universidade federal do rio grande do norte centro de

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
ALIAN PAIVA DE ARRUDA
OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO NAS LAGOAS DE ARITUBA,
BOÁGUA E CARCARÁ (NÍSIA FLORESTA/RN):
análise de uma outra face do turismo potiguar
NATAL-RN
2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA
ALIAN PAIVA DE ARRUDA
OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO NAS LAGOAS DE ARITUBA,
BOÁGUA E CARCARÁ (NÍSIA FLORESTA/RN):
análise de uma outra face do turismo potiguar
Prof. Dra. Edna Maria Furtado
Orientadora
NATAL-RN
2010
Divisão de Serviços Técnicos
Catalogação da Publicação na Fonte / Biblioteca Central Zila Mamede
Arruda, Alian Paiva de.
Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e
Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do turismo
potiguar / Alian Paiva de Arruda. – Natal, 2010.
137 p. : il.
Orientador: Edna Maria Furtado.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de PósGraduação e Pesquisa em Geografia.
1. Espaço (Geografia) 2. Turismo. 3. Excursionismo. 4. Lazer –
Turismo. 5. Arituba, Lagoa de (RN). 6. Boágua, Lagoa de (RN). 7.
Carcará, Lagoa de (RN). 8. Nísia Floresta (RN). I. Furtado, Edna Maria.
II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.
RN/UF/BCZM
CDU 911.6:379.85
ALIAN PAIVA DE ARRUDA
OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO NAS LAGOAS DE ARITUBA,
BOÁGUA E CARCARÁ (NÍSIA FLORESTA/RN):
análise de uma outra face do turismo potiguar
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação e Pesquisa
em Geografia, da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, para obtenção
do título de Mestre em Geografia.
Orientadora: Profª Dra. Edna Maria
Furtado
NATAL-RN
2010
ALIAN PAIVA DE ARRUDA
OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO NAS LAGOAS DE ARITUBA,
BOÁGUA E CARCARÁ (NÍSIA FLORESTA/RN):
análise de uma outra face do turismo potiguar
A dissertação intitulada Os “farofeiros”
em excursão nas lagoas de Arituba,
Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN):
análise de uma outra face do turismo
potiguar, apresentada por Alian Paiva de
Arruda, foi aprovada e aceita como
requisito para obtenção do grau de mestre
em Geografia.
Aprovada em: 11/06/2010.
______________________________________
Profª Dra. Edna Maria Furtado
Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
Orientadora
______________________________________
Profª Dra. Rita de Cássia da Conceição Gomes
Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN
Membro
______________________________________
Profª Dra. Adyr Balastreri Rodrigues
Universidade de São Paulo-USP
Membro
Dedico a vocês:
Kado, Kada, Beto, Adília, Anny, Samuel,
André (in memoriam) e Jan, irmãos da Av.
06;
Ariosvaldo Araújo e família, lá da Av. 11;
Rebecca e Bárbara, filhas da lagoa da
Ilhota.
AGRADECIMENTOS
A realização desta pesquisa representa para mim mais uma etapa vencida,
resultado de muito trabalho, persistência, angústia e paixão. Então, é chegada a
hora de reconhecer a importância da família e dos velhos e novos amigos que
estiveram comigo nesta caminhada, o que me permite dizer que é muito bom ter a
quem agradecer.
A princípio agradeço a Ariosvaldo, meu companheiro, e a Rebecca e Bárbara,
minhas filhas, aos quais agradeço imensamente pelo amor, incentivo nas horas de
cansaço, provocações, tolerância e compreensão pela ausência.
Registro minha gratidão aos meus sete irmãos, inclusive os que perdi pois,
cada um, ao seu modo, contribuiu efetivamente na minha formação pessoal,
ocupando os lugares dos meus pais.
No âmbito acadêmico, meus agradecimentos à Edna Maria Furtado,
professora orientadora, que imensamente contribuiu através da sua experiência na
abordagem geográfica do turismo e com seus gestos de confiança me permitindo
trilhar nos caminhos desta pesquisa; do mesmo modo que agradeço aos professores
e queridos amigos João Mendes, Irene Araújo e Gilene Moura pelo acolhimento e
disponibilidade de sempre.
Sou grata, também, a todos os demais professores que, ao longo deste curso
de mestrado, provocaram inquietações e despertaram em mim a importância do rigor
na vida acadêmica, com destaque para Maria Adélia A. Souza, Adyr Balestreri
Rodrigues, Aldo Dantas e Rita de Cássia C. Gomes.
Não posso deixar de mencionar minha gratidão aos amigos da Secretaria
Municipal de Saúde de Natal, dos quais sempre tive o apoio para realizar as
atividades ao longo do curso, e, também, nas horas de cansaço. De um modo
especial, agradeço à Marisa Sandra, Maria Cristiana e demais amigos da Vigilância
Ambiental e à Aglailde cuja solidariedade foi indispensável na reta final.
Por fim, agradeço aos meus amigos de turma: Aglene, Joseara, Kelson,
Larissa Viera e Mariana e aos parceiros da pesquisa de campo: Carlos Henrique,
Amires, Ebba Lind e Thiago.
Muito obrigada a TODOS e até a próxima!
RESUMO
Esta dissertação analisa “uma outra face do turismo potiguar”, a face não
planejada, negligenciada e segregada da atividade turística. Trata-se do estudo do
excursionismo, uma prática de lazer turístico realizada por turistas com baixo poder
de consumo, denominados pejorativamente de “farofeiros”, pelo senso comum. O
recorte espacial da pesquisa compreende as lagoas de Arituba, Boágua e Carcará
(Nísia Floresta/RN), onde se observa nos dias de domingo e feriados a chegada de
centenas de excursionistas, oriundos da Região Metropolitana de Natal, de outros
municípios do entorno e de estados vizinhos, como Paraíba e Pernambuco. O
objetivo desta pesquisa é analisar como se dá a apropriação do espaço pela prática
do excursionismo enfocando suas relações com outros agentes sociais os quais,
também, se apropriam de um território turístico. A discussão teórica considera o
consumo do espaço pela prática do lazer turístico e a apropriação por distintos
agentes sociais, utilizando categorias de análise como produção do espaço, território
e lazer. A pesquisa de campo foi realizada por meio de entrevistas e aplicação de
questionários, junto aos excursionistas, organizadores das excursões, comerciantes
locais, representantes do poder público municipal e da categoria profissional de
bugueiros; além disto, o registro fotográfico, diálogos informais e a observação em
campo foram instrumentos metodológicos importantes. A partir dos dados
realizaram-se análises estatísticas e elaboração de mapas temáticos os quais
expressam os fluxos estabelecidos pelos excursionistas e a segregação da
atividade. Com a pesquisa, pode-se afirmar que a prática do excursionismo é
negligenciada pelo poder público, pois esta contraria a intencionalidade dos agentes
hegemônicos presentes neste território turístico uma vez que este visam o
desenvolvimento de uma atividade lucrativa, voltada para turistas com maior poder
de consumo. Observa-se nesta face ignorada do turismo potiguar, tida como “pobre”
e “suja”, a existência de conflitos entre os distintos agentes sociais: turistas,
comerciantes locais e poder público, ao mesmo tempo em que, também, desperta o
interesse e é apropriada pelo setor informal e formal da economia. O excursionismo
é um fenômeno expressivo, uma prática social relevante, realizada por cidadãos que
compõem a classe trabalhadora os quais, para terem um dia de lazer, utilizam-se de
práticas alternativas de consumo e burlam variadas estratégias de segregação que
lhes são impostas neste território turístico, comportamentos que, em parte justifica a
alcunha de “farofeiro” dada a estes turistas.
Palavras-chave: Excursionismo. Lazer turístico. Espaço. Território turístico
ABSTRACT
This thesis analyzes “another side of Potiguar tourism”, the unplanned side,
neglected and kept out of touristic activities: excursionism, a leisure practice enjoyed
by tourists with low consumer power, and who are commonly referred by the
pejorative term “farofeiros” (picnic lovers). The geographic research sites considered
for this study include Arituba, Boágua and Carcará lakes in Nísia Florest, Rio Grande
do Norte, where on Sundays and holidays the arrival of hundreds of excursionists,
from around the metropolitan region of Natal, from surrounding municipalities, and
neighboring States, such as Paraíba and Pernambuco, can be observed. The
objective of this study is to analyze the appropriation of the physical site by the
practice of excursionism, focusing on its relation to other social agents that also
appropriate a designated touristic area. The theoretical discussion considers the use
of the space by the touristic leisure practice and the appropriation by distinct social
agents, using categories of analysis, such as, production of the space, territory and
leisure. The field work was completed with interviews and questionnaires
administered to excursionists, excursion organizers, local merchants, representatives
of the public setor from the municipalities, and professional dune buggy drivers;
besides this, photos, informal dialogue and field observations were important
methodological instruments used. From the data, statistical analysis and the
development of thematic maps demonstrating the established flux between
excursionists and the segregated activity were done. With this research, one can
affirm that the practice of excursionism is neglected by the public sector, contrary to
the intention of the hegemonic agent‟s intentionality present in this touristic territory
which aim at the development of a lucrative activity, geared toward tourists with
greater spending power. This ignored and neglected faction of Potiguar tourism is
considered “poor” or “dirty”, and generate conflicts among the distinct social agents:
tourists, the market and the public sector, simultaneously peaking interest, which is
then appropriated by the informal sector and formal economy. Excursionism is an
expressive phenomenon, a socially relevant practice, enjoyed by citizens of the
working class who, in order to have a day of leisure, use alternative consumer
practices and subvert various strategies of segregation that are imposed within these
tourist areas, behavior that, in part, justifies the nickname, “picnic lovers”, given to
these tourists.
Keywords: Excursionism. Tourist Leisure. Physical Space. Tourist Areas
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FOTOGRAFIAS
3-
Ônibus de excursão estacionados nas proximidades da lagoa de
Boágua......................................................................................................
Ônibus de excursão estacionados nas proximidades da lagoa de
Carcará......................................................................................................
Excursionistas na lagoa de Boágua, Nísia Floresta/RN............................
4-
Excursionistas na lagoa de Boágua, Nísia Floresta/RN............................
23
5-
Excursionistas Iraquianos (sunitas e xiitas) no lago Habbaniya, Iraque...
26
6-
Vista parcial do trecho viário Natal-Pirangi do Norte da RN-063, na
década de 1960: município de Parnamirim...............................................
Vista parcial do trecho viário Natal-Pirangi do Norte da RN-063, na
década de 1960: município de Nísia Floresta.........................................
Vista parcial do trecho viário Pirangi do Sul-Búzios-Tabatinga, praia de
Búzios, litoral de Nísia Floresta/RN...........................................................
Estabelecimentos comerciais instalados na margem da lagoa: Arituba,
ano 2001...................................................................................................
Estabelecimentos comerciais instalados na margem da lagoa: Boágua,
ano 2001...................................................................................................
Estabelecimentos comerciais instalados na margem da lagoa: Carcará,
ano 2001...................................................................................................
Instalações físicas dos estabelecimentos comerciais em Arituba, ano
2010.........................................................................................................
Instalações físicas dos estabelecimentos comerciais em Boágua, ano
2010.........................................................................................................
Instalações físicas dos estabelecimentos comerciais em Carcará, ano
2010.........................................................................................................
Condições do acesso: entroncamento da RN-063 com estrada
carroçável que liga à lagoa de Carcará....................................................
Condições do acesso: estrada carroçável que interliga as lagoas pelo
interior do município..................................................................................
Área de estacionamento na lagoa: Arituba...............................................
12-
7891011121314151617-
22
22
23
58
58
59
64
64
64
66
66
66
70
70
70
18- Área de estacionamento na lagoa: Boágua..............................................
70
19- Área de estacionamento na lagoa: Carcará..............................................
70
20- Lixo encontrado na área utilizada pelos excursionistas: Arituba...............
71
21- Lixo encontrado na área utilizada pelos excursionistas: Boágua..............
71
22- Chegada dos “farofeiros” na lagoa: Arituba..............................................
74
23- Chegada dos “farofeiros” na lagoa: Boágua.............................................
74
24- Chegada dos “farofeiros” na lagoa: Carcará.............................................
74
25- Apropriação das margens das lagoas pelo comércio local: Arituba..........
87
26- Apropriação das margens das lagoas pelo comércio local: Boágua.........
87
27- Apropriação das margens das lagoas pelo comércio local: Carcará........
87
28- Carro popular atolado no trecho que dá acesso à lagoa do Urubu...........
89
29- Território dos excursionistas: Arituba........................................................
90
30- Território dos excursionistas: Boágua.......................................................
90
31- Território dos excursionistas: Carcará.......................................................
90
32- Ocupação de acessos públicos pelos comerciantes locais em Arituba:
ampliação predial da barraca....................................................................
33- Ocupação de acessos públicos pelos comerciantes locais em Arituba:
porta de entrada de banheiros..................................................................
34- Comércio local voltado para excursionistas em Boágua: entrada do
parque aquático.........................................................................................
35- Comércio local voltado para excursionistas em Boágua: casa de show...
36- Placa ilustrativa do discurso ambiental presente no território turístico.....
37- Construções abandonadas utilizadas por excursionistas na lagoa de
Arituba: área interna..................................................................................
38- Construções abandonadas utilizadas por excursionistas na lagoa de
Arituba: área externa.................................................................................
39- O dia de lazer na lagoa: Arituba................................................................
91
91
94
94
99
103
103
104
40- O dia de lazer na lagoa: Boágua...............................................................
105
41- O dia de lazer na lagoa: Carcará..............................................................
105
MAPAS
1234567-
Mapa de localização do recorte espacial da pesquisa: lagoas de
Arituba, Boágua e Carcará em Nísia Floresta (RN)................................
Mapa de localização dos acessos viários de Nísia Floresta (RN)..........
Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos e
dos excursionistas na lagoa de Arituba, Nísia Floresta (RN)..................
Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos
excursionistas, lagoa de Boágua, Nísia Floresta (RN)............................
Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos
excursionistas, lagoa de Carcará, Nísia Floresta (RN)............................
Mapa de localização das unidades emissoras de excursionistas:
intermunicipais e interestaduais..............................................................
Mapa de fluxo turístico entre bairros de Natal (RN), emissores dos
excursionistas, e as lagoas de Arituba, Boágua e Carcará.....................
38
55
83
84
85
114
115
QUADROS
12-
Relação dos estabelecimentos comerciais cujos responsáveis foram
entrevistados............................................................................................
Estabelecimentos de serviços de alimentação por lagoa, ano 2010.......
40
64
TABELAS
1-
Opinião dos excursionistas sobre discriminação.....................................
96
2-
Opinião sobre o espaço físico disponível aos excursionistas...................
96
34-
Avaliação sobre a existência de conflitos durante as excursões nas
unidades receptoras..................................................................................
Avaliação dos excursionistas a respeito da limpeza nas lagoas...............
100
5-
Avaliação sobre a existência de receptores de lixo..................................
100
6-
Destino do lixo produzido pelos excursionistas ........................................
100
7-
Avaliação sobre a existência das instalações sanitárias...........................
101
8-
Como resolve as necessidades fisiológicas..............................................
102
9-
Perfil dos excursionistas por gênero.........................................................
106
10- Perfil dos excursionistas por faixa etária...................................................
106
11- Nível de escolaridade dos excursionistas.................................................
107
12- Situação ocupacional dos excursionistas..................................................
108
13- Atuação profissional dos excursionistas...................................................
108
14- Renda média dos excursionistas..............................................................
109
15- Avaliação do consumo nas lagoas............................................................
110
16- Média anual de excursões........................................................................
111
17- Avaliação sobre as excursões nas lagoas de Nísia Floresta....................
112
18- Lugar preferido para excursões................................................................
116
19- Avaliação sobre o que os excursionistas gostam na paisagem das
lagoas........................................................................................................
20- Motivo das excursões................................................................................
97
117
117
21- Avaliação sobre a alcunha de “farofeiro”...................................................
118
22- Avaliação sobre andar em grupo de “farofeiros”.......................................
119
SUMÁRIO
1
NOTAS INICIAIS DA PESQUISA...........................................................
12
2
DO ENCONTRO COM O OBJETO À PESQUISA DE CAMPO.............
2.1 OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO, O CONTEXTO...........................
2.2 A DISCUSSÃO DE CONCEITOS: DO ESPAÇO AO
EXCURSIONISMO..................................................................................
2.3 A PESQUISA DE CAMPO: EXPLICAÇÃO DOS PASSOS DADOS.......
19
21
AS LAGOAS DE ARITUBA, BOÁGUA E CARCARÁ NA ROTA DO
TURISMO POTIGUAR: UMA LEITURA SOBRE O PROCESSO DE
PRODUÇÃO DO ESPAÇO.....................................................................
3.1 REFLEXÃO SOBRE O PROCESSSO DE PRODUÇÃO DO
ESPAÇO.................................................................................................
3.2 A INTERVENÇÃO DO ESTADO E A INFRA-ESTRUTURA URBANA
NECESSÁRIA AO TURISMO NAS LAGOAS.........................................
3.3 A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO PELO COMÉRCIO LOCAL,
TURISTAS E PODER.PÚBLICO MUNICIPAL........................................
28
36
3
UM “FAROFEIRO” INCOMODA MUITA GENTE, DOIS
“FAROFEIROS” INCOMODAM MUITO MAIS: COMPREENSÃO
DOS CONFLITOS TERRITORIAIS........................................................
4.1 REFLEXÃO SOBRE UM TERRITÓRIO DE USO TURÍSTICO..............
43
44
49
60
4
4.2 “FAROFEIROS”, PODER PÚBLICO E COMERCIANTES LOCAIS:
CONFLITOS EXISTENTES E AS ESTRATÉGIAS DE SEGREGAÇÃO
4.3 A INFRA-ESTRUTURA DISPONÍVEL, UM DESRESPEITO AO
CIDADÃO...............................................................................................
74
77
79
97
UMA OUTRA FACE DO TURISMO POTIGUAR: OS
EXCURSIONISTAS EM DISCUSSÃO................................................... 104
5.1 PERFIL DOS EXCURSIONISTAS: GÊNERO, FAIXA ETÁRIA,
ATUAÇÃO PROFISSIONAL E RENDA.................................................. 105
5.2 OS FLUXOS ESTABELECIDOS E AS MOTIVAÇÕES DOS
EXCURSIONISTAS................................................................................. 110
5
5.3 OS EXCURSIONISTAS E A ALCUNHA DE “FAROFEIRO”...................
118
6
120
NOTAS FINAIS DA PESQUISA.............................................................
REFERÊNCIAS....................................................................................... 125
APÊNDICES...........................................................................................
129
12
1 NOTAS INICIAIS SOBRE A PESQUISA
O que dizer, hoje, sobre os novos rumos da pesquisa nas
ciências humanas? Parece que nunca a crise dos paradigmas
foi tão profunda, por nos sentirmos tão vulneráveis, os
caminhos estão abertos e livres, deixando-nos à vontade para
caminhar, convictos de que erraremos e acertaremos. [...].
Devemos privilegiar temas de relevância social que dêem à
sociedade respostas para seus anseios mais profundos, para
suas necessidades mais prementes.
Adyr Balastreri Rodrigues
O tema desta dissertação, intitulada Os “farofeiros” em excursão nas lagoas
de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do
turismo potiguar, desenvolveu-se após alguns questionamentos sobre a prática
social do excursionismo, verificada nestas lagoas desde a década de 1990, onde em
dias de domingos e feriados percebe-se a chegada de centenas de excursionistas os
quais são denominados “farofeiros” pelo senso comum.
Sobre o termo “farofeiro” dado aos excursionistas entende-se nesta pesquisa
que é preconceituoso e pejorativo. Logo, sobre sua utilização ao longo deste
trabalho é necessário enfatizar que se dá livre de qualquer preconceito por parte da
pesquisadora, sendo usado sempre entre aspas no sentido de reproduzir o
pensamento do senso comum ou de transcrever a fala de algum entrevistado.
Assim, a utilização da palavra “farofeiro” já no título deste trabalho tem como
objetivo expor de modo enfático a temática proposta, que é discutir sobre o que se
denominou nesta pesquisa como sendo “uma outra face do turismo potiguar”, a face
da atividade turística que é realizada pelas massas, a qual se mostra “pobre” e “feia”,
que é negligenciada pelo poder público e repudiada por diversos agentes sociais nos
espaços turísticos onde ocorre.
É nesta “outra face” que se percebe o excursionismo, uma prática social
entendida aqui como uma modalidade de turismo popular cuja demanda turística
corresponde, predominantemente, às classes sociais menos favorecidas e que
diante de seu baixo poder de consumo utiliza-se de alternativas criativas e de
menores custos para ter direito a um dia de lazer em áreas de atratividade turística.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
13
Trata-se de um fenômeno social, comum, que ocorre, normalmente, em dias
de domingo e feriados, dada a disponibilidade de tempo livre dos excursionistas, em
sua maioria trabalhadores, os quais realizam uma viagem de poucas horas em
direção às áreas de praias, lagoas, rios, balneários levando junto comida, bebida,
churrasqueira, carvão, guarda-sol, cadeiras, entre outros itens que caracterizam a
prática dos “farofeiros”.
É válido observar que segundo a definição da Organização Mundial de
Turismo
(OMT),
as
pessoas
que
realizam
excursões
são
denominadas
excursionistas ou “visitantes de um dia”, e não turistas, pois não realizam pernoite.
Contudo, apoiando-se na discussão realizada por Rodrigues (1997, p.113) que
compreende a atividade como “turismo de um dia”, é que os excursionistas, são
tratados nesta pesquisa, também, como turistas.
Mas, antes de elucidar os pontos primordiais desta pesquisa cujo enfoque é a
“face” negligenciada do turismo potiguar é importante um breve esclarecimento
sobre a “face” privilegiada desta atividade e que não se restringe ao estado do Rio
Grande do Norte. Trata-se do turismo enquanto uma atividade econômica rentável,
planejada, inserida nos planos de governos federais, estaduais e municipais e
viabilizada por políticas públicas. Uma atividade gerenciada por órgãos públicos, que
atrai investimentos externos e desperta o interesse do setor privado. Uma “face” que
se volta para o turismo de massa, na qual se estabelece várias formas da parceria
público-privada e onde estão envolvidas grandes operadoras de turismo, como a
CVC, TAM Viagens, Stella Barros que elaboram pacotes turísticos e são vendidos
pelas agências de viagens.
Outro esclarecimento importante é a definição adotada de turismo que nesta
pesquisa é entendido como um fenômeno social, contemporâneo e complexo, que
pressupõe uma descontinuidade espaço-temporal, uma quebra com o cotidiano e
que tem no espaço seu principal objeto de consumo.
É uma atividade moderna, que envolve a produção de espaços, apropriação
de territórios e um consumo turístico, sobretudo, nas cartografias urbanas, apesar de
ser desenvolvida nos mais diversos lugares do mundo. Trata-se de uma prática que
permite análises, sob diversas óticas e que para sua realização envolve o
deslocamento de pessoas pelo território, com incidências territoriais específicas,
quer nas áreas de dispersão (emissoras), nas áreas de deslocamento ou nas áreas
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
14
de atração (receptoras) da demanda turística (CRUZ, 2002; FONSECA, 2005;
FURTADO, 2005; GOMES, R., 2009; RODRIGUES, 1997).
Neste sentido, realiza-se nesta pesquisa uma abordagem geográfica do
turismo enquanto prática social, pondo-se em discussão um tema de grande
relevância, pois o “excursionismo”, o “turismo das massas”, o “turismo de um dia”,
“das excursões de farofeiros”, o turismo “do povão” é uma forma pela qual as
classes menos abastadas da sociedade exercem sua cidadania e fazem valer o
direito ao lazer.
Discute-se aqui sobre uma forma de turismo que não é “pensada” pelo poder
público e que ocorre à mercê das políticas públicas de turismo. Que ocorre em
espaços produzidos e apropriados para o turismo de massa e que revela conflitos
entre agentes sociais distintos, resultando numa prática marginalizada e segregada,
conforme discursos e práticas observados ao longo da pesquisa, especialmente por
parte de representantes do poder público municipal e comércio local que demarcam
territórios nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará, recorte espacial da pesquisa.
Para o início do estudo a questão central foi: como se dá a apropriação do
espaço pela prática do excursionismo nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará
(Nísia Floresta/RN) e sua relação com os agentes sociais diretamente envolvidos:
comerciantes locais, bugueiros profissionais e poder público municipal?
Ao mesmo tempo, outros questionamentos foram levantados e deram corpo à
pesquisa dentre eles: como se dá o processo de produção do espaço turístico em
questão? Quais os conflitos territoriais existentes diante do uso por diversos
agentes? Quem são estes excursionistas e como se apropriam do espaço?
Neste sentido, a hipótese que sustentou a discussão, foi de que, na área da
pesquisa, a apropriação do espaço pelo excursionismo, realizado por turistas de
baixo poder aquisitivo, se dá entre relações conflituosas, pois contraria a
intencionalidade do mercado local, representados por comerciantes e prestadores
de serviços locais, como barraqueiros e bugueiros; e, também, do poder público
municipal os quais visam o aproveitamento do espaço turístico das lagoas com
turistas de maior potencial de consumo.
O objetivo geral desta pesquisa é de analisar como se dá a apropriação do
espaço pela prática do excursionismo nas referidas lagoas; e para isso estabeleceuse como objetivos específicos: compreender o processo de produção do espaço;
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
15
estudar as relações existentes entre excursionistas, comerciantes locais e poder
público municipal; e, conhecer os excursionistas que se apropriam deste espaço,
considerando o perfil, a origem, os fluxos e as motivações que levam centenas de
excursionistas, em dias de domingos e feriados, à área em estudo.
Para a análise do fenômeno foi necessário ampliar a escala de observação,
compreendê-lo além das lagoas, entender sua ocorrência no município de Nísia
Floresta, o qual integra a Região Metropolitana de Natal e considerar sua
proximidade com a capital, Natal, cuja distância aproximada é de 25 km, o que
viabiliza diversos fluxos turísticos, inclusive de excursionistas.
Outro aspecto importante foi perceber que o excursionismo se dava ao sul do
litoral oriental potiguar, área de investimentos diretos das políticas públicas para o
desenvolvimento da atividade turística, desde a década de 1980, o que propiciou a
inclusão das lagoas na rota do turismo sol e mar, consolidado nesta porção do
estado do Rio Grande do Norte e que, atualmente, caracteriza com mais intensidade
o turismo potiguar. Ou seja, foi relevante observar que o turismo de caráter popular
se realiza em espaços que interessam ao turismo de massa, onde as lagoas
assumem o papel de mais um produto turístico a ser consumido pelos turistas que
visitam os dois principais pólos turísticos do estado: Natal e Pipa.
Nesta perspectiva, o recorte temporal delimitou-se da década de 1990 aos
dias atuais, período em que se observa a prática do excursionismo nas lagoas de
Arituba, Boágua e Carcará, conforme identificado na pesquisa; ao mesmo tempo em
que se dão na área de estudo resultados diretos e indiretos de políticas públicas
para o desenvolvimento do turismo potiguar, dotando a área de pesquisa de uma
infra-estrutura urbana, principalmente, de acessos viários, que vem possibilitando
fluxos turísticos de excursionistas, oriundos de vários municípios da Região
Metropolitana de Natal, do interior do Rio Grande do Norte e até de estados vizinhos,
como Paraíba e Pernambuco.
Em termos de desenvolvimento metodológico realizou-se na pesquisa de
campo, ao longo de dois anos, a observação in loco, conversas informais,
entrevistas estruturadas através de questionários, junto aos agentes sociais
envolvidos, como excursionistas, organizadores de excursão, comerciantes locais e
representantes do poder público municipal.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A pesquisa documental se deu através de sites oficiais, pela internet, além
das solicitações diretas em órgãos públicos dentre os quais: Departamento de
Estradas e Rodagens do Rio Grande do Norte (DER), Instituto de Desenvolvimento
Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA) e Secretaria Municipal de Turismo e Meio
Ambiente (Prefeitura Municipal de Nísia Floresta).
Além da etapa empírica, realizou-se a busca pelo aporte teórico o qual foi
encontrado em bancos de teses e dissertações, periódicos e revistas eletrônicas, de
modo que se obteve colaborações de outras ciências através de estudos realizados
sobre a temática do excursionismo nas Ciências Sociais e pelo Turismo, como
exemplo.
Para a análise do fenômeno, foi estabelecido o diálogo com autores que
subsidiaram a discussão como: Adyr Balestreri Rodrigues, Milton Santos, Guilherme
de Alcântara, John Urry, Edna Maria Furtado, Silvia Rubino, Rita de Cássia Ariza
Cruz, entre outros, na perspectiva de uma abordagem interdisciplinar, uma vez que a
temática do excursionismo envolve categorias de análises como espaço, território,
lazer e segregação as quais nortearam a discussão sobre a prática do
excursionismo.
A dissertação está organizada em cinco partes, relacionadas entre si
apontando as respostas ao objetivo geral da pesquisa, ao mesmo tempo que
possuem certa autonomia de compreensão, pois cada uma atende aos objetivos
específicos deste estudo. As reflexões teóricas estão dispostas sempre que
necessárias, visando uma indissociabilidade entre o teórico e o empírico, de modo a
gerar uma melhor compreensão do fenômeno do excursionismo.
Assim, na primeira parte da dissertação intitulada Do encontro com o objeto à
pesquisa de campo, realizou-se uma exposição da problemática, justificativa,
questionamentos, hipótese e objetivos traçados, além de uma discussão teórica que
fundamenta o excursionismo, e por fim, argumenta-se sobre a opção metodológica
que dá sustentação às análises posteriores.
