Análise microbiológica de terminais de computadores de um

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Análise microbiológica de terminais de computadores de um hospital
de ensino do sul do Brasil
Microbiological analysis of computer terminals in a teaching hospital of southern Brazil
Jairo José Caovilla1-2, Sinara Guzzo Chioquetta2, Kéli T. Andreatta2, Clarissa Oleksinki2, Ana Paula Anzolin2,
Amauri Braga Simonetti1
1
Curso de Medicina da Universidade Federal da Fronteira Sul, Passo Fundo-RS, Brasil; 2Hospital da Cidade de Passo Fundo,
Passo Fundo-RS, Brasil.
Resumo
Objetivo – As infecções relacionadas à assistência à saúde são um problema mundial. A contaminação de pacientes através de mãos e
objetos constitui-se na principal causa de infecção. O objetivo deste foi avaliar a contaminação bacteriana de terminais de computadores
utilizados em diferentes setores do Hospital da Cidade de Passo Fundo-RS (HCPF), analisando o possível papel dos mesmos como fômites
de infecção hospitalar. Métodos – Ao todo foram coletadas amostras de 221 terminais de computadores situados em setores críticos, semicríticos e não críticos. A coleta foi realizada com swab umedecido em solução salina, por fricção, sendo o material semeado em placas
de Petri contendo ágar sangue e ágar MacConkey. As placas foram incubadas a 35-37ºC por 24 horas e as colônias presentes nos meios
de cultura foram identificadas por técnicas convencionais. Resultados – Em 87,5% das amostras houve crescimento de micro-organismos,
sendo identificados 11 tipos de bactérias. Cocos Gram-positivos foram os mais frequentes, com predominância de Staphylococcus coagulase-negativos (44,3%). As bactérias Gram-negativas foram responsáveis por apenas 4,2% dos casos. Não houve diferença significativa
entre os três setores, embora Staphylococcus aureus tenha ocorrido com maior frequência nos setores críticos. Conclusão – Elevados
níveis de contaminação foram observados nos terminais de computadores dos três setores, reforçando a importância da higienização
desses equipamentos para evitar a transmissão cruzada de micro-organismos para os pacientes.
Descritores: Bactéria; Computador; Contaminação; Hospitais; Staphylococcus
Abstract
Objective – Infections related to health care is a global problem. Contamination of patients through hands and objects constitutes the
main cause of infection. The objective of this study was to evaluate the bacterial contamination on computer terminals of different sectors
of the Hospital da Cidade de Passo Fundo-RS (HCPF), to determine their possible role as sources of hospital infections. Methods –
Samples were collected from 221 computer terminals located in critical, semi-critical, and non-critical sectors. The collection was made
by rubbing the terminals with saline solution moistened swabs, then applying to blood and MacConkey agars in Petri dishes. After incubation at 35ºC to 37ºC for 24 hours, any resulting colonies in the medium were identified by conventional methods. Results – There
was micro-organism growth in 87.5% of the samples, identified as 11 types of bacteria. Gram-positive cocci were the most frequent,
predominantly Staphylococcus coagulase-negative. Gram-negative bacteria accounted for only 4.2% of the cases. There was no significant
difference among the three sectors, although critical sectors had a higher frequency of Staphylococcus aureus. Conclusion – High levels
of contamination were observed on computer terminals of all three sectors, re-enforcing the importance of equipment sanitation to
prevent micro-organism cross transmission to patients.
Descriptors: Bacteria; Computer; Contamination; Hospitals; Staphylococcus
Introdução
A contaminação das mãos é o principal fator envolvido na transmissão de infecção hospitalar e sua higienização é considerada a ação preventiva mais simples
e eficaz para prevenção da disseminação microbiana
nesse ambiente6-7. Estima-se que apenas 40% dos trabalhadores de saúde atuam em conformidade com as
práticas de controle e prevenção de doenças em relação
à higiene das mãos8, sendo esta uma possível explicação para a contaminação frequente dos teclados de
computador. Um estudo mostrou que apenas 17% dos
anestesistas realizavam higienização das mãos antes
da anestesia9. Diversos autores relacionam a contaminação de computadores às infecções hospitalares, principalmente em locais críticos dos hospitais, como por
exemplo, Unidades de Terapia Intensiva (UTI) e unidades de emergência2,4,7. Estima-se que, a cada ano nos
Estados Unidos, mais de 2 milhões de pacientes adquirem IRAS, resultando em 90.000 mortes e um custo su-
Ao longo das últimas décadas, a utilização de computadores em ambientes hospitalares tem aumentado
consideravelmente1. Esses equipamentos introduzidos
nas unidades administrativas ou de atendimento aos
pacientes podem servir como reservatórios de agentes
potencialmente patogênicos (fômites). O contato das
mãos dos profissionais de saúde com componentes
contaminados dos computadores e posterior contato
com os pacientes, favorece a disseminação desses micro-organismos no meio hospitalar e o aumento das
infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS)2-3.
Para os pacientes mais debilitados, como por exemplo,
os internados em unidades de terapia intensiva, este é
um risco adicional que pode agravar seu estado de
saúde4. Micro-organismos comumente encontrados em
terminais de computadores são hábeis em sobreviver
por longo período de tempo e resistir à desinfecção5.
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perior a 5 bilhões de dólares10. Tendo em vista a relevância e o impacto das infecções hospitalares, em termos de morbimortalidade e custo econômico, torna-se
importante a adoção de estratégias de vigilância para a
sua redução ou prevenção8.
O objetivo deste trabalho foi avaliar a contaminação
bacteriana de terminais de computadores utilizados em
diferentes setores do Hospital da Cidade de Passo
Fundo-RS (HCPF), analisando o possível papel dos mesmos como fômites de infecção hospitalar.
hospital. A identificação das bactérias foi realizada por
técnicas microbiológicas padronizadas11. O HCPF não
possui protocolo de higienização periódica dos terminais de computadores.
A coleta do material foi realizada com swab umedecido em NaCl 0,15M, friccionando-o contra as teclas e
o mouse. Em seguida, os swabs foram inoculados em
caldo de enriquecimento TSB (Kasvi, Curitiba, BR) e
incubados por aproximadamente 18 a 24 horas em estufa microbiológica a 35-37ºC. A seguir foi realizada
semeadura para isolamento nos meios de cultura ágar
sangue (Oxoid, São Paulo, BR) e ágar MacConkey
(Oxoid, São Paulo, BR). Após 24-48hs de incubação a
35-37ºC, em atmosfera de microaerobiose, as culturas
foram analisadas conforme as características das colônias e coloração de Gram sendo, então, submetidas
aos testes bioquímicos tradicionalmente utilizados para
identificação de bactérias Gram-positivas (testes da catalase e coagulase) e Gram-negativas: TSI, citrato, fenilalanina, MIO, lisina e ágar cromogênico (Oxoid, São
Paulo, BR).
As análises dos dados foram efetuadas no programa
estatístico SPSS (IBM-versão 20) para calcular as frequências de isolamento dos diferentes micro-organismos nos três setores e a significância estatística foi avaliada, utilizando-se o teste de qui-quadrado.
Métodos
O protocolo de pesquisa foi aprovado pelo Comitê
de Ética em Pesquisa da Universidade de Passo
Fundo/RS, atendendo à resolução Nº 466/2012, com
parecer n.º 1.070.248.
Este estudo analítico transversal foi realizado no Complexo Hospitalar Hospital da Cidade de Passo FundoRS, localizado na região norte do estado do Rio Grande
do Sul, certificado como hospital de ensino pelo Ministério da Saúde e Educação, terciário, com capacidade
de 322 leitos. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2016,
foram analisados 221 (49%) dos 451 terminais de computadores (teclas espaço, enter, shift e mouse) existentes,
sorteados aleatoriamente, com a seguinte distribuição:
73 dos setores críticos (33%), 85 dos setores semicríticos
(38%) e 63 dos setores não críticos (29%).
Os terminais de computadores foram classificados,
conforme o risco de contaminação: setores críticos (UTI
neonatal, UTI adulto, hemodiálise, centros cirúrgico e
obstétrico, sala de recuperação, unidade de esterilização, emergência), semicríticos (pronto atendimento,
enfermarias de clínica, cirurgia, pediatria, maternidade,
salas de endoscopia digestiva e de hemodinâmica) e
não críticos (administração, recursos humanos, Comissão de Residência Médica, almoxarifado, farmácia interna e farmácia industrial).
Todos os procedimentos foram realizados de acordo
com as normas de segurança e proteção individual utilizadas no Laboratório de Análises Clínicas do referido
Resultados
Dos 221 terminais de computadores analisados, em
193 (87,5%) houve crescimento de micro-organismos,
enquanto que em apenas 28 (12,5%) não foi observado
crescimento bacteriano.
Como é mostrado na Tabela 1, ao todo foram identificados 11 tipos de bactérias. Analisando-se os setores
conjuntamente, em 184 (83,3%) amostras houve crescimento de bactérias Gram-positivas, sendo que em
54,3% das amostras analisadas foram encontrados cocos Gram-positivos, com predominância de Staphylococcus coagulase-negativos (CoNs) (44,3%) e Staphylococcus aureus (8,6%). Em 29% das amostras foram
Tabela 1. Frequência de contaminação bacteriana de 221 terminais de computadores de diferentes setores do Hospital da
Cidade de Passo Fundo/RS, no período de janeiro a fevereiro de 2016
Micro-organismo isolado
Setores
Crítico N.º (%)
Semicrítico N.º (%)
Não crítico N.º (%)
Média nos setores (%)
Staphylococcus coag neg
41 (56,2%)
32 (37,6%)
25 (39,7%)
44,3
Bacillus sp
15 (20,5%)
28 (32,9%)
21 (33,3%)
29,0
Staphylococcus aureus
9 (12,3%)
7 (8,2%)
3 (4,8%)
8,6
Streptococcus ␣- hemolítico
–
2 (2,4%)
–
0,9
Enterococcus sp
–
–
1 (1,6%)
0,5
Pseudomonas stutzeri
2 (2,7%)
–
–
0,9
Pseudomonas sp
1 (1,4%)
–
1 (1,6%)
0,9
Enterobacter aerogenes
–
–
2 (3,2%)
0,9
Enterobacter aglomerans
–
1 (1,2%)
–
0,5
Enterobacter cloacae
–
–
1 (1,6%)
0,5
Escherichia coli
Não houve crescimento
–
5 (6,8%)
1 (1,2%)
14 (16,5%)
–
9 (14,3%)
0,5
12,5
Total
73
85
63
100,0
J Health Sci Inst. 2016;34(3):144-8
145
Terminais de computadores como reservatórios de bactérias
detectados Bacillus sp. As bactérias Gram-negativas foram responsáveis por apenas 4,2% dos casos. Em 4,1%
do total de amostras analisadas houve crescimento de
dois tipos de bactérias. No Gráfico 1 são exibidas as
frequências dos principais tipos de bactérias isolados
nos setores críticos, semicríticos e não críticos.
mostrou que de um total de 222 amostras de teclados
e mice apenas 5,9% e 6,3% estavam contaminados,
respectivamente.
Além de computadores, outros objetos podem funcionar como fômites. Em um estudo recente, realizado
no Hospital das Clínicas de São Paulo, foi investigada
a diversidade bacteriana em objetos frequentemente
utilizados (botões de elevadores, botões de teclados de
terminais de banco, superfícies de toaletes e relógios
de ponto biométricos) usando o sistema de sequenciamento Illumina para a detecção de genes 16S rRNA. A
composição taxonômica revelou um total de 926 famílias e 2832 gêneros de bactérias, destacando-se alguns
potencialmente patogênicos, como Salmonella, Klebsiella e Staphylococcus14.
Como pode ser verificado na Tabela 1 foram identificados 11 tipos de bactérias, sendo 83,3% de bactérias
Gram-positivas e 4,2% de Gram-negativas. Em 54,3%
das amostras analisadas foram encontrados cocos
Gram-positivos, sendo CoNs os mais frequentes
(44,3%), seguidos por Staphylococcus aureus (8,6%).
