UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE SAÚDE COMUNITÁRIA MESTRADO EM SAÚDE PÚBLICA SAMÉLIA LÉA MENEZES BECKER FATORES DE RISCO PARA O ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM PACIENTES COINFECTADOS COM HIV/AIDS EM FORTALEZA FORTALEZA 2014 SAMÉLIA LÉA MENEZES BECKER FATORES DE RISCO PARA O ABANDONO DO TRATAMENTO DA TUBERCULOSE EM PACIENTES COINFECTADOS COM HIV/AIDS EM FORTALEZA Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Saúde Coletiva, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Saúde Pública. Orientador: Prof. Dr. Roberto da Justa Pires Neto. FORTALEZA 2014 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará Biblioteca de Ciências da Saúde B356f Becker, Samélia Léa Menezes. Fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose em pacientes coinfectados com HIV/AIDS em Fortaleza./ Samélia Léa Menezes Becker. – 2014. 68 f. : il. color., enc.; 30 cm. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Medicina, Departamento de Saúde Comunitária, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Mestrado em Saúde Pública, Fortaleza, 2014. Área de Concentração: Epidemiologia em Doenças Transmissíveis e Não Transmissíveis. Orientação: Prof. Dr. Roberto da Justa Pires Neto. 1. Tuberculose. 2. Infecções por HIV. 3. Adesão à Medicação. 4. Fatores de Risco. I. Título. CDD 616.995 À Deus. Ao meu esposo. À minha avó, à minha mãe e minha irmã. AGRADECIMENTOS Ao nosso Deus por estar presente sempre em minha vida, me ajudando a enfrentar com coragem os ventos fortes do cotidiano. Ao meu esposo, Gervásio Fontenelle de Castro e Silva, todo o meu amor. Sem você eu não conseguiria ter terminado esta Dissertação. Obrigada pela paciência e estímulo durante essa trajetória para me tornar Mestre em Saúde Pública. À minha família por ter aceitado minha ausência em muitos momentos, ter me estimulado a seguir em frente. Em especial agradeço à minha mãe e minha avó por me ensinarem a gostar de ler e nunca pouparam esforços para eu ter acesso a uma boa educação. À minha irmã, modelo de competência e de comprometimento com o bem-estar do próximo. Ao professor e orientador Dr. Roberto da Justa Pires Neto, pelo aprendizado, segurança, exemplo de profissionalismo nessa trajetória do Mestrado. Aos professores Dra. Mônica Cardoso Façanha e Dr. Carlos Henrique Alencar, participantes da banca de qualificação, pelas valiosas colaborações e sugestões que engrandeceram este trabalho final. Aos Drs. Carlos Henrique M. Alencar e Jeová Keny Baima Colares, participantes da Banca Examinadora da Dissertação pela disponibilidade em avaliar este trabalho e colaborar para sua melhoria. Ao Marto Leal pelo seu companheirismo durante o Mestrado e sua colaboração na análise estatística deste estudo. Aos colegas da Turma de 2012 pela troca de experiências nessa nossa trajetória. A Zenaide Fernandes de Queiroz e Dominik Garcia Fontes que fazem a secretaria do Mestrado, pelo zelo, respeito com que tratam a nós alunos e ao Programa de Mestrado. Agradeço a todos que estiveram ao meu lado e me ajudaram de alguma forma. RESUMO Pessoas vivendo com HIV/aids são mais suscetíveis à tuberculose devido à presença de imunodeficiência celular. Além disso, estudos apontam para uma maior taxa de abandono de tratamento nestes indivíduos. Fortaleza, capital do Ceará, é um dos centros urbanos com maior carga da doença no Brasil, com alta incidência, em torno de 70 casos/100.000 habitantes, e cerca de 2.000 casos novos são diagnosticados a cada ano. Este estudo caracterizou os padrões epidemiológicos, clínicos e os fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose em coinfectados com HIV/aids no município de Fortaleza no período de 2008 a 2010. Tratou-se de estudo retrospectivo do tipo caso-controle não pareado. Os prontuários de 175 casos de TB foram revisados. Utilizou-se o software SPSS na análise estatística. A taxa de abandono do tratamento da tuberculose foi de 28,20%. A média de idade foi de 37,5 anos (DP±9,56), predominante no sexo masculino (75,43%), solteiros (53,14%), desempregados (48,01%), analfabetos (6,85%) ou com 1°grau incompleto (52,01%), mostrando um cenário de vulnerabilidade socioeconômica que permeia a TB há muito tempo. As variáveis: sexo, ocupação, escolaridade, tabagismo não foram significantes para o abandono do tratamento da TB. Estar casado ou em união estável (OR=0,49; IC= 0,24 -1,02), ser caso novo de tuberculose (OR=0,48; IC=0,25-0,95), usar outros medicamentos (OR=0,25; IC=0,12-0,51), apresentar reações adversas (OR=0,64; IC=0,33-1,26) e usar a TARV (OR=0,21; IC=0,09-0,49), foram fatores de proteção para o abandono. Houve uma chance maior de abandonar o tratamento naqueles pacientes que ingeriam bebida alcoólica (OR=1,81; IC=0,95-3,42), tiveram o diagnóstico de formas pulmonar (OR=6,25; IC=1,78-21,94), ou disseminada (OR=4,95; IC=1,23-19,78). Utilizar droga ilícita (ORaj=2,11; IC=1,02-4,36), não usar medicamentos para o tratamento de comorbidades ou doenças oportunistas (ORaj=2,87; IC= 1,28-6,45), e não utilizar a TARV (ORaj=2,66; IC=1,01-7,02), foram condições que, em conjunto, geraram um maior risco para o abandono do tratamento da tuberculose em coinfectados. Palavras-chave: Tuberculose, infecções pelo HIV, pacientes desistentes ao tratamento, adesão à medicação, fatores de risco. ABSTRACT People living with HIV/aids are more susceptible to TB disease due to presence of cell immunodeficiency. Besides, studies show a higher dropout rate from TB in these individuals. Fortaleza, capital of Ceara, is one of the urban centers with greater burden of TB in Brazil. The incidence of TB in this city is high, around 70 cases/100,000 inhabitants, and about 2,000 new cases are diagnosed each year. This study characterized the epidemiological patterns, and clinical risk factors for treatment dropout for tuberculosis coinfected with HIV / AIDS in the city of Fortaleza in the period 20082010. It was a retrospective study of case-control unpaired. Data of TB cases were obtained from 175 patients records. The software SPSS was used for statistical analysis. The dropout rate of tuberculosis treatment was 28,20%. The average age was 37.5 years (SD ± 9.56), predominant in males (75.43%), single (53.14%), unemployed (48.01%), illiterates (6.85%) or incomplete 1st grade (52.01%), showing a scenario of socioeconomic vulnerability that permeates the TB long ago. Variables such as gender, occupation, education, smoking were not significant for the treatment dropout. Being married or in a stable relationship (OR = 0.49; CI = 0.24 -1.02), being new cases of tuberculosis (OR = 0.48; CI = .25-.95), use other drugs (OR = 0.25; CI = 0.12 to 0.51), present adverse reactions (OR = 0.64; CI = 0.33 to 1.26) and using HAART (OR = 0.21; CI = 0.09 to 0.49) were protective factors for abandonment. There was a greater chance of dropping out of treatment in those patients who consumed alcohol (OR = 1.81; CI = 0.95 to 3.42), had a diagnosis of pulmonary forms (OR = 6.25; CI = 1.78 -21.94), or disseminated (OR = 4.95; CI = 1.23 to 19.78). Illicit drug use (OR adj = 2.11; CI = 1.02 to 4.36), did not use drugs to treat opportunistic diseases or comorbidities (OR adj = 2.87; CI = 1.28 to 6.45), and not using HAART (OR adj = 2.66; CI = 1.01 to 7.02), were conditions that together generated a higher risk for noncompliance with treatment for tuberculosis coinfection. Keywords: tuberculosis, patient dropout, medications adherence. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Quadro 1: Sistema de classificação do CDC para adultos e adolescentes infectados pelo HIV......................................................................................................................18 Figura 1- Fluxograma dos 413 portadores de coinfecção TB/HIV inicialmente recrutados para o estudo....................................................................................................23 Gráfico 1 - Sinais e sintomas da tuberculose em pacientes com coinfecção TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010............................................................................................................................29 Gráfico 2 - Toxicidade ou reações adversas aos tuberculostáticos em pacientes com coinfecção TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010 ...............................................................................................................38 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Desfechos do tratamento da TB em coinfectados HIV/aids maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010....................................27 Tabela 2 - Características demográficas em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010............................................................................................................................28 Tabela 3 - Antecedentes patológicos e hábitos em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010............................................................................................................................30 Tabela 4 – Características do tratamento em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010............................................................................................................................32 Tabela 5- Características demográficas e socioeconômicas da população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento- alta ou abandono. Fortaleza/ Ceará 2008-2010..................................................................................................................34 Tabela 6- Características do diagnóstico da tuberculose na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento- alta ou abandono. Fortaleza/ Ceará 2008-2010..................................................................................................................35 Tabela 7 - Características das condições associadas e comorbidades na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento- alta ou abandono. Fortaleza/ Ceará 20082010...............................................................................................36 Tabela 8 - Características do tratamento da tuberculose na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento- alta ou abandono. Fortaleza/ Ceará 2008-2010..................................................................................................................37 Tabela 9- Fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose na população estudada. Fortaleza/ Ceará 20082010............................................................39 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS Acquired imune-deficiency syndrome CEMJA Centro de Especialidades Médicas José de Alencar DOTS Directly Observed Treatment Short-course (tratamento diretamente observado) HGF Hospital Geral de Fortaleza HIV Vírus da imudeficiência adquirida HSJ Hospital São José de Doenças Infecciosas HTLV Vírus linfotrópico B humano HUWC Hospital Universitário Walter Cantídio IRIS Síndrome da reconstituição imune MNTB Micobactéria não-tuberculosa NR Não relatado OMS Organização Mundial de Saúde PGL Persistent generalized lymphadenopathy (linfadenopatia generalizada persistente) PNCT Plano Nacional de Combate à Tuberculose PVHA Pessoas vivendo com HIVaids SINAN Sistema Nacional de Agravos de Ntificação Compulsória SVS Secretaria de Vigilância em Saúde TB Tuberculose TB-MR Tuberculose multirresistente TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 11 1.1 Epidemiologia da tuberculose e da coinfecção TB HIV ............................. 