitos, causando vasoconstrição, tornando-se a área afetada não
suprida pela circulação arterial isquêmica. (RUSY, 1996 apud TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012). Contudo, o real mecanismo ainda não é completamente
entendido. Essa síndrome tem pico de incidência entre o 4º. ao 14º. dia do
ictus.(BEDERSON et al., 2009). Manejado com administração de antagonista do
cálcio, com evidencias de redução de morbidade com uso de nimodipino. (PICKARD
et al., 1989 apud TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Além disso, são necessários
correção de distúrbios hidroeletrolíticos (SOLENSKI et al., 1995).
O ressangramento, um novo sangramento após o inicial, é observado de 4 a
15% dos pacientes com causa aneurismática nas primeiras 24 horas. (TANG;
ZHANG; ZHOU, 2014; OHKUMA; TSURUTANI; SUZUKI, 2001). Esta intercorrência
ocorre em até 40% dos pacientes no primeiro mês do ictus sem tratamento do
aneurisma. (INAGAWA et al., 1987; KASSEL; TORNER, 1983 apud TATESHIMA;
DUCKWILER, 2012). Entre os fatores de risco relacionados a está complicações
estão: tamanho do aneurisma, idade avançada, condição clínica à admissão, perda
inicial de consciência, atraso no tratamento e pressões arteriais sistólicas maior que
160 mmHg. (CONOLLY JR. et al., 2012; TANG; ZHANG; ZHOU, 2014; OHKUMA;
TSURUTANI; SUZUKI, 2001).
A Hidrocefalia, a dilatação anormal do sistema ventricular, é decorrente do
acúmulo excessivo de LCR no encéfalo, ocasionada por aumento de produção ou
interrupções na circulação e absorção. (ROPPER; SAMUELS; KLEIN, 2014;
TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Esta por sua vez exerce pressão potencialmente
prejudicial no parênquima cerebral. (TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Na HSA,
com a drenagem do sangue para o espaço subaracnóideo, pode ocorrer hidrocefalia
por obstrução das granulações Paccioni por células sanguineas na fase aguda e por
reações inflamatórias com fibrose das leptomeninges e por formações de aderências
na fase crônica, ocasionando bloqueios da circulação extraventriculares. (ESPER;
40
PADILLA, 2009). A Hidrocefalia em sido relatada em aproximadamente 9,5%
(GUARESI et al., 2011) a 20% dos pacientes com HSA. (RAYA; DIRINGER, 2014;
CONOLLY JR. et al., 2012). Em alguns casos, faz-se necessária a derivação
ventricular para reduzir a pressão intracraniana. (VAN GIJN; KERR; RINKEL, 2007;
CONOLLY JR. et al., 2012). Entretanto, esta intervenção também pode implicar na
recorrência de sangramentos. (CRISTINO FILHO, 2002).
São muitas as possíveis intercorrências clínicas. Entre estas, destacam-se as
cardiovasculares, implicadas como importante causa de morte em pacientes com
HSA. (NIEUWKAMP et al., 2011). A pneumonia, também, foi identificada como
prevalente complicação clínica com até 20% desses pacientes acometidos.
(WARTENBERG; MAYER apud LATINGUA et al., 2015). A hiperglicemia é frequente
(DIRINGER et al, 2011), sendo associada a pior prognóstico. (FRONTERA et al.,
2006; SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006). A trombose venosa periférica (TVP) e
tromboembolismo pulmonar são presentes em torno de 1,5-1,8% destes doentes
(RAY et al., 2009), podendo esta incidência acometer até 20% dos pacientes
dependendo do método de rastreio. (DIRINGER et al., 2011). A profilaxia com
anticoagulante é recomendada a todos em 24 horas após resolução da causa base.
(LATINGUA et al., 2015). Além disso, mais de 75% dos pacientes com HSA
apresentam síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), aumentando ainda
mais o risco de complicações como hidrocefalia, edema cerebral, ressangramento,
vasoespasmo, crises convulsivas e implicando na desregulação do sódio e da
glicose. (WARTENBERG; MAYER apud LATINGUA et al., 2015).
3.10
TRATAMENTO
O
manejo
inicial
deve
ser
focado
na
estabilização
respiratória
e
hemodinâmica. (CONOLLY JR. et al., 2012; RAYA; DIRINGER, 2014). Um pronto
tratamento na fase aguda pode reduzir a mortalidade (FEIGIN et al., 2005), sendo os
cuidados em centros especializados associado a melhores desfechos. (BERMAN et
al., 2003). Portanto, deve-se manejar adequadamente intercorrências até a
resolução da causa da HSA.
41
As intercorrências clínicas também devem ser adequadamente manejadas,
evitando-se hipertermia (RINCON et al., 2015) e hiperglicemia, mantendo-se a
temperatura axilar menor que 37,5 Celsius (ºC) e níveis glicêmicos entre 80 e
200mg/dL. (STEINER et al., 2013; MICHAEL et al., 2011; WIJDECKS apud
LATINGUA et al., 2015). Deve-se, ainda, garantir controle de analgesia e correção
de distúrbio hidroeletrolítico para estes pacientes (CONOLLY JR. et al., 2012), sendo
recomendada a administração de solução salina de cloreto de sódio a 3% em
pacientes com hiponatremia e vasoespasmo sintomático. (SUAREZ et al., 1999
apud TATESHIMA; DUCKWILER, 2012).
O vasoespasmo deve ser cautelosamente manejado, evitando-se hipotensão.
(VAN GIJN; RINGEL, 2001; LATINGUA et al., 2011). Foi evidenciado o benefício do
uso do antagonista do canal de cálcio na profilaxia desta complicação, sendo o
nimodipino oral a medicação utilizada no nosso meio para esse fim e recomendado
na maioria dos protocolos. (DIRINGER et al., 2011). Lança-se mão também da
terapia do triplo H, que abrange hidratação, hipervolemia e hemodiluição.
(TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). Deve-se manter bom controle pressórico, pois
sabe-se que níveis de pressões arteriais sistêmicas sistólicas maiores que
160mmHg têm sido implicados em maior chance de ressangramento. (TANG;
ZHANG; ZHOU, 2014; OHKUMA; TSURUTANI; SUZUKI, 2001).
Entretanto,
a eficácia
do
tratamento
conservador medicamentoso
é
insatisfatória, sendo a melhora funcional, diretamente, associada com a eliminação
precoce da causa da HSA (DING et al., 2014), sendo a abordagem precoce (24-72
horas do ictus) reportada como um redutor do risco de ressangramento e
vasoespasmos. (MACHADO; AKAMINE, 2002; WONG; BOET; NG, 2012 apud
ZHAO, 2015; PATEL; SAMUELS, 2012).
As modalidades de tratamento do aneurisma incluem microcirurgia e
embolização. (DING et al., 2014; DARSAUT et al., 2013). Os avanços do
desenvolvimento da técnica e dos conhecimentos em neuroanatomia permitiram
clipagem cirúrgicas cada vez mais seguras. (RICE et al., 1990; SANO, 2010 apud
TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). O tratamento cirúrgico em pacientes com
pontuação a escalas de Hunt & Hess e da WFNS entre 4 e 5 é controverso, sendo o
tratamento
endovascular
DUCKWILER, 2012).
de
escolha
para
estes
pacientes.
(TATESHIMA;
Inicialmente o tratamento endovascular era o de eleição
42
apenas para os casos não passiveis de abordagem cirúrgica, como: acometimento
em idosos, presença de aneurisma gigante ou em circulação posterior.
(TATESHIMA; DUCKWILER, 2012). O estudo International Subarachnoid Aneurysm
Trial (ISAT) mostrou uma diferença significativa quanto ao desfecho de e
severamente
incapacitados
e
óbito
entre
a
microcirurgia
e
embolização.
(TATESHIMA; DUCKWILER, 2012).
3.11
PREDITORES PROGNÓSTICOS
São vários os fatores que podem influenciar no prognóstico destes indivíduos.
Algumas informações são controversas ou inconclusivas.
As comorbidades são frequentemente citadas em alguns trabalhos como
preditoras de prognóstico. Antecedentes de HAS, DM e tabagismo foram implicados
com os maiores impactos sobre o prognóstico por Rosengart et al. (2006), contudo,
em estudos subsequentes de outros pesquisadores, apesar de prevalentes, não se
mostraram fatores preditores quanto avaliados os aspectos de funcionalidade e de
sobrevivência. (JUVELA; LETHO, 2015; SANDVEI et al., 2011; NIEUWKAMP et al.,
2009). Por outro lado, a cardiopatia está associada com piores desfechos (RINKEL
et al., 2001), sendo responsável por até 60% dos casos fatais. (NIEWKAMP et al.,
2011).
As escalas de Hunt & Hess e da WFNS são associadas com pior status
clinico e altas complicações neurológicas. (CONOLLY JR. et al., 2012). Elas, como
se pode observar na tabela 2, vêm se destacando como boas preditoras para o
desfecho clínico fatal. (PATEL; SAMUELS, 2012).
43
Tabela 2. Relação entre as escalas de avaliação clínica e a sobrevivência
Grau
Hunt & Hess
WFNS
Sobrevivência
1
Assintomático, cefaleia leve, leve sinais
meníngeos
ECG 15, sem déficit
motor
70%
2
Cefaleia, claros sinais meníngeos,
envolvimento de Nervo Craniano
ECG 13-14, sem
déficit motor
60%
Confusão ou Sonolência, déficit neurológico ECG 13-14, com
focal leve
déficit motor
50%
3
4
Torpor, Hemiparesia moderada a severa
ECG 7-12, sem ou
com déficit motor
20%
5
Coma, postura de descerebração
ECG 3-6, sem ou
com déficit motor
Fonte: Adaptado de Patel e Samuels (2012).
10%
O centro onde o tratamento é estabelecido também tem influencia sobre o
desfecho funcional. (DIRINGER et al., 2011). Pacientes em centro de alto volume
(segundo a American Heart association/ American Stroke association: centros com
mais de 35 casos de HSA por ano) com unidades neurointensivos e cuidados por
equipe multidisciplinar apresentam decréscimo na mortalidade. (SUAREZ et al.,
2004). Segundo Lichtman et al. (2011), com diferença estatisticamente significante
(p<0,001) em relação a lugares desprovidos desta condição.
Apesar de impacto sobre a funcionalidade conferido ao vasoespasmo
(VERGOUWEN et al., 2010), a associação entre vasoespasmo e mortalidade
ausente foi observada por Lantigua et al. (2015).
Fatores preditores como idade ao ictus, alteração de nível de consciência e
volume de sangramento na neuroimagem inicial tem sido apontado com fortes
preditores de desfecho de sobrevivência. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; HIJDRA
et al., 1988). Assim como sexo masculino, tabagismo e etilismo, hipertensão historia
familiar e diâmetro do aneurisma também teriam sido implicados em análise
multivariada como preditores de prognóstico. (JUVELA; LEHTO, 2015).
44
4 METODOLOGIA
4.1 LOCAL DO ESTUDO
Este
estudo
foi
realizado
no
Hospital
Geral
de
Fortaleza
(HGF),
especificamente, nos serviços de Emergência, de Neurologia e de Neurocirurgia
deste hospital.
O HGF está localizado na cidade de Fortaleza, que abriga aproximadamente
3,5 milhões de habitantes e em um estado com aproximadamente oito milhões de
habitantes, sendo o único hospital publico de referência de Fortaleza para receber
pacientes com todos os tipos de doença cerebrovasculares em nível terciário.
O serviço de Neurologia é composto do Setor de Emergência, sendo a porta
de entrada para os pacientes com diversas patologias cerebrovasculares; e uma
Unidade de AVC composta por 20 leitos que recebe preferencialmente pacientes
com AVC isquêmico em fase aguda. O Hospital disponibiliza ainda 24 leitos ao
serviço de Neurologia (sendo 12 destes destinados a pacientes oriundos da
emergência e 12, para internações eletivas).
O serviço de Neurocirurgia conta com 32 leitos, onde são cuidados pacientes
com diversas patologias neurocirúrgicas.
4.2 DESENHO DO ESTUDO
Este é um estudo observacional, prospectivo, de coorte, sendo avaliado
pacientes internados na emergência, enfermarias da Neurologia e da Neurocirurgia
do HGF, no período entre abril de 2015 a janeiro de 2016.
45
4.3 POPULAÇÃO E SUJEITOS
Essa amostra foi constituída de 105 pacientes de ambos o sexo, com idade
superior a 18 anos e diagnóstico de HSA, confirmado por neuroimagem (TC ou RM)
ou punção lombar (PL). Os pacientes eram usuários da rede SUS e foram
selecionados entre aqueles com HSA no período de abril a janeiro de 2015, que
satisfaziam os critérios de elegibilidade, sendo uma amostragem não probabilística,
por acessibilidade ou por conveniência.
4.4 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO
Foram incluídos neste estudo pacientes no período de abril de 2015 a
dezembro de 2015, que obedeceram aos seguintes critérios:

Idade mínima de 18anos, independente do gênero, etnia ou escolaridade.

