Texto de apoio ao Curso de Especialização Atividade física adaptada e saúde Prof. Dr. Luzimar Teixeira Leis da Ecologia Populacional Nota. Esse artigo online é continuam ente atualizado e revisado logo que resultados de novas pesquisas científicas tornam-se disponíveis. Portanto, apresenta as últimas informações sobre os tópicos abordados. A descoberta de leis na ecologia ocorreu posteriormente em relação às da física e química. Parece-me que os principais motivos são o fato de a ecologia ser um a ciênci a muito m ais recente e a pesquisa em todas as suas ramificações infelizm ente receber pouquíssimos investimentos e pessoal. Todavia, conform e indicam Colyvan & Ginzburg (2003), más interpretações e expect ativas irrealistas sobre o que são leis tam bém prejudicaram a pesquisa, bem como as crenças errôneas de que a ecologia é um a ciência demasiadam ente com plexa para ter leis ou que o poder explicativo possa ser melhorado ao se criar modelos complexos (Ginzburg & Jensen, 2004). Não obstante, perspicazes ao longo conseguiram dos anos, identificar pesquisadores algum as das leis engenhosos existentes e na ecologia. Embora ainda haj a muito a aprender, atualmente temos a impressão de que as leis da ecologia se assem elham às leis da física (Ginzburg, 1986). Elas descrevem situações i dealizadas, têm muitas exceções e não precisam ser explicativas ou preditivas (Colyvan & Gi nzburg, 2003, Ginzburg & Colyvan, 2004). Não obstante, pelo fato de expressarem importantes princípios e relacionam entos aplicáveis a uma ampla gama de situações do mundo real, realmente m erecem ser chamadas de leis. Este artigo relaciona e resume as leis da ecologia populacional, um ramo da ecologia que estuda as populações dos animais e plantas. Futuros artigos irão cobrir as leis de outros ramos da ecol ogia. O que é uma Lei? Uma lei científica é “um a regularidade que se aplica a todos os membros de uma ampla classe de fenôm enos” (Parker, 1989); um a "descrição geral sobre como as coisas se com portam na natureza sob um a variedade de circunstâncias (Krebs, 2001b)”. Neste artigo, são abordados dois tipos de leis: pri ncípios e alometrias. Um princípio é “uma l ei científica altamente geral ou fundamental, da qual derivam outras leis (Parker, 1989)”. Um a al ometria é uma f unção de potência que relaciona coisas diferentes um as às outras. Por exemplo, as alometrias examinadas neste artigo se referem ao tam anho do corpo de organismos para densi dade, índice diferentes de quantidades crescimento populacionais populacional e tais duração do com o ciclo populacional. De forma sem elhante às leis de Kepler, que descrevem os movimentos de corpos celestes em suas órbitas, as alometrias ecológicas são regressões e, portanto, não se referem a m ecanismos. Leis da Ecologia Populacional Atualmente, nove leis da ecologia populacional são reconhecidas. Cada um a está relacionada abaixo e categorizada como um princípio ou alometria. Um candidato a princípio também está relacionado. Princípios Lei Maltusiana Lei de Lei Lei de de Allee Verhulst Lotka-Volterra Lei de Liebig Alometri as: Lei de Fenchel Lei de Calder Lei de Damuth Lei de Tem po de Geração Candidata a Princípio: Lei de Ginzburg Fontes desta lista: (Ginzburg, 1986; Berryman, 1999, 2003; Turchin, 2001, 2003; Ginzburg & Colyvan, 2004). Cada lei ou candidata a lei está descrita detalhadam ent e nos parágrafos a seguir. Para ler sobre um a lei específica agora, clique no nome da lei, na lista acima, para acessá-la diretamente. Lei Maltusiana Segundo esta lei, quando as taxas de nascimento e morte são constantes, a população irá crescer (ou cair) em progressão geométrica. A lei Maltusiana, port anto, descreve como as populações crescem ou caem quando