11 1.2 O abandono do tratamento da tuberculose ................................................. 13 2. JUSTIFICATIVA.................................................................................................... 16 3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 17 3.1 Objetivo Geral................................................................................................. 17 3.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 17 4. CASUÍSTICA E MÉTODOS .................................................................................. 18 4.1 Delineamento experimental .......................................................................... 18 4.2 Definições ....................................................................................................... 18 4.3 Locais de estudo ............................................................................................ 20 4.4 População e amostra ..................................................................................... 21 4.5 Coleta dos dados ........................................................................................... 24 4.6 Variáveis estudadas ....................................................................................... 24 4.7 Análise dos dados ......................................................................................... 25 4.8 Aspectos éticos.............................................................................................. 26 5 RESULTADOS ....................................................................................................... 28 5.1 Características dos pacientes portadores de coinfecção TB/HIV ............. 28 5.2 Análise bivariada: características dos desfechos alta e abandono do tratamento da tuberculose: ................................................................................. 34 5.3 Análise multivariada: fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose em pacientes com coinfecção HIV/AIDS. ...................................... 39 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 41 7 LIMITAÇÕES ......................................................................................................... 49 8 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 50 9 RECOMENDAÇÕES .............................................................................................. 51 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 52 APÊNDICE A - TERMO DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA EM PRONTUÁRIOS ................................................................................................. 57 APÊNDICE B: TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO: MATERIAL NÃO BIOLÓGICO .. 58 ANEXO A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ........................................... 59 ANEXO B - PARECER CEP ..................................................................................... 66 1. INTRODUÇÃO 1.1 Epidemiologia da tuberculose e da coinfecção HIV/AIDS A tuberculose é considerada uma emergência mundial e um grave problema de saúde pública desde 1993 pela OMS, afetando milhares de pessoas anualmente. Quando associada à infecção pelo vírus HIV seus números são ainda mais alarmantes. De acordo com o WHO Global Tuberculosis Report (2013), é a segunda maior causa de morte entre as doenças infecciosas em todo o mundo, atrás somente do HIV. De acordo com o The Global Plan to Stop TB 2011-2015 (2006), estima-se uma incidência anual de 9,4 milhões de casos novos em todo mundo e em torno de 80% dos casos estão concentrados em 22 países: Afeganistão, África do Sul, Bangladesh, Brasil, Camboja, China, Etiópia, Índia, Indonésia, Quênia, Moçambique, Mianmar, Nigéria, Paquistão, Filipinas, República Democrática do Congo, Rússia, Tailândia, Uganda, Tanzânia, Vietnam e Zimbábue. No Leste Europeu a incidência aumentou durante a década de 90 devido a acelerada deterioração do sistema público de saúde e inequidade social. A redução da incidência global ocorre lentamente, principalmente porque a epidemia do HIV na África é combatida na mesma velocidade, ceifando milhares de vidas anualmente. A epidemia da aids no continente africano e suas adversidades econômicas e sociais contribuíram para os altos índices da TB no mundo. Em torno de 80% dos casos de coinfecção estão na África (WHO, 2006). O governo federal brasileiro somente a considerou como prioridade a partir do ano de 2003 e, desde então, é contemplada nas principais pactuações nacionais como o Pacto pela Saúde, Mais Saúde, Programa de Ações de Vigilância em Saúde, Pacto de atenção Básica e recentemente foi incluída na agenda Estratégica da SVS (BRASIL, 2012). A expressão da doença no Brasil reflete de certo modo as desigualdades sociais e de promoção da saúde, o estágio de desenvolvimento econômico e social, em que a concentração de renda e o difícil acesso aos serviços básicos para sobrevivência ficam cada vez mais evidentes, expressando a epidemia da fome, miséria, desemprego e drogadição. 12 No Brasil em 2009, foram notificados 72 mil casos novos, correspondendo a um coeficiente de incidência de 38/100.000 habitantes. Desses, 41 mil foram bacilíferos, colocando o país na 19ª posição em relação ao número de casos e na 104ª posição em relação ao coeficiente de incidência. É mais frequente nos homens e nos jovens entre 20 e 49 anos, abrangendo em torno de 63% dos casos novos da doença registrados em 2009 (PNCT, 2011). De acordo com o Boletim Epidemiológico da Tuberculose (2012), a taxa de incidência no Brasil diminuiu de 42,8/100.000 habitantes em 2001 para 36,0/100.000 habitantes em 2011, uma queda de 15,9% em uma década. A região Norte apresentou as maiores incidências nos últimos dez anos e o Sudeste concentrou o maior número de casos, enquanto que a região Nordeste também apresenta elevada incidência da doença. Este cenário faz com que a situação brasileira, no final do século XX, configure, em termos comparativos, uma situação mais grave que a de outros países latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, por apresentar estimativas de prevalência de 50 milhões de infectados e, anualmente com o surgimento de 85.000 novos casos, com registro de 6.000 óbitos (PNCT, 2011). No Boletim de Saúde de Fortaleza sobre a Tuberculose (2010), a incidência no nordeste brasileiro variou de 61,53/100.000 habitantes em 1990 para 37,30/100.000 habitantes em 2010. Já o Ceará, em 2010, foi o terceiro estado nordestino em incidência com 41,88/100.000 habitantes, havendo redução de 43% em relação a 1990. O município de Fortaleza é classificado como médio risco de transmissão, por apresentar prevalência de 70 doentes para cada 100.000 casos. Também não atinge as metas da OMS de detectar 70% dos casos estimados e curar 85% dos pacientes em tratamento, sendo município de grande importância para a adoção de políticas públicas mais incisivas para o controle, a cura e a redução da taxa de morbimortalidade existente (FORTALEZA, 2010). O risco de desenvolver TB num indivíduo com HIV pode variar de 5 a 15 % ao ano ou 50 % no decorrer da vida, enquanto que nos não infectados, este índice cai para 5 a 15 % no decorrer da vida e a associação entre ambas as doenças incrementa a mortalidade de duas formas: aumento da letalidade para as pessoas infectadas pelo HIV e este atua como causa indireta do aumento da incidência da TB. (WHO, 2012). 13 O tratamento da coinfecção, de acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos (2013), é semelhante ao recomendado para a população geral, apesar da taxa de falha terapêutica, o desenvolvimento de resistência aos fármacos e recidivas sejam maiores nessa clientela. Existe uma controvérsia entre os estudos desenvolvidos entre uma ocorrência maior ou não de eventos adversos graves em pacientes soropositivos. Em regiões com elevada prevalência da co-infecção a não adesão ao tratamento favorece o aumento da resistência às drogas tuberculostáticas e do risco da transmissão do bacilo aos seus comunicantes (JAMAL; MOHERDAUI, 2007). Em 2010, entre os casos novos notificados no SINAN, cerca de 10% apresentavam coinfecção, principalmente a região Sul (18,6%), quase o dobro do percentual nacional. Representou também a principal causa de morte em pacientes com aids e maior probabilidade de apresentar um desfecho desfavorável ao tratamento (BRASIL, 2011). De acordo com dados disponíveis no DATASUS (2014), entre os anos de 2008 e 2010 foram notificados em todo país 250.810 casos de TB, sendo 25.151 casos de coinfecção com HIV. O Estado do Ceará ocupou a 7ª posição destes casos no país e o segundo lugar em todo Nordeste. O município de Fortaleza foi responsável por 46,5% das notificações em todo o estado do Ceará. 1.2 O abandono do tratamento da tuberculose Trata-se de uma doença curável em praticamente 100% dos casos novos, por serem sensíveis aos medicamentos anti-TB, desde que obedecidos os princípios básicos da terapia medicamentosa e a adequada operacionalização do tratamento, mas, taxas maiores de falência terapêutica e recorrência da doença têm sido demonstradas nos coinfectados, o que demanda atenção especial na condução desse pacientes.