CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA SOBRE SAÚDE, SAÚDE MENTAL, INTER E TRANSDISCIPLINARIDADE 1 CAERAN, Juliane2; SALVAGNI, Adelise²; WILES, Jamille Mateus²; DIAS, Ana Cristina Garcia.3 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM Acadêmicas do Curso de Psicologia da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil 3 Doutora em Psicologia, Professora do Departamento de Psicologia da UFSM, Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected] 2 RESUMO Para que o trabalho do psicólogo na saúde mental seja satisfatório, é necessário que os estudantes de graduação apreendam alguns conceitos básicos e compreendam as possibilidades e dificuldades encontradas neste trabalho. Tendo em vista a importância desses conhecimentos, buscou-se verificar, junto a alunos do curso de psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, como estes compreendem os conceitos de saúde, saúde mental, inter e transdisciplinaridade e suas concepções acerca das possibilidades e dificuldades encontradas pelo psicólogo no trabalho com saúde mental. Participaram deste estudo 46 estudantes de Psicologia de ambos os sexos, que estavam no 2°, 3° e 4° ano. Esses estudantes responderam a questionário, composto de questões abertas, que investigou os temas propostos pelo estudo. As respostas foram submetidas a uma análise de conteúdo. De modo geral, observa-se que os alunos não dominam os conceitos investigados, evidenciando-se uma necessidade de maior esclarecimento sobre os mesmos na sua formação. Palavras-chave: Saúde; Saúde Mental; Interdisciplinaridade; Transdisciplinaridade; Atuação do Psicólogo; 1. INTRODUÇÃO Acredita-se que, para que o trabalho do psicólogo na saúde mental seja satisfatório, é necessário que o estudante de graduação apreenda alguns conceitos básicos e que compreenda as possibilidades e dificuldades encontradas em tal trabalho. Tendo em vista a importância desses conhecimentos, buscou-se verificar, junto a uma parcela dos alunos do curso de psicologia da Universidade Federal de Santa Maria, como os estudantes compreendiam os conceitos de saúde, saúde mental, inter e transdisciplinaridade. Além disso, investigou-se quais as dificuldades encontradas no trabalho em saúde mental e como eles percebiam a inserção e as possibilidades do psicólogo nesse trabalho. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Saúde e Doença Em sua trajetória evolutiva, as concepções sobre a saúde e a doença já apresentaram diferentes concepções, desde uma visão mágico-religiosa (na Antigüidade) até um modelo biomédico, que predomina atualmente (BARROS, 2002). A partir do século 1 XVII, através dos Tratados de Saúde, a concepção de saúde passa por diversas mudanças. Essas propõem condutas e orientações sobre o corpo com a finalidade de prevenir as doenças. Durante a segunda metade do século XIX desenvolve-se uma nova visão de saúde, resultado da teoria microbiana, que será os alicerces do modelo biomédico atual (CHAMME, 1996). Observa-se através dos séculos XIX e XX, uma série de conceitos que determinam o que é saúde, e as formas como essa possa ser atingida. Essas concepções são determinadas pela cultura, sendo construídas e reconstruídas, dependendo do momento histórico e das ideologias presentes nas sociedades (CHAMME, 1996). O conceito da OMS, que foi proposto na carta de princípios de 7 de abril de 1948, considera saúde como “o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade” (SCLIAR, 2007). Apesar de existir uma concepção dita universal, Scliar (2007) observa que o conceito de saúde varia de pessoa para pessoa, sendo influenciado pelas características e valores individuais de cada um bem e por fatores econômicos e políticos. O mesmo acontece com o conceito de doença. Além disso, as concepções sobre saúde e doença podem variar inclusive em um mesmo indivíduo no decorrer do tempo. Esses conceitos não são independentes, havendo uma integração entre ambos (CANGUILHEM, 1943). Segundo Coelho e Almeida Filho (2005), grande parte das pesquisas no campo da saúde estão associadas principalmente às concepções de doença e/ou sofrimento. Existe uma deficiência de estudos que descrevam o que as pessoas pensam ou caracterizam como saúde, sendo isso particularmente verdade para o campo da saúde mental. Esses autores consideram que devem ser desenvolvidos maiores estudos que possam embasar as políticas de saúde, pois as mesmas devem ser reestruturadas, considerando e contemplando as concepções populares sobre saúde. 