UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA DISSERTAÇÃO Densidade de plantio e conservação pós colheita de cultivares de morangueiro em sistema de produção fora do solo. MARINA COSTA ALVES Pelotas, 2015 1 MARINA COSTA ALVES Densidade de plantio e conservação pós colheita de cultivares de morangueiro em sistema de produção fora do solo. Dissertação apresentada ao Programa de Pós graduação em Agronomia, da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de mestre em Ciências (área de conhecimento: Fruticultura Temperado. Orientador:Prof. Dr.Luis Eduardo Corrêa Antunes Co- Orientador: Dr. Ivan dos Santos Pereira Pelotas, 2015 de Clima 2 BANCA EXAMINADORA Dra. Roberta Marins Peil Professora da Universidade Federal de Pelotas PhD. Márcia Vizzotto Pesquisadora Embrapa Clima Temperado Dr. Luciano Picolotto Professor da Universidade Federal de Santa Catarina 3 DEDICO Dedico à minha mãe Rosângela Costa Alves, pelo amor incondicional durante toda à minha vida. 4 AGRADECIMENTOS Na vida não conquistamos nada sozinhos, sempre precisamos de outras pessoas para alcançar os nossos objetivos, por isso não poderia de deixar de agradecer e mencionar o nome de algumas que foram importantes. Agradeço: À Deus, por não deixar eu me abalar em nenhum momento. Aos meus pais, Sergio e Rosângela, agradeço, o apoio durante toda a minha vida, por terem me fornecido tudo que sempre necessitei: saúde, educação e bons exemplos. Com certeza foram meus exemplos, e sem o incentivo de vocês eu não teria conseguido. Ao meu orientador Luis Eduardo Antunes, que além da admiração como profissional, tem também a minha admiração pela pessoa que é. Agradeço pelo carinho, dedicação, conselhos e a disponibilidade em me orientar, me apoiando em tudo que precisei na execução do meu trabalho. Ao meu co-orientador Ivan dos Santos Pereira, pela paciência, dedicação, pelos conhecimentos ofertados e principalmente pela boa vontade, na qual esteve disponível em todos os momentos que necessitei,me orientando e tirando todas as minhas duvidas. Ao Pesquisador da Embrapa Sérgio Delmar dos Anjos pela confiança de ceder sua propriedade para que eu pudesse realizar meu trabalho. Aos colegas da Embrapa, Michel Aldrighi, Gerson Vignolo, Matheus Silva, Daniela Hohn, Priscila Marchi, Luciano Picolotto pela parceria, apoio e ajuda na execução dos meus experimentos. Ao Dr. Rufino Fernando Cantillano, pela disponibilidade em me orientar na montagem e execução de um dos experimentos. 5 Aos professores da Universidade Federal de Pelotas, e ao Programa de Pósgraduação em Agronomia pela oportunidade da minha formação. Aos membros da minha banca examinadora. A CAPES, pela concessão da minha bolsa de mestrado e CNPq, pelo financiamento do projeto de pesquisa. As minhas amigas Priscila Rossatto, Luisa Maurell, Aline Colman, Auxiliadora Bittencourt que torceram por mim e principalmente pelo apoio que sempre me deram me deixando mais forte para superar meus desafios. Ao meu namorado Matheus Merheb, que foi muito importante na etapa final do meu trabalho, me incentivando e tornando meus dias mais felizes. Obrigada por me aturar nesse momento. Enfim agradeço a todos, que de alguma forma estiveram presentes e participaram na minha formação, compartilhando momentos alegres, outros nem tanto, às vezes até mesmo de medo. Todos os imprevistos e até as coisas desagradáveis que ocorreram para que eu conseguisse alcançar meu objetivo foram válidos e servirão de aprendizado para minha vida. 6 RESUMO ALVES, Marina Costa. Densidade de plantio e conservação pós colheita de cultivares de morangueiro em sistema de produção fora do solo. 2015. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós Graduação em Agronomia. 85 f. Universidade Federal de Pelotas- RS. Até alguns anos atrás o cultivo do morangueiro era realizado de forma convencional, somente no solo. A intensificação do cultivo em uma mesma área gerava muitos problemas ambientais e fitossanitários. Atualmente, o sistema de cultivo sem solo é o método de produção que vem sendo sustentado pelas questões ambientais, pois diminui muito a utilização de defensivos e insumos, também possibilita a otimização do espaço, permite ciclos de produção mais curtos, possibilidade de uso do espaço vertical, maior produtividade, diminui a ocorrência de doenças que são vinculadas ao solo, e possui menor necessidade de mão-de-obra, entre outras vantagens. É um cultivo que vem se expandindo rapidamente, e por ser um sistema de introdução recente há poucos estudos sobre a adaptação das cultivares, principalmente no que se diz respeito à sua adaptação na região. O objetivo do trabalho foi estudar o crescimento vegetativo, a produtividade, a qualidade e a conservação refrigerada de diferentes cultivares de morangueiro produzidas fora do solo. O trabalho foi dividido em dois experimentos. No primeiro, realizado em Pelotas-RS, foi avaliado o crescimento vegetativo e a produção de quatro cultivares de morangueiro (Aromas, Albion, Monterey e Portola) submetidas à diferentes densidades de plantio 23,5, 18,8, 16,4 e 14,1 plantas/m² ,referentes aos espaçamentos 20x20, 25x20, 30x20, 35x20. A cultivar ‘Portola’ obteve uma maior produtividade que as demais cultivares. A densidade de 14,3 foi a que apresentou maior número de frutos por planta para todas as cultivares. Em relação à análise de lucratividade simulada, verificou-se que as cultivares Aromas, Albion e Monterey não proporcionaram lucro ao produtor em nenhuma das densidades estudadas, por outro lado, a cultivar Portola mostrou-se lucrativa para o produtor em todas as densidades estudadas. O segundo experimento, foi realizado no Laboratório de Pós-colheita do Núcleo de Alimentos da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas,RS. O delineamento foi inteiramente casualizado com um esquema fatorial 3 x 4, sendo três cultivares ‘Albion, ‘Monterey’ e ‘San Andreas’ e quatro períodos de armazenamento (0,4,8,12) dias. As variáveis estudadas foram sólidos solúveis, acidez titulável, relação sólidos solúveis/acidez, pH, coloração e luminosidade da epiderme, perda de massa e incidência de podridões. Avaliou-se o comportamento, a qualidade e a conservação de frutos produzidos fora do solo. Avaliaram-se atributos físicos e químicos. As cultivares apresentaram diferenças significativas tanto para o tempo de armazenamento refrigerado, quanto para a comparação para as cultivares nas características físicas e químicas. No período avaliado, as cultivares mantiveram a qualidade, não houve perdas significativas de massa, degradação de compostos ou presença de sintomas de doenças ou odor desagradável. Palavras-chave: Fragaria x ananassa, sistema hidropônico, densidade de plantio, armazenamento refrigerado, qualidade pós colheita. 7 ABSTRACT ALVES, Marina Costa. Plant density and post-harvest conservation of strawberry cultivars cropped in soilless system. 2015. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Agronomia. 85 f. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas- RS. Until a few years ago strawberry cultivation was performed in a conventional way, only the soil. The intensification of farming in the same area generated many environmental and plant health problems. Currently, soilless cultivation system is the production method which has been supported by environmental issues, as greatly reduces the use of pesticides and inputs also enables optimization of space, allows shorter production cycles, possibility of use of space vertical, increased productivity, reduces the occurrence of diseases that are linked to the soil, and has less need for hand labor, among other advantages. It is a crop that has been expanding rapidly, and it is a recent introduction system there are few studies on adaptation of cultivars, particularly as regards their adaptation in the region. The objective was to study the vegetative growth, productivity, quality and the cold storage of different strawberry cultivars produced off the ground. The work was divided into two experiments. In the first, held in Pelotas, was rated the vegetative growth and the production of four strawberry cultivars (Aromas, Albion, Monterey and Portola) submitted to different planting densities 23.5, 18.8, 16.4 and 14 , 1 plants / m², referring to the spacing 20x20, 25x20, 30x20, 35x20. The cultivar 'Portola' had a higher productivity than the other cultivars. The density of 14.3 showed the highest number of fruits per plant for all cultivars. Relative to the analysis of simulated profitability, it was found that the cultivars Aromas, Albion and Monterey did not provide profit to the producer in any of the studied densities On the other hand, to cultivate Portola proved to be profitable for the producer in all densities estudied. O second experiment was conducted at the Laboratory of Postharvest of Embrapa Temperate Climate Food Center in Pelotas, Brazil. The design was completely randomized with a factorial 3 x 4, three cultivars' Albion 'Monterey' and 'San Andreas' and four storage periods (0,4,8,12) days.The variables studied were soluble solids, titratable acidity, soluble solids / acidity, pH, color and brightness of the skin, weight loss and decay incidence.Evaluated the behavior, the quality and the conservation of fruits cropped in soilless system.We assessed physical and chemical properties. The cultivars showed significant differences both for cold storage, as for comparison to cultivars in the physical and chemical characteristics. During this period, the cultivars have remained, no significant mass loss, degradation compounds or presence of symptoms of diseases or unpleasant odor. Keywords: Fragaria x ananassa, soiless system, planting density, post-harvest quality. 8 LISTA DE FIGURAS CAPÍTULO 1 “Crescimento vegetativo e desempenho produtivo de cultivares de morangueiro submetidas a diferentes densidades de plantio em cultivo fora de solo.” Figura 1. Número de folhas em resposta as diferentes densidades de plantio, safra 2013 ................................................................................................................................40 Figura 2. Número de inflorescências por planta em resposta a diferentes densidade de plantio, safra 2013...........................................................................................................42 Figura 3. Produtividade (g/m2)e produção (g/planta) em resposta a diferentes densidade de plantio, safra 2013......................................................................................................46 Figura 4. Influência das densidades de plantio sobre a distribuição mensal da produção das diferentes cultivares de morangueiro na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas–RS......................................................................................................................48 Figura 5. Produção acumulada durante os meses produtivos na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS......................................................................49 CAPÍTULO 2 “Qualidade pós-colheita de cultivares de morangueiro produzidas fora do solo durante o armazenamento refrigerado”. Figura 1. Porcentagem de perda de massa de morangos (Fragaria x ananassa Duch.) ao longo do armazenamento refrigerado. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014.................................................................................................................................71 9 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1 “Crescimento vegetativo e desempenho produtivo de cultivares de morangueiro submetidas a diferentes densidades de plantio em cultivo fora de solo.” Tabela 1. Valores médios obtidos para as variáveis de crescimento, diâmetro, massa e número de coroas, e massa de folhas e raiz de diferentes cultivares de morangueiro na safra 2013. Pelotas, RS, 2015.........................................................................................39 Tabela 2. Interação entre os fatores estudados para a variável número de folhas por planta. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, 2014...................................................40 Tabela 3. Interação entre os fatores estudados para a variável número de inflorescências por planta. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, 2015....................41 Tabela 4. Aspectos produtivos de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) cultivadas em sistema semi-hidropônico na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS......................................................................................45 Tabela 5. Análise nutricional das folhas de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) cultivadas em sistema semi-hidropônico na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS......................................................................52 Tabela 6. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Aromas fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente.................................................................53 Tabela 7. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Albion fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente.................................................................53 Tabela 8. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Monterey fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente.................................................................54 Tabela 9. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Portola fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente................................................................54 10 CAPÍTULO 2 “Qualidade pós-colheita de cultivares de morangueiro produzidas fora do solo durante o armazenamento refrigerado”. Tabela 1. Acidez titulável (% ac. cítrico) para cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) após diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014......................................................................................64 Tabela 2. Teor de sólidos solúveis SS (º Brix)de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014......................................................................................65 Tabela 3. Relação entre sólidos solúveis e acidez titulável (SS/AT) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014.............................................................66 Tabela 4. Potencial hidrogenionico (pH) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2013.......................................................................................67 Tabela 5 . Valores médios de firmeza (N) e matiz (ângulo Hue)de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2013.................................................................................................................................68 Tabela 6. Luminosidade da epiderme (L) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014.......................................................................................69 11 Sumário RESUMO .........................................................................................................................................................6 ABSTRACT .......................................................................................................................................................7 LISTA DE FIGURAS...........................................................................................................................................8 LISTA DE TABELAS...........................................................................................................................................9 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................13 2 HIPÓTESES ............................................................................................................................................16 3 OBJETIVOS ............................................................................................................................................16 3.1.1 Objetivo Geral ..............................................................................................................................16 3.