(PNCT, 2011). Apesar de ser considerada doença curável, a sua letalidade em torno de 7% ainda é elevada em nosso país, sendo mais elevada ainda entre indivíduos vivendo em más condições socioeconômicas e/ou com imunodeficiência. A terapêutica é considerada de curta duração e com alta efetividade, mesmo assim o abandono do tratamento é um problema significativo para o controle da doença em todo o mundo, haja vista que favorece o surgimento de cepas resistentes aos fármacos de primeira linha e também a continuidade da cadeia de transmissão. 14 O abandono do tratamento continua sendo um grave problema no Brasil pelo motivo de não alcançar a meta estabelecida pela OMS de, no máximo, 5% de abandono de casos (2006). Dentre as consequências diretas desse comportamento destacam-se o aumento do custo do tratamento, aumento das taxas de recidiva e de mortalidade. Para Albuquerque et al. (2007) os fatores mais comumente associados ao abandono são aqueles envolvendo o próprio doente, a modalidade de tratamento empregado (auto-administrado X supervisionado) e os serviços de saúde. Para os autores, as condutas principais das equipes devem ter o objetivo de esclarecer sobre a natureza da doença, duração do tratamento, a importância da regularidade no uso da medicação e as graves consequências da interrupção do tratamento. Percebe-se também um benefício de acompanhamento multiprofissional, adoção de doses supervisionadas e exames bacteriológicos mensais, favorecendo maior sobrevida dos pacientes. Não se deve esquecer o estigma que cerca a TB e a infecção por HIV, como bem lembrou Santos Filho (2006), pois este aspecto negativo de ambas as doenças pode levar a drásticas consequências como o abandono e elevação das taxas de mortalidade. A partir do ano 2000, os seguintes estudos conduzidos no Brasil abordaram a adesão ao tratamento: dois estudos realizados por Albuquerque et al (2001 e 2007) na cidade de Recife com abordagem sobre os fatores prognósticos para o desfecho do tratamento da forma pulmonar e os fatores associados à falência do tratamento, abandono e à morte numa coorte de pacientes; estudo feito por Bierrenbach et al (2007) sobre a incidência da doença e as taxas de cura nos municípios brasileiros, no período de 2000 a 2004; o estudo de Oliveira e Moreira Filho (2000) sobre abandono do tratamento e a recidiva no município de Campinas, São Paulo, no período de 1993-94; o de Jamal e Moherdaui (2007) sobre a magnitude e estratégias de controle e o de Muniz et al. (2006) abordando os aspectos epidemiológicos da coinfecção. Dentre os vários estudos sobre abandono do tratamento no Brasil, destaca-se o de Paixão e Gontijo (2007) sobre o perfil de casos notificados e os fatores relacionados ao abandono do tratamento em Belo Horizonte. Neste estudo se evidenciou como fatores de proteção para o abandono o interesse em se tratar e nível de informação sobre a doença e como fator de risco o uso de drogas. 15 Estudos sobre a coinfecção e principalmente sobre abandono do tratamento em coinfectados são incipientes no Ceará, apesar de ser um dos estados brasileiros prioritários na atenção às duas doenças. As pesquisas realizadas no estado tiveram abordagens distintas: estudo qualitativo envolvendo a adesão ao tratamento em unidades de Atenção Primária em Saúde (LIMA, 2001), a situação do nordeste brasileiro em relação à coinfecção (KERR-PONTES; OLIVEIRA; FREIRE, 1997), identificação dos fatores relacionados ao desfecho do tratamento num hospital de referência em doença infectocontagiosa (CARVALHO et al., 2008) e descrição das características clínico-epidemiológicas de pacientes com coinfecção acompanhados em serviços de referência no período de 2000-2008 (PIRES NETO et al., 2012). Nesses estudos, os fatores de risco e de proteção para o abandono do tratamento da TB são os mais diversos, sendo os mais comumente encontrados o sexo masculino, a presença da infecção pelo HIV, o uso de drogas, a baixa escolaridade, o desemprego ou desfavorável condição sócio-econômica. Ainda muito tem que se avançar no tratamento e medidas de controle relacionadas à coinfecção, como a oferta da testagem HIV em pacientes com TB e também assegurar a entrega do resultado, a maior oferta de tratamento de TB latente quando recomendado e também diagnóstico precoce em HIV positivos. Portanto, o controle da coinfecção exige a implantação de um programa que favoreça a redução da carga de ambas as doenças e baseado em uma rede de atenção integrada, ágil e resolutiva (SBPT, 2009). 16 2. JUSTIFICATIVA O problema do abandono do tratamento no Brasil é grave, vem se arrastando há anos e atualmente vem sendo incrementado pela coinfecção com HIV, pela miséria, drogadição, rede de assistência à saúde não integrada de forma eficaz, dentre outros fatores. Em Fortaleza, de acordo com o Boletim de Saúde de Fortaleza sobre a Tuberculose (2010), a taxa de cura continuou abaixo da recomendada pela OMS que seria de 85%, mas só conseguiu-se alcançar 66,5% em 2009, favorecendo a manutenção da cadeia de transmissão do bacilo. Em relação ao abandono do tratamento, o ano de 2008 foi o que apresentou a maior taxa (12%), bem acima do preconizado pelo Ministério da Saúde. O conhecimento de fatores de risco para abandono de tratamento em coinfectados com TB/HIV residentes em Fortaleza é de fundamental importância para o planejamento de ações de prevenção e controle, reduzindo mortalidade, aumentando expectativa de vida e qualidade de vida em um dos maiores centros urbanos do país. Diante da grave problemática descrita faz-se o seguinte questionamento: quais os fatores que contribuem para o abandono do tratamento da TB em coinfectados HIV/aids em Centros de Referência de Tratamento no Ceará? 17 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral Analisar os padrões epidemiológicos, clínicos e os fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose em coinfectados com HIV/aids no município de Fortaleza no período de 2008 a 2010. 3.2 Objetivos Específicos Verificar a taxa de abandono do tratamento da tuberculose em portadores do HIV/aids maiores de 12 anos, na cidade de Fortaleza; Caracterizar o perfil clínico e epidemiológico dos casos de coinfecção TB/HIV; Identificar os fatores de risco e proteção para o abandono do tratamento da tuberculose coinfectados com HIV/aids. 18 4. CASUÍSTICA E MÉTODOS 4.1 Delineamento experimental Tratou-se de estudo de retrospectivo, analítico, observacional, do tipo casocontrole não pareado. 4.2 Definições Em relação ao diagnóstico da infecção pelo HIV, observaram-se as orientações contidas na Portaria n.º 488 do Ministério da Saúde, de 17 de junho de 1998, devido os casos investigados ocorreram entre os anos de 2008 e 2010. Foi definido portador de infecção pelo HIV todo paciente com pelo menos duas sorologias positivas para o HIV. A classificação da infecção pelo HIV baseou-se nas manifestações clínicas e contagem de linfócitos CD4, de acordo com a revisão de definição de caso para infecção pelo HIV do CDC de Atlanta de 1993 (CDC, 2008; CDC, 2014). Os estágios da infecção pelo HIV estão apresentados no quadro no Quadro 1 a seguir. Quadro 1: Sistema de classificação do CDC para infecção pelo HIV em adultos e adolescentes. Categorias de contagem de CD4 Categorias clínicas A B C Assintomático, HIV Sintomático (não A Presença de agudo, PGL de e não C) indicadores AIDS (1) ≥ 500 cels/ μL A1 B1 C1 (2) 200 – 499 cels/ A2 B2 C2 μL 19 (3) < 200 cels/ μL A3 B3 C3 Fonte: CDC/ Atlanta (2014). Adotaram-se as definições contidas no Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil (2011) e a III Diretrizes para a Tuberculose da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (2009), tais como: Caso de TB: todo indivíduo com diagnóstico confirmado por baciloscopia ou cultura ou aquele em que o médico, com base nos dados clínicos e epidemiológicos e no resultado de exames complementares, firma o diagnóstico de TB. Caso novo ou virgem de tratamento: paciente que nunca recebeu tratamento por um período igual ou superior a 30 dias. Abandono de tratamento: caso de interrupção do tratamento por período igual ou superior a 30 dias após a data prevista para seu retorno ambulatorial no tratamento autoadministrado ou 30 dias após a última ingestão de dose no tratamento supervisionado. Alta por Cura: quando o paciente com doença pulmonar, inicialmente positivo, apresentar, durante o tratamento, pelo menos duas baciloscopias negativas: a primeira na fase de acompanhamento e a segunda ao final do tratamento. Completou o tratamento: será dada alta após completar o tratamento de 6 meses ou de um ano, baseado em critérios clínico e/ou radiológico. Óbito: quando houver a morte do paciente durante o tratamento. Deverá ser assinalado no campo Observações se o óbito ocorreu por TB ou por outras causas. Falência: os doentes que no início do tratamento são fortemente positivos (++ ou +++) e mantêm essa situação até o quarto mês, ou aqueles com positividade inicial seguida de negativação e nova positividade por dois meses consecutivos, a partir do quarto mês de tratamento ou houver persistência da positividade do escarro ao final do tratamento. Mudança de Diagnóstico: quando for constatado erro de diagnóstico de TB. Para os casos de TB pulmonar, foram revisados os elementos diagnósticos: história clínica, exame físico, baciloscopia direta do escarro, cultura do escarro, exame radiológico e prova tuberculínica. 20 Foi definido como caso confirmado o que apresentou duas baciloscopias diretas positivas, ou uma baciloscopia direta positiva e cultura positiva, ou uma baciloscopia direta positiva e imagem radiológica sugestiva de TB (SBPT, 2009). Considerou-se como caso suspeito o que não preencheu os critérios diagnósticos descritos anteriormente e o diagnóstico foi fundamentado nos dados clínico-epidemiológicos e no resultado de exames complementares não confirmatórios (SBPT, 2009). Para os casos de localização extra-pulmonar, foram revisados os seguintes elementos diagnósticos: história clínica, exame físico, baciloscopia direta e cultura de amostras específicas (secreções, urina, líquido pleural, líquido peritoneal, líquido cérebro-raquidiano, etc), exames de imagem (radiológico, ultrassonografia, etc.), exames histopatológicos e prova tuberculínica. Foi considerado um caso confirmado, o que apresentou isolamento de Mycobacterium tuberculosis em cultura de líquido ou tecido (urina, LCR, gânglio, pleura, etc.), ou exame histológico com alterações patológicas compatíveis associadas à visualização de bacilo álcool-ácido resistente no tecido examinado (SBPT, 2009). Um caso suspeito foi o que não preencheu os critérios descritos anteriormente e o diagnóstico se embasou no quadro clínico-epidemiológico e no resultado de exames complementares não confirmatórios (SBPT, 2009). 