nada mais acontece. Ela “descreve a situação padrão das populações – como se com portam na ausência de quaisquer fatores perturbadores (Ginzburg & Colyvan, 2004)”. Ginzburg (1986) ressaltou que a lei Maltusiana exerce um a função na ecologia sem elhante à Primeira Lei de Newton na física. Antes de Galileu e Newton, Aristóteles afirmou que o estado normal de todos os objetos era o repouso e que o movimento ocorria apenas quando uma força era aplicada a um objeto. Sir Isaac Newton, entretanto, mostrou que o contrário era verdadeiro: que o m ovimento uniforme era o estado normal e que o movimento não uniforme e o repouso geralm ente ocorri am apenas quando uma força era aplicada a um objeto. Sua primeira lei incorpora o conceito de inércia, que é “a tendência de um corpo resistir à m udança de sua velocidade (Krebs, 2001b)”. Como na Primeira Lei de Newton, a Lei Maltusiana af irma que o estado normal de uma população não é o repouso (isto é, uma população constante), m as o movimento (isto é, crescimento ou declínio exponencial); e que, quando as populações não crescem ou declinam exponencialmente, é por causa de uma força externa (algo no am biente) que altera os índices de nascimentos e/ou m ortes (Ginzburg, 1986, Ginzburg & Colyvan, 2004). Esta força externa (ambiental) pode ser um fator abiótico ou biótico com o “o grau de aglomeramento interespecífico e densi dades de todas as outras espécies na com unidade que poderiam interagir com a espécie focal (Turchin, 2003)”. Etimologia: nom eada em hom enagem a Thom as Robert Malthus (17661834), o primeiro a descrever esta lei (Malthus, 1798). Sinônim os: Lei Exponencial de Crescimento Populacional; Lei de Malthus; Princípio Maltusiano; Primeiro Princípio (Berrym an, 2003). Lei de Allee Segundo a lei de Allee, existe um relacionamento positivo entre a aptidão individual e os números ou densidade dos conespecíficos (conespecíficos são outros indivíduos da mesma espécie). Em outras palavras, à medida que o número de indivíduos de um a população aumenta, ou à m edida que a densidade populacional aumenta, a sobrevivência e a produção tam bém crescem (Berryman, 1999). Um bom exem plo ocorre quando os animais se agregam em grupos para proteção e, desta f orm a, diluem a ameaça que cada indivíduo sofre de ser atacado por um predador. Por exemplo, um pardal em um bando de quatro indivíduos que seja atacado por um predador bem sucedido tem uma chance de 75% de sobrevivência, enquanto um indivíduo em um bando de 100 pardais tem uma chance de sobrevivênci a de 99%. O maior núm ero de conespecíficos beneficia a popul ação porque aumenta a diluição ou saturação do predador, a vigilânci a ou agressão antipredadores, a defesa cooperativa dos recursos e a defesa cooperativa contra predadores, a term orregulação social, a modificação coletiva ou o aperf eiçoam ento do ambient e, a disponibilidade de parceiros, o sucesso da polinização ou fertilização, a reprodução e redução de cruzamentos de animais consangüíneos, deriva (drift) genética ou perda de integridade por hibridização (Stephens et al., 1999)". Veja tam bém Courcham p et al. (1999) e Stephens & Sutherland (1999). Segundo a lei de Allee, há um a reprodução ou sobrevivência reduzida em baixas densidades populacionais ou populações pequenas. Por exemplo, quando o tam anho da população de um a planta polini zada por insetos torna-se baixo, ou se um pequeno número de indivíduos floresce durante um ano, menos sementes serão produzidas por planta porque os insetos polini zadores terão mais dificuldade para encontrar poucas flores (Forsyth, 2003). Pelo fato de as pequenas populações apresentarem uma menor reprodução ou sobrevivênci a, a lei de Allee é de interesse especial aos ecologistas que