experiência inicial no tratamento de defeitos nasais resultantes de

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EXPERIÊNCIA INICIAL NO TRATAMENTO DE DEFEITOS
NASAIS RESULTANTES DE RESSECÇÃO NEOPLÁSICA
COM PROTETIZAÇÃO TRANSITÓRIA1
FIRST EXPERIENCE IN NOSE DISEASES AFTER NEOPLASIC RESECTION WITH
TEMPORARY NASAL PROSTHESIS
WEBSTER, Ronaldo**; FERREIRA, Marcelo Tonding***; COSTA, Luiz Augusto Lopes da ***; RUSCHEL, Felipe ***;
WEISSHEIMER, Leonardo ***; CHEM, Roberto Corrêa ****
Trabalho realizado no Serviço de Cirurgia Plástica do Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre e Disciplina de Cirurgia
Plástica da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (CHSCPA-FFFCMPA).**Preceptor convidado do Serviço
de Cirurgia Plástica da Santa Casa de Porto Alegre-Mestre em Cirurgia Experimental pela UNIFESP. ***Residente do Serviço de
Cirurgia Plástica da Santa casa de Porto Alegre. ****Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Plástica da Fundação Faculdade
Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre(FFFCMPA).Chefe do Serviço de Cirurgia Plástica do
Complexo Hospitalar Santa Casa de Porto Alegre(CHSCPA).Doutor em Medicina pela USP.
MARCELO TONDING FERREIRA
Rua Ciro Gavião, 155/302, Bela Vista ,Porto Alegre, RS - Tel: (51)33339966 / (51) 81822255
[email protected]
DESCRITORES
defeitos nasais, próteses de nariz temporários, rinectomia
KEYWORDS
nose diseases, temporary nasal prosthesis, rhinectomy
RESUMO
Introdução: a retirada do nariz por neoplasia traz
grande limitação estética , funcional e social para o
paciente. A reconstrução da região nem sempre pode
ser o uso de realizada de forma imediata, podendo ser
as próteses nasais uma alternativa provisória para que o
paciente tenha uma qualidade de vida adequada enquanto
o novo nariz não é reconstruído. Objetivos: demonstrar a
experiência inicial do uso de próteses nasais, como
alternativa temporária, em pacientes submetidos a
ressecção de tumores nasais. Métodos: revisão de casos
avaliados no ambulatório de Cirurgia Plástica da Santa
Casa de Porto Alegre que se submeteram a colocação
de prótese nasal. Resultados: foram observados 6 casos
de pacientes que se submeteram a colocação de prótese
nasal, sendo revisadas as técnicas de confecção e
aplicação da prótese. Os pacientes mostraram-se
satisfeitos com o resultados obtidos. Discussão: as
próteses nasais têm uma confecção bem fácil, com
materiais inertes e atóxicos, com nenhuma complicação
sendo observada. Os pacientes se mostraram satisfeitos,
com melhora dos curativos e maior integração social. A
fixação ainda pode evoluir dos dispositivos tipo óculos
para a osteointegração. Conclusão: as próteses nasais
se mostram adequadas na reabilitação temporária em
pacientes submetidos a rinectomia por neoplasia e que
têm contra-indicação a uma reconstrução imediata.
ABSTRACT
Background: the nose resection for neoplasic
diseases has esthetical, functional and social limitations
to the patient. A immediate reconstruction of this region
can not be done in some situations, and a nasal
prosthesis could be a temporary alternative for this
patient, improving his quality of life while the nose hasn´t
been reconstructed.
Objetive: to demonstrate the beginning experience with
the use of nasal prostheses like a temporary alternative
to those patients treated with nasal tumors resection.
Methods: review of some patients avaliated in the Plastic
Surgery Clinic that have been submited to rehabilitation
with nasal prostheses. Results: it was reviewed 6 cases
of patients treated with nasal prostheses, presenting the
techniques of fabrication and use. The patients were
satisfied with the final results. Discussion: nasal
prostheses have a easy fabrication, with inert and atoxic
materials, and anyone complication was observed.
Patients presented satisfied, with the dressings
improvement and a a social rehabilitation. Fixation
methods evolution can happen from glasses like device
to osteointegration techniques. Conclusions: nasal
prostheses deserves consideration in the temporary
rehabilitation of patients treated with rhinectomy, with a
contraindication to imediated nasal reconstruction.