4.3 Locais de estudo As fontes dos casos e dos controles foram dois dos mais importantes serviços de referência para tratamento de pacientes portadores de infecção por HIV/Aids no Ceará: Serviço de Atenção a Pacientes com Coinfecção HIV/Micobactérias (SAHIVM) do HSJ e Ambulatório de Infectologia do HUWC da Universidade Federal do Ceará. O HSJ, mantido pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará é unidade terciária de referência para diagnóstico e tratamento de doenças infecciosas no estado. Além dos internamentos, o hospital disponibiliza hospital-dia e ambulatórios especializados em doenças infectocontagiosas (aids, leishmanioses, tuberculose, hepatites virais, dentre outros). Atualmente, existem cerca de 5.000 pacientes com 21 HIV/aids em seguimento ambulatorial, sendo que aproximadamente 3.700 estão em uso de terapia antirretroviral (HSJ, 2013). O número crescente de pacientes atendidos com infecção por HIV e tuberculose motivou a criação, em julho de 2003, do Serviço de Atenção a Pacientes com Coinfecção HIV/M. tuberculosis (SAHIVM). No HUWC, o atendimento ambulatorial a portadores de infecção por HIV/Aids, foi iniciado em julho de 2002. É hospital geral de nível terciário de assistência, favorecendo a integração com outras especialidades médicas. Atualmente, existem cerca de 600 pacientes com HIV/aids em seguimento ambulatorial, sendo que aproximadamente 450 estão em uso de terapia antirretroviral. Não foi realizada a coleta de dados nas unidades de saúde CEMJA e HGF, porque não tratam a tuberculose em seus ambulatórios de HIV/aids, encaminhandoos para o HSJ. 4.4 População e amostra A população do estudo foi composta por indivíduos soropositivos para o HIV, que tiveram diagnóstico de TB de qualquer localização e foram notificados no HSJ ou HUWC entre os dias 1° de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2010. Foram incluídos na amostra os pacientes que atenderam aos dois critérios a seguir: - morarem no município de Fortaleza à época do diagnóstico; - terem idade maior ou igual a 12 anos à época do diagnóstico. Não foram incluídos no estudo caso-controle os seguintes desfechos de tratamento: o óbito, falência, transferência para outra unidade e mudança de diagnóstico, pois o foco da pesquisa foi o abandono do tratamento, um desfecho desfavorável, mas passível de reversão e que é considerado um dos fatores de risco para o óbito. Foram classificados como casos os pacientes HIV positivos que iniciaram o tratamento para tuberculose entre os anos de 2008 a 2010 e o abandonaram em qualquer época, sendo o abandono de tratamento definido de acordo com o Manual Técnico para o Controle da Tuberculose (2011). Foram classificados como controles os pacientes HIV positivos que iniciaram o tratamento entre os anos de 2008 a 2010 e tiveram alta por cura ou por término de 22 tratamento, de acordo com as definições do Manual Técnico para o Controle da Tuberculose (2011). Os desfechos de tratamento foram identificados a partir do cruzamento de dados das instituições estudadas com os do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Os casos e controles foram identificados a partir dos bancos de dados existentes nos Núcleos Hospitalares de Vigilância Epidemiológica (NUHEP) do HSJ e do HUWC. Foi utilizada a totalidade dos casos e controles encontrados, não sendo feito amostragem da população, devido não ter encontrado 53 prontuários elegíveis para o estudo e também à deficiências no preenchimento dos dados e em razão disto, em alguns dos parâmetros estudados observou-se um número de pacientes menor que o grupo total. Os casos notificados obedeceram a um fluxograma de recrutamento da amostra de estudo (Figura 1). 23 Figura 1- Fluxograma dos 413 portadores de coinfecção TB/HIV inicialmente recrutados para o estudo. 413 Pacientes coinfectados notificados entre 2008 e 2010 no HSJ e HUWC HIV negativo: 02 Prontuários não encontrados: 53 Idade < 12 anos: 02 Não residiam em Fortaleza: 122 234 elegíveis para o estudo Óbitos: 30 Mudança de diagnóstico: 14 Desfecho ignorado: 10 Falência de tratamento: 05 Válidos para o estudo caso-controle: 175 Casos: 66 Controles: 109 24 Fonte: Pesquisa direta. 4.5 Coleta dos dados Inicialmente foi realizado o levantamento dos casos notificados no SINAN-TB e SINAN-AIDS do Ceará e Fortaleza e os notificados no HSJ e HUWC entre os anos de 2008 a 2010. Posteriormente foi feita pesquisa no Livro de Registro de Óbitos no HSJ, para identificar a localização dos prontuários, no arquivo-morto ou no SAME da instituição. Uma vez identificados os pacientes elegíveis para o estudo, os seus dados foram coletados através da revisão de prontuários e registro em questionário padronizado, sendo o mesmo instrumento utilizado para os casos e os controles. O período de coleta de dados foi de 20 de maio 2013 a quatro de junho de 2014. Foi utilizado como instrumento de coleta de dados um questionário previamente validado com população semelhante atendida pelos quatro principais serviços de tratamento a infectados pelo HIV em Fortaleza no estudo de PIRES NETO et al. (2012). Este instrumento apresentou as seguintes subdivisões: dados de identificação; condições associadas; sintomas; diagnóstico e esquema de tratamento da TB; evolução clínica; sinais e sintomas; evolução laboratorial; desfecho do tratamento da tuberculose; dados relativos ao HIV. Nos pacientes que fizeram retratamento pós- abandono ou por recidiva da doença, foi preenchido um questionário para cada tratamento efetuado, permitindo mais de uma entrada na amostragem. Foi considerada como notificação duplicada e excluída da análise, a que ocorreu em intervalo de menos de 30 dias em relação à primeira ou foi realizada no mesmo dia, mas com erros de grafia no nome do paciente ou no da mãe. 4.6 Variáveis estudadas O tipo de encerramento do tratamento (alta ou abandono do tratamento) foi a variável dependente ou de desfecho As variáveis independentes ou de exposição foram as seguintes: 1. Idade (anos completos à época do tratamento da tuberculose); 25 2. Sexo; 4. Estado civil; 6. Escolaridade; 7. História de internamento hospitalar devido à tuberculose; 8. Classificação de entrada: caso novo ou retratamento; 9. Forma da tuberculose: pulmonar, extra- pulmonar, disseminada; 10. Consumo de bebidas alcoólicas; 11. Tabagismo; 12. Uso de drogas ilícitas; 13. Diabetes; 14. História de indigência; 15. História de reclusão; 16. História de doença psiquiátrica; 17. Contactante de paciente de tuberculose; 18. Presença de sintomas: respiratórios e inespecíficos; 19. Diagnóstico: bacteriológico ou presuntivo; 20. Toxicidade às drogas anti-tuberculosas; 21. Evolução clínica: desaparecimento da febre, melhora do estado geral, IRIS. 23. Presença de doenças oportunistas 24. Uso ou não de TARV; 25. Estágio da aids no momento do diagnóstico da tuberculose; 4.7 Análise dos dados Os dados obtidos foram inseridos no programa Microsoft Excell versão 14.0, parte do Microsoft Office Professional Plus 2010, onde se calculou a média e desviopadrão de variáveis contínuas. A análise descritiva foi realizada de forma univariada para mostrar a distribuição das categorias das variáveis e de forma bivariada para comparar a distribuição destas nos grupos caso e controle. Para as análises bivariadas e multivariadas foi utilizado o software Statical Package for the Social Sciences versão 11.0 (SPSS) e realizada regressão logística, com método backward e o Teste de Wald. 26 Na análise bivariada, se explorou os fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose. Foi utilizado como desfechos o abandono e a alta por cura ou término do tratamento. Foi utilizado o Teste x2 de Pearson ou Teste Exato de Fischer para determinação do valor de p. As razões de chances (odds ratio –OR) e seus intervalos de confiança a 95% (IC95%) foram calculados através da regressão logística para a análise da magnitude da associação dos fatores à chance de abandonar o tratamento da tuberculose. As variáveis que se mostraram significativas ao nível de 20% (p≤0,20) foram incluídas no modelo multivariado. Foram mantidas somente as que apresentaram o valor de p<0,05 e foi calculada a odds ratio ajustada (ORaj) com seus respectivos intervalos de confiança a 95%. 4.8 Aspectos éticos Foram observados os princípios éticos em pesquisas com seres humanos, de acordo com a Resolução CNS 466/2012, garantindo o anonimato e uso das informações obtidas nos prontuários apenas para o fim desta pesquisa. A presente pesquisa apresentou riscos mínimos e que puderam ser reduzidos pelo pesquisador, como atenção à garantia do anonimato e zelo em resguardar a listagem nominal dos pacientes elegíveis e dos questionários preenchidos. O processo de apreciação ética foi iniciado em setembro de 2012 com cadastro do projeto na Plataforma Brasil, com número CAAE: 06656912.0.1001.5040 e apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HSJ e incluiu como instituição coparticipante o HUWC. O parecer final ocorreu em 05 de junho de 2013 e logo em seguida iniciou-se a coleta dos dados em prontuários. Em cada instituição foi solicitada a autorização prévia para a coleta de dados, bem como apresentação de declaração de ausência de ônus financeiro. 27 28 5 RESULTADOS 5.1 Características dos pacientes portadores de coinfecção TB/HIV No período de 1° de janeiro de 2008 a 31 de dezembro de 2010 foram notificados 465 casos de coinfecção em residentes em Fortaleza. Inicialmente foram considerados elegíveis para o estudo 216 episódios de TB. Após análise de todos os prontuários foram incluídos no estudo175 episódios, dos quais 66 casos e 109 controles, na proporção de 1: 1,65. O desfecho do tratamento foi identificado em 224 dos 234 episódios elegíveis (95,72%). A alta do tratamento foi o desfecho mais prevalente, com 46,58%. O óbito ocorreu em 30 pacientes (12,82%). A taxa de abandono do tratamento da tuberculose em pacientes coinfectados pelo HIV/aids, maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, entre os anos de 2008 a 2010, foi de 28,20%. Tabela 1: Desfechos do tratamento da TB em coinfectados HIV/aids maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. Desfecho N % Alta por cura ou término de tratamento 109 46.58 Abandono 66 28,20 Óbito 30 12,82 Falência do tratamento 05 2,14 Mudança de diagnóstico 14 5,99 Desfecho ignorado 10 4,27 Total 234 100 Dentre os participantes, a maioria (89,71%) foi tratada no HSJ e eram do sexo masculino (75,42%). A média de idade foi de 37, 5 anos (DP ±9,56). A média de anos de estudo foi de 6,80 anos (DP ±3,5), considerando informação disponível em 126 dos 175 pacientes. Identificou-se a situação conjugal em 159 dos 175 pacientes, sendo 93 (53,14%) solteiros e 55 (31,43%) casados ou em união estável. A situação ocupacional pôde ser identificada em 155 pacientes, sendo que 53 (30,29%) estavam empregados à época do tratamento da tuberculose (Tabela 2). 