Morfodinâmica entre a praia, duna e zona zubmarina

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Morfodinâmica entre a praia, duna e zona zubmarina adjacente nas
proximidades do Cabo Frio, RJ
Beach, dune and shoreface morphodynamic along Cabo Frio, RJ
Thiago Gonçalves Pereira
Deptº. Geologia. Programa de Pós Graduação em Geologia e Geofísica Marinha LAGEMAR – UFF
Thais Baptista da Rocha
Deptº. Geografia. Programa de Pós Graduação em Geografia
Ricardo Alvares dos Santos
Deptº. Geologia Programa de Pós Graduação em Geologia e Geofísica Marinha LAGEMAR - UFF
Guilherme Borges Fernandez
Deptº. Geografia. Programa de Pós Graduação em Geologia e Geofísica Marinha LAGEMAR - UFF
Introdução
A zona costeira é formada por diferentes ambientes costeiros que invariavelmente apresentam trocas
sedimentares importantes para manutenção do seu equilíbrio dinâmico. Especificamente em área onde o
aporte de sedimentos é restrito a zona submarina, sem fontes diretas de origem fluvial, essa dinâmica se torna
interessante de se investigar, pois a evolução dos sistemas se mostra ainda mais sujeita a uma inter-relação
morfodinâmica. Quando nessa mesma área se desenvolvem campos de dunas a partir de ventos do mar para
terra, diminuindo ainda mais o estoque de areia na região, o estudo morfodinâmico se torna ainda mais
necessário. Nesse sentido, o presente trabalho se propõe a investigar a relação morfodinâmica entre praia e
zona submarina adjacente na área de influência do Cabo Frio, onde não se observa fontes de sedimentos
recentes, portanto as trocas entre os ambientes emerso e submerso se tornam ferramentas importantes para o
gerenciamento costeiro, por ser uma área de intensificação de ocupação junto ao litoral.
Área de Estudo
O arco praial estudado se estabelece a partir do Cabo Frio em direção ao norte, onde a linha de costa sofre
uma brusca inflexão. A área mostra uma total ausência de desembocaduras fluviais, sendo apenas observado
um canal de ligação entre a laguna de Araruama e o mar.
Os ventos predominantes na região são do quadrante NE que são influenciados pela Alta Pressão do
Atlântico Sul. A migração de frentes polares inverte esse padrão com ventos do quadrante sul. As ondas
acompanham normalmente o padrão eólico.
Metodologia
Foram feitos levantamentos topo-batimétricos em seis pontos de monitoramento, procurando-se estender a
perfilagem transversal à praia e zona submarina adjacente até profundidades da ordem de 5 metros. Os perfis
foram ajustados ao nível médio do mar empregando método sugerido por MUEHE et al. (2003). Foi
utilizado nivelamento topográfico tradicional ou uma combinação com balizas de Emery na parte emersa e
nivelamento topográfico com medida estadimétrica na zona de surfe.
Para a verificação da cobertura sedimentar na zona submarina ao largo de todo o arco praial foi feito um
mapeamento com coleta de amostras até uma profundidade aproximada de 25 metros. Usou-se uma
embarcação tipo traineira e a coleta de amostras realizada com busca-fundo do tipo Gibbs. Os pontos de
amostragem foram espacializados em perfis transversais perpendiculares à costa, numa grade fixa
respeitando uma distância de 500 metros da linha de costa e 500 metros entre os pontos totalizando uma área
de 50 pontos.
Para se determinar os parâmetros estatísticos referentes à análise granulométrica foram seguidos padrões
tradicionais para peneiramento das areias. O cálculo foi feito no programa SAG (Sistema de Análise
Granulométrica) desenvolvido no LAGEMAR/UFF. Os dados foram espacializados utilizando-se o
programa Surfer for Windows da Golden Software.
Resultados
A distribuição sedimentar na zona submarina mostra que as populações sedimentares mais grossas se
concentram no centro-sul do arco, em profundidades superiores a 12 metros (Fig. 1). As frações mais finas
dominam francamente a porção mais ao norte em águas rasas, isto é ao longo da zona de surfe e antepraia
proximal a costa (Fig. 1).
Batimetria
7466000
Cabo Frio
N
7465500
7465000
7464500
0
7464000
-2
-4
7463500
-6
-8
-10
7463000
-12
-14
7462500
-16
-18
7462000
-20
-22
-24
7461500
-26
-28
7461000
Profundidade (m)
7460500
7460000
7459500
A. do
Cabo
804000
805000
0
806000
500
1000
1500
807000
808000
2000
Fig 1. O mapa da esquerda mostra a distribuição dos sedimentos superficiais entre Cabo Frio e Arraial do
Cabo, enquanto o mapa a direitas mostra a disposição das curvas batimétricas.