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................................................... 16 4 REVISÃO DE LITERATURA .....................................................................................................................17 4.1 Histórico e Importância econômica do morangueiro ............................................................................17 4.2 Descrição Botânica ................................................................................................................................19 4.3 Fisiologia .................................................................................................................................................21 4.4 Ambiente Protegido ..............................................................................................................................22 4.5 Cultivo fora do solo ................................................................................................................................23 4.5.1 Substratos............................................................................................................................................25 4.5.2 Solução Nutritiva .................................................................................................................................26 4.5.3 Densidade de plantio .........................................................................................................................28 4.5.4 Cultivares .............................................................................................................................................28 4.6 Pós-colheita ............................................................................................................................................30 CAPÍTULO 1 ..................................................................................................................................................33 Crescimento vegetativo e desempenho produtivo de cultivares de morangueiro submetidas a diferentes densidades de plantio em cultivo fora de solo. ...........................................................................................33 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................34 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................................36 12 RESULTADOS E DISCUSSÕES.........................................................................................................................38 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................55 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................56 CAPÍTULO 2 ..................................................................................................................................................59 Qualidade pós-colheita de frutas de cultivares de morangueiro produzidas fora do solo durante o armazenamento refrigerado ........................................................................................................................59 INTRODUÇÃO ...............................................................................................................................................60 MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................................................61 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................................................................63 CONCLUSÃO .................................................................................................................................................72 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................73 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................................................77 6 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................................78 13 1 INTRODUÇÃO No mundo, a área cultivada com morangos é de244 mil ha, com produção de mais de 4,5 milhões de toneladas da fruta (FAOSTAT, 2014). No Brasil, a cultura do morangueiro vem apresentando um considerado crescimento. Na última safra (2013) foram colhidas 110.000 toneladas, tendo à frente os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio grande do Sul. As regiões Sudeste e Sul merecem destaque, pois correspondem às áreas de maior produção no país. O Rio Grande do Sul é o estado que mais cresce em produção e adoção de novas tecnologias, entre elas a produção fora do solo, que vem ganhando espaço cada vez mais diante da produção convencional no solo. O estado produziu na ultima safra 21, 3 toneladas por hectare, em uma área em torno de 800 ha (ANTUNES et al., 2014). A maior parte da produção é destinada ao mercado "in natura" (ANTUNES e FILHO, 2005). No cultivo para indústria a fruta é utilizada na fabricação de geléias, sucos e polpa para adição em outros alimentos, especialmente produtos lácteos (PAGOT; HOFFMAN, 2003). A maioria dos produtores que cultivam essa rosácea são produtores familiares, proprietário de minifúndios, cujas áreas variam de 0,2 a 1 ha, e a maioria produz em sistema convencional, no solo (GODOI, 2008). O interesse do pequeno produtor pela cultura do morangueiro se deve ao amplo conhecimento e aceitação pelo consumidor, e pela diversidade de opções de comercialização e processamento do morango, fazendo com que a cultura seja promissora nas regiões onde predominam pequenas propriedades com mão-de-obra familiar (SANHUEZA et al., 2005; GODOI,1998). A introdução de novas cultivares com menor sensibilidade ao fotoperíodo e a temperaturas baixas para frutificação, ou mais rústicas e com maior durabilidade póscolheita, permitiram que o cultivo se expandisse e popularizasse (FERNANDES JUNIOR et al., 2002). O morangueiro cultivado no solo sofre várias limitações, sendo uma das principais delas a grande incidência de doenças presentes neste ambiente, pela utilização repetida da mesma área por vários anos consecutivos. Para diminuir o índice de doenças, os métodos utilizados atualmente para desinfestação do solo encontram várias limitações ambientais (LIETEN, 1998). 14 À sensibilidade da cultura à doenças, faz com que produtores façam o uso intenso de agroquímicos, muitas vezes ignorando critérios técnicos. Estas atitudes, embora possam permitir obter frutas de boa aparência, podem limitar o mercado pela presença de resíduos, além dos danos que podem causar a saúde do produtor, do consumidor e os danos ao meio ambiente (HOFFMANN, 2006). Outra questão que se torna limitante é a dificuldade ergonômica durante o manejo, pois com o elevado número de colheitas rente ao solo durante um longo período produtivo, acaba ocasionando problemas de saúde ao produtor e dificultando a disponibilidade de mãode-obra (LIETEN, 1998). O sistema hidropônico aliado ao cultivo protegido apresenta-se como alternativa, proporcionando várias vantagens, entre elas, destacam-se a proteção da cultura contra ventos, granizo, chuvas, geadas, baixas temperaturas e o ataque de pragas e doenças, e também permitem ciclos de produção mais curtos, maior possibilidade de uso do espaço vertical, maior produtividade, e menor necessidade de mão-de-obra (CARMELLO; FURLANI, 1994; CALVETE et al.,2008). O cultivo do morangueiro fora do solo permite também um melhor aproveitamento da área de cultivo, permitindo adensar mais as plantas além de oferecer melhores condições de trabalho, facilitando o manejo do cultivo (LIETEN et al.,2004). Dessa forma o morango é produzido em substrato artificial sem contaminação por fungos fitopatogênicos e com fertirrigação (sistema semi-hidropônico), onde o fornecimento de água e nutrientes pode ser melhor ajustado às necessidades da planta, reduzindo as perdas por excesso (HOFFMANN;BERNARDI, 2006; GIMENEZ, 2008). Outra questão importante dentro do cultivo do morangueiro são as altas perdas que ocorrem em pós-colheita. O morango é uma fruta muito delicada e altamente perecível, e deve ser submetida a um manejo rápido e cuidadoso em pós colheita, para preservar sua qualidade. Devido a essa alta perecividade as perdas pós-colheita podem alcançar níveis importantes, caso não sejam aplicadas formas adequadas de armazenamento. A manutenção das suas características é essencial, e, portanto conhecer suas características físicas e químicas é importante para acompanhar o processo de senescência após a colheita. 15 O conhecimento da fisiologia pós-colheita de um fruto é de grande importância para que se tenha subsídio técnico que vise à ampliação do tempo de armazenamento, sem alteração da qualidade. Embora com todas as vantagens do sistema fora do solo, este ainda é um sistema de cultivo recente no país, e não se tem muitos estudos referentes à adaptação das cultivares, assim como informações sobre as características e conservação de frutos oriundos desse sistema. Portanto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o crescimento, produção, qualidade e conservação dos frutos produzidos no sistema de cultivo fora do solo. 16 2 HIPÓTESES A densidade de plantas na cultura do morangueiro é um fator importante no sistema da produção, resultando em diferenças significativas na produtividade e na qualidade da fruta; As cultivares de morangueiro estudado apresentam uma adaptação diferenciada no sistema de produção fora de solo. As cultivares de morangueiro produzidas fora do solo apresentam períodos diferenciados de armazenamento em pós-colheita diante das produzidas em sistema convencional. 3 OBJETIVOS 3.1.1 Objetivo Geral Definir quais as cultivares de morangueiro utilizado em sistema de cultivo convencional mais se adapta ao sistema de produção sem solo. Avaliar as cultivares produzidas fora do solo quanto as suas características físicas e químicas e seu potencial de armazenamento. 3.1.2 Objetivos Específicos Definir as melhores densidades de cultivo para as cultivares estudadas. Avaliar as cultivares estudadas quanto às suas características químicas e físicas. Verificar o potencial de armazenamento pós colheita de frutos de morangueiro produzidos no sistema de cultivo sem solo. 17 4 REVISÃO DE LITERATURA 4.1 Histórico e Importância econômica do morangueiro Diversas espécies frutíferas de clima temperado como a amora preta (Rubus sp.), a framboesa (Rubus idaeus L.), o morango (Fragaria x ananassa Duch) e o mirtilo (Vaccinium sp.) são coletivamente chamadas de frutas vermelhas ou “pequenos frutos” (BARBIERI e VIZZOTTO, 2012; GONÇALVES, 2011). Dentro deste grupo a fruta mais conhecida é o morango, tendo maior área cultivada e maior tradição de cultivo no Brasil (PAGOT; HOFFMANN, 2003). O morango é uma das frutas mais apreciadas pelos consumidores em diversas regiões do mundo, destacando-se pela sua coloração, aroma, sabor e diversificação dentro da culinária e gastronomia (BRAHM, et al., 2005). O início do cultivo do morangueiro no Brasil ainda não é bem conhecido (CAMARGO; PASSOS, 1993). Sabe-se que no início utilizavam-se cultivares vindas dos Estados Unidos e da Europa, apresentando pouca adaptação aos principais estados brasileiros produtores na época, São Paulo e Rio Grande do Sul. Entretanto, a cultura começou a expandir-se a partir de 1960, com o lançamento da cultivar Campinas pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC)(PASSOS, 1997), cultivar esta, que apresentava-se mais adaptada ás condições de solo e clima locais, com uma boa produtividade e frutos de qualidade (MADAIL, 2003). A cultura do morangueiro é amplamente apreciada em diversos países, despertando interesse no consumidor por ser uma fruta que se destaca na coloração, sabor e aroma, além das propriedades nutricionais e medicinais. O fruto também apresenta elevado teor de vitamina C e ácido fólico, o que o caracteriza com potencial antioxidante relacionado aos componentes fenólicos e pigmentos e alta quantidade de ácido elágico, um constituinte com propriedades antimutagênicas e anticancerígenas (MAAS et al., 1991; TESTONI; LOVATI, 1998; JOSEPH et al., 1998, 1999). 18 O morangueiro é produzido em diversas regiões e tipos de clima, desde zonas temperada, mediterrânea, subtropical até zonas de taiga (CONTI et al., 2002).A cultura do morangueiro é praticada por pequenos produtores rurais que utilizam a mão-de-obra familiar, durante todo o ciclo da cultura, sendo a maior parte da produção destinada ao mercado "in natura" (ANTUNES; FILHO, 2005). Estima-se que a América do Sul produza 318.686 toneladas em 11.884 hectares, sendo o Brasil, Argentina e Chile os responsáveis pela maior parte da produção. A produção brasileira destaca-se em seis estados brasileiros: Minas Gerais (1.200 ha), São Paulo (980 ha), Rio Grande do Sul (800 ha), Paraná (270 ha), Espírito Santo (150ha), Distrito Federal (100 ha), e Santa Catarina (100 ha) (ANTUNES; PERES, 2014). A produção nacional é quase toda voltada para o mercado doméstico, sendo que cerca de 67% é destinada a comercialização in natura e 33% para o processamento industrial de diversas formas (AMARO,2002). Os frutos menores ou com pequenas imperfeições que não comprometam sua qualidade, são destinados a produção de polpa ou processados em forma de geléias, caldas, sucos e polpa congelada, em laticínios, como iogurtes, sorvetes e também na confeitaria para elaboração de bolos, biscoitos e outros produtos (ALMEIDA et al., 1999). O Brasil ainda não se destaca entre os grandes produtores mundiais, mas começa a se projetar, devido às condições ambientais favoráveis para o cultivo e pela produção em quase todos os meses do ano. A produção de morangos no Brasil tem crescido muito nos últimos anos, estimando-se uma produção anual de 105 mil toneladas, com área ocupada de 3.500 ha (ANTUNES et al., 2007). No Rio grande do Sul, a cultura do morangueiro representa a principal fonte de renda para muitos agricultores familiares, sendo uma atividade consolidada em várias regiões do estado (LAZAROTTO; FIORAVANÇO, 2011). O Rio Grande do Sul é o 3º maior produtor, sendo superado apenas pelos estados de São Paulo e Minas Gerais. Na região sul, o município de Pelotas é o principal produtor (MADAIL et al., 2003). Dados da EMATER-RS (2013) mostram uma produção de 18.479 t no estado, em uma área de 541,5 ha. 19 4.2 Descrição Botânica O morango é uma planta pertencente à família Rosaceae e ao gênero Fragaria. A espécie cultivada resulta da hibridização de outras duas espécies (Fragaria chiloensis e Fragaria virginiana). Apesar da origem americana do morangueiro, o cruzamento entre essas espécies se deu por acaso nos arredores de Brest, na França por volta do ano de 