Na segunda parte, como explicita o título, As lagoas de Arituba, Boágua e
Carcará na rota do turismo potiguar, uma leitura sobre o processo de produção do
espaço, refletiu-se sobre o processo de produção do espaço para o uso turístico,
considerando as repercussões das políticas públicas de infra-estrutura que
possibilitaram a entrada das lagoas na rota do turismo potiguar; além de caracterizar
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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os modos atuais de apropriação do espaço pelo poder público, comércio local, e os
vários tipos de turistas que visitam as lagoas.
Em seguida, no capítulo intitulado: Um “farofeiro” incomoda muita gente, dois
“farofeiros” incomodam muito mais: compreensão dos conflitos territoriais, a
pesquisa voltou-se ao estudo das relações existentes entre os agentes sociais
diretamente envolvidos com o excursionismo neste território turístico, enfatizando as
práticas e discursos do poder público municipal como, também, dos comerciantes
locais.
No quarto capítulo, denominado Uma outra face do turismo potiguar: os
excursionistas em discussão, o enfoque foi analisar o perfil dos excursionistas,
quanto ao gênero, renda salarial, atuação profissional; e, ao mesmo tempo,
conhecer os fluxos estabelecidos pelas excursões, no território potiguar, e quais as
motivações que mobilizam os excursionistas às lagoas em estudo.
E, por fim, discorre-se sobre as considerações finais desta pesquisa, que
aqui, numa antecipação das respostas aos questionamentos que subsidiaram a
investigação, destacamos que a apropriação do espaço pelos excursionistas nas
lagoas de Arituba, Boágua e Carcará, é conflituosa, pois contraria os interesses de
agentes sociais diretamente envolvidos: excursionistas, poder público municipal e a
maioria dos comerciantes locais.
Observou-se que é uma prática que incomoda o poder público municipal o
qual reage negligenciando e segregando a atividade através da omissão no seu
papel de ordenador do uso do território. Um incômodo facilmente percebido junto
aos comerciantes locais que utilizam estratégias de segregação, ao impor barreiras
físicas e simbólicas demarcando territórios. A realidade denuncia que o espaço, que
atualmente exerce uma função turística, se vê contraditoriamente apropriado pelo
turismo de massa e, também, das massas.
Enfim, pode-se dizer que os excursionistas burlam variadas estratégias de
segregação e que a prática ocorre meio a relações que, normalmente, contrariam e
incomodam outros agentes envolvidos. Mas a pesquisa apontou, também, que
apesar do baixo poder de consumo os turistas de classes populares já se
apresentam como uma demanda turística economicamente interessante para alguns
agentes do mercado, uma vez que mobiliza, na área da pesquisa, um expressivo
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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fluxo de pessoas há, pelo menos, duas décadas, o que acaba por repercutir de
modo significativo no setor formal e informal da economia.
É válido ressaltar que a realização desta pesquisa é compreendida como o
início de uma caminhada acadêmica, em que foram dados os primeiros passos,
permitindo, aqui, análises embasadas em um corpo teórico e empírico, cujas
entrelinhas apontam novos caminhos de investigação, os quais poderão servir de
subsídios para outros estudos mais aprofundados.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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2 DO ENCONTRO COM O OBJETO À PESQUISA DE CAMPO
O respeito ao indivíduo é a consagração da cidadania, [...]. A
cidadania é uma lei da sociedade que, sem distinção, atinge a
todos e investe cada qual com a força de se ver respeitado
contra a força, em qualquer circunstância.
Milton Santos
O caminho percorrido para o “encontro” com o objeto de investigação desta
pesquisa que envolve a apropriação de espaços turísticos pelas classes populares,
como um exercício da cidadania em busca do direito ao lazer, iniciou-se ainda na
graduação, a partir de um estudo de minha autoria sobre o turismo potiguar no qual,
sob outro enfoque, foi abordada a relevância que a atividade turística e as políticas
públicas de turismo exercem nas transformações espaciais do litoral oriental
potiguar, tomando como recorte a Praia de Pirangi do Norte-Parnamirim/RN (sobre o
assunto ver ARRUDA, 2006).
Com a entrada no Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia
(PPGe), surge a oportunidade de ampliar os estudos sobre o turismo potiguar, desta
vez, considerando a atratividade turística das lagoas de Nísia Floresta, município,
também, localizado ao sul do litoral oriental potiguar.
Contudo, a construção dos propósitos desta pesquisa se deu após
importantes discussões acadêmicas, como resultado dos momentos de orientação e
das relevantes colaborações do exame de qualificação no qual foram apontadas
outras possibilidades de estudo. E, com a aproximação teórica, foi possível
enxergar, no entorno das lagoas de Arituba, Boágua e Carcará, o problema de
investigação desta pesquisa: a prática social do excursionismo, um turismo realizado
pelas classes populares.
De grande relevância, também, foi a experiência enquanto moradora do
município, à margem da lagoa da Ilhota, nas proximidades da área de estudo1. A
partir do que foi possível perceber a existência de conflitos entre diversos agentes
que se apropriavam deste espaço entre eles: moradores “nativos”, proprietários das
1
Esta lagoa não está inserida no recorte espacial da pesquisa pois não atende aos critérios
metodológicos estabelecidos e esclarecidos na última seção deste capítulo.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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residências secundárias, e mais recentemente, com a chegada dos primeiros
“farofeiros”, todos compartilhando da lagoa para o lazer.
Outro aspecto importante para este “encontro” foi ter observado desde a
década de 1990 a construção e melhorias constantes na rodovia estadual conhecida
como Rota do Sol, obras cujos recursos são provenientes do Programa para o
Desenvolvimento da Atividade do Turismo (PRODETUR/RN). Uma rodovia na qual
se verifica intenso fluxo de turistas seja através de passeios de buggy ou mesmo de
ônibus de excursão.
Mas, de modo subjetivo, um sentimento foi plantado pela professora Maria
Adélia Aparecida de Souza, em sua passagem por esta Universidade, ainda no
primeiro semestre de 2008, quando em seu discurso estava o apelo para que os
trabalhos de pesquisa preocupassem-se com os “pobres”.
Que tarefa difícil! Como falar de “pobre” discutindo o turismo potiguar, cuja
produção acadêmica volta-se para o planejamento da atividade econômica, políticas
públicas, turismo receptivo, atração de grandes empreendimentos imobiliários, etc.?
A minha pouca experiência acadêmica não permitia vislumbrar ou defender a
relevância de outro enfoque, a não ser, analisar mais uma vez, esta face do turismo
potiguar.
E, neste sentido, as provocações da professora Maria Adélia acabaram me
remetendo às palavras manuscritas pela minha mãe quando ainda jovem já
demonstrava sua preocupação com o próximo, com os menos abastados “da serra”,
sempre inquietada com a indagação: “E os outros?”2.
Por todo o exposto, afirmo que a associação dos elementos aqui apontados
com mais um retorno à área da pesquisa, numa manhã de um domingo de sol3
possibilitaram o “encontro” com um objeto de investigação de relevância social: na
paisagem da lagoa de Boágua encontravam-se vinte ônibus estacionados, oriundos
de outros municípios e estados, pelos quais foram transportadas centenas de
pessoas, ávidas por um dia de lazer, turistas conhecidos pejorativamente como um
2
Esta indagação está contida num manuscrito de autoria de Eliza Paiva de Luna (acervo pessoal),
escrito na década de 1960, quando foi oradora da turma do 3º ano pedagógico do Ginásio “Regina
Coeli” de Limoeiro (PE).
3
A pesquisa de campo, normalmente, se dava de segunda à sábado, por motivações pessoais da
pesquisadora, porém o excursionismo só pode ser observado num dia de domingo, dada a própria
especificidade do fenômeno.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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“bando de farofeiro” que realizam uma viagem de poucas horas passar um dia
diferente num território turístico.
2.1 OS “FAROFEIROS” EM EXCURSÃO, O CONTEXTO
Após o “encontro” com o objeto de investigação o exercício foi a leitura da
paisagem que permitiu a contextualização do fenômeno da excursão nas lagoas de
Arituba, Boágua e Carcará, em Nísia Floresta/RN.
Segundo Santos (2008, p.103), “Paisagem e espaço não são sinônimos”, a
paisagem é o conjunto das formas, de objetos reais e concretos, de elementos
naturais e artificiais que fisicamente caracterizam uma área, referente a uma porção,
possível de ser percebida pela visão, e que, num dado momento, exprimem
heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre homem e
natureza, juntando objetos passados e presentes.
Contudo, Santos (2008) adverte que para alcançar o conhecimento, as formas
contidas na paisagem, dão um ponto de partida, mas está longe de oferecer
sozinhas, uma explicação.
Segundo Rodrigues (1997) uma das formas de entender o espaço geográfico
é a partir da paisagem pois esta contém a energia necessária para estimular as dez
modalidades sensoriais pelas quais contata-se o mundo externo, dentre elas a visão,
a audição, o olfato, que se combinam na percepção e possibilitam captar uma parte
da realidade, mas esta autora alerta, ler a paisagem é muito mais complexo do que
ver e percebê-la.
Assim, para a análise inicial do fenômeno, a noção de paisagem foi
importante, permitindo perceber “os farofeiros” em excursão. Entretanto, foi a
compreensão de Santos (2008, p.103) sobre o espaço, que propiciou uma releitura
sobre esta outra face do turismo potiguar para quem “o espaço são essas formas
mais a vida que as anima”, é sempre presente, uma construção horizontal, mediante
acumulações e substituições, onde a ação das diferentes gerações se superpõe.
Nesta perspectiva, a categoria de espaço tornou-se mais significativa para
contextualizar e interpretar o fenômeno do excursionismo, “a face ignorada, mas não
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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abolida, que vem se impondo, como face escondida sob a face reconhecida” como
no dizer de François Ricci (1974 apud Santos, 2008).
Com estas noções partiu-se a verificar a intensidade do fenômeno4, os fluxos
existentes e o perfil dos excursionistas nas lagoas em estudo e, a partir da
observação do número de ônibus que chegam aos domingos e feriados cada qual
trazendo uma média de cinqüenta passageiros, pode-se constatar que se tratava de
uma prática intensa e comum.
Para fins de ilustração da demanda de excursionistas que freqüentam as
lagoas em estudo aponta-se o relato de alguns entrevistados. Segundo Eugênio
Domingos5 comerciante da lagoa de Arituba, no feriado de primeiro de janeiro de
2010, contabilizou-se trinta e dois ônibus de excursão, o que significa uma média de
1.600 excursionistas; em relação à Boágua, Flávio César6 afirma: “aqui já chegou a
ter cinqüenta e seis ônibus num dia de domingo”, totalizando cerca de 2.800
excursionistas; por fim, o fenômeno se assemelha em Carcará pois segundo Oziel
Enéas7, “teve domingo de dar sessenta ônibus aqui” o que representa a chegada de
três mil excursionistas numa pequena faixa de terra nesta lagoa (ver fotografias 1 e
2).
1
2
Fotografias 1 e 2 - Ônibus de excursão estacionados nas proximidades da lagoa de Boágua (1)
e Carcará (2).
O dia de lazer destes excursionistas se dá em meio ao som das batucadas,
do cheiro do churrasco, dos banhos em águas transparentes que encantam adultos
4
É válido notar que sobre esta demanda turística não existem dados estatísticos em nenhum órgão
municipal.
5
Proprietário da Pastelaria e Petiscaria Gosto da Terra, entrevistado em 30 jan. 2010, lagoa de
Arituba.
6
Proprietário do Balneário Boágua, entrevistado em 7 fev. 2010, lagoa de Boágua.
7
Proprietário da Barraca do Oziel e Palhoção Casa Show, entrevistado em 13 fev. 2010, lagoa de
Carcará.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
23
e crianças, e das sombras das árvores, onde redes são armadas (ver fotografias 3 e
4). A alegria destes visitantes é estampada nos rostos mesmo que só disponham de
uma estreita faixa de terra às margens das lagoas onde é comum encontrar
amontoados de lixo, cercas e muros.
3
4
Fotografias 3 e 4- Excursionistas na lagoa de Boágua, Nísia Floresta/RN.
Ao se observar o espaço, objetos e ações anunciam que outros agentes
sociais, também, se apropriam deste, além dos excursionistas. A presença de
agentes de mercado é verificada através dos vários ônibus fretados que servem ao
deslocamento dos excursionistas; pelos comerciantes de alimentos e bebidas, picolé
ou churrasquinho; pelos que alugam brinquedos aquáticos (caiaques e pedalinho);
do mesmo modo que se verifica a apropriação do espaço por turistas das segundasresidências (casas de veraneio ou granjas) que ocupam a outra margem da lagoa;
bem como, do poder público municipal que demarca seu território com placas de
sinalização, as quais informam que as lagoas estão inseridas na Área de Proteção
Ambiental Bonfim-Guaraíra8.
Assim, ao observar que neste espaço encontram-se diferentes sujeitos
sociais, cada qual se apropriando conforme sua intencionalidade, levantam-se
questões sobre: apropriação do espaço, relações de poder, formação de territórios e
existência de conflitos.
O fenômeno aqui observado é comum, também, em outros estados
brasileiros, como no caso do litoral paulista estudado por Rodrigues (1997, p. 119),
8
A Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim/Guaraíra, está situada nos municípios de Nísia
Floresta, São José de Mipibu, Goianinha, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Arês, criada
pelo Decreto Estadual/RN 14369, de 22 de março de 1999.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Como deslocamentos de lazer, o fenômeno mais expressivo no Estado de
São Paulo, do ponto de vista do número de pessoas que se desloca, são as
excursões domingueiras cuja demanda é representada por elementos das
camadas sociais economicamente menos privilegiadas da população,
pejorativamente conhecidos como „farofeiros‟.
Ainda segundo Rodrigues (1997) é através de “excursões piratas” que a
viagem, sinônimo de status social, é vendida e aos domingos descem centenas de
ônibus em direção às praias, em especial as que se localizam na Baixada Santista,
dada a sua proximidade da metrópole paulista. Porém, estas excursões acontecem
com restrições impostas pelo poder público, do tipo multas e colocação de
obstáculos que impedem o acesso dos ônibus às praias paulistas. E, assim, “fere-se
por iniciativa oficial os direitos básicos do cidadão, garantidos por lei, como o direito
de ir e vir e o uso da praia, que é patrimônio público” (RODRIGUES, 1997, p. 120).
A respeito das excursões no litoral paulista Rubino (2004, p.1), também,
enfoca e caracteriza a prática na praia de Bertioga,
Num domingo de janeiro de 1993 a pacata cidade de Bertioga [...],
amanheceu completamente tomada por ônibus de excursão, um verdadeiro
mar de pessoas ávidas por passar um dia de lazer na praia. Este dia ficou
marcado na vida dos cidadãos bertioguenses e dos turistas que
presenciaram tal situação de superlotação da cidade, que apesar de
oferecer infra-estrutura por meio do terminal turístico, não suportou a
presença de aproximadamente 1.200 ônibus de excursão que acessaram
ao mesmo tempo o município.
Rubino (2004) enfatiza que desde a década de 1990 o excursionismo tem
sofrido inúmeras restrições no município de Bertioga, uma vez que não tem
oferecido condições adequadas para receber este público, além de ser comum a
intervenção da polícia local no sentido de controlar o fluxo de excursionistas, através
da formação de bloqueios nas entradas do município para impedir o excesso de
excursionistas. Contudo, apesar das ações restritivas, pelo descaso na infraestrutura ou por bloqueios policiais, Bertioga ainda convive com o excesso de ônibus
de excursões clandestinas.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A “invasão” das praias por estes excursionistas é visto também em
Mangaratiba, município do litoral do estado do Rio de Janeiro, conforme aponta o
estudo de Alcântara (2005, p. 82),
A farofa e a galinha, as bebidas em isopores, instrumentos musicais, as
falas e brincadeiras em tom elevado, a bebedeira e suas possíveis
conseqüências para a perturbação da ordem e da tranqüilidade dos lugares
destino, imagens consagradas desse tipo de prática social, representam
hábitos presentes em segmentos das nossas classes populares.
Alcântara (2008) afirma que a maioria das excursões chega aos domingos,
trazendo excursionistas com baixo poder aquisitivo os quais são oriundos das zonas
oeste e norte do Rio de Janeiro e da baixada Fluminense.
É válido enfatizar que esta prática é comum em outras regiões do território
brasileiro, como demonstra, o estudo realizado por Ribeiro (2007), que observa os
conflitos decorrentes da prática do excursionismo na Ilha do Mosqueiro em Belém
(PA); bem como, em outras partes do mundo, apresentando-se sempre como uma
manifestação social segregada e inferiorizada (URRY, 2001).
Segundo Urry (2001) pode-se dizer que as origens deste tipo de
deslocamento, realizado pelas classes trabalhadoras, em busca de um dia de lazer,
tem seus registros iniciais em sociedades industriais avançadas. Para este autor os
balneários marítimos da Inglaterra, já no século XIX, assumiam valores diferentes ao
olhar do turista dependendo do “tom social” dos lugares que recebiam as massas de
trabalhadores,
Desenvolveu-se uma „hierarquia‟ do balneário e certos lugares passaram a
ser vistos como corporificações do turismo de massa, a serem desprezados
e ridicularizados. Grandes diferenças de „tom social‟ se estabeleceram em
lugares que, de resto, eram semelhantes. Alguns desses lugares -os
balneários da classe trabalhadora- desenvolveram-se rapidamente como
símbolos do „turismo de massa‟, lugares de inferioridade que representavam
tudo aquilo que os grupos sociais dominantes consideravam de mau gosto,
comum e vulgar. (URRY, 2001,p.35)
Como tentativa de mitigar o fenômeno, restrições quanto ao uso destes
balneários foram impostas, conforme anuncia Urry (2001, p.35).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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No entanto, à medida que os banhos de mar tornaram-se relativamente
mais favorecidos, ficou mais difícil, para os grupos socialmente dominantes,
restringir o acesso. [...]. Em 1824 o terreno do balneário foi cercado e
instalou-se uma guarita, com entrada paga a fim de excluir as „classes
impróprias‟.
Entretanto, apesar das restrições impostas o excursionismo é uma realidade
expressiva seja no litoral inglês ou iraquiano (fotografia 5); nas praias do litoral
paulista (Praia Grande, Bertioga, Ubatuba, São Vicente) e carioca (Mangaratiba e
Cabo Frio), nas margens do Lago Paranoá (Brasília) ou no litoral potiguar (Praia de
Pipa, lagoa do Boqueirão, Lagoa da Cutia) e, também, nas lagoas de Arituba,
Boágua e Carcará em Nísia Floresta.
Fotografia 5- Excursionistas Iraquianos (sunitas e xiitas) no lago
Habbaniya, Iraque.
Fonte:
<http://blog.estadao.com.br/blog/carranca/opiscinaoderamosdebag
da>. Acesso em: 28 jan. 2010.
O contexto apresentado sobre esta atividade, a qual recebe variadas
denominações “excursão de farofeiros”, “turismo da classe trabalhadora”, “turismo de
um dia”, “piquenique”, demonstra que esta atividade turística é marcada por relações
conflituosas entre os que buscam um dia diferente de lazer e os agentes mais
favorecidos da sociedade, os quais se expressam através de atitudes segregadoras
que ferem, sobretudo, a cidadania.
Neste sentido, a discussão do excursionismo torna-se relevante objeto de
investigação, pois aborda de modo específico um direito previsto na Declaração
Universal dos Direitos do Homem9, que no Artigo 24, estabelece: todo o homem tem
9
Disponível em: <http://www.fundap.sp.gov.br/ouvidoria/dados/dudh.pdf>. Acesso em: 03 jan. 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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direito a repouso e ao lazer; ao mesmo modo que é compreendido como um direito
social pela Constituição da República Federativa do Brasil10:
o.
Art. 6 São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o
lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à
infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.
(grifo nosso).
É através do excursionismo que o direito ao lazer é buscado, por cidadãos
que compõem uma parcela da sociedade com baixo poder aquisitivo, os quais se
agrupam, na maioria das vezes, entre familiares e amigos e se deslocam de seu
lugar de residência a lugares com atratividade turística. Uma prática que “invade”
espaços produzidos para segmentos da sociedade com maior poder de consumo e
que acaba burlando as restrições impostas, resultando em conflitos territoriais entre
os distintos agentes sociais nas unidades receptoras, como resume a letra da
música: Nós vamos invadir sua praia, do grupo Ultraje a Rigor.
Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais
Do alto da cidade até a beira do cais
Mais do que um bom bronzeado
Nós queremos estar do seu lado
Nós 'tamo' entrando sem óleo nem creme
Precisando a gente se espreme
Trazendo a farofa e a galinha
Levando também a vitrolinha
Separa um lugar nessa areia
Nós vamos chacoalhar a sua aldeia
Mistura sua laia
Ou foge da raia
Sai da tocaia
Pula na baia
Agora nós vamos invadir sua praia
Daqui do morro dá pra ver tão legal
O que acontece aí no seu litoral
Nós gostamos de tudo, nós queremos é mais
Do alto da cidade até a beira do cais
10
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03
jan. 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Mais do que um bom bronzeado
Nós queremos estar do seu lado
Agora se você vai se incomodar
Então é melhor se mudar
Não adianta nem nos desprezar
Se a gente acostumar a gente vai ficar
A gente tá querendo variar
E a sua praia vem bem a calhar
Não precisa ficar nervoso
Pode ser que você ache gostoso
Ficar em companhia tão saudável
Pode até lhe ser bastante recomendável
A gente pode te cutucar
Não tenha medo, não vai machucar
Por todo o contexto em que se dá o excursionismo, a análise desta prática
social se torna relevante através de uma abordagem geográfica, e, nesse sentido se
discorre, em seguida, sobre conceitos fundantes, do espaço ao excursionismo, a
partir das relevantes contribuições de estudos realizados sobre a temática.
2.2 A DISCUSSÃO DE CONCEITOS: DO ESPAÇO AO EXCURSIONISMO
Nesta parte do trabalho, define-se o objeto de estudo da pesquisa e o modo
de abordagem. Inicialmente retoma-se a compreensão corrente do termo
excursionismo, que se refere à realização de viagens organizadas em grupo,
caracterizadas por um menor custo, cujas finalidades são diversas: seja comercial, a
exemplo os “sacoleiros” que viajam para Caruaru-PE; de cunho religioso, como as
romarias à cidade de Padre Cícero Romão no Crato-CE; e, também, por lazer onde
pessoas se deslocam para áreas de praia, rios, açudes, barragens ou lagoas.
Diante do exposto, ressaltamos que o excursionismo, é discutido neste estudo
como uma forma de lazer, uma modalidade de turismo. Uma abordagem que é
realizada por poucos estudiosos, o que é comentado por Alcântara (2005, p.12),
Que diferente! As pessoas acham inusitado um trabalho sobre farofeiros.
Todo mundo sabe que as excursões de farofeiros existem e todos
identificam o que é. Mas por que tanta surpresa? Uma razão pode estar
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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relacionada ao fato que no mundo acadêmico dominado pela classe média,
essa prática é desvalorizada. Na verdade, para muitos é invisível, ou se não
o é, ao menos muitas pessoas gostariam que fosse.
Entretanto, apesar do pequeno número de trabalhos a respeito da temática,
esta pesquisa contou com relevantes trabalhos realizados por geógrafos,
turismólogos, cientistas da comunicação social e sociólogos, nos quais a atividade é
abordada a partir de categorias de análises como espaço e lazer.
A princípio, é necessário ressaltar que se pretende neste estudo a
interpretação geográfica de um fenômeno social, realizado por parcelas da
sociedade que anima as formas espaciais. O espaço é aqui entendido conforme
Santos (2008) anuncia: um resultado da inseparabilidade entre sistemas de objetos
e sistemas de ações; um híbrido, cujas formas possuem um conteúdo, um misto de
fixos e fluxos como sugere este autor para a análise do objeto de estudo da
geografia que é o espaço geográfico.
Assim, no sistema de ações que compõe o espaço, uma delas compreende o
excursionismo, ação realizada por uma parcela da sociedade cuja intenção é a
prática do lazer e que é atraída por um sistema de objetos naturais (como a lagoa) e
viabilizada por tantos outros objetos artificiais (meios de transportes, estradas, etc.).
Além da importância do espaço, outro pressuposto teórico para compreender
o excursionismo é a categoria de lazer, entendido nesta pesquisa como propõe
Dumazedier (1973, p. 34),
O lazer é um conjunto de ocupações às quais o individuo pode entregar-se
de livre vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se e
entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação ou formação
desinteressada, sua participação social voluntária ou sua livre capacidade
criadora, após livrar-se ou desembaraçar-se das obrigações profissionais,
familiares e sociais.
Para este autor, o lazer é definido, nos dias de hoje, como sendo oposto ao
conjunto das necessidades e obrigações da vida cotidiana, e apresenta-se como um
elemento central na cultura de milhões de trabalhadores.
O direito ao lazer resulta dos avanços das leis trabalhistas ao estabelecer
uma carga horária máxima para o trabalhador, cujo tempo disponível é então,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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apropriado para o lazer e descanso. Diz Rodrigues (1997) que, os movimentos
sociais da classe trabalhadora conquistam um tempo livre diário, semanal e anual
cada vez maior, e esse tempo passa a ser expropriado pela sociedade de consumo
de massa que cria, então, novas necessidades.
Dumazedier (1973) questiona se o lazer seria o novo ópio do povo, onde o
operário contentar-se-ia em vender sua força de trabalho, como se fosse uma
mercadoria, a fim de poder usufruir o produto dessa venda no tempo fora do
trabalho. Ainda segundo este autor o lazer funda uma nova moral de felicidade e o
homem é incompleto, atrasado, e de certo modo alienado, se não aproveita ou não
sabe aproveitar seu tempo livre.
Não adentraremos neste estudo na discussão conceitual sobre tempo livre,
ócio, recreação, contudo, uma distinção se faz necessária para compreender o
excursionismo, “turismo e lazer são atividades simbióticas, podendo existir lazer sem
turismo, porém turismo pressupõe deslocamento e lazer” como aponta Rodrigues
(1997, p. 80).
Esta autora entende que foi introjetada na mente dos indivíduos uma nova
necessidade – a do lazer, lato sensu e da recreação, esportes e turismo, no sentido
mais restrito. Como expressão da ideologia, na sociedade contemporânea, a viagem
turística é tida como necessidade, sendo incorporada artificialmente em prol das
necessidades básicas do homem, o homem urbano, que constitui o chamado Homo
turisticus ou Homo viajor, um produto da sociedade de consumo. Um sentimento que
é alimentado pela insatisfação nascida dentro do quadro de vida urbano, pela
vontade de romper com o cotidiano, escapar da rotina, vendendo-se o espaço
turístico como paraíso. (RODRIGUES, 1997).
Sobre a viagem, em particular, esta autora (idem, p.40) defende que, “é
incorporada como uma necessidade fisiológica para a reposição de energias físicas
e mentais [...]”. Afirma ter se tornado uma obrigação, e que nos dias atuais, quase
todas as camadas sociais da população têm acesso à viagem, quer através dos
sofisticados cruzeiros de volta ao mundo pelos que se encontram no ápice da
pirâmide social, quer pelo domingo em praias através de ônibus de excursão,
prazerosamente desfrutado pelas camadas sociais menos favorecidas da população.
Rodrigues (1997) argumenta que a viagem funciona como importante meio
promotor do “status social”, para aquisição de prestígio, e complementa, com
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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contribuições a esta pesquisa o turismo, antes restrito aos grupos sociais mais
privilegiados, hoje se transforma em um produto da sociedade de consumo de
massa e guardadas as devidas proporções, todos viajam, como os “farofeiros em
excursão”.
Nesse momento é importante trazer a definição de turismo de massa
recorrendo-se a Cruz (2003, p.6) que diz,
Turismo de massa é uma forma de organização do turismo que envolve o
agenciamento da atividade bem como a interligação entre agenciamento,
transporte e hospedagem de modo a proporcionar o barateamento dos
custos da viagem e permitir, conseqüentemente, que um grande
números de pessoas viagem. (grifo nosso)
Diante do exposto por Cruz (2003), observam-se algumas semelhanças entre
o turismo de massa e as “excursões de farofeiros” uma vez que estas, também,
prescindem de uma organização, algumas vezes iniciada com meses de
antecedência cujo pagamento da viagem pode até ser parcelado; outra semelhança
diz respeito ao agenciamento realizado pelos organizadores da excursão junto às
empresas de transportes; necessita-se, portanto, de um meio de transporte para o
deslocamento, clandestino ou não (como as linhas especiais licenciadas pelo
Ministério do Turismo); e que do mesmo modo, buscam, o barateamento dos
custos da viagem (no âmbito desta pesquisa custam entre R$ 3,00 e R$ 45,00
dependendo da distância entre unidade emissora e receptora), o que acaba
permitindo que um grande número de pessoas viagem. As excursões que se
destinam às lagoas de estudo mobilizam fluxos de viajantes que chegam a 3.000
pessoas no tempo livre da classe trabalhadora, que é o dia de domingo e feriados.
Entretanto, apesar destas semelhanças, compreender o excursionismo como
turismo de massa contraria o pensamento de Cruz (2003, p.6), para esta autora
turismo de massa não significa “turismo das massas”, pois estas
Não fazem turismo porque não reúnem as condições materiais e imateriais
necessárias para isso, ou seja, ou não têm os recursos financeiros
necessários para empreender uma viagem ou não têm tempo livre, ou ainda
não dispõem nem de uma nem de outra condição.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Assim, com base nesta definição, discorda-se de Cruz (2003) uma vez que
diante das semelhanças levantadas anteriormente, juntamente com os dados
dispostos ao longo dos capítulos seguintes desta pesquisa permite inferir que as
massas, entendidas como as camadas populares da sociedade também fazem
turismo.
