análise do padrão de colonização de uma planície hipersalina por

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III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2008
I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia – I CIAO
Fortaleza (CE), 20 a 24 de maio de 2008
ANÁLISE DO PADRÃO DE COLONIZAÇÃO DE UMA PLANÍCIE HIPERSALINA
POR ESPÉCIES DE MANGUE NA REGIÃO DO RIO PIRAQUÊ, BAÍA DE
SEPETIBA (RIO DE JANEIRO)
Almeida1,2,3, P. M. M.; Campos1,4, N. S.; Chaves1,3 F. O.; Estrada1,3,5, G. C. D.; Rosado1,6, B. B.;
Silva1,7, J. E. S.; Soares1,8, M. L. G.
1
Núcleo de Estudos em Manguezais, Departamento de Oceanografia e Hidrologia, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (NEMA-UERJ);
2
Mestranda em Geografia (PPGG-UFRJ), [email protected] ;
3
Instituto Marés
4
Bolsista de Extenção- UERJ, [email protected];
5
Mestrando em Ecologia UFRJ;
6
Bolsista Pibic/CNPq-UERJ;
7
Aluno de graduação em Biologia (UFRJ)
8
Professor Adjunto do Departamento de Oceanografia da UERJ / Coordenador do NEMA – UERJ.
RESUMO
A colonização de uma planície hipersalina por espécies de mangue na região do Rio Piraquê
(Guaratiba Rio de Janeiro) vem sendo monitorada desde 2000. Foram estabelecias 8 estações
justapostas na interface mague-planície hipersalina. Em cada uma, parâmetros como densidade e
altura média de jovens foram calculados. Através da análise dos dados percebe-se que espécies
de mangue colonizam a planície hipersalina em pulsos, sendo Rhizophora mangle a espécie
pioneira em todas as estações. Entretanto Avicennia schaueriana está presente nas duas
estações mais próximas da floresta de mangue. A análise detalhada de cada estação aponta para
uma mudança gradual nas condições físico-químicas na interface floresta-planicie hipersalina,
possivelmente relacionada ao aumento da freqüência de inundação pelas marés, associada à
elevação do nívelmédio relativo do mar, a qual vem progressivamente favorecendo a oc upação
da área por espécies de mangue.
Palavras chave: Sucessão Ecológica; Manguezal; Elevação do Nível Médio do Mar.
INTRODUÇÃO
Manguezal é um ecossistema costeiro que ocorre em regiões tropicais e subtropicais do
mundo ocupando áreas abrigadas na zona entremarés. É caracterizado por vegetação lenhosa
típica, vulgarmente denominada mangue, adaptada às condições limitantes de salinidade,
substrato inconsolidado e pouco oxigenado, e freqüente submersão pelas marés (SOARES,1997)
No Brasil, os manguezais ocorrem desde o extremo norte (Rio Oiapoque - 04o 20’ N) até
Laguna, em Santa Catarina (28o 30’ S) (SCHAEFFER-NOVELLI, 1989). São sete as espécies de
mangue que ocorrem no Brasil: Rhizophora mangle, R. harrisonii, R. racemosa, Avicennia
schaueriana, A. germinans, Laguncularia racemosa e Conocarpus erecta. Dentre as sete
espécies, somente três são encontradas na região estudada: Rhizophora mangle, Avicennia
schaueriana e Laguncularia racemosa. As espécies de mangue são plantas halófitas facultativas,
sendo as características físico-quimicas do substrato e a salinidade da água intersticial fatores
reguladores importantes no desenvolvimento, sobrevivência e zonação dos manguezais.
Segundo ODUM (1988) sucessão ecológica é o processo que envolve mudanças na
estrutura de espécies e processos da comunidade ao longo do tempo. Estas mudanças são
conseqüência da variação local e sazonal de fatores físicos e químicos, que influenciam essas
zonas, acarretando em cada uma destas uma variação nas características estruturais do
ecossistema.
O presente estudo teve como objetivo principal analisar a colonização de uma planície
hipersalina por espécies de mangue, buscando identificar padrões de sucessão ecológica através
do monitoramento da dinâmica de jovens das espécies de mangue.
