Fenologia da floração e maturação de frutos de morangueiro cultivados em ambiente protegido1. Odirce Teixeira Antunes2; Eunice Oliveira Calvete3; Hélio Carlos Rocha3; Ricardo Eoclides Maran4; Ezequiel Riva4; Cristiane de Lima Wesp4; Franciele Mariane4. 1 Universidade de Passo Fundo - Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, c. postal 611, 99.001-970 Passo Fundo RS; 2Mestrando em Agronomia/Produção Vegetal/UPF – FAMV, [email protected]; 3 Professores da UPF - FAMV, [email protected]; 4Acadêmicos/bolsistas do Curso de Agronomia da UPF-FAMV. RESUMO O objetivo desse experimento foi caracterizar os estádios fenológicos da floração do morangueiro, bem como o período de floração e maturação dos frutos. O trabalho foi executado no interior de uma estufa plástica de 510 m² na FAMV-UPF. As plantas avaliadas foram das cultivares de morangueiro Oso Grande, Tudla, Chandler e Dover. Foi selecionada, de forma aleatória, uma planta de cada cultivar, em cinco parcelas constituídas de 20 plantas, perfazendo cinco repetições por cultivar. Determinou-se as datas de início de floração, formação de frutos e, de início e final da colheita. Verificou-se que as cultivares apresentaram nove estádios fenológicos e, se considerarmos cada fase em separado, a cultivar Tudla necessita em média 36,4 dias desde a emissão do botão floral até a maturação dos frutos. Nesse mesmo período, a cultivar Oso Grande leva em média 40 dias. Por outro lado, se considerarmos o início do florescimento e da frutificação, a cultivar Dover é a mais precoce, quando comparada com as demais. Palavras-chaves: Fragaria X ananassa Duch., estádios fenológicos, frutificação. ABSTRACT Flowering and maturation phenology of strawberries cultivated in protected environment. The objective of this experiment was to characterize phonological stages of strawberry flowering, as well as the flowering and maturation period of this fruit. The work was carried out inside a plastic greenhouse 510m2 in the FAMV-UPF. The evaluated plants were the cultivars of strawberry Oso Grande, Tudla, Chandler and Dover. Was selected in a randomized way, a plant, from each cultivar, in five parts constituted of 20 plants, constituting of five repetitions per cultivar. To be determined the date of beginning flowering, fruit formation and to the start and end of harvesting were considered. It was observed that the cultivars presented nine phonological stages and, if each stage were considered individually, the cultivar Tudla need an average of 36.4 days since the start of the blooming sprout until the fruit maturation. In the same period, the cultivar Oso Grande takes an average of 40 days. On the other hand, If the beginning of flowering were considered and fruit growing, the cultivar Dover is the most precocious, when compare whit the other ones. Key-words: Fragaria X ananassa Duch., phonological stages, fruit growing. INTRODUÇÃO O morangueiro (Fragaria X ananassa Duch.) é uma planta herbácea, pertencente à família Rosaceae. Seu cultivo é desenvolvido em países como Estados Unidos, Espanha, Japão, Itália, Coréia do Sul e Polônia (RESENDE et al., 1999). No Brasil, os principais estados produtores são Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, Distrito Federal e Goiás (UENO, 2004). O florescimento e a frutificação do morangueiro dependem de uma série de etapas fisiológicas, principalmente nas gemas e depende de fatores genéticos e ambientais. Essas etapas compreendem a indução, iniciação, diferenciação e antese (VERDIAL, 2004). A indução ocorre nas folhas, que expostas às condições propícias, captam os sinais e transmitem ao meristema apical, induzindo a produção de um botão floral (MAC DANIEL, 1994). Entre os vários fatores ambientais, o comprimento do dia e a temperatura estão envolvidos na indução floral (GALLETTA e BRINGHURST, 1989 apud VERDIAL, 2004). Bueno et al. (2002) observaram que o florescimento do morangueiro é afetado, por fatores internos, pela temperatura, pelo fotoperíodo, ou pelos três fatores conjuntamente; porém, varia de acordo com as cultivares. Para o florescimento, em cultivares não reflorescentes, as condições ambientais favoráveis são dias curtos (menor que 14 horas/luz/dia) e temperaturas baixas (menor que 15 °C). A iniciação da flor é o conjunto de mudanças físicas e químicas que ocorrem na gema através de estímulos florais detectados nas folhas. A diferenciação da flor é o desenvolvimento real dos órgãos florais dentro do botão. A antese é a expansão visível fora do botão. É a fase final do processo de florescimento, possibilitando a polinização e, conseqüentemente, a fertilização (GUTTRIDGE, 1985). No morangueiro as inflorescências possuem número variável de flores: essas se formam a partir das gemas existentes nas axilas das folhas (BRAZANTI, 1989). Atualmente, existem poucas informações sobre a fenologia da floração e maturação dos frutos do morangueiro. Entretanto, esse conhecimento é importante para programas de melhoramento genético e para o manejo dessa cultura. O objetivo deste trabalho foi determinar as datas de ocorrência e a duração dos estádios fenológicos da floração e frutificação do morangueiro, bem como identificar o período floração e maturação dos frutos, em cultivo protegido, no município de Passo Fundo/RS. MATERIAL