Alana de Aquino Cajazeira

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ATIVIDADES INDUSTRIAIS E QUALIDADE AMBIENTAL: CLIMA URBANO
DO DISTRITO INDUSTRIAL DE MARACANAÚ-CE
Alana de Aquino Cajazeira - Universidade Federal do Ceará
[email protected]
O trabalho pretende analisar a dinâmica do clima urbano no Distrito Industrial de Maracanaú, situado
na Região Metropolitana de Fortaleza – CE, e nos conjuntos habitacionais construídos em seu entorno,
como reflexo dos processos de industrialização e urbanização do município. A instalação do distrito, e
toda a infra-estrutura que a atividade industrial demanda, juntamente com a construção desses
conjuntos habitacionais, proporcionaram a Maracanaú significativa expansão de sua malha urbana e
crescimento populacional vertiginoso, processos que ocorrem de maneira desordenada, acarretando em
elevados níveis de degradação ambiental e de qualidade de vida da população local. Tendo em vista
que um terço da população do município reside, hoje, na periferia do distrito, a identificação dos
fatores causadores da diferenciação climática no local significa uma busca para se compreender o
clima urbano na perspectiva do desenvolvimento e planejamento da cidade no que concerne a
qualidade ambiental.
Palavras-chave: Clima Urbano; Distritos Industriais; Qualidade Ambiental.
INTRODUÇÃO
O artigo apresenta, através de resultados preliminares de uma pesquisa, breves considerações
acerca da dinâmica do clima urbano no Distrito Industrial de Maracanaú, situado na Região
Metropolitana de Fortaleza – CE, e nos conjuntos habitacionais construídos em seu entorno,
como reflexo dos processos de industrialização e urbanização do município.
Considera-se que a qualidade ambiental constitui, hoje, fator determinante para o alcance de
uma melhor qualidade de vida. Os reflexos do acelerado processo de urbanização e
industrialização e a ausência de um planejamento adequado para tal crescimento, vem sendo
alvo de inúmeros debates no meio cientifico, em especial, o geográfico.
A relação entre o clima e o processo de urbanização se dá em função da concepção de cidade
estabelecida pela sociedade capitalista moderna, haja vista o rápido crescimento populacional
e o consumismo exacerbado, conseqüências do atual sistema econômico. A degradação
ambiental surge como um dos mais graves problemas enfrentados pela civilização atual.
Nesse sentido, a análise do clima das cidades ganha destaque, tendo em vista representar um
dos elementos do sistema ambiental mais afetado pelo processo de urbanização de nossa
moderna sociedade, devendo ser tratado entre os mais importantes componentes da qualidade
ambiente.
OBJETIVOS
Desse modo, propõe-se uma análise das características atmosféricas do Distrito Industrial de
Maracanaú, sobretudo dos conjuntos habitacionais (Conjuntos habitacionais Jereissati I e II,
Novo Maracanaú, Industrial, Acaracuzinho, Novo Oriente e Timbó) localizados no entorno
do mesmo, identificando alterações no subsistema termodinâmico local, provocadas pelas
atividades desenvolvidas no distrito e seus reflexos na qualidade ambiental do município, e de
vida das populações que lá residem.
Portanto, tendo em vista que um terço da população do município de Maracanaú reside, hoje,
na periferia do distrito, a identificação dos fatores causadores da diferenciação climática no
local significa uma busca para se compreender o clima urbano na perspectiva do
desenvolvimento e planejamento da cidade.
MATERIAIS E MÉTODOS
Segundo Monteiro, o clima urbano corresponde a um sistema que abrange o clima de um
determinado espaço terrestre e sua urbanização. Deste modo, trata-se de um “sistema singular,
aberto, evolutivo, dinâmico, adaptativo e passível de auto-regulação, que abrange um clima
local (fato natural) e a cidade (fato social)” (MONTEIRO, 1976).
Sob essa perspectiva, a dinâmica do clima urbano no Distrito Industrial de Maracanaú e dos
conjuntos habitacionais adjacentes, será analisado tendo por base conceitual e teóricometodológica o Sistema Clima Urbano, proposto por Monteiro (1976).
Alicerçado sobre a Teoria Geral dos Sistemas (TGS), proposta por L. V. Bertalanffy (1968), o
Sistema Clima Urbano (SCU) constitui-se em uma abordagem metodológica para o estudo do
clima urbano adaptado a realidade brasileira, constituindo-se, hoje, no referencial teórico
básico daqueles que analisam o clima das cidades:
Foi, sem sombra de dúvidas, a partir do emprego da teoria dos sistemas,
da noção de dinâmica da atmosfera e das preocupações de alguns
climatólogos com a interação estabelecida entre a atmosfera, o sítio
(dimensão natural do ambiente urbano) e o fato urbano (materialidade
humana), que o clima da cidade passou a ser enfocado de um ponto de
vista mais holístico e numa dimensão evolutiva, originando os estudos de
climas urbanos que se pode observar na atualidade (MENDONÇA, 2003).