1970, onde por muito tempo foi cultivado como ornamental nos jardins europeus (CASTRO,2004). É uma espécie octoplóide (8x) com 56 cromossomos (SANTOS, 2003). O morangueiro é uma planta perene, com hábito rasteiro e características de planta herbácea. Apesar de perene, é cultivada como anual devido principalmente ao acúmulo de doenças de um ciclo para o outro, acarretando perdas na produção (SANHUEZA et al., 2005). É uma planta constituída por sistema radicular, coroa (caule reduzido), folhas, estolões, flores e frutas. A reprodução pode ser feita de duas maneiras: assexuada ou vegetativa, através dos estolões que formam as mudas comerciais, e sexuada através das sementes que estão contidas nos aquênios. A propagação utilizada comercialmente é a vegetativa, enquanto que as sementes são usadas com a finalidade de melhoramento genético da espécie (DARROW, 1966; VERDIER, 1987). A coroa da planta é um caule curto e cilíndrico e serve como órgão de armazenamento das reservas. Dos nós da coroa saem as folhas e nas axilas destas estão as gemas axilares, as quais podem dar origem a novas coroas, estolões ou inflorescências, conforme as condições climáticas e de nutrição da planta. A temperatura mínima para o desenvolvimento e crescimento da coroa é de 10°C (VERDIER, 1987; IPM, 1994). O sistema radicular do morangueiro forma-se a partir do tecido da coroa, e é fasciculado e superficial atingindo 50 a 60 cm de profundidade, concentrando 95% de suas raízes nos primeiro 20 cm. A temperatura mínima do solo para o seu crescimento e desenvolvimento é de 7-8°C, enquanto que a ideal é de 13-14° C (IPM,1994). As raízes se dividem em raízes primárias e secundárias, as primárias têm origem diretamente na coroa, na base de cada nova folha, já as secundárias têm um número 20 variável e existem dois tipos, principais e secundárias. Essa ultima originam-se a partir das primárias e formam a massa radicular, cujas funções são de absorção de nutrientes e o armazenamento de substâncias de reserva (BRANZANTI, 1989). As folhas da planta são formadas por um pecíolo e três folíolos, mas existem alguns genótipos com quatro ou cinco folíolos. A duração de uma folha na planta é, em média de dois meses, sendo necessário remover as folhas mortas ou que já não são funcionais para a planta (DARROW, 1966). Durante o ciclo da cultura se recomenda retirar folhas velhas para reduzir fonte de inóculo de doenças e pragas (VERDIER, 1987; IPM, 1994). As mesmas condições que favorecem o surgimento das folhas, ou seja, fotoperíodos longos e altas temperaturas, também estimulam a produção de estolões (SMEETS, 1980). Os estolões são órgãos vegetativos que se formam a partir de gemas axilares das folhas, em condições de temperaturas elevadas e fotoperíodo maior do que 13-14 horas. Os estolões possuem nós que se diferenciam e dão origem a novas plantas. A propagação vegetativa apresenta crescimento radial, pois cada planta originada forma outro estolão que formará uma nova planta e assim sucessivamente. O número de estolões formados por planta matriz varia com a cultivar, sendo maior em cultivares de dias curtos. (DARROW, 1966; IPM, 1994). Além dos estímulos da temperatura e do fotoperíodo, a formação dos estolões também se deve ao alto vigor da planta (STRAND, 1994). As inflorescências formam-se de meristemas terminais da coroa. Cada coroa pode desenvolver várias inflorescências, e o número e tipo de flores é variável, segundo a cultivar e as condições climáticas. As flores das cultivares comerciais são hermafroditas e a polinização é realizada principalmente pelo vento e insetos. O tempo entre a polinização e a maturação comercial da fruta é dependente da cultivar e das condições climáticas, sendo em média de 40-60 dias no outono-inverno, de 25-30 dias na primavera e de 15-20 dias no verão (DARROW, 1966; VERDIER, 1987; IPM, 1994). O receptáculo do fruto verdadeiro, que apresenta polpa avermelhada e com sabor e aroma acentuados, contém os frutos verdadeiros, os aquênios, que se assemelham a minúsculas sementes de coloração escura e ficam presos ao receptáculo (LIMA, 1999). 21 Esses frutos verdadeiros são aquênios duros e superficiais vulgarmente conhecidos como sementes, que podem ser encontrados até 200, ou ainda em frutos maiores até 400. Sob o ponto de vista da comercialização, o fruto é o conjunto formado pelos frutos verdadeiros e o receptáculo carnoso (ANTUNES et al., 2006). 4.3 Fisiologia Os principais fatores que afetam a cultura do morangueiro são a temperatura e o fotoperíodo sendo que a temperatura exerce maior influência. Outros fatores como a disponibilidade de água e a qualidade e intensidade da luz também exercem influência, embora em menor grau (RONQUE, 1998). Esta sensibilidade varia de acordo com as cultivares. A formação de estolhos e desenvolvimento de folhas, são favorecidos sob condições de dias longos e temperatura elevada. A condição ambiental favorável para indução floral ocorre em dias curtos e temperaturas baixas, já para a frutificação, em dias longos e temperaturas amenas (SANHUEZA et al., 2007; ANTUNES et al., 2006). Entretanto existem cultivares que florescem continuamente, independendo do fotoperíodo sendo denominadas cultivares neutras (CALVETE et al., 2008). Quando o fotoperíodo é longo demais para formar flores ou mais curto que o necessário para a formação de estolões, as gemas axilares normalmente formam coroas secundárias (DURNER; POLING, 1988), porém para Strand (1994), algumas cultivares produzem coroas secundárias independente do fotoperíodo. As cultivares de dias curtos dependem da interação entre temperatura e fotoperíodo para entrarem na fase reprodutiva, sendo a safra compreendida entre o final do inverno e primavera. Temperaturas elevadas e fotoperiodo longo inibem a diferenciação floral, as cultivares de dia neutro, indiferentes ao fotoperíodo, e não são afetadas pelo comprimento do dia e sim pelas temperaturas e as cultivares de dia longo ou reflorescentes diferenciam gemas de flor mais livremente em dias longos (durante o verão) que em dias curtos (RESENDE et al., 1999). Em razão da diversidade edafoclimática existente no Brasil, o pequeno número de cultivares disponível tem sido um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da cultura do morangueiro, sendo importante incentivar os programas nacionais de 22 melhoramento genético e de introdução de cultivares geradas em outros países (OLIVEIRA et al., 2007). A escolha da cultivar possui importância relevante no sucesso do cultivo da espécie, que chega a ser limitante, devido principalmente, às suas exigências em fotoperíodo, número de horas de frio e temperatura, fatores estes, que variam em função do material genético. (DUARTE; FILHO et al., 2007). As principais cultivares utilizadas no Brasil provêm dos Estados Unidos, de programas de melhoramento genético de Universidades da Califória e Flórida, podendo-se destacar: Aromas, Camarosa, Camino Real, Diamante, Oso Grande, Ventana, Albion, San Andreas, Monterey, Portola, Dover, Sweet Charlie, e Florida Festival. Além destes, também cabe destacar a cultivar Milsei-Tudla importada da Espanha (OLIVEIRA et al., 2007). As cultivares de morangueiro diferem de acordo com a sua adaptação ao meio, fazendo com que uma cultivar que se desenvolva satisfatoriamente em uma região, não apresente o mesmo desempenho em outra com condições ambientais diferentes (UENO, 2004). No Brasil a produção de morangos é dominada pelo uso de cultivares de dia curto (STRASSBURGER et al., 2010). Como o plantio dessas cultivares ocorre de abril a junho, geralmente com cultivares de dia curto, ocorre um déficit de morangos no mercado no período de janeiro a maio (RESENDE et al., 2010). Como alternativa, o uso de cultivares de dia neutro podem vir como solução para este período, pois se obtêm uma maior produção com essas cultivares nos meses mais quentes, aumentando até 150% nos valores em relação ao período de safra (STRASSBURGER et al., 2010). 4.4 Ambiente Protegido Os produtores estão sempre buscando tecnologias, que aumentem a sua produção e melhorem a qualidade do seu produto. Dentre essas novas tecnologias, encontra-se o cultivo em ambiente protegido, o qual cria um microclima mais favorável à produção (CALVETE et al., 2012.) 23 Na cultura do morangueiro, a utilização do ambiente protegido traz uma série de vantagens, protege a cultura das chuvas, geadas, temperaturas baixas, granizo, ventos e ataque de pragas (ANTUNES et al., 2007). O cultivo em ambiente protegido constitui um agrossistema diferenciado do que encontramos à campo, apresentando como vantagem, a produção fora da época de cultivo, possibilitando a produção na entressafra com preços melhores (ANDRIOLO, 2000). Segundo Calvete et al. (2008) em trabalho realizado com Dover, Camarosa, Chandler, e Oso Grande em ambiente protegido a maior produtividade foi de morangueiro plantado precocemente, em abril, o que antecipou a colheita dos frutos. Essa antecipação também foi observada por Duarte Filho et al. (2004), em Minas Gerais, onde o cultivo protegido também favoreceu a antecipação de diversas cultivares. Além da antecipação o ambiente propiciou melhores condições ao desenvolvimento da planta, aumentando a frutificação, a produção, conferindo uma maior proteção aos frutos. 4.5 Cultivo fora do solo A intensificação do cultivo tem ocasionado problemas de contaminação do solo, água, e maiores problemas com pragas e doenças. As doenças que atacam o sistema radicular,são responsáveis pela elevada mortalidade das plantas nas lavouras, o que acaba se agravando pelo cultivo sucessivo na mesma área, que acaba sendo dificultado por se ter pequenas áreas. Esses problemas fitossanitários acabam fazendo com que o produtor utilize cada vez mais fungicida (ANDRIOLO et al., 2002). A importância do cultivo sem solo do morangueiro vem aumentando nos últimos anos, em conseqüência do impedimento do uso do brometo de metila no controle das doenças radiculares de solo (FERNANDES JUNIOR et al., 2002). O cultivo sem solo do morangueiro é uma técnica empregada em várias regiões do Brasil, permitindo obter elevada produção e melhor ergonometria no manejo da cultura (MORAES; FURLANI, 1999). Entretanto, na região Sul do país, as frutas produzidas com o uso dessa técnica são de qualidade mais baixa em relação àquelas 24 produzidas na região Sudeste do Brasil. Essa diferença tem sido atribuída, tanto ao efeito das condições ambientais, quanto da composição e do manejo da solução nutritiva (ANDRIOLO et al., 2009). O cultivo do morangueiro fora de solo possibilita a eliminação do uso de produtos para desinfecção, reduzindo o consumo de frutos contaminados e a agressão do meio ambiente, além de proporcionar melhores condições de manejo e aproveitamento da área (FURLANI; FERNANDES JUNIOR, 2004). O sistema de cultivo for do solo baseia-se no ambiente em que as plantas se desenvolvam em outros meio que não o solo, em qual a nutrição de plantas é feita por meio de solução aquosa que contém todos os elementos essenciais ao crescimento em quantidades e proporções definidas (COSTA; GRASSI FILHO, 1999;). Essa técnica objetiva uma maior rentabilidade, que nos outros sistemas. Ela é baseada em três vantagens: ótima proporção ar/água, ausência de doenças, e controle nutricional (MAROUELLI et al.,2005). Além disso, proporciona maior homogeneidade do sistema radicular, eliminação/diminuição das infecções de solo, redução no consumo de água, melhor controle do desenvolvimento da planta e a racionalização do trabalho (ergonometria) (MARTINEZ,1999). Os cultivos hidropônicos podem ser realizados em soluções nutritivas aeradas, sem qualquer tipo de substrato ou usando-se substratos pouco quimicamente ativos, para dar sustentação as plantas(CARMELLO; FURLANI, 1994). No Brasil, porém, é necessário definir alguns componentes tecnológicos para otimizar o retorno ao produtor e à sociedade. Entretanto, já apresenta vantagens claras frente ao sistema convencional, tais como: o produtor não precisa fazer rotação das áreas de produção, prática necessária para reduzir a podridão de raízes no sistema de túneis baixos. Dessa forma, chega a triplicar o potencial de uso da área de terra. Todo o manejo da cultura pode ser realizado em pé, o que favorece a contratação de mão-deobra; O novo ciclo de produção é estabelecido com a troca do saco plástico e do substrato a cada dois anos, o que auxilia na redução da incidência e do alastramento de podridões na cultura; se essas ocorrerem, elimina-se somente o saco infectado e não toda a área de produção. Esse sistema protege as plantas do efeito da chuva e 25 facilita a ventilação, condições que impedem o estabelecimento de doenças (KOVALESKI et al.,2000) É mais viável adotar-se a produção de morangos fora do solo quando: se deseja utilizar uma mesma área indefinidamente, pois não utiliza-se a rotação de áreas como ocorre no solo; busca-se uma diferenciação do produto no mercado; quando o produtor já tem certa familiaridade com a cultura em função das peculiaridades do sistema; quando o produtor já dispõe de estrutura de hidroponia,facilitando a implantação do sistema (HOFMANN, 2013) 4.5.1 Substratos O substrato serve como suporte onde as plantas fixarão suas raízes; o mesmo retém o líquido que disponibilizará os nutrientes às plantas (MELO, 2006). As características do substrato incluem, retenção de água e nutrientes que proporcionem um bom arejamento para sistema radicular, luz, e que seja livre de agentes patogênicos e substâncias que são tóxicas para as plantas (JOHNSON et al., 2010) Um substrato desejável deve possuir algumas características, como: Não possuir concentrações elevadas de sais, ter pH entre 5,6 e 7,0, ser leve e fácil de manusear, estar livre de invasoras doenças e elementos tóxicos, ser de acordo com a mistura que se vai utilizar e ser reutilizável, ser de fácil desinfecção e possuir uma oxigenação adequada(CARMELLO; FURLANI, 1994). Existem vários tipos de compostos que podem ser utilizados para a formulação de substratos para o cultivo semi-hidropônico. Dentre eles pode-se destacar: a casca de arroz carbonizada; mistura com diferentes porcentagens de casca de arroz carbonizada + casca de pinus; mistura, em diferentes porcentagens, de casca de arroz carbonizada + turfa + vermiculita, entre outros (MELO, 2006). A Casca de arroz é um recurso facilmente disponível, e têm sido estudada como substituta de substrato orgânicos e inorgânicos (TSALKALDMI, 2006). Entre o meio de crescimento, a turfa têm sido o mais amplamente utilizado. Muitos estudos foram realizados para a busca de novos substitutos da turfa. Razões para a 26 busca de um substituto para a turfa incluem alta de preços, especialmente nos países sem recursos, e por restrições ambientais (ABAD et al., 2001). No Estado do Rio Grande do Sul, o substrato mais empregado é a casca de arroz carbonizada, acondicionada em sacolas plásticas. Esse tipo de sistema pode ser aberto com drenagem perdida, onde a fertirrigação é efetuada através de tubos gotejadores. A casca de arroz carbonizada é empregada por ser de fácil disponibilidade e de baixo custo (GIMENEZ, 2008). A casca de arroz carbonizada tem sido mais utilizada como substrato, pois é estável física e quimicamente sendo, assim, mais resistente à decomposição. Isso também tem a vantagem de o substrato poder ser usado num segundo ano de produção. Porém, apresenta alta porosidade, que pode ser equilibrada com a mistura de outros elementos (turfa, húmus, vermiculita, etc.) (MELO, 2006). O substrato deverá ser acondicionado em embalagens de filme tubular, preferencialmente branco, disponível no mercado. Embalagens claras ajudam a evitar o aquecimento da água e, consequentemente, do substrato em seu interior, evitando que as raízes sofram algum dano devido à elevação da temperatura em dias quentes (MELO, 2006). 