trabalham com espécies ameaçadas de extinção. Etimologia: nomeada por Berrym an (2003) em homenagem a W arder C. Allee (1885-1955), o primeiro a descrever este princípi o (Allee, 1932). Sinônim os: O Efeito de Allee; O Princípio de Allee; Segundo Princípio (Berryman, 2003), Cooperação (Allee, 1932; Berryman, 2003). Lei de Verhulst Embora os indivíduos possam se beneficiar da presença de conespecíficos, o crescimento populacional não pode seguir para sem pre sem conseqüências negativas. No final, atinge-se um limite superior acima do qual a densidade populacional não pode aum entar. Vários fatores diferentes podem limitar uma população, como predadores, doenças, níveis de recursos e com petição com outras espécies. Esta lei, contudo, lida com apenas um fator: a competição intra-específica (isto é, a competição entre os mem bros da mesma espécie). Pelo fato de os organismos que limitam a população tam bém serem membros da população, esta lei também é cham ada de “auto-limitação populacional” (Turchin, 2001). A lei de Verhulst propõe que, em algum momento, o índi ce de crescimento per capita de uma população é limitado direta e imediatam ente por sua própria densidade, através do processo de competição intra-específica (Berryman, 1999; Turchin, 2001). Os m ecanismos de competição intra-específica, que aum entam com a densi dade populacional crescente e atuam para finalmente limitar o crescimento da territorialidade, agonísticas com população, a incluem interferência com conespecíficos, o a agressão a busca canibalismo intra-específica, devido e a a a interações competição por espaços livres de inimigos (Berryman, 1999; Turchin, 2003). Esses mecanismos aumentam com a crescente densidade populacional porque os indivíduos lutam para ocupar a quantidade insuficiente de espaço disponível no momento, espaço este necessário para reunir recursos, esconder-se ou escapar dos inimigos (Berryman, 2003). Felizm ente, outros fatores geralmente limitam uma população antes de seu aumento para a densi dade em que tem início a autolimitação por com petição intraespecífica. Etimologia: nomeada por Berrym an (2003) em hom enagem a PierreFrançois Verhulst (1804-1849), o primeiro a descrever esta l ei (Verhulst, 1838). Sinônim os: Terceiro Princípio (Berryman, 2003); Com petição Intra- Específica; Autolimitação Populacional, Autolimitação (Turchin, 2001). Lei de Lotka-Volterra Os organismos interagem com outras espécies e com o am biente físico de várias maneiras. Essas interações às vezes incluem “feedbacks negativos”. Um exem plo de feedback negativo é quando um aum ent o na população de uma espécie de presa gera um aum ento na população de seus predadores (através do aumento da reprodução), e isso, por sua vez, retroalimenta para reduzir a população de presas através do aum ento da mortalidade devido à predação (Berryman, 2002, 2003). A lei de Lotka-Volterra propõe que “quando as populações estão envolvidas em feedback negativo com outras espécies, ou até mesmo com componentes de seu ambiente", é provável que se observe uma dinâmica oscilatória (cíclica) (Berrym an, 2002, 2003). Etimologia: nom eada em hom enagem a Alfred Jam es Lotka (1880-1949) e Vito Volterra (1860-1940), que independentemente descreveram uma versão i nicial desta lei (Lotka, 1925; Volterra, 1926). Veja também Hutchinson (1948). Sinônim os: Quarto Princípio (Berryman, 2003); Lei de Hutchi nson (Berryman, 2003); Lei das Oscilações de Consumidor-Recurso (Turchin, 2001). Lei de Liebig Muitos fatores ambientais distintos apresentam o potencial para cont rolar o crescimento de uma população. Esses fatores i ncluem a abundância de presas ou nutrientes que a população consome, além das atividades dos predadores. Uma dada população