A FORMULAÇÃO E EXECUÇÃO DA POLÍTICA MONETÁRIA PELO BANCO DE PORTUGAL Abel M. Mateus1 “The search for a simple policy rule to guide transition [to price stability] is an illusion. But central banks can try to accelerate the learning process by “teaching by doing”; in other words, making clear their own preferences and explaining their own view of how the economy behaves.(...) Transparency can help to speed up the process by both private agents and the central bank.” M. King (1996, pg. 25-26). O objectivo deste trabalho é dar a conhecer o modo como é formulada a política monetária pelo Banco de Portugal, bem assim como ela é executada na prática. Pretende-se assim clarificar para o público, e em especial para os operadores do mercado2 o conjunto de mecanismos utilizados para atingir o importantíssimo papel cometido ao banco de preservar a estabilidade dos preços, um bem público da maior importância para a sustentabilidade do crescimento económico. Simultaneamente pretende-se carrear o conjunto de modelos e teorias que servem de fundamento a esta formulação e actuação de forma a delimitar o domínio de influência da política monetária. Desde já convém esclarecer que embora a política monetária seja importante na determinação da taxa de inflação, ela não é a única a influenciar aquela variável. Por exemplo, e como o Banco tem chamado a atenção, também a política de rendimentos e preços, e em particular a política salarial, têm uma influência directa. Também no que toca à formação de expectativas é importante a política orçamental. Deve referir-se que a política monetária portuguesa, e sobretudo depois da entrada do escudo no Mecanismo das Taxa de Câmbio (MTC) e liberalização dos capitais, tem uma autonomia bastante reduzida, pelo que a sua importância é bastante menor do que aquela que por vezes se lhe atribui. Por outro lado, embora as variáveis que influencia sejam importantes para a conjuntura económica, é importante sublinhar que as outras políticas conjunturais (orçamental, rendimentos e preços) assumem no contexto de autonomia da política monetária muito mais importância como instrumentos reguladores ou contra-cíclicos. E, por fim, são as políticas estruturais as que maior impacto têm na capacidade de crescimento da economia a médio e longo prazos3. 1 Administrador do Banco de Portugal e Professor Associado da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa. Este trabalho é uma versão revista das lições proferidas em vários anos no Seminário sobre a Economia Portuguesa da Universidade Nova de Lisboa, a convite do falecido Prof. Dr. Alfredo de Sousa. 2 Esta compreensão clara dos processos de actuação é fundamental para a auto-regulação dos mercados. Nos mercados dos países desenvolvidos basta por vezes o simples anúncio pelo banco central de uma previsão de redução da inflação para que imediatamente os operadores façam baixar as taxas de juro ou/e apreciar a moeda, evitando mesmo uma subsequente intervenção do banco central através da tomada de medidas sobre os seus instrumentos. 3 Refira-se também que as políticas estruturais podem ter um importante impacto sobre os preços e taxa de inflação. Por exemplo, uma política de liberalização e promoção de concorrência no sector dos serviços (por ex melhoria de eficiência nos circuitos de distribuição comercial), pode ter um importante papel na redução da Política Monetária 1997-04-07 O princípio fundamental que está por trás do actual regime monetário é que estando o escudo ligado (“pegged”) ao MTC, em que o marco tem um papel fundamental, a taxa de inflação em Portugal deverá ser igual à taxa de inflação na Alemanha. Evidentemente que embora tenha sido notável a convergência da nossa taxa de inflação para a taxa alemã, este processo é um processo gradual, e como o salintámos noutro trabalho, depende sobretudo da conjugação de dois factores: a credibilidade da política macroeconómica e a rigidez do ajustamento dos mercados. 1. O objectivo da estabilidade dos preços Segundo o Tratado de Maastrich, (art.º 105º) “O objectivo primordial do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC) é a manutenção da estabilidade dos preços.” Subordinado a este objectivo, o SEBC apoiará as políticas económicas gerais na Comunidade tendo em vista, entre outros, o crescimento e emprego. Também o Bundesbank tem uma formulação semelhante do seu objectivo. De acordo com o Tratado, também a nova redação da Lei Orgânica (Decreto-Lei nº 231/95, de 12 de Setembro) dispõe no seu artº. 3º. “O Banco de Portugal, como banco central da República Portuguesa, tem por atribuição principal manter a estabilidade dos preços”. Porém, existe um qualificativo mais forte do que o Tratado prevê: “tendo em conta a política económica global do Governo”. Esta formulação é comum aos estatutos do Banco de França. Tanto a teoria como a prática4 indicam a necessidade de reforma institucional para assegurar a credibilidade do objectivo de estabilidade cambial. Existem três componentes básicas nessa reforma: (1) a lei orgânica do banco central deve estabelecer firmemente a estabilidade dos preços como o objectivo da polític monetária, (2) o banco central deve ter a independência necessária para prosseguir os seus objectivos, e (3) a administração e gestão do banco central deve ser responsável pelo cumprimento desses objectivos. Dois problemas se levantam em relação à formulação do objectivo do banco central: o primeiro refere-se à questão da própria definição de estabilidade dos preços - o que significa? Quere-se dizer estabilidade do Indice de Preços no Consumidor ou de outro Índice de base fixa similar? Ou quere-se dizer que a taxa de inflação, ou seja a taxa de crescimento deste índice, deve ser nula? O segundo problema tem a ver com a formulação global do objectivo deve considerar-se apenas a estabilidade dos preços ou também o pleno emprego da capacidade produtiva da economia? Quais os pesos que se devem atribuir às diferentes componentes na função objectivo? Esta segunda questão será abordada no ponto 3. taxa de crescimento dos preços, como é amplamente reconhecido em alguns sectores da economia portuguesa. Outro factor que tem sido muito referido pela Comissão da UE é a flexibilidade dos mercados de trabalho. 4 Neste contexto convém referir o caso do Bundesbank que é amplamente reconhecido como o guardião da estabilidade monetária alemã do pós-guerra. A taxa de inflação média na Alemanha foi de 3,4 %, comparada, por exemplo, com 4,9% nos EUA. Política Monetária 1997-04-07 A experiência histórica e os modelos teóricos sugerem que é preferível um objectivo de taxa de inflação do que estabilidade do índice de preços5, embora evidentemente os dois sejam equivalentes período a período. O benefício de uma regra em termos de estabilidade do índice fixo é a que asseguraria estabilidade nominal para contratos de longo prazo. Mas repare-se que tal regra adicionaria flutuações desnecessárias no curto prazo, pois qualquer subida de preços teria de ser compensada imediatamente por uma descida de preços - em média teríamos metade dos anos com deflação, o que não é uma situação desejável do ponto de vista do bem-estar devido a uma certa rigidez implicita no sistema de preços e salários. As razões históricas podem observar-se na história britânica entre 1844 e 1914. Por conseguinte, o objectivo deve ser inflação nula. Porém, o que significa este conceito? Existem várias razões para estabelecer tal critério a uma taxa de crescimento do IPC à volta dos 2% ao ano. As razões são estatísticas e económicas. Estudos efectuados para os EUA mostram que o IPC sobreestima em cerca de 1 ponto percentual o crescimento dos preços ao não tomar em consideração a melhoria de qualidade dos produtos. Outro factor são o tratamento geralmente inapropriado da deslocação dos circuitos de distribuição para lojas com preços ou margens mais reduzidas. Um terceiro factor é o simples “enviezamento logarítimo”6 de natureza estatística. Assim, pode afirmar-se que uma inflação em redor dos 2% equivale a uma “inflaçãoverdadeira”, ou mais correcta, que é praticamente nula. Como tem o Banco de Portugal conseguido este objectivo nos últimos 40 anos? Até ao início dos anos 70, como o Gráfico 1 mostra, este objectivo foi razoavelmente atingido (excepto em meados de 60). Porém, entre aquele ano e o início da década de 90 afastou-se drasticamente desse objectivo, tendo causado custos enormes no bem-estar do país. No início de 1990 o Banco de Portugal iniciou um processo de desinflação que trouxe a inflação de cerca de 13 para os actuais níveis já próximos dos 3%, em média anual. Outra questão tem a ver com os países em processo de “catching-up”. Como é conhecido pelo mecanismo de Balassa-Samuelson, nestes países os preços dos bens não transacionáveis têm que crescer mais do que o que se verifica nos países desenvolvidos. Porém, este processo é, como todos os modelos de convergência real o demonstram um processo de longo prazo, o que significa uma diferença de 1 a 1,5 pontos percentuais ao ano na subida dos preços destes bens. Ora se este crescimento for compensado por uma apreciação, e por conseguinte subida dos preços dos transacionáveis mais lenta do que nos países desenvolvidos, nada impede que o país em “catching up” tenha a mesma taxa de inflação, o que equivaleria à manutenção da sua capacidade concorrencial. No actual regime de política monetária, de uma pequena economia aberta, estabilidade da taxa de câmbio em relação aos principais parceiros comerciais (ou a um país âncora como a Alemanha) é equivalente à média ponderada das taxas de inflação dos parceiros comerciais (ou do país âncora). Assim, a taxa de inflação que o Banco de Portugal está implicitamente a tomar através do prosseguimento do objectivo intermédio de estabilidade cambial é a taxa de 5 Num trabalho recente L. Svensson (1996) põe em causa esta asserção do ponto de vista teórico. Também no sistema padrão-ouro a regra implícita era a estabilidade do nível (e não taxa de crescimento) dos preços, como nos podemos apreender do funcionamento do “price-species-flow mechanism”. 6 Se o preço baixar de 2$00 para 1$00 é considerada uma quebra de 50%. Se voltar a subir para 2$00 é contabilizado como um aumento de 100%. Política Monetária 1997-04-07 inflação média ponderada do objectivo da inflação dos principais parceiros comerciais (ou o objectivo do país âncora). Como conseguimos atingir este objectivo nos últimos anos? No início do novo regime monetário em 1990 o diferencial de inflação estava em cerca de 9 pontos percentauis. Porém, só com a liberalização de capitais (Dezembro 1992) se estabeleceram todas as peças do novo regime monetário. Desde então, o diferencial da inflação em relação, por exemplo à média da UE7 reduziu-se de 4 para cerca de 0,2 pontos percentuais, em termos de taxas homólogas, e de 5 para 0,8 pontos percentuais em termos de médias anuais, em Janeiro de 1997 (Gráfico 2). Para além dos enormes custos sociais, redistribuição de rendimento e outros factores de afectação desiquilibrada de recursos, a estabilidade dos preços tem um papel fundamental no processo de convergência nominal, pois permite a criação de um quadro estável macroeconómico para os exportadores e para as empresas que concorrem com as importações. São de todos conhecidos os elevados custos causados pela inflação.8 Contudo, por vezes é questionado se a indexação não resolve o problema. Ora, não há dúvida que mesmo com a mais perfeita indexação não é possível acabar com o chamado imposto de seignorage que afectam os activos monetários, e que é uma forma não explicitada (ou melhor, não democrática) e utilizada pelos governos para financiarem o déficit. Outra questão que se põe frequentemente é a de que porquê não prosseguir um objectivo de inflação moderada em vez de nula? Estão questão pôe-se sobretudo quando é necessário fazer um esforço de redução de inflação que geralmente acarreta um aumento da taxa de desemprego. A resposta é que uma vez que a autoridade monetária aceite alguma inflação não pode plausivelmente, ou seja, com credibilidade, comprometer-se a combater uma taxa de inflação mais alta. De facto, não é possível nem controlar nem prever correctamente as “expectativas inflacionistas” pelo que não é possível manter a inflação em determinado número. Os inúmeros estudos realizados (veja-se um resumo em Roll et al. (1995)) mostram que no longo prazo não há trade-off entre inflação e crescimento (ou desemprego). Daí, que a melhor forma de prosseguir a política macroeconómica é instituir um banco central independente a quem se responsabiliza pela estabilidade dos preços, e tomar as medidas estruturais necessárias para sustentar o crescimento no longo prazo. 2. Regras monetárias versus política descricionária. 