4.5.2 Solução Nutritiva A solução nutritiva é tida como um dos componentes mais importantes de todo o sistema hidropônico, pois seu uso inadequado pode acarretar sérios prejuízos às plantas. Não existe uma solução nutritiva que seja única e melhor que todas as demais para o cultivo de determinada espécie e variedade. Para hortaliças de frutos é necessário ajustar as concentrações de nutrientes quando as plantas passam da fase vegetativa para a reprodutiva (CARMELLO; FURLANI, 1994). A manutenção de um meio favorável ao crescimento das plantas depende da escolha e preparo de uma solução adequada no momento do plantio e da manutenção ou ajuste dessa solução à medida que as plantas se desenvolvem. Uma vez que no sistema de hidroponia o meio de cultivo não tem capacidade-tampão, ocorrem 27 alterações drásticas no ambiente radicular em curto período de tempo, diferente do que ocorre no solo (CARMELLO; FURLANI, 1994). Diversas formulações de soluções nutritivas para o cultivo sem solo do morangueiro foram descritas na literatura. No Brasil predominam aquelas de Moraes e Furlani (1999) e de Furlani e Fernandes Junior (2004). A composição da solução nutritiva varia de acordo com o crescimento da planta, e a amplitude de variação depende da relação entre seu crescimento e o volume de solução empregado, sendo que o crescimento das plantas não causa apenas decréscimo nas quantidades de sais disponíveis para as raízes, mas também alterações qualitativas na solução (COSTA, 2004). As mudanças de absorção de água e nutrientes, proporcionadas pela variação da condutividade do meio nutritivo, levam a alterações da fisiologia das plantas. Entre outros fatores, essas alterações relacionam-se também a abertura dos estômatos e ao aumento da diminuição da área foliar, estando esses fatores ligados à eficiência fotossintética, e consequentemente, com produção de material seco pelas plantas (COSTA et al., 2001). Os limites de condutividade elétricas das soluções utilizados para morangueiro em substrato tem se situado entre 1,4 e 1,8 dSm-¹, sendo estes os mais favoráveis à produtividade e qualidade das frutas. A produtividade e o tamanho das frutas são aumentadas com valores abaixo de 1,4 dS.m¹ para cultivo em substrato (ANDRIOLO et al.,2008). No cultivo sem solo do morangueiro, tem sido sugerido modular a solução nutritiva ao longo do ano, de forma a ajustá-la ao ambiente e demanda de nutrientes da planta em cada fase de desenvolvimento da cultura (ANDRIOLO et al.,2008). Nos primeiros estudos, a composição da química das soluções nutritivas simulavam a constituição da solução do solo. Atualmente a composição de uma solução nutritiva baseia-se, na composição química das folhas, por serem os órgãos que melhor refletem o estado nutricional da planta (PARKER; NORVELL, 1999). Para que os nutrientes desenvolvam plenamente suas funções no metabolismo das plantas, refletindo no adequado crescimento e desenvolvimento da cultura, é necessário que estejam presentes em concentrações suficientes nos tecidos (BARBOSA FILHO, 1987). 28 A determinação das concentrações de nutrientes nas folhas é uma das metodologias quantitativas mais amplamente utilizada para diagnosticar o estado nutricional das culturas. Baseia-se na premissa de existir relação entre a disponibilidade de nutrientes e níveis de elementos na planta (BATAGLIA; SANTOS, 2001). 4.5.3 Densidade de plantio A densidade de plantio ideal é aquela empregada na qual o dossel vegetal intercepte o máximo de radiação solar útil à fotossíntese e ao mesmo tempo maximize a fração da matéria seca alocada para os frutos. A população de plantas pode afetar a absorção de radiação solar, afetando o equilíbrio entre o crescimento da fração vegetativa e dos frutos (SCHVAMBACH et al., 2002). Na definição da densidade de plantio adotada deve se levar em conta a produtividade x custo adicional, decorrentes de uma maior densidade de plantio. O aumento da densidade de plantio geralmente reduz a produção individual das plantas, no entanto, o incremento do número de plantas por unidade de área compensa a redução individual da produção até uma determinada população de plantas, sendo uma das diversas vantagens da hidroponia (GIMENEZ et al. 2008; PEREIRA, 1989). 4.5.4 Cultivares Albion Cultivar lançada no ano de 2006 pela Universidade da Califórnia, EUA. É uma cultivar de dias neutros, própria para o consumo in natura. Apresenta arquitetura de planta aberta, com menor vigor, facilitando o manejo fitossanitário e a colheita.Produção com poucos picos e melhor sabor comparado com as outras variedades de dias neutros. Cultivar amplamente adaptada as mais diversas condições de cultivo do país. Aromas Cultivar de dias neutros lançada no ano de 1997 pela Universidade da Califórnia, EUA. Própria para consumo in natura, frutas com bom tamanho, precoce, coloração 29 vermelho-brilhante, bom sabor, vigor médio, indicada para o cultivo de verão (plantio a partir de setembro). Cultivar indicada e bem adaptada a região da Serra Gaúcha. Plantas com médio vigor e relativamente resistentes a oídio (Sphaeroteca macularis). ‘Aromas’e ‘Albion’ são as duas cultivares de dias neutros mais plantadas no país, sendo utilizadas com sucesso em cultivos fora de solo. Monterey Cultivar lançada no ano de 2009 pela Universidade da Califórnia, EUA, própria para consumo in natura. É uma cultivar de dias neutros (moderado), florescimento um pouco mais intenso que ‘Albion’ com padrão de produção similar. Planta vigorosa, necessitando um espaçamento um pouco maior do que o utilizado para ‘Albion’. As frutas são maiores e mais firmes que ‘Albion’. Em testes de conservação apresentou o mesmo padrão de ‘Albion’, possuindo um sabor diferenciado, adocicado e único entre as cultivares californianas. Possui boa resistência a doenças embora seja suscetível ao míldio. Para produção de mudas apresenta boa produção de estolões. Portola Lançada no ano de 2009 pela Universidade da Califórnia, EUA. Cultivar de dias neutros, adaptada para a Costa Central e Sul da Califórnia. Própria para consumo in natura. As frutas são similares em tamanho a ‘Albion’, com coloração vermelho brilhante. Tem excelente sabor, sendo mais precoce que ‘Albion’. É uma planta vigorosa, exigindo assim, menor densidade de plantio do que a ‘Albion. San Andreas Cultivar lançada no ano de 2009 pela Universidade da Califórnia, EUA. Cultivar de dias neutros (moderado) adaptada para a Costa Central e sul da Califórnia, própria para consumo in natura. Apresenta um padrão de produção semelhante ao Albion, com frutas de alta qualidade, bom sabor, aparência excepcional, qualidade superior a‘ Albion’ no início da temporada. Planta mais vigorosa que ‘Aromas’, com semelhança a planta de ‘Albion’, menor e mais compacta que ‘Aromas’, moderadamente resistente ao oídio (Sphaeroteca macularis), antracnose (Colletotrichum fragariae e Colletotrichum acutatum), murcha de verticillium (Verticillium albo-atrum) e podridão da raiz (Phytophthora coctorum). Tolerante a ácaro rajado (Tetranychusurticae). 30 4.6 Pós-colheita Morangos são altamente perecíveis, com uma vida pós-colheita curta. A preservação pós-colheita de morangos frescos é muito complexa devido a uma atividade metabólica alta, alta taxa de respiração (50-100 mL de CO2.kg-1.h-1 a20°C). A curta vida pós-colheita limita sua comercialização e as perdas podem chegar a até 40% durante o armazenamento. Métodos de conservação adequados podem minimizar as perdas e prolongar a vida útil (CANER; ADAY; DEMIR, 2008). Uma das técnicas mais eficientes para aumentar a durabilidade de frutos e minimizar as perdas pós-colheita é o armazenamento à baixa temperatura. A refrigeração é utilizada para diminuir a taxa respiratória, a perda de água e retardar o amadurecimento e senescência dos frutos. O armazenamento adequado é um dos pontos críticos para o sucesso da comercialização de frutos tropicais (CHITARRA; CHITARRA, 2005). Os morangos por serem frutos altamente perecíveis, estão sujeitos a danos póscolheita que podem alcançar níveis importantes, caso não sejam utilizadas técnicas corretas de colheita e pós-colheita. Estas perdas podem ser de caráter quantitativo e/ou qualitativo, o que implicará em prejuízos para o produtor, o comerciante e o consumidor (CANTILIANO, 2003). O sabor de morango é resultado de uma mistura complexa de numerosos compostos voláteis, açúcares e ácidos orgânicos, combinados com características, como a textura. A qualidade nutricional do morango está intimamente correlacionada com a presença de açúcares solúveis, ácidos orgânicos, aminoácidos e alguns metabólitos secundários. Esses compostos desempenham um papel importante na manutenção da qualidade dos frutos e valor nutritivo; por essa razão, a análise da composição dos frutos é de interesse para os químicos de alimentos. Ácidos fenólicos e seus derivados são muitas vezes conjugados com açúcares e têm sido frequentemente relatados em frutos de morango (ZHANG et al., 2011). O mercado consumidor de morangos frescos exige, cada vez mais, pseudofrutos com excelente padrão de qualidade, valorizando os atributos sensoriais, em especial o sabor e a coloração vermelha, bem como a ausência de defeitos. O morango apresenta muitas vezes uma imagem negativa perante o consumidor, pelo fato de ser produzido a 31 expensas de aplicações excessivas de defensivos e fertilizantes agrícolas, em função da alta suscetibilidade a patógenos e exigência nutricional (BRAGA, 2012). A aparência, textura e o valor nutritivo são importantes atributos de qualidade em frutas, sendo a aparência que inclui as características físicas, como dimensões e coloração, o atributo de maior destaque. Segundo Guedes et al. (2013), a cor da fruta é de fundamental importância para a aceitação inicial pelo consumidor, seguida da firmeza e do sabor. A firmeza, que confere a textura à fruta, é uma característica importante, por estar associada à qualidade culinária, frescor e extensa vida de prateleira. Outras características como a composição química e a segurança alimentar, embora não percebidas diretamente pelo consumidor, também assumem grande importância na aceitação do produto (MARO, 2013). O período de armazenamento tem influência direta na qualidade da fruta que chega ao consumidor. Na pós-colheita de frutas e hortaliças, várias técnicas de conservação podem ser adotadas, tais como armazenamento em atmosfera modificada pelo uso de filmes e ceras, armazenamento em atmosfera controlada, armazenamento sob baixa temperatura, através da utilização de reguladores de crescimento e uso de irradiação (CARVALHO, 1994). O armazenamento a frio retarda os processos fisiológicos como a respiração e a produção de calor vital, que levam à senescência das frutas (ANTUNES et al., 2003). A redução da intensidade respiratória reduz as perdas de aroma, sabor, cor, textura e outros atributos de qualidade do produto armazenado (FILGUEIRAS; CHITARRA, 1996), sendo a refrigeração uma prática eficiente para redução das perdas pós-colheita. O conhecimento da fisiologia pós-colheita de uma fruta é de grande importância para que se tenha subsídio técnico que vise à ampliação do tempo de armazenamento, sem alteração de qualidade (ANTUNES et al., 2006). A perda de qualidade pós-colheita limita a comercialização, principalmente de frutas in natura, portanto, é de grande importância a utilização de técnicas que ampliem o tempo de armazenamento, sem, contudo, alterar suas características físicas, organolépticas e nutricionais (ABREU et al., 1998). As mudanças mais notáveis ao longo do desenvolvimento do morango, em especial do seu amadurecimento, dizem respeito à forma, tamanho, textura, 32 pigmentação, que coincidem com um aumento no teor de sólidos solúveis e emanação de compostos de aroma (ZHANG et al., 2011). 33 CAPÍTULO 1 Crescimento vegetativo e desempenho produtivo de cultivares de morangueiro submetidas a diferentes densidades de plantio em cultivo fora de solo. 34 INTRODUÇÃO No contexto da produção de frutas de clima temperado, as pequenas frutas ainda são pouco expressivas, mas verificam-se avanços. As principais frutíferas representantes desse grupo são o morangueiro, a framboeseira, a amoreira-preta e o mirtileiro. Das pequenas frutas o morango é a mais consolidada e junto com as demais pequenas frutas torna-se uma excelente alternativa, sendo importante por razões econômicas e sociais, pois seu cultivo é geralmente realizado em pequenas propriedades rurais para agricultura familiar. (PONCE et al., 2010; FACHINELLO et al., 2011; PIO et al., 2012). No mundo, a área cultivada com morangos é de 244 mil ha, com produção de mais de 4,5 milhões de toneladas da fruta (FAOSTAT, 2014). Os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e São Paulo destacam-se no país, onde quase toda sua produção é no solo (RADIN et al., 2011). Na safra 2013,foram colhidas 110.000 toneladas, tendo à frente os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio grande do Sul. No Rio Grande do Sul, o cultivo do morangueiro apresenta a principal fonte de renda para várias famílias de agricultores, já sendo consolidada em diversas regiões do estado (LAZZAROTTO; FIORAVANÇO, 2011). Atualmente é o estado que mais cresce em produção e adoção de novas tecnologias, entre elas a produção fora do solo, que vem ganhando cada vez mais espaço diante da produção convencional no solo. Na ultima safra (2013), a produtividade média foi de 21,3 toneladas por hectare (ANTUNES et al., 2014). O rendimento da cultura por hectare é dependente das condições de clima e de solo do local, associadas ao uso de tecnologias de produção, e apresenta elevada variação, de 12 a 45 toneladas em média, com possibilidade de obter-se até 60 toneladas por hectare (NESI et al.,2008). Apesar da grande importância da cultura, sua expansão têm sido limitada por diversos fatores relacionados à problemas com doenças e pragas. As limitações fitossanitárias do cultivo no solo motivaram o desenvolvimento e uso de novas técnicas na cultura, incluindo o cultivo sem solo em estufa e hidroponia. A produção hidropônica 35 é usada a milhares de anos onde o solo não é adequado para o crescimento das plantas, ou em que está contaminado (JAFARNIA et al., 2010). O sistema de cultivo sem solo possibilita combinar o cultivo em ambiente protegido com o cultivo em substrato. Esse sistema permite um melhor aproveitamento da área de cultivo, permitindo adensar mais as plantas elevando a produtividade, além de oferecer melhores condições de trabalho (GIMENEZ, 2008). A utilização do ambiente protegido destaca-se por várias vantagens, entre elas, a proteção da cultura contra ventos, granizo, chuvas, geadas, baixas temperaturas e o ataque de pragas e doenças (CALVETE et al., 2008). A densidade de plantio é um fator que merece destaque, pois pode interferir no crescimento das plantas. No cultivo fora do solo em estufa existe a necessidade de aproveitar ao máximo a estrutura e se otimizar a área de cultivo, um método é adensar ao máximo as plantas. A densidade de plantio ideal é aquela empregada a qual o dossel vegetal intercepte o máximo de radiação solar útil à fotossíntese e ao mesmo tempo maximize a fração da matéria seca alocada para os frutos. A população de plantas pode afetar a absorção de radiação solar, afetando o equilíbrio entre o crescimento da fração vegetativa e dos frutos (SCHVAMBACH et al., 2002). Na definição da densidade de plantio adotada deve, se levar em conta a produtividade x custo adicional, decorrentes de uma maior densidade de plantio. O aumento da densidade de plantio geralmente reduz a produção individual das plantas, no entanto, o incremento do número de plantas por unidade de área compensa a redução individual da produção até uma determinada população de plantas, sendo uma das diversas vantagens da hidroponia (GIMENEZ et al. 2008; PEREIRA, 1989). O cultivo sem solo por se tratar de um sistema de cultivo recente na produção de morangos no Brasil, ainda necessita ser avaliado a fim de obter o máximo retorno econômico, especialmente porque se trata de um sistema com custos de implantação elevados. Diante do exposto, o objetivo do trabalho foi avaliar a adaptação de diferentes cultivares de morangueiro ao sistema fora do solo, assim como, determinar a densidade de plantio mais adequada na utilização das mesmas. 