Por tratar-se de turismo é importante enfatizar que é entendido como um
fenômeno complexo, uma prática social e uma atividade produtiva, revestido de um
tríplice aspecto com incidências territoriais específicas, como no dizer de
Rodrigues (1997, p.83),
Trata-se de um fenômeno que apresenta áreas de dispersão (emissoras),
áreas de deslocamento e áreas de atração (receptoras). É nessas áreas
que se produz o espaço turístico ou se reformula o espaço anteriormente
ocupado. É aqui também que se dá o consumo do espaço.
De outro modo a definição de turismo trazida por Cruz (2003, p.5), corrobora
com a definição adotada nesta pesquisa, “é, antes de mais nada, uma prática
social, que envolve o deslocamento de pessoas pelo território e que tem no espaço
geográfico seu principal objeto de consumo”.
O turismo é uma atividade transformadora de espaços e produtora de
territórios, sobretudo, nas cartografias urbanas, mas que se desenvolve nos mais
diversos lugares do mundo, revestida por um manto de complexidade que permite
extensas análises, sob óticas diversas, como no dizer de Furtado (2007, p.120), que
complementa, “[...] nesse sentido, como prática social configuradora de um conjunto
de atividades econômicas, o turismo reproduz, como qualquer outro setor produtivo,
as contradições do sistema capitalista”.
Então, é partindo destes pressupostos, que o excursionismo é compreendido,
enquanto uma prática social, voltada para o lazer turístico, apresentando uma
dinâmica que rebate no espaço, mesmo que praticada por uma parcela da
sociedade menos favorecida.
É um fenômeno de massa que prescinde do espaço turístico, e de
deslocamento, cabendo então, aos excursionistas, a denominação de “turistas”,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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apesar de contraria as definições propostas pela Organização Mundial de Turismo
(OMT), como visto anteriormente.
Sobre a definição de excursionismo, a pesquisa apoiou-se na obra da
Professora Adyr Balestreri Rodrigues, Turismo e Espaço, rumo a um conhecimento
transdisciplinar (1997), na qual dois ensaios abordam a temática num estudo de
caso sobre o litoral paulista: “Tempo livre como objeto de consumo e lazer dirigido
como oportunidade de manipulação” e “O domingo na praia - felicidade ao preço da
segregação”. Nestes estudos o excursionismo é discutido como expressão do lazer,
focalizando a população pobre do Estado de São Paulo.
Rodrigues (1997, p.112), defende que as excursões de um dia, pelo fato de
incluir um razoável deslocamento do domicílio, podem conceitualmente, expressar
um tipo de turismo, chamado “turismo de um dia”. A autora entende o fenômeno
como uma expressão de lazer massificado, que prescinde do deslocamento e por
esta mobilidade pode ser designada como excursionismo; aborda, também, as
restrições, que são impostas por diversos agentes sociais, quanto ao uso do espaço
por parte destes turistas; e menciona que as “excursões piratas” incluem-se no setor
informal da economia.
Outro geógrafo que abordou a temática foi Guilherme de Alcântara (2005),
cuja obra é intitulada: “Abaixo a farofa! exclusão "legitimada" em territórios de praia”.
O recorte espacial deste estudo compreende parte do litoral carioca, Cabo Frio e
Mangaratiba, municípios que desde o final dos anos de 1990, apóiam-se num
discurso em prol do desenvolvimento local e promovem intervenções voltadas para a
reorganização dos seus espaços de consumo turístico, resultando em restrições
quanto ao acesso das "excursões de farofeiros" às praias locais.
Esta análise corrobora com a presente pesquisa quando, da mesma forma, a
imagem negativa do "farofeiro" é usada pelo poder público como justificativa para a
manipulação do território produtora de um padrão de marginalização que se apóia
na privatização do espaço público.
Para Alcântara (2005, p.65),
Essas viagens de caráter popular não são uma categoria nova na sociedade
brasileira. Há décadas que se organizam passeios e viagens de baixo custo,
sem uso de grandes recursos. Como não poderia deixar de ser, dadas as
condições socioeconômicas e também culturais da sociedade brasileira,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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existe um vasto setor alternativo promotor de viagens, não diretamente
vinculado ao grande capital ou às agências de viagem.
Este autor concorda com a noção de que o excursionismo é uma modalidade
de turismo quando defende que as excursões são segmentos de um “turismo
popular” mesmo que se realize numa espécie de “circuito inferior do setor turístico”,
caracterizado por relações predominantemente informais, como enfatiza Alcântara
(2005, p.65),
O setor se apresenta um tanto diversificado, no que diz respeito ao capital
investido, à forma de organização e à clientela que atende. Compreende
atividades marcadas pela flexibilidade, mobilidade e, na esmagadora maior
parte das vezes, pela informalidade de suas relações [...].
Nessa perspectiva, Rodrigues (1997, p. 119), já havia defendido que,
Esse tipo de mobilidade, não considerado turismo pelos critérios da OMT
(Organização Mundial de Turismo), pode ser designado como
excursionismo. Expressa-se por meio das chamadas „excursões piratas‟,
uma vez que não é organizado por agência de viagem, enquadrando-se no
setor informal da economia [...].
Outra contribuição, à compreensão do excursionismo, é trazida por Barreto
(1995 apud Alcântara, 2005, p. 66) que argumenta sobre o perfil socioeconômico
dos adeptos desta prática:
A classe de baixa renda só pode fazer turismo de massas; é a faixa que
mais pratica o turismo religioso, viaja de forma coletiva, normalmente de
trem ou ônibus fretado, faz excursionismo ou, no máximo, turismo de fim de
semana.
Rubino (2004, p.10), no trabalho intitulado: “Políticas públicas de turismo: a
hospitalidade pública ao excursionista em Bertioga” comenta:
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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No Brasil, o excursionismo é uma modalidade de turismo bastante
praticado, pois a própria dimensão que o país apresenta propicia esta
prática. Dentre esta modalidade, há o destaque para aqueles que procuram
no seu tempo livre viajar para o litoral por meio de excursões organizadas
ou por veículo próprio, não utilizando a estrutura para hospedagem no local
visitado e que apresentam como costume levar seu próprio alimento e
bebida. Este tipo de público é conhecido como „farofeiro‟.
Neste estudo, Rubino (2004) analisa o excursionismo no litoral norte de São
Paulo, praia próxima à capital paulista, município de Bertioga, onde a prática é
intensa, mas por não existir infra-estrutura turística adequada nem políticas públicas
que contemplem a hospitalidade para o excursionista a exclusão torna-se a principal
solução para o incômodo gerado por estes turistas na unidade receptora.
Diante do exposto por estes cientistas brasileiros, entende-se que
excursionismo
é
uma
prática
social com
implicações
espaciais
diversas,
independente de sua finalidade (lazer, religiosidade ou comércio).
No âmbito desta pesquisa, trata-se de uma atividade de lazer realizada pelos
segmentos mais baixos da sociedade, que se organizam em grupos e que
movimenta um grande contingente de pessoas. É um fenômeno de essência urbana
dependente de um sistema de objetos e de ações para sua realização.
Compreende-se que se trata do turismo das massas, sendo realizado pela
classe trabalhadora que em seu tempo livre deslocam-se para vários lugares
visando o direito ao lazer, mesmo que sua permanência seja inferior a vinte e quatro
horas. Trata-se de uma atividade que para se realizar é necessário o agenciamento,
a presença de um organizador de excursão, de meios de transportes e do
cumprimento de normas a exemplo junto a órgãos ligados aos setores de transporte
e de turismo.
Sobre a denominação desta prática não existe consenso e sim, uma
variedade de termos: excursão, “piqueniques”, “convescote”, “turismo de um dia”,
“turismo das massas”, “turismo popular”, ”turismo das classes trabalhadoras” ou
simplesmente, “ônibus de farofeiro”. Do mesmo modo que são inúmeras as
denominações dadas a estes viajantes: “visitantes de um dia”, “excursionistas”,
“turistas”, “povão”, “desordeiros”, “farofeiros”, ou, como foi constatado nesta
pesquisa: “demolidores”, termos que permitem dizer sobre a forma marginalizada
pela qual os excursionistas são vistos.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Trata-se de “uma outra face” turismo que pela vertente econômica
movimenta, de um modo mais intenso, o setor informal da economia, mas, que
rebate, também, no setor formal, quer nas unidades emissoras, nas áreas de
deslocamentos ou nas unidades receptoras destes turistas. Pois, percebe-se que
para a realização desta atividade, importantes fixos se apresentam como os
supermercados, bodegas, estradas, postos de gasolina, equipamentos de lazer,
alimentação e entretenimento; gerando fluxos de pessoas e mercadorias, além de
emprego e renda.
Uma prática social realizada por cidadãos, que apesar de possuírem um
menor poder aquisitivo, são, também, consumidores e não deixam de gerar tributos,
seja no consumo de bebidas alcoólicas, na compra da caixa de isopor, do feijão,
galeto, farofa ou do carvão itens facilmente identificados nas sacolas destes turistas.
Uma manifestação social realizada por massas de trabalhadores que realizam
viagens de poucas horas, para aproveitar um dia diferente de lazer, longe de seus
domicílios. São turistas desinibidos, despojados e que resistem às mais variadas
formas de segregação, explícitas e implícitas no espaço.
Porém, seria errôneo dizer que os excursionistas representam apenas
incomodo aos agentes sociais que juntamente com eles se apropriam dos territórios
turísticos. Esta prática social desperta, também, o interesse de outros segmentos do
mercado que percebem a relevância destes potenciais consumidores (este assunto
será melhor abordado no terceiro capítulo).
Assim, esclarecido alguns conceitos e denominações que subsidiarão as
análises no decorrer da pesquisa, esclarece-se em seguida, questões metodológicas
que pautaram a realização deste estudo.
2.3 A PESQUISA DE CAMPO: EXPLICAÇÃO DOS PASSOS DADOS
A análise contida neste trabalho se atém às excursões que têm como locus
para sua reprodução social as lagoas, diferentemente dos estudos de casos
analisados que observaram a prática em áreas de praia.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A pesquisa de campo se realizou em três lagoas do município de Nísia
Floresta11, localizado ao sul da capital do estado do Rio Grande do Norte: Arituba,
situada na faixa litorânea, na praia de Tabatinga; na lagoa de Boágua, na
comunidade de Boágua e em Carcará na comunidade de Timbó, estas duas últimas
localizadas mais ao interior do município de Nísia Floresta, como demonstra o mapa
1.
11
Este município apresenta em sua geomorfologia mais de vinte lagoas distribuídas pelo seu território,
dentre elas estão: Alcaçuz, Amarela, Anjos, Arituba, Boacicca, Boágua, Bonfim, Carcará, Carnaúba,
Custódia, Dourada, Dunas, Ferreiro Grande, Hiola, Ilhota, Lagoa dos Negros, Lagoa do Peixe, Lagoa
do Pium, Lagoa Seca, Papari, Papeba, Papebinha, Redonda, Redondinha, Tacho, Teixeira, Urubu.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 1- Mapa de localização do recorte espacial da pesquisa: lagoas de Arituba, Boágua e Carcará, Nísia Floresta (RN).
Elaboração: Janny Lima, 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A definição do recorte espacial desta pesquisa não se deu forma aleatória,
baseou-se em outros critérios, além da ocorrência do excursionismo, uma vez que
esta prática social ocorre em vários lugares do Rio Grande do Norte, ao longo do
litoral norte e sul, em áreas de praias e lagoas; bem como, no interior do estado no
entorno de rios, barragens, entre outras paisagens que despertam o interesse dos
excursionistas.
Para a delimitação da área observou-se os seguintes critérios: a
expressividade do fenômeno; que a área de ocorrência estivesse inserida na rota do
turismo potiguar12, baseado no modelo sol e mar; a existência da acessibilidade à
área da pesquisa; e que fosse possível perceber a as relações existentes entre os
excursionistas, o poder público e os comerciantes locais.
Com base nisto, a pesquisa realizou-se nas lagoas de Arituba, Boágua e
Carcará, nas quais se observa desde meados da década de 1990, conforme dados
da pesquisa, a chegada, nos dias de domingos e feriados, de vários ônibus de
excursão.
Estas lagoas estão inseridas na rota do turismo potiguar, pois situam-se
entre os dois principais destinos turísticos do litoral oriental potiguar, Natal e Pipa,
recebendo anualmente inúmeros turistas locais, nacionais e estrangeiros. Turistas
que chegam às lagoas através de excursões, guias turísticos, em carros próprios ou
em passeio de buggy realizados no denominado “Roteiro das águas” 13 ou Circuito
das lagoas (ver mapa 1).
Por fim, é nesta área que se concentra os agentes sociais que estabelecem
uma interface direta com o excursionismo: poder público municipal e comerciantes
locais, estes últimos representados por donos de barracas e de outros
estabelecimentos comerciais presentes nas margens das lagoas. Agentes, com os
quais o diálogo foi estabelecido o que possibilitou respostas aos questionamentos
levantados neste estudo.
12
A menção sobre a rota do turismo potiguar ao longo deste estudo remete-se à atividade turística
que se desenvolve no Litoral Oriental Potiguar, porção do Rio Grande do Norte onde a atividade,
baseada no modelo sol e mar , se encontra consolidada (FONSECA, 2005).
13
Segundo o bugueiro profissional Júlio César, as lagoas do litoral sul, foram inicialmente
descobertas pela atividade de motocross e posteriormente pela atividade dos passeios de buggy, a
partir dos últimos anos de 1980, explorando áreas virgens e assim abrindo trilhas que davam acesso
às diversas lagoas de Nísia Floresta. Entrevista em 01 de setembro de 2009, Natal/RN.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Durante a pesquisa foram entrevistados representantes do poder público
municipal (Secretaria de Turismo e Meio Ambiente, Secretaria de Tributação);
representantes do Sindicato dos Bugueiros Profissionais do Rio Grande do Norte
(SINDBUGGY); empresários de transporte rodoviário e motoristas de ônibus
fretados; além de conversas informais com comerciantes ambulantes, os quais
levantaram questões pontuais sobre a realização das excursões.
A escolha dos comerciantes locais entrevistados considerou, inicialmente, o
tempo de atuação destes nas lagoas na intenção de dialogar agentes sociais que
vivenciam a prática do excursionismo há mais tempo. Bem como, foi considerada a
existência de relações diretas com os excursionistas, seja na condição de vizinhos
das áreas destinadas às excursões; pelas ações de repulsa para com os
excursionistas através de placas proibitivas, as quais podem ser vistas em muitas
das barracas nas lagoas; ou por estabelecerem relações comerciais com
excursionistas como o aluguel de mesas ou oferta de parque aquático a um preço
acessível ao perfil econômico destes turistas.
Esta etapa do trabalho de campo realizou-se nos meses de janeiro e fevereiro
de 2010 (Apêndice A), contemplando toda a área da pesquisa, conforme relacionado
no quadro 1.
Estabelecimento comercial
La moni‟s – Bar e RestauranteBarraca do Galego
Bar e Restaurante do Ednaldo
Pastelaria e Petiscaria Gosto da Terra
Crescer Comercial Distribuidora LTDA.Balneário Boágua:
Toca do Tito
Barraca do Cajueiro( Barraca de D. Laura)
Barraca da Kelly
Barraca do Oziel
Palhoção Casa Show
Tempo de existência do
estabelecimento
(entre 15 a 20 anos, década de 1990)
20 anos=1990
18 anos=1992
20 anos=1990
13 anos=1997
15 a 20 anos=1990
19 anos=1991
15 anos=1995
16 anos=1994
Quadro 1 – Relação dos estabelecimentos comerciais cujos responsáveis foram entrevistados.
Com base nas entrevistas as análises foram realizadas, algumas falas estão
reproduzidas na íntegra no corpo do trabalho, porém, visando respeitar a imagem e
opiniões dos entrevistados, que por vezes foram enfáticos em marginalizar a
atividade, seus nomes serão preservados.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Quanto aos excursionistas, foram aplicados 74 questionários dos quais trinta
e dois, em Boágua; vinte e oito, em Carcará e quatorze em Arituba (Apêndice B),
uma amostragem que permitiu atender os objetivos da pesquisa.
Os questionários foram formulados com questões abertas e fechadas e a
escolha dos entrevistados visava contemplar o maior número de excursionistas por
unidade emissora, ou seja, por local de origem das excursões de modo a se
conhecer não apenas o perfil dos turistas, mas, também, os fluxos estabelecidos por
esta prática.
A abordagem aos excursionistas se deu na margem das lagoas, logo após
que estes se instalaram, visando não gerar incômodo a estes cidadãos que se
encontravam no seu dia de lazer. É importante ressaltar que algumas dificuldades
foram encontradas, como a falta de receptividade de alguns excursionistas que se
mostravam incomodados com a presença dos pesquisadores, inviabilizando a
aplicação de um maior número de questionários; além de que, com o passar das
horas, muitos estavam embriagados e por isto os questionários foram aplicados no
horário entre nove e treze horas do dia para que não houvesse prejuízos ao
conteúdo das respostas dos entrevistados. Esta etapa da pesquisa de campo foi
realizada em três dias, englobando as três lagoas em estudo, privilegiando os dias
de domingo e feriado, no mês de fevereiro de 2010.
Foram entrevistados, também, alguns organizadores de excursão, os quais
estavam responsáveis por excursões oriundas de João Pessoa (PB), e de outros
municípios do Rio Grande do Norte como Brejinho, Goianinha, Macaíba, Monte
Alegre e Natal.
Os dados resultantes dos questionários e entrevistas realizadas em toda a
área da pesquisa foram trabalhados estatisticamente e analisados de um modo
geral; bem como se observou as especificidades de cada lagoa, permitindo análises
pontuais sobre o fenômeno. Outros instrumentos metodológicos utilizados foram o
registro fotográfico e o georreferenciamento de dados coletados na área da pesquisa
que resultou na elaboração de mapas temáticos.
Diante da escassez de estudos sobre o excursionismo no Rio Grande do
Norte, o fenômeno foi estudado a partir da contribuição de pesquisas realizadas em
outras regiões do país e, apesar das dificuldades encontradas como a deficiência de
estudos sobre o recorte da pesquisa e de fontes primárias que subsidiassem as
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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análises; estes fatores constituíram-se num fator de motivação para realização deste
trabalho.
Assim, este estudo está calcado nas fontes primárias e secundárias
disponíveis, somados ao trabalho de campo realizado no período aproximado de
trinta dias nas três lagoas o que possibilitou analisar como se dá a prática do
excursionismo e, por conseguinte, representa um avanço no sentido de construir
uma base teórico-metodológica a respeito desta prática que se mostra expressiva no
território potiguar.
Portanto, é este o aporte teórico-metodológico que subsidia as análises nesta
pesquisa. Concluída esta parte do trabalho, o capítulo seguinte aborda o processo
de produção do espaço em que se observa desde a década de 1990 a chegada das
excursões nas lagoas em estudo.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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3 AS LAGOAS DE ARITUBA, BOÁGUA E CARCARÁ NA ROTA DO TURISMO
POTIGUAR: UMA LEITURA SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO
Ingressar no competitivo rol dos destinos turísticos nacionais e
internacionais não é objetivo fácil de ser alcançado. [...] é
resultado de um feixe de ações e relações, fatores endógenos
e exógenos cujo comando, no mais das vezes, não pertence ao
lugar receptor.
Rita de Cássia Ariza Cruz
Esta parte do trabalho tem como objetivo compreender o processo de
produção do espaço em que se localizam as lagoas de Arituba, Boágua e Carcará,
área onde desde a década de 1990 se observa o excursionismo. Para isto optou-se
por realizar uma leitura das formas existentes, relacionando-as com as ações de
agentes sociais distintos, dentre eles o Estado, agentes de mercado e os diversos
tipos de turistas os quais se apropriam deste espaço que atualmente assume uma
função turística.
Nessa perspectiva alguns questionamentos foram levantados e nortearam a
investigação. Como se dá o processo de produção do espaço? Quais os agentes
sociais envolvidos? Qual a intencionalidade da produção e do uso deste espaço?
Como as políticas públicas de turismo se inserem neste espaço? Quais as ações
dos agentes e sua interface com o turismo potiguar? Como o excursionismo adentra
nesta lógica?
O pressuposto teórico da análise é o processo de produção do espaço,
entendido enquanto um processo que se dá ao longo do tempo, formado por um
sistema de objetos e de ações que permite a função turística, atualmente, percebida
no recorte da pesquisa.
A partir de um breve resgate histórico foi possível reconstruir etapas deste
processo que remontam as principais intervenções do Estado, através de políticas
públicas, que viabilizaram uma infra-estrutura urbana necessária para desenvolver a
atividade turística e que propiciaram a entrada das lagoas em estudo no rol de
unidades receptoras de turistas.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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As discussões apresentadas neste capítulo resultam do diálogo entre o aporte
teórico e a empiria, utilizando-se dados e informações obtidos em documentos
oficiais e na pesquisa de campo, de modo a atingir o objetivo proposto.
É válido ressaltar que durante a pesquisa de campo surgiram alguns entraves
junto a órgãos públicos, como a impossibilidade de repasse de dados oficiais,
justificada pela inexistência de diagnósticos, relatórios técnicos e planos de ação da
gestão municipal de Nísia Floresta; além da escassez de estudos que contemplem
diretamente a área da pesquisa. Assim, a maioria dos dados aqui apresentados foi
obtida a partir de entrevistas e aplicação de questionários junto às pessoas
diretamente envolvidas no contexto (moradores do entorno das lagoas, bugueiros,
comerciantes locais, excursionistas e representantes do poder público local), além
da observação in loco.
Diante disto, é válido salientar que as escalas de análise variam de acordo
com a disponibilidade das informações e dos acontecimentos dos eventos. Para a
compreensão da prática do excursionismo nas lagoas em estudo tornou-se
necessário entender sua ocorrência numa interface direta com o papel que o
município de Nísia Floresta assume no turismo do tipo sol e mar, contexto em que a
paisagem de Arituba, Boágua e Carcará muito interessa ao turismo de massa que se
desenvolve nesta porção do litoral oriental potiguar.
3.1 REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO
Refletir sobre o processo de produção do espaço requer retomar o conceituar
do objeto de estudo da geografia, aqui entendido, como anuncia Santos (2008,
p.63),
O espaço é formado por um conjunto, solidário e também contraditório, de
sistemas de objetos e ações, não considerados isoladamente, mas como o
quadro único no qual a história se dá.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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É um híbrido, cujo resultado da conjugação entre estes sistemas, permite
transitar do passado ao futuro, mediante a consideração do presente.
Para este autor o espaço é social, ele não pode ser formado apenas pelas
coisas, por objetos geográficos, naturais e artificiais, pois além de tudo inclui a
sociedade. Santos (2008) entende que os objetos estão distribuídos sobre um
território, formando a configuração espacial, mas por outro lado existem processos
sociais representativo de uma sociedade, de um dado momento, que lhes dão vida,
como aponta Santos (1985, p.2) que diz,
Esses processos, resolvidos em funções, se realizam através de formas.
Estas podem não ser originariamente geográficas, mas terminam por
adquirir uma expressão territorial. Na verdade, sem as formas, a sociedade,
através das funções e processos, não se realizaria.
Este autor enfatiza que as formas geográficas contêm frações do social, elas
não são apenas formas, mas forma-conteúdo, as quais mudam de significação com
o movimento, a cada momento, e, é por isso, que o objeto geográfico está sempre
mudando de significação, e a respeito Santos (1985, p.2) explica:
O movimento dialético entre forma e conteúdo, a que o espaço, soma dos
dois preside, é igualmente, o movimento dialético de todo social, apreendido
na e através da realidade geográfica.[...] cada lugar está sempre mudando
de significação, graças ao movimento social: a cada instante as frações da
sociedade que lhe cabem não são as mesmas.
Ou seja, a cada novo momento, impõe-se interpretar o que é mais
característico do novo sistema de objetos e do novo sistema de ações.
A ação, que é inerente à função, é condizente com a forma que a contém,
assim, os processos ganham inteira significação, apenas, quando corporificados,
sendo a ação tanto mais eficaz quanto os objetos são mais adequados.
Neste sentido, Santos (2008, p. 91) destaca que através da noção de
intencionalidade presente no espaço é possível uma outra leitura crítica das relações
entre objeto e ação. “Essa noção é igualmente eficaz na contemplação do processo
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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de produção e de produção das coisas, consideradas como um resultado entre o
homem e o mundo, entre o homem e o seu entorno”.
Outra contribuição, na concepção de espaço produzido, das formas e da
intencionalidade, vem de Andrade (1981, p.9) ao defender que,
Ao ser analisado, sob enfoque geográfico, a organização de uma
determinada porção do espaço, deve-se refletir sobre o processo que
determinou a organização do espaço. Isto porque, o homem é sujeito no
processo de produção do espaço, organizando o mesmo de acordo com
seus interesses, com seus objetivos, em função da realização econômica
das classes dominantes e lançando mão do capital e dos recursos técnicos
de que dispõem [...].
Andrade (1981) interpreta a realidade geográfica da região Nordeste, e em
especial o processo de produção do espaço do Rio Grande do Norte, corroborando
com a discussão aqui defendida, ao entender-se que o espaço geográfico é social,
que se transforma ao longo do tempo e não um produto acabado.
Andrade (1985) enfatiza a importância de analisar o espaço em sua
totalidade, pois o processo de produção do espaço não se volta apenas para
interesses internos e locais, visa, também, atender interesses de externos que são
os maiores beneficiários do sistema de utilização de recursos produzidos.
É, então, através de uma abordagem centrada no espaço, sem adjetivações,
e que visa compreender os processos sociais que o engendraram que se observa o
excursionismo em territórios que atualmente exerce uma função turística e nesta
perspectiva, o fenômeno do turismo inseri-se, como um processo social que produz
espaço, como sugere Rodrigues (1997, p.61),
Para iniciar as reflexões que seguem é fundamental insistir no fenômeno do
turismo em toda a sua complexidade, expressa pelas relações sociais e
pela materialização territorial que engendra no processo de produção do
espaço.
Segundo Rodrigues (1996, p.17) o turismo é uma prática social, econômica,
política e cultural, é transformadora de espaços e situa-se dentre as mais
expressivas das sociedades pós-industriais,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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[...] movimenta, em nível mundial, um enorme volume de pessoas e de
capital, inscrevendo-se materialmente de forma cada vez mais significativa
ao cria e recria espaços diversificados.[...] De forma espontânea ou
planejada está subordinado às políticas públicas, à iniciativa privada ou à
parceria de ambas. (RODRIGUES,1996, p.17)
Rodrigues (1996) afirma que esta atividade pode estar submetida aos centros
de decisão do capitalismo corporativo hegemônico em nível global, assim como
pode manifestar-se pontualmente, assumindo caráter doméstico e artesanal, como
se apresenta nas lagoas em estudo.
Para Cruz (2005) o turismo, antes de qualquer coisa, é uma prática social que
tem no espaço seu principal objeto de consumo. Uma atividade moderna que
transforma o espaço em mercadoria, inserindo-o no circuito da troca, como no dizer
de Cruz (1999, p.14),
O consumo do espaço pelo turismo é intermediado pelos sistemas de
objetos e de ações que, numa relação dialética, formam o espaço. Esse
consumo se dá através do consumo de um conjunto de serviços, que dá
suporte ao fazer turístico.
Cruz (2007) destaca, ainda, sobre as intervenções de agentes sociais de
naturezas distintas no espaço produzido, como o Estado e o mercado os quais se
inserem na lógica capitalista da produção do espaço, de modo a viabilizar a
realização da atividade. O Estado, de modo subserviente ou não tem uma
inquestionável hegemonia no processo de produção do espaço, através do papel de
ente regulador das relações sociais e provedor de infra-estruturas, além de
estabelecer as normas que regulam a vida pública e privada.
Segundo Santos (2007, p. 27), “é doravante impossível analisar o espaço e
sua evolução sem levar em conta o papel do Estado na vida econômica e social.”
Entende que o Estado, juntamente com mercado, formam um par dialético, mas não
elimina o fato de que exista um auxílio entre ambos, e o autor esclarece (1997, p.
100),
O mercado é um fator de controle, um dado de unificação, um conjunto de
elementos capazes de estabelecer um dado equilíbrio (equilíbrio geral da
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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economia). Age aparentemente sem violentar ninguém e passa de uma
situação de equilíbrio para outra.
O mercado é formado por agentes sociais, os quais, em situações de escalas
local e regional, por vezes, tomam para si a hegemonia do processo de produção do
espaço no sentido de assegurar a consecução de seus interesses.
Mas, a produção do espaço turístico conta, também, com agentes nãohegemônicos e neste caso o papel dos turistas não pode ser negligenciado sendo
indispensável reconhecer sua relevância na produção do espaço.
Estado e agentes de mercado atuam no setor do turismo em função da
existência de consumidores-turistas, os quais por vezes são inclusive responsáveis
por alguns destinos turísticos e por novas dinâmicas nos processos de produção dos
espaços turísticos dos quais se apropriam (CRUZ, 2007).
Cruz (2007) destaca, ainda, que ao se abordar sobre a produção de um
espaço turístico é necessário considerar que o turismo não se dá sob uma tábula
rasa, sobre espaços vazios e sem donos, mas em lugares previamente ocupados
por populações que se estabeleceram e onde vivem suas vidas cotidianas. Assim, a
autora (2007, p.14) conclui:
Não são apenas Estado, mercado e turistas que produzem os espaços
relativos aos fazeres turísticos, mas também sociedades que vivem nesses
lugares, parte delas transformada, por força de novas contingências, em
empreendedores turísticos ou, mesmo, em muitos casos, atuando como
contra-racionalidades às determinações hegemônicas.