Diagnóstico de HSA confirmados por neuroimagem (TC, AngioTC, RM ou
AngioRM de crânio) ou PL.

Anuência do paciente ou do acompanhante em participar deste estudo
através de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE
B) após leitura minuciosa.
4.5 CRITÉRIOS DE EXCLUSÃO
Foram excluídos deste estudo:

Pacientes com menos de 18anos de idade.

Pacientes com aneurisma cerebral sem hemorragia subaracnóidea ou
não implicado como causador dos achados clínico-radiológicos.
46

Pacientes com hemorragia intraparenquimatosa ou intraventricular isolada
sem comprovação em neuroimagem de aneurisma ou MAV.

Pacientes com aneurisma de localização extracraniana.
4.6 COLETA DOS DADOS
Os dados foram coletados através de entrevista estruturada com pacientes
e/ou responsáveis, utilizando formulário padronizado (APÊNDICE A) para avaliar
dados demográficos, comorbidades associadas, tais como diabetes e hipertensão
arterial sistêmica, hábitos de vida, apresentações clínicas, parâmetros da admissão
e da evolução, antecedentes pessoais e familiares, tratamentos clínicos e
neurovasculares instituídos, complicações. Além disso, a análise de prontuário foi
realizada para
averiguação
no
preenchimento
desse formulário
especifico
(APÊNDICE A). Todas as etapas deste processo foram realizadas unicamente pela
pesquisadora.
Todas as imagens foram avaliadas por neurologistas e/ou radiologistas
certificados.
O desfecho clínico foi avaliado após 30 dias do ictus, aplicando a escala de
Rankin modificada (ERm), diretamente pela pesquisadora (ANEXO A) ou através do
questionário desta escala validado no Brasil para atendimento por telefone (ANEXO
B),
sendo
considerada
de
desfecho
funcional
favorável
e
desfavorável,
respectivamente, a pontuação desta escala: menor ou igual a 2 e maior ou igual a 3.
O termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) foi levado a todos os
pacientes ou responsáveis (em caso de pacientes impossibilitados por rebaixamento
de sensório ou déficit cognitivo) que participaram da pesquisa (APÊNDICE B). Os
pacientes não foram identificados neste estudo, atendendo aos critérios da
Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde.
47
4.7 VARIÁVEIS ANALISADAS
a) Dados sociodemográficos

Sexo

Idade
b) Quadro clínico à admissão

Cefaleia:
o
Típica. Considerada como cefaleia súbita, que atinge o ápice em
segundos a minutos, muitas vezes relatada como a pior da vida.
o
Atípica
o
Sentinela. Considera-se com apresentação de cefaleia, geralmente 2-8
semanas antes da clinica inicial, frequentemente atribuída a sangramento de
pequena monta.

Dor cervical

Vômitos

Convulsões no ictus

Síncope no ictus. Breve perda da consciência com célere recuperação no

Sinais Meníngeos. Achados de rigidez de nuca, sinais de Kernig ou
ictus.
Brudzinski à admissão.

Alteração de linguagem. Considerado com afasia ou mutismo.

Sinais Focais. Presença de alterações de nervo craniano, alterações de
campo visual, paresia ou plegia.

Alterações de consciência: obnubilação, estupor ou coma.

Alterações ao exame de Fundo de Olho: Presença de papiledema ou
hemorragia retiniana.

Escala de Hunt & Hess (HH) (Quadro 2)

Escala da Federação Mundial dos Neurocirurgiões (sigla em inglês:
WFNS) para atendimentos de emergência (Quadro 2)

Escala de coma de Glasgow (Quadro 3)
48
Observação: outras condições relacionadas também foram incluídas entre as
variáveis:

Eixo vermelho. Considerou-se pacientes, que na chegada ao HGF,
foram triados para serem diretamente admitidos no setor Eixo vermelho, que
abrange a Sala de parada cardiorrespiratória e a Sala de Estabilização. Essa é um
opção disponível, quando o paciente é classificado como “vermelho”, apresentando
a admissão parada cardiorrespiratória; rebaixamento de nível de consciência com
pontuação à escala de coma de Glasgow menor ou igual a 8; pressão arterial
sistólica menor ou igual a 80mmHg; frequência cardíaca maior e igual a 140bpm ou
menor e igual 40bpm); insuficiência respiratória (com frequência respiratória menor e
igual a 10 ou maior e igual a 35 incursões respiratórias por minuto; letargia/ confusão
mental ou saturação O2 < 90%) (BRASIL. Ministério da Saúde, 2002).

Tempo entre o ictus e o diagnóstico (TID). Considerou-se tempo em que
paciente iniciou cefaleia, déficits neurológicos ou alteração de consciência súbita
(este último considerado no caso de pacientes com alteração de consciência
persistente ou com incapacidade de prestar informações) até o estabelecimento
dignóstico.

Tempo de permanência na emergência (TPE). Considerou-se tempo em
que paciente permaneceu na emergência (Sala de parada cardiorrespiratória; Sala
de Estabilização; Observação I, II e III; Medicação ou corredores) até a transferência
para outro setor ou óbito.
c) Fatores de risco

Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS): pressão arterial sistêmica ≥ 140
mmHg ou uso atual de anti-hipertensivo.

Diabetes Mellitus (DM): historia de diabetes ou de tratamento atual de
diabetes mellitus.

Dislipidemia (DLP): tratamento atual para hipercolesterolemia.

Cardiopatia:
definida
como
doença
previamente
diagnóstica
por
cardiologista ou clínica

Insuficiência renal crônica: paciente dialítico ou sabidamente com
insuficiência renal em acompanhamento clínico para esta condição.
49

HSA prévio: história compatível com neuroimagem ou relatório médico
comprovando a ocorrência de HSA previamente.

Etilismo: foi considerado elitista moderado ou pesado definido como
consumo diário de álcool superior a 50g por dia, equivalente a duas taças de vinho,
1000mL de cerveja ou mais de duas doses de destilados ou história de intoxicação
alcoólica com ingesta de 300g de álcool no mínimo uma vez por semana.

Tabagismo: ter fumado um ou mais dias nos últimos 30 dias que
antecederam o ictus do evento, sem levar em consideração o grau de dependência
à nicotina (REICHERT et al, 2008).

História familiar de HSA. Considerou-se quando 2 ou mais parentes de
primeiro grau apresentam aneurisma

Terapia anticoagulante: uso atual e recente de anticoagulante
d) Parâmetros à admissão

Pressão arterial sistêmica: sistólica (PAS) e diastólica (PAD), em mmHg.

Temperatura (Tax), em graus Celsius (ºC).

Frequência cardíaca, em batimentos por minutos (bpm).
e) Análise laboratorial

Hemograma Completo, hemoglobina em grama por decilitros (g/dL) e
leucócitos, milímetros cúbico (mm3).

Coagulograma, plaquetas milímetros cúbico (mm3) e TAP/INR em número
bruto da proporção.

Função Renal: Ureia e Creatinina, em miligrama por decilitro (mg/dL).

Sódio, em miliequivalente por litro (mEq/L).

Liquido Cerebrorraquidiano. Procedida à punção lombar nos casos em
que história clínica era sugestiva sem evidencia de sangramentos a neuroimagem.
f) Achados de neuroimagem
Consideram os HSA a presença de quadro clínico compatível não relacionada
a trauma cuja neuroimagem houve evidencia de área hiperdensa cisternal ou
subaracnóidea ou presença de contagem de hemácias superior a 2000/mm3 ou com
sobrenadante xantocrômico (BANFORD et al, 1991).
50

Escala de Fisher à avaliação da neuroimagem inicial: classificação de I a
IV (Quadro 5)
o
Aneurisma: único ou múltiplo

Diâmetro do Aneurisma Roto: < 10mm; ≥ 10 e ≤25 mm ou > 25 mm

Localização do Aneurisma
o Circulação anterior

Artéria Carótida Interna (ACI)

Artéria Oftálmica (AO)

Artéria Cerebral Anterior (ACA)

Artéria Cerebral Média (ACM)

Artéria Comunicante Anterior (ACoA)

Artéria Pericalosa (APericalosa)
o Sistema Vertebro Basilar

Artéria Basilar (AB)

Artéria Cerebral Posterior (ACP)

Artéria Comunicante Posterior (ACoP)
g) Intercorrências

Neurológicas:
o
Vasoespasmo. Considerou-se como surgimento de novo déficit ou
piora de déficit prévio com evidência de isquemia à TC (VERGOUWEN et al., 2010)
ou ausência de achados em neuroimagem de ressangramento.
o
Ressangramento.
Considerou-se
quando
evidenciado
em
neuroimagem achados compatíveis com aumento de volume sangramento em
relação ao exame prévio.
o
Hidrocefalia. Considerou-se índice de Evans (relação entre o diâmetro
dos cornos frontais e maior diâmetro biparietal) maior que 0,3 (ESPER; PADILLA,
2009).
o
Estado de Mal Epiléptico (EME): definido como crise com duração
maior que cinco minutos ou crises recorrentes com recuperação pobre da
consciência entre os ataques apesar da duração (Blume et al., 2001).
o
Herniação. Considerou-se com achados clínicos compatíveis de
compressão de tronco encefálico com sinais clínicos.
51
o
Morte Encefálica: definida por protocolo de morte encefálica fechado
com dois exames clínicos e um exame complementar compatível

Clínicas:
o
Infecciosa: pneumonia, infecção do trato urinário (ITU), outras
infecções.
o
Arritmia. Considerou-se registro de qualquer tipo de alteração no ritmo
de sinusal até arritmias malignas.
o
Hiperglicemia: definida por glicemia maior que 200mg/dL (STEINER et
al., 2013; MICHAEL et al., 2011) em mais de 24 horas.
o
Hiponatremia/Hipernatremia.
Considerou-se
hipernatremia
como
valores de sódio sérico acima de 150mEq/Litro com necessidade de correção por
solução hipotônica. Hiponatremia foi considerada como valores de sódio sérico
abaixo de 130mEq/Litro com necessidade de uso de soluções isso ou hipertônica ou
uso de DDAVP
o
Tromboembolismo. Considerou-se trombose venosa periférica e
tromboembolismo pulmonar com história clínica compatível e alterações em exames
radiológicos (ultrassonografia com Doppler em membros ou angiotomografia de
tórax)
h) Tratamento

Prevenção de vasoespasmo: uso de nimodipino 60mg 4/4h por até 20dias
após o ictus.

Hidratação. Considerou-se hidratação adequada quando infusão de
solução cristaloide, preferencialmente soro fisiológico 0,9%, a velocidade de 100150ml por hora.

Controle Pressórico. Considerou-se manutenção de pressão sistólica
menor que 160mmHg e pressão diastólica menor que 90mmHg em pelo menos 75%
das medições do dia, estando ou não em uso de anti-hipertensivo oral ou venoso.

Controle de níveis glicêmicos: Considerou-se controle adequado níveis
glicêmicos entre 80 e 200mg/dL (STEINER et al., 2013; MICHAEL et al., 2011).

Controle de crises epilépticas.

Controle da Hiponatremia. Considerou-se sódio maior que 130mEq/L e
menor que 160mEq/L.
52

Prevenção de úlcera de estresse. Considerou-se uso de bloqueador de
bomba de próton (Omeprazol pelo menos 40mg/dia oral ou EV) ou antagonista do
receptor de hidrogênio (Ranitidina dosagem de 300mg ao dia, via oral, divididas em
duas tomadas ou 150mg ao dia, via endovenosa, divididas em três tomadas).

Analgesia. Considerou-se controle adequado da dor, quando sem dor, dor
não referida ou referida como leve graduada com até 3 na escala analógica visual de
dor (EVA) (vide figura 3).
Figura 3. Escala visual analógica de dor (EVA) 
Fonte: Fisioterapia Sin Red (2016).