36 MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi instalado no município de Pelotas, em uma propriedade rural localizada às margens da BR 392 de propriedade do Sr. Sérgio Delmar dos Anjos, no ano de 2013. Segundo classificação de Koppen (1931), o clima da região é subtropical mesotérmico-úmido (Cfb), sem estação seca e invernos moderados. Os tratamentos consistiram das cultivares de morangueiro de dias neutros, Aromas, Albion, Monterey e Portola, cultivadas sob diferentes espaçamentos entre plantas, 20x20, 25x20, 30x20 e 35x20 cm, que corresponde a 23,5, 18,8, 16,4 e 14,1plantas.m-2, respectivamente. O experimento foi conduzido no período de maio de 2013 a janeiro de 2014, em estufa do tipo arco revestida com filme de polietileno de baixa densidade (150 de espessura)com área total de 150 m², sendo 5m de largura por 30 m de comprimento e pé direito de 3,0m. O plantio das mudas foi realizado na primeira quinzena de maio de 2013. As plantas foram cultivadas em sacolas plásticas contendo casca de arroz carbonizada. Cada sacola apresentava 2m de comprimento por 30cm de largura. As mesmas foram perfuradas na parte inferior, permitindo a assim a drenagem do excesso de solução nutritiva. A irrigação foi realizada através de um conjunto moto bomba, 2 caixas de 1000L e mangueiras de gotejamento com intervalo de 15cm entre os gotejadores. O conjunto moto bomba foi acionado 8 vezes ao dia durante 3 minutos. A aplicação da solução nutritiva foi realizada de acordo com Fernandes Junior (2002) e variou de acordo com o estádio de desenvolvimento das plantas. A solução nutritiva foi monitorada diariamente para verificar os parâmetros de condutividade elétrica e pH, estas informações serviram de base para a formulação da solução nutritiva e definição da necessidade ou não de fertirrigar o sistema. O aumento ou a diminuição da condutividade elétrica na ordem de 20% definia a irrigação ou a aplicação de solução nutritiva, respectivamente. O pH da solução nutritiva no reservatório foi mantido entre 5,5 e 6,5. 37 Periodicamente, foram realizadas desfolhas com o objetivo de reduzir as folhas senescentes ou mortas, reduzindo o inoculo de doenças. Foi realizado o monitoramento de doenças e pragas, e o controle quando necessário com o uso de defensivo agrícola. Durante o experimento, quando as condições climáticas permitiram a estufa foi mantida com as cortinas laterais abertas, visando facilitar a ação de insetos polinizadores. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados em parcelas subdivididas com quatro repetições. A parcela correspondia aos espaçamentos e as sub parcelas às cultivares, formando um esquema fatorial de (4 x 4), sendo quatro cultivares e quatro densidades de plantio. O número de plantas em cada repetição foi variável conforme o espaçamento. As colheitas foram realizadas entre 26/09/2013 e 10/01/2014. A produtividade (kg.m-²) foi calculada pelo somatório do peso total das colheitas em cada parcela, levando em conta a área ocupada pela mesma. Já a produção por planta (g.planta-1) foi obtida pelo somatório do peso total de todas as colheitas realizadas em cada planta. Ao final do experimento (10/01/2014), para as avaliações de crescimento, foram utilizadas duas plantas década parcela, nas quais foram avaliados o número, diâmetro e massa de coroas, o número e a massa de folhas e a massa de raiz. O número de coroas e folhas foi obtido por contagem e o diâmetro de coroas foi determinado com auxilio de um paquímetro digital. Já a massa de coroa, folhas e raiz, foram determinadas através de secagem em estufa com temperatura de 65°C graus até peso constante. As mesmas folhas utilizadas para a análise da massa de folhas, após a secagem, foram enviadas ao laboratório de Nutrição Vegetal da Embrapa Clima Temperado, onde foi realizada a determinação da composição química de macronutrientes e micronutrientes (N, P, K, Ca, Fe, Mn, Zn, Cu). A fim de se avaliar o retorno econômico do produtor frente aos fatores estudados, realizou-se uma análise de lucratividade simulada onde para tanto, levou-se em conta levantamento de custos e receitas para a produção fora de solo na região de PelotasRS. Os resultados foram submetidos à análise de variância, e variáveis com diferenças significativas foram comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade de erro. 38 Como o espaçamento entre plantas ou a densidade de plantio pode ser considerado um fator quantitativo, variáveis com efeito significativo para este fator também foram submetidas à análise de regressão, sendo essa apresentada quando o comportamento linear ou quadrático foi significativo. As análises foram realizadas com o programa estatístico WinStat, versão 2.1 (MACHADO; CONCEIÇÃO, 2003). RESULTADOS E DISCUSSÕES Para as variáveis de crescimento não houve interação entre os fatores estudados, exceto em relação ao número de folhas por planta (Tabela 1). Para diâmetro e número de coroas, verificou-se efeito isolado do fator densidade de plantio (Tabela 1). O diâmetro de coroa foi maior na densidade de 16,4 plantas/m2, embora não tenha diferido significativamente das densidades 23,5 e 18,8 plantas/m². Na densidade de 16,4 também verificou-se um maior número de coroas, não diferindo da densidade de 14,1 .Entre as cultivares, ‘Aromas’ apresentou maior número de coroas que ‘Albion’ e ‘Portola’, porém, não diferiu de ‘Monterey’. Em estudo realizado na Sicília por D’Anna et.al. (2012) os autores avaliando diferentes diâmetros de coroas 6-8 mm; 8,1-11 mm e 11,1-14 mm, encontraram diferenças na precocidade e produtividade relacionado ao diâmetro das mesmas, indicando para as cultivares testadas o diâmetro de coroa de 8,1 a 14 mm para garantir uma boa produtividade. A produção de coroas é um processo natural e seu numero irá variar de acordo com a cultivar e ou a densidade de plantio adotada por PARANIPE et al. (2008). As variáveis da massa de coroa, de folha e de raiz não foram influenciadas pelas diferentes densidades de plantio e apenas a massa de coroa diferiu entre as cultivares avaliadas (Tabela 1). Sendo que ‘Aromas’ apresentou maior massa de coroa que as demais cultivares estudadas. 39 Tabela 1. Valores médios obtidos para as variáveis relacionadas ao crescimento vegetativo de diferentes cultivares de morangueiro cultivadas em substrato na safra 2013. Pelotas, RS, 2015. Espaçamento/densidade Diâmetro de coroa (mm) Número Massa de Massa de Massa de de coroa coroa (g) folha (g) raiz (g) 20x20 (23,5 plantas/m2) 14,69 ab 3,25 b 4,97 ns 16,13 ns 7,53 ns 25x20 (18,8 plantas/m2) 14,62 ab 3,08 b 5,85 16,28 11,92 30x20 (16,4 plantas/m2) 16,42 a 4,22 a 4,93 22,00 11,28 13,43 b 3,35 ab 5,54 17,20 9,97 Albion 14,3 ns 3,35 b 4,43 b 16,53 ns 9,77 ns Aromas 15,3 4,31 a 8,13 a 23,25 14,19 Monterey 15,5 3,44 ab 4,49 b 16,85 8,64 Portola 14,0 2,80 b 4,25 b 14,97 8,10 C.V. (%) 17,82 29,13 42,72 51,28 86,23 2 35x20 (14,1 plantas/m ) Cultivar *letras minúsculas distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukeyao nível de 5% de probabilidade de erro; ns não diferem estatisticamente. Em relação à variável número de folhas, observou-se efeito de interação entre os fatores densidade de plantio e cultivar (Tabela 2). A cultivar Albion não diferiu entre as densidades testadas. Para ‘Aromas’, a densidade de 16,4 plantas/m2 favoreceu um maior número de folhas, porém sem diferir de 14,1 e 18,8 plantas/m2. No caso de ‘Monterey’, o maior número de folhas foi obtido nas densidades de 16,4 e 23,5 plantas/m2, não diferindo da densidade de 14,1plantas/m2. Para ‘Portola’, a densidade de 16,4 plantas/m2apresentou o maior número de folhas, não diferindo de 18,8 e 23,5 plantas/m2. Pela análise de regressão realizada para as diferentes densidades, houve ajuste significativo apenas para a cultivares Aromas (Figura 1). ‘Aromas’ apresentou resposta linear negativa à densidade de plantio, ou seja, observou-se uma redução do número de folhas conforme houve o aumento da densidade, até de 23,5 plantas/m2. Número de folhas 40 70 y (Aromas) = -2,0838x + 78,737; R² = 0,74** y (Albion) = ns 60 y (Monterey) = ns y (Portola) = ns 50 40 30 20 10 0 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Densidade de plantas (plantas/m 2) Aromas Albion Monterey Portola Figura 1. Número de folhas em resposta as diferentes densidades de plantio, safra 2013. ns, *, **, ***, não significativo e significativo a P < 0,05, P < 0,01 e P < 0,001, respectivamente. Pelotas, RS, 2015. Na comparação das cultivares em cada densidade de plantas, nota-se que para a densidade de 23,5 plantas/m2 não houve diferenças entre cultivares para o número de folhas (Tabela 2). Para a densidade de 18,8 plantas/m2, ‘Aromas’ apresentou maior número de folhas que Monterey e Portola. Resultado similar ao verificado nas densidades de 16,4 e 14,1 plantas/m2, na qual, ‘Aromas’ novamente foi superior às demais. Tabela 2. Interação entre os fatores estudados para a variável número de folhas por planta. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, 2014. Densidades de plantio Albion Aromas Monterey Portola 20x20 (23,5 plantas/m2) 22,25 aA 27,00 bA 35,88 aA 23,25 abA 25x20 (18,8 plantas/m2) 24,13 aAB 42,50 abA 12,50 bB 20,50 abB 30x20 (16,4 plantas/m2) 20,88 aB 49,88 aA 36,50 aAB 36,13 aAB 35x20 (14,1 plantas/m2) 28,83 aAB 43,88 abA 26,33 abAB 14,13bB C.V. (%) 35,49 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. 41 Com relação às variáveis relacionadas à produção, se constatou efeito de interação para número de inflorescências (Tabela 3) e efeito isolado dos fatores para produtividade, número de frutos e produção (Tabela 4). Quanto ao número de inflorescências, a densidade de 16,4 plantas/m2 proporcionou maior número às cultivares Monterey e Portola. Verificando a comparação entre cultivares para cada densidade, observou-se diferenças apenas na densidade de 16,4plantas/m2, na qual, ‘Portola’ apresentou maior número de inflorescências que as demais, seguida de ‘Monterey’, ‘Aromas’ e ‘Albion’. Tabela 3. Interação entre os fatores estudados para a variável número de inflorescências por planta. Embrapa Clima Temperado, Pelotas/RS, 2015. Densidade de plantio Albion Aromas Monterey Portola 20x20 (23,5 plantas/m2) 5,50 aA 6,00 aA 5,50 bA 4,75 bA 25x20 (18,8 plantas/m2) 5,13 aA 5,75 aA 3,50 bA 4,33 bA 30x20 (16,4 plantas/m ) 3,75 aC 7,88 aBC 12,00 aB 18,88 aA 35x20 (14,1 plantas/m2) 3,00 aA 7,00 aA 4,33 bA 4,50 bA 2 C.V. (%) 51,09 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukeyao nível de 5% de probabilidade de erro. A análise de regressão para a variável número de inflorescências indicou efeito significativo apenas para a cultivar Portola que apresentou resposta quadrática às densidades de plantio (Figura 2). A densidade que induziu a máxima formação de inflorescências foi a de 17,82 plantas/m². 42 Número de inflorescências 20 y (Aromas) = ns y (Albion) = ns y (Monterey) = ns y (Portola) = -0,2208x2 + 7,8688x - 59,267 R² = 0,38*** 15 10 5 0 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Densidade de plantas (plantas/m 2) Aromas Albion Monterey Portola Figura 2. Número de inflorescências por planta em resposta a diferentes densidade de plantio, safra 2013. ns, *, **, ***, não significativo e significativo a P < 0,05, P < 0,01 e P < 0,001, respectivamente. Pelotas, RS, 2015. O número de frutos por área não foi influenciado pelas diferentes densidades, porém, o número de frutos por planta foi (Tabela 4). Sendo que plantas cultivadas sob a menor densidade (14,1 plantas/m2) foram as que apresentaram um maior número de frutos. Provavelmente, o maior número de frutos verificado na menor densidade, ocorre devido ao maior espaço físico para o desenvolvimento da planta, fato que pode favorecer a formação de frutos. Densidades de plantio muito elevadas promovem o sombreamento mútuo das plantas causado pelo excesso de folhas por unidade de área, reduzindo a absorção de radiação solar e o crescimento individual de cada planta. Strassburguer et al. (2010), observou em estudos com as cultivares ‘Aromas’ e ‘Diamante’ que o alto índice de área foliar interferiu negativamente na produtividade, e também na polinização, reduzindo assim o número de frutos por planta, acarretando menor produção de massa seca deste órgão. Houve ainda, diferenças significativas entre cultivares, tanto para número de frutos por área quanto por planta. Nas duas situações a cultivar Portola apresentou maior número de frutos que as demais, seguida de ‘Aromas’, ‘Albion’ e ‘Monterey’, 43 respectivamente. Cecatto et al. (2014) trabalhando com as cultivares ‘Portola’, e ‘Monterey’ em cultivo sem solo com substrato obteve os seguintes valores, 29 e 16 frutos por planta, valores esses próximos aos encontrados neste estudo de 22 e 16 frutos por planta. Em trabalho realizado na cidade de Passo Fundo, em 2011 foi encontrado 23 frutos por planta para ‘Portola’ e 14 para ‘Monterey’ em cultivo utilizando substrato (CECATTO et al., 2013). Watthier et et al. (2011) em estudo no solo obteve 38 frutos e 600,1 g.planta-1para ‘Portola’. Radin et al. (2011) trabalhando com as cultivares Aromas, Tudla, Camarosa e Oso Grande, em sistema de cultivo fora do solo (com substrato), obteve o uma média, de 15,6 a 20 frutos por planta no estado do Rio Grande do Sul, em Eldorado do Sul e Caxias do Sul, respectivamente. Em relação à produtividade e produção, observou-se efeito isolado dos fatores densidade e cultivar (Tabela 4). A densidade de 23,5 plantas/m2 proporcionou a maior produtividade, enquanto as densidades de 18,8 e 14,1 plantas/m2 tiveram resultados intermediários e 16,4 plantas/m2 apresentaram a menor produtividade (Tabela 4). Na Tabela 4, se observa que a maior produção foi verificada na densidade de 14,1 plantas/m2 (menor densidade) seguida de 16,7 e, induzindo as menores produções, as densidades de 18,8 e 23,5 plantas/m2. Houve ainda diferenças entre cultivares para as variáveis, produtividade e produção (Tabela 4). Para ambas as variáveis, a cultivar ‘Portola’ foi significativamente superior às demais. Em trabalho realizado também na cidade de Pelotas, com as mesmas cultivares cultivadas no solo, ‘Portola’ também foi observada por Carvalho et al.,(2011), sendo mais produtiva que ‘Monterey, ‘San Andreas”, e ‘Albion’, demonstrando assim uma boa adaptação da cultivar ao sistema estudado. A cv. Albion foi a que apresentou menor número de inflorescências (Tabela3), e por consequência um menor número de frutos por área junto com a cv. Monterey (Tabela 4). Pagot e Hoffman (2011) obtiveram uma menor produção na cultivar ‘Albion’ em relação às demais, com uma média de 420,58g, valor esse superior ao encontrado neste estudo. Em trabalhos em cultivo sem solo trabalhando com a cultivar de dia curto ‘Camino Real’, Portela et al., (2012) encontrou uma produtividade média de 279,0 g planta -1. 