2.2 Possibilidades e Dificuldades do Trabalho em Saúde Nota-se que a Psicologia, nas últimas décadas, vem buscando alcançar um lugar mais amplo, no que diz respeito às intervenções em saúde (TRAVERSO-YÉPEZ, 2001). Porém, algumas dificuldades se apresentam nesse âmbito, dentre elas estão a falta de adesão dos pacientes aos programas elaborados pelo setor; as dificuldades dos psicólogos em se inserir em equipes multiprofissionais; as instalações físicas precárias; a ausência de modelos teórico-práticos que possibilitem o desenvolvimento de ações efetivas na melhora das condições de saúde da população (DIMENSTEIN, 1998); e o fato do indivíduo ser tratado como fosse um ser a-histórico e a-social (BEZERRA, 1992). 2 A Psicologia ainda está muito ligada ao modelo biomédico que, segundo Remem (1993), deixa de levar em consideração a experiência subjetiva do paciente e deixa de observar as questões positivas que o paciente possui, que contribuem para a recuperação do mesmo. Assim é preciso olhar mais para as potencialidades, para individualidade e para os aspectos contextuais e sócio-históricos dos indivíduos. Só assim, será possível construir uma assistência efetiva, desenvolvendo modelos mais amplos de atuação, que permitam a troca entres saberes entre os diferentes profissionais que trabalham com saúde (DIMENSTEIN,1998). A inserção dos psicólogos no campo da saúde mental ocorreu em um contexto no qual a crítica ao modelo asilar encontrava-se presente. Havia críticas em relação às equipes formadas predominantemente por médicos, sendo considerada a proposta de formação de equipes multiprofissionais condição necessária para a formação de um novo modelo de serviço de saúde, que se contrapunha ao modelo hospitalocêntrico existente. Nesse modelo, a equipe multiprofissional possui um importante papel, uma vez que se torna fundamental ampliar as técnicas de diagnóstico e tratamento (DIMENSTEIN, 1998). Ao considerarmos os serviços de Psicologia Clínica, observamos que os profissionais desta área deparam-se com diferentes dificuldades em seu trabalho. Estas dificuldades estão relacionadas com o baixo índice de procura pela população e um grande abandono dos tratamentos por parte dos pacientes, logo nos momentos iniciais. Além disso, observam-se atrasos, freqüentes faltas aos atendimentos e falta de adesão aos programas elaborados pelo setor (DIMENSTEIN, 1998). Outra dificuldade diz respeito à inserção dos profissionais nas equipes multiprofissionais. Há ainda a defasagem salarial, as instalações físicas encontram-se em más condições, etc. Pode ainda ocorrer certo desencantamento do psicólogo, quando se depara com a política de saúde existente nas instituições de saúde atualmente. Isso ocorre porque esta política ainda está, essencialmente, voltada a produção, ao invés de priorizar a qualidade dos mesmos (DIMENSTEIN, 1998). A Psicologia vem buscando um papel mais amplo na intervenção em saúde. No entanto, alguns autores questionam a própria ausência de modelos diferenciados daquele proposto pela Psicologia Clínica para a intervenção em saúde, pois a formação acadêmica e a intervenção em Saúde têm sido restritas à Clínica Individual (DIMENSTEIN, 1998, YAMAMOTO, SIQUEIRA e OLIVEIRA, 1997). Nesse sentido, percebe-se uma inadequação da formação acadêmica recebida, pois as universidades, de maneira geral, ainda não estão preparando um profissional que possa atuar de forma efetiva no Sistema Único de Saúde (SUS), que demanda novas habilidades 3 de seus profissionais. Muitas vezes, o currículo universitário dos cursos de Psicologia, passa de um conjunto de disciplinas descontextualizadas, que contribuem para o isolamento do profissional no campo da saúde (DIMENSTEIN, 1998). Desse modo, segundo Dimenstein (1998), os psicólogos fariam um trabalho mais útil no âmbito da assistência à saúde se tivessem modelos ampliados de atuação. Esses modelos não devem possuir barreiras à troca de saberes. Para isso, é necessário que o psicólogo reconheça que o trabalho em saúde é complexo e que desafia constantemente o profissional, sendo necessário um trabalho em equipes. Assim, é preciso que se busquem as soluções conjuntas com outros profissionais, o que leva a busca de construção de outros modelos de intervenção, além do modelo clínico. 