Repouso absoluto no leito.
i) Desfecho
O desfecho final foi avaliado em 30dias após a internação, através de uma
entrevista telefônica estrutura 1mês após o ictus. Foi utilizada a seguinte escala para
avaliação destes pacientes:

Escala de Rankin modificada (ANEXO A) e questionário para escala de
Rankin modificada validada para aplicação por telefone (ANEXO B).
4.8 ANÁLISE ESTATÍSTICA
Os dados qualitativos e quantitativos extraídos do formulário foram
compilados no Excel e analisados pelo software estatístico Statistical Package for
Social Sciences (SPSS) versão 23.0 para Windows (IBM Corp., E.U.A.).

Escala de avaliação analógica conjunta com escala facial
53
A análise univariada foi realizada para as variáveis contínuas, sendo estas
expressas em média e desvio padrão (DP) e submetidas às provas de normalidade
de Kolmogorov-Smirnov e Shapiro-Wilk (a depender do tamanho do grupo
analisado). Quando estas variáveis contínuas obedeceram à uma distribuição
normal, foram analisadas através do teste de T Student e quando não obedeciam a
essa distribuição, analisadas através do teste de Mann Whitney. Considou-se uma
correlação com significância estatística, quando o p<0,05.
Procedeu-se análises bivariadas, para as variáveis categóricas, expressas em
frequência e percentuais, através dos testes de associação de Qui-Quadrado de
Pearson ou teste exato de Fisher. Inicialmente, os resultados foram expressos em
Razão de Chance (odds ratio – sigla: OR), com intervalo de confiança (IC) em 95%
sem ajuste.
Também, foi realizada uma correlação entre as escalas de avaliação clinica
inicial e o desfecho à Escala de Rankin modificada (ERm) através da correlação de
Spearman para se estabelecer a significância destas na predição do desfecho em 30
dias do ictus. Ainda, foi estabelecida uma correlação entre a classificação na escala
de Fisher e as intercorrências neurológicas por correlação de Spearman. Estes
resultados foram expressos em coeficiente de Spearman (rs) e também considerouse correlação com significância estatística, quando o p<0,05.
Uma análise multivariada foi realizada usando o modelo de regressão
logística binária, pelo método de forward stepwise, sendo correlacionados às
variáveis sociodemográficas, fatores de riscos, alterações em neuroimagem e
intercorrências que na análise univariada quanto aos desfechos de funcionalidade e
de sobrevivência se mostraram estatisticamente mais significativa (p<0,25). Assim,
pode-se avaliar a contribuição independente dessas variáveis e se chegar a um
modelo preditor em 30 dias desses desfechos, sendo ajustado o OR e o IC em 95%
para estas variáveis. Posteriormente, efetuou-se ainda uma análise de regressão
logística multinominal, pelo método de main effects, para averiguação do desfecho
de sobrevivência. Ainda, uma curva de sobrevivência foi obtida através do método
do produto limite de Kaplan-Meier em 30 dias em relação ao ictus.
54
4.9 ANÁLISE BIOÉTICA
Estudo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HGF (CAAE:
51778615.0.0000.5040 e número de parecer: 1.376.423) (ANEXO C). Os pacientes
os responsáveis que aceitaram participar da pesquisa concordaram e assinaram o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE B). Para utilização
dos prontuários de interesse para pesquisa, foi utilizado o Termo de fiel depositário
do pesquisador (ANEXO D).
55
5 RESULTADOS
Foram entrevistados 121 pacientes, dos quais 86,8% (n=105) entraram para o
estudo de acordo com os critérios de inclusão e exclusão (vide figura 4).
121 PACIENTES
ENTREVISTADOS
2: < 18anos de idade
1: pacientes com HIP sem evidencia de
aneurisma ou MAV
1: paciente com aneurisma sem HSA
1: paciente com HSD
1: paciente com aneurisma extracraniano
1: responsável não concordou com o estudo
114 PACIENTES
5: perdas de seguimento
109 PACIENTES
4: informações incompletas
105 PACIENTES
ANALISADOS
Figura 4. Fluxograma de constituição amostral
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
5.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
56
Foram avaliados durante este período 105 pacientes, dos quais 74,3% (n=78)
eram mulheres e 25,7% (n=27), homens. A idade média destes foi 57,25 anos,
desvio-padrão (DP) de 13,58 e com idades variando de 20 a 84 anos. A média de
idade das mulheres foi de 58,01 anos com desvio-padrão (DP) de 11,78 e dos
homens de 55 anos com DP de 17,9. (vide gráfico 2 e tabela 3).
Gráfico 2. Distribuição de pacientes por faixa etária e sexo
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
5.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Quanto às manifestações clínicas iniciais, a cefaleia foi o sintoma mais
prevalente, sendo referida por 84 pacientes (80%), sendo que destes 51 (48,6%)
apresentaram sintomas típicos, caracterizado por dor súbita, intensa que atinge o
ápice em minutos após inicio, enquanto que 27 pacientes (25,7%) e 7 (6,7%)
apresentaram, respectivamente, cefaleia com sintomas atípicos e cefaleia sentinela
(vide tabela 3).
Vômitos no ictus foram referidos por 39 pacientes (41%) e dor cervical por 13
(12,4%). Convulsões (não especificadas como focais ou generalizadas) ocorreram
57
em 32 pacientes (30,5%). Três pacientes informaram síncope no ictus (estes
pacientes relataram a ocorrência concomitante de cefaleia típica). Sinais meníngeos
foram evidenciados à admissão em 13 pacientes (12,4%).
Tabela 3. Dados demográficos e manifestações clínicas à admissão
Variáveis
Nº de Pacientes
%
Feminino
78
74,3
Masculino
27
25,7
84
80
Típica
51
48,6
Atípica
26
24,8
Sentinela
7
6,7
Vômitos no ictus
41
39
Dor cervical
13
12,4
Convulsões
32
30,5
Síncope no ictus
3
2,9
Sinais meníngeos
13
12,4
Sinais focais
36
34,3
Motor
27
25,7
Sensitivo
1
0,95
Alteração de Linguagem
13
12,4
Nervos cranianos
8
7,6
Ataxia
1
0,95
Alteração de consciência
54
51,4
Hipertensão intracraniana
25
23,8
Alteração ao exame de fundo de olho
26
24,8
Idade média= 57,25 (variando de 20-84)
Sexo
Cefaleia
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
58
Trinte e seis pacientes (34,6%) apresentaram déficit neurológico focal à
admissão no HGF, tendo 27 (25,7%) apresentado déficit motor; 1 (0,96%), déficit
sensitivo caracterizado como hipoestesia dimidiada; 13 (12,4%), alteração de
linguagem; 8 (7,6%), acometimento de nervo craniano e 1 (0,95%), incoordenação.
Entre os pacientes que apresentaram déficit motor: em 23(21,90%) foi evidenciada
hemiparesia; em 2 (1,90%), tetraparesia; em 1 (0,95%), paraparesia; em 2 (1,90%),
monoparesia. Entre os pacientes com alteração de linguagem: 9 (8,58%)
apresentaram afasia e 4 (3,80%) mutismo. Entre os pacientes com acometimento de
nervos cranianos: 2 (1,90%) apresentaram paralisia facial central; 1 (0,95%),
paralisia facial periférica; 2 (1,90%), ptose palpebral unilateral; 1 (0,95%), diplopia; 2
(1,90%), paralisia completa do nervo oculomotor unilateral.
Cinquenta e quatro pacientes (51,4%) apresentaram alteração de nível de
consciência
à
admissão.
Apresentaram
sinais
evidentes
de
hipertensão
intracraniana 25 pacientes (23,8%) e alteração ao exame de fundo de olho 26
(24,8%), sendo evidenciado hemorragia retiniana em 9 (8,6%) e papiledema em 17
(16,2%).
Destes pacientes, 68 (64,8%) foram triados no primeiro atendimento para eixo
azul e 37 (35,2%) para admissão no eixo vermelho. O tempo médio do início dos
sintomas até o diagnóstico foi de 5,07 dias (DP=11,621), variando de 0 a 90dias.
Dos pacientes admitidos inicialmente pelo eixo vermelho 16 (43,2%) foram
posteriormente transferidos para UTI, em média com 6,47 dias após (DP=5,03),
variando de 0 a 16 dias (n=15). Em um dos casos, o diagnóstico assertivo foi emitido
na avaliação da segunda prova do protocolo de morte encefálica.
O desempenho clínico admissional dos 105 pacientes foram mensurados
pelas escalas de Hunt & Hess e da WNFS. O desempenho na escala de Hunt &
Hess médio foi de 2,72 com DP de 1,32 e variação de 1 a 5, sendo aferido 1 para 20
pacientes (19%); 2 para 33 (31,4%); 3 para 24 (22,9%); 4 para 12 (11,4%) e 5 para
16 (15,2%). Quanto à mensuração na escala da WNFS, média de 2,70 com DP de
1,59 e variação de 1 a 5, sendo aferido 1 para 40 pacientes (38,1%); 2 para 12
(11,4%); 3 para 11 (10,5%); 4 para 23 (21,9%) e 5 para 19 (18,1%) (vide tabela 4 e
gráfico 3).
59
Embora a ECG não tenha sido proposta com finalidade de avaliação de
pacientes com hemorragia subaracnóidea, sua pontuação também foi incluída neste
estudo por ser a escala mais utilizada nas emergências neurológicas, sendo de
pronto acesso a todos os profissionais de saúde. A pontuação na ECG destes
pacientes variou de 3 a 15, com média de 11,45 e DP de 4,17.
Tabela 4. Dados das escalas de avaliação clínica à admissão
Variáveis
Nº de Pacientes
%
1
20
19,0
2
33
31,4
3
24
22,9
4
12
11,4
5
16
15,2
1
40
38,1
2
12
11,4
3
11
10,5
4
23
21,9
Hunt & Hess, médio ± DP=2,72 ± 1,32
WFNS, médio ± DP=2,70 ± 1,59
5
19
18,1
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Gráfico 3. Relação entre as pontuações nas escalas de avaliação clínica
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
60
Os parâmetros físicos mensurados à admissão e os exames iniciais
realizados através de exame bioquímico laboratorial com amostra sangue foram
incluídos neste trabalho, sendo seus valores expressos em médias e desvio-padrão
(vide tabela 5).
Tabela 5. Parâmetros fisiológicos admissionais
Variáveis
Média ± DP
Parâmetros
PAS, mmHg
153,23 ± 31,23
PAD, mmHg
90,27 ± 22,81
FC, bpm
77,84 ± 18,03
Tax, ºC
36,13 ± 0,83
Glicemia capilar, mg/dL
145,68 ± 53,75
Exames Laboratoriais
Hemoglobina, g/dL
13,63 ± 2,04
Hematócrito, %
40,87 ± 7,45
Leucócitos, mm 3
15.024,10 ± 6.614,89
Plaquetas, mm3
224.196,14 ± 82.438,41
TAP/INR
1,16 ± 0,40
TTPa, segundos
36,55 ± 9,32
Uréia, mg/dL
46,05 ± 37,45
Creatinina, mg/dL
Sódio, mEq/mL
1,19 ± 1,75
140,19 ± 6,78
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: PAS: pressão arterial sistólica; PAD: pressão arterial diastólica; FC: frequência
cardíaca; Tax: temperatura axilar aferida; TAP: tempo de protrombina; TTPA: tempo de
tromboplastina parcial ativado.
61
5.3 FATORES DE RISCO
Quanto aos aspectos clínicos prévios: 61 (58,7%) pacientes eram portadores
de hipertensão arterial sistêmica; 12 (11,5%) eram diabéticos; 2 (1,9%)
dislipidêmicos; 6 (5,8%) cardiopatas; 2 (1,9%) apresentavam insuficiência renal
crônica, sendo ambos dialíticos; 2 (1,9%) referiram doença pulmonar obstrutiva
crônica (DPOC). Ainda, três (2,9%) pacientes referiram cefaleia prévia preenchendo
critérios para enxaqueca, sendo um (0,95%) compatível com enxaqueca precedida
por aura visual (vide tabela 6).
Quantos aos hábitos: 24 (23,1%) pacientes eram tabagistas; 19 (18,3%)
etilistas e 2 (1,9%) referiram uso frequente e recente de substâncias ilícitas
(canabinóides e cocaina).
Informaram história de HSA prévio 5 pacientes (4,8%) e AVC isquêmico 3
(2,9%), sendo deste último grupo apenas 1 (0,96%) apresentava limitação funcional
significativa prévia, pontuando, previamente ao evento atual, 4 à Escala de Rankin