44 A baixa produtividade geral do experimento pode estar relacionada à falta de adaptação das cultivares às condições de cultivo hidropônico, bem como também fatores ambientais, como fortes ventos que ocorreram pós plantio das mudas que pode ter influenciado de forma negativa na produtividade, por ter causado desidratação nas mesmas. Outro fator que pode ter afetado a produtividade foi a falta de polinizadores. Ambientes de estresse como altas temperaturas, déficit hídrico e baixa radiação solar ou polinização deficientes são fatores determinantes na abscisão floral e consequentemente na redução do número de frutos (WANG; CAMP, 2000). Fator também importante que pode interferir para o desenvolvimento e produção das plantas é a capacidade de retenção de água. Esta pode variar de acordo com o substrato que é utilizado, implicando variações na disponibilidade de água ás plantas, entre as fertirrigações diárias. Essas variações podem ser ainda maiores nas sacolas, onde a fertirrigação é feita através de um único gotejador. Marouelli et al. (2005), em trabalhos com tomate observou uma distribuição desuniforme da solução nutritiva no interior dos substratos utilizados dentro das sacolas. Essas restrições hídricas que podem ocorrer afetam negativamente o crescimento inicial da planta, atrasando a frutificação, explicando uma baixa produção. 45 Tabela 4. Aspectos produtivos de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) cultivadas em sistema semi-hidropônico na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS. N° Frutos N° Frutos Produtivida Produção Espaçamento (fruto m-2) (fruto pl-1) de (gm-2) (g pl-1) 2 ns 20x20 (23,5 plantas/m ) 316,38 16,65b 3874,35a 164,86b 25x20 (18,8 plantas/m2) 257,17 12,85b 3010,99ab 160,15b 30x20 (16,4 plantas/m2) 232,29 13,93b 2961,72b 180,59ab 35x20 (14,1 plantas/m2) 270,42 18,93a 3266,44ab 231,66a Albion 212,73bc 11,44bc 3183,34b 171,84b Aromas 266,78b 14,63b 3068,92b 168,49b Monterey 178,05c 9,61c 2170,77b 117,85b Portola 418,71a 22,69a 5221,13a 279,08a C.V. (%) 33,97 35,10 31,55 32,35 Cultivar *letras minúsculas distintas na mesma coluna diferem entre si pelo teste de Tukeyao nível de 5% de probabilidade de erro; ns não diferem estatisticamente. A análise de regressão (Figura 3) revela claramente o comportamento descrito anteriormente, ou seja, quanto maior a densidade, menor a produção por planta. Os dados encontrados na literatura indicam que o aumento da densidade de plantio geralmente, reduz a expansão foliar, diminuindo a produção de matéria seca total da planta e das frutas, reduzindo o número de frutas colhidas e a produtividade individual das plantas, principalmente em cultivares de morangueiro de alto vigor e crescimento vegetativo avantajado (STRASSBURGER et al., 2010). 46 4100 250 3900 225 Produção (g/planta) Produtividade (g/m2) 3700 200 3500 3300 175 3100 150 2900 2700 y = 25,967x2 - 910,42x + 10932 R² = 0,99* 2500 125 y = -5,5115x + 289,04 R² = 0,61* 100 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Densidade de plantas (plantas/m2) 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 Densidade de plantas (plantas/m2) Figura 3. Produtividade (g/m2) e produção (g.planta-1) em resposta as diferentes densidade de plantio, safra 2013. ns, *, **, ***, não significativo e significativo a P < 0,05, P < 0,01 e P < 0,001, respectivamente. Pelotas, RS, 2015. Todas as cultivares estudadas foram plantadas na primeira quinzena de junho de 2013. A distribuição da produção foi alterada pelas diferentes densidades para as cultivares estudadas. Cada cultivar apresentou um comportamento característico (Figura 4). Abaixo se descreve o distinto comportamento das cultivares ao longo dos meses de avaliação diante das diferentes densidades de plantio empregadas A cultivar Aromas iniciou sua produção na maior densidade de plantio 23,5 plantas/m², no mês de Setembro, não sendo essa produção significativa diante das demais densidades de plantio. A cultivar no mês de Outubro produziu superior a 60 % de sua produção total, não diferindo nas densidades. A mesma diminuiu sua produção ao longo dos demais meses estudados. Esses resultados demonstram que a cultivar tem seu pico de produção nesse mês. No mês de novembro e dezembro observou-se uma queda na produção comparada a outubro, sendo que em novembro não se observou diferenças entre as densidades e em dezembro a densidade de 16,4 plantas/m² produziu mais. No mês de Janeiro não se observou diferenças significativas entre as densidades. Martins (2010) evidenciou para a maioria das cultivares avaliadas que o pico de produção encontra-se entre outubro e novembro. Esse período de 60 dias é importante para os produtores, pois apesar de não ser o período onde se consegue 47 maiores preços, são os meses onde se tem maior acúmulo de produção. Antunes et al. (2010) evidenciaram comportamento semelhante nas cultivares avaliadas, constatando que houve aumento da produção de frutos nos meses de outubro e novembro em relação ao total de produção. Em estudo realizado por Carvalho (2013) realizado no solo com as mesmas cultivares na safra 2011/2012, as mesmas tiveram seu pico de produção no mês de novembro. Diante dos resultados encontrados, notamos uma antecipação na colheita, de um mês, fator esse que é muito importante para o produtor que consegue um preço melhor no mercado. A cultivar Albion teve uma maior produção nos meses de outubro e novembro reduzindo ao longo dos meses, sendo que a densidade de 14,1 plantas produziu mais no mês de novembro que as demais densidades, e nos outros meses não se diferenciou das maiores densidades. Monterey teve sua produção concentrada nos meses de outubro,novembro e dezembro, e a densidade de 14,1 plantas/m² não diferiu da densidade de 18,8 plantas/m². Portola teve seu pico de produção em outubro, sendo a densidade de 16,4 plantas/m² a que mais produziu nesse mês, e não diferiu das maiores densidades nos outros meses. Diante dos resultados, para o produtor que possui mão-de-obra e quer obter um melhor preço de mercado, a cultivar Aromas possui seu pico de produção em outubro, onde se consegue melhores preços, e pode ser utilizada na densidade de 14,1 plantas/m² sem perder em produtividade. Monterey teve uma produção distribuída em todos os meses estudados, sendo interessante ao produtor que não possui mão de obra, e quer uma rentabilidade distribuída ao longo dos meses. As cultivares Albion e Portola, não diferiram em termos de produção nas densidades de plantio, podendo-se utilizar a menor densidade, tendo um menor gasto em mudas. O conhecimento sobre o comportamento e características das cultivares é importante para a gestão do produtor no escalonamento de sua produção. Novembro Dezembro cA bcA bcA cA 20 bcC bBC aA bAB 40 Aromas bA bcA bA cA aA aA 60 cA cA cA cA Produção (%) 80 aB aAB 48 0 20x25 (18,8 plantas/m2) -10 Setembro 20x20 (23,5 plantas/m2) Outubro aA aA aA aA 50 10 dA cA bA cA 30 -10 Setembro 20x20 (23,5 plantas/m2) Outubro cA cdA cdA cdA 20x35 (14,1 plantas/m2) Monterey Novembro Dezembro 20x25 (18,8 plantas/m2) 70 20x30 (16,4 plantas/m2) Janeiro 20x30 (16,4 plantas/m2) Portola Novembro Dezembro 20x25 (18,8 plantas/m2) 20x30 (16,4 plantas/m2) aAB bAB aA bcB 10 Dezembro aA abA aA aA aAB aA aB aA 30 bA cA bA cA Produção (%) 70 50 Novembro Janeiro 20x35 (14,1 plantas/m2) cdA bcA bA bcA Outubro abA aA aA aA Setembro aA abA aA abA -10 bcA abA aA abA 10 Janeiro 20x35 (14,1 plantas/m2) Albion 30 20x20 (23,5 plantas/m2) Produção (%) 20x30 (16,4 plantas/m2) bcA bcA bcA bcA aA aA aA aA 50 cA dA dA dA Produção (%) 70 Outubro 20x25 (18,8 plantas/m2) bA bA bA abA Setembro 20x20 (23,5 plantas/m2) Janeiro 20x35 (14,1 plantas/m2) Figura 4.Influência da densidade de plantio sobre a distribuição mensal da produção das diferentes cultivares de morangueiro na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas–RS.* Letras minúsculas comparam a produção percentual de cada densidade de plantio entre os meses de estudo, enquanto que, letras maiúsculas comparam as médias das diferentes densidades dentro de cada mês. Quanto à produção acumulada (Figura 5), observou-se que as cultivares ‘Monterey’ e ‘Portola’ mantiveram seu percentual de produção bem distribuído durante 49 todo o período de avaliação, já ‘Aromas’ e ‘Albion’ no mês de outubro haviam produzido o superior a 50%, de sua produção total nos meses avaliados. O uso de cultivares que possuam um bom escalonamento da sua produção torna-se interessante para períodos que a oferta é reduzida. O uso de cultivares de dia neutro pode representar uma solução para este período, pois proporcionam maior produção durante os meses mais quentes do ano. A insensibilidade das cultivares de dia neutro aos estímulos do fotoperíodo e temperatura retardam o aparecimento de estolões, prorrogando o ciclo reprodutivo da planta (STRASSBURGER et al., 2010). 100 aA aA aB bB Produção acumulada (%) 90 80 aA aA aA aA aB aB 70 60 aC bC cD dD 50 40 30 Aromas bC bC Albion Monterey Portola aD aD aE aE 20 10 0 Setembro Outubro Novembro Dezembro Janeiro Figura 5. Produção acumulada durante os meses produtivos na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS.Letras minúsculas comparam a produção acumulada dascultivares dentro em cada mês, enquanto que, letras maiúsculas comparam as produções acumuladas da cada cultivar entre es meses. As deficiências nutricionais geralmente observadas em morangueiro são relacionadas aos elementos nitrogênio, potássio, magnésio, ferro e boro. Qualquer nutriente deficiente ou a combinação da falta de vários nutrientes pode causar redução na produtividade e qualidade, alguns mais que outros. As deficiências de micronutrientes (Mn, B, Zn, Cu, Fe e Mo) bem como as deficiências de macronutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) podem causar reduções na produtividade sem apresentar sintomas nas folhas ou plantas. 50 Os estudos têm demonstrado que as aplicações de N e P elevam significativamente a produtividade, Todavia, há estudos que enfatizam ser o K o macronutriente que mais favorece o aprimoramento na qualidade do morango, melhorando o sabor, o aroma, a coloração e a consistência, bem como os teores de vitamina C (FILGUEIRA, 2003). Segundo FILGUEIRA (2003), aplicações de nitrogênio e de fósforo elevam, significativamente, a produtividade do morangueiro, inclusive em solos considerados férteis, já o potássio é o macronutriente que mais favorece o aprimoramento na qualidade do morango. Plantas nutridas adequadamente com K apresentam maior tolerância ao estresse, além de favorecer o tamanho, textura e características organolépticas do fruto (ANTUNES et al., 2013). Estudos de adubação em espécies frutíferas ainda são muito restritos no Brasil, no caso do morangueiro são ainda mais carentes de estudo, constituindo-se, portanto, numa grande demanda para a pesquisa (VIGNOLO, 2011). A análise nutricional das folhas indicou efeito significativo do fator densidade de plantas apenas sobre o teor de Mn (Tabela 5). O teor de Mn aumentou na maior densidade de plantas (23,5 plantas/m2), sendo que em todas as densidades de plantio esse nutriente se apresentou acima dos limites indicados como normais para a cultura que é de 30-300mg.kg-1 (CQFS-RS/SC, 2004). Em relação as cultivares, essas diferenciaram-se sobre os teores de P, K, Ca, Mg, Mn e Cu (Tabela 5). Quanto ao Fósforo (P) as cv. Aromas e Monterey apresentaram maior quantidade desse nutriente em seus tecidos em relação às demais, estando todas as cultivares com quantidade do nutriente acima do normal para a cultura que é de 0,20-0,40 g.kg-1(CQFS-RS/SC, 2004). Segundo García (1993), o fósforo estimula o desenvolvimento radicular e a floração. A sua deficiência promove a diminuição do número de pedúnculos florais, atrasa a maturação dos frutos, além de apresentarem-se pequenos, ácidos, de textura pouco firme e com aroma desagradável. O seu excesso pode causar redução na absorção de outros nutrientes, como Fe e Zn. As taxas suficientes de P em plantas de morangueiro são em torno de 0,2 a 0,4% (MILLS; BENTON-JONES, 1996). 51 Em relação ao potássio (K) as cultivares apresentaram diferenças significativas, sendo as que apresentaram maior quantidade do nutriente respectivamente foram a cv. Aromas, Albion, Monterey e Portola, estando todas dentro da faixa normal para a cultura (CQFS-RS/SC, 2004). De acordo com Rodas (2008), avaliando deficiências nutricionais em morangueiro, observaram que as plantas cultivadas em solução nutritiva sob omissão de potássio não apresentam queda significativa na produção de massa fresca da parte aérea, quando comparadas a plantas do tratamento completo. As taxas adequadas de K em plantas de morangueiro variam entre 1,4 a 2,5% (MILLS; BENTONJONES, 1996). Para o cálcio (Ca), a cultivar Monterey apresentou maior quantidade do nutriente, diferindo das demais. Todas as cultivares apresentaram valores indicados normais para a cultura, estando dentro dos limites entre 1,00- 2,50 g.kg-1(CQFS-RS/SC, 2004) (Tabela 5). O cálcio é um nutriente consumido em quantidades muito variadas, em diferentes culturas (RAIJ, 1991). Para Magnésio (Mg) e Cobre (Cu) ‘Portola’ apresentou maior quantidade que as demais, sendo que todas as cultivares apresentaram valores abaixo do normal para a cultura que é de 0,60-1,00 g.kg-1 e 5-20 mg.kg-1 (CQFS-RS/SC, 2004) respectivamente (Tabela 5). Albion e Aromas diferenciaram-se das demais apresentando resultados superiores de Manganês que as demais. Quanto a esse nutriente todas as cultivares apresentaram valores superiores ao indicado que é de 30-300 mg.kg-1(CQFS-RS/SC, 2004). O Manganês é ativador de diversas enzimas e participa de sínteses diversas (carboidratos, gorduras, proteínas, produtos secundários), entre outros processos, tais como, absorção iônica, fotossíntese, respiração, controle hormonal e resistência a doenças (MALAVOLTA, 2006). As principais funções do cobre nas plantas são a enzimática e a estrutural. O cobre participa de vários processos vitais à planta, como fotossíntese, respiração, regulação hormonal, fixação de nitrogênio (efeito indireto) e metabolismo de compostos secundários. Os papéis principais do cobre no processo de formação da colheita são o crescimento e produção, resistência a doenças, estrutura do grão de pólen e maturação uniforme (MALAVOLTA, 2006). 