2.3 O trabalho em equipe - Inter e Transdisciplinaridade Observamos que no âmbito da saúde o trabalho integrado de várias áreas é fundamental. Para a realização deste trabalho, existem diferentes propostas, dentre elas a interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade. Contudo, percebe-se que os profissionais e acadêmicos nem sempre conhecem ou utilizam essas propostas. De acordo com Saupe et al. (2005), o termo multidisciplinaridade se refere ao trabalho de várias especialidades desprovidas de objetivos comuns sem que haja cooperação ou interação entre elas. O termo pluridisciplinaridade, por sua vez, supõe um núcleo comum, ou seja, uma parcela de colaboração entre as especificidades, no entanto sem ordenação. Essas duas terminologias se aproximam, sendo frequentemente usadas como sinônimos, o que não representa um erro. Em uma relação pluridisciplinar, por exemplo, um sujeito poderá ser primeiramente atendido pelo médico de família; após, poderá ser encaminhado ao otorrinolaringologista que, de acordo com as necessidades do paciente, poderá encaminhá-los a outros profissionais como ao ortodontista e ao fonoaudiólogo. Desse modo, cada profissional exerce seu trabalho de forma individual, sem colaboração direta. Numa abordagem interdisciplinar, o caso seria estudado de forma conjunta pelos especialistas, bem como as possíveis soluções a serem implementadas seriam levadas a cabo pela equipe. Na interdisciplinaridade há a interesecção de disciplinas especializadas, que produzem subdisciplinas, especializadas em novos objetos, com metodologias próprias e novas perspectivas teóricas. Observa-se uma síntese parcial do conhecimento cientifico na interdisciplinaridade (LUZ, 2009). Contudo, é importante lembrar que a interdisciplinaridade não anula a disciplinaridade, mas sim, favorece o conhecimento dos limites e das potencialidades de cada área de saber, a fim de possibilitar um caminho rumo ao fazer 4 coletivo. Nesse sentido, considera-se a interdisciplinaridade é essencial ao âmbito da saúde pública, uma vez que é intrínseca a complexidade do objeto de estudo (GOMES, DESLANDES, 1994). Na área da saúde, a interdisciplinaridade é compreendida como “a relação articulada entre as diferentes profissões da saúde” (SAUPE et al., 2005, p. 523). Ela abrange tanto a complexidade do objeto das ciências da saúde como a necessidade de uma visão integrada. Considera-se que ela é um dos caminhos que possibilita a realização de uma atenção de caráter integral à saúde, sendo que esse novo formato de relacionamento entre as disciplinas influi na organização e no processo de trabalho dos profissionais de saúde, construindo uma atenção integral ao invés de ações fragmentadas e descontextualizadas (SEVERO, SEMINOTTI, 2010). A transdisciplinaridade também se encontra correlacionada à complexidade do objeto em saúde. Para compreendermos o que ela significa olharemos a Carta da transdisciplinaridade, proposta em 1994 no I Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, no Convento de Arrábida, Portugal. Destacamos três artigos da mesma: Artigo 1: Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição e de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível com a visão transdisciplinar. Artigo 3: A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa. Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que se negue ao diálogo e à discussão, (...). O saber compartilhado deveria conduzir a uma compreensão compartilhada, baseada no respeito absoluto das diferenças entre os seres, (...). De acordo com Morin (2006), o pensamento complexo supõe a existência de um conjunto de elementos que ativamente se relacionam entre si, possibilitando a criação de algo novo. Assim a quantidade, a qualidade, a variação e a integração dos elementos envolvidos no sistema determinam sua complexidade, que possibilita, por sua vez, uma nova forma de interpretar a realidade. O pensar de forma complexa significa o não reducionismo. Desse modo, como salientam Severo e Seminotti (2010), entende-se a atenção à saúde de modo complexo, influenciado pelos saberes das várias especialidades envolvidas bem como pela dificuldade de diálogo entre tais especialidades. A relação existente entre interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, de acordo com Alvarenga, Sommerman e Alvarez (2005), é que a transdisciplinaridade parte do disciplinar. Porém o amplia uma vez que constitui-se num saber que institui vários outros saberes, 5 promove o encontro entre teoria e prática, entre filosofia e ciência, caracterizando, assim, um saber complexo. Inter e transdisciplinaridade são dois níveis do mesmo conhecimento. 3. METODOLOGIA Participaram deste estudo 46 estudantes de ambos os sexos (76,09% sexo feminino), do 2°, 3° e 4° ano da Psicologia, que tinham como idade média de 22,27 anos. Esses acadêmicos responderam coletivamente, em sala de aula, um questionário anônimo composto por questões abertas que se destinavam a investigar as concepções dos alunos referentes aos conceitos de saúde, saúde mental, inter e transdisciplinaridade. As respostas do questionário foram submetidas a uma análise de conteúdo. Este tipo de análise se propõe analisar as respostas através do desmembramento de sua estrutura, organizando-as em categorias que agrupam conteúdos semelhantes, de modo a esclarecer as diferentes características do fenômeno, extraindo a sua significação. A mesma é composta por três momentos: a pré-análise (organização do material e formulação das questões norteadoras); a exploração do material também denominada codificação dos dados; e o tratamento dos resultados, momento no qual se realizam inferências e interpretações dos conteúdos analisados (BARDIN, 2000). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Em relação ao conceito de saúde, os estudantes de Psicologia associaram essa palavra principalmente às concepções de bem-estar e qualidade de vida (30,49%), equilíbrio (15,85%), à relação com o ambiente (14,64%); a aspectos físicos e mentais (8,54%); à ausência de doenças (8,54%); à amplitude do conceito (8,54%); à concepção integral de sujeito (6,1%), a capacidades de enfrentamento do indivíduo (3,66%) e à noção de instabilidade (3,66%). Já o conceito de saúde mental foi relacionado às noções de bem-estar psíquico (24,44%), à capacidade de adaptação/funcionamento (21,1%); à capacidade de percepção do indivíduo acerca de si mesmo (14,44%), à idéia de equilíbrio (13,33%), à capacidade de estabelecimento de relações sociais (10%); à noção de abrangência (8,88%), à idéia de estabilidade (5,55%), e a outras respostas (2,22%). Os estudantes atribuíram à etiologia da doença mental a fatores psicológicos [traumas e mal estar psíquico] (34%), a fatores ambientais (16%), a fatores genéticos e orgânicos (14%), a diversos fatores (13%), a atividades diárias (8%), a condições de cuidado (6%), a situações de risco (5%), a história do indivíduo (2%) e 2% deles não souberam responder qual seria a etiologia da doença mental. 6 As dificuldades identificadas no trabalho do psicólogo com saúde mental foram: às dificuldades de manejo clínico com os pacientes (25,62%), às limitações técnicas e afetivas do terapeuta (23,18%), as relacionadas ao trabalho em equipe (23,17%), à falta de estrutura e recursos (15,85%) e às questões referentes ao contexto social (2,44%); 4,88% das respostas relataram que as dificuldades eram muitas, contudo, essas respostas não indicavam quais seriam essas muitas dificuldades; 4,88% dos estudantes afirmaram que não sabiam responder a questão. A categoria manejo clínico abrange teve como respostas a falta de colaboração do paciente e familiar na clínica, o fato de cada paciente trazer uma nova situação para o terapeuta, a responsabilidade e a competência que o profissional da área deve ter frente à fragilidade do sujeito. Já a categoria limitações técnicas e afetivas citou alguns sentimentos do próprio psicólogo como dificultando seu trabalho, a exemplo encontramos o individualismo, incerteza, resistência, etc. As dificuldades associadas a equipe de trabalho referiam distanciamento entre os campos de saberes e entre os profissionais na prática da saúde mental. No que se refere aos fatores que contribuem para um trabalho mais efetivo do psicólogo na área de saúde mental, os estudantes deram ênfase à questão da realização de terapia própria (56,43%), a possibilidade de trabalho multidisciplinar (9,9%), ao auxilio para as questões de compreensão do contexto social (9,9%), a possibilidade de utilização de conhecimentos e instrumentos psicológicos (9,9%) e a possibilidade de discutir e ampliar a visão de saúde (3,96%). Torna-se interessante destacar que 4,95% não conseguiram especificar como a Psicologia faz essa contribuição, e 4,95% constavam não saber responder. No que diz respeito ao conceito de interdisciplinaridade, observou-se que este conceito esteve associado ao trabalho em equipe com a participação de vários profissionais de diferentes áreas (44,44%); ao trabalho que realiza uma troca de idéias e conhecimentos entre os diferentes profissionais (31,48%); à manutenção das especificidades de cada área apesar do trabalho conjunto (9,26%), à busca por prestação de um melhor atendimento ao paciente (9,26%) e à criação de algo novo (3,70%). Destaca-se que 1,85% dos estudantes deixaram essa questão em branco. Sobre o conceito de transdisciplinaridade, observou-se que este esteve relacionado à união de diversos profissionais, que buscam transpor as barreiras de suas especialidades criando algo novo (28,85%); a conceitos de interdisciplinaridade (28,83%); à idéia de abrangência (3,85%). Nessa questão, 15,38% dos estudantes disseram não saber do que se tratava o conceito e 11,54% deixaram a questão em branco. Observou-se que 9,6% das respostas divergiam sobre o conceito de transdisciplinaridade. 7 5. CONCLUSÃO Em relação ao conceito de saúde, verifica-se que a maior parte de respostas (30,49%) apresentavam idéias similares àquelas propostas pela OMS, que compreende saúde como “o estado do mais completo bem–estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade" (SCLIAR, 2007), contudo, outros estudantes ainda compreendem a saúde apenas como ausência de doença. De maneira geral, observamos que alguns estudantes trazem concepções de saúde e saúde mental, e da etiologia dessas associadas à idéia de um processo dinâmico, que envolve tanto fatores biológicos, sociais como subjetivos (percepção de si). Nesse sentido, observamos que alguns estudantes conseguirem refletir e rever o seu conceito de saúde e saúde mental, ampliando-os para além do modelo biomédico, outros ainda preservam esse modelo, sem questioná-lo. Essas diferenças talvez possam ser explicadas pelo semestre no qual o estudante se encontra no curso, sendo que estudantes dos primeiros anos apresentaram concepções menos elaboradas, que estudantes mais ao final do curso. Assim vemos que a formação parece auxiliar no processo de reflexão e ampliação de modelos de compreensão de mundo. Sobre o trabalho do Psicólogo na Saúde mental, percebe-se que os estudandes entendem que para que esse seja uma contribuição efetiva na transformação social, é preciso que se amplie os modelos de atuação existentes, revendo nesse processo determinadas concepções presentes em seus cotidianos. Dimenstein (1998) nos lembra que os currículos deveriam possibilitar aos profissionais o desenvolvimento do pensamento crítico no que se refere às teorias existentes, para que seja abandonada a posição ingênua, de que estas são universais e podem abranger qualquer contexto sociocultural. No que se refere à interdisciplinaridade, observa-se que em 31,48% dos estudantes compreenderam esse conceito como a atuação conjunta de diferentes profissionais que respeitam as delimitações de cada especialidade, o que lhes possibilita a troca de conhecimentos. Já o conceito de transdisciplinaridade pareceu ser mais desconhecido dos estudantes de Psicologia, apenas 28,85% dos acadêmicos o associaram a profissionais que buscam transpor as barreiras de suas especialidades criando algo novo. Desse modo, constata-se a necessidade de esclarecimento desses conceitos junto aos estudantes Psicologia, uma vez que os mesmos são de fundamental relevância para o trabalho em saúde e saúde mental. De modo geral, observa-se que os alunos não dominam os conceitos investigados. Evidencia-se, assim, uma necessidade de maior esclarecimento sobre os mesmos na sua formação. 8 REFERÊNCIAS ALVARENGA, A. T.; SOMMERMAN, A.; ALVAREZ, A. M. S. 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