PAISAGEM URBANA – A IDENTIDADE CULTURAL E SOCIAL LAPEANA, ATRAVÉS DO PATRIMÔNIO EDIFICADO DA CIDADE DA LAPA Karin Comerlatto da Rosa [email protected] Resumo: A história da Lapa está presente na paisagem urbana, às edificações tombadas pelo IPHAN remetem muitos cidadãos a percorrerem a formação política e social da cidade. Conceitos como patrimônio, identidade cultural, identidade social e memória foram ferramentas para compreender como os moradores se identificam com a história da cidade, e de que maneira é possível conservar a identidade local. Palavras chave: memória; local; global; patrimônio cultural. Introdução Ao trabalhar com espaço urbano, além das edificações, pessoas também pertencem a este conjunto. Compreender pontos que formam essa rede é se deparar com um leque de conceitos, é entrar num mundo de memórias individuas que se cruzam e se apresentam na memória coletiva. Segundo Thompson (1992, p.45) “a história oral é uma história construída em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história e isso alarga seu campo de ação. (...) Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade”. Desta maneira este trabalho buscou através da fala dos moradores da cidade da Lapa, compreender a formação patrimonial material e de que forma ela contribui para a memória individual e coletiva, e como este patrimônio edificado, que compõe o centro histórico da cidade, ajuda na formação da identidade social. Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967 Neste caso em específico buscou-se compreender a partir de determinados conceitos - patrimônio, cultura, memória, identidade cultural e identidade social -, como os moradores da cidade da Lapa se identificam com a história da cidade, e de que maneira é possível conservar a identidade local. A história da Lapa está presente na paisagem urbana, e às edificações tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) remetem muitos cidadãos a percorrerem a formação política e social da cidade, a qual recebeu figuras políticas e religiosas presentes na história do estado. O Cerco da Lapa comemorado até hoje pelos lapeanos, é motivo de orgulho, pois foi um momento importante para o insucesso dos maragatos e sucesso da República. Esses momentos fizeram parte do cotidiano dos moradores e a história foi sendo contada e construída através da memória individual e coletiva, que deu a estas pessoas uma identidade local. Esse patrimônio imaterial une-se ao belo patrimônio material urbano, característico de um tempo que jamais voltará. Desenvolvimento Para Warnier (2000, p.97) “o patrimônio cultural, em forma de museus, de monumentos, de locais históricos, de paisagens é, evidentemente, uma dimensão de identidade, mas também pode ser um potencial turístico importante”. A cidade da Lapa soube aproveitar seu potencial turístico e hoje se destaca no setor. Casos como o da Lapa dão a sensação de garantia de que a homogeneização cultural, a que teme Hall (2006, p.77), e definida por ele como “grito angustiado daqueles que estão convencidos de que a globalização ameaça solapar as identidades e a ‘unidade’ das culturas nacionais” ainda não atingiu níveis devastadores. Stuart Hall aborda a identidade a partir da globalização e as influências que as pessoas podem sofrer diante de um sistema econômico e de como estas mudanças ocorrem conforme os ambientes que o individuo frequenta, que seriam as identidades partilhadas. Stuart Hall (2006, p.69) atribui a “compreensão espaço-tempo” a aceleração dos processos globais, pois segundo ele Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967 “o mundo é menor e as distâncias mais curtas”. Refletindo na construção identitária, Hall (2006, p.70) considera que: O impacto da globalização sobre a identidade é que o tempo e o espaço são também as coordenadas básicas de todos os sistemas de representação, segundo o autor, diferentes épocas culturais têm diferentes formas de combinar essas coordenadas espaço-tempo. Se para Hall (2006, p.71) a identidade está profundamente envolvida no processo de representação e todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólico, para Harvey1 ocorre à destruição do espaço e do tempo, em que, segundo Hall (2006, p.72-73) “os lugares permanecem fixos; é nele que temos raízes”. Entretanto o espaço pode ser “cruzado” num piscar de olhos. Esse afrouxamento de identidades que são construídas ao longo da história de uma cultura possibilita que o indivíduo, segundo Cuche (2002, p.177), Se localize em um sistema social e seja localizado socialmente, essa identidade cultural que para alguns é recebida como herança preexistente 2 ao individuo , para outros está ligada a socialização do indivíduo no interior 3 de seu grupo cultural e ainda em uma terceira abordagem. A terceira abordagem segundo Cuche (2002, p.179) “consideram a identidade cultural como um vínculo baseado em uma genealogia comum, esta identidade para se manter viva depende de um sistema, o educacional”. Segundo Warnier (2000, p.97), “para conservar sua identidade, os grupos e as nações devem manter, cultivar, renovar seu patrimônio. A transmissão cultural está estreitamente ligada à educação”. Para que se desenvolva esse método de conservação de identidade pela educação, é necessário que exista um envolvimento do Estado, preocupado em manter viva a identidade coletiva de uma comunidade e responsável por todo um conjunto cultural e patrimonial. Para Jean-Pierre Warnier (2000, p.108) “a responsabilidade em definir uma política cultural é do Estado, cabe a ele arbitrar 1 Apud. HALL, 2006, p.73. Primeira abordagem. 3 Segunda abordagem. 2 Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967 entre os interesses setoriais aplicados na gestão do patrimônio e das indústrias culturais”. Buscamos neste trabalho pesquisar como o cidadão lapeano se identifica com o centro histórico da cidade e de que forma a preservação do patrimônio contribui para as atividades desenvolvidas pelo e para o setor turístico local. Trabalhamos conceitos como memória, identidade, espacialidade, patrimônio e cultura. Buscamos através de depoimentos orais e análise bibliográfica compreender o discurso que os edifícios antigos têm diante da sociedade, já que eles estão carregados de simbologia, memória, etc. É fundamental compreender o processo de tombamento do centro histórico da cidade da Lapa numa perspectiva não só jurídica, mas também humana, para ter uma dimensão do que este patrimônio representa hoje para a população que vivenciou todo o processo de tombamento. Conclusões O conjunto de edificações que dá origem ao patrimônio urbano da cidade carregado de uma simbologia própria traz consigo a história de uma população que ao longo do tempo construiu esta cidade. Para conservar esse patrimônio imaterial que une-se ao belo patrimônio material urbano e para manter viva a história dessa comunidade é necessário que se desenvolvam cada vez mais políticas educacionais voltadas a valorização da memória social. Percebemos assim a necessidade de um compromisso por parte do poder público em manter nosso patrimônio cultural presente na vida da sociedade. Warnier (2000, p.98) aponta a educação como caminho para a preservação patrimonial, pois segundo o autor “o ensino sob todas as suas formas, é um meio de socialização de jovens, de acesso à palavra pelo domínio da linguagem e da aprendizagem dos saberes”. Pois, segundo Monastirsky (2009, p.331) “o patrimônio cultural, torna-se incorporado à sociedade quando associada a ele a memória social e fixada através de elementos que possuem significado para a vida coletiva”. Semana de Geografia, 18., 2011. Geografias não mapeadas? Ponta Grossa: DEGEO/DAGLAS, 2011. ISSN 2176-6967 Referências ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 2009. CAMARGO, H. L. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002. CHAGAS, Mário. (orgs.). Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. Rio de Janeiro: DP&A, 2003. CHAVES, N. (Org.). 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