52 Tabela 5. Análise nutricional das folhas de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) cultivadas em sistema semi-hidropônico na safra de 2013. Embrapa Clima Temperado, Pelotas –RS. Espaçamento/ Cultivar 2 20x20(23,5 plantas/m ) 2 25x20(18,8 plantas/m ) 2 30x20(16,4 plantas/m ) N P ns 1,94 1,99 2,10 2 35x20(14,1plantas/m ) 1,99 ns Albion 1,99 Aromas 2,02 Monterey 1,98 Portola 2,04 C.V. (%) 11,13 1,08 1,07 1,20 K ns 1,21 1,05b 1,30a 1,31a 0,90b 20,51 Ca ns 2,84 3,01 3,04 3,02 3,03b 3,30a 2,92bc 2,67c 8,95 Mg ns 1,36 1,42 1,42 1,31 1,40ab 1,27b 1,56a 1,29b 19,11 0,42 0,46 0,43 Fe ns 106,06 110,81 103,37 Mn ns Zn Cu ns 526,1a 32,62 4,31 399,95b 35,77 4,22 446,62ab 32,25 4,31 ns 0,46 109,31 ns 0,43ab 113,6 0,41b 101,6 454,10ab 32,87 4,58 ns 519,16a 32,72 4,41ab 509,18a 30,5 4b 0,45ab 103,83 0,48a 111,06 11,77 25,35 397,81b 37,14 4,29ab 400,70b 33,14 4,72a 23,27 24,24 11,50 Em relação à análise de lucratividade simulada, verificou-se que as cultivares Aromas, Albion e Monterey não proporcionaram lucro ao produtor, ao contrário, causaram prejuízo (Tabelas 6, 7 e 8). Para ‘Aromas’, a densidade de plantio que proporcionou menor déficit financeiro foi de 16,4 plantas/m2, enquanto que a densidade de 23,5 plantas/m2 causou o maior déficit (Tabelas 6). Analisando o desempenho de ‘Albion’, verifica-se que o menor e o maior déficit financeiro, foram obtidos nas densidades de 14,1 e 23,5 plantas/m2, respectivamente (Tabelas 7). Já ‘Monterey’, também teve o menor prejuízo na densidade de 14,1 plantas/m2, mas o maior foi verificado com 18,8 plantas/m2 (Tabelas 8). Por outro lado, a cultivar Portola mostrou-se lucrativa para o produtor em todas as densidades estudadas (Tabelas 9). Tendo a densidade de 23,5 plantas/m2 proporcionado o maior lucro, seguido da densidade de 14,1 plantas/m2. 53 Tabela 6. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Aromas fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente. Plantas Densidade por 2 (plantas/m ) hectare Incremento da densidade* Produtividade 23,5 235.000 66,67% 2.935,65 29,36 8,12% 58.633,00 18,8 188.000 33,33% 2.595,34 25,95 -4,42% -46.793,50 16,4 164.000 16,31% 3.582,38 35,82 31,93% -1.043,03 14,1 141.000 - 2.715,28 27,15 - 2 (g/m ) Incremento da (ton/ha) produtividade** Lucratividade (R$/ha)*** -19.190,10 2 * Incremento da densidade em relação à densidade de 14,1 plantas/m . ** Incremento da produtividade em relação à produtividade obtida na densidade de 14,1 plantas/m2. *** Simulação de análise de lucratividade realizada com base em informações de um sistema de produção de morangos fora de solo da região de Pelotas-RS, similar ao utilizado no experimento. De posse das informações básicas necessárias para o cálculo estimado da lucratividade, variou-se no modelo gerado para a produção fora de solo, informações de densidade e produtividade obtidas no presente experimento. Tabela 7. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Albion fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente. Plantas Densidade por 2 (plantas/m ) hectare 23,5 235.000 Incremento da densidade* 66,67% 3.416,11 34,16 17,65 -42.219,40 18,8 188.000 33,33% 3.134,21 31,34 7,94 -28.362,39 16,4 164.000 16,31% 2.777,82 27,77 -4,34 -28.570,00 14,1 141.000 - 2.903,72 29,04 - -12.727,24 Produtividade 2 (g/m ) Incremento da (ton/ha) produtividade** Lucratividade (R$/ha)*** * Incremento da densidade em relação à densidade de 14,31plantas/m2. ** Incremento da produtividade em relação à produtividade obtida na densidade de 14,31 plantas/m2. *** Simulação de análise de lucratividade realizada com base em informações de um sistema de produção de morangos fora de solo da região de Pelotas-RS, similar ao utilizado no experimento. De posse das informações básicas necessárias para o cálculo estimado da lucratividade, variou-se no modelo gerado para a produção fora de solo, informações de densidade e produtividade obtidas no presente experimento. 54 Tabela 8. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Monterey fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente. Densidade 2 (plantas/m ) Plantas por hectare Incremento da densidade* 23,5 235.000 66,67% 2.655,97 26,56 9,20 -68.207,60 18,8 188.000 33,33% 1.665,14 16,65 -31,54 -78.594,85 16,4 164.000 16,31% 1.595,93 15,95 -34,39 -68.988,50 14,1 141.000 - 2.432,25 24,32 Produtividade 2 (g/m ) Incremento da (ton/ha) produtividade** - Lucratividade (R$/ha)*** -28.867,28 2 * Incremento da densidade em relação à densidade de 14,1 plantas/m . ** Incremento da produtividade em relação à produtividade obtida na densidade de 14,1 plantas/m2. *** Simulação de análise de lucratividade realizada com base em informações de um sistema de produção de morangos fora de solo da região de Pelotas-RS, similar ao utilizado no experimento. De posse das informações básicas necessárias para o cálculo estimado da lucratividade, variou-se no modelo gerado para a produção fora de solo, informações de densidade e produtividade obtidas no presente experimento. Tabela 9. Lucratividade da produção de morangueiro cultivar Portola fora de solo levando-se em conta a relação entre o incremento da densidade de plantio e o incremento da produtividade correspondente. Plantas Densidade por 2 (plantas/m ) hectare Incremento da densidade* 23,5 235.000 66,67% 18,8 188.000 16,4 14,1 Produtividade Incremento da produtividade** Lucratividade (R$/ha)*** 6.489,68 64,90 29,42 62.896,03 33,33% 4.649,28 46,49 -7,28 23.443,03 164.000 16,31% 3.890,75 38,91 -22,41 9.523,22 141.000 - 5.014,52 50,14 2 (g/m ) (ton/ha) - 59.424,21 * Incremento da densidade em relação à densidade de 14,1 plantas/m2. ** Incremento da produtividade em relação à produtividade obtida na densidade de 14,1 plantas/m2. *** Simulação de análise de lucratividade realizada com base em informações de um sistema de produção de morangos fora de solo da região de Pelotas-RS, similar ao utilizado no experimento. De posse das informações básicas necessárias para o cálculo estimado da lucratividade, variou-se no modelo gerado para a produção fora de solo, informações de densidade e produtividade obtidas no presente experimento. 55 CONCLUSÃO Considerando as condições de cultivo em que se realizou a pesquisa, conclui-se que:as diferentes densidades não influenciaram a ponto de prejudicar o crescimento nas plantas; obteve-se uma maior produtividade na maior densidade, 23,5 plantas/m², e uma maior produção/planta na menor, densidade de 14,1 plantas/m². Entre as cultivares, ‘Portola’ mostrou-se a mais produtiva, e também a única cultivar que gerou lucratividade, independente da densidade empregada, entretanto, com melhores resultados nas densidades de 23,5 e 14,1 plantas/m2, respectivamente. 56 REFERÊNCIAS ANDRIOLO, J.L. Fisiologia das culturas protegidas. Santa Maria: UFSM, 1999. 142p. ANTUNES, L.E.C.; PEREIRA,I.S; PICOLOTTO, L.; VIGNOLO, G.K.; GONÇALVES, M.A. Morango nutrido. Cultivar HF. 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Scientia Horticulturae, n.85, p. 183-199, 2000. 59 CAPÍTULO 2 Qualidade pós-colheita de frutas de cultivares de morangueiro produzidas fora do solo durante o armazenamento refrigerado 60 INTRODUÇÃO O morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) é uma espécie que produz frutos que se situam dentre os mais apreciados pelo mercado consumidor (FAN, et al., 2012). O sabor do morango é resultado de uma mistura complexa de numerosos compostos voláteis, açúcares e ácidos orgânicos, combinando essas características, como a textura. Sua qualidade nutricional está intimamente correlacionada com a presença de açúcares solúveis, ácidos orgânicos, aminoácidos e alguns metabólitos secundários. Compostos estes que desempenham papel importante na manutenção da qualidade das frutas e valor nutritivo (ZHANG et al., 2011). A qualidade das frutas pode ser afetada por diversos fatores, com destaque para as condições ambientais de cultivo. A complexa interação entre temperatura e comprimento do dia são determinantes na qualidade de pequenas frutas em regiões produtoras (MARO et al., 2013). A avaliação da qualidade do morango no mercado tem se restringido a avaliações de tamanho, coloração, firmeza, acidez, doçura e aroma, embora exista crescente interesse nos benefícios da fruta à saúde do consumidor (SHINA et al., 2008). Morangos têm vida útil curta, devido à elevada perecibilidade, sendo suscetíveis a danos mecânicos, fisiológicos, deterioração e a perda de água. A conservação póscolheita de morangos frescos é muito complexa devido à sua alta atividade metabólica, em especial, sua alta taxa de respiração (50-100 mL de CO2 por kg por hora a 20°C). Seu curto período de vida útil tem limitado a comercialização desse produto, e as perdas podem atingir até 40% durante o armazenamento. Entretanto, métodos de conservação adequados podem minimizar as perdas e estender a sua vida útil (CANER; ADAY; DEMIR, 2008). O armazenamento refrigerado é o método mais utilizado para preservar a qualidade das frutas “in natura”, após a colheita. De acordo com o padrão respiratório, as frutas são divididas em climatéricas e não climatéricas. O morango (Fragaria x ananassa Duch.) é uma fruta não climatérica de curta vida pós-colheita. Essa fruta, em 61 sua condição de tecido vivo, sofre processos fisiológicos e físicos, como respiração e transpiração, sofrendo mudanças constantes após a colheita, na maioria das vezes de caráter irreversível (CANTILLANO,2003). Um dos maiores problemas enfrentados pelos produtores são as perdas, por se tratar de um produto muito perecível, havendo maior necessidade de utilização da refrigeração, não somente para a melhoria da qualidade como também para a redução das perdas. As mudanças mais notáveis ao longo do desenvolvimento do morango, em especial do seu amadurecimento, dizem respeito à forma, tamanho, textura, pigmentação, que coincidem com um aumento no teor de sólidos solúveis e emanação de compostos de aroma (ZHANG et al., 2011).O alto teor de água e nutrientes, mesmo depois da colheita até a senescência, mantém vários processos biológicos em atividade, apresentando desta forma maior predisposição a distúrbios fisiológicos, danos mecânicos e ocorrência de podridões (KADER, 2003). De acordo com o exposto, o trabalho teve como objetivo avaliar a qualidade físico-química e o tempo de armazenamento pós colheita de diferentes cultivares de morangueiro produzidas no sistema de cultivo fora do solo. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido em dezembro de 2014, nos Laboratório de Póscolheita do Núcleo de Alimentos da Embrapa no Centro de Pesquisa Agropecuária de Clima Temperado, EMBRAPA/CPACT, localizado na BR 392, Km 78, em Pelotas, RS, Brasil. Neste experimento foram utilizados morangos das cultivares Albion, Monterey e San Andreas proveniente da “Granja Bender” (João Carlos e Maurício Bender),no município de Morro Redondo, RS. As frutas que foram utilizadas no experimento eram oriundas do sistema de cultivo sem solo, onde eram produzidas em bolsas plásticas que continham substrato (casca de arroz/ terra). As frutas foram colhidas aleatoriamente em diversas posições e orientações da planta, sendo colocadas em caixas plásticas de colheita lavadas e desinfetadas. A colheita foi realizada quando as frutas encontravamse no estádio de maturação ‘maduro’ ou seja, com toda a superfície da epiderme de coloração vermelha. Após realizou-se o processo de seleção, sendo descartadas frutas 62 com injúrias mecânicas, atacados por fungos e/ou insetos, ou outros defeitos, de forma a formar lotes uniformes. Posteriormente, os morangos foram colocados em bandejas de plástico e armazenados em câmara fria. As avaliações iniciaram-se no momento da colheita (dia zero) e 4, 8 e 12 dias de armazenamento a 1±0,5ºC, assim como, mais um dia à temperatura de 12°C, para simular o período de comercialização (vida de prateleira), totalizando quatro tratamentos (0, 4+1, 8+1 e 12+1 dia). Foram realizadas determinações físico-químicas no armazenamento e na comercialização simulada. As determinações realizadas foram: Sólidos solúveis totais (SST), avaliados por refratometria, com auxilio de um refratômetro de mesa Shimadzu, expressando-se o resultado em °Brix; Acidez total titulável (AT),obtida por titulometria de neutralização, coma diluição de 10mL de suco puro em 90mL de água destilada e titulação com solução de NaOH 0,1N, até que o suco atingisse pH 8,1, expressando-se o resultado em percentual (%) de ácido cítrico;Relação (SST/AT): avaliada dividindo o teor de sólidos solúveis totais pela acidez total titulável; pH, determinado diretamente no suco dos frutos com o uso de um medidor de pH Quimis® modelo SC09, com correção automática de temperatura; Perdas totais de massa (PTM) calculada a partir das diferenças de peso observadas entre o momento da instalação do experimento (dia zero) e a avaliação de controle de qualidade após o armazenamento eperíodo de comercialização, sendo que os resultados foram expressos em porcentagem (%);Firmeza de polpa (FP), foi realizada por penetração com ponteira P2, onde cada fruto foi partido de forma transversal e realizadas a medidas velocidade de pré teste de 1,0 mm/s; teste de 2,00 mm/s; pós teste 10 mm/s utilizando o instrumento TA-TXPlus1; Coloração, determinada em dois pontos distintos da fruta, utilizando-se o colorímetro Minolta CR-400, com a determinação no modo CIE L* a* b*. Sendo que a coordenada L* refere-se ao nível de luminosidade, representando quão clara ou escura é a amostra, com valores variando de 0 (totalmente preta) a 100 (totalmente branca). Já a coordenada a* pode assumir valores de -60 a +60, em que os extremos correspondem ao verde e ao vermelho, respectivamente. Por fim, a coordenada b*, com a intensidade de azul ao amarelo, pode variar de -60 (totalmente azul) a +60 (totalmente amarelo). As medidas foram obtidas em dois pontos diametralmente opostos na zona equatorial da 63 fruta e a coloração expressa pela luminosidade (L*), que determina o brilho, pela cromaticidade (croma), que determina a intensidade da cor, e pelo ângulo hue (°h), que determina a tonalidade, conforme a metodologia descrita por McGuire (1992). O delineamento experimental utilizado para as análises físico-químicas foi inteiramente casualizado com um esquema fatorial 3 x 4, sendo três cultivares e quatro períodos de avaliação durante o armazenamento. A unidade experimental foi composta de sete frutas com quatro repetições. Os dados foram submetidos à análise de variância (ANOVA) e logo após, comparação de médias pelo teste de Tukey (P<0,05).As análises foram realizadas com o auxílio do programa estatístico WinStat (MACHADO& CONCEIÇÃO, 2007). RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se interação significativa entre os períodos de armazenamento e as cultivares para as variáveis acidez titulável, sólidos solúveis, relação SS/AT, pH, luminosidade e perda de massa dos frutos (Tabelas 1, 2, 3, 4, 6 e Figura 1).Entretanto, houve efeito isolado para o fator cultivar na variável firmeza,e o ângulo hue não foi influenciado pelos fatores estudados (Tabela 5). A acidez titulável (AT) é um parâmetro que está relacionado com o estádio de maturação dos frutos, sendo menor quanto mais madura estiverem (SOUZA et al., 2000). As cultivares ‘Albion’ e ‘Monterey’ diferiram seus valores de AT em função do tempo de armazenamento (Tabela 1). A cultivar ‘Albion’ decresceu inicialmente (aos 4e 8 dias) e aumentou aos 12 dias de armazenamento.Já ‘Monterey, demonstrou comportamento esperado diminuindo a AT em função do tempo de armazenamento, iniciou com valor de 0,52%, diminuindo esse valor para 0,47% no último dia de armazenamento. ‘San Andreas’ não apresentou diferenças