29 Tabela 2 - Características demográficas em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. Variáveis N % HSJ 157 89,71 HUWC 18 10,29 Masculino 132 75,43 Feminino 43 24,57 Analfabeto 12 6,86 1°grau 91 52,00 2°grau 20 11,43 Superior 3 1,71 NR 49 28,00 Solteiro 93 53,14 Casado 32 18,29 União estável 23 13,14 Separado 06 3,43 Viúvo 05 2,86 NR 16 9,14 Sim 12 6,86 Não 151 86,28 NR 12 6,86 Empregado 53 30,29 Desempregado 84 48,00 NR 38 21,71 Serviço de origem Gênero Escolaridade Situação conjugal Indigência Situação ocupacional O estágio de evolução da aids na época do diagnóstico da tuberculose foi identificado em 140 dos 175 pacientes estudados. De acordo com o Sistema de Classificação do CDC para infecção pelo HIV em adultos e adolescentes (CDC, 30 2014), 47 pacientes (33,57%) classificados na categoria C nível C3 e 25 (17,85%) estavam no nível C2. Não foram classificados 35 pacientes (20%) porque não tinham registro dos níveis de CD4 no prontuário. De acordo com o Gráfico 2, os sinais e sintomas mais frequentes registrados à época do diagnóstico foram: febre (82,28%), tosse (79,42%) e perda de peso (71,42%), classicamente os sintomas mais característicos da tuberculose. Ressalta-se que o paciente poderia apresentar mais de um sintoma à época do diagnóstico. Gráfico 1 - Sinais e sintomas da tuberculose em pacientes com coinfecção TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. 82,28% 79,42% 71,42% 62,85% 58,85% 42,85% 36,57% 23,42% 13,14% 12,57% 1,71% Em relação aos antecedentes patológicos e aos hábitos dos 175 pacientes estudados, 89 (50,86%) tinham relato de tabagismo, 81 (46,28%) consumiam de bebida alcóolica e 57 (32,57%) usavam drogas ilícitas sendo predominante o crack. Dentre as comorbidades, 2 (1,14%) indivíduos tinham diabetes mellitus, 81 (46,28%) doenças oportunistas e 18 (10,29%) apresentavam doenças psiquiátricas. 31 Tabela 3 - Antecedentes patológicos e hábitos em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. Variáveis N % Sim 89 50,86 Não 73 41,71 NR 13 7,43 Sim 81 46,28 Não 82 46,86 NR 12 6,86 Sim 57 32,57 Não 98 56,00 NR 20 11,43 Sim 02 1,14 Não 154 88,00 NR 19 10,86 Sim 81 46,28 Não 94 53,72 Sim 18 10,29 Não 136 77,71 NR 21 12,00 Relato de Tabagismo Relato de etilismo Relato de consumo de droga ilícita Diabetes Doenças oportunistas Doenças psiquiátricas A média de tempo entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 99,2 dias (DP±146,9). Dentre os que apresentaram febre como sintoma da doença, o tempo médio entre o início do tratamento e a sua remissão foi de 42,7 dias (DP± 84,2). Dos 175 pacientes estudados, os casos novos predominaram (70,85%). O principal motivo para os episódios de retratamento foi a recidiva da doença (88%) e somente 12% dos pacientes que abandonaram o tratamento o retomaram. A 32 confirmação diagnóstica predominou (61,71%), principalmente através de exame de baciloscopia de escarro ou de outro material biológico (73,1%). O isolamento do M. tuberculosis na cultura de material, considerado padrão-ouro para o diagnóstico, ocorreu em 29,62% dos casos confirmados. O diagnóstico presuntivo ocorreu em 67 (38,28%), sendo a história clínica e epidemiológica predominante (92,53%), seguido pela melhora clínica após o início do tratamento (76,11%). Encontrou-se 21 pacientes contactantes de outros doentes de TB. A maioria (63,43%) precisou de internamento hospitalar e o período médio de internação foi de 40,1 dias (DP± 45,7 dias). A forma clínica pulmonar correspondeu a 65,17%. O tratamento com esquema básico ocorreu em 170 pacientes (92,8%). A TARV foi utilizada por 82,28% dos pacientes estudados. Foi encontrado relato de consumo de outros medicamentos, além do esquema anti-TB e da TARV em 70,28% indivíduos estudados. Esses medicamentos eram utilizados, principalmente, para o tratamento ou a profilaxia de doenças oportunistas ou para tratamento de doenças mentais (Tabela 4). 33 Tabela 4 - Características do tratamento em coinfectados TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. Parâmetro N % Caso novo 124 70,86 Retratamento 50 28,57 NR 01 0,57 Confirmado 108 61,71 Presuntivo 67 38,29 Sim 21 12,00 Não 94 53,72 NR 60 34,28 Sim 111 63,43 Não 64 36,57 Pulmonar 114 65,14 Extrapulmonar 34 19,43 Disseminada 27 15,43 Sim 144 82,29 Não 31 17,71 Sim 123 70,29 Não 44 25,14 NR 08 4,57 Classificação de entrada Tipo de diagnóstico Contactante de TB Internamento durante o tratamento da TB Forma clínica Uso da TARV Uso de outros medicamentos 34 5.2 Análise bivariada: características dos desfechos alta de abandono do tratamento da tuberculose: Os resultados da análise bivariada entre as variáveis estudadas e o desfecho do tratamento estão nas Tabelas 5 a 9. O abandono do tratamento da TB, o gênero, a ocupação, a escolaridade e a indigência não estiveram associados ao abandono do tratamento. Possuir nível superior de escolaridade não foi associado ao abandono (OR=1). Os pacientes que estudaram até o 1°grau tiveram uma chance 1,37 (OR=1,37) vezes maior de abandono e aqueles que estudaram até o 2° grau tiveram 25% menos chances de abandonar o tratamento (OR=0,85), quando relacionados ao analfabetismo. Com relação ao estado civil solteiro os indivíduos casados ou em união estável tiveram 51% menos chance (OR= 0,49) de abandonar o tratamento e os divorciados ou viúvos tiveram 1,5 vezes mais chance de abandono (Tabela 5). 35 Tabela 5- Características demográficas e socioeconômicas da população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento. Fortaleza/ Ceará 2008-2010 Variáveis Abandono Alta N N % p OR [IC 95%] % Gênero 0,65 Feminino 15 22.73 28 25.69 1,00 Masculino 51 77,27 81 74.31 1,17 [0,57-2,41] Ocupação 0,22 Desempregado 37 68,52 47 54,02 1,00 Empregado 16 29,63 37 42,53 0,57[0,26-1,13] Estudante/aposentado 1 1,85 3 3,45 0,42 [0,04-4,23] Escolaridade 0,93 Analfabeto 4 8,33 8 10,26 1,00 1° grau 37 77,08 54 69,23 1,37 [0,38 -4,88] 2° grau 6 12,51 14 17,95 0,85 [0,18 – 3,97] Superior 1 2,09 2 2,56 1 [0,06-14,64] Indigência 0,22 Sim 7 10,77 5 5,10 2,24 [0,68-7,40] Não 58 89,23 93 94,90 1,00 Situação conjugal 0,08 Solteiro 40 65.57 53 54.08 1,00 Casado/união estável 15 24,59 40 40,82 0,49 [0,24-1,02] Divorciado/viúvo 6 9,84 5 5,10 1,59 [0,45-5,58] De acordo com a Tabela 6, o tipo de diagnóstico não foi associado ao abandono do tratamento. Quanto à classificação de entrada, os casos novos da TB tiveram 52% menos chance (OR=0,48) de abandonar o tratamento se comparados com os casos de retratamento. Quando comparados à forma clínica extrapulmonar, as formas pulmonares e disseminadas tiveram, respectivamente, 6,25 vezes 36 (OR=6,25) e 4,95 vezes (OR=4,95) mais chance de abandono. Houve aumento de 2,13 vezes (OR=2,13) na chance de abandono nos contactantes de TB. Tabela 6- Características do diagnóstico da tuberculose na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento. Fortaleza/ Ceará 2008-2010. Variáveis Abandono Alta N N % p OR [IC 95%] % Tipo de diagnóstico 0,93 Confirmado 41 62,12 67 61,47 1,02 [0,54-1,92] Presuntivo 25 37,88 42 38,53 1,00 Classificação de entrada 0,03 Caso novo 41 62,12 84 77,06 0,48 [0,25-0,95] Retratamento 25 37,88 25 22,94 1,00 Forma clínica 0,00 Extrapulmonar 3 4,55 24 22,01 1 Pulmonar 50 75,76 64 58,72 6,25 [1,78-21,94] Disseminada 13 19,70 21 19,27 4,95 [1,23 –19,78] Contactante de TB 0,11 Sim 11 25,58 10 13,89 2,13 [0,81-5,54] Não 32 74,42 62 86,11 1 Ser diabético ou fumar não foram associados ao abandono. Os pacientes que usaram drogas ilícitas tiveram 2,13 vezes mais chance (OR=2,13) de abandonar o tratamento em relação com aqueles que não o fizeram. Naqueles que consumiram bebida alcóolica a chance de abandonar o tratamento foi 1,81 vezes maior (OR=1,81) em relação aos que não a consumiam. Apresentar distúrbio psiquiátrico aumentou as chances de abandonar o tratamento em 2,7 vezes (OR=2,7) (Tabela 7). 37 Tabela 7 - Características das condições associadas e comorbidades na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento. Fortaleza/ Ceará 20082010. Variáveis Abandono Alta N N % p OR [IC 95%] % Diabetes 1,0 Sim 1 1,67 1 1,04 1,61 [0,09-26,23] Não 59 98,33 95 98,96 1,00 Relato de tabagismo 0,50 Sim 38 60,32 51 51,52 1,43 [0,75-2,71] Não 25 39,68 48 48,48 1,00 Relato de uso de droga 0,02 ilícita Sim 29 47,54 28 29,79 2,13 [1,09-4,17] Não 32 52,46 66 70,21 1,00 Relato de uso de bebida 0,06 alcoólica Sim 37 58,73 44 44,00 1,81 [0,95-3,42] Não 26 41,27 56 56,00 1,00 Doença psiquiátrica 0,04 Sim 11 18,33 7 7,45 2,79 [1,01-7,66] Não 49 81,67 87 92,55 1,00 Na Tabela 8, verificou-se que o internamento hospitalar durante o tratamento não foi associado ao abandono. Os indivíduos que utilizaram outros medicamentos (para tratamento de comorbidades ou doenças oportunistas), além dos tuberculostáticos e da TARV, tiveram 75% (OR=0,25) menos chances de abandonar o tratamento do que aqueles que não utilizaram outras medicações. Usar a TARV reduziu as chances de abandonar o tratamento em 79% (OR= 0,21). Não apresentar efeitos tóxicos aos tuberculostáticos esteve associado a 36% menos chances de abandonar o tratamento (OR=0,64). Os principais efeitos tóxicos encontrados são visualizados no Gráfico 3. 38 Tabela 8 - Características do tratamento da tuberculose na população estudada e sua associação com o desfecho de tratamento. Fortaleza/ Ceará 2008-2010. Variáveis Abandono Alta N N % p OR [IC 95%] % Internação hospitalar 0,54 durante o tratamento Sim 40 60,61 71 65,14 0,82 [0,43-1,54] Não 26 39,39 38 34,86 1,00 Uso de outros 0,00 medicamentos Sim 35 56,45 88 83,81 0,25 [0,12-0,51] Não 27 43,55 17 16,19 1,00 Toxicidade ao 0,19 tratamento Sim 18 27,27 40 36,70 0,64 [0,33-1,26] Não 48 72,73 69 63,30 1,00 Uso de TARV 0,00 Sim 45 68,18 99 90,83 0,21 [0,09 -0,49] Não 21 31,82 10 9,17 1,00 De acordo com o Gráfico 2, a toxicidade às drogas tuberculostáticas ocorreu em 58 dos 175 pacientes (33,3%), sendo a hepatite medicamentosa a predominante com 27 casos (46,55%), seguida pelo rash cutâneo em 19 pacientes (32,75%), 39 Gráfico 2 - Toxicidade ou reações adversas aos tuberculostáticos em pacientes com coinfecção TB/HIV maiores de 12 anos e residentes em Fortaleza, no período de 2008 a 2010. 