MATERIAIS E MÉTODOS
A região de estudo compreende a área ao fundo da Baía de Sepetiba. A área que
compreende esta baía, a Restinga da Marambaia e a planície de inundação possui
aproximadamente 500 Km2 e localiza-se entre os paralelos 22º 53`S e 23º 05`S e os meridianos
AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia
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044º 01`W e 043º 33`W. Apresenta um clima, segundo classificação de Koppen, dividido em Aw,
tropical quente e úmido com estação seca no inverno, típico de baixada e Af, tropical quente e
úmido sem estação seca.
Na transição entre a floresta de mangue e a planície hipersalina, foram estabelecidas
estações justapostas ordenadas desde a floresta até a planície hipersalina (parcelas 12, 13, 14,
15, 16, 17,18 e 19). Essas estações foram estabelecidas até onde se observou a colonização da
planície hipersalina por espécies de mangue.
A metodologia utilizada para análise da dinâmica das populações baseia-se na
apresentada por OLIVEIRA (2001). Em
cada
parcela cada indivíduo foi etiquetado, identificado a
nívelde espécie e teve sua altura medida (utilizando régua ou vara telescópica). A cada nova
coleta indivíduos recém recrutados foram etiquetados, tendo sido realizadas as medidas
anteriormente descritas. O monitoramento dessa área ocorre desde 2000 (mensalmente desde
julho/2000 e de quatroquatro
em meses a partir de dezembro/
2004). Cabe ressaltar que novas
parcelas foram estabelecidas, conforme novas áreas da planície hipersalina, foram colonizadas
por espécies de mangue. Assim, as parcelas 12, 13, 14 e 15 foram marcadas em julho/00; as
parcelas 16, 17, e 18 em janeiro/06 e a parcela 19 em abril/2006. Posteriormente foram calculados
parâmetros como densidade e altura média de jovens por espécie, para cada estação de
amostragem, em cada período estudado.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Os dados de densidade de R. mangle indicam uma diminuição da densidade no sentido
floresta-planície hipersalina. Quando esse parâmetro é analisado por estação, percebe-se que, a
curva de densidade (fig.1) dessa espécie é, de maneira geral, crescente nas estações 12 e 13
desde setembro/2002. Na estação 14 o mesmo comportamento ocorre desde agosto/2003. A
estação 12 apresentou o maior crescimento da densidade (de 4583 ind.ha-1 em julho/2000 a
29167 ind.ha-1 em agosto/2007), indicando evolução no processo de ocupação da área mais
próxima da floresta. Embora a curva da estação 13 também seja crescente, observa-se um
comportamento em pulsos de aumento da densidade, quando períodos de incremento são
seguidos de períodos de relativa estabilidade, caracterizando pulsos no recrutamento de novos
indivíduos.
Os aumentos de densidade nas parcelas mais próximas da floresta indicam uma
consolidação do processo de colonização da planície hipersalina por espécies de mangue. Outro
indício da consolidação desse processo é o comportamento da curva de altura média (fig.2) nas
estações 12 e 13. Na estação 12, a altura média aumentou de 72 cm em Julho/2000 para 88 em
Agosto/2007. A redução da altura média em algumas datas do monitoramento é reflexo de
períodos de recrutamento de novos indivíduos na parcela. Esses comportamentos, de aumento
geral da altura média e diminuição em virtude do recrutamento, também são observados na
parcela 13.
O comportamento da altura média e densidade nas demais parcelas reflete o rigor
ambiental das áreas em direção ao planície hipersalina, com a ocorrência de indivíduos esparsos
e de altura reduzida, com grande oscilação no comportamento desses parâmetros.
Para A. schaueriana observa-se o recrutamento dessa espécie nas estações 12 e 13 em
Abril/2004. A densidade de jovens dessa espécie apresentou-se crescente na estação 12, de
1
1
abril/2004 (167 ind.ha- ) a abril/2007 (4583 ind.ha- ). Já na estação 13 observa-se um
comportamento com crescimento mais lento da densidade, caracterizado por dois pulsos um com
manutenção da densidade de 83 ind.ha-1 entre abril/2004 e dezembro/2005 e um segundo com
aumento da densidade em abril/2006 e sua manutenção em 167 ind.ha-1 até abril/2007. Os picos
de densidade refletem pulsos de recrutamento dessa espécie na área. Nas estações 14 e 15 A.