na AT em função do tempo de armazenamento. Antunes et al. (2003) verificaram para amora-preta cv. Comanche que a acidez titulável decresceu inicialmente e a partir do nono dia de avaliação aumentou, atingindo seu máximo aos 12 dias de armazenamento, podendo-se inferir que o tempo de armazenamento do presente experimento pode não ter sido o suficiente para ocorrer o declínio desta variável. Comportamentos semelhantes também são 64 descritos na literatura por Perkins-Veazie et al. (1999) com diferentes cultivares de amora-preta, por Gonçalves et al. (2000) trabalhando com pêra ‘Nijisseiki’ e Scalon et al. (1996) em morango cv. Sequoia, sob refrigeração e em atmosfera modificada. Por outro lado, Holcroft e Kader (1999) trabalhando com morangos cv. Selva e Brackmann et al. (2011), em estudo com clones de morangueiro, observaram a tendência esperada, ou seja, menores valores de AT após armazenamento. Normalmente a AT diminui com a maturação da fruta (FACHINELLO; NACHTIGAL,1996), devido ao metabolismo respiratório, que continua ocorrendo após a colheita (CHITARRA; CHITARRA, 1990). Carvalho (2013) encontrou valores de AT de 0,86%, 0,79% e 0,95%em morangos das cultivares ‘Albion’, ‘Monterey’ e San Andreas’, respectivamente, cultivadas no solo. Os valores de AT encontrados no presente estudo entre 0,47% e 0,55% encontram-se abaixo dos observados por Campos, Kwiatkowski e Clemente (2011) que foi de 1,03%. Tabela 1. Acidez titulável (% ac. cítrico) para cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) após diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014. Período de armazenamento (dias) 0 Albion Monterey San Andreas 0,54aA* 0,52aA 0,54aA 4+1 0,50bA 0,50abA 0,51aA 8+1 0,50bB 0,52aAB 0,54aA 12+1 0,55aA 0,47bB 0,51aB C.V. (%) 3,65 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. O teor de sólidos solúveis (SS) é um indicativo da quantidade de açucares que existe em frutas, considerando que outros compostos, como os ácidos, as vitaminas, minerais estão também presentes em menores quantidades (KLUGE et al., 65 2002).Durante o armazenamento, há a tendência de aumento de sólidos solúveis, decorrente da transformação das reservas acumuladas durante a formação e o desenvolvimento desses sólidos em açúcares solúveis (JERONIMO; KANESIRO, 2000). Neste experimento, o teor de sólidos solúveis não foi influenciado pelo tempo de armazenamento, exceto para ‘San Andreas’, que teve uma diminuição de SS em função do tempo de armazenamento (Tabela 2). Brackmann et al. (2001) e Cunha Junior et al. (2012) também observaram que o tempo de armazenamento não afetou este parâmetro de qualidade para morango cv. Oso Grande, enquanto que Pelayo et al. (2003) relatam indícios na redução dos teores de sólidos solúveis ao longo do armazenamento para morangos cv. Selva.Lima (2013) também observou redução no teor SS de Physalis durante o armazenamento dos frutos. Quase todas as frutas do presente estudo apresentaram valores que atendem a faixa de índice refratométrico entre 7 e 10° brix,indicada para morangos. Tabela 2. Teor de sólidos solúveis SS (º Brix) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014. SÓLIDOS SOLÚVEIS Período de armazenamento (dias) 0 4+1 8+1 12+1 CV (%) Albion Monterey San Andreas 7,1aA* 6,9aA 7,0 aA 7,3aA 7,0aA 6,9aA 6,7aA 7,1aA 7,1aA 6,9abA 6,8abA 6,5bB 3,05 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. A relação sólidos solúveis/ acidez (SS/AT) propicia a avaliação do sabor dos frutos, sendo mais representativa do que a medição isolada de açúcares (SS) e de acidez (AT) (PINTO et al., 2003). A relação entre sólidos solúveis e acidez é usada como indicador de palatabilidade de frutas. Segundo Viégas (1991), a faixa da relação entre SS/AT pode variar entre 6 e 20, send 66 o o intervalo de 15 a 18 o preferido pelos consumidores e a indústria normalmente inicia o processamento com valor entre 12 e 13. Nesse estudo as cultivares apresentaram valores entre 12 e 14 (Tabela 3). Para as cultivares Albion e San Andreas, não houve alteração da relação SS/AT durante o período de armazenamento (Tabela 3). Por outro lado, ‘Monterey’ apresentou um aumento desta relação com12 dias de armazenamento a frio e 1 a temperatura de 12°C. Carvalho (2011) estudando as cultivares Camino Real e Portola observou diferença estatística significativa, diminuindo a relação SS/AT aos 4 dias, e levemente aos 8 dias. Já entre as cultivares, foram verificadas diferenças apenas aos 8 e 12 dias de armazenamento (Tabela 3). Aos 8 dias, ‘Albion’ apresentou a maior relação SS/AT, seguido de ‘Monterey’ e ‘San Andreas’, respectivamente. Entretanto, aos 12 dias, ‘Monterey’ foi significativamente superior às demais. Tabela 3. Relação entre sólidos solúveis e acidez titulável (SS/AT) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014. Período de armazenamento (dias) 0 Albion Monterey San Andreas 13,05aA* 13,42bA 12,98aA 4+1 13,85aA 13,77abA 13,51aA 8+1 13,92aA 12,96bAB 12,47aB 12+1 13,24aB 14,99aA 12,70 aB C.V. (%) 4,76 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Com relação ao pH dos frutos, as três cultivares sofreram efeito do período de armazenamento (Tabela 4). A cultivar Albion aos 4 dias aumentou seu pH em relação a caracterização inicial, reduzindo significativamente aos 12 dias de armazenamento. Já ‘Monterey’ diminuiu em relação a caracterização inicial,não diferenciando entre os dias de armazenamento.Por sua vez, ‘San Andreas’ teve comportamento similar a ‘Albion’, ou seja, aumentou o pH aos 4 dias e diminuindo aos 8 e 12 dias de armazenamento. 67 Braga (2012) estudando o efeito de óleos essenciais no controle de Botrytis cinerea no armazenamento e nas características físico-químicas de morangos armazenados por um período de 8 dias, não observou variações significativas no pH dos pseudofrutos, durante o armazenamento. Cecatto et al. (2013) em trabalho com frutos de morangueiro das mesmas cultivares encontrou uma média de 2,83 para o pH, valor bem inferior ao deste estudo.Calvete et al. (2010) para cv. Camarosa quando cultivadas em estufa usando espécies de abelhas Apis mellifera como o polinizador, encontrou uma média de 3,5 de pH, valor semelhante ao deste estudo.Cekic e Yilmaz (2011) avaliando as cvs. Camarosa e Maraline em cultivo sem solo inoculados com 2 fungos micorrízicos arbusculares e 3 doses de fósforo, obtiveram um pH médio de 3,87 e 3,9 respectivamente.De acordo com Figueiredo et al. (2010) a redução do pH não é devido a um aumento no teor de ácido cítrico, mas provavelmente a elevação dos outros ácidos que reduzem o pH e aumentam a acidez da polpa. Tabela 4. Potencial hidrogenionico (pH) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2013. Período de armazenamento (dias) 0 4+1 8+1 12+1 CV (%) Albion Monterey San Andreas 3,41bB* 3,51aA 3,46abAB 3,42bB 3,68aA 3,51bA 3,51bA 3,44bA 3,39bB 3,55aA 3,43bB 3,37bB 1,09 *Letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. No presente estudo os valores de firmeza dos frutos não sofreram alterações em relação aos períodos de armazenamento, diferenciando-se apenas para as cultivares (Tabela 5). As cultivares Montereye e ‘San Andreas’ apresentaram maior firmeza que ‘Albion’. Dependendo da finalidade para que vá se utilizar a fruta, essa é uma característica importante, pois está relacionada com a durabilidade da fruta. Se a finalidade dessa fruta for o consumo in natura, o ideal é que o mesmo tenha uma boa firmeza, não tendo necessidade do mesmo se este for para utilização na indústria.A queda da firmeza representa o amaciamento da fruta. Logo, a manutenção da firmeza 68 da polpa dos morangos é importante para o prolongamento de sua vida pós-colheita (CALEGARO; PEZZI; BENDER, 2002). A natural perda da firmeza nos pseudofrutos pode estar relacionada com a solubilização das pectinas, uma vez que o processo de solubilização das substâncias pécticas contribui para o amaciamento dos tecidos das frutas em decorrência da redução da força de coesão entre as células (CHITARRA; CHITARRA, 2005). O matiz, expresso com ângulo Hue não foi influenciado pelo período de armazenamento ou pelas cultivares (Tabela 5). A manutenção da cor dos morangos durante o armazenamento é um atributo de qualidade desejado, pois o escurecimento dos frutos compromete seu aspecto visual e, portanto, sua aceitação pelo consumidor (CALEGARO et al., 2002). Tabela 5.Valores médios de firmeza (N) e matiz (ângulo Hue) de diferentes cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2013. Cultivar Albion Monterey San Andreas CV (%) Firmeza 0,55b 0,76a 0,70a 14,22 °Hue 28,54ns 30,45 30,29 13,88 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Para a variável luminosidade (L), a qual indica a quantidade de preto (0) ou de branco (100) existente na amostra, as cultivares ‘Monterey e ‘San Andreas’ foram superiores a ‘Albion’, e não alteraram sua coloração em função do tempo de armazenamento (Tabela 6). Albion além de apresentar-se mais escura, também foi a única que aumentou a luminosidade (L) em função do tempo de armazenamento, ou seja, houve o clareamento da amostra. Esses resultados demonstram que as cultivares mantiveram características de frutos recém colhidos, sendo uma característica desejável para se manter a boa aparência visual das frutas. Pelayo et al. (2003), em estudo com morangos ‘Diamante’ e ‘Selva’ não observaram diferenças na luminosidade e cromaticidade ao longo do armazenamento 69 refrigerado (5ºC). Carvalho (2011) trabalhando com diversas cultivares de morangueiro não observou alteração de luminosidade em função do tempo de armazenamento, exceto para a ‘Camarosa’, a qual baixou seu valor de luminosidade, ocorrendo o escurecimento da amostra. Segundo Souza et al. (2000), a refrigeração associada ao uso de filme de PVC, possibilita o aumento na vida de prateleira dos frutos, conservando suas características químicas e físicas. A atmosfera modificada proporcionada por filmes plásticos reduz o crescimento fungico, e também proporciona melhor coloração após o armazenamento. Tabela 6. Luminosidade da epiderme (L) de cultivares de morangueiro (Fragaria x ananassa Duch.) em diferentes períodos de armazenamento. Embrapa ClimaTemperado, Pelotas, RS, 2014. Período de armazenamento (dias) 0 4+1 8+1 12+1 CV (%) Albion Monterey San Andreas 27,88bB 34,17abA 35,69aA 35,44aA 39,72aA 35,78aA 35,48aA 34,39aA 37,43aA 36,07aA 36,08aA 36,20aA 9,36 *letras minúsculas distintas na mesma coluna e maiúsculas na mesma linha diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. As cultivares Monterey e Albion não apresentaram perda de massa significativa após os diferentes períodos de armazenamento refrigerado e após o período á temperatura de comercialização (Figura 1). No entanto, ‘San Andreas’ apresentou uma maior perda de massa, cerca de 10%, durante as 24 horas em que permaneceu à temperatura ambiente após 8 dias de armazenamento. A perda de massa está relacionada à perda de água em forma de vapor d’água, que é uma das principais causas de deterioração, resultando não apenas em perdas quantitativas mas também na aparência, nas qualidades texturais e na qualidade nutricional (KADER, 2002).De acordo com García et al. (1998), os morangos perdem o valor comercial quando a perda de massa é superior a 6%. A redução na massa dos morangos foi inferior a 10% ao longo do armazenamento em todas as cultivares, exceto na ‘San Andreas’ que obteve 10% de perda de massa, demonstrando a eficiência da refrigeração a 1±0,5ºC e 70 UR 90-95%, já observada por Chitarra e Chitarra (2005). Cunha Junior et al. (2012) verificaram perda de massa abaixo de 1,5%, enquanto que Pineli et al. (2008) verificaram que após oito dias de armazenamento, as perdas de massa ficaram em torno de 5% para armazenamento a 5ºC e 8% para 15ºC, com as cultivares Oso Grande e Camino Real. As cultivares e as condições do armazenamento no período avaliado mantiveram a qualidade organoléptica das frutas. Segundo Malgarim et al. (2006) a qualidade é o produto de um conjunto de características que devem ser preservadas durante o armazenamento, sendo necessária a definição de um período seguro para esta fase. Durante o intervalo de armazenamento avaliado neste trabalho, não foi verificada a ocorrência de podridões ou odor alcoólico que prejudicasse a qualidade e integridade dos morangos. 71 Monterey 12 4 dias 8 dias 12 dias 10 8 6 4 2 0 aA aA aA aA aA aA aA aA aA aA aA San Andreas 12 4 dias 10 8 dias 8 12 dias aA 6 4 2 aA aA aB bA bA aB 0 Figura 1. Porcentagem de perda de massa de morangos (Fragaria x ananassaDuch.) ao longo do armazenamento refrigerado. Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS, 2014.*Letras minúsculas comparam a massa média Inicial (dia zero), na Pós-câmara e na Comercialização (24 horas à 12°C) de cada período de resfriamento (4, 8 ou 12 dias), enquanto que as letras maiúsculas comparam a massa média Inicial (dia zero), na Pós-câmara e na Comercialização (24 horas à 12°C) entre os diferentes períodos de resfriamento (4, 8 ou 12 dias), pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. 72 CONCLUSÃO As frutas das cultivares estudadas produzidas fora do solo demonstraram que o armazenamento a 1±0,5ºC, assim como, mais um dia à temperatura de 12°C, com frutos embalados em filme de PVC propicia às frutas a manutenção da qualidade, pois não há perdas significativas de massa nem presença de sintomas de doenças ou odor desagradável para nenhuma cultivar. Embora todas as cultivares tenham apresentado alguma alteração significativa nos parâmetros de qualidade estudados, nenhuma alteração chegou a prejudicar o fruto a ponto de não poder ser comercializado. 73 REFERÊNCIAS AWAD, M. Fisiologia pós-colheita de frutas. São Paulo, Nobel, 114p.,1993. BRACKMANN, A.; PAVANELLO, E. P.; BOTH, V.; JANISCH, D. I.; SCHMITT, O. J.; GIMÉNEZ, G. Avaliação de genótipos de morangueiro quanto à qualidade e potencial de armazenamento. Revista Ceres, Viçosa, v.58, n.5, 2011. BRAGA, D.O. Qualidade pós-colheita de morangos orgânicos tratados com óleos essenciais na pré-colheita. 2012. 74f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Lavras, UFLA, 2012. 74 p. CALEGARO, J. M.; PEZZI, E.; BENDER, R. J. Utilização de atmosfera modificada na conservação de morangos em pós-colheita. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 37, n. 8, p. 1-6, ago. 2002. CALVETE, E. O.; ROCHA, H. C.; TESSARO, F.; CECCHETTI, D.; NIENOW, A. A.; LOSS, J. T. 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Uma questão muito relevante dentro do sistema de cultivo sem solo é a solução nutritiva, sendo necessários estudos referentes à sua composição, bem como a manutenção da mesma. 78 6 REFERÊNCIAS ABAD, M.; NOGUERA, P.; BURES, S. National inventory of organic wastes for use as growing media for ornamental potted plant production: case study in Spain. Bioresour Technology. n. 77, p.197 200, 2011. AMARO, M.C.C. A cadeia produtiva agroindustrial de morango nos municípios de Pelotas, Turuçu e São Lourenço.2002. Dissertação de mestrado. Escola de Administração- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. ANDRIOLO,J.L; BONINI,J.V;BOEMO,M.P. Acumulação de matéria seca e frutos de morangueiro cultivados em substratos com diferentes soluções nutritivas. Horticultura Brasileira,v.20. n. 1, p 24-27, 2002. ANDRIOLO, J.L; JANISH,D.I; SHIMITT, O.J; VAZ, M.A.B; CARDOSO, F.L; ERPEN, L. 2008. 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