A proposta do Sistema Clima Urbano liga-se fundamentalmente à percepção humana, ou seja,
“são dirigidos à percepção sensorial e comportamental do habitante da cidade”, através de
canais abstratos que “se iniciam na essência da atmosfera e desembocam, na percepção
humana” (MONTEIRO, 19760, p. 125).
Os estudos do clima das cidades têm demonstrado uma série de alterações na dinâmica do
clima urbano, como aumento das temperaturas, diminuições na umidade relativa do ar,
concentração de poluentes, fatores que impactam de maneira negativa nos níveis de conforto
da população. Uma das mais significativas representações dessas alterações nas cidades diz
respeito aos índices de temperatura do ar. Segundo Sant’Anna Neto (1998):
A expansão das áreas urbanas provoca modificações significativas na
paisagem natural. A substituição da vegetação por áreas construídas
(cimento, concreto, alvenaria), a pavimentação asfáltica das ruas, a
concentração de parques industriais e o adensamento populacional
(incluindo-se aí todas as atividades humanas inerentes à sua vida na
cidade, como transporte, alimentação, etc.), são responsáveis pelo
aumento da temperatura nas cidades (SANT’ANNA NETO, 1998, p.126).
A cidade e os frutos do processo de urbanização alteram significativamente o clima em
virtude da intensidade do uso do solo que ocorre nessas áreas. Atualmente, o descontrole em
que se dá o uso do solo urbano, produz desconforto ambiental de várias ordens (térmico,
acústico, visual, de circulação). A contaminação resultante implica um lugar desagradável
para viver e trabalhar (LOMBARDO, 1985).
Desse modo, em nossa pesquisa, o clima urbano do Distrito Industrial de Maracanaú será
abordado através do canal de percepção do conforto térmico (Subsistema Termodinâmico).
Tal subsistema estrutura-se a partir da variável temperatura, associado aos parâmetros de
ventilação urbana e umidade relativa do ar.
Esse canal é considerado por Monteiro o ponto de partida para os outros elementos do clima
urbano, pois as variáveis termodinâmicas “não só conduzem ao referencial básico para a
noção de conforto térmico urbano como são, antes de tudo, a constituição do nível
fundamental de resolução climática par onde convergem e se associam todas as outras
componentes” (MONTEIRO, 1976, p.126).
A discussão teórica sobre a qualidade ambiental urbana, o conforto térmico nas cidades e o
planejamento dos centros urbanos, sob o enfoque do Sistema Clima Urbano, possibilitarão a
identificação de possíveis alterações na dinâmica climática de Maracanaú, provocadas pelas
atividades desenvolvidas no distrito industrial, e seus reflexos na qualidade de vida da
população residente no lugar.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Maracanaú começa a configurar-se como aglomerado urbano no final do século XIX,
principalmente devido à proximidade com Fortaleza, que se encontrava em acelerado
processo de crescimento urbano, induzindo a continuidade de suas funções urbanas para
outros municípios. Até meados da década de 1960, “a população do então Distrito se ocupava
da agricultura de subsistência, da pecuária rudimentar, de um pequeno comércio e do
artesanato de bordadeiras, caracterizando-se por uma ocupação urbana incipiente“
(ALMEIDA, 2005).
Porém, é somente a partir da década de 1960 que Maracanaú passa a sofrer mudanças
significativas em sua estrutura urbana. O município começa a inserir-se no contexto da
economia estadual a partir da instalação do primeiro Distrito Industrial do Ceará, como
resultado da política de desenvolvimento industrial do Estado, implementada pelo então
governador Virgílio Távora (CEARÁ, 1998).
Aliada à política de instalação do distrito industrial, o governo do estado iniciou, a partir de
1979, a construção de grandes conjuntos habitacionais populares na periferia do mesmo, cujo
principal objetivo era a descompressão populacional de Fortaleza.