7 As comparações de IPCs a nível internacional levanta sérias dificuldades, não só porque os cabazes de compras típicos de cada país são diferentes, como as metodologias de certos sectores diferem. Daí que o Eurostat tenha publicado um índice harmonizado que será base de avaliação do critério de inflação do Tratado de Maastrich, e que exclui essencialmente preços de bens públicos de saúde e educação que podem reflectir diferentes graus de subsídio do Estado. O índice harmonizado entretanto publicado mostra uma taxa de inflação média dos 12 meses terminados em Dezembro de 1996 de 2,9 por cento. Em média, a taxa de crescimento do nosso índice harmonizado foi de cerca de 0,2 pontos percentuais abaixo do do IPC. 8 Veja-se, por exemplo, Fischer (1994). Política Monetária 1997-04-07 O problema da credibilidade é um dos mais importantes da moderna teoria económica. Suponhamos um decididor da política económica que pretende definir uma política óptima em t para o período t+s. Tradicionalmente essa política óptima encontrava-se maximizando uma função objectivo tomando as expectativas dos agentes privados como exógenas. Chamemos ao plano assim determinado o plano óptimo ex-ante. Será este plano também óptimo quando a data t+s chega? Geralmente não, o plano óptimo ex-post é diferente, pois o decididor de política económica pode ter incentivos para agir de outra forma (repare-se que isto acontece por motivos “nobres”: para melhorar instantâneamente o nível de bem-estar). Quando isto acontece, ou seja quando existem incentivos para renegar o plano ex-ante, diz-se que o plano original é inconsistente do ponto de vista dinâmico, e o agente de política económica tem de mostrar que “resiste à tentação de alterar o plano ex-ante” para construir a sua credibilidade perante o sector privado. Este problema ocorre em muitas áreas da política económica. Um caso muito simples é aquele em que o Estado dá exenções fiscais para a instalação de capital físico, e uma vez este instalado existe um grande incentivo para o Estado passar a cobrar impostos sobre este capital, uma vez que já está instalado. Uma condição necessária para que este problema ocorra é que se esteja perante um segundo óptimo em que o agente de política económica não dispõe de instrumentos suficientes para atingir o primeiro óptimo. Este problema põe-se na política macroeconómica de estabilização de acordo com os trabalhos pioneiros de Kydland e Prescott (1977) e Barro e Gordon (1983). O agente de política económica pretende aqui controlar a inflação e o desemprego através de políticas de gestão da procura agregada. Suponhamos que o desemprego está associado com a inflação através de uma curva de Phillips com expectativas (esta hipótese não é essencial para o problema), e que uma política expansionista de surpresa reduz o desemprego abaixo da taxa natural porque os preços e salários são fixados antes de a procura agregada ter sido observada. A política óptima ex-ante é sempre prosseguir uma taxa de inflação nula dado que os agentes económicos têm expectativas racionais e o desemprego em equilíbrio está ao nível da taxa natural. Porém este plano é dinamicamente inconsistente. Porque a taxa natural de desemprego é sempre elevada do ponto de vista social óptimo, porque os impostos (e os esquemas de segurança social) são distorcionários e causam um nível estrutural de desemprego elevado, existe o incentivo para o agente de política económica inflacionar. Esta política sendo repetida leva a um “enviazamento inflacionista”: a inflação está sempre acima do objectivo, mas sem ganho em aumento do emprego porque o público passa a incorporá-la nas suas expectativas. O exemplo anterior mostra que a política descricionária, isto é, em que os agentes da política económica tentam maximizar o bem-estar em cada período independentemente do impacto que as suas acções têm sobre as expectativas do sector privado conduzem a uma solução claramente ineficiente. Suponhamos agora que o agente económico assume o compromisso na data t de prosseguir uma dada regra de política em t+s, porque o custo de renegar essa regra é proibitivo. A moderna teoria institucional da política económica óptima tenta encontrar sistemas de compromissos-cum-regras que resolvam o problema da inconsistência intertemporal e dêm credibilidade aos agentes da política monetária e orçamental. Num regime de “compromisso em relação a uma regra” o banco central submetese a um contrato com o público em que aquele especifica o objectivo e instrumentos no presente e no futuro. Política Monetária 1997-04-07 Na literatura sobre a política monetária óptima Rogoff (1985) prova que a política descricionária apenas permite um quarto óptimo. Como este problema se pode interpretar como um problema de agente-principal em que a sociedade delega no banco central o prosseguimento da política óptima Rogoff sugere que essa delegação se faça para um conselho de administração que prossegui o objectivo de inflação com mais veemência que a própria sociedade em média o prosseguiria. Porém esta solução só permite um terceiro óptimo pois aumenta a variabilidade do emprego. O “contrato linear de inflação” de Walsh (1995) e Persson e Tabellini (1993) em que existe um mecanismo de “ reputação” para o banco central directamente ligado à realização do objectivo da inflação permite chegar a um segundo óptimo9. Porém existem muitos problemas de implementação tanto práticos como políticos. Num importante trabalho recente Svensson (1996) estende grande parte destes resultados a um modelo dinâmico em que se verifica persistência de desemprego. Tal persistência introduz efeitos desfazados sobre a política monetária, requerendo que esta seja formulada com uma perspectiva futura. Neste caso é possível atingir o segundo óptimo combinando a escolha de um conselho de administração que ponha um menor peso no objectivo do emprego e o prosseguimento de um objectivo de inflação previamente anunciado que dependa do estado da economia observado em cada período. O estado da economia em cada período pode ser definido não só pela taxa de desemprego verificado no período anterior como por choques sobre a oferta (como alterações das razões de troca). Repare-se que embora a conclusão de Svensson seja em termos da regra-objectivo de inflação o trabalho de Persson e Tabellini faz pressupor que a mesma pode ser obtida com objectivos monetários intermédios, embora seja necessária mais informação para controlar o cumprimento do contrato de inflação com o banco central. Existem três regimes de regras monetárias: * Alemanha), objectivo intermédio baseado num agregado monetário (p.ex. M3 na * objectivo intermédio baseado na estabilidade cambial (p.ex. Taxa de câmbio em relação ao marco pela Holanda, Austria, ou o MTC para o escudo e peseta), * objectivo final em termos de inflação (p.ex. Reino Unido e Suécia desde 1992). Qual destes regimes é preferível? Esta questão tem assumido ultimamente bastante relevância na discussão entre os chamados “inflation targeters” e “exchange rate targeters” adentro do futuro Sistema Monetário Europeu que continuará a existir depois da introdução da moeda única num grupo de países que satisfarão os critérios de convergência. Existe, como sabemos, por um lado, quase um contínuo de possibilidades desde a base monetária até aos conceitos mais alargados de liquidez, e, por outro lado, diferentes formas de defenir os objectivos de inflação. Estes diferentes objectivos oferecem diferentes combinações de controlabilidade e visibilidade. De facto sabemos que a base monetária é totalmente controlada pelo banco central, mas a sua relação com a inflação tem baixa correlação e não é transparente. Por outro lado, o público não só não compreende em geral essa relação nem 9 O caso do regime legal do Banco da Nova Zelândia é um dos mais conhecidos mundialmente e visto como modelo por muitos economistas da área monetária. Política Monetária 1997-04-07 presta grande atenção a um anúncio de uma regra de liquidez primária. É, pois uma regra pouco visível. No outro extremo, um anúncio de um objectivo para a inflação é bastante visível mas o banco central tem apenas um controle parcial sobre esse objectivo. Existe, pois um trade-off entre controlabilidade e visibilidade. O pré-anúncio de objectivos nominais permite aos agentes de política económica com credibilidade ter um efeito pelo menos parcial sobre as expectativas do público em comparação com uma situação em que os objectivos não são anunciados. Uma das conclusões deste modelo (Veja-se Cukierman (1996)) é que se um banco central tem elevada reputação deve prosseguir um objectivo de inflação. Mas também é evidente que um banco central que anuncie objectivos sob a forma de agregados monetários e que tenha adquirido grande reputação como o Bundesbank tem grande visibilidade ao anunciar o objectivo sob a forma do agregado M3. Reparemos que o objectivo de estabilidade cambial tem características mais próximas do objectivo da base monetária quanto à sua controlabilidade pois um banco central pode sempre utilizar os instrumentos de política monetária para defender uma certa taxa de câmbio, mas por outro lado, adquire uma elevada visibilidade quanto a essa taxa - o que é um indicador para os especuladores cambiais. Assumem sempre grande publicidade alterações substanciais da taxa de câmbio como os realinhamentos. Deste ponto de vista, esta regra monetária é superior às outras duas alternativas. 3. Antecedentes do actual regime de política monetária A taxa de câmbio como objectivo intermédio é uma variável facilmente observável, pelo que o sector privado pode facilmente monitorar o seu cumprimento. Por outro lado, uma fixação multilateral da taxa de câmbio é muito mais credível que uma fixação unilateral (peg unilateral). Tal decorre do facto de o banco central não poder ajustar a paridade unilateralmente, mas ter que obter o acordo de todos os outros membros do mecanismo de câmbios - este mecanismo de multilateral aumenta significativamente o grau de credibilidade deste instrumento. Neste caso, os outros bancos centrais resistem a uma desvalorização da moeda nacional para melhorar a competitividade do país: o que constitui o ganho para um é uma perda para os outros. Este facto faz subir o custo de uma política inflacionária dentro de um mecanismo multilateral de câmbios como o Mecanismo das Taxas de Câmbio do SME. Evidentemente que dentro deste mecanismo a credibilidade do banco central sobe quanto mais largos forem os períodos entre realinhamentos e menor a dimensão dos realinhamentos. A razão é que ambos os factores tendem a gerar custos mais elevados de uma sobreavaliação da taxa de câmbio. Giavazzi e Pagano (1988) demonstraram que a entrada para o MTC melhora o nível do bem-estar do país que adere, em relação a deixar a sua moeda flutuar. O trabalho empírico de Giavazzi e Giovannini (1989), tentando quantificar estes ganhos revela que é necessário decorrerem alguns anos até estes serem substanciais. Porém Obstfeld (1992) veio demonstrar que o SME acaba por ser inferior a taxas de câmbio fixas irrevogáveis (moeda única) porquanto credibilidade limitada pode levar a períodos sem realinhamentos com taxas de salários reais, taxas de juro reais e desemprego excessivamente elevados. Embora não seja objecto deste trabalho, a experiência monetária dos anos 80 é extremamente importante para perceber os antecedentes da actual política monetária Política Monetária 1997-04-07 portuguesa. Os elevadíssimos déficits do sector público criaram um enorme volume de liquidez. Embora a dívida pública efectiva tenha explodido de em 1977 para % do PIB em 1990, estima-se que caso não tenha havido financiamento monetário esta deveria ter atingido cerca de 17 pontos percentuais adicionais em 1990. Portugal tinha reunidas, de facto, todas as condições para ter registado uma hiperinflação. É nossa opinião que ela não se registou porque havia uma âncora nominal constituida pela limitação ao crescimento do crédito na economia. Este racionamento do crédito introduzido pelos programas de estabilização com apoio do FMI era depois completado pela fixação da taxa de câmbio em crawling peg e por acordos de política de rendimentos. Embora um dos principais efeitos deste regime tivesse sido o “crowding out” do investimento privado pelo crédito ao sector público, outro efeito menos reconhecido é que o país terminou a década com um elevado “overhang” monetário. Houve três consequências importantes: (1) o Banco de Portugal teve que proceder à chamada “Grande Operação” em inícios de 1990 que transformou em tútulos, (2) as reservas de caixa dos bancos foram fixadas em 17% (largamente acima dos 2% mais comuns aos restantes sistemas bancários, e (3) para reduzir o custo para a banca, o Banco teve que acabar por substituir estas reservas por Títulos de Depósito que serão amortizados num período de 10 anos. Esta existência de um enorme excesso estrutural de liquidez primária constituiu nos últimos anos uma preocupação fundamental das autoridades monetárias. A passagem do controle directo do crédito para a regulação indirecta dos mercados monetários através da liquidez primária e taxas directoras constituiu, simultâneamente, um importante marco na história monetária portuguesa. O regime anterior a 1992 (a experiência com objectivos de liquidez) A partir de 1991 o Banco passa a introduzir um objectivo de liquidez. Estudos efectuados mostraram que o agregado que mostrava maior estacionaridade era o L- e que havia uma relação de cointegração entre este agregado, preços e PIB10 (Ver C. Robalo e M. Lopes (1992)). Em 1991 o Banco estabeleceu o objectivo para o crescimento do agregado em 11%, mas tendo-se verificado um desvio de 3,5 pontos percentuais para cima no objectivo de L-, o que se imputou ao fenómeno de reintermediação financeira. Em finais de 1991 o Banco de Portugal anunciou que tomaria como orientação qunatitativa para o crescimento da liquidez de residentes não financeiros (L-) uma taxa de 12% para o final de 1992, que seria compatível com o objectivo de 8% para a inflação e 3% para o PIB real. À semelhança do que acontecera no ano transacto, a taxa de crescimento do L- superava largamente o objectivo, em grande parte alimentada pelos enormes influxos de capitais motivados por uma taxa de rentabilidade dos activos em escudos largamente superior à externa. Em Abril o desvio atingia quase 5 pontos percentuais. À data do seu abandono em Agosto o desvio era de 3 pontos percentuais. Esta breve experiência mostra como tem bastantes limitações o prosseguimento de objectivos intermédios sob a forma de agregados monetários, em pequenas economias sujeitas a elevados movimentos de capitais. O regime introduzido em Agosto de 1993 (a introdução da estabilidade cambial) 10 No longo prazo existiria uma elasticidade unitária para os preços e rendimento. Política Monetária 1997-04-07 A entrada do escudo no Mecanismo das Taxas de Câmbio do SME em Abril de 1992 e a liberalização do movimento de capitais são os outros dois marcos históricos que constituem os elementos fulcrais do actual regime monetário. Foi com o anúncio da liberalização dos movimentos de capitais em Agosto de 1992 que o Banco de Portugal introduziu o actual regime de política monetária que tomava como objectivo intermédio a estabilidade cambial. É interessante recordar o teor do comunicado de 13 de Agosto do Banco: “O anterior regime de restrições aos movimentos de capitais destinava-se exclusivamente a permitir alguma autonomia à política monetária portuguesa, tornando viável a definição de objectivos quantitativos para a evolução da liquidez monetária portuguesa, tornando viável a definição de objectivos quantitativos para a evolução da liquidez na economia e uma política monetária não acomodatícia. Com a abertura à livre circulação de capitais deixa de ser viável a execução da política monetária com base em objectivos quantitativos para os agregados monetários. Deste modo, o Banco de Portugal passará a conduzir as taxas de juro no respeito dos limites do Mecanismo Cambial do Sistema Monetário Europeu, sendo a evolução da liquidez interna a que resultar do novo equilíbrio de mercado que vier a verificar-se. “ Como estas afirmações deixam claro, a adopção de um regime de ” target-zone” implica uma redução substancial da autonomia da política monetária, como se pode demonstrar através do conhecido modelo de Mundell-Fleming. No Gráfico 1 encontram-se representadas no espaço da taxa de juro interna e produto as curvas IS que representa o equilíbrio no mercado dos bens, a curva LM que é o lugar geométrico dos pontos de equilíbrio do mercado monetário e a curva BB que se refere aos pontos de equilíbrio da balança de pagamentos. Admitindo mobilidade perfeita de capitais a curva BB é uma recta horizontal determinada pela paridade externa das taxas de juro, ou seja, a taxa de juro interna, r, é igual à taxa de juro externa, r* mais um prémio de risco B que pode representar o risco país, a desvalorização