geralmente irá interagir com um a miríade de diferentes espécies de presas e predadores, e os ecologistas descreveram essas várias interações através das redes alimentares. Ainda assim, embora um a dada população possa interagir com várias espécies diferentes na rede alimentar, e também interagir com muitos fatores abióticos distintos fora da rede alimentar, nem todas essas interações são de igual importância no controle do crescimento daquela população. A experiência mostra que “apenas uma ou duas out ras espécies dominam a estrutura de feedback de uma população em qualquer dado momento e local (Berrym an, 1993)”. A identi dade dessas espécies domi nantes pod e mudar com o tem po e o local, mas o núm ero de espécies que limitam um a dada população (isto é, controlam ativamente sua dinâmica) é geralmente apenas um ou dois. A lei de Liebig, em sua forma moderna, expressa esta idéia. Propõe que, entre todos os fatores bióticos ou abióticos que controlam uma dada população, um deve ser limitante (isto é, ativo, controlador da dinâmica) (Berryman, 1993, 2003). Os atrasos produzidos por este fator limitante geralm ente duram por uma ou duas gerações (Berrym an, 1999). A lei de Liebig enfatiza a importância dos fatores limitantes na ecologia. "Um fator é definido como limitante se uma mudança no fator produzir uma mudança na densidade média ou de equilíbrio (Krebs, 2001a)”. Às vezes ouvimos que “tudo está relacionado na natureza" e que, port anto, uma mudança na abundância de um organismo afetará a abundância de todos os outros. Embora seja verdade que tudo na natureza esteja rel aci onado por meio de interações, a conclusão acima é exagerada e pode induzir a erro (Berryman, 1993). As pesquisas dem onstram que apenas algumas das várias interações são fortes e importantes, e que relativam ente poucas delas limitam o crescimento da população focal em um determinado tempo e l ocal (Berrym an, 1993, 2003). Etimologia: nom eada em hom enagem a Baron Justus von Leibig (18031873), que form ulou um a versão inicial desta lei (Liebig, 1840). Sinônim os: Lei dos Mínimos de Liebig; Lei dos Mínimos; Lei da Dominância de Feedback (Berryman, 1993), Quinto Princípio (Berryman, 2003). Lei de Fenchel A lei de Fenchel explica como o crescimento populacional exponenci al é relacionado ao tamanho (m assa) do corpo. Propõe que as espécies com maior tamanho corporal têm menores índices de crescimento populacional. Mais exatam ente, afirma que o índice máximo de reprodução cai com o tam anho do corpo a uma potência de aproximadamente 1/4 da m assa corporal (Fenchel, 1974). A lei de Fenchel é expressa pela seguinte equação alométrica: r = aW - 1 / 4 Onde r é o índice intrínseco de aumento natural da população, a é uma constante que possui 3 val ores diferentes (um para organismos unicelulares, um para heterotermos e outro para hom eotermos) e W é o peso (m assa) corporal médio do organismo (Fenchel, 1974). Exemplos: se a espécie X possui m assa corporal 10 vezes m aior do que a da espécie Y, então o í ndice de reprodução m áximo de X será aproximadamente metade daquele de Y. Se X for 100 vezes mais pesado do que Y, então o índice de reprodução máximo de X será aproximadamente um terço daquele de Y. Se X for 1.000 vezes mais pesado do que Y, então o índice de reprodução máximo de X ficará entre um quinto e um sexto daquele de Y. Se X for 10.000 vezes mais pesado do que Y, então o índice de reprodução máximo de X será um décim o daquele de Y (Gi nzburg & Colyvan, 2004). Etimologia: nomeada em homenagem a Tom Fenchel, o primeiro a descrever esta lei (Fenchel, 1974). Sinônim os: Alometria de Fenchel (Ginzburg & Colyvan, 2004). Lei de Calder A lei de Calder descreve como os períodos de oscilação nas populações de mamíferos herbívoros são relacionados ao tam anho do corpo (massa). Ela propõe que as espécies com maior tamanho corporal geralmente têm ciclos populacionais mais longos. Mais exatamente, a lei de Calder afirma que a duração do ciclo populacional aum enta com o aumento do tam anho do corpo a uma potência de aproximadam ente 1/4 da m assa corporal (Calder, 1983). A lei de Calder é expressa pela seguinte equação alométrica: t = aW 1 / 4 Onde t é o tem po médio do ciclo populacional, a é um a constante e W é o peso (m assa) corporal médio do organismo. Exemplos: se a espécie X possui m assa corporal 10 vezes m aior do que a espécie Y, então as popul ações de X terão um ciclo (se aplicável) com um período com duração de 1,78 vezes aquele das populações de Y. Se X for 100 vezes mais pesado do que Y, então as populações de X terão um ciclo (se aplicável) com um período aproxi madamente três vezes mais longo do que aquele de Y. Se X for 1.000 vezes m ais pesado do que Y, então as populações de X terão um ciclo (se aplicável) com um período de cinco a seis vezes mais longo do que aquele de Y. Se X for 10.000 vezes mais pesado do que Y, então as populações de X terão um ciclo (se aplicável) com um período dez vezes mais longo do que aquele de Y (Ginzburg & Colyvan, 2004). Antes da pesquisa de Cal der, sabia-se que os pequenos mamíferos herbívoros como os lemingues (Lemmus) e arganazes (Microtus) tinham ciclos populacionais de 3 a 4 anos, enquanto os da lebre (Lepus americanus) com corpos m aiores eram de 8 a 10 anos, e os do ainda maior alce (Alces alces) e da rena (Rangifer tarandus) eram de 20 a 40 anos. Entretanto, antes de Calder, ninguém havia indicado a correl ação entre o grande tam anho corporal e os ciclos populacionais mais longos. Etimologia: nom eada em hom enagem a W illiam Alexander Calder III (19342002), o primeiro a descrever esta lei (Calder, 1983). Sinônim os: Alometria de Calder (Ginzburg & Colyvan, 2004). Lei de Damuth A lei de Damuth explica como a densidade populacional é relacionada ao tam anho (massa) do corpo. Propõe que as espécies com maior tamanho corporal geralmente têm densi dades populacionais médias mais baixas. Mais exatam ente, afirma que a densidade médi a de uma população cai com o tamanho do corpo a uma potênci a de aproximadamente 3/4 da massa corporal (Damuth, 1981, 1987, 1991). A lei de Damuth é expressa pela seguinte equação alométrica: d = aW - 3 / 4 Onde d é a densidade m édia da população, a é uma constante e W é o peso (m assa) corporal médio do organismo. Exemplo: um m amífero 16 vezes m aior do que um segundo m amífero geralm ente terá uma densidade populacional média de 1/8 daquele da segunda espécie (Ginzburg & Colyvan, 2004). A lei de Damuth aplica-se, na m aioria dos casos, aos vertebrados e invertebrados terrestres (Damuth, 1981, 1987, 1991). Etimologia: nomeada em homenagem a John Dam uth, o primeiro a propor esta lei (Damuth, 1981). Sinônim os: Alometria de Dam uth (Ginzburg & Colyvan, 2004). Lei de Tempo de Geração Esta lei afirma como o tempo de geração (o período necessário para um jovem crescer e amadurecer até a i dade reprodutiva) é rel aci onado ao tam anho do corpo. Propõe que as espécies com maior tam anho corporal geralm ente têm tempos de geração mais longos. Mais exatam ente, afirma que o tempo de geração aumenta com o tam anho do corpo a um a potência de aproximadamente 1/4 da massa corporal (Bonner, 1965). (A massa corporal utilizada nesta lei é a massa do corpo do organismo no momento da reprodução). A lei de Tempo de Geração é expressa pela seguinte equação alométrica: g = aW 1 / 4 Onde g é o tempo de geração m édio da população, a é um a constante e W é o peso (m assa) corporal médio do organismo. Exemplos: se a espécie X possui m assa corporal 10 vezes m aior do que a da espécie Y, então o tempo de geração de X será 1,76 vezes aquele de Y. Se X for 100 vezes mais pesado do que Y, então o tem po de geração de X será 3,16 vezes mais longo do que aquele de Y. Se X for 1.000 vezes mais pesado do que Y, então o tempo de geração de X será 5,62 vezes mais longo do que aquele de Y. Se X for 10.000 vezes m ais pesado do que Y, então o tempo de geração de X será 10,00 vezes mais longo do que aquele de Y (Ginzburg & Colyvan, 2004). Todos os animais e plantas parecem seguir esta lei, e o com primento do corpo geralmente pode ser utilizado no lugar da massa corporal (Bonner, 1965). Etimologia: John T. Bonner realizou uma pesquisa extensiva que ajudou a estabelecer esta lei (Bonner, 1965). Entretant o, há m uitos rum ores de que esta lei era conhecida antes de Bonner (Gi nzburg & Colyvan, 2004). Eu, portanto, sigo Ginzburg & Colyvan (2004) na tentativa de nomear a Lei de Tempo de Geração até que se determine o nom e de seu descobridor. Sinônim os: Alometria de Tempo de Geração (Ginzburg & Colyvan, 2004). Uma Candidata a Lei A busca por leis na ecologia populacional não terminou. Ela continua, e alguns pri ncípios, alomet rias e regras que não foram mencionados em nossa lista podem, na verdade, ser leis. Esses “candidatos a leis” precisam de m ais consideração, discussão, form ulação e testes. Discutirei agora um desses candidatos: a lei de Ginzburg. Lei de Gin zburg Esta l ei afirma que a transferência de qualidade da m ãe para a filha (o efeito maternal) influenci a o crescim ento populacional e, conseqüentem ente, o crescimento populacional em qualquer ponto do tem po depende não apenas do ambiente atual, mas também do ambiente da geração anterior (Ginzburg & Colyvan, 2004). Acredita-se que a alteração ambiental do índice de crescimento populacional per capita ocorra pela modificação do índice de mudança deste índice de crescimento, e não pela alteração direta do índice de crescimento per capita. Portanto, o crescimento populacional é visto como inercial, um a dinâmica de segunda ordem (Ginzburg & Col yvan, 2004). A lei de Gi nzburg propõe que a duração de um ciclo populacional (oscilação) é o resultado do efeito maternal e do crescim ento populacional inercial. Segundo esta l ei, as durações dos períodos nos ciclos de uma população devem ser de duas ou seis ou mais gerações (Ginzburg & Colyvan, 2004). Os predadores ou outros fatores am bientais podem ser a causa do ciclo populacional e também podem afetar a am plitude e o formato do ciclo, mas a duração do período do ciclo é específico à espécie e não depende do que causa o ciclo. Este período de ciclo específico da espécie é denominado eigenperiod. A lei de Ginzburg, com o conceito de eigenperiod, explica por que espécies semelhantes têm períodos de ciclo similares, m uito embora possam habitar am bientes m uito diferentes, ser atacadas por predadores vastamente diferentes ou, em algumas situações como em ilhas, não haver predadores (Ginzburg & Colyvan, 2004). Ela t ambém explica por que os períodos de ciclo populacional de 3 a 5 gerações são desconhecidos na natureza. Faço uma tentativa para classificar esta candidata a lei com o um princípio porque ela oferece um a explicação para a lei de Calder. Etimologia: nomeada em homenagem a Lev Gi nzburg, o primeiro que a propôs (Ginzburg & Taneyhill, 1994; Ginzburg & Colyvan, 2004) Sinônim os: O Ef eito Maternal (Ginzburg & Colyvan, 2004). Referências Allee W C (1932) Animal aggregations: a study in general sociology. University of Chicago Press, USA Ashton K (2001) Are ecological and evoluti onary rules being dismissed prematurely? 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