INTRODUÇÃO
Lesões adquiridas da região nasal podem ocorrer
principalmente devido à remoção cirúrgica de uma
neoplasia ou por trauma de face, trazendo um prejuízo
estético e funcional muito importante para estes
pacientes, que vão se isolar do convívio social se nenhum
procedimento de reconstrução for realizado1.
Freqüentemente, as lesões neoplásicas evoluem
Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 36 - Suplemento 01 - 2007
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sem diagnóstico precoce, atingindo grandes dimen-sões
e estruturas profundas. A reconstrução dos defeitos
criados após a ressecção oncológica permanece um
desafio, já que muitos procedimentos deixam seqüelas
estéticas e funcionais significativas.
No entanto, muitos pacientes são de idade avançada
ou portadores de comorbidades graves e de difícil estabilização, o que impede a realização dos procedimentos
reparadores da complexidade exigida na solução dos
defeitos neoplásicos após o tratamento cirúrgico2.
Outros casos necessitam de observação do
comportamento tumoral após a ressecção neoplásica
evitando, deste modo, a perda de reconstruções elaboradas,
tais como a transferência de transplantes microcirúrgicos,
ou mesmo uma reconstrução total de nariz.
Neste contexto, freqüentemente não é possível
proporcionar procedimento reparador imediato ou a curto
prazo, visando integrar o paciente novamente ao convívio
social. Como alternativa para este tipo de paciente se
encontram as próteses faciais, que têm como objetivo
reabilitar os pacientes submetidos a grandes ressecções,
com seqüelas transitórias ou permanentes, de difícil
reconstrução ou contra-indicação a procedimentos
reparadores complexos 3.
OBJETIVOS
Avaliar a experiência inicial do ambulatório de
protetização facial do Serviço de Cirurgia Plástica, do
CHSCPA-FFFCMPA, reportando os primeiros casos de
reabilitação transitória utilizando próteses nasais quando
na presença de contra-indicação de procedimento
cirúrgico reparador imediato.
MÉTODOS
Foram avaliados, por equipe multidisciplinar,
composta pela cirurgia plástica, cirurgia de cabeça e
pescoço, medicina interna e psicologia, seis pacientes
no ambulatório de protetização facial, do Serviço de
Cirurgia Plástica, do CHSCPA-FFFCMPA.
Observando-se risco clínico elevado para o
procedimento cirúrgico de reconstrução nasal,
necessidade de observação local previamente à reparação
ou manifestação pessoal do paciente, corroborada pela
avaliação psicológica, desejando não ser submetido à
intervenção cirúrgica, foi sugerida a utilização da prótese
nasal.
Avaliou-se, globalmente, a região facial e cervical,
por meio de exames clínicos e radiológicos.
Durante a ressecção oncológica, houve um preparo
local dos tecidos, visando proteger todas as estruturas
osteocartilaginosas por meio da sutura cutâneo-mucosa.
Após a cicatrização, procedeu-se a confecção de
moldagem facial.
Nos casos apresentados, a utilização protética foi
considerada como tratamento transitório, sendo fixada
mecanicamente por meio de óculos e tirantes auriculares,
possuindo também características parcialmente
40
retentivas, visando sua fácil manipulação.
A confecção da prótese e dos sistemas de fixação
foi realizada pela equipe assistente, sendo feita sob
medida para o paciente em tratamento.
O processo de confecção da prótese iniciou-se com
a moldagem facial do paciente. Utilizou-se uma mistura
de alginato em pó e água. A mistura se torna pastosa
após a espatulação, ficando adequada para moldagem.
Após o molde pronto, este foi preenchido com
gesso, suficiente para torná-lo maciço, e assim foi obtida
imagem facial tridimensional do paciente (positiva), que
pode ser modelada por meio de substâncias, tais como
cera ou argila, acrescentando assim, as estruturas
perdidas ao molde tridimensional.
O conjunto do molde gessado somado à escultura
nasal em cera ou argila foi então coberto com um meio
de separação específico, CEL-LACÒ.
Em seguida, o conjunto foi acondicionado em
recipiente que permitiu a deposição de nova camada de
gesso espesso por sobre o conjunto, formando assim
uma imagem tridimensional invertida (negativo).
Após a secagem do gesso, são separados os dois
componentes gessados do conjunto (positivo e negativo)
e retirados os resíduos de cera ou argila do molde.
O espaço resultante da retirada da cera ou argila
foi então preenchido com a combinação de pasta de
silicone quimicamente inerte e pigmentos atóxicos para
a coloração intrínseca da prótese.