46,55% 32,75% 29,31% 13,79% 6,89% Hepatite medicamentosa Rash cutâneo Alterações do TGI Neuropatia periférica Outros 5.3 Análise multivariada: fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose em pacientes com coinfecção HIV/AIDS. Na análise bivariada, foram consideradas significantes e elegíveis para entrarem no modelo multivariado dez variáveis: situação conjugal divorciado ou viúvo, estar desempregado, retratamento da tuberculose, forma clínica pulmonar e disseminada, ser contactante de TB, usar drogas ilícitas, consumir de bebida alcoólica, ter doença psiquiátrica, não usar outros medicamentos durante o tratamento, não apresentar toxicidade aos tuberculostáticos e não usar TARV. Somente três variáveis permaneceram no modelo de regressão final, apresentado na Tabela 10. Utilizar droga ilícita continuou elevando as chances para o abandono do tratamento (ORaj =2,11). Não utilizar outros medicamentos para o tratamento de comorbidades ou doenças oportunistas e não utilizar a TARV aumentaram as chances de abandono em 2,87 vezes e 2,66 vezes, respectivamente. 40 Tabela 9- Fatores de risco para o abandono do tratamento da tuberculose na população estudada. Fortaleza/ Ceará 2008-2010. OR bruta ORaj [IC 95%] Variáveis p [IC 95%] p Usar de droga ilícita 0,02 2,13 0,04 [1,09-4,17] Não utilizar outros 0,00 medicamentos Não usar TARV 3,99 [1,02-4,36] 0,01 [1,93-8,22] 0,00 4,62 [2,01-10,61] 2,11 2,87 [1,28-6,45] 0,04 2,66 [1,01-7,02] 41 6 DISCUSSÃO A taxa de alta por cura ou término de tratamento encontrada no estudo foi inferior aos 85% recomendado pelas organizações de saúde (Secretaria municipal de saúde de Fortaleza, 2010; Brasil, 2011; WHO, 2006). Vê-se com esse baixo índice de cura, que o sucesso do tratamento da TB em coinfectados pelos HIV é um desafio, sugerindo uma sinergia entre as duas doenças, a TB agrava o curso da aids e vice-versa, reduzindo as chances de cura, favorecendo os desfechos desfavoráveis ( o abandono, o óbito e a falência de tratamento), dificultando a condução do tratamento, tanto pela a equipe de saúde como pelo paciente. A taxa de abandono encontrada foi superior aos 5% tolerados pelas organizações de saúde (Secretaria municipal de saúde de Fortaleza, 2010; Brasil, 2011; WHO, 2006) e também à de outros estudos realizados no Brasil em pacientes coinfectados, como o de Lins et al (2012) em que o abandono do tratamento da TB em pacientes coinfectados com o HIV ocorreu em 13,1% da amostra, enquanto nos pacientes soronegativos para o HIV a taxa de abandono foi 11,1%. No estudo de Costa et al (2014) realizado no município com maior incidência da TB no Brasil, a taxa de abandono foi superior em pacientes coinfectados pelo HIV. Uma taxa de abandono do tratamento de 11% foi encontrada no estudo de Rufino-Netto (2008) no município de Ribeirão Preto. Já no estudo de Prado et al (2011) a taxa de abandono no estado do Espírito Santo entre 2000 e 2006 foi de 8,9%. Este índice de abandono elevado traz várias consequências graves para a população coinfectada, tais como a perpetuação da cadeia de transmissão da doença na comunidade; o desenvolvimento de cepas do bacilo da tuberculose multirresistentes às drogas de primeira linha, facilitando a falência do tratamento; o agravamento do estado de saúde, aumento dos custos financeiros do tratamento, o favorecimento do óbito por TB, haja vista que ocorre uma deterioração maior do estado clínico do indivíduo, trazendo mais complicações (Brasil, 2011). A maioria dos casos foi notificada pelo HSJ, referência estadual para o tratamento destes eventos. De acordo com o Boletim de Saúde de Fortaleza (2010), o HSJ e o HUWC foram as principais fontes notificadoras de tuberculose no município, sobrecarregando os dois serviços que deveriam ser unidades referência para o tratamento de coinfecção ou de formas mais graves da doença ou com comorbidades que necessitam de um manejo mais complexo. 42 A média de idade foi de 37,5 anos (DP±9,56), semelhante ao encontrado no estudo de Lins (2012) em que a média de idade em coinfectados foi de 37,1 anos. No estudo de Orofino (2012), a média de idade foi um pouco maior (39 anos), enquanto que no de Prado (2011), 35,8% dos pacientes coinfectados estavam na faixa etária de 30-39 anos, revelando um adoecimento na faixa etária economicamente ativa nestes estudos, podendo gerar perdas sociais e econômicas muito importantes, por atingir a fase produtiva do indivíduo. O sexo masculino foi predominante na população estudada, mas superior aos 66% encontrado no Brasil em 2010, de acordo com o Boletim epidemiológico da tuberculose do país (Brasil, 2012). Em estudos nacionais envolvendo a coinfecção TB/HIV também houve predomínio do sexo masculino (DOMINGOS; CAIAFFA; COLOSIMO, 2008; PRADO et al, 2011; SANTOS et al, 2009). Em estudo com população com TB/HIV realizado em Fortaleza entre 2004 a 2008, também houve predomínio do sexo masculino (PIRES NETO et al, 2012). A escolaridade, a indigência e a situação ocupacional não foram associadas ao risco de abandonar o tratamento, porém, verificou-se na população estudada, que os níveis escolares mais baixos (analfabetismo ou até o 1°grau completo) foram maioria juntamente com a situação de desempregado. Em estudo de Paixão e Gontijo (2007), a baixa escolaridade e o desemprego também não foram considerados fatores de risco para o abandono do tratamento na análise multivariada do estudo caso-controle, mas também foram predominantes na amostra. Em contrapartida, no estudo de coorte com pacientes tuberculosos realizado por Orofino et al (2012), aqueles com escolaridade até o ensino fundamental tiveram um risco relativo de abandonar o tratamento 3,58 maior dos que aqueles com nível superior. Em estudo qualitativo realizado por Rodrigues et al (2010) com profissionais de saúde de uma Unidade de Referência em tratamento para TB/HIV no estado do Pará, os entrevistados consideravam que os fatores socioeconômicos interferiam de forma significativa para o abandono do tratamento. No estudo com pacientes coinfectados TB/HIV realizados por Prado et al (2011) o risco de abandonar o tratamento foi 1,3 maior naqueles com escolaridade de um a três anos, quando comparados com aqueles de tinham três ou mais anos de estudos. 43 A baixa escolaridade e o desemprego podem ser considerados reflexos da pobreza dos pacientes. Com isso, vê-se o grave problema social que é a TB, pois acomete pessoas com pouca escolaridade, com baixo poder aquisitivo, semelhante ao perfil epidemiológico da infecção pelo HIV. Então, estas duas infecções além de estarem clinicamente ligadas, poderiam ter uma ligação socioeconômica. existiria uma tríade miséria-TB- aids? A situação conjugal apresentou associação significativa com o desfecho do tratamento. Os casados ou em união estável tiveram menos chances de abandonar o tratamento quando comparados aos solteiros. O tabagismo ocorreu na maioria da população estudada, mas não foi associado ao abandono. No entanto, no estudo de Costa (2014) os pacientes tabagistas tiveram uma chance 2,23 vezes maior de abandonar o tratamento quando comparados com aqueles que não fumavam. De acordo com o PNCT (2011), há uma sinergia negativa entre o tabagismo e a TB. O fumo colabora para o desenvolvimento de lesões necróticas graves ou cavitárias e torna o processo de cicatrização pulmonar mais lento, favorece as recidivas da doença e persistência de sintomas respiratórios. De acordo com a III diretrizes para a tuberculose da sociedade brasileira de pneumologia e tisiologia (2009), Pacientes HIV-positivo têm menor rendimento de BAAR no escarro, maior prevalência de infecção por MNTB e maior incidência de TBMR. Assim, além da pesquisa de BAAR, devem ser solicitadas cultura, identificação e teste de sensibilidade. Na população estudada, o caso novo foi responsável pela maioria das notificações, inclusive foi considerado como fator de proteção para o abandono, demonstrando a importância do autocuidado coma saúde e de se adotar medidas como o tratamento diretamente observado (DOTs) nesses pacientes. O diagnóstico presuntivo ocorreu em 38,29% dos pacientes, sendo predominantes a presença de características clínicas e epidemiológicas ou a presença de RX sugestivo, no entanto, nào esteve associado ao abandono do tratamento. 44 A epidemia do HIV aumentou os casos de TB pulmonar- negativo e de casos extrapulmonares, que estão relacionados a uma maior mortalidade quando comparados aos casos bacilíferos, devido a uma dificuldade para estabelecer o diagnóstico, comprometendo ainda mais a saúde do indivíduo. Em meta- análise realizada por Getahun (2007) com pacientes coinfectados TB/HIV, a proporção de casos pulmonares negativos variou entre 24% a 61% em 15 estudos analisados pelos autores. No estudo de Carvalho et al (2008), com pacientes coinfectados TB/HIV, dos 96 pacientes que realizaram algum exame bacteriológico para confirmação da TB, 67,71% tiveram resultado negativo, demonstrando uma maior dificuldade em identificar o bacilo nas amostras biológicas. Para Koole e Colebunders (2011) se faz necessário encontrar formas mais rápidas e eficazes para diagnosticar e tratar o mais precocemente possível a TB com BAAR negativo, utilizando, por exemplo, algoritmos já validados para diagnostico e tratamento destes pacientes e também desenvolver novas técnicas diagnósticas, rápidas, específicas e que também detectem presença de bacilos resistentes a drogas anti-TB. Outro algoritmo ou sistema de escore para diagnosticar casos de TB BAAR negativos foi validado por Coimbra et al (2014), utilizando pacientes coinfectados TB/HIV em Pernambuco. O estudo revelou que esse sistema tem acurácia semelhante a outros já existentes e tem uma boa capacidade de identificar pacientes com TB extrapulmonar. Esse sistema é baseado no utilizado para o diagnóstico de TB em crianças no Brasil. O tempo médio entre o princípio dos sintomas e o início do tratamento foi longo, em torno de 99,2 dias (DP±146,9), favorecendo o agravamento dos sintomas, e do estado geral do doente. Dentre os motivos para a demora da determinação da doença destacam-se a necessidade de vários exames diagnósticos e dificuldade em identificar a presença do bacilo da tuberculose nos materiais biológicos como o escarro, haja vista o paciente com HIV/aids possuir um rendimento menor das secreções