modificada (vide ANEXO A).
Dos pacientes analisados, 3 (2,9%) estavam em uso de anticoagulante oral à
ocorrência da HSA. Outras comorbidades foram relatadas por pacientes e/ou
familiares: epilepsia, hipotireoidismo, artrite gotosa, hiperplasia prostática benigna,
obesidade mórbida, psoríase e vitiligo (cada uma destas com um paciente
acometido). Não foram evidenciadas em nenhum dos pacientes analisados: doenças
do colágeno, vasculite ou doença renal policística.
62
Tabela 6. Dados sobre fatores de risco
Variáveis
Nº de Pacientes
%
Hipertensão Arterial Sistêmica
61
58,7
Diabetes Mellitus
12
11,5
Dislipidemia
2
1,9
Cardiopatia
6
5,8
Insuficiência Renal Crônica
2
1,9
Enxaqueca*
3
2,9
Tabagismo
24
23,1
Etilismo
19
18,3
Drogas ilícitas
2
1,9
Comorbidades
Hábitos
História pregressa
HSA
AVC isquêmico**
5
4,8
3
2,9
História Familiar de HSA
1
0,95
Uso de Anticoagulante oral
3
2,9
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: HSA: hemorragia subaracnóidea; AVC: Acidente Vascular Encefálico.
Notas: * Dos 3 pacientes com enxaqueca, 1 preenchia critérios para enxaqueca com aura.
** Dos pacientes acometidos previamente por AVC isquêmico, apenas 1 relatara limitação
funcional significativa prévia (escala de Rankin modificada previamente 4).
Observações: Outras comorbidades foram referidas: epilepsia, artrite gotosa, hiperplasia prostática
benigna, obesidade mórbida, psoríase e vitiligo (cada uma com um paciente acometido) e DPOC
(com 2 pacientes acometidos). Não foram evidenciadas doenças do colágeno, doença renal
policística ou vasculite em nenhum dos pacientes analisados.
5.4 NEUROIMAGEM
63
Dos 105 pacientes analisados, 2 (1,9%) não apresentaram alterações
significativas em neuroimagem à admissão; 48 (45,7) apresentaram HSA com
hemoventrículo; 16 (15,2%), HSA com hematoma intraparenquimatoso; 4 (3,8%),
somente HSA com <3mm; 28 (%), somente HSA com ≥ 3mm; 2 (1,9%) somente
hemoventrículo; 1 (0,95%) somente hematoma intraparenquimatoso; 4 (3,8%),
edema cerebral difuso. Quanto à classificação na escala Fisher: neuroimagem inicial
de 2 pacientes (1,9%) foram classificados como I; 4 (3,8%) como II; 28 (26,7%)
como III e 71 (67,6%) como IV. (vide tabela 7).
Tabela 7. Dados de achados de neuroimagem à admissão
Variáveis
Nº de
%
Pacientes
Achados à admissão (n=105)
Sem alterações significativas
2
1,9
HSA com hemoventrículo
48
45,7
HSA com hematoma intraparenquimatoso
16
15,2
Somente HSA com <3mm
4
3,8
Somente HSA com ≥ 3mm
28
26,7
Somente hemoventrículo
2
1,9
Somente hematoma intraparenquimatoso
1
0,9
Edema cerebral difuso
4
3,8
I
2
1,9
II
4
3,8
III
28
26,7
IV
71
67,6
Escala de Fischer (n=105)
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
64
Quanto à provável etiologia da HSA: em 47 pacientes (44,5%) foi evidenciada
HSA aneurismática, sendo que 36 (34,3%) apresentavam um único aneurisma e 11
(10,5%) pelo menos 2 aneurismas; em 4 (3,8%) foi evidenciada MAV; em 1 (0,96%)
apresentou MAV com múltiplos aneurismas; em 4 (3,8%), HSA perimesencefálica;
em 3 (2,9%), uso de anticoagulante; em 1 (0,95%), neoplasia e em 45 pacientes
(42,9%) não se estabeleceu etiologia durante os primeiros 30 dias do ictus (vide
tabela 8).
Tabela 8. Dados sobre provável etiologia
Variáveis
Nº de Pacientes
%
Aneurisma único
36
34,3
2 ou + Aneurismas
11
10,5
MAV
4
3,8
MAV + Aneurismas Múltiplos
1
0,95
Perimesencefálica
4
3,8
Uso de Anticoagulante
3
2,9
Neoplasia
1
0,95
Ignorado ou desconhecido
45
42,9
Etiologia (n=105)
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada, 2016.
Abreviações: MAV: malformação arteriovenosa.
Entre os 48 pacientes (45,7% da coorte e 80% dos pacientes com etiologia
definida) com aneurisma, destes em 28 (58,33%) foi possível estimar diâmetro do
aneurisma nos primeiros 30 dias do ictus, sendo evidenciado em 13 (46,4%) dos
pacientes aneurismas com diâmetro menor que 10 milímetros (mm); em 12 (42,9%),
aneurismas entre 10 a 25 mm de diâmetro e em 3 (10,7%) aneurismas com diâmetro
maior que 25 mm. Dos demais 20 pacientes não foi possível estimar o diâmetro do
aneurisma (vide tabela 9).
65
Quanto à localização dos aneurismas únicos: 10 (27,7%) localizavam-se na
ACI; 7 (19,4%), na ACM e na ACOP; 5 (13,9%), na ACOA; 2 (5,6%), na ACA, AO e
AB; 1 (2,8%), na APericalosa. (Tabela 9).
Tabela 9. Dados sobre o tamanho e localização do aneurisma
Variáveis
Nº de Pacientes
%
<10
13
46,4
≥10 e ≤ 25
12
42,9
>25
3
10,7
Artéria Carótida Interna
10
27,7
Artéria Cerebral Média
7
19,4
Artéria Cerebral Anterior
2
5,6
Artéria Oftálmica
2
5,6
Artéria Comunicante Anterior
5
13,9
Artéria Pericalosa
1
2,8
Artéria Basilar
2
5,6
Artéria Comunicante Posterior
7
19,4
Tamanho do aneurisma, mm (n=28)
Localização do aneurisma (n=36)
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: mm: milímetros.
Nota: Dos demais 20 pacientes com etiologia definida como aneurismática, não foi possível estimar o
diâmetro do aneurisma.
66
5.5 INTERCORRÊNCIAS
Dos
105
pacientes
analisados:
64
pacientes
(61%)
apresentaram
intercorrências neurológicas e 28 (26,7%) pacientes intercorrências clínicas.
Entre os pacientes que apresentaram intercorrências neurológicas: em 8
(7,7%) foi evidenciado ressangramento; em 21 (20,2%), vasoespasmo; em 14
(13,5%) hidrocefalia; em 1 (0,95%), estado de mal epiléptico; em 3 (2,9%),
herniação; morte encefálica em 17 (16,3%).
Entre os pacientes que apresentaram intercorrências clínicas: pneumonia foi a
intercorrência clínica mais frequente nos primeiros 30 dias de internação,
diagnosticada em 9 (8,7%) dos pacientes; seguida por sepse, apresentada por 3
(2,9%) e infecção do trato urinário, arritmia, diabetes insipidus e insuficiência renal
aguda (IRA) apresentada cada uma por 2 pacientes (1,9%); 1 paciente (0,95%)
apresentou hiperglicemia persistente. Observação: algum dos pacientes analisados
apresentaram mais de uma intercorrência.
Outras intercorrências clínicas também foram evidenciadas, como: artrite
séptica, síndrome disabsortiva, edema agudo pulmonar, elevação de transaminases,
rabdomiólise, hemorragia digestiva alta, infarto agudo do miocárdio e piodermite
(cada uma dessas intercorrências com 1 paciente acometido). Entre os pacientes
com sepse, um evoluiu para choque séptico. (vide tabela 10).
67
Tabela 10. Dados sobre intercorrências em 30 dias do ictus
Variáveis
Nº de Pacientes
%
Ressangramento
8
7,7
Vasoespasmo
21
20,2
Hidrocefalia
14
13,5
Estado de mal epiléptico
1
0,95
Herniação
3
2,9
Morte encefálica
18
17,1
Pneumonia
9
8,7
Infecção do trato urinário
2
1,9
Arritmia
2
1,9
Hiperglicemia
1
0,95
Diabetes Insipidus
1
0,95
Insuficiência renal aguda
2
1,9
Sepse**
3
2,9
Outras***
8
6,67
Neurológicas*
Clínicas*
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Nota: * Algum dos pacientes analisados apresentaram mais de uma intercorrência.
** Entre os pacientes com sepse, um evoluiu para choque séptico.
*** Outras intercorrências clínicas também foram evidenciadas, como: artrite séptica, síndrome
disabsortiva, edema agudo pulmonar, elevação de transaminases, rabdomiólise, hemorragia digestiva
alta, infarto agudo do miocárdio e piodermite (cada uma dessas intercorrências com um paciente
acometido).
5.6 TRATAMENTO
Quanto
ao
tratamento
clínico,
103
pacientes
(98,1%)
utilizaram
adequadamente profilaxia para vasoespasmo com nimodipino oral (1 teria iniciado a
mediação somente após vasoespasmo sintomático); 105 (100%) teriam realizado
adequadamente hidratação, controle pressórico, controle glicêmico, térmico e de
convulsões;
um
(0,95%)
evoluiu
com
distúrbio
hidroeletrolítico
persistente
68
(hipernatremia); 102 (%) teriam feito repouso adequado; 98 (93,3%) analgesia
adequada, enquanto 7 (6,7%) foram relatados controle de dor inadequado a
despeito das medicações administradas; 104 (99%) não realizaram profilaxia
adequada para eventos tromboembólicos durante o período de 30dias. Ao final de
30 dias, 32 pacientes foram submetidos a algum tratamento neurocirúrgico para
causa especifica, em 30dias (vide tabela 11).
Tabela 11. Dados de tratamento específico
Variáveis
Nº de Pacientes
%
Microcirurgia
15
14,3
Embolização
12
11,4
Microcirurgia + Embolização
2
1,9
Derivação Ventricular
3
2,9
Não abordado
39
37,1
Ignorado ou indeterminado
34
32,4
Terapêutica (n=105)
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
5.7 DESFECHO CLÍNICO
Ao final de 30 dias, os pacientes obedeceram a seguinte distribuição quanto à
pontuação na Escala de Rankin modificada (vide tabela 12 e gráfico 4).
Tabela 12. Dados da Escala Rankin modificada em 30 dias do ictus
N (%)
0
1
2
3
4
5
6
3 (2,9)
22 (21,0)
3 (2,9)
14 (13,3)
7 (6,7)
10 (9,5)
46 (43,8)
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
69
Gráfico 4. Distribuição de pacientes quanto à faixa etária e à pontuação à
escala de Rankin modificada em 30 dias
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Ao final de 30 dias do ictus: 36 (34,29%) pacientes continuavam internados, 4
(3,81%) foram transferidos para outros hospitais, 19 (18,10%) receberam alta e 46
pacientes (43,8%) foram a óbito. Uma entrevista estruturada por telefone, utilizandose da Escala de Rankin modificada validada no Brasil (Anexo B), foi aplicado para os
pacientes que haviam sido transferidos ou recebido alta. Entre os pacientes
sobreviventes em 30 dias da ictus, somente 28 pacientes (26,7%) estavam
independentes ou minimamente incapacitados (pontuação a escala de Rankin
modificada 0 a 2), sendo 23 (21,9%) mulheres e 5 (4,7%) homens.
Entre os pacientes que não sobreviveram, dois pacientes (1,9%) foram a óbito
em 24 horas do ictus (já durante a internação hospitalar); 17 pacientes (16,3% da
70
coorte) foram confirmados com morte encefálica, sendo 10 (9,6%) tido como
doadores e 7 (6,7%) não doadores. 14 pacientes (13,5%) permaneceram sob
suspeição sem abertura ou fechamento de protocolo, sendo o principal argumento
para não abertura ou fechamento de protocolo instabilidade clínica. (vide tabela 13).
Tabela 13. Desfecho para morte encefálica
Nº de Pacientes
%
Doador
11
10,5
Não doador
7
6,7
14
13,3
Confirmado
Suspeito
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Consideramos a análise posteriori destes pacientes sobre dois aspectos:
funcionalidade e sobrevivência.
Após este resultado, os pacientes foram agrupados em dois grupos distintos
quanto à funcionalidade: ERm 0-2 (os que tiveram bom desempenho funcional,
pontuando, em 30dias, de 0 a 2 à Escala de Rankin modificada) e ERm 3-6 (os que
não desempenho funcional insuficiente, pontuando, em 30 dias, de 3 a 6 nesta
escala). Esses pacientes foram, então, comparados quanto as variáveis iniciais.
Para se proceder às análises estatísticas, os pacientes foram estratificados
em grupos para serem analisados quanto à funcionalidade e à sobrevivência em 30
dias. Para estas análises, as pontuações à admissão nas escalas de avaliação
clínica (HH e WFNS) e a classificação imaginológica na escala de Fisher foram
reagrupadas em categorias dicotômicas para se prosseguir as correlações
bivariadas:


Escala de Hunt & Hess (HH):
o
HH 1-2 (pacientes com pontuação à admissão de 1 e 2)
o
HH 3-5 (pacientes com pontuação à admissão de 3 a 5)
Escala de WFNS:
o
WFNS 1-2 (pacientes com pontuação à admissão de 1 a 2)
71
o

WFNS 3-5 (pacientes com pontuação à admissão de 3 a 5)
Escala de Fisher:
o
EF I-II (neuroimagens à admissão classificadas à como I e II)
o
EF III-IV (neuroimagens à admissão classificadas à como I e II)
5.7.1 Análise Estatística de Comparação entre os Grupos ERm 0-2 vs. ERm 36 em 30 dias do Ictus
As variáveis categóricas foram expressas em frequência e percentuais, OR e
IC em 95% não ajustados, e analisadas através do Teste de associação do Quiquadrado e teste de exato de Fisher. As variáveis contínuas foram expressas em
média e desvio-padrão e analisadas através do teste T de Student e do teste MannWhitney. Para todos os teste estatísticos admitiu-se nível de significância 0,05 para
rejeição da hipótese nula (p<0,05).
5.7.1.1
Análise dos grupos ERm 0-2 vs. ERm 3-6
Comparou-se os grupos de paciente com boa recuperação funcional (ERm 02) e os pacientes dependentes e óbitos (ERm 3-6), quanto aos dados demográficos,
manifestações clinicas, fatores de risco, alterações em neuroimagem, intercorrências
e submissão a tratamento (vide tabela 14).
Para um desfecho funcional favorável (ERm 0-2), obteve-se significância
estatística (p<0,05) em algumas variáveis: idade mais jovem (p=0,002); maior tempo
de permanência na emergência (p=0,022); presença de cefaleia típica (p=0001); dor
cervical (p=0,018); menor pontuação as escalas de HH, WFNS e ECG (p<0,001);
menores níveis de glicemia (p=0,025), de leucócitos (p=0,011) e de uréia (p=0,011);
menor pontuação à escala de Fisher à admissão (p=0,023) e submissão a algum
tratamento cirúrgico (p<0,001). Calculado o OR, observamos que cefaleia típica e
dor cervical têm 4,7 e 3,94 vezes mais chance de pertencer ao grupo com melhor
funcionalidade em 30 dias. Entre as escalas de avaliação clínica, observamos que
pacientes com pontuação ao HH 1-2 à admissão apresentaram 52,96 vezes mais
72
chance de estarem no grupo com melhor funcionalidade. Analisando todos os
pacientes que se submeteram a tratamento cirúrgico (qualquer um, sem
especificação), o fato de submeter à abordagem cirúrgica foi amplamente
significativo a favor de uma melhor funcionalidade em 30 dias do ictus (p<0,001),
com chances 6,39 vezes mais de apresentar melhor funcionalidade em 30 dias.
Para um desfecho funcional desfavorável (ERm 3-6), obteve-se significância
estatística à admissão hospitalar para atendimento inicial no eixo vermelho
(p<0,001); o menor tempo entre o ictus e o diagnóstico (p=0,004); a alteração de
consciência (p=0,002); sinais de HIC (p=0,08). Verificado o OR, evidencia-se que os
pacientes triados inicialmente para atendimento no eixo vermelho e presença de
sinais de HIC apresentam, respectivamente, 4% e 8% de chance de encontrar-se no
grupo ERm 0-2 em 30 dias do ictus.
Tabela 14. Relação entre as variáveis e funcionalidade em 30 dias do ictus:
comparação de desfechos clínicos baseados em ERm 0-2 vs. ERm 3-6
Variáveis
OR (IC 95%)
P value
55 (70,5) / 22 (81,5)
1,84 (0,62–5,45)
0,321b
50,71 ± 11,99
59,62 ± 13,41
-
0,002c**
1 (3,6)
36 (46,8)
0,04 (0,01-0,33)
<0,001ª**
TID, dias Média ± DP
9,25 ± 17,62
3,51 ± 7,98
-
0,004 c**
TPE, dias Média ± DP
10,68 ± 6,82
8,04 ± 7,64
-
0,022d*
Cefaléia
26 (68,4)
58 (75,3)
4,26 (0,92-19,64)
0,055 b
Cefaleia típica
21 (55,3)
30 (39,0)
4,70 (1,78-12,40)
0,001 b**
Cefaleia atípica
4 (14,2)
22 (28,6)
0,42 (0,13-1,34)
0,201 b
Cefaleia sentinela
1 (0,04)
6 (7,8)
0,44 (0,05-3,81)
0,672 b
7 (25)
6 (7,8)
3,94 (1,20-13,02)
0,018a*
13 (46,4)
28 (36,4)
1,52 (0,63-3,64)
0,373 b
Convulsões
7 (25)
25 (32,5)
0,69 (0,26-1,85)
0,632 b
Síncope
1 (3,6)
2 (2,6)
1,39 (0,12-15,94)
1,000 b
Sinais Meníngeos
2 (7,1)
11 (14,3)
0,46 (0,10-2,22)
0,506 b
Sexo (F/M)
Idade, anos Média ± DP
Eixo Vermelho
Dor cervical
Vômitos
HIC
Continua.
ERm 0-2
ERm 3-6
N (%)
N (%)
23 (29,5) / 5 (18,5)
1 (3,6)
25 (32,5)
0,08 (0,01-0,6)
<0,001ª**
73
Tabela 14. Relação entre as variáveis e funcionalidade em 30 dias: comparação
de desfechos clínicos baseados em ERm 0-2 vs. ERm 3-6 (continuação)
Variáveis
ERm 0-2
ERm 3-6
N (%)
N (%)
1,61 ± 0,57
3,13 ± 1,28
-
-
HH 1-2
27 (96,4)
26 (33,8)
52,96 (6,8-411,8)
<0,001ª**
HH 3-5
1 (3,6)
51 (66,2)
1,36 ± 0,83
3,19 ± 1,51
-
<0,001d**
WFNS 1-2
26 (92,9)
26 (33,8)
25,5 (5,61-115,9)
<0,001a**
WFNS 3-5
2 (7,1)
51 (66,2 )
14,32 ± 1,62
10,40 ± 4,32
-
<0,001d**
HAS
16 (57,1)
46 (59,7)
0,90 (0,37-2,16)
0,826b
DM
3 (10,7)
9 (11,7)
0,91 (0,23-3,62)
1,000b
DLP
1 (3,6)
1 (1,3)
2,82 (0,17-46,59)
0,451a
0
6 (7,8)
1,39 (1,23-1,58)
0,128a
Outras
2 (7,1)
10 (13,0)
0,52 (0,11-2,51)
0,508b
Tabagismo
7 (25)
17 (22,1)
1,18 (0,43-3,23)
0,795b
3 (10,7)
16 (20,8)
0,46 (0,12-1,71)
0,390b
0
2 (2,6)
-
0,389a
2 (7,1)
3 (3,9)
1,90 (0,30-12,00)
0,608b
HFamiliar de HSA
0
1 (1,3)
-
0,545a
Uso de Anticoagulante
0
3 (3,9)
-
0,289a
125,77 ± 37,37
155,00 ± 57,93
-
0,025d*
12.211,50 ±
4.212,62
15.999,13 ± 7.027,97
-
0,011c*
31,88 ± 12,82
51,03 ± 41,82
-
0,011d*
I
2 (7,1)
0
-
-
II
3 (10,7)
2 (2,6)
-
-
III
9 (32,1)
19 (24,7)
-
-
IV
15 (53,6)
56 (72,7)
-
-
EF I-II
4 (14,3)
2 (2,6)
6,25 (1,07-36,27)
0,023a*
EF III-IV
24 (85,7)
75 (97,4)
Tratamento específico
17 (60,7)
15 (19,5)
6,39 (2,48-16,43)
<0,001ª**
Tratamento específico
17 (60,7)
15 (19,5)
6,39 (2,48-16,43)
<0,001ª**
Hunt&Hess, Média ±
DP
WFNS, Média ± DP
ECG, Média ± DP
Cardiopatia
Etilismo
Drogas ilícitas
HSA prévio
Glicemia, mg/dL
OR (IC 95%)
P value
Média ± DP
Leucócitos, mm3
Média ± DP
Uréia, mg/dL
Média ± DP
Fisher inicial
Fisher dicotômico
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: TID: tempo entre o ictus e o diagnóstico; TPE: tempo de permanência na emergência; HIC: hipertensão
intracraniana; F.O.: fundo de olho; HH: escala de Hunt & Hess; WFNS: escala da federação mundial dos
Neurocirurgiões; ECG: escala de coma de Glasgow; HAS: hipertensão arterial sistêmica;. DM: diabetes mellitus; DLP:
dislipidemia; HSA: hemorragia subaracnóidea; HF: história familiar; TAP: tempo de protrombina; EME: estado de mal
epiléptico; ITU: infecção do trato urinário; EF: escala de Fisher; OR: Odds ratio; IC: intervalo de confiança.
Nota: a Teste de Qui-quadrado de Pearson; b Teste de exato de Fisher; c Teste T Stundent; d Teste de Mann-Whithney; *
p<0,05; ** p<0,01.
74
5.7.1.2
Preditores de prognóstico quanto à funcionalidade em 30 dias do ictus
Após as primeiras análises de correlação dos grupos ERm 0-2 e ERm 3-6, foi
realizada regressão logística binária com as variáveis que se mostraram
estatisticamente significativas (p<0,25) para avaliar a contribuição independente
para desfecho funcional. Foi utilizado método de forward stepwise, restando ao final
um modelo com três variáveis independentes e significativas: Classificação
dicotômica quanto ao Hunt & Hess admissional (HH 0-2 e HH 3-5); idade e
submissão a tratamento específico.
Como resultado observou-se em uma correta porcentagem de 87,3% de
acerto para o desfecho entre ERm 0-2 neste modelo, com X2=8,674 com p=0,371, e
com Nagelkerke-R=0,603, explicando assim em 60,3% das variações na variável
dependente ERm 0-2 a partir destas três variáveis propostas. Assim, temos os
seguintes ajustes (vide tabela 15).
Tabela 15. Modelo de preditores admissionais de funcionalidade em 30 dias
Variáveis
Exp (B)
IC 95%
P value
Idade
1,09
1,01-1,17
0,037*
Hunt &Hess admissional (dicotômico)
47,48
3,51-642,31
0,004**
Tratamento específico
11,12
2,17-56,85
0,004**
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: Exp (B): log e do Odds ratio; IC: intervalo de confiança.
Nota: * p<0,05; ** p<0,01.
Neste modelo, tem-se que o paciente com idade mais jovem, submetido a
algum tratamento específico neurocirúrgico teria 47,48 vezes mais de chance de
apresentar boa funcionalidade ao final de 30 dias do ictus se apresentar a admissão
pontuação a escala de Hunt & Hess admissional dicotômico 1 ou 2.
75
5.7.2 Análise Estatística de Comparação entre os Grupos Sobreviventes vs.
Não Sobreviventes em 30 dias do Ictus
Dos 105 pacientes analisados, ao final de 30dias, sobreviveram 59 (56,2%).
Então, separou-se os pacientes da coorte inicial em dois grupos: Sobreviventes e
Não sobreviventes e analisou-se com as mesmas premissas estatísticas utilizadas
para os grupos de desfecho de funcionalidade. Uma análise de regressão logística
binária e multinominal foi realizada.
5.7.2.1
Análise dos grupos Sobreviventes vs. Não sobreviventes em 30 dias do
ictus
Para o grupo de sobrevivência, obteve-se significância estatística (p<0,05) à
análise univariada para um desfecho de sobrevivência as seguintes variáveis: idade
mais jovem (p=0,034); maior tempo de permanência na emergência (p=0,004);
presença de cefaleia típica (p=0002); dor cervical (p=0,036); menor pontuação as
escalas de HH, WFNS e ECG (p<0,001); menores níveis de glicemia (p=0,001), de
leucócitos (p<0,001), sódio (p=0,006) e de uréia (p=0,027); vasoespasmo (p=0,013)
e submissão a algum tratamento cirúrgico (p<0,001). Calculado o OR, observamos
que a cefaleia típica (o sintoma mais prevalentes entre os sobreviventes) e a dor
cervical, respectivamente, têm 3,84 e 5,04 vezes mais chance de pertencer ao grupo
de sobreviventes em 30 dias do ictus. Entre as escalas de avaliação clínica,
observamos que pacientes com pontuação ao HH 1-2 à admissão apresentaram
15,27 vezes mais chance de estarem no grupo de sobreviventes ao final de 30 dias
do ictus. Curiosamente, entre os pacientes em que se identificou vasoespasmo a
chance de sobrevivência foi 4,25 vezes maior de pertencerem ao grupo dos
sobreviventes.
Para um desfecho de não sobrevivência, obteve-se significância estatística à
admissão hospitalar para atendimento inicial no eixo vermelho (p<0,001); o menor
tempo entre o ictus e o diagnóstico (p=0,009); a alteração de consciência (p<0,001);
sinais de HIC (p<0,001); presença de cardiopatia (p=0,004); herniação (p=0,047);
76
uso de anticoagulante oral (p=0,047). Verificado o OR, evidencia-se que os
pacientes triados inicialmente para atendimento no eixo vermelho, com alteração de
consciência (manifestação clínica mais prevalente nos pacientes não sobreviventes)
e com presença de sinais de HIC apresentaram, respectivamente, 6%, 15% e 15%
de chance de encontrar-se no grupo de sobreviventes em 30 dias do ictus. Os 3
pacientes em que se identificou herniação não sobreviveram.
A HAS e o tabagismo (embora prevalentes) e os achados na neuroimagem
inicial (dicotomizados como EF I-II e EF III-IV) não se mostraram estatisticamente
significativos (vide tabela 16).
Tabela 16. Relação entre variáveis e sobrevivência em 30dias do ictus:
comparação entre os grupos Sobreviventes vs. Não Sobreviventes
Variáveis
OR (IC 95%)
P value
30 (37) / 16 (59,3)
2,33 (0,95-5,68)
0,074b*
54,66 ± 13,00 (59)
60,57 ± 13,73 (46)
-
0,034d*
6 (10,2)
31 (67,4)
0,06 (0,02-0,16)
<0,001ª**
TID, dias Média ± DP
7,69 ± 14,74
1,69 ± 3,32
-
0,009c**
TPE, dias Média ± DP
10,59 ± 7,83
6,33 ± 6,29
-
0,004c**
Cefaleia
53 (89,8)
31 (67,4)
4,27 (1,50-12,16)
0,006b**
Típica
37 (62,7)
14 (30,4)
3,84 (1,69-8,73)
0,002b**
Atípica
12 (20,3)
14 (30,4)
0,58 (0,24-1,42)
0,261b
4 (6,9)
3 (6,5)
1,04 (0,22-4,91)
1,000b
12 (20,3)
14 (30,4)
0,58 (0,24-1,42)
0,261b
4 (6,9)
3 (6,5)
1,04 (0,22-4,91)
1,000b
Sexo (F/M)
Sobreviventes
Não Sobreviventes
N (%)
N (%)
48 (61,5) / 11
(40,7)
Idade, anos Média ± DP
Eixo Vermelho
Sentinela
Atípica
Sentinela
Continua
77
Tabela 16. Relação entre variáveis e sobrevivência em 30dias: comparação
entre os grupos Sobreviventes vs. Não Sobreviventes (continuação)
Variáveis
OR (IC 95%)
P value
2 (4,3)
5,04 (1,06-24,02)
0,036b*
23 (39)
18 (39,1)
0,99 (0,45-2,19)
1,000b
17 (28,8)
15 (32,6)
0,84 (0,36-1,93)
0,676b
Síncope no ictus
2 (3,4)
1 (2,2)
1,58 (0,14-17,97)
1,000b
Sinais Meníngeos
6 (11,9)
7 (13)
0,90 (0,28-2,88)
1,000b
Déficits focais
16 (27,1)
20 (43,5)
0,48 (0,21-1,10)
0,099b*
Alt. consciência
19 (32,2)
35 (76,1)
0,15 (0,06-0,36)
<0,001b**
HIC
6 (10,2)
20 (43,5)
0,15 (0,06-0,41)
<0,001a**
Alteração ao F.O.
4 (6,8)
9 (19,6)
0,30 (0,09-1,04)
0,072b
1,97 ± 0,91
3,70 ± 1,11
-
<0,001c**
HH 1-2
45 (76,3)
8 (17,4)
15,27 (5,79-40,28)
<0,001ª**
HH 3-5
14 (23,7)
38 (82,6)
1,88 ± 1,23
1,88 ± 1,23
-
<0,001d**
WFNS 1-2
44 (74,6)
8 (17,4)
13,93 (5,33-36,45)
<0,001a**
WFNS 3-5
15 (25,4)
38 (82,6)
13,71 ± 2,23
8,54 ± 4,29
-
<0,001c**
HAS
35 (59,3)
27 (58,7)
1,03 (0,47-2,25)
1,000b
DM
6 (10,2)
6 (13)
0,76 (0,23-2,52)
0,760b
DLP
2 (3,4)
0
-
0,207a
Cardiopatia
0
6 (13)
-
0,004a**
Tabagismo
16 (27,1)
8 (17,4)
1,77 (0,68-4,59)
0,349b
Etilismo
7 (11,9)
12 (26,1)
0,38 (0,14-1,07)
0,076b
Drogas ilícitas
2 (3,4)
0
-
0,207a
HSA prévio
3 (5,1)
2 (4,3)
1,18 (0,19-7,36)
1,000b
HF HSA
1 (1,7)
0
-
0,375a
0
3 (6,5)
-
0,047a*
128,71 ± 37,7
141,93 ± 8,48
-
0,006 d**
Dor cervical
Vômitos
Convulsões
HH, Média ± DP
WFNS, Média ± DP
ECG, Média ± DP (N)
Uso de Anticoagulante
Sódio, mEq/L
Continua
Sobreviventes
Não Sobreviventes
N (%)
N (%)
11 (18,6)
78
Tabela 16. Relação entre variáveis e sobrevivência em 30dias: comparação
entre os grupos Sobreviventes vs. Não Sobreviventes (continuação)
Variáveis
Glicemia, mg/dL
Sobreviventes
Não Sobreviventes
OR (IC 95%)
P value
N (%)
N (%)
129,73 ± 34,93
173,76 ± 68,65
-
0,001c**
12.748,93 ±
17.744,41 ± 8.009,94
-
<0,001c**
-
0,070d
Média ± DP
Leucócitos, mm3 Média ±
DP
3.998,62
TAP/INR, Média ± DP
1,09 ± 0,08
1,26 ± 0,58
Creatinina, mg/dL
0,78 ± 0,34
1,67 ± 2,50
36,45 ± 16,41
57,78 ± 50,68
-
0,027d*
5 (8,5)
3 (6,5)
1,33 (0,30-5,87)
1,000b
Vasoespasmo
17 (28,8)
4 (8,7)
4,25 (1,32-13,70)
0,013b*
Hidrocefalia
10 (16,9)
4 (8,7)
2,14 (0,63-7,34)
0,259a*
0
3 (6,5)
-
0,047a
EME
1 (1,7)
0
-
0,375a
Pneumonia
4 (6,8)
5 (10,9)
0,60 (0,15-2,36)
0,501b
ITU
2 (3,4)
0
-
0,207a
0
2 (4,3)
-
0,106b
I
2 (100)
0
-
-
II
3 (75)
1 (25)
-
-
III
17 (60,7)
11 (39,3)
-
-
IV
36 (47,4)
35 (52,1)
-
-
5 (8,5)
1 (2,2)
4,17 (0,47-36,98)
0,227a
54 (91,5)
45 (97,8)
28 (70,0)
4 (12,9)
15,75 (4,52-54,92)
<0,001a**
Uréia, mg/dL Média ± DP
Ressangramento
Herniação
Arritmia
<0,001d**
Fisher inicial
Fisher dicotômico
EF I-II
EF III-IV
Tratamento específico
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: TID: tempo entre o ictus e o diagnóstico; TPE: tempo de permanência na emergência;
HIC: hipertensão intracraniana; F.O.: fundo de olho; HH: escala de Hunt & Hess; WFNS: escala da
federação mundial dos Neurocirurgiões; ECG: escala de coma de Glasgow; HAS: hipertensão arterial
sistêmica;. DM: diabetes mellitus; DLP: dislipidemia; HSA: hemorragia subaracnóidea; HF: história
familiar; TAP: tempo de protrombina; EME: estado de mal epiléptico; ITU: infecção do trato urinário;
EF: escala de Fisher; OR: Odds ratio; IC: intervalo de confiança.
Nota: a Teste de Qui-quadrado de Pearson; b Teste de exato de Fisher; c Teste T Stundent; d Teste de
Mann-Whithney; * p<0,05; ** p<0,01.
79
5.7.2.2
Preditores prognósticos quanto à sobrevivência em 30 dias do ictus
Após as análises de correlação dos grupos Sobreviventes e Não
Sobreviventes, foi realizada regressão logística binária com as variáveis que se
mostraram com significância estatística p<0,25, utilizando método de forward
stepwise, restando ao final um modelo com duas variáveis independentes e
significativas: admissão no eixo vermelho e tratamento específico.
Como resultado observou-se em uma correta porcentagem de 84,5% de
acerto para o desfecho entre sobrevivência neste modelo, com X2=1,655 e com
Nagelkerke-R=0,663, explicando assim em 66,3% as variações na variável
dependente (sobrevivência) a partir desse modelo proposto de três variáveis. Assim,
temos os seguintes ajustes (vide tabela 17).
Tabela 17. Modelo de preditores admissionais de sobrevivência em 30 dias
Variáveis
Exp (B)
IC 95%
P value
Admissão no eixo vermelho
0,960
0,02-0,66
0,012*
Hunt & Hess admissional (dicotômico)
5,125
1,14-23,05
0,033*
Tratamento específico
17,144
3,19-92,26
0,001**
Fonte: Elaborada pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
Abreviações: Exp (B): log e do Odds ratio; IC: intervalo de confiança.
Nota: * p<0,05; ** p<0,01.
Procedeu-se, então, a regressão logística multivariada, pelo método de main
effects, com as variáveis que na análise uni e bivariada se encontrou p<0,10,
resultando, então, em Nagelkerke-R=0,825, X2=18,889 e p<0,001 para um modelo
em constam: pontuação à admissão na Escala de Hunt & Hess, tamanho do
aneurisma, admissão no eixo vermelho e submissão a algum tratamento específico
em 30 dias da admissão.
80
5.7.2.3
Avaliação de sobrevivência em relação ao tempo do ictus
Foi plotada uma curva de Kaplan-Meier para avaliação de sobrevivência (vide
gráfico 5).
Gráfico 5. Curva de sobrevivência em 30 dias do ictus
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
81
5.7.3 Correlações entre as Escalas de Avaliação Clínica e a Escala de Rankin
Modificada em 30 dias do Ictus
Quando analisadas as correlações de Spearman entre as pontuações iniciais
atribuídas nas escalas de Hunt & Hess, a escala de WFNS e a escala de coma de
Glasgow e o desfecho mensurado na escala de Rankin modificada em 30 dias
obtém-se, respectivamente: rs2=0,706 (p<0,001), rs2=0,648 (p <0,001) e rs2=–0,671
(p <0,001), mostrando-se alta correlação entre a pontuação inicial destas escalas
clínicas e a pontuação da escala de Rankin modificada em 30 dias (vide gráfico 6).
Gráfico 6. Correlação entre a pontuação admissional às escalas de avaliação
clínica e a pontuação da Escala de Rankin modificada em 30dias do ictus
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
82
5.7.4 Correlações entre a Escala de Fisher e as Intercorrências Neurológicas
em 30 dias do Ictus
Realizou-se análise de correlações de Spearman entre a classificação a
escala de Fisher da neuroimagem admissional e as intercorrências neurológicas,
não tendo sido encontrada correlações estatisticamente significativas para
vasoespasmo, ressangramento e hidrocefalia, respetivamente: rs2=0,100 (p=0,309);
rs2=0,053 (p=0,588) e rs2=0,101 (p=0,306) (vide gráfico 7).
Gráfico 7. Correlação entre as intercorrências neurológicas e a classificação
inicial à Escala de Fisher em 30 dias do ictus
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
83
Posteriormente, foi realizada analise de correlações de Spearman entre a
classificação a escala de Fisher da neuroimagem admissional e as intercorrências
neurológicas, excetuando-se os não sobreviventes aos primeiros 7 dias do ictus, não
sendo, também, evidenciada correlações estatisticamente significativas para
vasoespasmo, ressangramento e hidrocefalia, respetivamente: r s2=0,022 (p=0,847);
rs2=–0,079 (p=0,486) e rs2=–0,178 (p=0,111) (vide gráfico 8).
Gráfico 8. Correlação entre as intercorrências neurológicas e a classificação
admissional à Escala de Fisher, excetuando os pacientes não sobreviventes à
primeira semana do ictus
Fonte: Elaborado pela autora, com base nos dados da pesquisa realizada (2016).
84
6 DISCUSSÃO
A HSA tem se mostrado uma afecção com alta morbimortalidade, com
impacto significativo na independência funcional dos sobreviventes.
6.1 DADOS SOCIODEMOGRÁFICOS
A predominância do gênero feminino corrobora com o que se tem publicado
na literatura vigente. (SHEA et al., 2013; PATEL; SAMUELS, 2012). A média de
idade de 57,25 anos e predominância do sexo feminino (perfazendo 78%) é
compatível com dados do trabalho de Carvalho et al. (2011), que encontrou média
de idade de 58,3 anos com semelhante predominância em mulheres (77,1%).
Porém, esses últimos dados divergem de Nieuwkamp et al. (2011), que relata uma
apenas modesta predominância do gênero feminino, perfazendo 59.5%.
6.2 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
A cefaleia, o sintoma mais prevalente, foi relatada por 80% dos nossos
pacientes. Este dado é apoiado com o descrito por Carvalho et al. (2011), que a
evidenciou em 78,7% dos pacientes, porém difere dos 25%-33% reportado em
outras publicações. (LINN et al., 1994; VIVANCOS et al., 2012). Além disso, a
cefaleia típica foi evidenciada por Kumar et al. (2010) em 51% dos pacientes,
semelhante ao nosso resultado de 56%.
Crises convulsivas foram mais observadas em nosso estudo (30,5% dos
pacientes), sendo um pouco superior aos 20 a 26% dos pacientes relatados por
Conolly Jr. et al. (2012) e Diringer et al. (2011), ainda na variação 8-30% observada
por Wendell e Levin (2010) apud Salem et al. (2014).
85
Em uma análise anterior na população na nossa região, foram observados
sintomas motores em 33,8% dos pacientes; sensitivos em 16,2% e alteração de fala
em 31,1%. (CARVALHO et al., 2011). Porém, em nossos pacientes, constatamos
proporções mais modestas: sinais motores em 25,7%; sensitivo em 0,95% e