Após este processo, aguardou-se a secagem do
material e realizou-se o processo de ajuste e otimização
da coloração, preferencialmente na presença do paciente.
RESULTADOS
Foram inicialmente tratados 6 pacientes que sofreram
ressecção total do nariz por neoplasia, com a utilização
de prótese nasal, 1 do sexo feminino e 5 do sexo
masculino, com idade média de 65 anos (62-71).
Não foram observadas reações alérgicas ou
ulcerações devidas à adaptação da prótese.
Foi obtida proteção adequada da ferida operatória,
em todos os pacientes. Houve boa adaptação à prótese
por parte dos pacientes, observando-se melhora das
condições de higiene do defeito oncológico, nas consultas
subseqüentes à adaptação da prótese.
Observou-se dificuldade em realizar, em um primeiro
momento, a melhor coloração protética que simulasse a
coloração cutânea do paciente, sendo no entanto difícil
executar os refinamentos necessários às próteses, em
virtude da falta de aderência de alguns pacientes. Verificouse que, após a adaptação protética, estes já se
mostravam satisfeitos com o resultado obtido
primariamente, dificultando assim uma melhora do
aspecto estético da prótese posteriormente.
DISCUSSÃO
Defeitos adquiridos na região nasal são causados
principalmente por ressecções oncológicas, trauma ou
Arquivos Catarinenses de Medicina - Volume 36 - Suplemento 01 - 2007
infecções, e ocasionam ao paciente importante prejuízo
estético e funcional. Os procedimentos de reconstrução nasal
têm empregado desde retalhos da vizinhança até retalhos
microcirúrgicos, trazendo resultados muito favoráveis 5,6.
Entretanto, existem situações em que não se pode
optar por uma reconstrução complexa. Alguns pacientes
possuem comorbidades importantes, como doença
broncopulmonar obstrutiva crônica ou cardiopatia isquêmica,
sendo de grande risco para um procedimento reconstrutor,
geralmente mais trabalhoso e demorado quando comparado
à cirurgia para ressecção. Ainda é importante a observação
do comportamento tumoral e a certeza de obtenção de
margens livres para que se possa realizar procedimento
reconstrutor.
No ambulatório de protetização facial, pôde-se realizar
uma rotina de atendimento indo desde a indicação protética,
passando pela moldagem e confec-ção da prótese até a
adap-tação no paciente. As próteses nasais foram
confeccionadas utilizando materiais inertes e atóxicos não
havendo nenhuma complicação decor-rente do tratamento.
Em todos os casos, se obteve boa aceitação e satisfação dos pacientes com a reabilitação protética. Evidenciouse baixo nível de exigência por parte dos pacientes quanto à
coloração e detalhes da prótese, contrastando com o que
era esperado pela equipe assistente. Aparentemente, a
melhora de qualidade e facilidade de execução dos curativos
foi um dos pontos mais citados como positivos, propiciando
melhor convívio social, somado ao aspecto mais próximo da
normalidade trazido pela utilização protética.
Utilizou-se, nesta experiência inicial, a fixação da
prótese nasal com dispositivo tipo óculos, que se mostrou
bastante simples e eficiente. Num futuro próximo, as técnicas
de osteointegração poderão vir a ser empregadas no
tratamento destes, pacientes como método de fixação
definitivo. Há, porém, obstáculo financeiro importante a ser
ultrapassado para este fim7.
O aperfeiçoamento da confecção das próteses faciais
é objetivo constante e poderá ser viabilizado por meio do
ambulatório de próteses faciais do Serviço de Cirurgia Plástica
do CHSCPA-FFFCMPA, beneficiando grande número de
pacientes.
CONCLUSÃO
A experiência inicial, no Serviço de Cirurgia Plástica da
Santa Casa de Porto Alegre, do CHSCPA-FFFCMPA,
evidencia que a reabilitação com uso de próteses nasais
pode ser considerada, em pacientes submetidos a rinectomia
por doença maligna nos quais não haja indicação de
reconstrução imediata.
Figura1: paciente submetida a ressecção de tumor nasal
Figura 3
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Figura 2: molde facial do paciente do caso 1
Figura 4: paciente do caso 1 após colocação da órtese
41
Figura 5: Paciente do caso 2 com
defeito nasal em vista semi-perfil
Figura 6: molde do caso 2
REFERÊNCIAS
Figura 6: paciente do caso 2 já com a órtese
42
1 - Wilkes GH, Wollfaardt JF. Prosthetic Reconstruction. In: Achauer BM et al editors. Plastic Surgery.
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