pulmonares e geralmente apresentar uma reduzida quantidade do bacilo nos tecidos. O espaço de tempo prolongado, em torno de 14 semanas, para o iniciar o tratamento foi superior a do estudo de Maior (2012) com pacientes diagnosticados em unidade básica de saúde que foi em torno de 11 semanas. Neste estudo os 45 fatores relatados pelos pacientes para demorarem a procurar o atendimento foram: não se perceberem doentes, falta de tempo para procurar uma unidade de saúde, achar que melhorariam espontaneamente. As formas clínica pulmonar predominou e juntamente com a forma extrapulmonar foram associadas ao abandono do tratamento, mas não tiveram significância estatística no modelo multivariado final. Esse predomínio da forma pulmonar vai de encontro aos achados de outros estudos, em que as formas extrapulmonar e disseminada são mais frequentes, como no de Orofino et al (2012); Pires Neto et al (2012) e Prado (2011). O tratamento da coinfecção TB/HIV nem sempre se resume a ingesta dos medicamentos tuberculostáticos e da TARV. Em muitos casos há o uso concomitante de medicamentos para tratar ou prevenir as diversas doenças oportunistas e outras comorbidades dos pacientes, como a diabetes, doenças mentais, as doenças cardiovasculares, dentre outras. Foram fatores de proteção para o abandono o uso concomitante de outros medicamentos para a profilaxia ou tratamento de doenças oportunistas ou de comorbidades; apresentar toxicidade ou reações adversas ao tratamento anti-TB e usar a TARV. O uso concomitante de outros medicamentos poderia favorecer a melhora do estado geral desses pacientes, pela remissão dos sintomas relacionados às doenças oportunistas e às comorbidades. A presença de reações adversas seria capaz de intensificar no paciente a sensação de gravidade da tuberculose e a necessidade de aderir ao tratamento para sua própria sobrevivência. O uso da TARV além de favorecer a melhora imunológica, promoveria uma percepção da necessidade de cuidado com a saúde individual, uma comprovação de que é portador de uma doença crônica e que se não tratada é potencialmente fatal. Os usuários de drogas ilícitas durante o tratamento da TB tiveram um risco maior em abandonar o tratamento do que aqueles que não o fizeram. O uso dessas drogas poderia prejudicar o autocuidado desses pacientes, como também o relacionamento com membros da equipe de saúde, a percepção de estarem doentes e precisarem aderir a um esquema terapêutico de longa duração. O acesso à droga seria prioritário em detrimento da própria saúde. Para Rodrigues et al (2010), um fator importante para o abandono do tratamento seria o uso de drogas, devido às dificuldades relacionadas à 46 dependência química e conseguir manter a responsabilidade individual de cuidar da própria saúde. No estudo de Costa (2014), houve um risco 4,9 vezes maior de abandonar o tratamento naqueles pacientes que consumiam drogas. Na amostra estudada por Paixão e Gontijo (2007) o uso de drogas também foi fator de risco para o abandono do tratamento. Os pacientes que usaram drogas tiveram um risco 7,12 vezes maior de abandonar o tratamento quando comparados àqueles que não usaram. Reduzir o impacto do uso de drogas como fator de risco para o abandono do tratamento da TB não depende somente da interação profissional de saúde – paciente, mas de uma conjunção de fatores, tais como: formação de grupos de apoio, atendimento psiquiátrico regular, desintoxicação das drogas, suporte social (emprego, ocupação, retorno aos estudos, abrigo para os moradores de rua). O combate ao uso de drogas é um desafio global. O avanço da epidemia do crack, a luta para descriminalização da maconha são temas de discussão e implantação de ações governamentais, especialmente no Brasil, em que no nosso cotidiano nos deparamos com o uso de drogas, destruição de pessoas e famílias pelo tráfico. O uso da TARV ocorreu na maioria dos pacientes, porém, no modelo multivariado, não usá-la durante o tratamento da TB aumentou a chance de abandono. Poderia se considerar que o não uso da TARV, além de ser um fator de risco bem estabelecido para o óbito por TB nos pacientes com aids, poderia ser considerado um fator de risco para o abandono do tratamento da TB. Não usar a TARV poderia reduzir a percepção de estar doente, que a TB não seria tão grave para a saúde, inclusive devido à possibilidade de desaparecimento dos sintomas da TB e melhora do estado geral nas primeiras semanas após o início do tratamento, o que o paciente poderia interpretar de forma equivocada, como cura da doença. De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Manejo da Infecção pelo HIV em Adultos (2013), A doença ativa pelo M. tuberculosis, independentemente da forma clínica, constitui uma indicação de início da TARV. A 47 decisão terapêutica mais complexa diz respeito ao momento de iniciá-la. A recomendação da OMS (2012) é o início precoce da TARV nos primeiros quinze dias de tratamento da TB nos pacientes com contagem de CD4< 50células/μl e o mais precoce possível nos outros pacientes. O Ministério da Saúde do Brasil (2013) recomenda que a TARV seja iniciada na 2ª semana após o início do tratamento da TB para aqueles pacientes com sinais de imunodeficiência e/ou com a contagem de CD4< 200 células/μl. Para os demais pacientes, deve-se iniciar na 8ª semana, época que termina a fase intensiva do tratamento da TB. O início concomitante da TARV e do esquema anti-TB continua contra-indicado, devido ao maior risco de desenvolvimento de toxicidade, dificuldade de identificar a medicação envolvida nas reações adversas e consequente diminuição da adesão ou abandono do tratamento. No estudo de Pires Neto et al (2012), o uso da TARV foi mais frequente naqueles pacientes que conseguiram concluir o tratamento da tuberculose. Em contrapartida, o estudo de Orofino (2012), o não uso da TARV favoreceu o término do tratamento em pacientes com TB. Segundo Jamal e Moherdaui (2007), Ao paciente coinfectado, há necessidade de atendimento multidisciplinar que inclua assistência médica e psicológica, serviço social, acompanhamento jurídico e referências para encaminhamentos a outras especialidades e estruturas de apoio, muitas vezes disponíveis em organizações não governamentais (ONG). Além disso, o paciente necessita de estímulo à adesão a ambos os tratamentos e de estrutura capaz de resgatá-lo do abandono ou do uso irregular dos medicamentos, quando necessário. Em editorial publicado na Revista The Lancet (2014), Mohsin Alin relata que em estudo realizado na União Europeia assentiu a necessidade de intervenção nos seguintes determinantes da TB; social, político, legal (imigração), cultural e econômico. Para o autor, a história da tuberculose nos mostra que somente através 48 do esforço conjunto entre o setor saúde e o social é se conseguirá controlar os fatores biossociais determinantes da tuberculose. De acordo com o PNCT (2011) diante da complexidade dos determinantes da doença em relação com a pobreza, é necessário manter uma articulação entre setores governamentais, não governamentais e instituições de ensino e pesquisa com o objetivo de reduzir o estigma, promover direitos humanos, proteger socialmente os pacientes com TB. Diante do exposto, percebe-se que existe um desafio a ser enfrentado para se conseguir que o paciente coinfectado pela TB/HIV tenha êxito no seu tratamento, quebrando a cadeia de transmissão da tuberculose na nossa sociedade e favorecendo o aumento da expectativa de vida dessas pessoas. 49 7 LIMITAÇÕES Durante o processo de pesquisa foram encontradas algumas limitações: 1. Identificar quais as barreiras para iniciar a TARV nos pacientes com tuberculose. 2. Investigar as variáveis relativas ao serviço e a associação com o desfecho do tratamento. 3. Investigar a condução do uso da polifarmácia. 50 8 CONCLUSÕES A coinfecção foi mais frequente nos jovens, no sexo masculino, solteiros, desempregados, analfabetos ou com 1°grau incompleto, mostrando um cenário de vulnerabilidade socioeconômica que permeia a TB há muito tempo. Foram fatores de proteção para o abandono, estar casado ou em união estável, ser caso novo de tuberculose, usar outros medicamentos, apresentar reações adversas e usar a TARV. Houve uma chance maior de abandonar o tratamento naqueles pacientes que ingeriam bebida alcoólica, em retratamento para tuberculose, tiveram o diagnóstico de formas pulmonar ou disseminada. Utilizar droga ilícita, não usar medicamentos para o tratamento de comorbidades ou doenças oportunistas e não utilizar a TARV foram condições que, em conjunto, geraram um maior risco para o abandono do tratamento da tuberculose em coinfectados. 51 9 RECOMENDAÇÕES Diante dos resultados encontrados algumas recomendações podem ser sugeridas: 1. Realização de mais pesquisas envolvendo o abandono do tratamento da tuberculose, especialmente nos coinfectados pelo HIV/aids; 2. Fortalecer a interdisciplinaridade no cuidado a esses pacientes, favorecendo as formas de cuidar inerentes a cada profissão e a adesão ao tratamento da tuberculose, haja vista que o abandono do tratamento é multifatorial e não abrange somente aspectos clínicos/ farmacológicos, mas também sociais ou psicológicos. 3. Implantação e consolidação da estratégia DOTS em parceira com a rede de atenção primária à saúde do município de Fortaleza. 4. Desenvolvimento de políticas para ampliar o acesso e aprimorar o tratamento da dependência química. 5. Desenvolver estratégias de combate ao uso de bebidas alcoólicas, tabagismo. 6. Iniciar precocemente a TARV nos coinfectados, de acordo com as recomendações terapêuticas atuais. 7. Implantar grupos de adesão ao tratamento com enfoque maior no manejo das medicações prescritas, esclarecendo as indicações para o uso, as possíveis reações adversas. 8. Facilitar o atendimento hospitalar ou ambulatorial das intercorrências clínicas durante o tratamento. 52 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, M. F. M. et al. Fatores prognósticos para o desfecho do tratamento da tuberculose pulmonar em Recife, Pernambuco, Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública, Washington, v. 9, n. 6, p. 368-374, 2001. Disponível em: <http://www.scielosp.org>. Acesso em: 5 fev.2012. ALBUQUERQUE, M. F. P. M. et al. Factors associated with treatment failure, dropout, and death in a cohort of tuberculosis patients in Recife, Pernambuco State, Brazil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 23, n. 7, p. 1573-1582, 2007. Disponível em: < http://www.scielosp.org>. Acesso em: 5 fev.2012. ALIN, M. Treating tuberculosis as a social disease. The Lancet, Philadelphia, v.383, n. 9936, p. 2195, June. 2014. Disponível em: < http://thelancet.com>. Acesso em 3 jul. 2014. BIERRENBACH, A. L. et al. Incidência de tuberculose e taxa de cura, Brasil, 2000 a 2004. 