E MÉTODOS A pesquisa foi conduzida em uma estufa plástica, com teto semicircular, com área de 510 m2, coberta com filme de polietileno de baixa densidade (PEBD). Durante o período do trabalho foram registradas a temperatura e a umidade relativa do ar, através de termohigrógrafo. A irrigação foi realizada por sistema de gotejamento localizado e a adubação foi através da fertirrigação, semanal. O transplante foi efetuado em 05 e 06 de maio de 2003 e 2004, respectivamente, com espaçamento de 0,30 m entre plantas e 0,30 m entre fileiras, em área contendo mulching preto. Foram utilizadas plantas de morangueiro das cultivares Oso Grande, Tudla, Chandler e Dover. O trabalho constou de duas partes. A primeira parteetapa constou da determinação das datas de ocorrência e duração dos diferentes estádios fenológicos da floração e frutificação do morangueiro. Neste trabalho foram selecionados de forma aleatória, uma planta de cada cultivar, em cinco parcelas de 20 plantas, totalizando cinco repetições por cultivar. Este período foi 03 de setembro a 20 de outubro de 2003. Na segunda parteetapa foram determinados as datas de início da floração, da frutificação, da colheita e término desta última. A floração foi considerado quando 50% das plantas, dentro da parcela, apresentaram ao menos uma flor aberta por planta. O início da frutificação foi quando 10% das plantas existentes na parcela apresentaram ao menos um fruto por planta, com no mínimo 2,5 cm de comprimento. Considerou-se como maduros os frutos que apresentaram 75% de coloração vermelha na epiderme. Para verificar a soma térmica, foram calculados os graus-dias acima da temperatura base de 7 °C e considerando as temperaturas médias diárias no interior da estufa. O período das avaliações foi de 05 e 06 de maio a 23 e 20 de dezembro de 2003 e 2004, respectivamente. RESULTADOS E DISCUSSÂO Quando o botão floral pôde ser observado, denominou-se de estádio 1. Neste estádio as gemas floríferas tem aspecto globoso e de coloração esverdeada. Observou-se que as cultivares permaneceram em média 4 dias, nesse estádio. A cultivar Chandler levou 5,2 enquanto a Dover 3 dias, até atingirem o estádio 2. Esta fase corresponde ao aparecimento das pétalas, embora essas encontrem-se ainda fechadas. Verificou-se que, dentre todos os estádios, este é o que levou menos tempo, cerca de 1,8 dias, para atingir o estádio 3, caracterizado pelas flores completamente abertas. Esta fase é aquela onde ocorre a polinização, ou seja, onde os estigmas estão receptivos para receberem o grão de pólen de outra flor. Aproximadamente em 4,5 dias as cultivares chegam ao estádio 4. Ao atingirem esta etapa as pétalas secam e caem, independente se as flores estão ou não polinizadas. O estádio 4 foi o que mais se prolongou, levando aproximadamente 17,4 dias na cultivar Oso Grande e 8,4 dias na cultivar Chandler. A formação de um pequeno “fruto múltiplo” foi observado no estádio 5, levando em média 4,2 dias até atingir o estádio 6. Nesta fase ocorre a elongação celular, permitindo o aumento do tamanho do “fruto múltiplo”. As cultivares apresentaram uma amplitude de duração neste período entre 2,2 dias na Oso Grande até 9,2 dias na Dover. Observou-se no estádio 7 que os “frutos múltiplos” aumentaram de tamanho, resultado da elongação celular. A variação observada nesta fase, entre as cultivares foi pequena, atingindo uma média de 2,9 dias. No estádio 8 caracterizou-se uma fase das mais curtas entre as demais, com média de 1,8 dias, onde os “frutos múltiplos” apresentaram formato definitivo, evidenciando o início do processo de maturação. A fase final, denominada de estádio 9, perfez uma média de 2,8 dias, onde os “frutos múltiplos” apresentaram-se com 75% a 100% da superfície madura. Foi observado maior precocidade na cultivar Dover do que nas cultivares Oso Grande, Tudla e Chandler, iniciando a floração, frutificação e colheita aos 44, 87 e 98 dias após o transplante, respectivamente, em 2003 e aos 36, 75 e 83 dias em 2004. LITERATURA CITADA BRAZANTI, E. E. La fresa. Madri: Mundi-prensa, 1989. 386p. BUENO, S. C. S.; MAIA, A. H. N.; TESSARIOLI NETO, J. Florescimento de 17 cultivares de morangueiro (Fragaria X ananassa Duch.), em São Bento do Sapucaí – São Paulo. Belém: XVII CONGRESSO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2002, Belém. Anais... Belém: 2002. CD-ROM. GUTTRIDGE, C. G. Fragaria x ananassa. In: HALVEY, A. H. CRC handbook of flowering. Boca Raton: CRC Press, 1985, v. 3, p. 16-33. MAC DANIEL, C. N. Photoperiodic induction, evocation and floral initiation. In: GREYSON, R. I. The development of flowers, Oxford: Oxford University Press, 1994. p. 25-43. RESENDE, L. M. de A.; MASCARENHAS, M. H. T.; PAIVA, B. M. Programa de produção e comercialização de morango. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, n. 198, v. 20, p. 5-19, 1999. UENO, B. Manejo integrado de doenças do morango. In: SIMPÓSIO NACIONAL DO MORANGO, 2, Pelotas, 2004. Anais... Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. p. 69-77. VERDIAL, M. F. Frigoconservação e vernalização de mudas de morangueiro (Fragaria X ananassa Duch.) produzidas em sistema de vasos suspensos. Piracicaba, 2004. 71 p. Tese (Doutorado em Agronomia/Fitotecnia – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP).