DESCARTANDO UM PARADIGMA Prof. Dr. Artur Santos Dias de Oliveira Fundação Universidade do Rio grande Av. Itália s/n – Km 8 – Campus Carreiros – Rio Grande (RS) e-mail: [email protected] Departamento de Física ABSTRACT The aim of this paper is to show the importance of behavior changing necessity and the transition from the Cartesian thinking model to the systemic understanding and the relationships between nature and human existence, their interdependence to explain the life at the planet as well as identify some procedures and activities in order to contribute for the life quality preservation and improvement at Earth. KEYWORDS: new paradigm, ecology, environment RESUMO Este trabalho busca mostrar a necessidade de uma mudança de comportamento e a transição da forma de pensar, do modelo cartesiano para o pensamento sistêmico, o entendimento da presença do homem na natureza e as relações de existência, interdependentes e indissociáveis, no planeta, assim como identificar procedimentos e atividades, compatíveis com o novo pensamento, que possam contribuir para a preservação e melhoria da qualidade de todo o tipo de vida na Terra. PALAVRAS CHAVE: novo paradigma, ecologia, ambiente INTRODUÇÃO O conhecimento científico entrou em crise quando pesquisadores, mormente em Física, considerada como o modelo para as demais ciências naturais, defrontaram-se com resultados que fugiam das expectativas do que era para ser uma ciência exata. As pesquisas em Mecânica Quântica mostraram que a certeza passava a dar lugar à probabilidade; a existência apresentava-se como a tendência de existir; a matéria perdia sua característica definitiva de solidez. Encaminhava-se a Ciência para uma direção oposta em relação ao processo de sua compreensão. As conseqüências eram inevitáveis: tudo o que se estudou estava errado? Em realidade, a nova percepção, trazida pelas experiências do mundo invisível da Física Quântica, proporciona e impõe uma nova forma de pensar, eis que todo o nosso conhecimento está atrelado ao modelo cartesiano, que adaptava-se à época de sua adoção, entretanto não permite mais explicar o que acontece, à luz das novas descobertas. Com base no pensamento cartesiano, não somente as máquinas, mas também os seres vivos são considerados como um mero conjunto de componentes que associados passam a ter existência, e sua compreensão pode dar-se através do entendimento de cada uma das peças, pela desmontagem do todo. Uma das conseqüências mais sérias dessa maneira de pensar foi a fragmentação do conhecimento. A fragmentação do conhecimento, em função da adoção do modelo cartesiano, mecanicista, de considerar o mundo, promoveu distorções de comportamento, capazes de provocar danos ambientais importantes. Essa crise de percepção, desconsiderando o homem como fazendo parte de todo o sistema, como indissociável dele, e a não observação da interdependência da teia de informações que, em verdade, relaciona a troca de matéria, energia e informação, remete o homem à pressa de tentar resgatar o que ainda é possível no sentido da qualidade de vida no planeta. Essa nova consideração, esse novo paradigma, considera o homem como parte integrante e não como o observador externo; identifica o ser humano com a própria natureza e não como seu dominador; caracteriza as conseqüências das transformações do planeta, que o homem propicia, em relação direta com a sua existência, eis que o ecossistema global é um todo interdependente, em que as partes são indissociáveis e solidárias nas atitudes e nos efeitos. Quem faz, a si faz! Destarte, procuramos, neste trabalho, elencar a fundamentação teórica a respeito do pensamento sistêmico, associada à concepção de uma ecologia profunda, que coloca o homem como parte integrante do meio ambiente e, dessa forma, discutir práticas possíveis de ação local no sentido de contribuir para a melhoria da qualidade de todo o tipo de vida no planeta. 1- O PARADIGMA CARTESIANO E SUAS IMPLICAÇÕES O conhecimento analítico que leva ao estabelecimento de especializações demasiadas produz a perda da perspectiva de referenciais que permitam perceber o homem como ser participante do mesmo meio, tornando-se ele mesmo a própria referência. Os muros físicos das propriedades apropriam-se de rios, lagos, ilhas, vegetação e bens naturais tão difusos quanto o ar que retorna rico em ácidos, quanto as águas que saem pródigas em dejetos cloacais ou prenhes de metais pesados, quanto as árvores que perdem o seu verde original, branqueadas por compostos clorados ou se substituem por outros verdes culturais, com a promessa legal de irem para longe dali, não importando para onde, embora se saiba que longe é perto de outrem (OLIVEIRA, 1999, p.43). 1.1- A ECONOMIA E O AMBIENTE O modelo que parece regular a existência do homem, que se diz civilizado, é regido pela mão sedutora da economia, sobre a qual refere-se Hazel Henderson, como não sendo ciência mas, meramente política disfarçada (CAPRA, 1988, p.191). Quando se falou em fundar uma cadeira de Economia Política em Oxford, há 150 anos, muitas pessoas não ficaram absolutamente felizes ante a possibilidade... Edward Copleston, Prefeito do Oriel College não quis admitir no currículo da Universidade, uma ciência ‘tão propensa a usurpar as demais’... Henry Drummond, de Albury Park, que dotou a cadeira com recursos, em 1825, julgou necessário deixar clara a sua esperança de que a Universidade mantivesse o novo estudo ‘em seu lugar’. O primeiro professor, Nassau Senior, não estava certamente disposto a ser mantido em lugar inferior. Imediatamente, em sua conferência inaugural, predisse que a nova ciência ‘se colocará na estima pública entre as primeiras das ciências morais em interesse e utilidade’ e afirmou que ‘a busca da riqueza é para a massa da humanidade, a grande fonte de aperfeiçoamento moral’. (SCHUMACHER,1981, p. 35) A economia passou a fascinar os seres humanos que passaram a fazer contas, como que numa competição sem limites e sem regras naturais. A regulamentação do exercício econômico passou a fazer parte da cultura. O processo de exclusão de parcelas fundamentais do sistema global passou a ser a prática mais corriqueira. O homem excluía-se da natureza para dominá-la, segundo o seu entendimento. A partir dessa análise do conhecimento e a perda do senso de integração entre homem e natureza, foi o ser humano traçando suas próprias regras, no sentido de usufruir de acordo com sua forma egoísta de pensar, como se todo o resto estivesse a seu serviço. 1.2- O DIREITO E O AMBIENTE O sustentáculo da economia é o direito positivo. À luz dos interesses antropocêntricos são traçados os regulamentos humanos, desconhecendo a interdependência interativa entre ser humano e meio. Esse modelo faz com que não se questione se uma norma é justa, ética ou que seja eqüânime, senão que se perquira sobre a sua eficácia ou adequação ao momento político ou econômico que se viva. O homem perde o todo como referência e dá-se origem a um referencial simplificado que administre suas necessidades atuais. Cabe salientar que somente alguns homens traçam as referências de toda a humanidade e de todo o lugar dela, nesse mundo globalizado dos nossos tempos (OLIVEIRA, 1999, p.41). Trocam-se, na linguagem corrente, direito significando justiça; econômico significando vital. Liberdade assume o sentido de insubordinação; a moeda e seu poder de aquisição assumem a vez da qualidade de vida. 1.3- CONSTATAÇÕES PREOCUPANTES Até hoje, o homem degradou o ambiente por considerar os recursos naturais como bens de consumo, ao seu dispor. Mesmo economicamente falando, não havia percebido o ser humano a dilapidação dos recursos naturais, por óbvio que finitos. Acabaria por limitar no tempo as suas atividades e o conforto capaz de ser retirado da exploração não seria mais do que temporário. A sustentabilidade do planeta começa pelo entendimento de que outras gerações virão depois de nós. Portanto, a escala de tempo é a dimensão ética do comportamento ecológico. Destarte,” há que redefinir a Terra como capital (?) e não como bem de renda, com identificação de seus três principais papéis: provisão de insumos para o processo econômico; provisão direta de serviços ambientais (regulação climática, ciclos hidrogeoquímicos e assim por diante) e absorção de resíduos” (MERICO, 1996, P.19). Tanto como receptora de resíduos como fonte de materiais e energia, a biosfera vem demonstrando fortes sinais de seus limites. Algumas das alterações impostas pelo processo econômico parecem ser irreversíveis, outras, muitos difíceis de reverter. O que antes era considerado serviço proporcionado gratuitamente pela natureza, tem aparecido fortemente associado a custos. Talvez, pelo fato de que parte da natureza não seja apropriada nem por indivíduos nem por nações, os custos da degradação ambiental e do consumo de recursos naturais não têm sido computados nos processos econômicos. Para que o processo econômico continue a ser produtivo, entretanto, um preço terá que ser pago para a limpeza dos oceanos, rios e lagos, para se restaurar a qualidade do ar, para se recuperarem solos, florestas, populações de peixes, para se restaurar a camada de ozônio... (MERICO, 1996, p.23). Merico (1996, p.25-27), citando estudiosos em relação aos limites do ambiente natural, tais como Zylberstjan (1992), Vitousek et al. (1986), Goodland (1991) e Pimentel (1987), apresenta um elenco de sintomas da agressão do homem ao seu meio, a saber: a) Apropriação humana dos produtos da fotossíntese. Os seres humanos utilizam o correspondente a 40 % do potencial global de energia produtora de fotossíntese. b) Aquecimento global. A contínua utilização de combustíveis fósseis, como o carvão, petróleo, gás natural e, ainda, a queima de florestas, tem transposto para a atmosfera uma quantidade imensa de dióxido de carbono, modificando sua composição e alterando o clima do planeta. Mantendo-se esse ritmo, a temperatura da Terra poderá se elevar em até 4,5o C, em média, até o ano 2030 (Zilberstjan apud Merico, 1996). c) Ruptura na camada de ozônio Os gases CFC, pela presença de cloro, são os principais responsáveis pela depleção da camada de ozônio na atmosfera, que retém a maior parte dos raios ultravioleta “b”, permitindo a existência da vida. A relação entre o aumento da radiação, câncer de pele e cataratas é relativamente bem conhecida: cada 1% de depleção da camada de ozônio resulta em 5% mais de câncer de pele, além de queda do sistema imunológico, aumentando a vulnerabilidade das pessoas em geral e tumores, parasitas e infecções (Goodland apud Merico, 1996). d) Desertificação. Erosão acelerada de solos, salinização e desertificação de áreas são aspectos profundamente negligenciados nos processos de desenvolvimento e que afetam diretamente a sustentabilidade da economia. Mais preocupante é que essa degradação é irreversível em uma escala de tempo interessante para a humanidade. Perdas de solo de 10 a 100 ton/ha/ano podem exceder em até 10 vezes as taxas de formação do solo. Nesse contexto, calcula-se que 6 milhões de hectares por ano são degradados por processos de erosão, salinização e desertificação (Pimentel apud Merico, 1996). e) Extinção da biodiversidade Estimativas conservadoras apontam taxas de extinção da ordem de 5000 espécies extintas por ano, enquanto estimativas menos conservadoras apontam uma taxa de extinção de 150 000 espécies extintas anualmente (Goodland apud Merico, 1996). É impossível calcular o número total de espécies extintas por ação antrópica, uma vez que sequer conhecemos as espécies existentes. f) Utilização indiscriminada de agrotóxicos nos alimentos Poder-se-íam acrescentar a esse elenco de adversidades, acidentes e incidentes graves que o nível de segurança que o ser humano propicia não é capaz de impedir: a) Acidentes com radioatividade São famosos os casos de Tree Miles Island, Chernobyl, Goiânia e mais recentemente no Japão, conseqüências só o tempo será capaz de mostrar, b) Derramamento de petróleo nos oceanos, c) Lançamento de resíduos sólidos e líquidos sem controle de composição no ar, na água e no solo. A lista de irresponsabilidades poderia crescer de forma assustadora, se quiséssemos ser um pouco mais rigorosos. 2- O NOVO PARADIGMA Torna-se importante a mudança de paradigma, que conduza o ser humano a se considerar como parte integrante e interdependente; particípe e co-responsável e, não, dono ou dominador. A degradação ambiental, em função desse comportamento, já atinge níveis insuportáveis, fazendo com que o ser humano passe a se preocupar seriamente, antes que o mal se torne irreversível . Além disso, é fundamental que sejam pensadas algumas coisas importantes sobre a nossa existência: Um número enorme de argumentos e de interpretações errôneas entre pessoas de boa vontade parece ocorrer porque elas não trocam, já no princípio, algumas informações básicas sobre suas percepções. O diálogo pode ser muito mais facilitado se cada um de nós esclarecer, antes de mais nada, qual a posição em que vemos a nós mesmos no tempo e no espaço. Onde está você no sistema total? Como cidadão de seu País? Como membro de uma comunidade local? Em sua maneira de ver, um milênio, um século, cinco anos, três semanas é um ‘longo tempo’? (HENDERSON, 1996, p. 93) Buscamos em Branco (1989, p.61) e Capra (1996, p.53) as referências sobre os estudos de Bertalanffy, um biólogo que formulou a teoria geral dos sistemas, em que o mesmo a utilizou para a construção de uma biologia teórica moderna, em que a concepção organísmica fosse a base do seu pensamento. Essa forma de pensar baseia-se na idéia de que o ser vivo, em lugar de ser constituído apenas de um aglomerado de partículas encaixadas, representa, em verdade, um sistema organizado, sede de contínuas mudanças e movimentos, em que a essência vital e o ânimo da existência não estão ligados às partes, mas surgem da integralidade sistêmica. Isso serve ao ser humano. Gostamos de caracterizar o ambiente da forma como nos percebemos inseridos nele. O ambiente é o homem e o seu lugar. Mais do que isso, é o homem no seu lugar, no seu entorno e a integração sistêmica que se dá entre o homem e o restante interativo, com as suas devidas funções orgânicas de auto-regulação. 2.1- A CULTURA E OS PARADIGMAS A figura 1, a seguir apresenta a evolução da cultura humana, mostrando a relação entre os estágios de desenvolvimento e a crise de percepção que proporcionou o novo entendimento, levando-nos a compreender que a integração com a natureza, que o pensamento sistêmico indica, ocorreu no momento crítico de industrialização do mundo. Pensar, então, o mundo, para o futuro, depende da escala de tempo que pretendamos utilizar. O novo paradigma, integrador, preconiza a preservação dos recursos naturais pensando-se nas gerações futuras. ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO COM O TEMPO SEPARAÇÃO DA NATUREZA ERA DO CAÇADOR ERA AGRÍCOLA ERA DA INDÚSTRIA COLETA PARADIGMA CARTESIANO INTEGRAÇÃO COM A NATUREZA ERA DAS COMUNICAÇÕES ERA DAS ERA DA LIGAÇÕES SUPERAÇÃO PENSAMENTO SISTÊMICO A MUDANÇA DE PARADIGMA COM O TEMPO Fig. 1- A passagem do paradigma cartesiano para o pensamento sistêmico 2.2- A MUDANÇA DE PERCEPÇÃO A preocupação dos seres humanos com a sua existência apresenta um crescimento de percepção que conduziu, durante a história da humanidade, em função das necessidades de integração entre todas as espécies da biosfera, o obrigatório sentimento de mudança de comportamento. A figura 2, a seguir, caracteriza a adoção de um referencial ecocêntrico como fundamental para a vida humana integrada. Assim, o homem passou de seu individualismo para várias etapas de associações grupais, ainda sendo ele como referência, para um pensamento que leva em conta não só os seus semelhantes como também todo o mundo vivo. CRESCIMENTODE PERCEPÇÃOPESSOAL A N T R O P O C E N T R I S M O PAÍS GRUPOS NAÇÕES REGIÃO ETNIA RAÇAS SEXO ASSOCIAÇÕES TRIBOS PREOCUPAÇÃOCOMAS GERAÇÕES FUTURAS LEALDADES GRUPAIS ALÉMDAS FRONTEIRAS GEOGRÁFICAS PARTILHAGRUPAL SOLIDARIEDADE FAMÍLIA GRUPOS VIZINHOS RELAÇÕES INTERPESSOAIS PARTILHA SOLIDARIEDADE INTERESSE PESSOAL NECESSIDADES DE SOBREVIVÊNCIA INDIVIDUAL EGO NÍVEIS SISTÊMICOS Fig. 2- Passagem do antropocentrismo para o ecocentrismo E C O C E N T R I S M O ESPÉCIE HUMANA BIOSFERA PLANETÁRIA TODAS AS ESPÉCIES 2- OBJETIVOS O presente trabalho objetiva mostrar as maneiras de entender o comportamento das pessoas, suas motivações, suas metas e seus instrumentos para o exercício efetivo da sustentabilidade, à luz do novo paradigma que é o pensamento sistêmico. As organizações produtivas, com certeza, reconhecendo os novos tempos, passaram a se comportar diferente do passado. O termo ambiental passou a fazer parte do vocabulário de todos, entretanto, os objetivos do seu uso são diversos. Neste trabalho, pretendemos mostrar as diferenças existentes entre administração ambiental e gerenciamento ecológico, na prática, no sentido de que se identifiquem posturas de mudanças efetivas ou formas de adequação ilusória ao mercado. 3- RESULTADOS A partir do entendimento de uma nova ética eco-cêntrica, em que toda a forma de vida deve ser encarada com o mesmo respeito, começa-se a entender a forma de o ser humano se relacionar com a Terra e tudo o que isso significa. 3.1- REDEFININDO A TERRA Referir-se à Terra, incluindo os seres vivos, como capital natural já é uma forma de reduzir a natureza a um instrumento para uso humano, reduzi-la a um fator de produção como outro qualquer. Por isso, é importante lembrar que este capital é a pré-condição básica, não somente para a existência da produção, mas da existência da própria vida. É fundamental, portanto, a consideração ética de que todas as formas de vida têm direito a existir, independentemente de seu possível uso, identificado, para os seres humanos. 3.2- A CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA E A ADMINISTRAÇÀO AMBIENTAL Há vários motivos que levam as organizações a produzir de maneira mais apropriada, segundo o pensamento sistêmico, sendo que o nível de consciência dos empresários irá determinar o grau do seu compromisso com o meio ambiente. A figura 3 mostra vários estágios de interesse na produção que caracterizam, na sua totalidade, o grande mote para a administração com consciência ecológica. ADMINISTRAÇÃO COM CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA SOBREVIVÊNCIA Economia com consciência ecológica HUMANA CONSENSO Mercado com consciência ecológica PÚBLICO OPORTUNIDADE DE MERCADO Aquisição de novos mercados REDUÇÃO DE RISCOS Diminuição de responsabilização por danos ambientais REDUÇÃO DE CUSTOS Otimização de recursos INTEGRIDADE PESSOAL Atores identificados com a empresa Fig. 3 – Motivos para a administração com consciência ecológica Há, no entanto, uma tendência implícita na maneira como a economia funciona. Os bens e serviços produzidos, ou seja, não naturais, têm preços, os quais podem ser observados no mercado, enquanto os bens e serviços proporcionados pela natureza e as funções gerais dos ecossistemas não podem ser comprados ou vendidos em nenhum mercado. Assim, se deixarmos que a alocação de recursos seja feita pelo livre mercado, a tendência será de exaurir, estressar ou romper o equilíbrio do ambiente natural. ( MERICO, 1996, p.25) Assim, há que se estar atento para a identificação do interesse dos empresários em relação ao meio ambiente. Não raro, o interesse fundamental é a diminuição da responsabilização sobre danos ambientais, o que significaria gasto adicional. Dessa forma, os empresários tornam-se simpáticos aos ecologistas, investindo em processo ou otimizando recursos, de forma indireta. Cabe salientar que nesse caso não existe uma mudança de paradigma, na prática, que norteie a produção, mas um ajuste provocado por motivos legais, ligados à auditoria de cumprimento. Essa atitude é típica do que se chama administração ambiental. Em realidade, a consciência associada à ecologia profunda considera a economia que leve em consideração a sobrevivência humana como fundamental, em sua total extensão, partindo da própria empresa, considerada também como um sistema em si. Assim, começa o sentimento de administrar com consciência ecológica, a consideração pelo social, interno, sendo que a economia com consciência ecológica passa a ser uma conseqüência natural da sinergia promovida pelos diversos interesses assinalados na figura 3. ESTRATÉGIAS PARA ADMINISTRAÇÃO ECOLÓGICA inovação • diminuição do impacto ambiental • vantagem ecológica ao consumidor • cooperação • consideração do ciclo completo de vida do produto além do componente de marketing comunicação Fig.4- Características de uma administração com consciência ecológica Os dias atuais começam a dar mostras de que alguma coisa está mudando no comportamento das pessoas. Em primeiro lugar, a descoberta por parte dos empresários que a gestão ambiental de suas empresas pode representar um mote de marketing verde, acarretando um lucro adicional, promove uma aliança até há pouco tempo impensada, entre os ecologistas e os economistas. A partir daí, podemos começar a pensar em um outro tipo de educação ambiental, capaz de conduzir os meios de produção àquilo que se pode chamar de administração ecológica, um estágio mais apropriado de entender os sistemas. O verde, sem o homem que o perceba, não é cor nenhuma. A administração ambiental carece da dimensão ética, não questiona o paradigma dominante, perpetua a ilusão da economia como uma ciência independente de valores e endossa a ideologia do crescimento econômico. O lucro visível é ainda o único objetivo. A administração ecológica, ao contrário, é movida pela ética ecológica. Envolve uma mudança de pensamento mecanicista para o pensamento sistêmico, e de um sistema de valores baseado na dominação para um sistema de parceria, diríamos mais, de cumplicidade com o meio. Substitui a ideologia do crescimento econômico pela da sustentabilidade ecológica. Analisa as conexões entre questões ecológicas, sociais e de diversidade (CALLENBACH et al., 1996, p.13). A figura 4 apresenta as estratégias e os resultados de uma administração ecológica, com visão de uma ecologia profunda. A década de 80 promoveu em diversos países europeus, notadamente na Alemanha, a consciência de que a prática ecológica nos negócios poderia reduzir os danos ambientais, além de trazer benefícios econômicos. Além disso houve motivações oriundas da cidadania alemã, no sentido da mudança do comportamento impróprio, poluidor. Portanto, não foi o despertar de um pensamento autóctone, mas uma resposta ao clamor de uma sociedade que se dava conta da necessidade de mudança. Esse marco teve como origem três acontecimentos: a) O rápido aumento da conscientização ambiental entre a população em geral, o que teve um efeito significativo entre as preferências do consumidor, juntamente com a ascensão de um vigoroso movimento ecológico; b) O surgimento do protesto tecnológico, dirigido principalmente contra a energia nuclear e outras megatecnologias, como nova forma de protesto político e c) A ascensão do Partido Verde e o seu êxito em introduzir temas ecológicos críticos no diálogo político e no processo legislativo (CALLENBACH et al., 1996, p.25). 4- CONCLUSÕES A leitura de mundo que nos é permitida para o momento, nos deixa algumas conclusões sobre as possibilidades de práticas a adotar para a efetivação da mudança de paradigma. Os novos conhecimentos científicos encaminham, certamente, na direção de um entendimento que caracteriza um novo pacto com a natureza. Um pacto de identidade e de cumplicidade permanentes. Assim, há que se descobrir a forma de promover a conscientização da humanidade, com uma rapidez tal que a escala de tempo seja apropriada para a preservação do ambiente para as futuras gerações. O pacto a que nos referimos é o compromisso da ética para com todos os seres vivos e o respeito devido; o tácito entendimento de que os seres humanos não podem se considerar senhores do futuro. A educação ambiental deve permear todo o conhecimento, promovendo a síntese integradora do pensamento sistêmico, levando a mensagem, já concebida, que os processos ecológicos de produzir são os que mostram mais vantagens econômicas. Promover o entendimento entre ecologistas, academias e empresários para que sejam tomadas atitudes em parceria, mostrando que estamos todos na mesma nave, cada um com sua contribuição e sua limitação, deve ser uma prática permanente. A economia deve levar em consideração passivos sócio-ambientais para a estipulação de indicadores de qualidade de vida. A recuperação do ambiente deve ser prioridade inadiável, economizando energia; utilizando fontes renováveis de energia; aproveitando recursos minerais com parcimônia aceitável, considerando uma escala de tempo que permita às próximas (e as nem tão próximas) gerações, a oportunidade da mesma utilização; não utilizando venenos, nem práticas de destruição aos seres vivos; minimizando a utilização de embalagens; reutilizando produtos; reciclando materiais; modificando-se processos produtivos, na direção desses objetivos, buscando recuperar o ambiente danificado e diminuir a poluição. A pobreza deve ser erradicada assim como a desnutrição. A educação que conduza à consciência deve ser o caminho para os novos tempos. O direito positivo deve regulamentar os modos de produção à luz do pensamento sistêmico, mas a consciência ecológica, nos termos definidos por este deve ser o norte das ações. Assim, pense o ser humano como um fio a teia da vida e não como sendo um fim em si. Não há como voltar atrás no tempo, a cultura e a tecnologia fazem parte do nosso passado e do nosso presente, entretanto, saber usufruir do conhecimento científico com vistas a procurar um equilíbrio harmonioso, administrando a cultura com a natureza e pensar que no futuro outras gerações tripularão esta mesma nave, encaminha o ser humano a sua única vocação intransferível: ser feliz. BIBLIOGRAFIA BRANCO, Samuel Murgel. Ecossistêmica: uma abordagem integrada dos problemas do meio ambiente. São Paulo. Ed. Edgard Blücher , 1989. 141 p. CALLENBACH, Ernest; CAPRA, Fritjof; GOLDMAN, Lenore et al. Gerenciamento ecológico: ecomanegement. São Paulo. Ed. Cultrix, 1993. 203 p. CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo. Ed. Cultrix, 1996. 256 p. COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. 428 p. HENDERSON, Hazel. Construindo um mundo onde todos ganhem: (building a win-win world). São Paulo. Ed. Cultrix, 1996. 387 p. MERICO, Luiz Fernando Krieger. Introdução à economia ecológica. Blumenau. Ed. da FURB, 1996. 160 p. OLIVEIRA, Artur Santos Dias de. Resíduos Culturais. Rio Grande. Ed. da FURG, 1999. 174 p. SCHUMACHER, E. F.. O negócio é ser pequeno: um estudo de economia que leva em conta as pessoas. Rio de Janeiro. Zahar, 1983. 261 p.