Em um estudo realizado em superfícies da UTI de um
hospital do Rio Grande do Sul detectou-se crescimento
bacteriano em 84,4% das amostras, com prevalência
de 42% de S. epidermidis, 37% de S. aureus e 3% de
Enterococcus15. Outro estudo revelou a presença de
49% de Staphylococcus, 18% de Enterococcus e 21%
de bacilos Gram-negativos2. Alemu et al.12, em um total
de 206 amostras de computadores, observaram que
60,5% eram bactérias Gram-positivas e destas, 39,9%
eram CoNs e 23,6% S. Aureus.
Essas discrepâncias em relação aos percentuais de
positividade total e dos diferentes tipos de micro-organismos isolados podem ter relação com a frequência
de utilização dos computadores, com os protocolos de
higienização dos equipamentos e/ou dos usuários, com
a microbiota individual e diferentes metodologias para
o isolamento e identificação dos micro-organismos.
Um estudo realizado em computadores de um campus
universitário na Austrália verificou que o número médio
de micro-organismos potencialmente patogênicos presente nos teclados de computadores utilizados por múltiplos usuários foi significantemente maior do que o
dos teclados acessados por somente uma pessoa16.
A predominância de CoNs no presente estudo é compreensível, visto que essas bactérias fazem parte da microbiota normal da pele17 e não representam, necessariamente, risco à saúde dos usuários saudáveis. Sabe-se
que CoNs estão presentes em ambiente hospitalar e
podem causar infecções, quando associados com implante de próteses e cateteres, especialmente em crianças, idosos e pessoas imunocomprometidas18. Embora
a habilidade de CoNs contribuir para morbidade e mortalidade seja discutível devido à sua aparente baixa virulência, um estudo mostrou que de 118 pacientes com
bacteremia adquirida em hospitais, sendo Stapylococcus
epidermidis responsável por 92% dos casos, 17% tiveram evidência de choque séptico, 8,5% evoluíram para
coagulação intravascular disseminada e o índice de
Gráfico 1. Frequência (%) dos principais tipos de bactérias isolados nas amostras obtidas de terminais de 221 computadores de diferentes setores do Hospital da Cidade de
Passo Fundo-RS, no período de janeiro a fevereiro de
2016
Em relação aos setores com resultado microbiológico
positivo, 68 (93,2%) correspondiam aos setores críticos,
71 (83,5%) aos setores semicríticos e 54 (85,7%) aos
setores não críticos. A análise estatística revelou não
haver diferença significativa entre estas taxas (p=0,174).
Comparando-se a positividade para bactérias Grampositivas nos três setores, observa-se que para CoNs e
S. aureus os valores são maiores nos setores críticos
em relação aos dos setores semicríticos e não críticos,
ocorrendo o contrário para Bacillus. Em relação a
S. aureus, de 19 amostras positivas, 47,4% ocorreram
nos setores críticos, 36,8% nos semicríticos e somente
15,8% nos setores não críticos. Não houve, porém, diferença significativa entre os três setores (p=0,059).
Discussão
Diversos estudos têm mostrado que em teclados de
terminais de computadores de instituições educacionais
e hospitalares pode-se encontrar micro-organismos potencialmente patogênicos4,7,9,12. A possibilidade de contaminação aumenta com a manipulação desses equipamentos por múltiplas pessoas. No presente estudo
foram analisados 49% dos terminais de computadores
existentes no HCPF em locais onde os usuários têm
maior contato com os pacientes. O critério de se dividir
em setores foi o potencial risco de contaminação e a
condição de saúde dos indivíduos internados nas respectivas unidades. Como se pode verificar na Tabela 1
e Gráfico 1, houve crescimento de bactérias em 87,5%
das amostras colhidas dos terminais dos computadores,
com leve predominância nos setores críticos (93,2%).
Estudos semelhantes realizados em diferentes países
relatam positividade variável, como por exemplo, 100%
na Etiópia12 e 43% nos Estados Unidos13. Pesquisa realizada por Hartmann et al.4, em uma UTI na Alemanha,
Caovilla JJ, Chioquetta SG, Andreatta KT, Oleksinki C, Anzolin AP, Simonetti AB.
146
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colonizados por isolados pertencentes a dois genótipos
diferentes26. Outro fator relevante é que esta bactéria
vem se tornando cada vez mais resistente a antibióticos,
no Brasil e no mundo27.