esperada e/ou a aversão ao risco do investidor internacional. O ponto de equilíbrio geral da economia é dado pela intersecção dastrês curvas em Q. Este equilíbrio pode projectar-se no espaço do produto e taxas de juro, (Y,e). Neste espaço AD representa mais uma vez o equilíbrio no mercado dos bens e AA o equilíbrio do mercado dos activos financeiros, ou seja é o lugar geométrico ao longo do qual se verifica a paraidade externa da taxa de juro. Ao ponto Q corresponde o ponto de equilíbrio T que, por sua vez determina a taxa de câmbio e0. Note-se que para simplificar se consideram os preços fixos, e se condsidera a economia em equilibrio temporário.11 11 O que quer dizer que não se faz alusão ao nível de pleno emprego. Para simplificar a análise podemos supor que estamos abaixo do pleno emprego, pelo que um aumento da procura não origina sbida de preços. Política Monetária 1997-04-07 LM LM2 LM1 r ( = r* + Be R Q BB S IS1 IS2 IS Y AA e0 e1 E T 0-e ) AA2 r* +( e___ e AA1 U V DD Comecemos por uma política em que o banco central pretende defender uma certa paridade do escudo. Partamos agora da hipótese que o banco central aumenta a oferta monetária através, por exemplo, de uma monetarização (indirecta) do déficit orçamental. A cruva LM desloca-se para a direita (LM1). No curto prazo, como o produto não pode responder imediatamente haverá pressão para a taxa de juro interna baixar em relação à internacional, reduzindo-se o diferencial entre sa taxas que passa a deixar de cobrir a paridade respectiva. Por uma lado inicia-se um processo de deterioração da balança comercial, mas ainda mais rápido é o movimento de saída de capiatis. Para se efectuar a saída de capiatis os agentes económicos começam a procurar mais moeda estrangeira contra escudos, e o banco central tem que intervir no mercado cambial para suster a desvalorização do escudo, comprando escudos e vendendo moeda estrangeira. Suponhamos agora que o banco central não estereliza estas intervenções, ou seja, que ao retirar escudos do mercado de liquidez primária não os injecta novamente através das suas operações de cedência de liquidez por repos. Então, o que acontece é que vai “enxugando” o acréscimo de liquidez que havia originado inicialmente. Assim, tanto as curvas LM como AA ( do ponto U regressa-se ao ponto T) se voltam a delocar para a esquerda retomando a posição inicial. Verifica-se, assim, que a baixa da taxa de juro “forçada” que originariamente se queria provocar pela Política Monetária 1997-04-07 monetarização do déficit12 acaba por ser corrigida pela “secagem” de liquidez originada pela intervenção cambial. Note-se que o produto não se altera, voltamos ao mesmo equilíbrio nominal de taxas de juro, câmbio e preços. Assim, prova-se que a política monetária é totalmente inoperativa. Porém, o SME é um regime de “target zones”, admitindo assim algum deslizamento cambial dentro da banda. Só nesta medida, ou procedendo a um realinhamento, é que a política monetária volta a ganhar algum impacto sobre as variáveis reais. No caso de se deixar deslizar a taxa de câmbio para e1 então é possível aumentar as exportaçõese reduzir as importações, levando a curva IS a deslocar-se para a direita. A curva AA também se desloca para a direita. Como o aumento da oferta de moeda se pressupôs à partidaser temporária não se altera a taxa de câmbio esperada, pelo que para preservar a paridade do juro em face de uma queda da taxa de juro interna a txa de câmbio tem que se depreciarimediatamente para criara a expectativa de que a moeda nacional se aprecia no futuro a uma txa superior àquela que se esperava antes de r ter caído e passaríamos para um novo ponto de equilibrio S,V dado por LM2, IS2 eAA2. É evidente que pressupondo este modelo preços fixos não se tomam em conta os efeitos inflacionários que a desvalorização e aumento de oferta monetária podem originar. O que este exemplo mostra é que, existindo mobilidade perfeita de capiatis, o prosseguimento da estabilidade cambial torna a política monetária inoperante em termos de afectar as variáveis reais da economia. Por outro lado, ficam claros que os principais instrumentos utilizados para o prosseguimento do objectivo do banco central são: (I) intervenções no mercado de liquidez primária do escudo para afectar o diferencial da taxa de juro interna em relação ao exterior, (ii) intervenções cambiais para defender a paridade cambial que podem ser mais ou menos sujeitas a esterelização através das reservas em escudos das instituições financeiras, e (iii) deslizamentos na banda de flutuação do escudo para acomodar possíveis alterações temporárias de expectativas.13 A política monetária é gerida pelo Banco Central numa perspectiva de futuro (“forward looking”). É geralmente aceite que as acções não têm efeito significativo sobre a inflação no trimestre contemporâneo ou seguinte; em vez disso, o maior impacto da política monetária sobre a inflação ocorre no período que decorre entre o segundo e o oitavo trimestres depois da tomada de uma medida. Daí a necessidade de o Banco de Portugal prever a inflação, e à semelhança do que os outros bancos centrais chegam a publicar nos seus “Relatórios sobre a Inflação” (p.ex. Caso do Banco de Inglaterra e Banco de Espanha), nos 2 a 3 anos seguintes. A política monetária é executada tendo em conta o objectivo formulado para a manutenção do escudo em certa zona da banda do MTC. 12 Que podeia corresponder a um objctivo de dinamização no curto prazo da procura agregada. 13 Segundo as normas do SME só se devem pedir realinhamentos se houver uma alteração dos “fundamentals” da economia, ou seja, se houver uma alteração da taxa de câmbio de equilibrio na economia. Política Monetária 1997-04-07 Os agregados de crédito são seguidos apenas com larga periodicidade, visto que num pequeno país com liberdade de capitais, e em que existe elevada substituição entre as diferentes componentes monetárias e não monetárias, mostram elevada volatilidade. 4. A condução da actual política monetária e cambial O esquema geralmente aceite para a condução da política monetária distingue entre objectivos finais, objectivos intermédios, indicadores e instrumentos (Friedman (1990) ou McCallum (1990)). Como o termo indica, os objectivos finais, ou a missão da política monetária é manter a estabilidade dos preços, como referimos acima. Porém, a execução da política monetária é complicada pelo facto de os bancos centrais apenas terem controle indirecto da variável que geralmente constitui esse objectivo. Acresce que a variação dos preços apenas reage com desfazamentos (lags) longos e variáveis à política monetária, acrescendo que existem também importantes lags estatísticos no conhecimento da variável objectivo. Daí que os bancos centrais tenham necessidade de selecionar objectivos intermédios para a condução da política monetária. Tais objectivos intermédios tradicionalmente assumiram a forma de algum ou alguns agregados monetários. A moderna teoria da política económica mostra que um objectivo intermédio é tanto mais apropriado quanto maior for a sua contolabilidade (veja-se o Anexo). Mais modernamente, alguns países (com a Holanda e Áustria como pioneiros) tomaram a estabilidade cambial como objectivo intermédio. Também Portugal passou a tomar a estabilidade cambial para este efeito a partir da entrada do escudo para o SME (Abril de 1992) e sobretudo da liberalização do movimento de capitais com o exterior que ocorreu em Dezembro de 1992. Este objectivo não só está altamente correlacionado com o objectivo final (estabilidade dos preços) como é mais facilmente observável e reage com maior rapidez às alterações da política monetária. Para atingir os objectivos da política monetária o banco central utiliza uma série de instrumentos tais como taxas de juro às quais o banco central cede ou absorve liquidez, ou variações na liquidez primária ou base monetária que permite variar as disponibilidades de caixa da banca comercial bem como a disponibilidade relativa de escudos ou divisas- variáveis sobre as quais o banco central tem um controle permanente e directo. Os instrumentos escolhidos e as regras utilizadas na sua manipulação no dia-a-dia definem a implementação da política monetária. Finalmente, para condução da política monetária o banco central necessita de utilizar um conjunto vasto de informação, sintetizada através de um conjunto de indicadores sobre o estado da economia (por exemplo, pressões sobre o escudo, expectativas inflacionistas ou evolução da balança de pagamentos), a envolvente externa (por exemplo, condução da política monetária pelos restantes bancos centrais da UEM), e a postura da política monetária (variáveis macroeconómicas reais, outras políticas macroeconómicas). O banco central necessita de indicadores das pressões inflacionistas, em especial indicadores que prevêm a inflação um ou dois anos antes, dado que provavelmente este é o desfazamento entre o nível de preços e as medidas de política monetária. Obviamente que existe um número de indicadores necessários para tal, incluindo agregados monetários e de crédito, utilização da capacidade produtiva e PIB actual em relação ao PIB potencial, taxa de desemprego e ofertas de emprego, preços de activos e outros indicadores normalmente utilizados na previsão dos ciclos económicos. As previsões do mercado sobre inflação assumem também especial relevância para a gestão da política monetária. Por outro lado, as expectativas de inflação em relação aos objectivos anunciados pelo banco central são um indicador do grau de credibilidade desse objectivo. Uma grande parte dos bancos centrais Política Monetária 1997-04-07 europeus utiliza pois a curva de rendimentos (yield curve) e as taxas de juro forward implicitas nessa curva para analisar as previsões de mercado sobre inflação. 4.1. A instrumentação da Política Monetária: O sistema de taxas directoras O Gráfico 2 mostra a evolução das taxas de intervenção no passado recente. Como se pode observar, existe uma taxa diária de cedência ocasional de liquidez que vem assumindo nos últimos tempos o papel da taxa mais importante para transmitir no dia-a-dia indicações ao mercado, normalmente utilizado em vendas de liquidez com acordos de recompra (taxa repo). Como o sistema bancário tem estado em situação estrutural de déficit de liquidez desde o início de 1993, a cedência de liquidez assume um papel fulcral na determinação das taxas de juro do overnight. A cedência de liquidez faz-se em leilões, contra títulos da Dívida Pública ou Títulos emitidos pelo Banco de Portugal, com acordo de recompra e vencimento no final do período de reservas. Estes leilões podem ser de quantidade fixa com taxa de juro a determinar pela procura, ou leilões de taxa de juro fixa e quantidade fixa. O Banco publica normalmente pelas 10 horas de todas as manhãs dos dias úteis a taxa média ponderada (TMP) e a taxa de corte do leilão, caso o leilão seja de taxa de juro livre. O Banco utiliza um ou outro tipo de leilão conforme pretende obter informação do mercado (taxas livres), ou pretende dar uma indicação clara de taxa de juro ao mercado (taxas fixas). A taxa repo flutua num corredor definido por duas taxas de intervenção regulares14, o chão que constitui a taxa de absorção de liquidez e o tecto que é definido pela taxa da facilidade de emergência. Ambas estas facilidades assumem cada vez mais o papel de facilidades permanentes (standing facilities) para o sistema bancário. A taxa de absorção regular, contra TIMs a 7 dias, constitui um chão para a taxa de juro do overnight, porquanto qualquer instituição monetária pode aí colocar os seus fundos como último recurso. A taxa da facilidade de emergência, criada em Julho de 1994, no montante de 100 milhões de contos, permite às instituições monetárias obterem fundos (até às 14 horas de cada dia) até ao montante máximo da sua quota.15 Funciona, pois, como se fosse um seguro para ocorrer a necessidades ocasionais de liquidez, e por iniciativa da instituição de crédito. Existem ainda duas facilidades de cedência de liquidez mas que têm a ver com o funcionamento do sistema de pagamentos e não com a política monetária que são o crédito intra-diário (introduzido em Maio último), com taxa de juro nula, e a facilidade de última hora com taxa de juro agravada. 4.2. A instrumentação da Política Monetária: O mecanismo de regulação da base monetária. As instituições monetárias e financeiras (número ?) Estão sujeitas em Portugal a um regime de reservas obrigatórias de caixa. Estas instituições têm que ter em média sob a forma 14 Em períodos de ataques especulativos contra o escudo a taxa repo de cedência (ou absorção) de fundos pode subir acima da taxa da facilidade de emergência, afim de desencorajar a tomada de posições em escudos. 15 Esta quota é calculada proporcionalmente aos valores das disponibilidades mínimas de caixa relativos aos quatro períodos anteriores. Política Monetária 1997-04-07 de disponibilidades de caixa 2 por cento das suas responsabilidades, definidas pelas Instruções do Banco de Portugal, em média, durante um período (semanal) previamente definido pelo Banco. A necessidade de estas instituições satisfazerem as suas necessidades de reservas execedentárias e obrigatórias de caixa cria um mercado de liquidez primária em que o Banco de Portugal intervém normalmente diáriamente para regular a base monetária. O mecanismo da adição e a subtração de reservas é orientado pela programação monetária que o Banco efectua diariamente para o dia seguinte e para todo o período de reservas mínimas. A situação no mercado de reservas primárias é determinada a partir do balanço do Banco Central. Seja, DLX + CIT = L + DIV DLXoim + CIoim = L - C + DIVoim DLXBP + CLSPBP + COIMBP = NC + RC + RE + APOIMBP + DIVBP DLXoim + Cioim + C - DIVoim = L DLXBP + CLSPBP + COIMBP - NC - RE - APOIMBP - DIVBP = RC onde DLX = Disponibilidades líquidas sobre o exterior CIT = Crédito interno total L = Agregado de liquidez (inclui moeda, quase-moeda e activos líquidos na posse do público) DIV = Diversos (composto pelas restantes rubricas da Situação Monetária não incluídas nas anteriores) OIM monetárias = Outras instituições BP = Banco de Portugal C = Circulação monetária CI = Crédito interno (ao Sector Público e aos sectores privado não financeiro e financeiro não monetário) CLSP Política Monetária = 1997-04-07 Crédito líquido ao Sector Público COIMBP = Crédito concedido pelo Banco de Portugal às “outras instituições monetárias” NC = Notas (inclui as notas em caixa nas OIM) em circulação RC = Reservas de caixa sob a forma de depósitos à ordem no Banco de Portugal RE = Reservas excedentárias sob a forma de depósitos à ordem no Banco de Portugal APOIMBP = Aplicações das instituições monetárias” no Banco de Portugal. “outras A intervenção diária do Banco de Portugal é realizada de modo a que a oferta de reservas venha a satisfazer a procura, o que implica tomar em linha de conta o efeito dos factores que aumentem ou diminuam a liquidez interbancária. Como o Banco de Portugal tem a sua actividade directamente relacionada apenas com as OIM, o Estado e diversos organismos financeiros internacionais, os fluxos financeiros que importa identificar correspondem aos recebimentos e pagamentos efectuados pelo BP às OIM quer no âmbito da sua actividade específica quer no âmbito da sua actividade como Caixa Geral do Tesouro e, em particular, os fluxos que fazem aumentar ou diminuir a conta de Aplicações do Tesouro aberta no Banco de Portugal. Os fluxos financeiros entre o BP e as OIM são basicamente os seguintes: - compras/vendas de divisas concessão/recebimento de crédito às OIM e respectivos juros, sob as diversas formas de financiamento, nomeadamente os empréstimos e as contas correntes caucionadas, depósito/levantamento de notas efectuado pelas OIM no BP compras de liquidez às OIM, através do MIT, e respectivos reembolsos, incluindo os juros devidos vendas de liquidez às OIM, através do MIT, e respectivos reembolsos e juros ou reembolsos antecipados das compras anteriormente realizadas pagamento de juros relativos a Títulos de Depósito (TD), bem como reembolsos destes títulos depósitos obrigatórios das OIM no BP, para além dos relativos às disponibilidades mínimas de caixa, e respectivos levantamentos. E os fluxos financeiros entre o BP e as OIM, por conta e ordem do Estado, são basicamente os seguintes: Política Monetária 1997-04-07 receitas e despesas do Estado realizadas através da Direcção-Geral do Tesouro, importando não o momento em que os diversos serviços e entidades as obtêm mas sim o momento em que eses valores são recebidos ou pagos pela DGT. as transferências/cheques, relativos a depósitos do sector público nas OIM, e presentes ao BP como receita pela compensação de valores. receitas de financiamento do Estado e pagamentos relativos a reembolsos da dívida do Estado e respectivos juros, realizados através das OIM. Em síntese, os fluxos financeiros entre o BP e as OIM, por conta e ordem do Estado, respeitam a todos os fluxos cujo registo se efectue nas contas de DO que o tesouro detém junto do Banco, com excepção dos respeitantes a operações entre o Banco e o Tesouro (como, por exemplo, compra ou venda de divisas ao Tesouro). Anota-se, também, a gestão da dívida pública relativa a Bilhetes do Tesouro, na medida em que é directamente gerida pelo BP e, portanto, facilmente controlável. Em síntese, os fluxos anteriormente enumerados correspondem aos movimentos que fazem variar a equação de equilíbrio do BP, que na sua forma mais desagregada saõ traduzidos nos movimentos contabilísticos que dão origem à situação patrimonial designada por Situação Diária. Na programação das intervenções diárias do BP, usualmente, distinguem-se dois níveis de informação: o que é directamente controlável pelo BP, isto é, o que anteciapdamente é previsível com exactidão ou mesmo já conhecido; e o que não é directamente controlável pelo BP ou o que, embora o seja, não tem grande expressão, quer pela pouca frequência com que se observa quer pelo valor pouco expressivo que assume. No primeiro caso, para além das operações realizadas pelo Banco no mercado cambial (conhecidas com dois dias de antecedência em relação ao dia em que produzem alterações nas contas DO das OIM), assumem especial relevo os fluxos relativos às intervenções do Banco no MIT, bem como os fluxos relativos a BT. No segundo, dominam os movimentos do Tesouro Público. A programação diária das intervenções do BP no MIT é assim realizada através de um modelo de simulação em que entrando em linha de conta com os valores/fluxos previsionais certos, e com as estimativas para os fluxos previsionais incertos, bem assim como com os valores entretanto observados, Política Monetária 1997-04-07 se determina o valor das intervenções do BP no mercado interbancário, tendo ainda em conta as expectativas relativamente ao perfil de comportamento das OIM relativo à formação diária das reservas. 4.3. A regulação do mercado cambial De acordo com a Resolução do Conselho Europeu de 5/12/78 que estabelece o Sistema Monetário Europeu, cada moeda tem uma taxa central em termos do ecu, sendo estas taxas usadas para estabelecer uma grelha de paridades bilaterais (art.º 3.1). O realinhamento das taxas centrais só pode ser feito por mútuo acordo de todos os países que participam no SME e a Comissão (art.º 3.2). Daqui resulta que o SME é um verdadeiro sistema multilateral de fixação de taxas de câmbio, o que o distingue de uma forma fundamental de uma fixação (peg) unilateral da taxa. Será utilizada uma fórmula para o “cabaz do ecu” que servirá para definir um “indicador de divergência”16. O “limiar de divergência” é estabelecido a 75% do afastamento máximo para cada moeda (art. 3.5). Quando uma moeda atravessa esse “limiar” as autoridades devem corrigir a situação através: (i) intervenção no mercado cambial sob a forma diversificada, (ii) medidas de política monetária interna, (iii) alterações das taxas centrais (realinhamentos), (iv) outras medidas de política económica. Estas medidas são discutidas regularmente entre os bancos centrais que fazem parte do SME através do sistema conhecido por “concertação entre os bancos centrais” (art.º 3.6). A intervenção é obrigatória quando o país atinge o limite da banda de flutuação (art.º 3.4), sendo essa intervenção ilimitada. Suspensão da intervenção equivale a um pedido de realinhamento. O acordo de Basle-Nyborg de 18/9/87 veio reforçar substancialmente o SME, enfatizando que maior estabilidade das taxas de câmbio entre países só se consegue se, através das políticas monetárias e económicas, estes conseguirem convergência suficiente com vista à estabilidade interna. Para tal, os membros devem utilizar mais activamente os instrumentos disponíveis: (a) flutuações das taxas de câmbio dentro da banda, (b) taxas de juro, e (c) intervenções intra-marginais. Com vista a financiar as intervenções intra-marginais foi reforçada e alargada a “Facilidade de Muito Curto Prazo” do Fundo de Cooperação Monetário Europeu, que passou a conceder empréstimos com a duração máxima de três meses e meio, sendo até ao tecto de 16 O indicador de divergência desempenha um papel fundamental na monitoragem do SME. A sua definição é algo complexa porque a base de referência muda com as próprias taxas de câmbio que constituem o cabaz do ecu. Política Monetária 1997-04-07 200 por cento da quota do país automaticamente renovável por três meses. Desta forma se conseguia aumentar o risco para os especuladores através da mais intensa flutuação dentro da banda, preocupação que presidiu ao alargamento das bandas para 15% que ocorreu em Agosto de 1993. Por outro lado, aumentava a credibilidade do mecanismo através do reforço da cooperação monetária e do alargamento das facilidades que permitiam a um país defender a sua moeda. É, assim, importante ressaltar, que a política cambial de cada país membro, que está orientada para a manutenção da moeda dentro do SME, deve utilizar como instrumentos intervenções intra-marginais para moderar o deslizar da moeda dentro da banda, ou prosseguir um determinado nível(eis) de taxa. Estas intervenções têm evidentemente, através da equação da base monetária, um efeito de destruição de liquidez. A menor oferta de liquidez pode ou não ser esterelizada pela política de oferta de liquidez primária do banco central. Esta variação de liquidez tem um efeito, em grande parte pré-determinado, nas taxas de juro dos mercados interbancários. O banco central pode intensificar, ou moderar estes efeitos sobre as taxas de juro através da manipulação das taxas directoras ou da realização de leilões de liquidez com montantes pré-determinados. Os diferenciais de taxas de juro que desta forma se estabelecem no mercado doméstico, em relação ao de outras moedas constituem um importante indicador da postura do banco central na defesa da moeda, e entram sem dúvida no cálculo do custo de financiamento da especulação contra a moeda. O mercado cambial do escudo é um dos mais reduzidos da UE. Segundo o Inquérito à Actividade dos Mercados de Câmbios e de Produtos Derivados Realizados em 1995 do Banco de Portugal (publicado em Boletim Económico, Junho de 1996), o valor do turnover diário atingia 2,7 biliões de dólares em finais de 199517. Destes cerca de 1,5 eram do mercado spot, 108 milhões de “outright forward” e 1 bilião de “foreign exchange swaps”. Os FRAs atingiam 122 milhões, sendo o principal derivado utilizado sobre as taxas de juro. Portugal ocupava a última posição nos mercados derivados, sendo particularmente baixa a participação nos derivados das taxas de juro. 4.4. Teoria das “target zones” e paridade das taxas de juro Segundo a teoria das “ target zones” sem credibilidade perfeita18 (veja-se Rose e Svensson (1992)), existe uma relação inversa (e com inclinação inferior à unidade) entre as taxas de câmbio e as taxas de desvalorização esperadas. Este efeito, chamado de “lua de mel” por Krugman, ajuda a estabilizar automaticamente a taxa de câmbio em torno da paridade central. Assim, se não houver expectativas de realinhamento, quando a taxa de câmbio está forte, e próximo dos limites mínimos de flutuação19 então espera-se que esta deprecie, e dado um determinado nível dos “fundamentals” ela acaba por se depreciar sem intervenção do banco central. Da mesma forma, se a taxa de câmbio estiver fraca e próximo dos limites máximos, haverá tendência para se apreciar. 17 O turnover diário nos 26 países cobertos pelo inquérito do BIS atingia cerca de 1190 biliões de dólares diários, com cerca de metade à vista e metade a prazo. 18 Hipótese que nos parece realista, sobretudo para um país que aderiu recentemente ao MTC. 19 Estamos a utilizar a taxa de cotação em termos de escudos por unidade de moeda estrangeira. Política Monetária 1997-04-07 A teoria da paridade das taxas de juro diz que dois activos com as mesmas características de risco devem ter a mesma taxa de rendimento. Se isso não acontecer, os agentes económicos através da arbitragem igualarão as taxas de rentabilidade dos dois activos. Suponhamos dois títulos do Tesouro, um português e outro alemão. Ambos devem ter a mesma taxa de rentabilidade esperada, de forma que a seguinte relação de arbitragem se verifique: 1~+~i sub t~=~(~1 over{E sub t}~)~(~1~+~i sub t sup *~)~(~E sub {t~+~1} sup e~) # alignl~~~~~ ` ~~~~~ ~~~~~~~~~~~ Tx.juro portug. tx.câmbio Esc/DM em t tx.juro alemã tx.câmbio Esc/DM esperada em t + 1 Tome-se a expectativa sobre a taxa de câmbio fixa: E bar sup e: i~=~i sup *~+~~{E bar sup e~-~E} over E ou E~=~{E bar sup e} over {1~+~i~-~i sup *} o que implica uma relação negativa entre a taxa de câmbio e a taxa de juro doméstica. Assim, dada a expectativa da taxa de câmbio futura e dada a taxa de juro externa, um aumento na taxa de juro interna leva a uma diminuição da taxa de câmbio, ou seja, uma apreciação. Simetricamente, um decréscimo da taxa de juro interna leva a um aumento da taxa de câmbio ou a uma depreciação: Política Monetária 1997-04-07 Taxa juro, i A i = i* 7 Apreciação Relação paridade da taxa de juro (i*, •e ) E=• 6 Depreciação Esta relação pode ser aproximada por: i sub t~=~i sub t sup *~+~{E sub {t~+~1} sup e~-~E sub t} over E sub t # alignr ~~~~~ taxa esperada de depreciação da moeda nacional em relação à moeda estrangeira Mas como os activos não têm o mesmo risco, é necessário um “prémio de risco”, , que é o excesso de rendimento no activo externo para compensar o investidor pelo maior risco envolvido (dado que a taxa de câmbio futura não é conhecida). (~1~+~ ~)~=~[~(~1~+~i sub t sup *~)~{E sub {t~+~1} sup e~- E sub t} over E sub t~] ~/~(~1~+~i sub t~) Política Monetária 1997-04-07 Note-se que as estimações empíricas não só mostram que os prémios de risco são importantes, mas que também são bastante voláteis. Apesar de se dizer que não existe risco de crédito nos titulos públicos, isso só é verdade para os títulos emitidos em moeda nacional e em que o investidor é nacional.No caso de títulos dos Estados emitidos no mercado internacional (em moeda estrangeira) ou que envolvem investidores externos existe um “risco soberania”. Por exemplo, as obrigações emitidas pelo Estado Português em dólares têm um “risco soberano” ou “risco país” de cerca de 20 a 30 pontos base a mais do que as obrigações do Tesouro americano de prazos iguais. Por outro lado, existe também um “prémio de liquidez”, porque a proporção da dívida pública nas carteiras internacionais é muito reduzida em relação à das moedas dos países mais desenvolvidos. O que acabámos de ver é a relação da paridade da taxa de juro aberta. Ora os investidores têm possibilidade de se cobrir nos mercados a prazo contra possíveis flutuações, p.ex. cambiais. Suponhamos que F sub t é a taxa de câmbio forward eS sub t a taxa spot, então a relação de paridade coberta é: 1~+~i sub t~=~(~1~+~i sub t sup *~)~F sub t over S sub t ou i sub t~-~i sub t sup *~=~{F sub t~ -~S sub t } over S sub t que diz que em mercados eficientes o diferencial entre as taxas de juro internas e externas que favorece a moeda nacional, deve ser compensado por um prémio forward, o que torna atractivo comprar moeda estrangeira spot e vendê-la forward até se esgotar a arbitragem. Assim, numa “target zone”, sem controle de capitais e com mobilidade perfeita de capitais, o diferencial das taxas de juro deve igualar a depreciação esperada dentro da banda mais a taxa esperada de realinhamento. Notemos que a taxa esperada de realinhamento é igual ao produto de dois factores: (i) a probabilidade de realinhamento por unidade de tempo, e (ii) a dimensão esperada do realinhamento, se este ocorrer. Na prática, começa-se por estimar as taxas esperadas de depreciação “dentro da banda” através de uma regressão linear das taxas de câmbio futuras dentro da banda sobre a taxa de câmbio corrente e o “spread” das taxas de juro externas e internas, respectivas. A partir dos intervalos de confiança para as taxas de Política Monetária 1997-04-07 desvalorização esperadas dentro da banda, e por subtração para o total, é possível estimar intervalos de confiança para as taxas de realinhamenmto esperadas. Desta forma, através da análise das paridades das taxas de juro para diferentes prazos, é possível construir intervalos de confiança para a evolução futura das taxas de câmbio esperadas. Caso estes intervalos caiam dentro das bandas de flutuação estabelecidas em torno da paridade central então pode dizer-se que a paridade estabelecida é credível. Outra propriedade empírica verificada nas “target zones” é que a maior densidade nas distribuições das taxas de câmbio observadas verifica-se junto da paridade central. Esta propriedade resulta do facto de em adição às intervenções marginais que se verificam quando a taxa de câmbio se aproxima dos limites, a maioria das intervenções dos bancos centrais são “intra-marginais”, intervenções que pretendem defender um determinado valor ou pequeno intervalo dentro da banda, seguindo a política de “navegar-contra-o-vento”. Por isso, alguns economistas20 têm argumentado que, na prática é difícil distinguir o regime de “target zone” de um regime de “câmbios flexíveis controlados”, conhecidos na literatura por “managed float”. Figura A Figura B s s f f O modelo original de Krugman (1989) da “target zone” baseia-se na ideia de que a taxa de câmbio deve seguir de 20 Svensson (1994). Política Monetária 1997-04-07 perto os “fundamentals”. Para além deste factor está sujeita a choques instantâneos que seguem de perto uma “Brownian Motion”, ou seja, a taxa de câmbio em termos instantâneos segue um caminho aleatório com média nula e variância constante. É possível deduzir alguns princípios fundamentais de política cambial deste modelo. Primeiro, sabendo que a banda tem credibilidade imperfeita, situação que caracterizouo o escudo entre 1992 e 1995, não se verifica a chamada propriedade de “smooth pasting” (Figura A, onde f representam os “fundamentals” e s a taxa de câmbio spot), ou seja, quando a taxa de câmbio se aproxima das bandas aumenta significativamente a probabilidade de um ataque especulativo, pelo que o banco central tenta evitar através dos seus instrumentos esta situação. A actuação de política altera-se radicalmente com credibilidade perfeita (Figura B). Neste regime, quando a taxa de câmbio se aproxima das bandas a propriedade de “smooth pasting” assegura de que pequenas intervenções são suficientes para fazer regressar a taxa de câmbio ao interior da banda. Segundo, é evidente que existe uma grande assimetria entre a parte superior da banda em que a taxa de câmbio corrente está mais desvalorizada do que a taxa central e a parte inferior em que está mais apreciada, para o caso de credibilidade imperfeita. Daí que o banco central de um país nestas circunstâncias tente colocar a sua taxa de câmbio na parte em que se encontre relativamente apreciada, afim de não ser apelidada de “moeda fraca”. É evidente que à medida que aumenta a credibilidade da banda aumenta a simetria das sub-bandas. Portugal aderiu ao MTC em 6 de Abril de 1992, tendo-se mantido até Julho numa situação relativamente apreciada da banda, e com fortes influxos de capitais21. Nos meses de Verão verificou-se o enfraquecimento do escudo em virtude das crescentes tensões no seio do MTC, como da apreciável descida das taxas de juro nacioanis das OT- taxa fixa, o único veículo de aplicação acessível a não residentes. A partir de Julho a taxa de juro e a correspondente banda de flutuação passam a evoluir em sentidos opostos (Gráfico 2), o que implicou a redução rápida da credibilidade do escudo (Gráfico 3). Em Agosto de 1992 acentuaram-se as perturbações que deram origem à maior crise cambial do SME devido às dúvidas que se avolumaram sobre a concretização da UEM e às contradições da orientação da 21 O “hot money” que entrou em Portugal entre 1990 e 1992 estima-se em cerca de 10 biliões de dólares, induzido por um diferencial de rentabilidade francamente positivo nas aplicações em escudos relativamente a outras moedas. Os controles cambiais contra estes influxos levaram à persistência dum diferencial significativo entre taxas de juro domésticas e externas, entre Junho de 1990 e Maio de 1992, resultante da segmentação dos dois mercados. Os controles de capitais só vieram a ser abolidos em Dezembro de 1992. Política Monetária 1997-04-07 política económica em face da recessão europeia. Em meados de Setembro a lira e a libra eram forçadas pelos especuladores a abandonar o SME e a Espanha teve que realinhar. O Banco de Portugal teve que subir acentuadamente as taxas de juro e “apertar” os controles cambiais. Mesmo assim, desde Setembro a Novembro os indicadores da taxa de depreciação esperada e de horizonte de credibilidade indicavam uma desvalorização esperada entre 6 e 9% (C. Ferreira (1993)). No fim-de-semana de 21 de Novembro o escudo acompanha o realinhamento da peseta em 6%. Até Fevereiro de 1993 verifica-se uma melhoria dos indicadores de credibilidade. Porém, a partir de Abril acentua-se a especulação em torno de uma eventual desvalorização das moedas ibéricas, o que viria a concretizar-se a 13 de Maio com a peseta a realinhar em 8% e o escudo em 6,5%. Os indicadores cambiais vieram a melhorar progressivamente até Junho. Em Julho começa um novo ataque generalizado sobre quase todas as moedas do MTC, e em especial ao franco francês, que levou a uma perda de credibilidade generalizada, e que levou à decisão de alargar as bandas de flutuação para +/15% a 13 de Agosto de 1993. Estudos subsequentes (Ayuso, Perez-Jurado e Restoy (1995)) mostram que o escudo veio a verificar uma redução substancial do seu risco cambial. No primeiro semestre de 1994 voltam a verificar-se fortes pressões cambiais sobre o escudo devido a factores específicos e à saída massiça de investidores internacioanis dos investimentos em títulos da dívida nacioanis dos chamados “high yielders”. O Banco de Portugal consegui através de uma política combinada dos instrumentos de Bale-Nyborg resistir, tendo as tensões voltado a reduzir-se a partir do Outono. O único episódio relevante para a história cambial recente foi novamente o realinhamento pedido pela peseta em Março de 1995, que o escudo apenas acompanhou parcialmente, embora o escudo nunca tenha estado sujeito a nenhuma pressão cambial específica. A participação do escudo no MTC do SME pode ser dividida em dois períodos. O primeiro, de Abril de 1992 até Agosto de 1993, foi caracterizado pela existência de pressões de natureza especulativa, pela suspensão da participação da libra esterlina e da lira no MTC, e por realinhamentos das paridades centrais da peseta, do escudo e da libra irlandesa. Este período foi talvez o de maior turbulência da história do SME. Política Monetária 1997-04-07 O segundo período, após o alargamento das bandas em Agosto de 1993, caracteriza-se por uma estabilidade crescente. O comportamento do escudo em torno da sua paridade central face ao marco, bem como os diferenciais de taxas de juro de curto e de longo prazos são ilustrados no gráfico 1. Como se pode observar neste gráfico, até Agosto de 1993, a paridade central do escudo foi ajustada por duas vezes (em Novembro de 1992 e Maio de 1993) e o diferencial de curto prazo manteve-se relativamente elevado. Após Agosto de 1993, o comportamento da taxa de câmbio do escudo e dos diferenciais de taxas de juro de curto e de longo prazos foi caracterizado por uma crescente estabilidade, sugerindo um progressivo reforço da credibilidade da política monetária. A 6 de Março de 1995 foi decidido ajustar a paridade central do escudo em 3.5 por cento, em linha com as taxas de mercado prevalecentes desde Agosto de 1993. Esta decisão não comprometeu o objectivo de estabilidade cambial. Com efeito, o escudo permaneceu próximo da paridade central face ao marco. A partir da segunda metade de 1995, registou-se mesmo uma tendência de redução do diferencial de taxas de juro face ao marco. Para medir de forma mais rigorosa o aumento da estabilidade do escudo, calcularam-se medidas de dispersão da variação diária da taxa de câmbio do escudo em termos médios efectivos e face ao marco. Como se pode observar nos Gráficos 2 a 7, entre 1992 e 1996, assitiu-se a uma ininterrupta diminuição da volatilidade da taxa de câmbio do escudo. A utilização da taxa de câmbio como objectivo intermédio da política monetária implica a necessidade de defesa do escudo face a pressões cambiais. Num contexto de perfeita mobilidade de capitais, como acontece em Portugal desde Dezembro de 1992, essa defesa terá frequentemente consequências sobre as taxas de juro. Como se verifica nos gráficos 8 a 10, em 1992, as perturbações cambiais repercutiram-se significativamente no mercado monetário interbancário. Poateriormente, assistiu-se a uma redução tanto do nível como da volatilidade da taxa de juro. Em toda esta argumentação ficou claro que os “fundamentals” desempenham o papel central. Mas afinal o que são os “fundamentals”? Em teoria pura são inobserváveis. Nas teorias com preocupação mais empírica das “target zones” procuram-se especificar modelos da taxa de câmbio relativamente simples, geralmente do tipo monetário. Ou seja, os “fundamentals” resultam: (i) duma taxa de crescimento do crédito interno, ou oferta Política Monetária 1997-04-07 monetária, que é compatível com a estabilidade dos preços e equilibrio macroeconómico no médio a longo prazo, (ii) dum elevado nível de reservas em relação à base monetária. Segundo o Apêndice II, que apresenta uma investigação dos factores que influenciam a probabilidade de realinhamento entre os países da UE, existe uma certa dificuldade em captar através de estimação econométrica as variáveis que influenciam os “fundamentals”. Porém tanto os nossos resultados, como outros trabalhos conduzidos no FMI, indicam que o diferencial das taxas de inflação, a trajectória e o nível do déficit do sector público, assim como a taxa de desemprego, são algumas das variáveis relevantes. Um outro tipo de aproximação é aquele que tem sido seguido na prática dentro da “supervisão multilateral” do SME. A regra básica utilizada é de que a paridade central deve reflectir a taxa de câmbio de equilíbrio, e que só se deve proceder a realinhamentos quando houver alteração da taxa de equilíbrio. Apesar da grande dificuldade em estimar as taxas de câmbio de equilíbrio (Veja-se Williamson (1994)), estudos efectuadas para Portugal revelam que desde meados de 1993 que a taxa de câmbio estará próxima da taxa de equilíbrio22. Embora seja um conceito de equilíbrio geral dinâmico, e que se traduz em última análise no déficit da balança externa, não há dúvida que choques sobre as razões de troca, para além de factores como o controle de capiatis e diferenciais no crescimento da produtividade têm impacto sobre a taxa de câmbio de equilíbrio. Na análise anterior apenas se fez referência à banda de um país, mas é evidente que o SME é um sistema multilateral. Daí que alterações na paridade de uma moeda se façam sentir de uma forma mais ou menos intensa nas restantes paridades. Assim, é evidente que o banco central, não só em termos de impacto sobre a inflação com em termos de impacto sobre a economia real tem que também seguir o indicador da taxa de câmbio efectiva do escudo para os participantes do SME e para os principais parceiros comerciais. Foi esse o principal motivo pelo qual o escudo teve que realinhar em 1992 e 1993, para além do episódio mais isolado de 1994. Se o escudo não tivesse sido ajustadoentre 1992 e 1993, medidas que foram na altura fortemente criticadas por alguns economistas, a taxa de câmbio efectiva real teria apreciado 22 A. Mateus (1994- Banca) e A. Sampaio e Mello (1992). Política Monetária 1997-04-07 em cerca de 20 pontos percentuais, o que teria efeitos dramáticos sobre a competitividade da economia23. Também a evidência empírica e a análise mais recente confirma a hipótese de contágio nos ataques especulativos. Dada a longa história de inflação dos países do Sul da Europa é natural que os mercados vejam alguma sincronia nas taxas de câmbio da Itália, Espanha e Portugal. Porém, é de notar que nos anos mais recentes houve uma nítida diferenciação na evolução dos “fundamentals” bastante mais favorável da Espanha e de Portugal, e ainda com alguma diferenciação entre 1994 e 1996 a favor de Portugal. É possível construir indicadores sobre o grau de credibilidade de uma determinada banda de flutuação, segundo a metodologia acima referida. Um dos métodos é o diferencial de juro ajustado que que corresponde a ~m ~g sub t~=~ sub t sup m~-~E sub t~[~ x sub {t+m} ~não~realinha~]/~m t onde: sub t sup m~=~i sub t sup m~-~{i sup *} sub t sup m é o diferencial de juro, definido como a diferença entre a taxa de juro doméstica (~i sub t sup m~)e a taxa de juro estrangeira (~{i sup *} sub t sup m~) no momento t, respeitante a depósitos ou títulos com a mesma maturidade (~m~) e com risco de crédito equivalentes. E sub t representa uma expectativa condicionada pela informação disponível no momento t; E sub t~[~ x sub {t+m}~ ~não~realinha~]~/~m t representa a depreciação esperada dentro da banda condicionada pela não ocorrência dum realinhamento. Quando assume um valor positivo o diferencial de juro ajustado(~ m g sub t~) constitui uma aproximação à taxa de realinhamento esperada da paridade central do PTE/DEM. As estimativas para o escudo durante 1995 (Figura ) indicam um reforço continuado da credibilidade da taxa de câmbio do escudo. É, porém, a partir do segundo semestre de 1996 que a credibilidade atinge o valor mais elevado desde a entrada para o SME. Outro indicador importante para o mercado é o volume de reservas do Banco Central em relação à base monetária. Como se pode ver pela Figura ?? Depois do saída de “hot money” que se registou entre meados de 1992 e 1993 houve praticamente a estabilização das reservas, que permanecem ainda num valor elevado e que nos parece dissuasor de ataques especulativos. 