A deposição de areias finas na parte mais setentrional corrobora a associação desta granulometria com perfis
dissipativos monitorados nessa parte do arco conforme mostra a figura 2. O depósito do material mas fino é
aqui interpretado como resultado de um transporte residual de sedimentos em direção a Norte, através da
remoção das frações arenosas mais finas na zona submarina próxima, impulsionada para a zona de surfe
através de transporte transversal à costa, o que explica a ocorrência do depósito mais grosso, residual,
observado nas maiores profundidades no centro do arco e posteriormente deslocado longitudinalmente ao
longo do arco.
Parte dessas frações de areias finas depositadas na zona submarina da parte setentrional da área, serve de
fonte para a praia. De fato análises granulométricas realizadas na berma, nesse ponto, mostram que a praia é
composta por areias finas. Essas areias são removidas e transportadas por ventos de NE, que sopram do mar
para a terra, formando um campo de dunas incipientes sobre a berma, que servem de estoque para um amplo
campo de dunas móveis localizadas ao norte do arco. Mostrando uma inter-relação entre a praia a zona
submarina e as dunas na retroterra.
Essas relações podem parecer num primeiro momento incongruentes com a franca predominância de ventos
de NE locais (BARBIERI, 1999). Medições realizadas em campo por FERNANDEZ et al. (2006)
verificaram que o transporte residual foi indicativo para norte. Testes ainda não conclusivos realizados pelos
autores para refração de ondas acopladas com transporte litorâneo foram indicativos dessa tendência. O que
se sugere é que a parte norte do arco seria uma área favorável a deposição por protegida das ondas de NE,
que não teriam capacidade de remover areias finas para o sul da área. Por outro lado sob condições de
tempestade haveria um deslocamento razoável de areias que ficariam estocadas para a construção da praia
em períodos de tempo bom e por associação o desenvolvimento das dunas.
Cota
Perfil 6
6
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5
-6
2/3/2005
NM
4/8/2005
1/10/2005
27/11/2005
16/12/2005
25/01/2006
11/3/2006
5/4/2006
0
20
40
60
80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400
8/6/2006
Distância (m)
Cota
Perfil 1
10/4/2005
6
5
4
3
2
1
0
-1
-2
-3
-4
-5
-6
27/11/2005
16/12/2005
25/1/2006
5/4/2006
NM
12/9/2005
10/5/2006
0
20
40
60
80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400
7/6/2006
Distância (m)
Fig. 2. Perfis topográficos levantados na parte mais ao norte acima (dissipativo - perfil 6) e ao sul abaixo
(refletivo - perfil 1).
Conclusão
A região da área de influência do Cabo Frio mostra que existe uma forte inter-relação morfodinâmica entre a
praia a zona submarina e as dunas em que as trocas de sedimentos entre esses sistemas. Existe a migração
por selecionamento de areias finas ao longo da zona de surfe em direção a praia, que se deslocam por
transporte preferencial em direção ao norte, formando um depósito que posteriormente alimenta a praia. Os
sedimentos ali depositados são a fonte para uma amplo campo de dunas na retroterra.
Bibliografia
BARBIERI, E.B. 1999. Origin and evoluton of Quaternary coastal pLAIN between Guaratiba and cape Frio,
State of Rio de Janeiro, Brazil. In Knoppers, B.A., Bidone, E.D. & Abrão, .J.J. (Eds.). Environmental
Geochemistry of Coastal Lagoon Systems of Rio de Janeiro Brazil. Série Geoquímica Ambiental, 6: 47-56
pp.
FERNANDEZ, G.F.; PEREIRA, T.G. ROCHA, T.B. MUEHE, D. 2006. Aplicação de critérios
morfodinâmicos na diferenciação de setores ao longo do arco praial entre Cabo Frio e Arraial do Cabo – RJ.
Anais do Simpósio Nacional de Geomorfologia/Regional Conference of Geomorphology. Goiânia, GO.
MUEHE, D.; ROSO, R. e SAVI, D.C. 2003. Avaliação de método expedito de determinação do nível do mar
como datum vertical para amarração de perfis de praia. Revista Brasileira de Geomorfologia, 4(1):53-57 pp.
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