alteração de linguagem em 12,4%. E isso pode estar relacionada à alteração de
consciência apresentada na admissão por 51,4% dos pacientes analisados,
interferindo no relato desta queixa ou mesma na observação destas anormalidades
ao exame físico inicial.
O resultado de 8,6% dos pacientes encontrados com hemorragia retiniana é
compatível com o descrito por Hassan et al. (2011) em que 1 em cada 7 pacientes
teria a síndrome de Terson. Contudo, nosso dado é bem aquém ao descrito de
29,4% pacientes por Song et al. (2002). Essa disparidade pode dever-se ao fato de
que, neste último trabalho, os pacientes foram acompanhados longitudinalmente e
se dispunha de mapeamento de retina (exame mais sensível a este diagnóstico).
6.3 FATORES DE RISCO
Os antecedentes de hipertensão arterial sistêmica, DM e tabagismo estão
entre os principais fatores de risco relacionados à HSA. (FEIGIN et al., 2005;
CONOLLY JR. et al., 2012). Essas comorbidades já foram implicadas em maiores
impactos sobre o prognóstico. (ROSENGART et al., 2006). Contudo, no nosso
estudo, a hipertensão arterial sistêmica (com 80% dos pacientes acometidos) e o
tabagismo (afetando 44,4% dos pacientes), porém, apesar de serem os fatores de
risco mais prevalentes em nosso pacientes, não verificamos influência sobre o
prognóstico à análise bivariada e à multivariada, a semelhança do descrito por
Nieuwkamp et al. (2009). Ainda em conformidade com o descrito por este autor,
nossos pacientes apresentaram alta percentagem de recidiva de HSA (4,8%), porém
divergindo deste tivemos apenas um paciente (0,95%) com antecedente de AVC
isquêmico.
Cardiopatia, a única comorbidade que se mostrou significativa quanto ao
desfecho de sobrevivência, também está associada à alta prevalência em pacientes
86
com HSA, sendo muitas vezes implicada em piores desfechos. (NIEUWKAMP et al.,
2011; JUVELA; LEHTO, 2015).
6.4 NEUROIMAGEM
Na admissão hospitalar, 94,4% dos pacientes apresentaram neuroimagem
classificada como III ou IV na escala de Fisher, o que denota a gravidade dos
nossos pacientes já a apresentação inicial, podendo se correlacionar com o
prognóstico. (JUVELA, 2003; FISHER et al., 1983; RABINSTEIN; LANZINO;
WIJDICKS, 2010).
Entre as prováveis etiologias de HSA em nosso estudo, o aneurisma esteve
implicado em 45,7% dos casos, perfazendo aproximadamente 80% dos casos de
causa identificáveis, o que seria compatível com o relato de 80-85% das causas de
HSA espontânea. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; RINKEL et al., 1993; VAN
GIJN; RINKEL, 2001). A prevalência de MAV de 4,8% do coorte seria compatível
com o encontrado de 3-5% dos casos. (REDEKOP, G.; FERGUSON, G., 1993 apud
CARDENTEY-PEREDA;
PÉREZ-FALERO,
2002).
A
HSA
Perimesencefálica
encontrada em 3,8% dos nossos pacientes se mostrou compatível com o
evidenciado por Van Gijn e Rinkel (2001) e em nosso caso também associado a
bom prognóstico. Chama atenção o fato que em 42,9% dos pacientes não se ter
conseguido chegar à causa etiológica nos primeiras 30 dias após o ictus.
Segundo Weir, Disney e Karrison (2002) 40,3% dos aneurismas rotos estão
na ACA ou ACoA, contudo no nosso estudo somente 19,4% dos aneurismas rotos
únicos se encontravam nesta localização. Neste estudo, os aneurismas únicos,
predominaram na ACI, acometendo 27,7% dos pacientes. Foram evidenciados
aneurismas múltiplos em 10,5% dos casos da coorte, equivalendo a 18,3% dos
casos em que a etiologia foi identificada, o que seria compatível com o descrito de
15-20% dos pacientes. (VILLABLANCA et al., 2008 apud VENTI; ACCIARRESI;
AGNELLI, 2011).
87
Segundo Classen et al. (2001), até 8% dos pacientes apresentam edema
cerebral na neuroimagem da admissão, que seria uma estimativa superior ao
observado neste estudo de 3,8%.
6.5 INTERCORRÊNCIAS
Sete
porcento
dos
nossos
pacientes
apresentaram
ressangramento,
compatível com o observado previamente de 4 a 15% dos pacientes nos primeiras
24 horas. (TANG; ZHANG; ZHOU, 2014; OHKUMA; TSURUTANI; SUZUKI, 2001).
Hidrocefalia identificada em 13,5% dos pacientes está aquém ao averiguado
na literatura internacional de 20% dos pacientes. (RAYA; DIRINGER, 2014;
CONOLLY JR. et al., 2012). Contudo, foi ligeiramente superior aos 9,5% relatado por
Guaresi (2011).
Vasoespasmo cerebral, a mais comum complicação neurológica com 20,2%
dos pacientes acometidos, é associada à piora funcional, ocorrendo em
aproximadamente 30% dos pacientes segundo Vergouwen et al. (2010). Houve nas
análises bivariadas uma relação inversa ao que seria esperado em relação ao
vasoespasmo e o desfecho funcional, tendo evoluído melhor os pacientes que
apresentaram essa intercorrência. Isso pode significar que esses foram os pacientes
identificados, deixando dúvida sobre a ocorrência de subnotificação desta
intercorrência nos pacientes mais críticos. Os últimos trabalhos mostram a
importância do Doppler craniano como preditor de vasoespasmo. (LATINGUA et al.,
2011). Entretanto, em nossos serviços, ainda não dispomos deste exame de rotina.
Além do que, em pacientes neurocríticos até mesmo exame de neuroimagem
poderia ser dificultado devido às condições clínicas do doente, o que poderia resultar
em subnotificação desta e de outras intercorrências neurológicas.
Em nosso estudo houve um único paciente identificado com EME. Talvez seja
outra intercorrência subestimada a devida às dificuldades técnicas de execução do
eletroencefalograma em alguns setores do hospital e a falta de equipes treinadas no
manejo do paciente neurocrítico. Portanto, há um indicativo de que precisamos
aumentar a suspeição desta intercorrência nesses pacientes.
88
Neste estudo, a pneumonia também foi a intercorrência mais prevalente,
identificada em 8,7% dos pacientes, o que corrobora com os achados de até 20% de
acometimento. (WARTENBERG; MAYER apud LATINGUA et al., 2015).
Observou-se que a arritmia teve a mesma prevalência de ITU e de IRA.
Porém, a analise bivariada, somente, verificou-se significativa correlação entre
arritmia
e
o
desfecho
de
óbito,
confirmando
que
essas
intercorrências
cardiovasculares são implicadas como importante causa de morte em pacientes com
HSA. (NIEUWKAMP et al., 2011).
Encontrou-se níveis glicêmicos mais aumentados nos grupos de piores
desfechos, corroborando com o referido por Diringer et al. (2011) e Fronteira et al.
(2006), que assim como a leucocitose e a desregulação do sódio, identificadas como
significativos estatisticamente a análise bivariada, podem estar relacionados com a
síndrome resposta inflamatória sistêmica (SIRS). (WARTENBERG; MAYER apud
LATINGUA et al., 2015).
6.6 TRATAMENTO
Quanto ao controle pressórico, térmico e glicêmico pelo menos em tese, no
geral, estava sendo realizado conforme o recomendado nos guidelines. (VIVANCOS
et al., 2012; VAN GIJN; RINKEL, 2001; LATINGUA et al., 2011; DIRINGER et al.
2011). Porém, em pelo menos 1,9% dos pacientes o uso do antagonista do canal de
cálcio para profilaxia do vasoespasmo não foi realizado como o preconizado.
(DIRINGER et al., 2011). A maioria dos pacientes não utilizou antes da oclusão do
aneurisma nenhuma profilaxia com meios mecânicos, o que se torna preocupante
devido a incidência relatada de TVP depois de HSA de 2 a 20%. (DIRINGER et al.,
2011). Nos dois únicos pacientes em que se empregaram heparina profilática,
utilizaram-na
previamente
à
completude
da
investigação
etiológica
ou
à
neurointervenção da causa primária, o que pode ocasionar risco de sangramento.
Relataram analgesia inadequada 6,7% dos pacientes, o que fere o
recomendado por Conolly Jr. et al. (2012).
89
À semelhança ao descrito por outros autores, verifica-se neste estudo tanto
na análise bivariada quanto na multivariada a importância da realização de
procedimento cirúrgico na melhora funcional. (DING et al., 2014). Pois, isso reduz os
riscos de complicações (BEDERSON et al., 2009; SHIROO; YONED; ISHIHRA apud
DING 2014; DARSAUT et al., 2013), sendo também um importante fator preditor de
prognóstico. (WONG; BOET e NG, 2012 apud ZHAO, 2015; PATEL; SAMUELS,
2012).
6.7 DESFECHO E FATORES PROGNÓSTICOS
Como já observado a proporção de casos fatais em 30 dias tendeu também a
aumentar com a idade. (POBERESKIN, 2001; KOFFIJBERG et al., 2002).
Cardiopatia, a única comorbidade que se mostrou significativa no desfecho de
sobrevivência à análise bivarida, já tinha sido apontada como uma importante causa
de morte entre os pacientes com HSA. (NIEUWKAMP et al., 2011).
Em nosso
estudo semelhante ao encontrado anteriormente por SANDVEI et al. (2011),
nenhuma das comorbidades tiveram influência sobre o desfecho após os
ajustamentos.
As intercorrências neurológicas não se mostraram com influência estatística
significativa. Semelhante ao referido por Lantigua et al. (2015), mesmo a
intercorrência mais prevalente, o vasoespasmo, não se verificou correlação com
sobrevivência no período analisado. Contudo, lembramos que pode ter havido
subnotificação em nosso meio das intercorrências.
O desfecho clínico em 30 dias do ictus favorável (ERm 0-2: independentes ou
com incapacidades mínimas) encontrado em 26,7% dos pacientes é semelhante ao
reportado em Carvalho et al. (2011) e compatível com o 20% a 35% dos pacientes
relatados por Fountas et al. (2009). Porém, ainda distante da boa funcionalidade de
64% dos pacientes no geral e 58% dos HSA aneurismático relatada por Lovelock,
Rinkel e Rothwell, 2010; Rinkel e Algra, 2011.
Entre os sobreviventes, 29,5% dos pacientes ao final de 30 dias
permaneceram dependentes ou gravemente comprometidos, o que corrobora com a
90
redução crônica de funcionalidade e os impactos na qualidade de vida já
demostrados por outros autores. (TJAHJADI; HEINEN; KONIG, 2013; LO et al, 2015;
AL-KHINDI; MACDONLD; SCHWEIZER, 2010).
No nosso estudo, ao final de 30 dias do ictus: 43,8% dos pacientes foram a
óbito, sendo os dados da literatura são bem variáveis (vide tabela 1). No estudo de
Carvalho et al. (2011), o achado de mortalidade hospitalar foi de 34,5%, contudo
nessa análise estavam inclusos pacientes oriundos do atendimento particular e no
artigo não está especificação de quantos desses pacientes com HSA eram oriundos
da rede privada.
Semelhante a Juvela e Letho (2015), à análise multivariada, encontrou-se
idade e diâmetro do aneurisma como fatores preditores independentes, contudo não