4.5. Técnicas de estabilização da taxa de câmbio 23 Estes cálculos são feitos “cetris paribus”. O impacto não seria tão elevado se tomarmos em consideração efeitos directos e indirectos sobre preços internos.Pelos parâmetros que conhecemos da economia portuguesa tal efeito poderia traduzir-se numa redução do PIB no curto prazo da ordem dos 4 pontos percentuais e um aumento do desemprego em cerca de 2 pontos por 3 a 4 anos. Política Monetária 1997-04-07 As intervenções cambiais constituem, dum modo geral, a primeira resposta a perturbações na taxa de câmbio do escudo e um instrumento para suavizar as flutuações desta variável, impedindo oscilações excessivas que poderiam degenerar em problemas mais complexos pelo seu impacto sobre as expectativas do mercado e repectiva dinâmica. Estas intervenções são, por norma, esterilizadas, isto é, o seu impacto sobre a base monetária é neutralizado poe operações compensatórias, habitualmente sob a forma de variação no montante de liquidez cedida no mercado monetário doméstico, de tal modo que as condições monetárias (designadamente as taxas de juro) se mantém inalteradas. Assim, este tipo de actuação é basicamnete prosseguido quando o Banco pretende simplesmente suavizar perturbações passageiras sem alterar a postura da política. Por sua vez, mudanças das taxas de juro das operações do Banco de Portugal com o sistema bancário indicam normalmente alterações na postura da política monetária. Estas alterações podem integrar-se numa “ronda” de alterações por parte dos parceiros do arranjo cambial ou podem confinar-se a Portugal (ou a um subconjunto de países participantes no mecanismo cambial). Dado o papel de âncora desempenhado pelo marco no mecanismo cambial do Sistema Monetário Europeu, as “rondas” de alterações de taxas de juro são, em regra, desencadeadas por mudanças nas taxas alemãs. Perante uma mudança destas taxas, o Banco de portugal, à semelhança dos restantes participantes no mecanismo cambial, avalia a situação económica, financeira e monetária nacional (designadamente no domínio cambial) e decide em que grau acompanha o movimento das autoridades germânicas; naturalmente, uma alteração das taxas portuguesas em montante semelhante ao da alteração alemã significa uma opção por manter inalterada a postura da política monetária relativa; uma alteração diferenciada (incluindo, por exemplo, uma manutenção das taxas portuguesas) traduz-se numa modificação da política relativa. Por seu lado, as alterações unilaterais de taxas de juro por parte do Banco de Portugal traduzem-se sempre por alterações da política monetária relativa. No contexto da estratégia descrita, o elemento crucial para avaliar a necessidade duma alteração deste tipo é a evolução da taxa de câmbio (embora, como referido, o Banco proceda sempre a uma apreciação global da situação económica, monetária e financeira, recorrendo a um vasto conjunto de indicadores e de informação). Assim, o Banco procede a uma alteração unilateral das suas taxas de juro quando, por exemplo, se verificam pressões cambiais particularmente persistentes e/ou particularmente agudas, que tornam insuficiente o recurso a meras intervenções cambiais esterilizadas. Neste caso, o Banco normalmente não deixa de proceder a intervenções cambiais, mas não esteriliza estas inteiramente, impondo uma subida das taxas de juro. Política Monetária 1997-04-07 Na instrumentação da política monetária pelas taxas de juro, o Banco de Portugal utiliza, presentemente, três taxas principais. A primeira é a taxa de cedência em leilão, que representa o preço a que o banco cede a grande maioria dos fundos necessários no mercado monetário, por prazos variáveis (normalmente até ao final do período de contagem de reservas), e constitui o indicador mais importante para a determinação das taxas de juro de curto prazo neste mercado. Como o seu nome indica, esta taxa resulta dum leilão em que, por norma, o Banco anuncia a cedência duma determinada quantidade de fundos e recebe propostas dos bancos sobre quantidades pretendidas e respectivos preços (taxas de juro); perante essas propostas, o Banco decide qual a quantidade que coloca (a qual, eventualmente, pode ser nula), e satisfaz propostas até perfazer essa quantidade, começando pelas propostas com taxa mais elevada. A taxa mais baixa a que o Banco cede liquidez em leilão é a taxa de corte; embora o Banco não anuncie formalmente a taxa de corte (mas apenas a taxa média), ela torna-se conhecida no mercado e, em situação de estabilidade, os bancos tendem a situar as suas propostas neste nível e o Banco cede liquidez a este preço. A taxa de cedência de liquidez em leilão situa-se entre duas taxas de referência: a taxa de cedência automática e a taxa de absorção. A taxa de cedência automática diária constitui um limite indicativo superior para a taxa de cedência em leilão, sendo a taxa a que o Banco de Portugal disponibiliza liquidez overnight, num montante limitado e pré-definido banco a banco, a pedido destes. A taxa de absorção, por seu lado, é a taxa a que o Banco remunera liquidez que absorve do sistema bancária, e constitui um limite inferior para a taxa de cedência em leilão. Como referido acima, o Banco altera as suas taxas de juro quando pretende alterar a postura da política monetária. A alteração concreta a que o Banco procede depende das circunstâncias específicas, no quadro geral descrito atrás. Dum modo geral, a taxa de cedência em leilão é aquela que permite ajustamentos mais flexíveis e efectivos da política; alterações do “corredor” em que a taxa de leilão se situa (isto é, mudanças na taxa de cedência diária e/ou na taxa de absorção), por seu turno, sinalizam uma modificação mais marcada da intensidade da política. 5. Comparação com as formas de intervenção de outros bancos centrais. Os mecanismos e instrumentos de intervenção monetária diferem entre os países da UEM, embora se tenha claramente denotado uma convergência para um modelo comum nos últimos anos. Quase todos os países tentam manter as taxas dos mercados interbancários num intervalo apropriado através da realização de “repos” ou “reverse repos” todos os dias e com prazos que variam do dia até duas semanas, como intervenções regulares sobre a liquidez. As operações de “mercado aberto” puras ou de depósitos ou empréstimos não coletarizados a instituições financeiras é cada vez mais raro. O Banco de França ainda utuliza operações de Política Monetária 1997-04-07 “mercado aberto” para corrigir variações “estruturais da liquidez”. Vários bancos centrais, entre os quais Portugal, Finlândia, Alemanha, emitem também papel a curto prazo para absorver excessos de liquidez. Os prazos deste papel podem variar entre 1 dia a seis meses. O estabelecimento de um corredor para as taxas de juro tem-se tornado mais frequente. O “chão” é normalmente dado pela taxa de absorção regular (casos da Irlanda, Finlândia e Portugal), e que é preconizado como uma facilidade permanente pelo IME no contexto do Framework Report. A taxa máxima é determinada no caso do Bundesbank e do Banco da Áustria pela taxa “lombarda”, para empréstimos feitos a pedido da instituição financeira depois de ultrapassar a suia quota, e que comportam uma taxa de juro agravada. No caso português existe a “facilidade de emergência” para a determinação do “tecto”, embora com quotas bastante pequenas por instituição. No caso da Alemanha existem também operações de cedência de liquidez “atípicas”, realizadas geralmente a 3 meses, a uma taxa mais reduzida que os “repos”, à taxa de desconto, pelo qual o Bundesbank cede liquidez a pequenos bancos. Este tipo de operações continua a ser previsto no Framework Report. Os períodos de constituição de reservas vão desde o caso mais restrito de uma semana para Portugal, dez dias para a espanha até cerca de 1 mês para os bancos do Centro da Europa. Do tipo de leilões com taxa fixa ou por determinação em leilão é hoje mais seguido o segundo tipo. O primeiro é geralmente utilizado, e como o Banco de Portugal passou a utilizar desde Março de 1995, quando o banco central quere transmitir informação sobre a sua taxa aos mercados. É ainda de referir que alguns países utilizam swaps sobre o mercado cambial para regulação da liquidez, para além do impacto que possa ter sobre as expectativas das taxas de câmbio. 6. A Curva de Rendimentos e as Taxas Forward como Indicadores Monetários A curva de rendimentos (yield curve) é um instrumento priveligeado para orientar a política monetária. Conforme os inúmeros estudos de Svensson e outros têm mostrado, a partir da curva de rendimentos podem extrair-se taxas “forward” que podem ser utilizadas nas seguintes áreas: (i) como indicadores das expectativas de inflação e assim avaliar da credibilidade, por exemplo, de uma política desinflacionista, (ii) os “spreads” das taxas “forward” podem ser utilizados como indicadores das taxas de desvalorização esperada (em termos da paridade aberta), e (iii) como indicadores das expectativas de taxas de juro reais futuras. Vamos começar por debruçar-mo-nos sobre os dois primeiros indicadores. O Gráfico mostra as curvas de rendimento estimadas por N. Cassola e J. Luis (1996) do Banco de Portugal segundo o método de Nelson-Siegel e Svensson para o período de Política Monetária 1997-04-07 Agosto 1993 a Janeiro 199724. Entre 1993 e inícios de 1994 nota-se um movimento de translação que levou a uma redução das taxas em cerca de 2 pontos percentuais. As taxas longas chegaram a estar abaixo dos 10% em Março de 1994. Este fenómeno, que é comum a todos os “high yielders” europeus é estudado por Svensson (1994), o qual o considera como um resultado de uma pequena bolha especulativa. A partir daquela data a curva de rendimentos começa a deslocar-se para cima atingindo valores próximos dos 12,6% em finais de Fevereiro de 199525, passando a ter um andamento quase perfeitamente horizontal. Seguese um longo caminho de translação para baixo da curva de rendimentos. Em Janeiro de 1997 a curva tem uma inclinação bastante positiva, com as taxas de curto prazo já abaixo dos 6% e as de longo prazo em cerca de 8%. A primeira utilização que vamos fazer é a da estimação das expectativas de inflação. De facto, o alargamento das bandas de flutuação do SME vieram a acentuar não só a necessidade de dar mais importância ao quadro de referência fornecido pela taxa de inflação, como à necessidade de utilizar indicadores de mercado sobre as expectativas de inflação. Para passarmos da curva de rendimentos em taxas forward para as expectativas de inflação haverá que considerar dois factores. Por um lado, o prémio de liquidez associado com o alargamento do horizonte da curva. Estimações feitas para outros países indicam que geralmente este é pequeno, e é muitas vezes tomado como nulo (caso de Svensson (1994) para o caso da Suécia, e Anderson (1996) para o Reino Unido). No nosso caso considerados um prémio de 8 pontos base, que nos parece compatível com outros países. O outro factor são as taxas de juro reais. Não existem no caso português taxas de juro indexadas a um índice de preços como no caso do Reino Unido, Canadá e Nova Zelândia. À semelhança do que outros autores têm feito tomou-se o caso das taxas do Reino Unido como indicador. Note-se que este indicador tem variado entre 3 e 4% nos últimos anos, com um pico em 1994/9526. 24 É importante assinalar que investigações conduzidas por B. Adão e J. Luís (1997) conduziram à conclusão que que a teoria das expectativas se verifica para a curva de rendimentos em Portugal, pelo que as taxas de juro de curto prazo podem ser utilizadas para estimar as as taxas de juro de curto prazo futuras, e as taxas de juro de longo prazo são determinadas pelo nível corrente e pelas expectativas de evolução das taxas de juro de curto prazo implicitas na curva de rendimentos. Assim, o prémio de liquidez seria constante. 25 Este movimento de subida das taxas de juro foi originado, como sabemos, pela subida das taxas do FED em cerca de 1 ponto percentual ao longo de 1994 e que veio a ser magnificado nos “mercados emergentes” pelo problema da crise mexicana. Em Portugal houve ainda um factor específico que foi a deterioração dos fundamentals que ocorreu entre 1992 e 1993, tendo os resultados de estimações fortemente negativas do PIB, e de alargamento do déficit orçamental a invadir os mercados entre finais de 1993 e o primeiro trimestre de 1994. Como sabemos hoje, estes movimentos não foram tão acentuados como as estimativas publicadas na altura o diziam, e não saíam da média europeia. 26 Estas estimativas são corroboradas por um estudo recente de B. Adão e N. Cassola (1996), já aplicado aos dados portugueses das taxas de juro do mercado interbancário para o período de 1989 a 1996, embora utilizandoséries para o consumo privado de validade bastante duvidosa. O método utilizado é o de Campbell e outros, baseado no equilíbrio intertemporal do consumidor. As taxas calculadas situam-se entre 3,5 e 4%. Política Monetária 1997-04-07 No Quadro reportam-se os objectivos de inflação anunciados pelas Autoridades para os anos 1994-1997, as expectativas do mercado após esse anúncio e a taxa de inflação efectivamente verificada27. Notemos, em primeiro lugar, que tem havido no período analisado, ou seja, para 1994-1996 uma notável capacidade para controlar o objectivo de inflação, pois o valor observado esteve sempre dentro do intervalo anunciado. Porém, a credibilidade das metas de inflação foi sempre baixa. Os mercados sobre-estimaram sistematicamente a taxa de inflação (ou o prémio de risco era mais elevado). O maior desvio verificou-se em 1995 o que terá sido devido a uma subida, durante a primeira parte do ano, ao prémio de risco. Em 1997 dá-se a inversão das expectativas com uma previsão abaixo do próprio número anunciado pelas Autoridades. Expectativas Observada Anunciada do Mercado pelas Autoridades 1994 4,0-5,5 4,8-5,0 5,2 1995 3,5-4,5 8,0-8,5 4,1 1996 3,0-3,5 4,7-4,9 3,1 1997 2,0-2,25 1,3-1,5 n.d. Nota: expecativas no mês em que é anunciada a meta da inflação. Anos Outra questão interessante que podemos investigar é a seguinte: quando é que o mercado começou a acreditar que Portugal cumpriria o critério da inflação de Masatrich? O Quadro mostra que só em finais de Setembro de 1996 os mercados monetários começaram a acreditar que Portugal satisfaria o critério, ou seja, quase quatro anos depois de ter sido anunciado pelo Governo que o país iria aderir à união monetária. Quais os factores que explicam esta viragem em Setembro de 1996? Primeiro, seria necessário que os mercados atribuissem uma elevada probabilidade ao início da moeda única. Ora, o calendário só ficou clarificado no Conselho de Madrid, mas foi sobretudo com o anúncio do acordo sobre o Pacto de Estabilidade que essa probabilidade subiu substancialmente. Segundo, a probabilidade de Portugal entrar no primeiro grupo de países escolhidos. Por um lado, o Pacto deu maior probabilidade de participação aos países do Sul da Europa - todos estes registaram uma forte 27 Uma interpretação alternativa é supôr que a diferença entre as taxas reais ex-ante e as taxas de juro reais expost, estas últimas com base na inflação verificada, corresponde ao prémio de risco de inflação. Esta interpretação está associada ao famoso “problema do peso” quando a política anti-inflacionista das Autoridades não é suficientemente credível ou é vista como vigorando apenas temporariamente. Daí que mesmo que não se verifique, como os agentes económicos atribuem uma parte substancial da densidade da distribuição aos extremos de uma inflação elevada, persiste um elevado prémio de risco. Mesmo que as Autoridades persistam na política, o que acaba por originar erros de previsão persistentes dos agentes económicos. Política Monetária 1997-04-07 baixa dos “spreads” em relação ao DM28 -, e por outro lado, o caso português começou a aparecer como um caso destacado de cumprimento dos critérios. Este fenómeno confima que são necessários dois factores: por um lado a envolvente externa e, por outro, as medidas internas de política, para manter baixas as expectativas de inflação. O diferencial entre as taxas forward entre duas moedas pode ser interpretado como a taxa esperada de desvalorização entre si. Os Gráficos e apresentam as taxas forward para Portugal e Alemanha (o primeiro taxas a 1 ano e o segundo a 6 meses). Conforme é possível observar em finais de Fevereiro de 1995, o spread entre as taxas portuguesas e alemãs variava entre 5 e 6 pontos percentuais nos primeiros anos até cerca de 4 nos prazos mais longos. Em Abril de 1996 os spreads apenas tinham