Assim, com base nestas noções sobre o processo de produção do espaço, é
que se analisa a inclusão das lagoas de Arituba, Boágua e Carcará na rota do
turismo potiguar, resultado da ação de agentes hegemônicos e não hegemônicos a
partir da década de 1980.
Com base nesse entendimento, lançou-se mão de identificar os momentos
que marcam o processo de produção do espaço e o papel dos principais agentes
sociais envolvidos, identificados nesta pesquisa como o: Estado, agentes do
mercado local (comerciantes locais), turistas e sociedade local, dita “nativa”.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Não se trata, conforme Santos (1985, 1988, 2008), de retraçar o passado,
mas de reconhecer a cada momento o que é mais característico do novo sistema de
objetos e de ações, pois, é através do movimento da sociedade, ao longo do tempo,
que o espaço geográfico se transforma e se organiza, criando um novo leque de
possibilidades e novos pontos de partida.
Ainda segundo Santos (1996, 2008) é importante observar a realização da
sociedade humana em processo, a qual se dá sobre uma base material, usando o
espaço, o tempo e a materialidade a partir de ações diversas. Para ele, é o enfoque
do espaço geográfico, como resultado da conjugação entre sistemas de objetos e
sistemas de ações, que permite transitar do passado ao futuro, mediante a
consideração do presente.
É importante ressaltar que a análise pode parecer, por vezes, uma simples
descrição, mas o que se perseguiu foi o objetivo de uma compreensão mais
aprofundada sobre o empírico. Para tanto, utilizou-se de um breve resgate histórico,
sem dissociar o espaço e o tempo, contextualizando a área da pesquisa como parte
integrante do território nordestino, do município de Nísia Floresta, bem como a partir
de seu papel no turismo potiguar, ou seja, uma análise que enfoca a participação da
atividade turística no processo de produção do espaço, a partir de diferentes
dimensões espaciais.
Com base nestas reflexões é que partimos à continuação deste capítulo, de
modo a compreender o espaço em sua totalidade, o processo da produção do
espaço por diversos agentes que possuem uma interface direta com o
excursionismo que se observa nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará.
3.2 A
INTERVENÇÃO
DO ESTADO E
A INFRA-ESTRUTURA
URBANA
NECESSÁRIA AO TURISMO NAS LAGOAS
Como visto anteriormente, o turismo não ocorre num espaço vazio, mas
ocupado historicamente, o estudo de Andrade (1981) aponta antigos usos e outros
agentes sociais na história da porção litorânea do território norte-rio-grandense, em
que se insere a área da pesquisa.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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De acordo com Andrade (1981) a produção do espaço do Rio Grande do
Norte, nos moldes capitalistas, inicia-se no século XVI, com a conquista e
exploração do território brasileiro em tempos de expansão européia, um momento
marcado por relações existentes entre os índios tupis, o colonizador português e os
latifundiários, produtores da cana-de-açúcar, período que se realiza a luz de
atividades tradicionais como a pesca, a agricultura e o extrativismo.
Mas, na intenção de atender aos objetivos deste estudo, o enfoque do
processo de produção do espaço, em que se observa o excursionismo, se dá no
contexto do turismo potiguar, podendo-se dizer, de acordo com Santos (2008), que é
neste momento que o Estado modernizador aparece, como uma condição
fundamental na criação e no fortalecimento das atividades modernas.
Entende-se que neste período o espaço passa a ser produzido com uma
finalidade turística. A partir da década de 1980, observa-se que a paisagem da
porção do litoral oriental do RN onde se localiza Natal e municípios vizinhos, dentre
eles, Nísia Floresta, passa a ser alterada pelas intervenções do Estado, através de
políticas públicas, que acaba implantando uma infra-estrutura urbana necessária ao
desenvolvimento da atividade turística.
O estudo de Furtado (2008), a respeito do turismo potiguar, aponta que já na
década de 1960 foram dados os primeiros passos para o desenvolvimento do
turismo em Natal, com a instalação de alguns hotéis. No ano de 1971 foi criada a
Empresa de Turismo do Rio Grande do Norte (EMPROTURN), com a finalidade de
dinamizar esse setor no RN, especialmente na capital potiguar, como base em três
linhas de ação: estudar as potencialidades turísticas locais, propagar as belezas de
Natal e dotar a cidade de infra-estrutura urbana para o turismo.
Porém, Furtado (2008, p.57) argumenta: “[...] somente a partir da década de
1980, quando as políticas de cunho industrializantes se esgotaram, o fenômeno do
turismo passou a adquirir relevância e se firmou como atividade econômica.”; e
afirma que os esforços do governo do estado em expandir o setor de turismo
coincidem com o fechamento de diversas plantas industriais, oriundas dos incentivos
da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE).
A partir de então, o espaço passou a ser produzido, em prol da atividade
econômica do turismo no RN. Implantaram-se programas especiais com a finalidade
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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de fazer investimentos na infra-estrutura urbana, em áreas potencialmente turísticas,
de modo a atrair capital externo para a capital potiguar.
O estudo de Cruz (1999) aponta que dentre as ações do Estado de incentivo
ao setor turístico no RN está o Projeto Parque das Dunas/Via Costeira (PD/VC), que
construiu na capital potiguar, a Via Costeira, rodovia com 8,5 km de extensão, com o
objetivo de atrair a instalação de redes hoteleiras, inserindo Natal no circuito
nacional de destinos turísticos, o que segundo Gomes, R. (2009) trazia na sua
essência a proposta de alavancar o turismo de massa no estado.
Conforme Cruz (1999) o PD/VC foi o primeiro “megaprojeto turístico”
concebido no Nordeste, cuja obra foi inaugurada em 1983, e é considerado um
marco na expansão do turismo potiguar (CRUZ,1999; FONSECA, 2005; FURTADO,
2005; GOMES, R., 2009). Para Furtado (2005) este megaprojeto é um marco
inaugural no estabelecimento de políticas públicas de cunho federal, estadual e/ou
municipal direcionadas para a implantação e desenvolvimento do turismo regional e
local proporcionando, na década de 1980, um boom no turismo potiguar.
Nos anos de 1990, a atividade ganha maior destaque no cenário brasileiro,
período de elaboração da Política Nacional de Turismo, tendo entre os objetivos
esperados a redução das desigualdades regionais o que é entendido por Fonseca
(2005, p. 92) da seguinte forma:
A importância assumida pela atividade turística no país nas últimas décadas
foi resultado de um esforço por parte do governo federal em diversificar as
atividades produtivas e a economia do país, procurando abrir novas
perspectivas de trabalho para a população e aumentar o ingresso de divisas
com a captação de turistas internacionais.
Neste contexto, o Estado brasileiro assume a função de um grande produtor
do espaço para o turismo, através do papel normatizador e provedor de infraestrutura, o que é analisado por Cruz (2007, p.11),
No Nordeste brasileiro, por exemplo, o Estado assume, com toda força, a
partir do início dos anos 1990, a condução de um processo de adequação
de territórios nordestinos a um uso turístico maciço e internacionalizado.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Ainda segundo Cruz (2006, p.337), nesta década assistiu-se a consagração
do neoliberalismo como paradigma econômico e político, bem como,
[...] à fase possivelmente mais aguda da transição de um Estado interventor
para um Estado parceiro do Mercado, o que se reflete no turismo, na forma
de políticas públicas comprometidas com a produção e reprodução do
capital [...] voltadas à criação de um novo sistema de objetos cuja
materialidade é demandada pelo novo sistema de ações que se impõe.
Este processo de criação de um novo sistema de objetos e ações para o
desenvolvimento da atividade econômica do turismo se consolida por meio de um
programa federal, e conta com forte atuação dos governos dos estados nordestinos.
Trata-se da formulação de uma política pública na qual foram definidas
macroestratégias de ação e quatro programas que compreendem as regiões
brasileiras (sobre o assunto ver FONSECA, 2005). Dentre estes está o Programa de
Ação para Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (PRODETUR/NE), baseado no
sol, praia, entretenimento e lazer.
Para Cruz (2007), trata-se de uma política voltada à produção do espaço para
o turismo, sobretudo litorâneo, através do qual, está sendo criado e recriado um
sistema de objetos para um turismo maciço e internacionalizado. As ações voltam-se
para melhorias nas condições de fluidez do território (ampliação e modernização de
aeroportos, recuperação e construção de estradas, etc.), além de investimentos em
gestão e promoção da atividade (capacitação profissional, marketing).
Ainda segundo esta autora, o Programa é uma política de turismo, com forte
caráter de uma política urbana, portanto, “uma política de urbanização para o
turismo” (CRUZ, 2007, p.133), uma vez, que seu objetivo central é o provimento de
infra-estrutura básica e de serviços públicos para áreas em expansão turística.
Para execução do Programa, contou-se com contrapartidas financeiras do
governo na esfera estadual e nacional, além de investimentos estrangeiros, através
de empréstimos realizados junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID). (sobre o assunto ver FONSECA, 2005; CRUZ, 1995, 1999; RODRIGUES,
1997; FURTADO, 2005).
Assim, voltando à discussão para o contexto do turismo potiguar, dez anos
após o PD/VC, em meados da década de 1990, o governo do estado do Rio Grande
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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do Norte inicia a implementação do Programa de Desenvolvimento do Turismo no
Rio Grande do Norte (PRODETUR/RN), o qual, segundo Fonseca (2005, p.20),
“promoveu um novo impulso ao turismo potiguar, propiciando sua inserção mais
efetiva no fluxo turístico internacional e a atração dos investimentos turísticos de
cadeias internacionais”.
Segundo Fonseca (2005), os investimentos realizados na primeira fase deste
programa (1996-2001), foram subdivididos em três componentes, Desenvolvimento
institucional, Obras múltiplas e Aeroporto, contemplando seis municípios do litoral
oriental potiguar: Ceará-Mirim, Extremoz, Natal, Nísia Floresta, Parnamirim e Tibau
do Sul.
Destacam-se aqui, apenas os que se deram na escala do município de Nísia
Floresta. No componente Desenvolvimento institucional, deu-se a elaboração da
base cartográfica e do Plano Diretor do município. É válido notar que foi nos anos
2000 que a prefeitura municipal instituiu em seu organograma a Secretaria Municipal
de Turismo e Meio Ambiente.
No componente Obras Múltiplas, destacam-se a construção do Binário de
Pirangi, melhorias na estrada Pirangi - Barra de Tabatinga, estrada TabatingaCamurupin- Barreta, contemplando a Rota do Sol, uma espécie de corredor turístico
que interliga o litoral sul oriental potiguar.
Estes investimentos se deram ao longo de dois governos consecutivos de
Garibaldi Alves Filho (gestão entre 1995-2002), merecendo destaque os que
rebatem diretamente na área da pesquisa como as constantes melhorias na Rota do
Sol, RN-063 (mapa 2), um importante eixo viário ao sul de Natal, que atravessa todo
o município de Nísia Floresta na sua faixa litorânea e corta o seu interior . Uma
rodovia entendida nesta análise como sendo estruturante para a atividade turística
percebida nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará.
É válido destacar que de acordo com informações de representantes da
Secretaria de Turismo de Nísia Floresta e do Departamento de Estradas e
Rodagens, outros investimentos estão sendo pleiteados em infra-estrutura urbana,
para serem incluídos na próxima etapa do Programa, o PRODETUR Nacional,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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dentre eles a implantação do projeto “Circuito das Lagoas” (informação verbal)14,
que incidirá diretamente na área da pesquisa (mapa 2).
Este projeto visa melhorias nas condições viárias no interior de Nísia Floresta,
de modo a interligar as lagoas existentes no município através dos seguintes trechos
rodoviários: RN-313 à Lagoa do Bonfim; contorno da lagoa do Bonfim; acesso à
lagoa do Carcará e Boágua; e o trecho que liga a sede de Nísia Floresta à praia de
Pirangi do Sul (BANCO DO NORDESTE, 2008).
14
Esta denominação foi utilizada pela então governadora do estado do Rio Grande do Norte, Vilma
de Faria, em discurso proferido no município de Nísia Floresta durante a campanha eleitoral de
2008.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 2 – Mapa de localização dos acessos viários de Nísia Floresta (RN).
Elaboração: Janny Lima, 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A implantação desses trechos viários estava prevista como metas da segunda
fase do PRODETUR/RN II (2005-2010), mas, segundo a Secretária Municipal de
Nísia Floresta, Solange Portela, as obras foram inviabilizadas devido à crise
financeira mundial de 2008 que impactou o orçamento inicial do projeto.
Segundo dados oficiais (BANCO DO NORDESTE, 2008), o objetivo da
implantação dos trechos viários é otimizar a atividade turística do município,
disciplinar o uso do solo e minimizar os impactos negativos existentes quanto à
ocupação e ao tráfego, além de possibilitar a ampliação ordenada do fluxo turístico,
aproveitando-se do potencial paisagístico das lagoas de Nísia Floresta.
Os referidos trechos, apesar de ainda serem de estradas carroçáveis, já
possibilitam diversos fluxos turísticos como os que se dão através dos passeios de
buggy; pelos que se destinam às segundas residências no entorno de lagoas como
Boágua e Carcará e, também pelos ônibus de excursão. Além disto, estes trechos
possuem relevância para a comunidade nativa e, também, para os que os utilizam
em caminhadas, trilhas, esporte de aventura, cavalgadas, motocroos, etc.
A respeito da implementação de obras voltadas para aumentar a fluidez do
território, Cruz (2006) entende que corresponde a um tipo de ação estratégica
emanada do Estado (sobretudo poderes públicos federais e estaduais) no sentido de
desenvolver o turismo, tendo como objetivo maior tornar o território atrativo para o
capital privado. Logo, pensando deste modo, pode-se inferir que a realização das
obras que configuram o “Circuito das Lagoas” resultará em novas transformações no
uso do território.
Pelo exposto, pode-se dizer que a inserção de Arituba, Boágua e Carcará na
rota do turismo potiguar, está diretamente ligada às políticas públicas de infraestrutura urbana para o desenvolvimento do turismo na porção sul do litoral oriental
potiguar e neste contexto, as rodovias BR-101 e a Rota do Sol-RN-06315 (ver mapa
2), assumem a função de permitir fluxos de pessoas, mercadorias, informação e de
capital, contemplando diretamente a área da pesquisa, uma vez que são os
principais acessos viários às referidas lagoas.
15
Segundo os dados dos arquivos do DER, na década de 1980, a RN-063 se estendia até Pirangi do
Sul, enquanto o trecho Nísia Floresta-Tabatinga, denominava-se RN-02. Na década de 1990 a RN063 passa a se chamar Rota do Sol e se estende por 52 km, partindo do complexo viário de Ponta
Negra no entroncamento da BR-101 com a Av. Engenheiro Roberto Freire (Natal) até a sede
municipal de Nísia Floresta, próximo ao entroncamento com a BR-101.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
57
A relevância destes fixos é abordada por Fonseca (2005) para quem, estas
duas rodovias são estruturantes para a realização do turismo potiguar no litoral sul,
pois servem de “corredor turístico” aos dois principais pólos turísticos do estado,
onde se localizam diversos atrativos do turismo sol e mar (praias, dunas, lagoas,
etc), concentram-se os principais serviços (meios de hospedagem, alimentação,
entretenimento, etc.) e existe a infra-estrutura urbana necessária (acessos viários,
telefonia, etc.) para o desenvolvimento da atividade.
Visando uma melhor explicação, Fonseca (2005) aponta que o primeiro pólo,
compreende Natal e municípios vizinhos: Ceará - Mirim, Extremoz, Nísia Floresta e
Parnamirim; e o segundo, situa-se em Tibau do Sul, onde se localiza a praia de Pipa,
o “paraíso turístico”, como é tratado por Araujo (2002).
Cabe ainda comentar que a BR-101 é uma rodovia federal que acompanha
toda a costa oriental potiguar servindo ao tráfego interestadual, pela qual se
estabelecem diversos fluxos, inclusive de excursionistas entre as lagoas em estudo
e outros estados do nordeste, como Paraíba e Pernambuco, já mencionado
anteriormente.
Para Cruz (2007), ao tratar da importância desta rodovia federal, o processo
de “rodoviarização” do país, intensificado no país na década de 1970, e,
especificamente, seus traçados litorâneos, como no caso da BR-101, objetivava,
promover a integração nacional, melhorar e aumentar a fluidez das mercadorias,
além de criar as condições materiais adequadas para a reprodução ampliada do
capital. A autora destaca ainda que estas infra-estruturas viárias motivaram a
urbanização turística de extensos trechos ao longo do litoral brasileiro, obras que
foram complementadas por outras rodovias em estados litorâneos.
No caso do Rio Grande do Norte é a rodovia estadual RN-063, conhecida
como Rota do Sol, que se insere neste contexto. Esta rodovia vem sendo alvo de
investimentos, desde meados do século XX, ao longo de vários governos estaduais,
com a construção, ampliação e manutenção de trechos viários.
Segundo dados do DER, no início da década de 1960 existia apenas o trecho
Natal-Ponta Negra, o qual foi ampliado pelo governo estadual de Aluízio Alves
(gestão 1961-1966), através da construção do trecho viário Ponta Negra-Pirangi do
Norte, ligando a capital potiguar ao litoral de Nísia Floresta (fotografias 6 e 7).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
58
6
7
Fotografias 6 e 7 – Vista parcial do trecho viário Natal-Pirangi do Norte da RN-063, na década de
1960: município de Parnamirim (6), município de Nísia Floresta (7).
Fonte: Acervo fotográfico do DER.
Naquela década, esta rodovia servia à base militar da Barreira do Inferno,
localizada no litoral do município de Parnamirim; e também, às populações nativas
desta faixa do litoral, estabelecendo o fluxo de pessoas e mercadorias. Conforme o
estudo realizado por Pontes et al (1993), sobre o litoral de Nísia Floresta, esta
rodovia seguia, da praia de Búzios em direção à Natal, e por ela era transportado
areia e cascalho, material que seria utilizado na construção civil. Estes momentos
foram relembrados pelo entrevistado Luís16, cujo pai trafegava pela referida rodovia
em um caminhão carregado de areia, água, carvão para comercializar em Natal; ou
com pessoas nativas de Pirangi do Sul e do entorno que iam semanalmente à
capital “comprar na feira” como disse o entrevistado.
Mas, é na década de 1980 que esta rodovia passa a ter relevância para
atividade turística, com a construção do trecho Pirangi do Sul-Búzios–Tabatinga,
obra realizada entre 1983-1986, durante o governo estadual de José Agripino Maia.
A partir desta obra o fluxo de pessoas aumenta nesta parte sul do litoral oriental
potiguar, cuja paisagem passa a ser marcada pela construção das segundas
residências. A fotografia 8 ilustra de modo parcial a praia de Búzios e o principal
trecho viário de acesso ao sul do litoral oriental potiguar: RN-063.
16
Luís Antônio C. Campos é nativo da praia de Pirangi do Sul e filho do Sr. Manoelzinho o qual
desde a década de 1960 passou a realizar transporte de mercadorias e de pessoas no trecho Nísia
Floresta-Natal. Atualmente, Luís é um dos responsáveis pela Empresa de Transportes Auto Viação
Campos a qual possui concessão de transporte coletivo abrangendo a parte litorânea dos
municípios de Nísia Floresta e Parnamirim. Entrevista em 30 de jan. 2010, Pirangi do Sul/Nísia
Floresta/RN.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
59
Fotografia 8 – Vista parcial do trecho viário Pirangi do Sul-BúziosTabatinga- na altura da praia de Búzios, litoral de Nísia Floresta/RN.
Fonte: Encarte de divulgação turística do Governo de Radir Pereira,
ano de 1986. Acervo documental do DER.
Ainda nos anos de 1980, outros investimentos foram realizados nesta RN,
contemplando o trecho Tabatinga-sede de Nísia Floresta, em sentido à BR-101, pelo
qual se têm acesso às lagoas de Boágua e Carcará. As obras foram realizadas ao
longo dos governos de José Agripino e Geraldo Melo e num período aproximado de
dez anos, este trecho viário passou de estrada carroçável a asfalto.
Conforme percebido na pesquisa de campo, pode-se dizer que os
investimentos realizados nestas rodovias (BR-101 e RN-063) quer na implantação
ou nas melhorias de trechos viários, ao longo das últimas décadas, tornaram-se fator
de atração do mercado, cujos agentes passaram a apropriar-se das lagoas como
espaço propício à reprodução do capital, principalmente através dos produtos e
serviços que podem ser oferecidos aos diversos turistas que se apropriam deste
espaço até os dias atuais (venda de terras, construção de segundas residências,
alimentação, brinquedos aquáticos, passeio de buggy, entre outros).
Assim, infere-se que a partir destas rodovias são mobilizados diferentes fluxos
de pessoas, de capital e de informação. Tal inferência se baseia na discussão
realizada por Cruz (2007, p.56) que argumenta:
A produção do espaço para o turismo passa, necessariamente, pelo
aumento da fluidez do território e pela produção, conseqüentemente, de
melhores condições de circulação. [...]. Mas, essas infra-estruturas não
conferem maior mobilidade apenas a turistas e residentes. São, também e
principalmente, um meio de assegurar maior mobilidade ao capital privado
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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que, [...], aproveita-se da valorização desses espaços para implementar
seus empreendimentos.
Por todo o exposto, considerando-se as intervenções do Estado, cujas obras
em infra-estrutura possibilitou o aumento da fluidez no espaço, é possível afirmar
que o processo de produção do espaço turístico das lagoas se deu em dois
momentos: o primeiro, na década de 1980, caracteriza-se pela chegada das
segundas residências e o segundo, a partir dos anos de 1990, marcado pela
chegada do turismo de massa, quando o espaço passou a ser apropriado por outros
agentes de mercado e por uma nova demanda turística onde se insere, também, o
excursionista, como será discutido daqui em diante.
3.3 A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO: AGENTES DE MERCADO, TURISTAS E
PODER PÚBLICO LOCAL
A partir dos primeiros anos da década de 1980, pode-se dizer que o entorno
das lagoas de Arituba, Boágua e Carcará, passa por uma outra fase do processo de
produção do espaço, o qual, até então, era apropriado por nativos, cujo uso voltavase predominantemente para agricultura e pesca de subsistência, bem como, ao
banho de pessoas e animais.
Esta década é marcada pela chegada dos empreendedores imobiliários, os
quis lotearam terrenos às margens e no entorno das lagoas, dando novas funções
às formas existentes. Neste período o espaço passa a ser apropriado pelas
segundas residências, propriedades de uma “elite”, em sua maioria oriunda de Natal,
representada por médicos, políticos, juízes, entre outros, conforme relato de alguns
moradores antigos podendo-se dizer que neste período se registra a chegada dos
primeiros turistas, os proprietários das segundas residências, os quais sazonalmente
utilizam estes imóveis, imprimindo a estas lagoas, deste período em diante, a função
de espaços para o lazer turístico.
Segundo Tulik (2001, p.9), a segunda residência é uma forma de alojamento
turístico e recebe denominações diversas:
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Casa de temporada, de praia, chalé, cabana, rancho, sítio, ou chácara de
lazer são alguns termos comumente aplicados às propriedades utilizadas
temporariamente, nos períodos do tempo livre, por pessoas que tem sua
residência permanente em outro lugar.
No contexto desta pesquisa as segundas residências são denominadas de
“casas de praia”, como em Arituba, localizada na praia de Tabatinga; e por “granjas,
no caso das segundas residências mais ao interior do município, no entorno das
lagoas de Boágua e Carcará.
Um tipo de apropriação do espaço que Segundo Lopes Junior (2000, p.41),
está presente na paisagem do litoral sul de Natal, desde a década de 1980,
compreendendo uma “franja de casas de veraneio” estendendo-se inclusive pelas
praias de Nísia Floresta (Pirangi do Norte, Búzios e Tabatinga).
Este momento é relatado por Eugênio, ex-veranista da praia de Tabatinga e
atualmente comerciante local na lagoa de Arituba, que relembra a paisagem
existente quando “a beira da lagoa era só junco”, referindo-se à mata ciliar que
existia às margens da lagoas, retiradas por nativos para a confecção de produtos
artesanais. Segundo o entrevistado no início da década de 1980: “Arituba era
vendida como o paraíso”.
Mas, pode-se dizer que foi a partir da década de 1990 que a função turística
do espaço intensificou-se, e a área da pesquisa se consolidou na rota do turismo
potiguar com a chegada do turismo de massa.
Um processo de turistificação da lagoa que é relembrado por Sr. Antônio,
morador nativo da comunidade de Timbó e que começou a trabalhar como
barraqueiro em Carcará no início da década de 1990,
[...] há vinte anos era só mato, só chegava aqui por uma vereda, era tudo
fechado [...], aí os bugueiro foram chegando [...] traziam gringo, gente
famosa (Romário jogador de futebol). [...] aí foi quando o povo daqui
começou a se interessar [...].
Segundo os comerciantes locais o principal fator de atração para turistas
nacionais e estrangeiros, que chegavam às lagoas através do passeio de buggy, já
nos primeiros anos da década de 1990, era a paisagem mais “nativa”. Com a
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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presença destes turistas na área surge o interesse de pessoas nativas pela
demanda com a qual passaram a estabelecer relações comerciais através das
barracas instaladas nas margens das lagoas.
Este período é, também, relatado por um dos bugueiros entrevistados,
quando diz: “o que mais agradava aos turistas que visitavam estas lagoas era a
paisagem natural, o banho em águas claras, a mata virgem, andar entre dunas [...] e
depois voltar para o hotel onde estavam hospedados”. O passeio entre as lagoas,
denominado “Passeio das Águas” ou “Roteiro Doce”, pelos bugueiros, ainda é
realizado tendo como clientela os turistas que se hospedam em qualquer dos dois
pólos turísticos mencionados anteriormente (Natal e Tibau do Sul).
Com base nos dados da pesquisa, pode-se dizer que a categoria profissional
dos bugueiros teve papel relevante na transformação das lagoas em destinos
turísticos, uma vez que a prestação deste serviço possibilitou a destinação de vários
turistas às áreas das lagoas, situação que é favorecida pelo fato do buggy ser um
veículo adequado para trafegar em dunas e em estradas carroçáveis, infra-estrutura
até hoje existente. Para um outro membro desta categoria: “foram os bugueiros que
descobriram as lagoas de Nísia Floresta”.
Fonseca (2005), em seu estudo sobre competitividade turística, reconhece
que as lagoas estão dentre os atrativos turísticos mais visitados do município de
Nísia Floresta17. Para a Secretária Municipal de Turismo e Meio-Ambiente, Solange
Portela, o que ocorre neste município é o “turismo de passagem” onde as lagoas são
mais uma opção de lazer aos que visitam o destino Natal, chegando a estas lagoas
pelas rodovias já mencionadas anteriormente, principalmente, pela Rota do Sol.
Conforme Furtado e Melo (2001),
Entende-se como turismo de passagem o fluxo de pessoas que circulam e
consome mercadorias e serviços, sem que haja permanências significativa,
ou seja, o número de pessoas que passam é maior do que o número de
pessoas que ficam.
17
Dentre os atrativos turísticos de Nísia Floresta/RN se destacam: as praias, falésias, dunas, a
árvore centenária Baobá, o Túmulo da filha ilustre Nísia Floresta e o camarão, oferecido como o
melhor do destino potiguar.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Para estas autoras diante de investimentos realizados nesta rodovia (asfalto,
duplicação), o fluxo de veículos e de pessoas vem aumentando significativamente,
provocando transformações espaciais relevantes. Com base nisto, entendendo esta
RN-063 como rodovia relevante no processo de transformação das lagoas,
observou-se nesta pesquisa sobre o fluxo de pessoas, as mercadorias e serviços
oferecidos nas lagoas.
É então deste espaço que agentes sociais distintos se apropriam, dentre eles
o Estado, através de suas políticas públicas; os turistas, de origem internacional,
nacional, local e excursionistas; e agentes de mercado do setor formal e informal da
economia: bugueiros, barraqueiros, vendedores ambulantes, proprietários das
empresas de ônibus que servem às excursões, entre outros.
É válido ressaltar que as análises apresentadas neste estudo contemplam as
três lagoas enfatizando o que há de comum no processo de produção do espaço,
porém, não se pretende ignorar as particularidades dos objetos presentes e das
ações dos agentes sociais que as tornam diferentes.
Os estabelecimentos comerciais, de um modo geral, estão em funcionamento
nestas lagoas há quase vintes anos, o que remonta os primeiros anos da década de
1990. As fotografias 9, 10 e 11, referem-se às imagens das lagoas nos anos 2000,
através das quais se percebe a apropriação do espaço por comerciantes locais e
turistas.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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9
10
11
Fotografias 9, 10 e 11 – Estabelecimentos comerciais instalados na margem da lagoa de Arituba
(9), Boágua (10) e Carcará (11), ano 2001.
Fonte: Jornal Diário de Natal, 18 jul 2001.
Conforme demonstram as ilustrações, a instalação física das barracas ou do
parque aquático nas margens das lagoas destoam da paisagem “natural” que
inicialmente atraiam os turistas. Atualmente a paisagem é marcada pela
concentração de vinte e quatro comerciantes que atuam na área das lagoas, alguns
na prestação de serviço de alimentação (bar, restaurante) e outros na área de
entretenimento (parque aquático e/ou casa de show), conforme descrito no quadro
2.