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Boletim de Saúde de Fortaleza/ Secretaria Municipal de Saúde (SMS) Tuberculose: v. 14, n. 2, jul./dez.,2010. SECRETARIA DA SAÚDE DO ESTADO DO CEARÁ. Informe epidemiológico – aids, nov. 2011. **______. Boletim epidemiológico – tuberculose, fev. 2013. SECRETARIA MUNICIPAL DE SAÚDE DE FORTALEZA. Boletim de saúde de Fortaleza/Secretaria municipal de saúde (SMS) Tuberculose, v. 14, n.2, jul./dez. 2010. VENDRAMINI, S. H. F. et al. Análise espacial da co-infecção tuberculose/HIV: relação com níveis socioeconômicos em município do sudeste do Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, Uberaba, v. 43, n. 5, p. 536-541, out. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/>. Acesso em 5 fev.2012. VIEIRA, M. L. G.; LEITÃO, G. C. M. Tuberculose: a realidade documentada do Centro de Saúde Flávio Marcílio, em Fortaleza-CE. Revista Rene, v. 6, n. 3, p.71-75, set./dez.2005 2012. Disponível em: <http://www.revistarene.ufc.br/>. Acesso em 5 fev.2012. WAJANGA, B.M.K. et al. 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Disponível em: < http://www.thelancet.com>. Acesso em 05 jul.2014. 57 APÊNDICE A - TERMO DE SOLICITAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA EM PRONTUÁRIOS Fortaleza, ___ de __________ de 201_. Ilma. Sr (a) Chefe do Serviço de Arquivo Médico – SAME Unidade de Saúde: Hospital São José Prezada Sr (a), Solicito autorização para revisar prontuários de pacientes incluídos no projeto de pesquisa denominada ABANDONO DE TRATAMENTO PARA TUBERCULOSE EM PACIENTES COINFECTADOS COM HIV/AIDS EM FORRTALEZA: FATORES ASSOCIADOS. O projeto será submetido à apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa do HSJ. Sem mais para o momento, aguardo manifestação em tempo oportuno. Atenciosamente, __________________________________________ Dr. Roberto da Justa Pires Neto Departamento de Saúde Comunitária Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Coordenador do Projeto 58 APÊNDICE B: TERMO DE FIEL DEPOSITÁRIO: MATERIAL NÃO BIOLÓGICO Pelo presente instrumento que atende às exigências legais, o(a) Sr.(a)_____________________________________________________, RG:________________, depositário(a) dos Cargo:_________________, documentos consubstanciados Função:_____________, nos PRONTUÁRIOS da instituição _____________________________, (NOME DA INSTITUIÇÃO), situada à ________________________________(ENDEREÇO), FORTALEZA,CEARÁ,após ter tomado conhecimento do protocolo de pesquisa ABANDONO DE TRATAMENTO PARA TUBERCULOSE EM PACIENTES COINFECTADOS COM HIV/AIDS EM FORRTALEZA: FATORES ASSOCIADOS, que tem como objetivo Caracterizar os fatores associados ao abandono do tratamento da tuberculose em co-infectados HIV/aids atendidos em Centros de Referência de Fortaleza no período de 2004 a 2011, vem, na melhor forma de direito, AUTORIZAR_________________________________________________________ ______ (PESQUISADOR RESPONSÁVEL: NOME COMPLETO POR EXTENSO, RG, PROFISSÃO, ENDEREÇO) a coletar dados para instrumentalização do protocolo de pesquisa, ficando este responsável solidariamente, pela guarda e custódia dos dados e informações que receberam do depositário, resguardando os direitos assegurados pela resolução 196 de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, em especial: • Garantia da privacidade, da confidencialidade, do anonimato e da não utilização das informações em prejuízo dos envolvidos ou de terceiros; • Emprego dos dados somente para fins previstos nesta pesquisa. Fica claro que o fiel depositário pode, a qualquer momento, retirar sua AUTORIZAÇÃO e ciente de que todas as informações prestadas torna-se-ão confidenciais e guardadas por força de sigilo profissional do pesquisador responsável. (CÓDIGO DE ÉTICA PROFISSIONAL DO SOLICITANTE) Fortaleza,Ce. ___de__de 201_. _____________________________ Nome do fiel depositário 59 ANEXO A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PROJETO ADESÃO INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS Nº:_________ IDENTIFICAÇÃO: NOME: __________________________________________________________________ PRONTUÁRIO: ____________ SERVIÇO ORIGEM: 1 HSJ 2CEMJA 3HGF 4HUWC 5OUTRO DATA NASC: ____/____/______ Qual? __________________________________ IDADE: ______ NATURALIDADE: _______________________ - Estado______ GÊNERO: 0masculino 1feminino NOME DA MÃE: _______________________________________________ SITUAÇÃO CONJUGAL: 1solteiro 2casado 3junto/amigado 4divorciado 5desquitado/separado 6viúvo 9SR COR DA PELE: 1branco 2negro 3pardo 4amarelo 5índio 6SR ESCOLARIDADE:1analf 21ºinc 31ºcom 42ºinc52ºcom 6sup 7pós-grad 9SR ANOS DE ESTUDO: _______ PROFISSÃO:_________________________________ SITUAÇÃO OCUPACIONAL: 1empregado 2desempregado 3autônomo 4empregador 5fazendo bico 6dono negócio familiar 7outro ____ 9SR RENDA:R$________________________ ENDEREÇO:________________________________________________________________________________________ CIDADE:__________________________ESTADO:_____BAIRRO:___________________ CONTATO:______________ TUBERCULOSE: 1sim 0não DATA DOS PRIMEIROS SINTOMAS:___/___/_____ DATA DO 1º ATENDIMENTO NO HOSP:___/___/_____ DATA DIAGNÓSTICO:___/___/____ INTERNAÇÃO:1sim 0não – Se sim:ADM:___/___/____ ALTA:___/___/____ CASO: 1novo 2retratamento – se sim, quando: ________ 3abandono 4recidiva <5a 5Recidiva >5a 6falha FORMA: 1pulmonar 2pulmonar+extra-pulmonar 3extra-pulmonar. LOCAL SE EXTRA-PULM: ___________ 60 CONDIÇÕES ASSOCIADAS: INDIGÊNCIA 1sim 0não 9SR MOROU EM ASILO 1sim 0não 9SR RECLUSÃO 1sim 0não 9SR SE RECLUSÃO: ______ anos 99SR TABAGISMO1jamais2ex-fumante3fumante 9SR USA DROGAS ILÍCITAS? 1sim 0não 9SR SE FUMANTE: _____ anos ____ cigarros/dia 99SR SE DROGA ILÍCITA, QUAL? _____________ 9SR SE DROGA ILÍCITA, FREQ? _____________ OBS: 9SR CONSUMO BEBIDA ALCOÓLICA 1sim 0não QUAL? 9SR _________________________________________ DOENÇA PSIQUIÁTRICA 1sim 0não 9SR DIABETES 1sim 0não 9SR ASMA 1sim 0não 9SR ENFISEMA 1sim 0não 9SR MEDICAMENTO 1sim 0não 9SR QUAL? _________________________________________ QUEM? ________________QUANDO? ______________ OBS: CONTACTANTE DE TB 1sim 0não 9SR PEGA DA BCG 1sim 0não 9SR OUTRAS CONDIÇÕES: _______________________________________________________________________________ SINTOMAS: S1 N0 SR9 S1 N0 SR9 S1 N0 SR9 Tosse 1seca 2produtiva Febre:1cont 2inter Tempo: ______ dias Perda de Peso Quanto: _______ kg Cefaléia Hemoptóicos Sudorese Noturna Anorexia Adinamia/astenia Dor torácica 61 Dispnéia Náuseas Linfadenopatia Vômitos Rouquidão Icterícia OUTROS SINTOMAS: ________________________________________________________________________________ DIAGNÓSTICO: TIPO: 1confirmado (1baciloscopia 2cult 3histopat) 2presuntivo (1clínico-epid 2resp tto 3histopat 4imagem) BAAR 1º ESCARRO: 0neg 1+ 2++ 3+++ 9NR DATA 1º BAAR: ____/____/______ BAAR 2º ESCARRO: 0neg 1+ 2++ 3+++ 9NR DATA 2º BAAR: ____/____/______ BAAR 3º ESCARRO: 0neg 1+ 2++ 3+++ 9NR DATA 3º BAAR: ____/____/______ BAAR LBA ou ASPIRADO TRAQUEAL: 0neg 1+ 2++ 3+++ 4ign 9NR BAAR OUTRO MATERIAL __________: 0neg 1+ 2++ 3+++ 4ign 9NR DATA : ____/____/______ DATA : ____/____/______ CULTURA ESCARRO:0neg 1+ 9NR MICOBACTERIA:1tuberculosis 0atípica:____ DATA: __/__/____ CULTURA _________:0neg 1+ 9NR MICOBACTERIA:1tuberculosis 0atípica:_____ DATA: __/__/____ CULTURA _________:0neg 1+ 9NR MICOBACTERIA:1tuberculosis 0atípica:_____ DATA: __/__/____ ANTIBIOGRAMA: 9NR 1sensível 2resistente: que drogas: _________________________________________ PPD: ______mm 0arreator 1reator fraco 2reator forte 9NR DATA : ____/____/______ RAIO-X TORAX: 0normal 1alterado - 1típico 2atípico DATA : ____/____/______ 1Inf Alveolar 2Inf Interst 3Inf Misto 4Miliar 5Cavit 6Nódulo 7Fibrose 8Der Pleural 9Adenomeg 10Calcific HISTOPATOLÓGICO: ______________________________ ____________________________________________________ TRATAMENTO: OUTROS: - 62 Data RMP INH PZA EMB SM ETH Outros Motivo da troca TOXICIDADE ÀS DROGAS: 1sim 0não. Se quais? sim, 0/1ALTERAÇÕES DO TGI 0/1HEPATITE MEDICAMENTOSA 0/1RASH CUTÂNEO 0/1ARTRALGIA 0/1NEUROPATIA PERIFÉRICA 0/1ALTERAÇÕES VISUAIS 0/1NEFROTOXICIDADE 0/1ALTERAÇÕES AUDITIVAS 0/1ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS 0/1ALTERAÇÕES PSIQUIÁTRICAS DROGA ENVOLVIDA: 1RFP 2INH 3PZA 4EMB 5SM 6ETH 7OUTRA: OUTROS: ______________ _________________ EVOLUÇÃO CLÍNICA: DESAPARECIMENTO DA FEBRE: ___/___/_____ IRIS: 1sim 0não 9SR MELHORA DO ESTADO GERAL: ___/___/_____ INÍCIO: ___/___/_____ DURAÇÃO: _______ dias Se IRIS, sintomas: _________________ SINAIS E SINTOMAS DISPNÉIA 15 DIAS 1º MÊS 2º MÊS 3º MÊS 4º MÊS 5º MÊS FEBRE TOSSE ADINAMIA ANOREXIA NÁUSEAS VÔMITOS ICTERÍCIA 63 6º MÊS 7º MÊS 8º MÊS 9º MÊS 10º MÊS 11º MÊS 12º MÊS EVOLUÇÃO LABORATORIAL: Início Data BAAR Cultur Raio X Hb Leuc Neut Linf Plaq TGO TGP Bil D Bil I FA TAP 0Pior 1Melhor 2Inalter 15 dias 1ºme s 2ºme s 3º mes 4º mes 5ºme s 6ºme s 7ºme s 8ºme s 9ºme s 10ºme s 11ºme s 12ºme s 64 Alb Amil UR CR LDH CD4 %CD 4 CD8 %CD 8 CD4/ CD8 CV Log Peso HBsAG: 1pos 0neg ANTI-HBcT: 1pos 0neg ANTI-HBs: 1pos 0 neg ANTI-HVC: 1pos 0 neg OUTROS: ___________________________________________________________________________________________ DESFECHO: 1cura 2termino tto 3mudança diag 4abandono 5transferência 6óbito 7 8ignorado 9SR HIV: 1sim 0não DATA DIAGNÓSTICO HIV:___/___/_____ DIAG HIV DEVIDO TB? 1sim 0não 9SR AIDS: 1sim 0não 9SR - se sim, devido à: 0/1doença definidora de AIDS 0/1CD4<200 cél DATA DIAGNÓSTICO AIDS: ___/___/_____ ESTADIAMENTO NO DIAG TB: 1A1 2A2 3A3 4B1 5B2 6B3 7C1 8C2 9C3 10ignorado 99SR 65 DOENÇAS DEFINIDORAS DE AIDS (DATA):____________________________________________________________ DOENÇAS OPORTUNISTAS (DATA):__________________________________________________________________ OUTRAS PATOLOGIAS ASSOCIADAS: _______________________________________________________________ TARV: 1sim 0não 9SR INÍCIO: ___/___/_____ Data Drogas Motivo da troca PARÂMETROS IMUNOLÓGICOS E VIROLÓGICOS (Antes da TB): Data CD4+ %CD4+ CD8+ %CD8+ CD4/CD8 CV Log OUTRAS INFORMAÇÕES: _____________________________________________________________________________________________________ QUESTIONÁRIO COMPLETADO EM: ___/___/_____ PESQUISADOR: ______________________________ 66 ANEXO B - PARECER CEP 67 68 69