schaueriana surgiu em dezembro/2004 e fevereiro/2004, respectivamente, mas não apareceu nas
cinco últimas coletas (de dezembro/2004 a abril/2007), enquanto que as estações 16, 17, 18 e 19
não apresentaram recrutamento dessa espécie, o que indica um ambiente ainda desfavorável. A
curva da altura média de jovens de A. shaueriana na estação 12 é crescente durante o
monitoramento, atingindo o maior valor em Abril/2007 (73 cm). Tanto o aumento de densidade
como o de altura, indicam que as condições da estação 12 estão se tornando favoráveis à
sobrevivência desta espécie. O início do mesmo comportamento pode ser observado na estação
13. Os valores indicam que, assim como na estação 12, A. shaueriana, paulatinamente está se
estabelecendo na parcela 13. Esta afirmação é corroborada pela curva de altura média de jovens,
que assim como na estação 12, é crescente do período estudado (chegando a 100cm em
Abril/2007).
AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia
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I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia – I CIAO
Fortaleza (CE), 20 a 24 de maio de 2008
35000
25000
-1
Densidade (ind.ha
)
30000
20000
15000
10000
Abr/06
Abr/07
Ago/07
Abr/07
Ago/07
Dez/05
Abr/06
Abr/05
Ago/05
Out/04
Dez/04
Ago/04
Abr/04
Jun/04
Fev/04
Out/03
Dez/03
Ago/03
Abr/03
Jun/03
Fev/03
Dez/02
Jul/02
Set/02
Mai/02
Mar/02
Jul/00
0
Jan/02
5000
Meses
# 12
# 13
# 14
# 15
#16
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#18
#19
Fig.1 Densidade de jovens de R. mangle em
todas as parcelas
35000
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Densidade )(ind.ha
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Out/04
Ago/04
Jun/04
Abr/04
Fev/04
Dez/03
Out/03
Ago/03
Jun/03
Abr/03
Fev/03
Dez/02
Set/02
Jul/02
Mai/02
Mar/02
Jul/00
0
Jan/02
5000
Meses
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# 13
# 14
# 15
#16
#17
#18
#19
Fig.2 Altura média de jovens de R.mangle em todas as parcelas
CONCLUSÕES
O que se observa, através da análise da densidade e da altura média de jovens é que a
colonização na interface floresta-planície hipersalina na área de estudo (Guaratiba, Rio de
Janeiro), acontece em pulsos, com R. mangle sendo pioneira. Isto demonstra que o ambiente está
gradativamente apresentando características físico-quimicas menos rigorosas. Num segundo
momento observa-se a penetração de A. shaueriana na região, seguindo R. mangle no processo
de colonização da planície hipersalina. A diminuição no rigor ambiental pode estar associada a
uma possívelelevação do nívelmédio relativo do mar, que estaria aumentando a freqüência de
inundação pelas marés na região da planície hipersalina e possibilitando uma maior freqüência na
“lavagem” do substrato alterando as condições físico-químicas, tornando, dessa forma o ambiente
gradativamente favorável à ocupação e estabelecimento de espécies de mangue. Observa-se
ainda, que esse processo ocorre sob a forma de pulsos, os quais são regidos pela combinação
dos ciclos de recrutamento de propágulos de espécies de mangue com ciclos de condições
favoráveis ao desenvolvimento dos mesmos, as quais são provavelmente regidas por parâmetros
climáticos, que determinam períodos mais secos ou períodos mais úmidos.
REFERÊNCIAS
ODUM, E.P. 1988. Ecologia. Editora Guanabara S.A. Rio de Janeiro. 4434 pp.
OLIVEIRA, V. F. 2001. Monitoramento do ecossistema manguezal visando sua utilização como
indicador de variações do nível médio relativo do mar (Guaratiba-RJ). Monografia de Bacharelado.
Departamento de Oceanografia. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 74p.
SCHAEFFER-NOVELLI, Y., 1989. Perfil dos ecossistemas litorâneos brasileiros, com especial
ênfase sobre o ecossistema manguezal. Publicação Especial, Instituto Oceanográfico, São Paulo,
AOCEANO – Associação Brasileira de Oceanografia
III Congresso Brasileiro de Oceanografia – CBO’2008
I Congresso Ibero-Americano de Oceanografia – I CIAO
Fortaleza (CE), 20 a 24 de maio de 2008
7: 1-16.
SOARES, M.L.G. 1997. Estudo da Biomassa Aérea de Manguezais do Sudeste do Brasil - Análise
de Modelos. Tese de Doutorado. Instituto Oceanográfico. Universidade de São Paulo. 2 vol. 560p.
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