A instalação do distrito e toda a infra-estrutura que a atividade industrial demanda, juntamente
com a construção desses conjuntos habitacionais, proporcionaram a Maracanaú uma grande
expansão de sua malha urbana e um crescimento populacional vertiginoso. Segundo Almeida
(2005), tais conjuntos mudaram por completo a conformação urbana de Maracanaú, detendo,
hoje, quase um terço dos moradores do município:
Nas proximidades do DIF, foram construídos grandes conjuntos
habitacionais a partir de 1979, que totalizaram mais de 20.000
residências, ocasionando um salto no número de habitantes e,
conseqüentemente, no processo de expansão urbana: de 37.844 habitantes
em 1980, para 157.150 em 1991 (ALMEIDA, 2005).
A atividade industrial é determinante na dinâmica social e econômica do município. O
Distrito Industrial de Maracanaú ocupa uma área de 1.100 hectares, correspondendo a 12,35%
da área do município. Emprega 16,5 mil pessoas, nas mais de 100 empresas instaladas no três
pólos industriais (DIF I, DIF III e DI 2000), sendo que 15 mil estão alocadas nas 75 indústrias
do primeiro pólo industrial implantado no Ceará. Dessa mão-de-obra, 50% reside em
Maracanaú ou nos conjuntos habitacionais que circundam a zona industrial (FIEC, 2004).
De ritmo relativamente lento desde sua fundação, a dinâmica de ocupação da cidade, a partir
da instalação do distrito e da construção dos conjuntos habitacionais em seu entorno, passou a
se processar de forma acelerada e intensiva, gerando problemas que alteraram profundamente
a sua dinâmica social e ambiental.
Esse processo de urbanização desordenada acarretou em elevados níveis de degradação
ambiental e de qualidade de vida da população local decorrentes, principalmente, da
concentração de equipamentos urbanos como edificações comerciais, residenciais (conjuntos
habitacionais Jereissati I e II, Novo Maracanaú, Industrial, Acaracuzinho, Novo Oriente e
Timbó), e atividades industriais (Distrito Industrial I, Distrito Industrial 2000, Distrito
Industrial III).
Nas cidades, o uso do solo se dá através da substituição dos elementos naturais da paisagem
pelos materiais que compõem a estrutura urbana. Essa substituição promove alterações nas
variáveis climáticas locais. O material usado nas construções provoca mudanças no balanço
de radiação, afetando consequentemente os valores de temperatura. A evaporação diminui em
função da canalização dos cursos d’água, da impermeabilização dos solos e da retirada da
cobertura vegetal, reduzindo os índices de umidade relativa do ar. A verticalização interfere
na dispersão de calor e de poluentes. As atividades industriais poluem o ar intra-urbano, entre
outras.
Em Maracanaú, as instalações industriais provocaram a retirada da cobertura vegetal, a
impermeabilização dos solos, aumento na circulação de veículos e a concentração de uma
série de equipamentos urbanos. Taís modificações vêm interferindo nas características do sítio
urbano local, promovendo alterações em seu balanço energético e, por conseguinte, gerando
ambientes climáticos desconfortáveis para a população ali residente.
A construção do distrito acarretou profundas mudanças de ordem social e econômica para a
população que reside em suas adjacências, porém tais transformações não foram
acompanhadas pelo poder público no que tange a qualidade ambiental e de vida da população.
A cidade, como um todo, cresceu sem um planejamento adequado, porém os conjuntos
habitacionais construídos na periferia do distrito, representam o ambiente onde o balanço de
energia local mais sofre alterações.
A carência de medidas planejadoras pode ser facilmente observada quanto à disposição dos
Distritos Industriais em relação à direção predominante dos ventos, o que prejudica a
qualidade do ar e o conforto térmico nesses conjuntos habitacionais.
Os conjuntos foram construídos à oeste do distrito industrial, para onde normalmente se
dirigem os ventos no local (leste para oeste), ocasionando a dispersão de vários tipos de
poluentes pelas residências.
Essas unidades habitacionais representam, dessa forma, a total ausência de planejamento na
orientação do desenvolvimento industrial do município, no controlo do uso do solo local e
com a qualidade de vida da população que habita essa área. Tratam-se dos ambientes mais
afetados pelas atividades industriais, e correspondem aos segmentos da superfície municipal
mais alterados no que diz respeito a seu clima urbano enquanto componente da qualidade do
ambiente.
CONCLUSÕES
A identificação dos fatores que atuam na configuração do clima das cidades são de extrema
importância para a definição de parâmetros como conforto térmico e ventilação urbana,
qualidade do ar, impactos meteóricos e, conseqüentemente qualidade de vida para as
populações que residem nas cidades.
Dessa forma, a compreensão da dinâmica do clima urbano de Maracanaú, significa uma busca
para se compreendê-lo na perspectiva do desenvolvimento e planejamento da cidade no que
concerne a qualidade ambiental.
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