se evidenciou no nosso estudo contribuição significativa de quaisquer comorbidades
ou história familiar.
Em análise de regressão logística multivariada conduzida por Lantigua et al.
(2015), encontrou-se, semelhante ao nosso estudo, o tamanho do aneurisma como
preditor independente de mortalidade hospitalar. Porém, diferente desse autor, neste
estudo não se encontrou significância estatística para as variáveis de: idade, perda
de consciência no ictus, ECG admissional e pontuação à escala de Fisher.
Diferente também do observado em outros estudos que apontam idade no
ictus, alteração de nível de consciência e volume do sangramento inicial como forte
preditores de mortalidade. (SUAREZ; TARR; SELMAN, 2006; HIJDRA et al., 1988).
Porém, no nosso estudo, estas variáveis foram significativas apenas à análise
bivariada, não sendo observada significância na análise multivariada.
As escalas de Hunt & Hess e da WFNS tiveram boa correlação com o
desfecho em 30 dias, conforme ao já observado por Patel e Samuels (2012).
A maioria dos nossos pacientes apresentou a admissão classificação de
Fisher IV e esse sangramento inicial vem sendo implicado como um forte preditor de
complicações neurológicas. (RABINSTEIN; LANZINO; WIJDICKS, 2010). Contudo,
não observamos correlação entre estas variáveis. Assim, ou os pacientes não
tiveram essas intercorrências e nossos dados divergem por isso; ou essas
intercorrências foram apresentadas, porém não foram identificadas.
91
Na análise multivariada, encontramos uma variável particular do nosso
hospital implicado negativamente como preditor no desfecho de sobrevivência, o que
talvez pudesse ser gerado pela própria gravidade inicial dos pacientes. Contudo,
sabe-se que, em se tratando de pacientes com HSA aneurismática, a admissão em
unidades neurointensivas conduzidas por neurointensivistas é associado a
decréscimo na mortalidade. (DIRINGER et al., 2011; SUAREZ et al., 2014).
92
7 CONCLUSÃO
A HSA constitui uma emergência neurológica associada com alta
morbimortalidade também no HGF.
1. A relação entre mulheres e homens, respectivamente 2,9:1 em nosso
estudo, com idade média de acometimento de 57,25 anos, variando de
20 a 84 anos.
2. O tempo médio entre o surgimento dos sintomas e o diagnóstico foi de
5,07 dias ± 11,62.
3. As manifestações clínicas iniciais mais prevalentes foram: cefaleia em
80% dos casos; alterações de consciência em 51,4%; vômitos em 39%
e convulsões em 32%. A pontuação média e os desvios-padrões nas
escala de avaliação clínica inicial forma: 2,72 ± 1,32 na escala de Hunt
& Hess; 2,7 ± 1,59 e 11,45 ± 4,17 na ECG.
4. Os fatores de risco tradicionalmente associados à HSA foram
prevalente em nosso estudo: 58,7% eram hipertensos; 23,1%
tabagistas e 18,3% etilista. Ainda, encontramos 5,8% com cardiopatia;
4,8% com história pessoal prévia de HSA e 0,95% com conhecida
história familiar.
5. As alterações mais comuns de neuroimagem à admissão foram
classificação à Escala de Fisher III e IV, abrangendo 94,4% dos
pacientes.
6. Quantos às intercorrências:
a. As
intercorrências
neurológicas
predominantes
foram:
vasoespasmo identificado em 20,2% dos casos; seguido por
morte
encefálica
em
17,1%;
hidrocefalia
em
13,5%
e
ressangramento em 7,7% nos primeiros 30 dias após o ictus.
b. Entre
as
intercorrências
clínicas,
a
pneumonia
foi
a
intercorrência mais frequente em 8,7% do pacientes, que
poderia estar relacionada com cuidados dos pacientes com
alteração de nível de consciência.
93
7. Quantos aos preditores prognósticos:
a.
À análise bivariada, considerando os aspectos de funcionalidade
e sobrevivência. O tempo médio entre o surgimento dos
sintomas e o diagnóstico significativamente menor entre os
pacientes com pior funcionalidade e sobrevivência, o que pode
denotar a gravidade do inicio dos sintomas. Os mais jovens
tiveram melhor prognostico. A cefaleia típica e a dor cervical
foram os sintomas mais prevalentes no grupo de melhor
desfecho. A alteração de consciência foi a manifestação mais
prevalente no grupo de pior prognóstico. Apesar da alta
prevalência de fatores de risco tradicionais, a única comorbidade
que se mostrou significativa quanto aos desfechos de não
sobrevivência foi cardiopatia. A história pessoal de HSA prévia e
a história familiar não tiveram influência significativa quanto aos
desfechos.
Entre as intercorrências, o vasoespasmo e a
herniação se mostraram significativos quanto ao desfecho de
não sobrevivência.
b.
À análise multivariada de regressão logística binária, mostraramse preditores independentes de funcionalidade: idade mais
jovem; menor pontuação à escala de Hunt & Hess inicial e
submissão
a
procedimento
cirúrgico.
Para
análise
de
sobrevivência, mostraram-se preditores, à anàlise bivariada:
admissão no eixo vermelho, menor pontuação à escala de Hunt
& Hess inicial e submissão a procedimento cirúrgico, sendo este
primeiro com correlação negativa. À anàlise de regressão
logística
multinominal
significativos:
admissão
para
no
sobrevivência,
eixo
vermelho,
mostraram-se
tamanho
do
aneurisma, menor pontuação à escala de Hunt & Hess inicial e
submissão
a
procedimento
cirúrgico
como
preditores
prognóstico quanto a sobrevivência.
8. As escalas de avaliação clínica Hunt & Hess, WFNS e ECG se
mostraram com boas correlações com a pontuação à escala de Rankin
em 30 dias.
94
9. Não houve correlação entre a escala de Fisher tradicional e a
ocorrência de intercorrências neurológicas neste estudo..
95
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por ser um estudo de base hospitalar, os resultados podem ser enviesados
pela assistência hospitalar oferecida bem como pela qualidade da amostra. Por ser
um estudo em um único centro, também não há como se ter uma comparação entre
as assistências oferecidas e possíveis intervenções nos resultados.
Este estudo também tem outro grande viés de seleção. Apesar deste ser um
hospital terceirizado com emergência de porta aberta e ser a única unidade de
referência para atendimento neurológico de emergência do estado credenciado na
rede SUS, pacientes oligossintomáticos (com cefaleia de leve intensidade ou atípica,
sem déficits focais ou alterações de sensório), às vezes, não conseguem
atendimento, primeira e diretamente, nesta emergência. Assim, esses pacientes
acabam por ser encaminhados para esta unidade, quando ocorrem complicações
advindas da história natural do HSA, já, possivelmente, em condições clínicas e
radiológicas mais comprometidas. Além disso, os casos mais severos com óbitos
domiciliares e pré-hospitalares acabam não sendo incluídos em análises como esta.
Mesmo não sendo um estudo de incidência, não houve limite superior de
idade. Sabendo-se que pacientes mais idosos também são os mais sujeitos a
comorbidades múltiplas e a mais intercorrências inerentes a sua fragilidade, isto
também pode ter contribuído para elevar as taxas de mortalidade.
Alguns dos pacientes avaliados não representam admissões consecutivas,
podendo, assim, ter havido perdas de análises que poderiam influenciar de forma
imprevisível os resultados.
Neste estudo não foi analisada a influência de uso de antiplaquetários, pois
além de escassos os dados, muitos dos pacientes que estavam em uso o faziam de
forma irregular.
Ressalvo que alguns dos pacientes admitidos com hemorragia subaracnóidea
mesmo ao desfecho clínico óbito não apresentavam a menção desse diagnóstico no
prontuário, sendo classificados como AVC não especificado ou AVC hemorrágico
sem especificação específica. Isso pode não ter comprometido este estudo, porém
96
gera dados incoerentes que podem subnotificar ocorrência desta afecção, inclusive
de sua letalidade em nosso meio.
Esse trabalho não se propõe a comparar métodos terapêuticos (se cirúrgico
ou embolização), complicações de procedimentos cirúrgicos, averiguar o nível de
sequelas cognitivas ou estimar e apontar as perdas de funcionalidades. Contudo,
advindo à importância do tema e devida à escassez dessas informações na nossa
população, fica a sugestão sobre a necessidade de realização de futuros de estudos
sobre estes temas específicos.
97
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109
APÊNDICES
110
APÊNDICE A – Ficha de avaliação dos pacientes com Hemorragia Subaracnóidea
no Hospital Geral de Fortaleza
111
112
APÊNDICE B – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
113
ANEXOS
114
ANEXO A – Escala de Rankin modificada
Quadro 6. Escala de Rankin modificada
Grau Descrição
0
Assintomático
1
Nenhuma incapacidade significativa, a despeito dos sintomas; capaz de conduzir
todos os deveres e as atividades habituais.
2
Leve incapacidade; incapaz de realizar todas as atividades prévias, porém é
independente para os cuidados pessoais.
3
Incapacidade moderada; requer alguma ajuda, mas é capaz de caminhar sem
assistência (pode usar bengala ou andador).
4
Incapacidade moderadamente severa ; incapaz de caminhar sem assistência e
incapaz de atender às próprias necessidades fisiológicas sem assistência.
5
Deficiência grave; confinado à cama, incontinente, requerendo cuidados e atenção
constante de enfermagem.
6
Óbito
Fonte: Adaptado de Wilson et al. (2002) apud Manual de rotinas para atenção ao AVC. Ministério da
Saúde do Brasil (2013).
115
ANEXO B – Questionário validado para aplicação de entrevista estruturada da
Escala de Rankin modificada por telefone
Depois do AVC, permaneceu alguma sequela?
Possui alguma dificuldade para se movimentar, lembrar
ou conversar com as pessoas?
Não=0
Sim
Depois do AVC, permaneceu alguma sequela?
Possui alguma dificuldade para se movimentar, lembrar
ou conversar com as pessoas?
Não=1
Sim
Precisa de ajuda de outras pessoas para fazer alguma
atividade? Isso inclui fazer comida compras, usar o
banheiro, comer e se vestir.
Não=2
Sim
Precisa de ajuda para andar de um cômodo a outro da
casa?
Não=3
Sim
Está acamado (não anda mesmo com ajuda de outra
pessoa), incontingente e precisa de cuidados
constantes?
Não=4
Não=5
Sim
Óbito
Não=6
Figura 5. Questionário validado para aplicação der entrevista
estruturada da Escala de Rankin modificada por telefone
Fonte: Adaptado de Baggio, J. A. O. et al.(2014)
116
ANEXO C – Aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética
117
118
119
ANEXO D – Termo de fiel depositário do pesquisador
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