caido pouco mais de 1 ponto percentual no curto prazo, mas nos prazos mais longos os spreads aproximavam-se dos 2 pontos percentuais. É sobretudo em finais de 1996 e inícios de 1997 que se dá uma forte redução dos spreads. Nos prazos mais longos atingem valores próximos do 1 ponto percentual e até 1 ano e meio entre 2 e 3 pontos percentuais. É interessante verificar a elevada racionalidade dos mercados. É também em finais de Setembro de 1996 que o critério da taxa de juro a longo prazo passa a ser satisfeito por Portugal, quando os spreads a 10 anos caiem para os 2 pontos percentuais. Assim, quando os mercados passaram a acreditar na satisfação do critério da inflação, simultâneamente passaram a acreditar na satisfação do citério da taxa de juro. 6. Deverá a economia real ser integrada nos objectivos de política monetária? Embora haja evidência de que a política monetária apenas pode afectar sistematicamente no médio e longo prazos as variáveis nominais, existe alguma corroboração empírica de que a política monetária tem efeitos no curto prazo sobre as variáveis reais tais como a produção e o emprego. Por conseguinte, embora a política monetária possa estabilizar ou destabilizar as flutuações no curto prazo do emprego e produção, não pode sistematicamente afectar o emprego e PIB médios no longo prazo. Este facto não é um argumento contra a estabilidade dos preços como o objectivo da política monetária. Mas, pelo contrário, apenas um objectivo credível de estabilidade dos preços pode dar eficácia à política monetária para estabilizar as flutuações económicas no curto prazo. Isto por duas ordens de razões. Primeiro, uma política de estabilidade dos preços implica uma estabilização automática dos choques da procura agregada. Um aumento da procura agregada que leve a pressões inflacionistas devido a ter ultrapassado a capacidade produtiva será contrabalançada por uma contração monetária (devido ao impacto que tal situação teria sobre as expectativas de 28 Porque segundo alguns economistas o Pacto lançava as bases do euro como moeda forte e seria um contrapeso à entrada de moedas com histórias recentes de elevada inflação. Política Monetária 1997-04-07 desvalorização). Simultaneamente uma redução da procura agregada em relação à capacidade produtiva que origine uma redução substancial da inflação em relação aos parceiros comerciais será contrabalançada por uma expansão da liquidez primária e redução de diferenciais de taxas de juro (devido ao impacto que tal situação teria sobre as expectativas de apreciação da moeda), o que levaria também à estabilização económica. Em segundo lugar, é compreensível que a credibilidade acumulada por um banco central, no longo prazo, de manutenção da estabilidade dos preços, dê maior capacidade de actuação ao banco para estabilizar a produção no curto prazo29. Sem essa credibilidade acumulada no longo prazo, uma expansão monetária pode ser interpretada, no curto prazo, como o início de um período de prolongada expansão monetária. Por conseguinte pode resultar num aumento das expectativas inflacionistas e aumento das taxas de juro nos prazos mais longos, preços e salários. Tal alteração de expectativas levaria necessariamente à anulação do estímulo sobre a economia e fazê-la cair numa fase de “stagflation” (recessão com inflação). No caso do banco ter acumulado credibilidade no longo prazo a expansão não levaria a alterações de expectativas inflacionistas e aos consequentes efeitos negativos daí resultantes. Um dos modelos de equilibrio geral que envolveu maior investimento de recursos e que já está há mais tempo a ser utilizado na política monetária é o modelo QPM do Banco do Canada (Longworth, D. E C. Freedman (1995)). Este modelo é interessante porque não só tem um mecanismo de ajustamento dos fluxos aos stocks, uma função consumo tipo Blanchard, como tem uma especificação de expectativas racionais. Como é que a economia reage a um choque positivo da procura agregada? No curto prazo sobe a produção, o que origia o aparecimento de pressões de excesso de procura e leva à inflação em termos de preços e salários a acelerar. Dado que existe alguma persistência nas expectativas isto significa que as expectativas de inflação seis a sete trimestres à frent sobem ainda mais. Em resposta o spread entre as taxas de juro de curto e longo prazos sobe através de um aumento das taxas de juro de curto prazo no mercado. Esta subida leva a uma apreciação da moeda nacional (via efeito de “overshooting” a la Dornbusch). O endurecimento das condições monetárias leva a uma redução da procura agregada, o que eventualmente provoca a sua baixa em relação à trajectória de control e leva a inflação à trajectória pré-progrmada. Esta evolução, com alguma possívl “ajuda da política monetária” leva mais tarde ou mais cedo a que as taxas de juro regressem aos seus valores iniciais. Um choque positivo sobre os preços tem os mesmos efeitos a partir da subida das expectativas inflacionistas. 29 Veja-se Bernanke e Mishkin (1992) sobre evidência empírica nesta matéria. Política Monetária 1997-04-07 É bem conhecido o papel fundamental que as alterações de taxas de juro têm sobre as flutuções económicas. A subida das taxas de juro de curto prazo em períodos de sobreutilização da capacidade produtiva ou de pleno emprego é fundamental para conduzir a economia a uma situação de equilíbrio económico e “quebrar” as expectativas e tensões inflacionistas. Por outro lado, a queda das taxas de juro, mais rapidamente as de longo e depois as de curto prazo - isto é forte inclinação positiva na curva de rendimentos - na fase que precede a retoma económica é um forte contributo para a expansão da procura (em particular investimento e consumo de bens duradouros). Por conseguinte, é evidente que, na prática, o prosseguimento de uma regra monetária tem que envolver tanto elementos da inflação como da taxa de desemprego ou de utilização da capacidade produtiva. Recentemente, J. Taylor (1993) descobriu que o comportamento do FED se podia aproximar pela seguinte “regra monetária”, hoje largamente conhecida como a “regra de Taylor”30. Nesta regra o FED determinaria a taxa dos mercados interbancários, r, (federal funds rate) através da seguinte equação: onde p é a taxa de inflação e y é a r = p + 0,5y + 0,5(p-2) + 2 percentagem de desvio do PIB real de um nível de objectivo. Assim, a taxa de juro do FED sobe se simultaneamente a inflação subir acima dos 2% anuais e o nível do PIB estiver acima do valor considerado de pleno emprego. Assim, se tanto a inflação como o PIB estiverem aos níveis planeados a taxa de juro nominal do FED (curto prazo) é de 4%, e a real de 2%, o que está próximo dos 2,2% que é considerado como a txa de crescimento económico de longo prazo. Note-se que esta regra monetária está bastante próxima das formuladas teoricamente em que o nível de bem-estar é considerado em termos do desvio da taxa de inflação nula e da taxa de desemprego natural. O que é surpreendente é que uma expressão tão simples consiga captar teorias tão complexas e ajustar-se aos dados empíricos observados nos EUA entre 1987 e 1992. A teoria da moderna política económica chama a importância para uma orientação que tem sido largamente referida na recente discussão do desemprego. Será mais eficiente que a sociedade ponha o ónus do prosseguimento do objectivo de emprego nas políticas estruturais que permitam aumentar a eficiência do mercado de trabalho e assim atingir um nível de emprego mais elevado no médio e longo prazo, e desta forma, delegar com menor ênfase o objectivo do emprego para o banco central. Existirá assim uma oposição entre o estatuto do Banco Central Europeu e, por exemplo, o estatuto do FED? Svensson (??) Tem chamado insistentemente a atenção para 30 Este tipo de regra também parece representar o comportamento do Bundesbank (Ver ...). M. King (199?) Prova que esta regra representa uma classe bastante vasta de comportamentos possíveis. Política Monetária 1997-04-07 que de facto não existe essa oposição. A estabilidade de preços implica não só que os preços não devem subir mas também que os preços não devem baixar. A teoria económica, bem assim como as experiências históricas31 mostram amplamente os perigos de uma deflação. De facto, a descida continuada de preços não só provoca uma subida dos salários reais que em situação de quebra de procura agregada pode ser desastrosa pela perda de competitividade que provoca, em face de rigidez na descida dos salários nominais, bem assim como uma subida acentuada das taxas de juro reais32. Assim, partindo duma situação de equilíbrio em torno da txa de desemprego natural uma subida persistente da taxa de desemprego pode provocar uma deflação. Ora, como a política monetária deve evitar a inflação como igual peso como a inflação daí que se deva incluir, sob o ponto de vista teórico, também o termo referente à taxa de desemprego na função objectivo da política macroeconómica. 6. O mercado de liquidez primária em Portugal é estruturalmente excedentário . No período de 1975 a finais dos anos 90 verificaram-se não só déficits extraordinariamente elevados, como uma grande parte dos déficits foi financiado por recurso ao aumento da base monetária. O Gráfico apresenta a evolução dos déficts para aquele período. O volume acumulado da base monetária criada pelo financiamento do Estado só naquele período estima-se entre 1,6 a 2,5 mil milhões de contos, caso consideremos apenas a colocação primária de títulos no Banco de portugal ou o crédito líquido do sector bancário ao SPA. O impacto sobre a inflação é amplamente conhecido. Contudo, o que para nós é hoje mais relevante é que este enorme montante de liquidez primária excedentária que se acumulou no sistema bancário, criou logo desde o início da política de desinflação, um enorme desafio ao Banco de Portugal. Havia que manter esterelizado este excesso de liquidez para poder prosseguir uma política de estabilidade dos preços. Várias operações monetárias estruturais foram efectuadas. Entre 1990 e 1991 a chamada “grande operação de secagem de liquidez” transformou os depósitos obrigatórios dos bancos no banco central em títulos da dívida pública que estavam no activo do balanço do Banco de Portugal. O total de títulos emitidos pelo Tesouro para esta operação em Dezembro de 1990 e em Março de 1991 ascendeu a 1074 milhões de contos, o que alargava a base de títulos para os bancos poderem realizar operações de repo com o Banco de Portugal. Por outro lado, fixava-se um coeficiente de reservas de caixa de 17% em que cerca de um terço não era remunerado e o restante era remunerado a uma taxa próxima das taxas de mercado. Como este coeficiente de reservas de caixa representava, por um lado, um valor enrmemente elevado em relação aos cerca de 2% prevalecentes no resto da UE, e por outro 31 O caso recente do Japão aí está a ilustrar este facto. 32 Assim, apesar das taxas directoras do banco central se poderem aproximar de zero, pode ser que mesmo assim a taxa de juro real ainda seja elevada para estimular a procura agregada em situação de recessão. Política Monetária 1997-04-07 lado, havia que reduzir progressivamente o seu custo nos custos de intermediação dos bancos, aquele coeficiente foi reduzido para 2% em finais de 1994. Para esterelizar o excedente de liquidez foram emitidos Títulos de Depósito que estão a ser reembolsados num período de 10 anos, mas com a particularidade de os títulos com remuneração nula que substituiram a parte das reservas não remenurada serem reembolsados em três anos. Outro problema criado pelo excesso de liquidez é o desequilíbrio estrutural no balanço e na conta de resultados do Banco de Portugal, pois tem que remunerar os títulos de depósito (passivos) e não pode obter rentabilidade de uma parte importante das reservas de ouro (activos). O excedente estrutural de liquidez voltou a aparecer em finais de 1996 o que obrigou o Banco de Portugal a alterar a sua forma de intervenção nos mercados, passando a emitir Títulos de Intervenção Monetária (TIMs) a prazos de 4 e 9 semanas com o fim de absorver ocasionalmente os excessos de liquidez, passando a taxa de absorção a ser a taxa directora relevante para o mercado de fundos interbancários. 7. O conflito de objectivos da política económica e a necessidade de coerência do quadro macroeconómico É bem conhecido que no período de 1975 até ao presente o Sector Público Administrativo gerou enormes déficits, que levaram a uma subida do rácio da dívida pública em relação ao PIB de cerca de 17% em 1974 a 70% em 199533. Do ponto de vista teórico sabemos que o aumento do déficit do sector público provoca no curto prazo um aumento da taxa de juro, um aumento da procura agregada e um aumento do nível de preços, podendo provocar uma depreciação real. Assim, o déficit só pode provocar um aumento do nível dos preços, dependendo da situação da economia em relação ao PIB potencial, e das elasticidades relativas da procura e oferta agregadas, mas não pode sustentar uma subida continuada do nível de preços, ou seja, a inflação. Esta análise sofre, porém uma importante qualificação que tem a ver com a forma de financiamento do déficit. Se o déficit for financiado por um aumento da base monetária, como uma subida do déficit provoca uma aceleração do crescimento do stock de moeda então teremos uma subida da inflação. Vimos, acima que este factor esteve por detrás da inflação até meados dos anos 80. Na segunda metade da década houve um esforço notável de desenvolvimento dos mercados de títulos de dívida pública, muitas vezes à custa da oferta de bastante boas condições de remuneração, e com indexação frequente, com vista a tornar maior 33 Valor antes da recente revisão pelo Eurostat. Política Monetária 1997-04-07 a procura destes activos pelos agentes económicos. sobretudo a partir de 1986 e o de Ots a partir de 1993. O mercado de Bts desenvolveu-se Isto não quere dizer que o financiamento do déficit através do aumento da dívida pública não seja inócuo. O impacto virá agora sobretudo na subida das taxas de juro reais no médio prazo, redução do nível de actividade e possível crowding-out do investimento privado. Com a exclusão da possibilidade de monetarização dos déficits do Estado pode questionar-se se o déficit público tem qualquer impacto sobre a inflação ou sobre a estabilidade cambial. Modelo de Sargent-Wallace. Um primeiro problema que surge no domínio da coordenação da política monetária e orçamental é o conhecido problema do “policy mix” em economias abertas. Como já várias vezes o defendemos desde 1992, o processo de desinflação é tanto mais custoso em termos de quebra do investimento e aumento de desemprego quanto for assente numa política monetária muito restritiva para compensar um elevado déficit orçamental. As elevadas taxas de juro reais implicarão mais tarde ou mais cedo uma apreciação real da moeda e