Lagoa de Arituba
1
La moni‟s – Bar e Restaurante
2
Barraca do Galego
3
Bar e Restaurante Brilho do Sol
4
Bar e Restaurante Arituba Point
5
Bar e Restaurante do Ednaldo
6
Barraca Legal
7
Pastelaria e Petiscaria Gosto da Terra
Lagoa de Boágua
1
Crescer Comercial Distribuidora LTDA.- Balneário Boágua (Parque
Aquático, Casa de show (forró)
2
Bar do Vaqueiro
Lagoa de Carcará
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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2
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13
14
15
Barraca da Eliane
Toca do Tito
Pastelaria de D. Fátima
Barraca da DORE (Maria das Dores)
Barraca da Janete
Barraca da Josefa
Barraca do Cajueiro (Barraca de D. Laura)
Toca do Carcará
Barraca do Júnior
Barraca da Dona Vilma
Barraca da Kelly
Barraca da D. Ivani
Bar Dois Irmãos
Barraca do Oziel
Palhoção Casa Show
Quadro 2- Estabelecimentos de serviços de alimentação por lagoa, ano 2010.
De um modo geral caracterizam-se por um funcionamento regular ao longo do
ano, o que significa a existência de uma demanda turística contínua que justifica tal
funcionamento nestas lagoas. A sazonalidade da atividade é percebida, mas não
representa algo relevante, pois segundo um entrevistado “o movimento é bom o ano
todo”.
De acordo com os dados obtidos na pesquisa, os proprietários atuais, dos
referidos estabelecimentos, são de origem local (“nativos”), ex-veranistas, bugueiros,
além de alguns proprietários de origem estrangeira que adquiriram alguns
estabelecimentos nos anos 2000 (caso particular de Arituba).
Diante da caracterização do comércio local que se desenvolve nas lagoas em
função da atividade turística, é importante destacar que a geração de emprego e
renda é uma realidade ao longo das duas últimas décadas, seja do tipo formal ou
informal, de caráter temporário ou permanente, são empregados inúmeros
cozinheiros, garçons, vendedores ambulantes, guias turísticos, entre outros.
Não se pretende aqui fazer apologia à atividade econômica nem à qualidade
dos empregos gerados, mas diante da realidade local, cuja população dispõe de
poucas alternativas de emprego e renda, os postos de trabalho gerados pelo turismo
configuram uma alternativa relevante, uma vez que é esta atividade que impulsiona
a economia de Nísia Floresta, conforme argumentado pela Secretária Municipal de
Turismo, Solange Portela.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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À maioria destes estabelecimentos são cobrados tributos municipais e
estaduais como o Imposto Territorial Urbano (IPTU), taxas de alvará de
funcionamento, e licenciamentos junto ao Instituto de Desenvolvimento Sustentável
e Meio Ambiente (IDEMA), além de impostos trabalhistas. Fora deste contexto estão
os que se encontram em situação irregular junto ao poder público local, como é o
caso de alguns barraqueiros da lagoa do Carcará, uma vez que seus
estabelecimentos estão em área de posse, impossibilitando a regularização dos
serviços oferecidos junto aos órgãos competentes.
As condições físicas destes estabelecimentos variam entre as lagoas
conforme pode ser observado nas fotografias 12,13 e 14.
12
13
14
Fotografias 12, 13 e 14 – Vista parcial das instalações físicas dos estabelecimentos comerciais,
em Arituba(12), Boágua(13) e Carcará(14), ano 2010.
Na lagoa de Arituba, década de 1990, foi executado um projeto de
urbanização viabilizado pelo poder público municipal, o qual construiu sete
estabelecimentos comerciais voltados para a comercialização de alimentos,
melhorando as condições sanitárias existentes. Segundo Eugênio (comerciante
entrevistado), o projeto visava disciplinar o uso e ocupação das margens das lagoas,
tendo como uma das preocupações a não contaminação da água da lagoa pelas
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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fossas existentes, o que resultou numa padronização na construção dos
estabelecimentos.
Em Boágua e Carcará, por sua vez, inexistem ações neste sentido. A
construção dos estabelecimentos não obedece a nenhum projeto de urbanização,
são construídos a gosto dos comerciantes, imprimindo formas que destoam da
paisagem local. É válido ressaltar a existência de construções visivelmente
precárias, cujas instalações sanitárias põem em questão a qualidade dos serviços
oferecidos, como no caso de Carcará (figura 13).
Observando as condições físicas dos estabelecimentos e a infra-estrutura
existente quanto à rede de saneamento-básico, fornecimento de energia elétrica,
telefonia, cobertura de telefonia móvel, por exemplo, aspectos que são relevantes
para qualificar e viabilizar a atividade econômica do turismo infere-se que existe,
entre as lagoas em estudo certa “hierarquia”, apesar de todas estarem inseridas na
rota do turismo potiguar, o que interfere diretamente na escolha destas lagoas pela
clientela turística.
Como já foi mencionado não existem dados estatísticos sobre a demanda
turística nas lagoas, mas, com a pesquisa, foi possível perceber que em relação ao
recebimento de turistas Arituba encontra-se numa situação mais privilegiada, uma
vez que se caracteriza por receber turistas das classes mais abastadas, seguida de
Carcará e por último encontra-se Boágua a qual se caracteriza, principalmente, pela
presença expressiva dos excursionistas.
Compreende-se, então, que esta diferenciação na atratividade de turista a
cada uma das lagoas está diretamente ligada às condições da infra-estrutura
existente que acabam sendo um fator de seleção para a chegada de turistas com
maior poder de consumo.
Retomando as semelhanças existentes entre as lagoas destaca-se que o
espaço de uso comum vem sendo apropriado por agentes da iniciativa privada seja
com a construção de estabelecimentos comerciais na margem das lagoas, como
também por uma gama de serviços informais, volantes, que ocupam a área:
vendedores de picolé, de churrasquinho, vendedor de peixe com tapioca (ginga), de
artesanato, e de produtos “piratas”, como óculos, CD, DVD, entre outros.
Assim, caracteriza-se a apropriação do espaço pelos agentes de mercado,
um mercado artesanal, mas que visam a obtenção do lucro e a sobrevivência dos
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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seus estabelecimentos comerciais junto a uma clientela turística variada. Um misto
de turistas estrangeiros (portugueses, espanhóis, noruegueses) nacionais (paulistas,
mineiros, brasilienses), regionais (paraibanos e pernambucanos), bem como os
excursionistas oriundos de municípios vizinhos (Natal, Parnamirim, São Gonçalo,
Canguaretama).
Turistas com diferentes poder de consumo e que chegam às lagoas através
de guias turísticos, bugueiros profissionais e amadores, em carro próprio, ou em
excursões e sobre esta clientela é válido uma breve caracterização.
Os turistas de origem nacional ou estrangeira são os clientes “preferidos”
entre os comerciantes entrevistados. Eles freqüentam as lagoas há cerca de vinte
anos e estão presentes ao longo das últimas duas décadas, com maior intensidade
entre os meses de alta estação (outubro a março). Quanto aos dias da semana mais
freqüentados por estes turistas difere em cada lagoa, ocorre de domingo a domingo,
nas Lagoas de Arituba e Carcará; enquanto em Boágua, só passam nos dias de
semana, pois segundo um dos bugueiros entrevistados “o domingo é o dia povão”,
referindo-se à presença dos “farofeiros”. Para este entrevistado “o domingo devia ser
feriado pro bugueiro, é bêbado em todo canto!”. Este depoimento é importante, pois
sinaliza o incômodo gerado pelos excursionistas nestas lagoas, o que será abordado
no terceiro capítulo.
Uma outra parte da clientela turística refere-se aos visitantes que chegam em
excursão ou em carro próprio, oriundos de municípios vizinhos, ou mesmo de outros
estados como a Paraíba e Pernambuco. É importante destacar que estes fluxos são
viabilizados pela curta distância (menos de uma hora) entre as lagoas e municípios
como São José de Mipibu, Arêz, Canguaretama e da capital Natal. Segundo os
comerciantes locais estes clientes são reconhecidos como “o povo daqui mesmo”.
A demanda caracterizada pelo excursionista é comum nas lagoas desde os
primeiros anos da década de 1990, como foi constatado na pesquisa e denuncia o
relato de Seu José18, excursionista, freqüentador das lagoas em estudo, que diz, “a
primeira vez que vim aqui faz mais de 15 anos”.
Os ônibus de excursões são comuns apenas nos finais de semana,
predominantemente nos domingos e, também, nos feriados, dada a disponibilidade
18
José Aparecido, 42 anos, excursionista oriundo de Natal/RN, bairro de Planalto. Pesquisa de campo, Lagoa
de Boágua, 07 fev. 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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de tempo livre destes turistas que representam uma parcela da classe trabalhadora.
O fluxo de pessoas que movimenta caracteriza-se por dezenas de ônibus por mês,
ao longo dos doze meses do ano.
Por fim, outro tipo de “cliente” como se refere Kelly 19, são os que chegam em
carro próprio, em pequenos grupos, oriundos, também, de municípios vizinhos.
Segundo a comerciante freqüentam as lagoas “desde o início”, referindo-se aos
anos de 1990. É interessante notar que apesar de alguns destes turistas, também,
trazerem a farofa, a bebida e outros apetrechos (como fazem os excursionistas),
mas não são tratados como “farofeiros”. Esta situação permite a conclusão de que a
imagem negativa do excursionista está relacionada não apenas ao seu baixo poder
de consumo, mas também por andar em “bando” e comportar-se “fora dos padrões”
estabelecidos pelos comerciantes, o que será discutido no capítulo seguinte.
Apesar das lagoas estarem inseridas na rota do turismo potiguar, o espaço
revela deficiências que demonstram a fragilidade da atividade resultado da omissão
e negligência do poder público local, o que é percebido por comerciantes e
visitantes.
Vivencia-se nas lagoas uma situação de descuido e de abandono a qual é
facilmente observada tomando como exemplo alguns elementos da infra-estrutura
básica
relevantes
à
qualidade
do
produto
turístico,
como
acessibilidade,
estacionamento, segurança-pública, saneamento básico e coleta de resíduos
sólidos. Elementos que agregam valor ao produto turístico e em determinados casos
tornam-se decisivos para a seleção dos destinos que o turista elege visitar.
Acessibilidade- O acesso principal às lagoas, como foi visto anteriormente, se dá
pela BR-101 e RN-063, ambas oferecem condições satisfatórias aos fluxos
turísticos. Porém a parte que compromete o acesso refere-se às estradas
carroçáveis que ligam estas rodovias às lagoas (fotografias 15 e 16), as quais
necessitam de manutenção constante, possuem uma sinalização precária e não
oferece segurança aos que trafegam por elas.
19
Waldira Francisca é proprietária da Barraca da Kelly, como é conhecida na lagoa de Carcará. Pesquisa de
campo, Lagoa de Carcará, 13 fev. 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
70
15
16
Fotografia 15 e 16– Condições do acesso: entroncamento da RN-063 com estrada carroçável que
liga à lagoa de Carcará (15), estrada carroçável que interliga as lagoas pelo interior do município
(16).
Estacionamento- As áreas que servem de estacionamento nas lagoas são, de um
modo geral, as estreitas vias públicas existentes, as margens das lagoas e alguns
terrenos de particulares que atualmente não estão sendo utilizados pelos
proprietários (fotografias 17, 18 e 19). É importante ressaltar que diante desta
deficiência existem estacionamentos particulares na área, cujos proprietários são os
comerciantes locais e a permanência dos veículos está vinculada ao consumo dos
turistas nos estabelecimentos.
17
18
19
Fotografias 17, 18 e 19 – Área de estacionamento na lagoa: Arituba (17), Boágua (18) e Carcará
(19).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Segurança pública- Este serviço, também, é deficiente, conforme relato de um
comerciante da lagoa de Carcará: “eles só vem aqui pra pegar o lanche”, referindose à prática abusiva de policiais militares que atuam na área os quais não oferecem
a segurança devida. Outro fator que não oferece segurança é inexistência de
bombeiros salva-vidas, apesar do risco eminente de afogamento por banhistas, o
que vem sendo registrado nas lagoas de estudo nos últimos anos, sendo dois casos
em Arituba e um em Carcará, no período entre dezembro de 2009 e janeiro de 2010.
Saneamento-básico- Observou-se nas três lagoas a inexistência de saneamentobásico. A água utilizada pelos estabelecimentos comerciais é retirada de poços
artesianos particulares e não é tratada; logo, não existe, também, tratamento de
esgotos restando como alternativa para os comerciantes a construção de fossas
sépticas nas margens das lagoas, com base nisto pode-se questionar sobre o risco
eminente de contaminação do lençol freático, bem como, sobre a “qualidade” da
água consumida e utilizada pelos banhistas.
Coleta de resíduos sólidos- Este serviço é prestado pelo poder público municipal e
de modo unânime, é avaliado pelos entrevistados como um serviço bastante
precário, pois não atende às necessidades das lagoas. Sobre este relevante serviço,
foram denunciadas a insuficiência no número de coletas que é feita apenas duas
vezes por semana, a inexistência de garis assim como de coletores de lixo nas
margens das lagoas, cabendo aos comerciantes realizar a manutenção da limpeza
do lugar. As fotografias 20 e 21 retratam a situação de abandono do poder público
em relação às lagoas que atinge com mais intensidade os excursionistas uma vez
que nas áreas utilizadas por estes, o lixo se acumula: “passam de uma semana pra
outra”, como relatou um entrevistado.
20
21
Fotografias 20 e 21 - Lixo encontrado na área utilizada pelos excursionistas: Arituba (20) e Boágua
(21).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Ao questionar um representante do poder público municipal a respeito da
implantação de uma melhor infra-estrutura nestas lagoas a resposta foi de que as
ações dependem da facilidade de operacionalização, uma vez que “as questões
ambientais engessam o poder público impedindo a realização de melhorias”. É
importante notar que as lagoas em estudo situam-se numa Área de Proteção
Ambiental (APA- Bonfim-Guaraíra)
Outro aspecto que ajuda a entender a situação de descaso com as lagoas é
de que o município desenvolve suas atividades com um reduzido quadro técnico em
sua estrutura administrativa e não possui um plano de ação a nível local, para o
desenvolvimento da atividade turística.
Segundo um representante da Secretaria de Turismo de Nísia Floresta as
ações são regidas pelas diretrizes do que é planejado em uma escala mais ampla 20
o que acaba dificultando a observação das especificidades do complexo fenômeno
do turismo e das deficiências existentes diante do seu desenvolvimento. Deste
modo, as necessidades mais prementes nas lagoas em estudo ficam sem o
atendimento necessário.
Mas, apesar da negligência do poder público local com a atividade turística
que se desenvolve nas lagoas pode-se dizer que esta situação não impede a sua
apropriação por diversos agentes de mercado e turistas, os quais possuem
intencionalidades distintas no processo de produção do espaço, seja voltada para a
reprodução capitalista ou para o desfrute do lazer.
A partir desta visão geral sobre o processo de produção do espaço, pode-se
observar os fluxos de pessoas e de mercadorias que são estabelecidos nestas
lagoas e identificar a atuação do referidos agentes sociais. Podendo-se afirmar que
neste processo o espaço passa por uma resignificação das suas formas, de acordo
com as diretrizes do mercado e da estrutura produtiva vigente nas últimas três
décadas.
20
Segundo dados do BANCO DO NORDESTE (2008), atualmente, o Pólo de Turismo Costas das
Dunas é constituído por dezoito municípios e compreende todo o litoral oriental e parte do litoral norte
do estado, no qual estão inseridos os municípios de: Arêz, Baía Formosa, Canguaretama, CearáMirim, Extremoz, Macaíba, Maxaranguape, Natal, Nísia Floresta, Parnamirim, Pedra Grande, São
Gonçalo do Amarante, São José do Mipibu, São Miguel do Gostoso, Senador Georgino Avelino, Rio
do Fogo, Tibau do Sul e Touros, o objetivo deste Pólo é fomentar o fortalecimento da atividade
turística nesta região.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Neste contexto, o Estado tem atuações variadas, às vezes, funciona como um
grande agente modificador do espaço assumindo o papel de provedor das políticas
públicas; e, em outros momentos, se omite da sua função de ordenar o uso do
espaço para que este seja mais justo, menos desigual e com menores conflitos, o
que se demonstra pelo abandono, omissão, inoperância do poder público local no
que se refere aos problemas mais ínfimos, como uma coleta de lixo eficiente.
O mercado e o consumo do espaço apresentam-se de várias formas: através
dos loteamentos de terras que serviram à construção das segundas-residências, dos
serviços de alimentação e entretenimento oferecidos aos vários turistas; nos ônibus
fretados pelos excursionistas; na construção da infra-estrutura existente, ou no
comércio ambulante presente. De qualquer modo o mercado está presente neste
processo visando a obtenção do lucro e a reprodução do capital independente da
intensidade.
A demanda turística é diversificada as diferenças se dão quanto à origem e ao
poder de consumo dos turistas, os quais se tornam desejados ou indesejados nestas
lagoas, conforme os interesses e as condições de atuação dos comerciantes locais.
Portanto, esta é a compreensão a respeito do processo de produção do
espaço onde estão inseridas as lagoas em estudo, área que desde a década de
1980 passa a assumir uma função eminentemente turística.
Contudo, antes de concluir este capítulo, é necessário enfatizar novamente
que neste contexto está inserido o excursionismo, meio a diversos agentes sociais
os quais se apropriam de modo diferente deste espaço turístico conforme interesses
próprios, às vezes convergentes e outras divergentes, quer na forma de lazer ou
visando a reprodução do capital. Então, nesta perspectiva, partimos para o próximo
capítulo onde serão discutidos os conflitos existentes neste espaço, tomando-se
como centro da discussão as relações estabelecidas entre os excursionistas,
agentes do mercado local e a atuação do poder público municipal.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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4 UM “FAROFEIRO” INCOMODA MUITA GENTE, DOIS “FAROFEIROS”
INCOMODAM MUITO MAIS: COMPREENSÃO DOS CONFLITOS TERRITORIAIS
É no território, tal como ele atualmente é, que a cidadania se
dá tal como ela é hoje, isto é, incompleta. Mudanças no uso e
na gestão do território se impõem, se queremos criar um novo
tipo de cidadania, uma cidadania que se nos ofereça como
respeito à cultura e como busca da liberdade.
Milton Santos
Nesta parte do trabalho, intitulada: Um “farofeiro” incomoda muita gente, dois
“farofeiros” incomodam muito mais, o objetivo é discutir sobre os conflitos territoriais
existentes na lagoa de Arituba, Boágua e Carcará, tendo como enfoque de análise
as relações estabelecidas entre os excursionistas (fotografias 22, 23 e 24),
comerciantes locais e poder público municipal.
22
23
3
24
Fotografias 22, 23 e 24 – Chegada dos “farofeiros” na lagoa: Arituba (22), Boágua (23) e
Carcará (24).
O título deste capítulo que a princípio pode parecer engraçado21 tem o intuito
de enfatizar o teor pejorativo que esta prática turística assume na sociedade,
conforme demonstrado na área da pesquisa e em outros estudos (RODRIGUES,
21
A idéia deste título foi apreendida da musica infantil de domínio popular: “Um elefante incomoda
muita gente, dois elefantes incomodam muito mais; três elefantes, incomodam muita gente [...].
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1997; RUBINO, 2004; ALCÂNTARA, 2005) nos quais pode-se perceber o quanto o
excursionismo é visto como depreciativo para as unidades receptoras desta
demanda, o incômodo causado e os impactos desta prática como a mudança do
“conteúdo social” dos lugares turísticos, como no dizer de Urry (2001).
O termo “farofeiro” atribuído pelo senso comum ao excursionista demonstra a
carga de preconceito que existe sobre estes cidadãos de classes populares que se
destinam ao lazer, em qualquer destino turístico que se apropriem, como é analisado
por Rodrigues (1997, p. 120),
Trata-se porém de um fluxo de pessoas, visto pelos políticos, pelos
moradores locais e pelos turistas de estratos sociais de maior poder
aquisitivo, como verdadeiras „horda de desordeiros‟, acusados de causar
sérios danos aos locais de destinos, gerando anarquia, depredação e
agressão ao meio ambiente.
Pode-se dizer que existe um consenso sobre a prática realizada por estas
pessoas tidas com “pobres e mal educadas”, como demonstra, também, o estudo de
Alcântara (2005) que diz,
O que se verifica é que, [...], ao termo „farofeiro‟ se associa a imagem de um
grupo social composto por pessoas pobres, mal educadas e bagunceiras.
As excursões de farofeiros “não gastam”, “fazem arruaça” e “sujam”, e
dessa maneira “só causam prejuízo” às comunidades receptoras.
Diante da imagem negativa que o excursionismo assume, é importante se
reportar, novamente, sobre o conceito defendido neste estudo (ver capítulo 1) como
uma modalidade de turismo realizada por pessoas que representam a classe
trabalhadora, mas que por serem de baixa renda sua presença vai de encontro com
a intencionalidade de outros agentes presentes no espaço turístico das lagoas, cuja
lógica é voltada para receber turistas dos estratos mais altos da sociedade, visando
seu maior poder de consumo.
Na área da pesquisa, a presença dos excursionistas não passa despercebida
pelos diversos agentes sociais existentes. De um modo geral, muitos os rejeitam,
mas alguns os aceitam, neste último caso, ocorre por parte de agentes do mercado
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que percebem estes turistas como uma demanda lucrativa, uma vez que, apesar do
seu baixo poder de consumo, movimenta, sobretudo, o setor informal da economia
viabilizando, também, a reprodução do capital.
O “incômodo” gerado por eles é percebido de várias formas seja no discurso
assumido pelo poder público, barraqueiros e outros comerciantes locais, bem como
pelas ações segregadoras demonstradas pelas barreiras físicas dispostas nas
margens das lagoas e pela omissão do poder público em gerir o território turístico de
modo a viabilizar uma infra-estrutura digna para estes turistas restando a estes
visitantes serem tratados como “sujos” e “mal-educados”. Contudo, conforme
demonstram as análises que se seguem a presença dos “farofeiros” é marcante e
algumas barreiras são transpostas por eles, o que resulta em conflitos perceptíveis.
Assim, as análises contidas neste capítulo visam entender como se dão os
conflitos no território numa trama que envolve diretamente, agentes de mercado
(barraqueiros e bugueiros), os excursionistas e o poder público local. E, nesta
perspectiva, alguns questionamentos subsidiaram a pesquisa: como o poder público
percebe e reconhece a presença dos excursionistas? Quais os discursos e práticas
diante do fenômeno? Como se dá atuação do poder público local frente à demanda
turística? Quais as estratégias de segregação por parte do mercado local para coibir
o incômodo causado pelos “farofeiros”? Como os excursionistas percebem o
território?
Estas questões foram abordadas por meio de questionários, entrevistas e
observação in loco, contemplando toda a área da pesquisa. Cabendo destacar que
se trata de uma situação conflituosa por envolver agentes com intenções
divergentes: os que querem ter direito a um dia de lazer, os excursionistas; os
barraqueiros que querem comercializar seus produtos aos turistas com maior poder
aquisitivo e assim obter maior lucro; e o poder público local que não quer a presença
dos excursionistas pois, segundo a fala de um gestor local, “eles só deixam lixo”.
Assim, a partir da análise do excursionismo dentro de um espaço turístico, foi
possível perceber as fragmentações e contradições existentes. Trata-se da
apropriação do espaço por agentes sociais concretos, pelo Estado, pelo mercado
(através de seus agentes), e por turistas, inclusive os de baixo poder aquisitivo que
representam um incômodo pois como defende Cruz (2007) a produção do espaço
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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envolve o seu uso e a apropriação que se dá por agentes sociais distintos e, nesse
caso, o conflito termina por ser imanente ao processo.
4.1 REFLEXÃO SOBRE UM TERRITÓRIO DE USO TURÍSTICO
No capítulo anterior analisou-se o processo de produção do espaço
identificando as formas de apropriação de um território turístico por agentes
hegemônicos e não hegemônicos, onde a presença o excursionista se insere e
contraria o interesse de outros agentes que visam obter o lucro com turistas de
maior poder de consumo, gerando conflitos que serão abordados neste capítulo.
O conceito de território foi relevante para compreender o empírico, uma vez
que, ao longo da pesquisa de campo observou-se a existência de territórios, onde as
relações foram percebidas através das ameaças “sutis”, por parte de alguns
entrevistados que representam o mercado local; por parte do poder público que por
vezes mostrou-se indisponível para o repasse de informações públicas como se
fossem privadas; bem como, por parte dos excursionistas, que sobre alguns
questionamentos demonstravam-se “armados”, expressando demasiada irritação
com a presença dos pesquisadores.
Certamente, estas situações foram contornadas, uma vez que em qualquer
abordagem junto a estes agentes, o pressuposto é de que estava se adentrando em
territórios bem demarcados, o que foi possível pelo embasamento teórico a partir da
contribuição de alguns estudiosos a respeito deste conceito geográfico.
A discussão do território é vasta, porém a intenção, neste momento, é elucidar
a tomada do melhor conceito para compreender os conflitos existentes na área de
estudo tendo como elemento central a prática do excursionismo, ou seja, a
apropriação do território pelos “farofeiros”.
Para Raffestin (1993) espaço e território não são termos equivalentes, para
este autor, o território se forma a partir do espaço e é resultado de uma ação
conduzida por um ator que se apropria de um espaço concreta ou abstratamente e
que acaba por territorializá-lo. É um espaço onde se projetou um trabalho, seja
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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energia ou informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo
poder. “é uma produção, a partir do espaço”. (RAFFESTIN, 1993, p.144).
Santos e Silveira (2006), trazem também a preocupação sobre a distinção
entre espaço e território, e para estes autores o que o interessa discutir é o território
usado, sinônimo de espaço geográfico, através de uma análise sistemática da
constituição do território, e, desta forma, Santos e Silveira (2006, p. 247)
argumentam que,
Quando quisermos definir qualquer pedaço do território, deveremos levar
em conta a interdependência e a inseparabilidade entre materialidade, que
inclui natureza, e o seu uso, que inclui ação humana, isto é trabalho e
política.
O território dessa forma é vivo, devendo ser considerado os fixos e os fluxos,
sem desconsiderar o tempo, pois assim, “o território revela também as ações
passadas e presentes, mas já congeladas nos objetos, e as ações presentes
constituídas em ações”. (SANTOS E SILVEIRA, p.247),
Contextualizado a discussão com a pesquisa, ao se tratar de um território com
função turística, Cruz (2007, p.11) esclarece que:
O uso turístico do espaço leva à formação do que temos habitualmente
chamado de „território turístico‟, quer dizer, porções do espaço geográfico
em que a participação do turismo na produção do espaço foi e ainda é
determinante.
Neste estudo, a autora chama a atenção que não existe território que seja
exclusivamente turístico. Para Cruz (2007, p.11) o que existe de fato “são usos
turísticos do território, ou seja, porções do espaço apropriadas por diferentes fins,
incluindo-se e destacando-se a atividade do turismo”.
Rodrigues (2006, p. 305), por sua vez, entende que o território turístico resulta
da prática turística, ao mesmo tempo em que se concretiza e é transformado por ela,
e enfatiza,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Um espaço apropriado torna-se território, expressão de poder, poder não
somente do ponto de vista político, no sentido mais concreto de fundo
dominial, mas expressando também poder no sentido mais simbólico, de
apropriação por meio das representações sociais.
É, portanto, com base nesta concepção de território, enquanto expressão de
poder no sentido não só político, mas também simbólico que se dará a compreensão
dos conflitos entre os sujeitos sociais que dividem o território turístico que
compreende a área de estudo das lagoas de Arituba, Boágua e Carcará.
4.2 “FAROFEIROS”, PODER PÚBLICO E COMERCIANTES LOCAIS: CONFLITOS
EXISTENTES E AS ESTRATÉGIAS DE SEGREGAÇÃO
Para analisar os conflitos e as estratégias de segregação meio às relações
estabelecidas entre “farofeiros”, poder público e comerciantes locais nas lagoas em
estudo, é importante destacar de início que o excursionismo não é reconhecido
como uma modalidade turística o que ajuda a compreender porque são vistos como
“intrusos” neste território turístico. Como foi verificado junto ao poder público, não
existem ações no contexto do turismo municipal, que incluam ou voltem-se
diretamente para a realização desta atividade que acaba ficando a cabo dos agentes
de mercado (proprietários de estabelecimentos comerciais instalados nas lagoas) os
quais sentem-se “donos do pedaço”, como disse um excursionista entrevistado.
Os comerciantes locais, por sua vez, sentem-se incomodados diante da
presença do “pessoal dos piqueniques”, “ônibus de excursão”, “farofeiros”,
“demolidores” ou simplesmente “povão”, os quais viajam por algumas horas para ter
o dia um dia de lazer e para isso enfrentam situações que ferem a cidadania, cujos
direitos são tolhidos, como o direito de ir e vir e o acesso ao espaço de uso comum:
as margens das lagoas.
Outro aspecto que é importante enfatizar é de que os conflitos existentes na
área da pesquisa têm como motivos essenciais a divergência de interesses entre os
comerciantes locais e excursionistas, pois enquanto os comerciantes se apropriam
do espaço turístico visando a obtenção do lucro com a atividade turística viabilizada
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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por turistas com maior poder aquisitivo,
os excursionistas se apropriam
eminentemente para o lazer, de um modo econômico, não deixando os lucros
almejados pelos donos de barracas nas lagoas, sendo esta a questão primordial dos
conflitos existentes.
Um contexto que resulta em estratégias de segregação não apenas por parte
destes comerciantes, mas, também, por parte do poder público que negligencia de
um modo geral a atividade turística que se desenvolve em Arituba, Boágua e
Carcará.
Nesta pesquisa a discussão teórica sobre a segregação não será
aprofundada mas, é necessário elucidar que concorda-se com o que é defendido por
Lefebvre (2001), para quem a segregação é uma estratégia de separação das
classes sociais (consciente ou inconsciente); é regida mais ou menos facilmente
pelos poderes públicos; bem como, pelas empresas. Conforme Lefebvre (2001,
p.97),
A segregação deve ser focalizada, com seus três aspectos, ora
simultâneos, ora sucessivos: espontâneo (proveniente das rendas e das
ideologias) – voluntários (estabelecendo espaços separados) – programado
(sob o pretexto de arrumação e de plano).
Esta concepção colabora com a intenção, por hora, pretendida: identificar as
estratégias utilizadas pelo mercado e poder público local para dificultar a prática do
excursionismo nas lagoas em estudo; e elucidar como se dá a atuação dos
excursionistas, os quais burlam variadas tentativas de segregação o que acaba por
instigar os conflitos territoriais conforme visto nesta pesquisa.
Nesta perspectiva, observou-se que apesar de serem identificados os
territórios dos comerciantes e dos excursionistas (mapas 3, 4 e 5) a separação física
entre estes agentes não é efetiva e relações sociais conflituosas são estabelecidas,
podendo-se dizer que estes territórios até se confundem em alguns momentos; e,
por serem os interesses divergentes os conflitos entre excursionistas e barraqueiros
são marcantes no espaço. Esta situação é percebida de imediato pela disputa por
pequenas faixas de terras nas margens das lagoas, onde se encontram mesas,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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cadeiras, brinquedos aquáticos, muros, cercas, dentre outros objetos fixos e móveis
que cerceiam o direito à área de uso comum, almejada pelos excursionistas.
Conforme demonstram os mapas 3, 4 e 5, a área física utilizada pelo turismo
de massa é restrita quando comparada à extensão total das lagoas. A maior parte
da área de uso comum possui um caráter privado, uma vez que, são apropriadas
pela propriedade privada como extensão das segundas residências.
Observou-se com a pesquisa de campo que os acessos públicos, nestas
áreas, não são respeitados o que acaba sendo legitimado pela falta de ação do
poder público local o qual se omite de ordenar o uso deste território permitindo assim
sua privatização, uma forma de segregação que é justificada por um representante
da prefeitura da seguinte forma: “vai abrir acesso público pra quê? Pra encher de
farofeiro? Eu não vou arranjar problema pra mim!”
A respeito desta apropriação indevida de um espaço de uso comum, é
importante destacar a atuação do poder judiciário através do Ministério Público.
Desde os anos 2000 este órgão vem realizando intervenções que tendem a
minimizar os efeitos segregadores da apropriação das margens das lagoas, como a
derrubada de muros, de cercas e a retirada de outros obstáculos físicos.
É importante destacar que no entorno destas lagoas existem, ainda, grandes
extensões de terras desocupadas (ver mapas 3, 4 e 5) mas a paisagem atrativa
associada a outras vantagens como o preço da terra, a existência de uma infraestrutura turística (mesmo que precária) e algumas fragilidades nas leis vigentes são
aspectos que despertam o interesse de grupos imobiliários com capital externo
(FONSECA, 2005).
Esta situação foi constatada durante a pesquisa de campo através de
depoimento da comunidade local: “já tem gringo interessado no Carcará”, “tem gente
grande de olho nesta lagoa”, referindo-se à Boágua enquanto em Arituba a chegada
de capital estrangeiro está num estágio mais avançado, uma vez que no entorno
desta lagoa já se encontra uma condomínio de segundas residências de um grupo
de noruegueses, podendo-se afirmar que a área da pesquisa já está inserida na rota
do capital imobiliário internacional.
Este processo, ainda incipiente, decorre da inserção do produto turístico
potiguar no turismo globalizado e pode ser entendido como indícios de uma
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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tendência: a internacionalização da atividade turística que é discutida por Fonseca
(2007, p.215):
A internacionalização é um movimento de fora para dentro, e inicia-se com
a chegada de investidores estrangeiros que implantam empreendimentos ao
longo do litoral potiguar, especialmente em sua porção oriental. Parte
significativa desses empreendimentos possui grandes dimensões e traz
inovações com relação à tipologia dos empreendimentos turísticos até então
existentes, associando meios de hospedagens com casas de segunda
residência e vastas áreas de lazer.
Uma idéia que permite retomar o estudo de Rodrigues (1997, p.23) cuja
análise sobre as nuances da atividade turística na América Latina corrobora com o
que se pensa sobre à área desta pesquisa:
Evidentemente que estas áreas funcionam até agora como espaços de
reserva, mas tendem a atrair grandes fluxos num futuro bem próximo,
promovidos pelas megaempresas.
Contudo, não se pretende aprofundar tal discussão nesta pesquisa sendo
aqui sinalizada, apenas, como uma tendência que poderá se confirmar num futuro
próximo, uma vez que estando as lagoas de Arituba, Boágua e Carcará na rota do
turismo potiguar, significa assumir posição na rede global desta atividade.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 3 – Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos excursionistas na lagoa
de Arituba, Nísia Floresta (RN).
Elaboração: Janny Lima, 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 4 – Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos excursionistas na lagoa
de Boágua, Nísia Floresta (RN).
Elaboração: Janny Lima, 2010
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 5 – Mapa de localização dos territórios dos comerciantes locais e dos excursionistas na lagoa
de Carcará, Nísia Floresta (RN).
Elaboração: Janny Lima, 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Retomando o foco da discussão, as lagoas estão inseridas numa zona
especial de proteção ambiental cujo uso deve ser regulado conforme está previsto
no Plano Diretor do município, Art. 17 que diz,
§2º A zona especial de proteção ambiental II-ZPA II constitui-se de áreas de
domínio público ou privado, classificadas como áreas de manguezais,
margens dos rios e lagoas ou que apresentem espécies ameaçadas ou em
iminente extinção, classificadas em listas oficiais. Ao redor das lagoas,
lagos, rios, cursos d‟água e nascentes não será permitida qualquer
construção nas áreas situadas em faixa marginal, medida a partir do nível
mais alto, contado da margem do espelho d água, em projeção horizontal,
com largura mínima de:
I) trinta metros, para o curso d‟água com menos de 10m (dez metros) de
largura;
II) cinqüenta metros, para o curso d‟água a partir de 10 (dez) até 50m
(cinqüenta metros) de largura;
[...]. (NÍSIA FLORESTA, 2008, p. 22)
Apesar do que estabelece esta norma seu cumprimento não existe pois em
nenhumas das lagoas estudadas as faixas mínimas, citadas acima, são respeitadas.
Ao contrário, são ocupadas por construções prediais e pela disposição de objetos
voltados para a realização do comércio local como: caiaques, pedalinhos, mesas e
cadeiras, entre outros (fotografias 25, 26 e 27). Esta situação é ainda mais
problematizada no período em que as lagoas estão com sua carga máxima de água,
o que acaba por estreitar ainda mais a faixa de terra disputada entre comerciantes
locais e os indesejados excursionistas. A respeito, o relato de um comerciante local
da lagoa de Caracará, chama a atenção por evidenciar que os conflitos tornam-se
mais evidentes neste período: “quando a lagoa enche eles ficam tudo aqui”, ou seja,
numa estreita faixa de terra acaba por se amontoar turistas de vários perfis de
consumo, então, a presença do “farofeiro” acaba afastando os outros clientes, disse
o entrevistado.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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25
21
26
27
21
Fotografia 25, 26 e 27 – Apropriação das margens das lagoas pelo comércio local:
Arituba (25), Boágua (26) e Carcará (27).
É válido acrescentar que o Plano Diretor do município teve sua primeira
versão elaborada no ano de 2001, como parte dos investimentos do PRODETUR/RN
I (FONSECA, 2005) e no ano de 2007 foi revisado, o que permite dizer que a
preocupação, em escala local, com o uso e ocupação do solo é algo recente e
apesar de sua existência não significa um instrumento de fácil operacionalização,
como foi destacado por um representante do poder público local.
O que se vê hoje, resulta de um processo de privatização do território, iniciado
com a abertura dos primeiros loteamentos e pelas construções das segundas
residências (etapa do processo da produção do espaço já abordada no capítulo 2),
quando a preocupação com acessos públicos, provavelmente, não foi “atentada” (ou
não se quis fazer), tornando as lagoas quase que totalmente privadas, restringindo o
seu uso à pequenas faixas de terra fazendo com que os turistas fiquem a mercê dos
agentes de mercado para terem direito ao dia de lazer.
A relevância do espaço público nesta discussão se baseia no seguinte
entendimento:
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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A categoria de „espaço público‟, dentro de uma perspectiva geográfica, tem
uma centralidade absoluta na condução de uma análise sobre a apreciação
da cidadania hoje. De tal forma essas categorias estão associadas – espaço
público e cidadania -, que a configuração e a transformação da primeira
significam mudanças absolutas na segunda. (GOMES, P., 2006, p.188),
Ainda segundo Gomes (2006) estes espaços estão sendo desfigurados
através das invasões, apropriações, ocupações e se tornam cada vez mais, alvo de
disputa e: “O encolhimento do espaço público corresponde a um recuo na vivência
da cidadania” (GOMES, P., 2006, p.188).
Nas áreas da pesquisa, observa-se que os agentes do poder público e do
mercado reconhecem que o acesso às lagoas é restrito e que espaço público está
sendo privatizado indo de encontro ao que prevê o Plano Diretor de Nísia Floresta
(2007), onde o acesso aos recursos hídricos é tratado em artigo específico sobre a
acessibilidade ao território municipal:
Art. 95. As praias, lagoas, rios e demais corpos d água são bens públicos
de uso comum, devendo ser assegurado, o seu livre acesso em qualquer
direção e sentido [...]. (NÍSIA FLORESTA, 2008, p.53)
Apesar desta norma estabelecida o que se vê in loco é exatamente ao
contrário: a intensa precariedade de acessos públicos e em alguns casos a
inexistência.
O Plano Diretor do município, também, regulamenta sobre um outro direito
dos cidadãos que tem sendo tolhido: o de ter acesso aos sistemas de circulação de
um modo geral, aos espaços públicos, aos equipamentos e serviços de lazer o que
deve ser possibilitado por vários meios de transportes de forma segura, eficiente,
socialmente inclusiva e ambientalmente sustentável.
É válido relembrar (ver capítulo 2) que as estradas carroçáveis que interligam
a BR-101 e RN-063 às lagoas em estudo, não oferecem nenhuma destas condições,
podendo-se dizer que esta situação funciona como fator de segregação para os que
geram o incômodo, como os “farofeiros”.
Mas, seria errôneo dizer que isto ocorre apenas em relação às lagoas da área
de estudo, pois nas outras lagoas de Nísia Floresta (ver capítulo 1) observa-se que o
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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acesso é restrito uma vez que as condições das estradas que servem de acesso não
possibilitam o fluxo de veículos como carros populares, ônibus de excursão, etc.
(fotografia 28).
Assim, o uso desta área que faz parte do denominado “Circuito das lagoas”
(ver mapa 2) restringe-se aos veículos apropriados para trafegar em solos arenosos
(em área de dunas), como buggy ou caminhonetas com tração nas quatro rodas o
que não é comum entre as classes populares.
Fotografia 28 – Carro popular atolado no trecho que
dá acesso à lagoa do Urubu.
Nesta perspectiva, é possível compreender a partir da infra-estrutura urbana
existente e do processo de ocupação no entorno das lagoas, porque o
excursionismo é mais intenso em Arituba, Boágua e Carcará, pois nestas lagoas,
apesar das barreiras geradas pela privatização das margens pelas segundas
residências e das dificuldades enfrentadas no acesso, ainda existe uma faixa de
terra “disponível” de natureza privada, as quais tornaram-se os territórios dos
excursionistas (fotografias 29, 30 e 31).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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29
30
31
Fotografias 29, 30 e 31– Território dos excursionistas: Arituba (29), Boágua (30) e Carcará (31).
O espaço público resume-se, de um modo geral, à área do banho e às
poucas ruas que dão acesso às lagoas, algumas abertas por iniciativa dos
comerciantes locais com o objetivo de viabilizar a chegada de clientes e não de
“farofeiros”, situação que contraria alguns comerciantes em Carcará, por exemplo.
É válido apontar que no caso específico de Arituba no momento da realização
do projeto de urbanização (comentado no capítulo 2) houve certa preocupação com
o espaço público, deixando-se ruas de três metros de largura entre as barracas
construídas. Porém, constatou-se que alguns destes acessos estão sendo
apropriados pelos barraqueiros sendo utilizados como extensão predial do
estabelecimento (fotografia 32) ou como porta de entrada dos banheiros particulares
(fotografia 33), o que acaba, também, dando um sentido privado a este acesso. Esta
situação precisa de uma intervenção urgente por parte do poder público a fim de não
ser cerceado os direitos de acesso ao espaço público e de ir e vir que é inerente a
qualquer cidadão.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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32
33
Fotografias 32 e 33 – Ocupação de acessos públicos pelos comerciantes locais
em Arituba: ampliação predial da barraca (32), entrada de banheiros (33).
Além da segregação espacial que os excursionistas têm que burlar para
terem garantidos os direitos de ir e vir e do acesso aos espaços públicos nestas
lagoas, percebeu-se que outras estratégias são utilizadas nestes territórios turísticos
para coibir a presença do “farofeiro” sendo que estas são percebidas de modo mais
explícito em Arituba e Carcará, enquanto em Boágua é algo mais “discreto”.
Dentre as estratégias está a delimitação de áreas específicas para que os
ônibus de excursão estacionem e o local que os excursionistas devem ficar (ver
mapas 3, 4 e 5) como demonstra a fala de um comerciante entrevistado questionado
sobre a existência de um lugar específico para os “farofeiros”: “[...] pessoal de
excursão é pra lá, aqui não! O lugar deles é lá!”.
Tal delimitação de áreas destinadas à permanência dos excursionistas não
resulta de nenhuma intervenção pública para organizar a o dia de lazer dos
excursionistas, uma massa de turistas que comumente varia entre 500 a 3000
pessoas num dia de domingo ou feriado. As restrições e a “disciplina” são assumidas
pelos comerciantes, através de objetos carregados de um conteúdo de segregação,
como as cercas, que dificultam os acessos; ou através das placas proibitivas
facilmente encontradas na área externa das barracas que alertam: “não aceitamos
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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comida e bebida em nossas mesas, obrigado.” ou, simplesmente: “proibido pessoal
de excursão, piqueniques, etc.”
Além de objetos materiais algumas ações comentadas pelos entrevistados
revelam outras estratégias de segregação, como foi notado: como a proibição e
restrições para o uso dos estabelecimentos comerciais, pelos “farofeiros”: alguns
estabelecimentos “não deixam nem sentar”, ou “pra mim eles nem vem [...] quem já
conhece sabe: nas mesas eu não permito!
Em outros casos existir a negociação existe, é quando se permite a utilização
das instalações com a condição de haja consumo no estabelecimento, ou que
fiquem em áreas pouco privilegiadas: “os que trouxerem bebida e comida ficam lá
traz”. Neste contexto está o aluguel de mesa aos excursionistas que pode ser
entendida como negociação ao se cobrar R$ 15,00/dia na lagoa de Carcará ou como
fator de expulsão, tomando o exemplo de Arituba, uma vez que, o valor cobrado
chega a R$ 60,00/hora.
A cobrança destes valores é vista por alguns excursionistas como abusivos os
quais acabam por reclamar; outros, dizem que não tem o que fazer e pagam porque
“agente não saiu de casa para se chatear”; enquanto uma minoria resiste e diz que a
lagoa é pública e resistindo à segregação se instalam na faixa de terra interna das
barracas culminando em conflitos com os comerciantes locais.
As restrições aos excursionistas para o uso dos brinquedos aquáticos
também é realidade, o valor do aluguel destes brinquedos varia entre R$ 3,00 e R$
10,00 (por tempo determinado), mas segundo os responsáveis dos pedalinhos e
caiaques os excursionistas não são clientes bem vistos, como justificou um
entrevistado: “Agente não gosta de alugar pra farofeiro, não, eles são muito
amostrados, chega no meio da lagoa quer pular, tudo bêbado, e se afogar é
problema pra gente[...].” O que cabe ressaltar é que este comportamento não é
exclusivo de “farofeiro”, mas apenas estes são “mal vistos” e carregam consigo um
estigma de desordeiro.
É comum, também a cobrança de taxas para utilizar instalações sanitárias
dos estabelecimentos que variam entre R$ 3,00 e R$ 5,00, uma vez que não existem
banheiros públicos para atender às necessidades fisiológicas dos excursionistas e
segundo os comerciantes, “ninguém aqui tem obrigação de dar banheiro limpo,
então, tem que cobrar!”
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Além de todo o exposto as falas de alguns entrevistados são, por si só,
esclarecedoras da forma como se insere o excursionismo no contexto das lagoas de
Arituba, Boágua e Carcará.
Para E. D, 52 anos, comerciante local:
Esse sistema, desse pessoal demolidor [risos], é porque realmente em vinte
anos eu nunca tive uma alegria, com ônibus de excursão [...] o farofeiro é
aquele que vem e às vezes não traz nem comida, mas vem só pra
depredar, esse é o que considero farofeiro [...] e outra, a maioria desse povo
que vem nessas excursões, que ajuda a depredar, que joga lixo, que faz
cocô na margem da lagoa, que não respeita nada, é um pessoal feio,
assim,como se aparenta ser da periferia, puta merda [...].
Esse pessoal que vem [...] não todos [se policia, temendo generalizar], mas
sempre vem uma turma embriagada, drogada, sei lá o que?! [...] esse,
implica, chama a gente de ladrão, falta com respeito [...] o farofeiro é
agressivo, é seboso [...] não chamo farofeiro, porque trouxe lanche [...]
considero o farofeiro aquele que vem depredar, o comportamento nojento,
me dá logo raiva, é o demolidor, vem desrespeitar, vem só desrespeitar. [...]
[...] Vem de onde você imaginar [...] e tem o um troço ruim, que vem de
outros estados, também, principalmente da Paraíba, ave Maria, de Bayeux é
demais, homem é um negocio horrível esse povo [...] parece que é lugar só
de gente ruim, juntaram só a escória humana e juntaram lá [referindo-se a
Bayeux]. [...] tem que ter um trabalho de conscientização, esses ônibus
quando chegar era para que nos tivéssemos aqui uma pessoa da prefeitura
ou um policial, abordar quem é o responsável, dizer aqui nos temos essa
norma, querem ficar aqui? É público, mas se constatar que você depredou
vai pagar multa [...].
A fala reproduzida demonstra, sobretudo, o teor de marginalização que está
vinculada à imagem do farofeiro ao mesmo tempo em que denuncia o incômodo da
prática, o que é reforçado em um outro depoimento obtido junto à W.F, 45 anos,
comerciante local,
A excursão de ônibus, não! Porque eles são assim [...] eles trazem muito
problema, [...] chegam, trazem as coisas: traz a comida, trazem a
churrasqueira, não querem alugar mesa, humilha a gente, diz que vai ficar
porque isso aqui público. Claro! Eles chegam tá tudo limpinho, tudo
arrumadinho [...]. Eu não tenho obrigação de dar mesa de graça pra eles
nem ceder o espaço de graça [...] até porque deixam muita sujeira, muito
lixo, é muita bagunça [...], infelizmente, eu aceito, porque não tenho opção.
Pelo exposto pode-se inferir conforme aponta Rodrigues (1997) que o
preconceito com estes excursionistas tem origem no baixo poder de consumo e no
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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baixo nível de educação, resultando numa prática de baixo “tom social”. Para
Alcântara (2005, p.78), “o discurso presente no senso comum constrói a realidade de
uma forma que desqualifica a prática social e legitima a repressão sobre a mesma”.
Contudo, apesar dos “farofeiros” representarem incômodo aos demais
agentes em todas as lagoas em estudo, é possível perceber que as relações de
conflitos se dá de modo mais intenso em Arituba, seguida de Carcará e com menor
intensidade em Boágua. Nesta última, mais conhecida como “Balneário de Boágua”,
a estratégia dos comerciantes locais não é de repulsa, ao contrário, tem a intenção
eminente de ter os “farofeiros” como clientes, pois conforme um entrevistado a
prática é produtiva e significa “trabalhar com dinheiro vivo”, é o caso particular onde
os “farofeiros” tornam-se todos em “clientes em potencial”, disse o entrevistado.
A especificidade de “agradar” aos excursionistas está relacionada com a
oferta de produtos a um preço acessível. Em Boágua o “farofeiro” sente-se “bemvindo”, “acolhido”, para esta clientela o comércio local oferta, ao mesmo tempo, os
seguintes produtos de entretenimento e lazer: o acesso ao parque aquático e à casa
de show, conhecido dentre os excursionistas como “o forró” (fotografias 34 e 35),
tudo pelo baixo custo de R$ 5,00 (cinco reais). Nesta espécie de complexo turístico
para classes populares é permitida a entrada de comida e bebida, a utilização
indiscriminada dos brinquedos aquáticos e ao forró, bem como o acesso às
instalações sanitárias.
34
35
Fotografias 34 e 35 – Comércio local voltado para excursionistas em Boágua: entrada do
parque aquático (34), casa de show (35).
O olhar de um excursionista sobre essa lagoa resume o sentimento da
maioria: “aqui é um paraíso”, o que permite inferir que Boágua assume o primeiro
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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lugar na preferência dos “farofeiros” na hora de decidir o destino das excursões, em
relação à Arituba e Carcará dada as opções de lazer que lhes são oferecidas.
Apesar deste tratamento especial não se pretende afirmar que a parcela dos
excursionistas, mesmo sendo uma minoria, que não entra neste complexo, não
causa incômodo, uma vez que recai sobre estes a responsabilidade por toda a
sujeira fora do parque aquático e, do mesmo modo que acontece nas demais lagoas
em estudo, os que não são clientes deste estabelecimento comercial são vistos
como “sujos” e “mal-educados”.
Com base no que foi observado sobre Boágua, pode-se inferir que a
expressividade do excursionismo nesta lagoa não é aleatória, está ligada ao fato
deste território turístico não ter conseguido, até então, atrair um contingente mais
abastado do turismo de massa, seja turistas ou novos comerciantes; ou por não ter
sido apropriado pelos grandes empreendimentos imobiliários que já se avizinham
como disse o comerciante local entrevistado.
Esta situação “marginal” de Boágua em relação à Carcará e, sobretudo, à
Arituba possui relações não apenas com o baixo “tom social” impresso ao território
pela expressiva demanda de excursionistas que a freqüenta desde a década de
1990. Mas, também, pela inexistência de uma infra-estrutura urbana que viabilize a
fluidez de turistas e de capital no território, o que certamente seria alterado com a
concretização do “Circuito das Lagoas”, projeto que resultaria em implicações
espaciais diversas podendo, inclusive, tornar inviável “o paraíso dos farofeiros”.
Feitas as considerações sobre a especificidade de Boágua, retoma-se uma
escala mais ampla de análise dos conflitos na área geral da pesquisa.
Conforme no que foi exposto neste capítulo pode-se afirmar que, de um modo
geral, o excursionismo é uma prática social segregada onde os agentes de mercado
e do poder público utilizam várias estratégias para inibir e inviabilizar a presença dos
“farofeiros”, principalmente em Arituba e Carcará.
Contudo, pode-se dizer com base nos números apresentado nas tabelas 1 e
2, que a maioria dos excursionistas não percebem as formas de segregação, as
ações de repulsa e o discurso de marginalização presentes de várias formas no
espaço, uma vez que 88% dos entrevistados responderam que não sentem nenhum
tipo de discriminação neste território turístico (tabela 1).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Tabela 1- Opinião dos excursionistas sobre discriminação.
Se sente discriminado?
Sim
Não
Total
Área da pesquisa
9
65
74
%
12%
88%
100%
Outro aspecto que permite tal conclusão é o fato de passar despercebido pela
maioria dos excursionistas o fato das excursões serem direcionadas a áreas
específicas nestas lagoas; de terem acesso restrito à margem da lagoa; e de que no
pedaço do território que é permitido a permanência encontra-se marcado por muros
e cercas, as quais, por si só, denunciam que a disponibilidade daquele espaço é
temporária até que o proprietário ocupe este espaço.
Esta constatação pode ser conferida pelos números da tabela 2: 93 % dos
entrevistados avaliam como suficiente o espaço que é reservado aos excursionistas
(ver mapas 3, 4 e 5), o que demonstra, também, a passividade da sociedade mesmo
quando seus direitos são tolhidos, como demonstra a fala de um entrevistado: “aqui
tá bom demais”, ou seja, esta fala e os números apresentados apontam a satisfação
dos excursionistas com o lugar que podem ficar. É interessante notar que nenhum
dos entrevistados se mostrou interessado em ocupar uma outra faixa da margem da
lagoa. Apesar de perceberem que nestas lagoas existe “o outro lado”.
Tabela 2- Opinião sobre o espaço físico disponível aos excursionistas.
Como avalia o espaço que estão
É apertado
O espaço dá para todos
Gostaria de ocupar outro lugar da lagoa
Não respondeu
Total
Área da pesquisa
%
4
69
0
1
74
5%
93%
0%
1%
100,00%
Ainda no sentido de conhecer a passividade dos excursionistas em relação
aos demais agentes neste território perguntou-se sobre a existência de algum tipo
de problema, do tipo discussões, brigas ou intervenções policiais, durante a
realização de excursões nas unidades receptoras (tabela 3) e a respeito 96 % dos
excursionistas responderam que nunca passaram por problemas desta natureza
pondo em questão a imagem vinculada aos “farofeiros” de serem violentos.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Tabela 3 - Avaliação sobre a existência de conflitos durante as excursões nas unidades receptoras.
Tem ou teve algum tipo de problema
em relação aos comerciantes ou
poder público
Sim
Não
Total
Área da pesquisa
%
3
71
74
4%
96%
100%
Esta passividade, porém, tem seus limites uma vez que foi comum o relato de
comerciantes sobre o tratamento agressivo de alguns excursionistas diante da
cobrança de taxas para utilizar o espaço público das lagoas, o que já foi discutido
neste capítulo.
4.3 A INFRA-ESTRUTURA DISPONÍVEL, UM DESRESPEITO AO CIDADÃO
Com vistas a concluir este capítulo foram analisadas as condições da infraestrutura que é utilizada pelos excursionistas no seu tão sonhado dia de lazer. No
contexto desta pesquisa não se encontram terminais turísticos como os que existem
no litoral paulista, os quais foram analisados por Rodrigues (1997) e Rubino (2004).
Segundo Rodrigues (1997, p.115), na década de 1980,
[...] foram instalados, diversos pontos do litoral paulista, os chamados
terminais turísticos, objetivando, segundo o discurso oficial, oferecer o „lazer
com dignidade para o povo‟ [...]. Consta de sanitários com duchas, áreas
cobertas para piqueniques, guarda-bagagem, posto de saúde, posto policial
e posto de salvamento [...].
Mas, na verdade, estas construções tinham como maior objetivo tirar os
“farofeiros” das praias, diz Rodrigues (1997, p.116):
Trata-se, portanto, de uma política segregacionista e discriminatória,
visando não incomodar os „consumidores de maior poder aquisitivo‟ que
alimenta expressiva produção de mercadorias e circulação de capital,
passando pelo mercado imobiliário, pela indústria da construção civil na
produção da segunda residência, pelo crescimento do setor de comércio e
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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serviços, mobilizados na produção do espaço turístico nos países
capitalistas.
Alternativas legitimadas pelo poder público que visam a segregação e a
exclusão dos “farofeiros”, um problema também percebido nas praias cariocas
conforme demonstra o estudo de Colpo, Azevedo e Abreu (200?, p.8), que analisam
a construção do Piscinão de Ramos como sendo uma grave “solução higienizadora”
para “livrar” a Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro da inoportuna presença dos
“descamisados” oriundos das classes desfavorecidas.
Em Arituba, Boágua e Carcará a situação torna-se ainda mais problemática,
pois a omissão do poder público gera não só a segregação, como também, provoca
os conflitos entre os agentes locais presentes neste território turístico.
É importante relembrar que no capítulo 2 as deficiências na infra-estrutura e a
negligência do poder público local já foram abordadas, então, o que se pretende
aqui é enfatizar alguns elementos que se mostram precários na área da pesquisa
como inexistência de banheiros públicos e de uma limpeza urbana adequada, que
acabam alimentando os conflitos entre comerciantes, poder público e excursionistas.
Não se pretende neste estudo retirar dos excursionistas a responsabilidade que
muitos têm pela sujeira, mas de enfatizar que, principalmente, o poder público local
tem o poder de minimizar os conflitos que se dão por este motivo aparente.
Estes conflitos estão contidos nos discursos dos comerciantes locais e do
poder público e estão embasados no discurso ambiental (fotografia 36) vigente na
sociedade atual. Então, sendo os excursionistas tidos como “mal-educados, pobres
e sujos” recai sobre eles a culpa da “degradação ambiental” causada pelo lixo
deixado por eles nas lagoas.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Fotografia 36 – Placa ilustrativa do discurso ambiental
presente no território turístico.
O apelo de respeito à natureza presente nas placas colocadas para o
“farofeiro” ler, representa bem o discurso ambiental, pois o que se percebeu
implicitamente junto aos comerciantes entrevistados é que a maior preocupação
deles é “proteger as tetas” e não o meio-ambiente. Para os agentes do mercado
local as lagoas representam uma fonte lucro há mais de duas décadas e a presença
do “farofeiro”, uma vez que “só trazem sujeira” acaba por desqualificar este território
turístico.
Nesta perspectiva, é importante ressaltar que não existe muita diferença
quanto à degradação ambiental causada pelo lixo deixado pelos excursionistas
farofeiros e pela existência entre as fossas sépticas das barracas instaladas na
margem das lagoas as quais se apresentam como um fator de risco, eminente, de
poluição ambiental.
Tomando como referência o “olhar do turista” questões neste sentido, foram
abordadas. Sobre a limpeza das lagoas pode-se dizer que, de um modo geral, o lixo
é comum no território dos excursionistas, o que foi percebido in loco e reclamado
pelos comerciantes locais (ver capítulo 2) uma vez que não existe uma limpeza
regular e suficiente por parte do poder público. Porém, os dados da tabela 4
demonstram o contrário. Esta área foi considerada como limpa por 41 % dos
entrevistados. Enquanto 30% avaliam que a limpeza está mais ou menos, ou seja,
não está tão sujo que não dê para ficar.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Tabela 4 – Avaliação dos excursionistas a respeito da limpeza nas lagoas.
Avaliação da limpeza
Limpo
Sujo
Mais ou menos
Não respondeu
Total
Área da pesquisa
%
30
20
22
2
74
41%
27%
30%
3%
100%
Contudo, para que possa ser exigido o exercício de limpeza por parte dos
excursionistas ou de qualquer outro cidadão que freqüente a lagoa é preciso que
existam, no mínimo, coletores de lixo dispostos na área (tabela 5). Uma deficiência
observada por 74% dos entrevistados que responderam que inexistem depósitos de
lixo nas áreas destinadas às excursões e, sobre a sujeira na lagoa de Arituba,
durante a entrevista, um excursionista se defende: “quando a gente chegou já
estava sujo”.
Tabela 5 – Avaliação sobre a existência de receptores de lixo.
Existência de lugar para colocar lixo
Área da pesquisa
%
Existe
Não Existe
Não sabe responder
8
55
11
11%
74%
15%
Total
74
100%
Considerando ainda a existência de um discurso ambiental vigente o qual
está presente nas lagoas e, de modo intenso, no cotidiano das pessoas diante dos
constantes apelos da mídia para esta questão, os excursionistas foram
questionados, sobre a destinação que davam ao lixo produzido durante o seu dia de
lazer. Como resultado, 53% afirmaram que levam consigo os resíduos produzidos
(principalmente as embalagens de produtos), enquanto 43% arrumam o lixo antes
de sair, acreditando que o serviço de limpeza será feito pelo poder público local
(tabela 6).
Tabela 6 - Destino do lixo produzido pelos excursionistas.
O destino do lixo
Nem liga
Arruma antes de sair
Leva embora
Não respondeu
Total
Área da pesquisa
3
30
39
2
%
4%
41%
53%
3%
74
100%
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
101
Os dados não permitem desconstruir o estigma de “sujo” dos “farofeiros”,
pois, apesar de apenas 4% terem afirmado que não se responsabilizam pelo lixo
produzido, o somatório de 96% certamente não representa uma verdade completa,
uma vez que assumir, em uma entrevista, que o lixo produzido não foi destinado
corretamente, é algo que causa um certo constrangimento ao entrevistado.
Mas a questão é saber se existe uma infra-estrutura disponível para atender
ao “farofeiro” ou qualquer outro turista, que queira colocar o lixo no lugar certo: uma
lixeira por exemplo.
Assim, corrobora-se com a discussão iniciada no capítulo 2, sobre a
negligência do poder público local com a limpeza das lagoas. Uma situação que
compromete a qualidade do produto turístico como um todo, pois foi comum
encontrar turistas indo embora das lagoas dada a sujeira encontrada. Podendo-se
inferir que este processo de desqualificação das lagoas não deve ser associado aos
excursionistas mas, sobretudo, omissão do poder público local quanto à infraestrutura existente. Cabe ainda ressaltar que ser limpo independe de classe social e
do nível educacional dos cidadãos. Afinal, jogar lixo no chão não é ação exclusiva do
“farofeiro”.
Outro questionamento foi sobre a existência de instalações sanitárias públicas
e adequadas (tabela 7) para que atendam suas necessidades fisiológicas ao longo
do dia de lazer. 53% dos entrevistados perceberam que não existem e 14%
responderam que existiam banheiros públicos, mas sem se dar conta de que faziam
referência aos banheiros das barracas cujo acesso estava vinculado ao consumo
nestes estabelecimentos comerciais.
Tabela 7– Avaliação sobre a existência de instalações sanitárias.
Existência de banheiro público
Área da pesquisa
%
Existe
Não Existe
Não sabe ou não respondeu
10
39
25
14%
53%
34%
Total
74
100%
Diante desse quadro de deficiências, perguntou-se a esses cidadãos sobre as
alternativas que recorriam para atender suas necessidades fisiológicas ao longo do
dia. Este questionamento foi motivo de risos, mas percebeu-se muita sinceridade
nas respostas, como se fosse o momento de denunciar a realidade (tabela 8), o que
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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acabou por confirmar a reclamação dos comerciantes locais: 49% responderam que
utilizam a lagoa ou de algum mato do entorno, em caso de necessidade. Esta cena
foi presenciada in loco e pode-se afirmar que para ter um dia de lazer esta parcela
da sociedade passa por vários momentos de constrangimento, seja por ter que
atender suas necessidades fisiológicas escondida no “matinho” ou por ter que pedir,
ou mesmo pagar por um banheiro privado, serviço que não é oferecido de bom
grado e para isso se cobra até R$ 5,00 numa das lagoas, problema que pode ser
exacerbado se uma família em excursão tiver três crianças que precisem utilizar um
banheiro.
Tabela 8- Como resolve as necessidades fisiológicas.
Como resolve as necessidades
fisiológicas
Recorre à lagoa ou mato
Pede a alguém
Paga para usar o banheiro
Não respondeu
Total
Área da pesquisa
%
44
16
34
5
10822
49%
15%
31%
5%
100%
Apesar de todo o exposto, a paisagem, por si só, denuncia as precárias
instalações disponíveis a alguns excursionistas que chegam a utilizar por ter a
necessidade de economizar neste dia de lazer. Sujeitam-se inclusive a condições
sub humanas para atender suas necessidades fisiológicas. As fotografias 37 e 38
referem-se às instalações físicas, de propriedade privada que encontram-se
abandonadas na área da pesquisa, as quais são utilizadas por alguns
excursionistas. As imagens demonstram claramente o descaso do poder público
local com a prática do excursionismo e que, conseqüentemente, rebate no território
turístico como um todo.
22
Neste questionamento alguns entrevistados emitiram mais de uma opinião.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
103
Fotografias 37 e 38 – Construções abandonadas utilizadas por excursionistas na
lagoa de Arituba: área externa (37), área interna (38).
Portanto, pode-se concluir que as relações existentes entre o poder público
local, comerciantes locais e excursionistas são conflituosas, pois estes agentes
apropriam-se do território com objetivos divergentes. A prática do excursionismo é
segregada no espaço mas acaba acontecendo à revelia do mercado local e também,
do poder público e mesmo com as variadas estratégias de segregação, os
“farofeiros acabam burlando-as de modo a não abrir mão do seu dia de lazer,
apropriando-se do espaço. Tudo isto acontecendo num território turístico que visa
atender os anseios de uma demanda turística pertencentes às camadas da
sociedade com maior poder aquisitivo e também aos interesses dos comerciantes e
poder público local.
Neste território turístico onde as margens das lagoas são disputadas e
marcadamente apropriadas pelo comércio local, confrontando-se com a apropriação
do por parte dos “farofeiros”, os conflitos são inevitáveis e são visíveis no espaço
situação que é reforçada pela omissão do poder público municipal o qual não
assume sua função de ordenar o território em prol de minimizar conflitos e torná-lo
menos contraditório.
Compreendida a forma como se dão as relações entre excursionistas,
mercado local e o poder público municipal, passamos ao capítulo seguinte visando
conhecer um pouco mais sobre os excursionistas os quais são compreendidos nesta
pesquisa como parte integrante de “uma outra face do turismo potiguar”.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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5 UMA OUTRA FACE DO TURISMO POTIGUAR: OS EXCURSIONISTAS EM
DISCUSSÃO
O ser humano tem também a necessidade de acumular
energias e a necessidade de gastá-las, e mesmo de
desperdiçá-las no jogo. Tem necessidade de ver, de ouvir, de
tocar, de degustar, e a necessidade de reunir essas
percepções no „mundo‟. A essas necessidades antropológicas
socialmente elaboradas [...] acrescentam-se necessidades
específicas [...]. Trata-se da necessidade de uma atividade
criadora, de obra [...], necessidades de informação, de
simbolismo, de imaginário, de atividades lúdicas.
Henry Lefebvre
Neste capítulo apresenta-se por fim, o que foi denominado nesta pesquisa
como sendo “uma outra face do turismo potiguar”. A discussão aqui apresentada
tem como objetivo conhecer um pouco mais sobre os excursionistas que se
apropriam das lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (fotografias 39, 40 e 41). Assim,
o objetivo é analisar, de um modo geral, o perfil dos excursionistas; conhecer os
fluxos estabelecidos entre as unidades emissoras e as unidades receptoras desta
demanda; identificar as motivações destes turistas ao se apropriarem das lagoas e
conhecer a percepção destes sobre esta prática de lazer.
É válido relembrar, conforme visto nos capítulos anteriores, que esta “face” da
atividade turística é negligenciada pelo Estado, sobretudo na instância municipal e
realizando-se de forma segregada e marginalizada por outros agentes sociais
presentes no território, eminentemente pelo poder público municipal e comerciantes
locais. Entretanto, é de extrema valia para os que a realizam.
39
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
105
40
41
Fotografias 39, 40 e 41 – O dia de lazer na lagoa: Arituba (39), Boágua (40) e Carcará (41).
Fonte: Alian Paiva (foto 39), pesquisa de campo, nov. 2009.
Carlos Henrique (foto 40 e 41), nov. 2009.
A análise apresentada é resultado dos seguintes questionamentos sobre
estes excursionistas: qual o lugar de origem? Quais as motivações que as trazem
aqui? O que os atraem na paisagem? Como se sentem neste território turístico,
“farofeiros” ou turistas?
Os instrumentos metodológicos foram conversas informais, observação in
loco e aplicação de questionários aos excursionistas e organizadores de excursão o
que propiciou o levantamento dos dados e as análises aqui apresentadas.
5.1 PERFIL DOS EXCURSIONISTAS: GÊNERO, FAIXA ETÁRIA, ATUAÇÃO
PROFISSIONAL E RENDA
Analisando o perfil dos excursionistas a partir do gênero observa-se que não
existe uma diferença expressiva entre homens e mulheres, conforme aponta a tabela
9. Dentre os entrevistados 57 % eram mulheres23 e 43 % eram homens uma
diferença
que
pode
ser
justificada
pela
presença
de
muitas
mães,
desacompanhadas, o que segundo conversas informais dava-se pelo fato de muitos
dos pais estarem trabalhando naquele dia. Assim, o dia de lazer da família fica,
então, à cabo da figura materna que se responsabiliza pelas crianças, jovens (filhos,
sobrinhos, netos), e, também por idosos (avós, sogras). Outra inferência que é feita
23
É importante ressaltar que o maior percentual do gênero feminino entre os excursionistas pode estar
relacionado à maior disponibilidade das mulheres em colaborar com a pesquisa.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
106
a respeito da presença feminina neste espaço é de que estas ocupam, cada vez
mais, o mercado de trabalho e se dão como direito utilizar este dia para o lazer.
Tabela 9- Perfil dos excursionistas por gênero.
Gênero
Homens
Mulheres
Total
Área da pesquisa
32
42
%
43 %
57 %
74
100 %
No tocante à faixa etária observou-se um equilíbrio entre o número de jovens
adultos e idosos (tabela 10). É válido notar que o número de crianças nestas
excursões é bastante representativo conforme observado durante a pesquisa de
campo, não estando demonstrado no referido quadro, uma vez que os questionários
foram aplicados aos adultos dos grupos. Os dados demonstram que cerca de 60%
dos entrevistados estão entre 20 e 40 anos (35% entre 20-30 anos e 26 % entre 3140 anos), representando uma demanda jovem que pode, em parte, justificar o
comportamento “folgado” que é mencionado de modo pejorativo por alguns
comerciantes locais.
É desta faixa etária que vem a “bagunça”, aqui entendida pela brincadeira
inerente a este dia de lazer, porém não se nega a possibilidade de abusos, mas isto
não é exclusivo dos excursionistas de modo a torná-los repudiados por alguns neste
território turístico.
Tabela 10 – Perfil dos excursionistas por faixa etária.
Faixa etária
Área da pesquisa
%
< 20 anos
20-30 anos
31-40 anos
> 40 anos
5
26
19
24
7%
35%
26%
32%
Total
74
100%
Com base nestes dados é possível perceber o quão é importante que o
poder público preocupe-se com uma infra-estrutura mínima de apoio aos
excursionistas, através da instalação e manutenção de banheiros públicos, serviço
de limpeza urbana, presença de salva-vidas de modo a se evitar os afogamentos
que vem sendo registrados nos últimos anos nas lagoas do município e fornecer
condições dignas de lazer a estes cidadãos sem que seja reforçada a segregação,
como no caso paulista (ver capítulo 4).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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107
Sobre o nível educacional, a tabela 11 demonstra que se trata de uma prática
realizada por pessoas com baixo nível de escolaridade, onde apenas 36 %
concluíram o ensino médio, enquanto 57 % não ultrapassaram do ensino
fundamental (este número totaliza os que possuem o ensino fundamental completo
(38% e incompleto 19%). Os dados sobre o nível educacional dos excursionistas
demonstram-se relevantes para quando o poder público resolver intervir na
ordenação do espaço turístico através do diálogo com os excursionistas, cabendo
aqui a sugestão de ações educativas para minimizar os conflitos.
Tabela 11- Nível de escolaridade dos excursionistas.
Escolaridade24
Analfabeto
Alfabetizado
Ens. Fund. Completo
Ens. Fund. Incompleto
Ens. Médio
Ens. Superior
Não Respondeu
Total
Área da pesquisa
1
0
16
8
15
2
0
%
2%
0%
38%
19%
36%
5%
0%
42
100%
Os números da tabela 12 demonstram que estes cidadãos não são
“vagabundos” como é pregado pelo senso comum. A realidade sobre a situação
funcional dos excursionistas demonstra exatamente o contrário: 72% dos
entrevistados estão empregados, 9% já trabalharam e vivem de aposentadorias, e
apenas 8% estão desempregados. É válido notar que 5% recebem algum tipo de
benefício do sistema previdenciário brasileiro, ou, estão inseridos em programas
sociais como o “Bolsa Escola”, do governo federal. Os dados permitem desconstruir
o discurso segregador e marginalizador de que os excursionistas que freqüentam as
lagoas de estudo são “um bando de marginais” ou “desocupados”.
24
Esta questão foi levantada em apenas 42 questionários do universo de 74 questionários aplicados,
representando 57% da amostragem, o que não trouxe prejuízos à pesquisa pois permitiu corroborar
com o que vem sendo observado em outros estudos de casos sobre o baixo nível de escolaridade
dos excursionistas (sobre o assunto ver RODRIGUES, 1997; RUBINO, 2004; ALCÂNTARA, 2005).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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108
Tabela 12– Situação ocupacional dos excursionistas.
Situação ocupacional
Área da pesquisa
%
Empregado
Desempregado
Recebe benefício do governo
Aposentado
"Do lar"/sem renda
53
6
4
7
4
72%
8%
5%
9%
5%
Total
74
100%
Trata-se, conforme vem sendo argumentado nesta pesquisa e demonstram os
dados da tabela 13, de uma prática social realizada pela classe trabalhadora,
empregada, em sua maioria no setor de serviços exercendo funções como
empregadas domésticas (12%), pedreiro (6%), costureira (6%), diarista (6%),
autônomos (6%), entre outras categorias profissionais que requer pouca qualificação
ou nível de escolaridade.
Tabela 13 Atuação profissional dos excursionistas.
Atuação profissional
Auxiliar de serviços gerais
Agricultor
Doméstica
Manicure
Comércio
Gesseiro
Diarista
Costureira
Educador
Encarregado
Vaqueiro
Carpinteiro
Secretária
Operador
Pedreiro
Garçon
Motorista
Caseiro
Marcineiro
Cooperativa
Mestre de obra
Autônomo
Militar
Eletricista
Operador de máquinas
Vigilante
Não informou
Total
Área da pesquisa
2
2
6
2
2
1
3
3
2
1
1
2
2
2
3
1
1
1
1
1
1
3
1
1
1
1
5
%
4%
4%
12%
4%
4%
2%
6%
6%
4%
2%
2%
4%
4%
4%
6%
2%
2%
2%
2%
2%
2%
6%
2%
2%
2%
2%
10%
52
100%
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Diante dos dados sobre a atuação profissional dos excursionistas,
compreende-se a baixa renda salarial dos entrevistados (tabela 14) Os números
apontam que 52% dos entrevistados recebem apenas um salário mínimo 25 por mês,
28% chegam a ganhar até dois salários mínimos e apenas 6% recebem mais de 3
salários mínimos.
Tabela 14- Renda média do excursionista e poder de consumo
Renda média/individual
Área da pesquisa
%
33
18
4
4
5
74
52%
28%
6%
6%
8%
100%
Até 1 salário
Até 2 salários
Até 3 salários
Mais de 3 salários
Não respondeu
Total
Com base na renda média dos entrevistados que não lhes restam muitas
alternativas para ter direito a um dia de lazer que não seja de modo econômico logo,
compreende-se o porquê de andarem acompanhados de churrasqueira, carvão,
caixa de isopor com bebidas, panelas de feijão, arroz, macarrão, galinha e a famosa
FAROFA, palavra que dá origem ao termo farofeiro. Diante da baixa renda dos
excursionistas é indispensável utilizar-se de alternativas baratas e criativas de
consumo, para ter direito a um dia de lazer.
Os preparativos deste dia se iniciam com dias de antecedência, o que
prescinde de uma organização do grupo normalmente composto por familiares e
amigos. Podendo-se dizer que o rebatimento desta atividade não se restringe às
unidades receptoras mas, também, incide nas unidades emissoras desta demanda,
a economia é movimentada o que pode ser percebido de imediato, tanto pela
compra de produtos alimentícios ou pelo fretamento dos ônibus.
Com os resultados da pesquisa constatou-se, mesmo não sendo o enfoque
dos objetivos, que o excursionismo não gera apenas incômodos como tratados no
capítulo 3. Esta atividade turística interessa ao setor formal e informal da economia
com incidências nas unidades emissoras, nas áreas de deslocamentos e nas
unidades receptoras, como no caso de Boágua onde a clientela predominante é de
excursionistas e o comércio local adaptou-se ao perfil econômico desta demanda
25
O valor do salário mínimo vigente no período da pesquisa equivale a R$ 510,00 (quinhentos e dez
reais) ou, com base na moeda norte americana, cerca de U$ 290,00 (duzentos e noventa dólares).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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110
turística; como também, verificou-se em Carcará, conforme demonstra a fala de um
vendedor ambulante: “o pessoal da excursão são os meus melhores clientes”.
A tabela 15 aponta que 36% dos entrevistados trazem tudo de casa, mas 61%
afirmam que além da comida e da bebida trazem uma reserva em dinheiro para
consumir nestas lagoas.
Tabela 15- Avaliação do consumo nas lagoas
O consumo nas lagoas
Área da pesquisa
%
27
2
45
74
36%
3%
61%
100%
Trouxe tudo de casa
Não trouxe e vai consumir
Trouxe e vai consumir
Total
Questionando-se os excursionistas sobre os produtos que consomem neste
dia, alguns responderam: “a gente gasta com coisa diferente”, “compra uma
bagana”, “a bebida”, “um camarãozinho, né!”.
5.2 OS FLUXOS ESTABELECIDOS E AS MOTIVAÇÕES DOS EXCURSIONISTAS
Para a realização de uma excursão entra no contexto a figura indispensável
do organizador, na maioria das vezes, é também um excursionista que assume a
responsabilidade da viagem, como fretamento do ônibus, estabelecimento de
horários de chagada e de saída do ônibus, lista de passageiros, uma organização
mínima indispensável para o dia de lazer.
Com base nos relatos de alguns organizadores entrevistados, observou-se
que a prática torna-se para alguns uma fonte de renda, estes chegam a organizar
várias excursões durante o ano e variam os destinos a cada viagem. Segundo
alguns organizadores as lagoas de Nísia Floresta estão entre as preferidas dos
excursionistas. Alguns atuam há mais de uma década como organizador de
excursão e chegam a obter um lucro no valor estimado de R$ 300,00.
O fretamento do ônibus custa cerca de R$ 300,00, para excursões dentro do
RN e cerca de R$ 900,00, para as que são oriundas de outros estados, como no
caso da Paraíba. Valores que podem ser menores se o ônibus for “clandestino”, ou
seja, veículos cuja documentação está irregular junto aos órgãos responsáveis e que
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são comuns no contexto desta pesquisa conforme percebido em campo, o que além
de sinalizar um risco à segurança dos excursionistas confirmam a presença do setor
informal da economia.
O custo da viagem por passageiro varia entre R$ 3,00 e R$ 15,00 para
excursionistas oriundos de Natal e entre R$ 35,00 e R$ 45,00 para os que se
deslocam da Paraíba, por exemplo. Identificou-se que existem facilidades no
pagamento destas excursões, algumas começam a ser pagas com meses de
antecedência, em parcelas “suaves”; bem como existe a isenção da passagem para
as crianças, que são em grande número. Estratégias deste circuito inferior da
economia que visa não perder o “cliente”.
Esta atividade de lazer turístico é comum entre os entrevistados e representa
para muitos uma prática “excelente”, corroborado pelo número médio de excursões
que realizam em média por ano (tabela 16); 36% dos entrevistados afirmaram que
chegam a participar de mais de três excursões; enquanto 23% informaram estar em
numa primeira excursão demonstrando que esta é uma atividade crescente pois a
cada domingo e feriado surgem novos adeptos desta prática social, conforme relato
de um organizador de excursão.
Tabela 16- Média anual de excursões.
Média de excursões/ano
1ª vez
1 excursão
Até 2 excursões
Até 3 excursões
Mais de 3 excursões
Total
Área da pesquisa
17
6
15
9
27
74
%
23%
8%
20%
12%
36%
100%
Sobre a prática das excursões, foi perguntado aos excursionistas se
conheciam outras lagoas de Nísia Floresta (tabela 17). Como resultado, 78% dos
entrevistados responderam que já conheciam as lagoas por meio de outras
excursões, já realizadas, dentre as quais foram destacadas as lagoas de Arituba,
Boágua e Carcará, o que permite dizer que as lagoas estudadas compreendem um
forte produto turístico para excursões. A respeito dos 22% que disseram não
conhecer as lagoas do município, em parte, são pessoas que estão realizando a
excursão pela primeira vez as quais, em sua maioria, afirmaram que irão voltar às
lagoas “com certeza”.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Tabela 17 - Avaliação sobre as excursões nas lagoas de Nísia Floresta.
Conhece outras lagoas de Nísia
Floresta?
Área da pesquisa
%
Sim
Não
58
16
78%
22%
Total
74
100%
Ao entender que estas lagoas estão no roteiro dos excursionistas, a partir de
uma divulgação “boca a boca”, já que não foi identificado nenhum mecanismo de
marketing divulgando esta prática, é válido observar sobre os fluxos de pessoas
estabelecidos entre as unidades emissoras e receptoras desta demanda que ao
longo das duas últimas décadas vem se apropriando das lagoas em estudo.
Assim, com base nos lugares de origem das excursões, apontados pelos
entrevistados ao longo da pesquisa de campo, foram elaborados mapas de
localização das unidades emissoras de excursionistas no nível intermunicipal e
interestadual (mapa 6); bem como, observou-se a origem das excursões oriundas da
capital potiguar, por bairro (mapa 7).
Os fluxos intermunicipais são estabelecidos entre distintos municípios
potiguares, sobretudo com os que localizam na Região Metropolitana de Natal (como
Macaíba, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e da própria capital, além de outros
municípios do entorno de Nísia Floresta como, Canguaretama e Tibau do Sul (mapa
6).
Contudo, os fluxos de excursionistas extrapolam os limites territoriais do
estado do Rio Grande do Norte, uma vez que são oriundos também de o entorno de
Nísia Floresta como, também, dos estados vizinhos: Paraíba e Pernambuco.
Sobre os fluxos estabelecidos com Natal, (capital potiguar) se observou que
as excursões são oriundas de bairros distribuídos nas quatro regiões administrativa
da capital potiguar (Zonas Norte, Sul, Leste e Oeste), mais especificamente dos
bairros periféricos onde se concentram parcelas da sociedade natalense com baixo
poder aquisitivo e existem grandes deficiências quantos aos equipamentos de lazer,
conforme aponta o estudo de Maia, Oliveira e Lima (2007). Dentre estes bairros
destacam-se Felipe Camarão, Mãe Luíza, Potengi e Pajuçara (mapa 7).
Estes fluxos movimentam anualmente centenas de excursionistas conforme
constatado nesta pesquisa, predominantemente aos domingos e feriados, ao longo
de todo o ano e em diversos feriados, cabendo destacar os feriados de 1º de janeiro,
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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dia da Confraternização universal, terça-feira de carnaval, Dia das mães (2º domingo
de maio), Independência do Brasil (7 de setembro), Dia das crianças (12 de
outubro), podendo-se dizer que existe um cronograma de excursões comemorativas,
o que é viabilizado pelos organizadores de excursão e esperado por alguns
segmentos do mercado local que já se preparam para estes dias. É válido relembrar
a importância das rodovias BR-101 e RN-63 como fixos indispensáveis para
realização destes fluxos de excursionistas (ver mapa 3, capítulo 1).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Mapa 6 – Mapa de localização das unidades emissoras de excursionistas: intermunicipais e
interestaduais.
Elaboração: Janny Lima, 2010.
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face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Mapa 7 – Mapa de fluxo turístico entre bairros de Natal (RN), emissores dos excursionistas, e as
lagoas de Arituba, Boágua e Carcará.
Elaboração: Janny Lima, 2010.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
116
Mas, quais as motivações que levam esta massa de trabalhadores a
enfrentarem viagens de até três horas para passar um dia de lazer numa das lagoas
de Arituba, Boágua e Carcará?
A primeira questão foi conhecer sobre a preferência das excursões pelas
lagoas cuja paisagem torna-se objeto de consumo a qual caracteriza-se pela água
doce e calma, pelas árvores existentes nas margens que propiciam a sombra e o
descanso em uma rede. Perguntados sobre que lugar prefere (tabela 18) 59%
responderam que a lagoa é o lugar preferido para excursões e outros 34% disseram
preferir a praia, mas não possuem restrições quanto a participar de excursões
destinadas às lagoas, apesar de alguns entrevistados (jovens), as considerarem
muito “tranqüila”. É válido ressaltar que o excursionismo é percebido no território do
RN também em áreas de praia, rios e açudes26.
Tabela 18- Lugar preferido para excursões.
Lugar preferido para excursões
Praia
Lagoa
Rio
Outro lugar
Todos estes
Total
Área da pesquisa
28
49
1
3
2
%
34%
59%
1%
4%
2%
8327
100%
Perguntados sobre o que mais gostam nas lagoas (tabela 19), 58% disseram
que os elementos preferidos da paisagem eram a água doce e as árvores existentes.
As árvores tornam-se motivo de disputa entre excursionistas, significa o lugar de
sombra, ventilado em que se pode pendurar as redes para o descanso das crianças
e adultos. Outro número representativo foi que 24% disseram que gostam das
lagoas por se mais reservado e então, “a gente pode ficar à vontade”, como disse
um excursionista. Nesta análise, ficar à vontade, trazer todos os acessórios
indispensáveis para passar o dia (caixa de isopor, cadeiras, guarda-sol,
churrasqueira, panelas, etc.) significa ter liberdade, mesmo que este comportamento
seja sinônimo de incômodo aos outros (já discutido no capítulo 3).
26
Os organizadores de excursão entrevistados apontaram outros lugares do RN que é comum a
presença de excursões, dentre elas: Lagoa do Boqueirão, Lagoa da Cutia , Lagoa Salgada, Lagoa
do Matheus e Pureza.
27
Neste questionamento alguns entrevistados emitiram mais de uma opinião.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Tabela 19- Avaliação sobre o que os excursionistas gostam na paisagem das lagoas.
O que gosta na lagoa
Banho
Árvores
Mais barato
Reservadas
Outro motivo
Total
Área da pesquisa
62
61
33
51
4
21128
%
29%
29%
16%
24%
2%
100%
Quanto ao motivo da viagem o desejo de conhecer outro lugar é a resposta
de 42% dos excursionistas e 38% responderam que vem à lagoa porque é o lugar
“ideal” para um dia de lazer (tabela 20).
É curioso notar que este tipo de prática já sofre proibições em alguns lugares
como no caso do litoral da Paraíba, conforme mencionado por um motorista de
ônibus de excursão; e, também, no RN. Segundo alguns organizadores
entrevistados existe a cobrança de taxas que variam entre R$ 5,00 e R$ 70,00, para
permanência do ônibus, como na praia de Pipa, no Balneário de Pedro Velho e na
lagoa do Bonfim, valores que acabam sendo repassados diretamente aos
excursionistas através do aumento no valor da excursão.
Nessa perspectiva, pode-se afirmar que são indícios de tendência a uma
segregação mais declarada por parte dos comerciantes locais, à princípio; mas que
pode tomar outras proporções e ser legitimada pelo poder público na ordenação do
uso de territórios turísticos, como já ocorre no litoral paulista e carioca
(RODRIGUES, 1997; ALCÂNTARA, 2005).
Tabela 20- Motivo das excursões.
Motivo da excursão
Conhecer outro lugar
Não tem como se divertir onde mora
Proibições às excursões nas proximidades
de onde mora
Porque gosta muito da lagoa
Total
28
29
Área da pesquisa
%
39
18
1
35
42%
19%
1%
38%
9329
100%
Neste questionamento alguns entrevistados emitiram mais de uma opinião.
Neste questionamento alguns entrevistados emitiram mais de uma opinião.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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118
5.3 OS EXCURSIONISTAS E A ALCUNHA DE “FAROFEIRO”
Entende-se que alcunha de “farofeiro” atribuída aos excursionistas é
preconceituosa e depreciativa. Ao longo de toda a pesquisa o termo foi
constantemente reproduzido como uma forma de estabelecer de modo enfático uma
relação direta e clara com o leitor e demonstrar o teor de marginalização existente
quanto aos que fazem à prática social do excursionismo. Nesta seção do trabalho
analisa-se, portanto, dados sobre a opinião dos excursionistas a respeito do termo
que lhes é dado pelo senso comum. O objetivo da questão foi poder analisar como
estes cidadãos se percebem vivendo um dia de lazer num território turístico que não
é planejado para eles. Pode-se afirmar que este questionamento representou um
dos momentos mais delicados da pesquisa, pois algumas vezes foi entendido como
um desacato por alguns excursionistas, como demonstra a fala irritada de uma
entrevistada, na lagoa de Boágua, que estava numa excursão do Bairro de
Planalto/Natal-RN: “Minha filha, eu não sou farofeira não, eu sou turista!”.
Assim, conforme demonstram os dados da tabela 21, 45% dos excursionistas
responderam que se consideram “farofeiros”, pois trazem consigo todos os
apetrechos necessários que caracterizam a prática (comida, bebida, churrasqueira).
Percebeu-se que estes entrevistados emitiam a resposta com muita satisfação e
orgulho de sê-lo, como disse um excursionista: “eu sou farofeiro, mesmo, e daí?”.
Os outros 55% referem-se aos que não aceitam o termo pois não se sentem
farofeiros, para este grupo farofeiro “é aquele que não sabe se comportar”, é o “maleducado que não respeita ninguém, briga e faz barulho”. Alguns se percebem como
cidadãos, pagadores de impostos e dizem que não merecem o termo pois, “não tem
nada a ver, só porque traz comida de casa? Isso aqui né roubado não, é comprado,
pago imposto no feijão, na farinha e no galeto [...]”.
Tabela 21- Avaliação sobre a alcunha de “farofeiro”.
Se considera um "farofeiro"?
Sim
Não
Área da pesquisa
33
41
%
45%
55%
Total
74
100%
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Nesse mesmo sentido questionou-se se havia problema em andar com um
grupo de “farofeiro e 92% responderam que não se incomoda em andar neste grupo
(tabela 22).
Tabela 22 – Avaliação sobre andar em grupo de “farofeiros”.
Tem problemas em andar num grupo
que chamado de "farofeiros"?
Sim
Não
Total
Área da pesquisa
%
6
68
74
8%
92%
100%
Estas perguntas geraram polêmica entre os grupos, o que apesar de não ser
a intenção da pesquisa contribuiu para inquietar os excursionistas sobre o modo
como se viam num território turístico.
E por fim, sem nenhuma perspectiva romântica foi perguntado como estes
excursionistas se sentiam após aproximadas oito horas de lazer, e as repostas,
falam por si: “me sinto feliz”, “relaxada”, “realizada”, “revigorada”, “sossegada”, “em
paz”, “radiante”, “aliviada”; palavras demonstrando a relevância social deste
fenômeno o qual permite que estes cidadãos rompam com o seu cotidiano marcado
de tantas outras escassez.
A partir dos dados e das análises é possível ter uma idéia geral sobre esta
outra face do turismo potiguar, a face não planejada e que interessa a poucos, mas
que resiste num espaço produzido para o turismo de massa realizado pelas
camadas mais favorecidas da sociedade. E, apesar da negligência, omissão,
conflitos, segregação e falta de cidadania por parte de alguns agentes, os
excursionistas têm o direito ao dia de lazer nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará
mesmo que contrarie os anseios de outros agentes sociais presentes no espaço.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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6 NOTAS FINAIS DA PESQUISA
Retomam-se, neste momento final da pesquisa, as reflexões que se deram
em função de analisar a prática do excursionismo nas lagoas de Arituba, Boágua e
Carcará (Nísia Floresta/RN), onde se observa desde a década de 1990 a chegada
de centenas de excursionistas, em dias de domingos e feriados, ávidos por um dia
de lazer.
O excursionismo é compreendido neste estudo como uma modalidade de
turismo realizado pelas massas que tem na viagem uma possibilidade de romper
com a vida cotidiana, ao mesmo tempo que é uma prática que promove status
social. É um fenômeno de essência urbana, que depende de um sistema de objetos
e de ações para sua realização cujo objeto de consumo é o espaço.
Esta
modalidade
de
turismo
é
realizada
predominantemente
por
trabalhadores que em seu tempo livre deslocam-se aos destinos turísticos visando o
direito ao lazer. Este tipo de expressão de lazer é comum, verifica-se no mundo, no
Brasil e dinamiza sobremaneira a área da pesquisa.
Mas, seja no território que for acontece meio a práticas de segregação e
marginalização por parte de outros agentes envolvidos. Os excursionistas, são
denominados de “visitantes de um dia”, “desordeiros”, “farofeiros”, ou “demolidores”
representam os turistas que compreendem o que por hora chamou-se “uma outra
face do turismo potiguar”. São turistas desinibidos, despojados e que resistem e
burlam as mais variadas formas de segregação, explícitas e implícitas no espaço.
Uma face do turismo que, de um modo mais intenso, movimenta o setor
informal da economia, mas, que rebate, também, no setor formal, quer nas unidades
emissoras, nas áreas de deslocamentos ou nas unidades receptoras destes turistas.
A pesquisa revelou que, apesar da prática ser realizada por pessoas com baixo
poder aquisitivo o consumo e a geração de tributos são fatos, quer no consumo de
bebidas alcoólicas, de farinha, na entrada do parque aquático ou na contratação de
um ônibus clandestino para o deslocamento.
Para atender os propósitos da pesquisa inicialmente realizou-se a
compreensão do processo de produção do espaço que é apropriado pelos
excursionistas e também por outros agentes sociais que representam o Estado e o
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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mercado local. Verificou-se que a realização do turismo nas lagoas de Arituba,
Boágua e Carcará não se dá de forma aleatória, está relacionada com a inclusão
destas na rota do turismo potiguar, nas quais se observa desde década de 1990 o
turismo de massa, atraindo turistas de várias camadas sociais.
A inserção destas lagoas na rota do turismo potiguar, do tipo sol e mar,
resulta não apenas do potencial paisagístico mas, sobretudo da atuação do Estado
que através de políticas públicas voltadas para consolidar o turismo potiguar, desde
a década de 1980, vem viabilizando a implantação de uma infra-estrutura urbana
indispensável ao desenvolvimento da atividade turística possibilitando a chegada de
vários turistas a Arituba, Boágua e Carcará: seja os que se destinam às segundas
residências, os que chegam através do turismo receptivo hospedados em Natal ou
Pipa, ou, ainda, os “farofeiros em excursão”.
Pode-se afirmar que este processo de turistificação foi intensificado na
década de 1990, período em que o turismo potiguar se consolida na porção do litoral
oriental do estado do Rio Grande do Norte, contexto em que estão inseridos
importantes fixos como a Rota do Sol e BR-101 os quais viabilizam até os dias
atuais o fluxo de pessoas e mercadorias transformando as formas e os conteúdos da
área da pesquisa.
A compreensão sobre o processo de produção do espaço permitiu observar
que este espaço vem sendo apropriado por agentes de naturezas distintas que
agem simultaneamente, algumas vezes, de modo convergente e outras divergentes.
Um espaço formado por agentes hegemônicos e não-hegemônicos: Estado,
mercado e turistas.
Neste sentido, foi possível perceber a ação do Estado enquanto provedor de
infra-estrutura urbana, no âmbito federal e estadual, através da formulação de
políticas públicas de turismo, como o PRODETUR/RN, que rebatem na área das
lagoas inserindo-as na rota do turismo potiguar; ao mesmo tempo que foi possível
reconhecer a sua deficiência no âmbito local o que requer intervenções urgentes no
sentido de ordenar o uso do territórios turísticos estudados.
De modo relevante foi compreender a que os agentes de mercado
simultaneamente se apropriam do espaço ao estabelecer relações lucrativas neste
território o qual desde a década de 1980 passa a ter uma função turística, mesmo
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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que seja de um modo “espontâneo”, quer dizer, não planejado pelos organismos
oficiais que pensam o turismo no município de Nísia Floresta.
A pesquisa permitiu perceber a ação dos turistas a partir de uma
caracterização da forma de apropriação; bem como a complexidade da atividade e
as especificidades da prática que acaba por atrair uma gama variada de turistas às
lagoas em estudo, demonstrando as desigualdades, principalmente, no poder de
consumo o que repercute diretamente na prática do excursionismo, uma vez que, os
turistas das classes sociais mais favorecidas despertam maior interesse ao poder
público e, principalmente, ao mercado local.
A partir da compreensão da intencionalidade dos distintos agentes sociais,
alguns objetivando uma prática de lazer enquanto outros possuem a intenção
implícita e explícita de reproduzir o capital, foi possível compreender os conflitos
territoriais existentes entre excursionistas, comerciantes locais e poder público
municipal.
A compreensão destes conflitos apontou as relações de poder existentes, a
disputa do território turístico das lagoas em estudo, principalmente pelos
excursionistas e comerciantes locais (barraqueiros e outros empresários), os quais
configuram explicitamente a formação de dois territórios efetivamente apropriados.
A análise destes territórios turísticos possibilitou verificar as estratégias de
segregação para inviabilizar a prática do excursionismo nas lagoas, uma vez que é
entendida pelos agentes de mercado e pelo poder público local como uma prática
que deprecia a imagem do destino turístico. A pesquisa revelou, ainda, que ações
segregadoras e de preconceito para com os excursionistas fundamentam-se no
discurso ambiental e no comportamento abusivo dos “farofeiros”, visos como “sujos
e “mal-educados”; mas a essência deste tipo de discriminação ação está vinculada
ao baixo poder de consumo destes turistas.
Contudo o modo conflituoso das relações entre excursionistas e mercado
local apresenta intensidades distintas nas três lagoas estudadas, uma vez que esta
clientela já desperta interesse para a reprodução do capital quer no setor formal e
informal da economia, seja através da instalação de parque aquático com valor
acessível ao perfil econômico do excursionista ou através do comércio ambulante na
venda de ginga com tapioca. De vários modos o consumo é visível.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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Conclui-se que o poder público local é negligente com a prática do
excursionismo apesar da expressividade do fenômeno o qual a exemplo da lagoa de
Boágua chega a receber 3000 visitantes em um dia de domingo. Esta negligência
ficou evidenciada tanto através da precária infra-estrutura utilizada pelos
excursionistas, quanto pelas estratégias de segregação utilizadas pelo poder público
e pelos comerciantes locais.
A pesquisa revelou que tal negligência atinge tanto excursionistas quanto
turistas de classes mais abastadas, uma vez que compromete a qualidade do
produto turístico. Assim, com base no exposto no primeiro e segundo capítulo deste
trabalho, é possível afirmar que a negligência está relacionada às deficiências e a
ineficiência da gestão pública municipal que nem sequer possui um planejamento
turístico sobre o turismo que reconheça o papel das lagoas na rota do turismo
potiguar; bem como, que a omissão do poder público local pode estar relacionada à
tendência deste território ser apropriado por agentes imobiliários de capital externo,
tornando-se uma alternativa mais lucrativa que desperta o interesse dos gestores
municipais pelos tributos que serão gerados com a venda da terra do entorno das
lagoas se este tipo de apropriação por agentes imobiliários se confirmar.
As lagoas configuram-se, então, como territórios turísticos marcadas por
fortes relações de poder e é neste contexto que se insere os excursionistas, agentes
sociais reconhecidos pelo senso-comum como “farofeiros”, uma alcunha que
desvaloriza a prática social realizada, na verdade, por cidadãos que buscam fazer
valer um direito social: o direito ao lazer.
Através da pesquisa pode-se observar o perfil, a origem, os fluxos e as
motivações que levam centenas de excursionistas à área em estudo. De um modo
geral, pode-se dizer esta prática caracteriza-se por homens e mulheres,
trabalhadores e não, “vagabundos” como preconiza o senso comum. Cidadãos com
baixo nível de escolaridade, de comportamento desinibido e despojado, que utilizam
práticas alternativas de consumo como levar comida, bebida, churrasqueira e uma
rede para este dia tão sonhado dia de lazer, mesmo que se dê ao preço da
segregação e de conflitos territoriais.
Com a pesquisa pode-se observar que esta prática turística estabelece fluxos
de pessoas e de mercadorias entre unidades emissoras de vários municípios do
entorno de Nísia Floresta, incluindo os da Região Metropolitana de Natal, e até de
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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estados vizinhos como Paraíba e Pernambuco. Tomando como foco as excursões
oriundas de Natal, capital potiguar, percebeu-se a relevância social desta alternativa
turística para uma massa de trabalhadores que comumente se desloca de bairros
marcados por uma infra-estrutura de lazer precária, como nos bairros populares de
Felipe Camarão, Planalto, Bairro Nordeste e Mãe Luiza. Uma realidade que
demonstra a importância social desta prática turística para cidadãos que tem como
maior motivação de deslocamento: o direito a um dia “diferente” de lazer.
Como nota final desta pesquisa confirma-se a hipótese que sustentou a
discussão, uma vez que a apropriação do espaço pelo excursionismo se dá entre
relações conflituosas contrariando a intencionalidade dos agentes do mercado local
e do poder público municipal os quais visam o desenvolvimento da face lucrativa da
atividade turística. Ao mesmo tempo, que se verificou que a prática social do
excursionismo se dá como uma espécie de contra-racionalidade, uma forma de
resistência da sociedade num espaço que é social e fragmentado, desigual e
contraditório.
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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______. Metamorfoses do espaço habitado. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
______. Pensando o espaço do homem. 5 ed. 1 reimpr. São Paulo: Editora da
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______. A natureza do espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4. ed. 4. São
Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008. (Coleção Milton Santos).
______. SANTOS, Milton. SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e sociedade
do século XXI. 9 ed. Rio de Janeiro: Record, 2006.
TULIK, Olga. Turismo e meios de hospedagem: casas de temporada. São Paulo:
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URRY, John. O olhar do turista: lazer e viagens nas sociedades contemporâneas.
Tradução Marcos Eugênio Marcondes de Moura. 3.ed. São Paulo: Studio Nobel:
SESC, 2001 (Coleção megalópolis).
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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APÊNDICES
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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APÊNDICE A - QUESTIONÁRIO DA PESQUISA: Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de
Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do turismo
potiguar
Entrevistado: COMERCIANTE LOCAL
Objetivo da pesquisa:
Instrumento metodológico:
Grupo de Entrevistado:
Nome do estabelecimento
Data:
Local/lagoa:
OBS:
Analisar o uso turístico e os conflitos territoriais, decorrentes
da prática do excursionismo, nas lagoas de Arituba, Carcará e
Boágua (Nísia Floresta/RN).
Entrevista estruturada (perguntas abertas e fechadas)
Comerciante local
/
/
Autoriza a utilização dos dados? (___)sim
(___)não
Nome do entrevistado:
Idade:
Sexo:
Escolaridade:
a)(___)alfabetizado c)(___)ensino fundamental
b)(___)ensino médio d)(___)ensino superior
1)Características do estabelecimento comercial:
a)(___)bar
b)(___)restaurante
c)(___)pousada d)(___)outro:_________________________
2)Há quanto tempo atua como comerciante do turismo?
3)Há quanto tempo atua nesta Lagoa?
4) É nativo(a) de Nísia Floresta/RN?
a)(___)sim b)(___)não, de onde?
5)Qual o perfil da clientela que freqüenta este estabelecimento?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
7)Qual o perfil da clientela que freqüenta esta lagoa?
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
8)Qual o período de melhor movimento?
Dias da semana:__________________________________________________________
Datas:___________________________________________________________________
Meses:__________________________________________________________________
9)Como a clientela chega até aqui?
Turistas locais ____________________________________________________________
Turistas
nacionais:________________________________________________________________
Turistas internacionais: _____________________________________________________
(carros particulares, empresas de turismo, bugueiros, outros)
10)Quantas pessoas emprega?O que fazem?
(___)cozinheira
(___)garçom
(___)outro: _______________________________________________________________
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face do turismo potiguar . Dissertação (Mestrado em Geografia)-Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2010.
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11)Qual a situação deste estabelecimento, em relação à área que está instalado?
(___)área pública (___)área privada (___)área de posse (___)outro:
_________________________________________________________________________
12)Efetua pagamento de impostos para funcionamento?
(___)não (___)sim, quais?
13)Quais os incentivos e entraves existentes com o poder público municipal
a)Incentivos?_____________________________________________________________
________________________________________________________________________
b)Entraves?______________________________________________________________
________________________________________________________________________
14)Nesta lagoa existe alguma intervenção do poder público estadual (IDEMA, Ministério
Público), federal(IBAMA),em relação a : ______________________________________
15)Quanto à infra-estrutura existente, como avalia as condições de:
a)Avalie:
Acessibilidade:
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Estacionamento:
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Segurança:
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Coleta de resíduos sólidos:
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Tratamento de esgoto:
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Água para consumo humano
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
Água da lagoa(balneabilidade)
(___)ótima (___)boa (___)ruim (___)péssima
b)Existe obra/ação, concluída ou em andamento, que contemple estas estruturas?
(___)não (___)sim, quais?__________________________________________________
16)O que sabe da prática do Excursionismo conhecido como “ônibus de farofeiros”?
a)Desde quando?
b)De onde vem?____________________________________________________
c)Quando vem?_____________________________________________________
d)Perfil dos excursionistas (“farofeiro”)?__________________________________
17)Qual a relação do estabelecimento com as excursões, seus organizadores e
excursionistas?
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
18)Como avalia a presença deles aqui?É bom ou ruim para o comércio?
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
19)Sabe informar como os clientes deste estabelecimento (turistas) avaliam a presença
dos excursionistas, existe algum pré-conceito?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
20)Os excursionistas são clientes do estabelecimento?O que consomem?
________________________________________________________________________
21)Quanto ao local que utilizam, onde ficam?
(___)dispersos na lagoa (___)em local específico, onde: ________________________
22)O que trazem e o que deixam?
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
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23)Quanto ao comportamento dos excursionistas e numa visão geral, cite:
Aspectos positivos (consumo,animação,freqüência):
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Aspectos negativos (poluição-sonora, ambiental, visual, insegurança, violência, uso de
drogas):
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
24)Na sua opinião, o que o poder público poderia fazer para minimizar os efeitos negativos
das excursões, quanto à:
Acessibilidade:
Estacionamento:
Segurança:
Limpeza:
Poluição sonora:
Outro aspecto negativo:
25)O que acha do título de “farofeiro” dado aos excursionistas?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
26)Considerando-se que as excursões para a lagoa é uma forma acessível de lazer para
uma classe com menor poder aquisitivo, dê a sua opinião sobre um comportamento que
não geraria conflito.
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Pode indicar outro comerciante para colaborar na pesquisa?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
Observações do pesquisador:
Número de estabelecimentos comerciais:_______________________________
Número de questionários aplicados (amostragem):_______________________
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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIOS DA PESQUISA: Os “farofeiros” em excursão nas lagoas
de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do turismo
potiguar
Entrevistado: EXCURSIONISTA
Instrumento metodológico:
Questionário
Agente social envolvido:
Excursionista
Nome/como é conhecido:
Data:
/ /
Local/Lagoa:
Pesquisador colaborador:
1.Perfil do excursionista
Sexo:____________Idade:______________
Qual o local de origem?
Estado:_____________________Cidade:_______________Bairro:_______________
Quanto a sua renda:
( )empregado ( )desempregado ( )recebe benefício ( )aposentadoria
Se estiver empregado, fale da sua atividade e renda média?
Qual a atividade?_______________________
Qual a renda média?
( )até 1 salário* ( )até 2 salários ( )até 3 salários ( )mais de 3 salários
*salário mínimo R$510,00
2.Quanto ao motivo da excursão:
Por que saiu numa excursão?
( )para conhecer outro lugar ( )porque no lugar que mora não tem como se divertir
( )porque onde mora tem proibições para excursões ( )porque gosta mais daqui
Se não estivesse aqui, o que estaria fazendo em casa?
( )trabalhando ( )descansando ( )bebendo ( )assistindo TV ( )outro:__________
Caso saísse de casa você iria para:
( )casa de algum parente ( )igreja ( )cinema ( )outro
No lugar(bairro,comunidade) onde mora tem?
( )campo de futebol ( )quadra de esportes ( )praça ( )outro:____________
3.Quanto ao custo da excursão?
Você veio?
( )só ( )com familiares ( )com amigos,
Total do grupo?_______adultos:______________crianças:__________
Quanto pagou pela excursão?R$_______________________________
Quanto ao pagamento da excursão:
( )à vista
( )parcelado ( )cortesia
Gosta de participar de excursões?quantas faz por ano(média)?
( )é a 1ª vez ( )só faz 1 excursão ( )até 2 excursões( )até 3excursões ( )mais de 3
excursões
Que lugar prefere:
( )praia ( )lagoa ( )rio ( )outro?__________
Já que veio à lagoa, diga o porquê:
( )porque a água do banho é doce e calma
( )porque tem sombra pra ficar embaixo e dar pra trazer a família
( )porque é mais barato do que ir a uma praia
( )porque as lagoas são mais reservadas(“escondidinha”)
( )não sabe responder
4.Quanto às excursões para uma lagoa:
Já tinha visitado esta lagoa?
( )não
( )sim, quantas vezes?__________Lembra da 1ª vez (ano)?___________
Conhece outras lagoas de Nísia Floresta/RN?
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( )sim, quais?___________________________________________________________
( )não conhece
( )não sabe responder (exemplo: Arituba, Boágua, Carcará, Bonfim, Ilhota, Boacica,)
O que você gosta na lagoa?
( )a beleza do lugar (sol, lagoa, a sombra das árvores,etc.)
( )o banho doce
5.Quanto ao que precisa para este dia de lazer?
( )trouxe de casa, o quê? ( )alimentação ( )bebida ( )mesa, cadeira, guarda-sol
( )vai consumir aqui, o quê______________________________________________
6.Quanto às condições existentes para o excursionista ter um dia de lazer, responda:
Existe segurança no acesso (condições das estradas)?
( )sim ( )não ( )não sabe responder
Existe estacionamento?
( )sim ( )não ( )não sabe responder
Existe segurança (em relação à violência)?
( )sim ( )não ( )não sabe responder
Existe segurança para os banhistas (salva-vidas)?
( )sim ( )não ( )não sabe responder
Lugar para colocar lixo (garrafas, atas, etc)
( )sim ( )não ( )não sabe responder
Se respondeu que não existe, o que faz com o seu lixo?
( )não se preocupa, pois não incomoda
( )não se preocupa, pois a prefeitura vai limpar
( )leva embora no final do dia, deixa no lugar, recicla?( )sim ou ( )não
Banheiro público (cocô, xixi, banho)? ( )sim ( )não ( )não sabe responder
Se respondeu que não existe banheiro, diga como faz para resolver o problema?
( )faz na lagoa ( )faz no mato ( )pede a alguém (morador, comerciante)
( )paga para utilizar o banheiro, ( )faz no ônibus
Diante das coisas que disse que não existe, numa próxima excursão você volta a esta
lagoa?
( )sim, porque dá “um jeitinho” ( )não, porque atrapalha seu dia de lazer
7.Durante um dia de excursão nesta ou outra lagoa de Nísia (vinda, o dia, a volta pra
casa), já aconteceu algum incidente com você ou com algum amigo?
( )ônibus quebrou
( )afogamento com ou sem morte
( )roubo/assalto/Briga/Morte ( )adoeceu no caminho
8. Quanto ao espaço que vocês ficam aqui na lagoa, fale do:
Tamanho:
( )apertado ( )espaçoso ( )dá pra todos ( )queria ficar em outro lugar
Limpeza:
( )limpo
( )sujo
Segurança:
( )é violento ( )é seguro
O banho:
( )a água da lagoa é limpa ( )a água da lagoa é suja ( )é funda
Temperatura: ( )é quente pois não tem árvores ( )é ventilado pois tem árvores
9.Quanto a sua vinda para a lagoa, em uma excursão,
Como é a relação com:
Em relação aos comerciantes das barracas:
( )sem problemas ( ) não existe problemas ( )não sabe responder
Em relação aos comerciantes ambulantes:
( )sem problemas ( ) não existe problemas ( )não sabe responder
Em relação aos bugueiros:
( )sem problemas ( ) não existe problemas ( )não sabe responder
Em relação ao poder público:
( )sem problemas ( ) não existe problemas ( )não sabe responder
Em relação com o morador local:
( )sem problemas ( ) não existe problemas ( )não sabe responder
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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10.Quanto ao título de “farofeiro”(popularmente conhecido):
Se considera um “farofeiro”?
( )sim, por quê?______________________
( )não, por quê?______________________
Tem problema em estar num grupo que é chamado de “farofeiro”?
( )sim, por quê?___________________________________________
( )não, por quê?___________________________________________
Você se sente descriminado?
( )sim ( )não
Por quem?
_________________________________________________________________________
O que faz?
_________________________________________________________________________
11. Diga com uma palavra como você se sente depois que passar um dia como este?
_________________________________________________________________________
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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APÊNDICE C - QUESTIONÁRIOS DA PESQUISA: Os “farofeiros” em excursão nas lagoas
de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra face do turismo
potiguar.
Entrevistado: ORGANIZADOR DA EXCURSÃO
Instrumento metodológico:
Questionário
Entrevistado:
Organizador da excursão
Nome/como é conhecido:
Sexo:( )M ( )F
Data:
/ /
Local:
Lagoa:
OBS:
Autoriza a utilização dos dados? ( )sim ( )não
Questões:
1.Quanto a esta excursão:
Local de origem:
Estado:_____________________Cidade:_______________Bairro:_______________
Quantas pessoas vieram nesta excursão?
Qual o tempo da viagem?________________________________________
Que horas chegam e saem da lagoa?______________________________
Quanto tempo levou para chegar à lagoa?__________________________
Quanto cobrou por pessoa?
Adulto, R$:______________
Criança R$:_____________
2.Quanto ao papel de organizador de excursão:
Há quanto tempo organiza excursão?Desde quando?
Quantas excursões organiza por ano?
Quais os motivos? ( )lazer ( )religioso ( )comercial ( )outro:____________________
Que tipo de grupo faz excursão?
( )familiares ( )trabalhadores de empresas ( )idosos ( )igreja ( )outros também?
Qual o perfil dos excursionistas que vem nas excursões?Coloque por ordem conforme a
sua experiência (1 a 5).
( )homem
( )mulher
( )crianças
( )idosos
( )jovens
Estas pessoas vem, em sua maioria?
( )com a família ( )desacompanhados ( )outro:_____________________
Quais os meses em que se organizam as excursões?
Que dias da semana?
Existe um melhor dia no mês?
Existe um melhor mês?
Quais os principais feriados?
Conhece algum lugar que proíbe a entrada de excursões?
( )não ( )sim, onde?_____________________________________________________
Já foi proibido de ficar em algum lugar que foram para o lazer?
( )não ( )sim, onde?_____________________________________________________
3.Quanto ao organizador:
Por que organiza excursão? ( )por diversão ( )como fonte de renda?
Se for uma fonte de renda, quanto lucra por excursão?
4.Quanto às excursões para as lagoas de Nísia Floresta:
ARRUDA, Alian Paiva de. Os “farofeiros” em excursão nas lagoas de Arituba, Boágua e Carcará (Nísia Floresta/RN): análise de uma outra
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Desde quando organiza excursões (ano da 1ª)?
Para quais lagoas já fez excursões neste município?
( )Boágua ( )Carcará ( )Bonfim ( )Arituba ( )outra:__________
Como ficou sabendo que existia?
( )visitou 1º ( )em uma excursão ( )propaganda em TV, jornal, etc ( )alguém comentou
Já fez excursões para outras lagoas do RN?
( )não ( )sim, quais?
5.Quanto à contratação da empresa de transporte:
Qual a situação da Empresa de hoje?
( )empresa regularizada na ANTT ( ) empresa clandestina
Quanto custou o “frete”? R$:
Com qual(is) empresas costuma contratar?
1:_______________________
2:_______________________
3:_______________________
Passou por alguma fiscalização no caminho?
( )não ( )sim, qual?
6.O que gostaria que melhorasse nesta lagoa?
( )acesso/estradas
( )local para estacionar
( )limpeza da lagoa
( )existência de banheiro
( )o espaço para os banhistas usufruírem da lagoa
( )segurança
7. Estas excursões são conhecidas como “ônibus de farofeiro”, alguma vez se sentiu
discriminado por isso, nas lagoas de Nísia Floresta?
( )Não
( )Sim, em qual lagoa?_________________________
8.A qual lugar prefere levar as excursões?
( )praia ( )lagoa ( )rio ( )outro?__________
Já que trouxe excursão para esta lagoa, qual o maior motivo?
( )porque a água do banho é doce e calma
( )porque tem sombra pra ficar embaixo e dar pra trazer a família
( )porque é mais barato do que ir a uma praia
( )porque as lagoas são mais reservadas (“escondidinha”)
( )não sabe responder
9. Quando é a sua próxima excursão para as lagoas de Nísia Floresta?
________________________________________________________________________
10. Diga três coisas que precisa melhorar nesta lagoa?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
Observações do pesquisador_______________________________________________
_______________________________________________________________________
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