perda de competitividade da economia, o que pelo efeito de “histerisis” pode deixar marcas profundas no aparelho produtivo do país. Este tipo de política foi característica dos EUA na primeira metade dos anos 80, na UE nos primeiros anos da década de 90, e em Portugal foi bem visível entre 1989 e 199434. Daqui resulta um “aparente conflito” entre a política orçamental que pretende taxas de juro mais baixas para poder reduzir o custo de endividamento do Estado, e por essa via vir a reduzir o déficit, e a postura da política monetária que perante o déficit mais elevado tem que endurecer a política monetária para poder manter a estabilidade cambial e assim a estabilidade dos preços. Não se pode, pois, enter a “coordenação” de políticas no sentido tradicional de acomodação da política monetária ao financiamento do déficit. Antes pelo contrário, o que as inúmeras experiências falhadas de “fixação de taxas de câmbio” na América Latina têm demonstrado é que ambas as políticas se devem inscrever num conjunto de objectivos macroeconómicos de estabilidade dos preços e crescimento, tal como ele foi acima 34 No caso português, para além do problema do “policy mix” verificou-se também o chamado “problema de Walters” entre 1992 e 1994. Para manter a taxa de câmbio fixa, e com falta de credibilidade do banco central, este foi obrigado a manter taxas de juro reais médias elevadas, em período de recessão. Os spreads mais elevados são o resultado do dilema de política que é percebido pelos agentes económicos. O dilema é o seguinte: para reactivar a economia o banco deveria reduzir a s taxas de juro reais, mas isso implicaria deixar desvalorizar, o que implica uma subida do prémio de desvalorização. E quanto maior é o prémio de desvalorização maior incentivo existe para as Autoridades acabarem por abandonar a política de estabilidade cambial. Política Monetária 1997-04-07 explicitado. Quando os agentes económicos deixam de receber sinais claros dessa orientação de política económica começam a surgir os receios de um “impulso inflacionista”, o que origina a perda de credibilidade e a subida imediata dos prémios de risco da economia. Por último, não podemos deixar de referir que a política monetária tem uma capacidade muito limitada para prosseguir outros objectivos que não sejam a estabilidade dos preços. Não se podem prosseguir políticas estruturais com a política monetária. Está errado pressupôr que através da política de taxas de juro ou de câmbio se pode estimular a oferta agregada, ou acelarar a expansão da capacidade produtiva de um país no longo prazo. O crescimento potencial de uma economia depende do ritmo de acumulação do capital humano e físico e do esforço de progresso técnico empreendido. Existem duas áreas em que é importante a coordenação entre o Banco Central e o Tesouro. A primeira refere-se à gestão da dívida pública. Por exemplo, a divisão do financiamento entre interno e externo. O recurso ao endividamento externo cria liquidez, enquanto que o financiamento do déficit por dívida interna não tem efeito sobre a liquidez. Daí que em períodos de excesso de liquidez haja necessidade ou de absorção adicional pelo banco central, o que implica custos acrescidos no balanço do Banco Central. Outras vezes o Tesouro pode contrair dívida externa para alimentar as necessidades de divisas do Banco Central (é o caso da Dinamarca). A outra é a necessidade de uma gestão integrada de dívida pública e reservas. Qual o nível óptimo de endividamento externo e interno, qual a composição óptima por prazos e por moedas. São problemas que só se podem responder eficientemente no quadro de uma gestão de carteira óptima das Autoridades Monetárias que detém as reservas do país em ouro e divisas e por outro lado realizam o endividamento público. Infelizmente esta é uma área onde o progresso é pouco, não só do ponto de vista teórico como da sua implementação prática, tantas vezes por razões institucionais. E esta observação aplica-se à grande maioria das economias actuais. É claro que a óptica de cada uma das instituições é diferente pelo que pode haver conflitos no curto prazo: o Tesouro pretende minimizar o custo do financiamento para o Estado, enquanto que o Banco Central pretende manter a estabilidade cambial que pode implicar taxas de juro mais elevadas. Reconhecidas as potencialidades e limitações da política monetária numa pequena economia aberta, não deixam de ser importantes as questões relacionadas com as restantes políticas anti-cíclicas, e em especial da política orçamental. Embora o assunto extravase largamente o objectivo deste trabalho não podemos deixar de referir que também neste domínio é possível definir regras de política concretas. Uma das mais importantes é a Política Monetária 1997-04-07 actuação dos estabilizadores automáticos como política anti-cíclica. Esta regra evidentemente que definida num contexto de equilíbrio das finanças no longo prazo é hoje reconhecida mesmo por muitos economistas da escola neoclássica, mesmo que seja como regra de “tax smoothing”, quer dizer que evita fortes flutuações nas taxas de imposto, gerando assim “deadwight losses” devidas a excessivas flutuações económicas. Outra regra importante acaba de ser consagrada no Pacto de Estabilidade da UE que consagra o equilíbrio ao longo do ciclo das contas públicas. 8. Previsão da inflação e mecanismo dos preços Existe em Portugal já uma certa tradição na análise de modelos econométricos dos determinantes da inflação. Já em 1977 o autor publicava o primeiro estudo em Portugal sobre este tema35onde se realçava a importância dos preços externos, e em particular ad política cambial para a determinação da inflação. Contudo, os enormes desequilíbrios macroeconómicos, e em geral o persistente e crescente déficit externo que dominou a economia portuguesa até 1984 levaram à adopção do “crawling-peg” como regime cambial combinado com o controle administrativo do crédito introduzido pelos programas de estabilização do FMI. Um estudo recente de C. Robalo (1995) volta a confirmar a importância da estabilidade cambial na estabilidade dos preços. Utilizando a técnica da cointegração, este autor demonstra que a taxa de inflação no equilíbrio de longo prazo é uma média ponderada de 72% do crescimento dos salários e 29% do crescimento dos preços de importação, o que dá aproximadamente uma soma de um dos coeficientes. Num modelo com “correcção de erro” tipo Engle-Granger as elasticidades de longo prazo daquelas variáveis são de 0,64 e 0,36, respectivamente. Também confirma a inexistência de “ilusão monetária” por parte dos trabalhadores, no longo prazo. Na simulação de um modelo de ajustamento do impacto de uma desvalorização de 5% verifica-se um impacto de cerca de um terço na taxa de inflação no decorrer do próprio ano. Embora fosse de esperar um impacto mais rápido sobre a inflação, que se traduz num “pass trough” de 80% ao fim de 5 anos, o efeito de ausência de ilusão monetária acaba por se reflectir 1 por 1 na subida dos preços internos. O nosso modelo preferido de inflação, desenvolvido no Apêndice III, baseia-se também na estimação de uma relação de cointegração e do respectivo processo de ajustamento. Porém, partimos da decomposição dos preços em bens transacionáveis e não transacionáveis: PT ^ PNT ====> Pc 35 Veja-se A. Mateus (1977). Política Monetária 1997-04-07 Pc* ====> PT W ^ PT ^ d =====> PNT os preços dos bens transacionáveis são sobretudo determinados pelos preços internacionais, e em especial, pelos preços dos bens de consumo importados. Os preços dos bens não transacionáveis são determinados pelos salários, pelos preços dos inputs transacionáveis e pelas condições de excesso de procura. Para completar o modelo podemos também especificar um modelo para a determinação dos salários através dos preços e da taxa de desemprego. O modelo é estima sob a forma de sistema pelo método de Johansen. Este método, baseado no princípio da máxima verosimilhança é francamente superior ao método de dois passos de Engle-Granger que tem sido tradicionalmente utilizado entre nós. Também é fundamental para a validade do modelo estudar a relação de causalidade entre as variáveis, sobretudo entre os salários e preços, o que se faz utilizando a metodologia de Granger. 9. Canais de transmissão da política monetária Este é um dos temas mais importantes da política monetária e que preocupa todos os responsáveis de bancos centrais. Vamos nesta secção estudar apenas os efeitos próximos da política monetária, reservando para um trabalho posterior uma análise dos restantes impactos. Nos modelos macroeconómicos tradicionais, os canais de transmissão via taxas de juro, da política monetária podem ser decompostos nas seguintes fases: Taxas directoras do BP ==> Taxas juro longo prazo ==> Procura Agregada ==> ==> Taxa desemprego ==> Taxa inflação A alteração das taxas directoras (seja a taxa de cedência regular ou repo, ou taxa de absorção regular, ou outras taxas que mudam menos frequentemente) repercutem-se com maior ou menor intensidade, e com lags que podem também variar sobre as taxas de juro de mercado no longo prazo. Este impacto é geralmente observado através de modificações no andamento e inclinação da curva de rendimentos. É importante referir que não são as taxas de muito curto prazo que têm um impacto macroeconómico, mas sim as taxas de prazos médios a longos. Pode, pois, induzir em erro atribuir demasiada importância à porção mais curta da curva. A Política Monetária 1997-04-07 experiência entre países mais desenvolvidos, e que também se parece confirmar em Portugal36 é que existe uma grande incerteza sobre este impacto, e que a formação de expectativas sobre taxas futuras depende não só da credibilidade do banco central como de outras políticas macroeconómicas. Outra ligação que oferece um elevado grau de incerteza é o impacto das taxas de longo prazo sobre a procura agregada. As componentes da procura que mostram maior influência da taxa de juro são o investimento das empresas e em casas de habitação assim como o consumo de bens duradouros. Existe, contudo, alguma controvérsia sobre as respectivas elasticidades, apesar de muitos anos de investigação nos EUA e nalguns países europeus. A partir da estimação do impacto na procura agregada é possível estimar a variação do desemprego através da lei de Okun, que tanto no caso português como na generalidade dos países apresenta uma certa regularidade. Finalmente, a partir da taxa de desemprego pode estimar-se através da curva de Philips o impacto sobre a taxa de inflação. Também esta curva, apesar das profundas transformações teóricas e econométricas que sofreu apresenta nalgumas economias uma certa regularidade na sua utilização para a estimação de efeitos. Em Portugal também começa a acumular-se alguma experiência neste domínio. Comecemos, pois, pelo impacto das taxas directoras do banco central nas que lhe estão mais próximas, ou seja, sobre as taxas do mercado monetário interbancário de curto prazo e daí a sua propagação às taxas de médio prazo do crédito e depósitos. O período de finais de 1991 até ao presente foi caracterizado por uma significativa redução das taxas de juro. Desde finais de 1991 até Dezembro de 1995, as taxas de juro de depósitos e crédito bancário desceram entre 8 e 10 pontos percentuais. O diferencial entre as taxas de juro do MMI e as taxas de juro do sistema bancário mantiveram-se relativamente estáveis ao longo do período considerado. No caso das taxas activas é de referir o aumento do seu diferencial em 1993, o que terá sido motivado pelos desfasamentos associados à significativa descida das taxas de juro do MMI e pelo aumento do prémio de risco das empresas em virtude do abrandamento da actividade económica. Atendendo ao objectivo de estimar a velocidade com que as taxas do MMI se transmitem às taxas de juro das operações activas e passivas do sistema bancário, admitiu-se um modelo econométrico de ajustamento parcial37 . 36 Em Portugal a experiência com a curva de rendimentos é ainda muito recente. Lembremo-nos que só a partir de 1993 é que se pode afirmar que passou a existir uma curva de rendimentos com características próximas dos mercados mais evoluidos. 37 O modelo utilizado foi o seguinte: r sub t~=~ ~r sub { t-1 } ~+~ ~(~r sub t sup *~-~r sub { t-1 } ~) Política Monetária 1997-04-07 Quanto ao tipo de taxa de juro, existe evidência de que as taxas de juro dos empréstimos e outros créditos e as taxas de juro dos depósitos a prazo de 91 a 180 dias se ajustam mais rapidamente do que as taxas de juro da carteira comercial. Com efeito, metade do ajustamento das taxas de juro da carteira comercial é efectuado em cerca de 9 meses, enqunato nas duas outras taxas esse valor é de apenas 2 meses. Este resultado poderá estar relacionado com o facto das operações da carteira comercial terem subjacente um maior risco de crédito e estarem sujeitas a uma menor concorrência por parte de fontes de financiamento alternativas. 10. Conclusão A fase de transição para a UEM O funcionamento do futuro sistema dos bancos centrais europeu onde r representa tanto as taxas de juro activas como as passivas. Em cada período, as taxas de juro ajustam uma fracção da diferença entre o seu valor no período anterior e o seu nível óptimo. O parâmetro estabelece a velocidade desse ajustamento ( = 0 no caso de não existir qualquer ajustamento; = 1 quando o ajustamento for instantâneo). Adicionalmente, o modelo admite que o nível óptimo dessas taxas de juro está relacionado com a taxa prevalecente no MMI de acordo com a seguinte expressão: r sub t sup *~=~ ~+~ ~i sub t A hipótese de as alterações das taxas de juro do mercado monetário se transmitirem totalmente às taxas de juro das operações activas e passivas corresponde a ser igual a 1. Com base nos testes econométricos efectuados, esta hipótese não é rejeitada. Este resultado é, aliás, corroborado pelo primeiro gráfico apresentado , o qual sugere a estacionaridade dos diferenciais das taxas activas e passivas em relação às taxas do MMI. Política Monetária 1997-04-07 REFERÊNCIAS Adão, B. E N. Cassola (1996), Estimação das Taxas de Juro Reais Ex-ante: uma aplicação a Portugal, Boletim económico, Dezembro Adão, B. E J. Luís (1997), Teste da teoria das Expectativas para a Curva de Rendimentos de Portugal, Boletim Económico, Banco de Portugal, Março Anderson, N., e outros (1996), Estimating and Interpreting the Yield Curve, J. Wiley Barro, R. E D. Gordon (1993), Rules, discretion, and reputation in a model of monetary policy, Journal of Monetary economics, 12, 101-20 Bernanke e Mishkin (1992) Cassola, N. e J. Luis, The Term Structure of Interest Rates, Working Paper 17-96, Banco de Portugal Cukierman, A. (1992), Central Bank Strategy, Credibility, and Independence, MIT Press Giavazzi e Giovannini (1989) Marques, Carlos M. e M. C. 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