A ocorrência de bactérias Gram-negativas foi baixa
nas amostras analisadas no presente estudo (4,2%). Alguns autores também relataram valores baixos4, enquanto outros encontraram percentuais mais elevados12,23. A simples presença de enterobactérias e
bactérias do meio ambiente em terminais de computadores não representa perigo maior à saúde, no entanto,
E. coli e outras bactérias Gram-negativas podem causar
diversos tipos de infecção hospitalar24. Pseudomonas é
um organismo amplamente distribuído na natureza e,
em ambiente hospitalar, tem sido isolado como um patógeno oportunista, principalmente em indivíduos
debilitados28.
Levando-se em consideração a presença de microorganismos potencialmente patogênicos e sua sobrevivência por um bom período de tempo em superfícies,
é plausível afirmar que terminais de computadores se
comportam como fômites e podem contribuir para a
ocorrência de infecções hospitalares. A sua manipulação por profissionais de saúde e subsequente contato,
ou mesmo sem contato direto com o paciente, aumenta
o risco de IRAS.
Um estudo relatou que apesar de 60% dos médicos
e 81% dos enfermeiros acreditarem que teclados de
computadores têm um papel importante na transmissão
de infecções hospitalares, 62% e 40%, respectivamente,
indicaram que nunca lavaram as mãos antes ou após o
uso desses equipamentos29. A melhor maneira de se lidar com este problema é a prevenção. Um procedimento eficiente é a higienização correta das mãos30 e
das superfícies de contato21 para a redução de microorganismos potencialmente patogênicos em serviços
de saúde. Alternativamente, a utilização de outros tipos
de material de fácil limpeza na confecção de terminais
de computadores poderia reduzir drasticamente a contaminação por micro-organismos.
No presente estudo, não foi avaliado o comportamento
das bactérias isoladas frente a antimicrobianos. Devido
ao crescente aumento de bactérias resistentes, futuros
estudos serão necessários para não somente avaliar a
presença de micro-organismos em computadores de ambiente hospitalar e seus perfis de resistência a drogas,
mas também se faz necessária a caracterização genotípica para verificar se há uma associação entre isolados
clínicos e isolados de contaminação ambiental.
mortalidade foi de 30,5%. Houve, ainda, um aumento
significativo no período de internação dos pacientes19.
Além disso, a capacidade de formação de biofilme
é um fator de virulência importante que protege
S. epidermidis da resposta imune do hospedeiro e contra antibióticos20.
No presente estudo houve detecção de Bacillus sp
em 29% das amostras analisadas. Estudos prévios relataram valores inferiores12,15 e superiores21. Embora bactérias do gênero Bacillus tenham como habitat natural
o meio ambiente, elas são frequentemente encontradas
em superfícies de diferentes locais e podem, eventualmente, agir oportunisticamente causando infecções22.
Neste estudo, em relação aos setores com resultado
microbiológico positivo, 93,2% corresponderam aos
setores críticos, 83,5% aos setores semicríticos e 85,7%
aos setores não críticos. Comparando-se a positividade
para bactérias Gram-positivas, nota-se que para CoNs
e S. aureus os valores foram maiores nos setores críticos
em relação aos dos setores semicríticos e não críticos
(Tabela 1 e Gráfico 1). Não houve, porém, diferença
significativa entre estas taxas. A prevalência de S. aureus
nos setores críticos foi de 12,3% nas amostras analisadas. Este achado é inferior aos observados por outros
pesquisadores, como por exemplo, 23,6% na Etiópia12
e 47% na Austrália16, sendo superior ao de 9,7% relatado no Brasil23.
S. aureus é um habitante comum em humanos ocorrendo na pele, garganta e na mucosa nasal em cerca
de 20-50% de pessoas saudáveis24. Em ambiente hospitalar a presença desta bactéria em mãos, roupas e
outros fômites se torna particularmente importante devido à sua capacidade patogênica, podendo causar
uma série de infecções, principalmente em indivíduos
debilitados, tais como pneumonia, septicemia, osteomielite, endocardite e infecções de pele25. As áreas de
maior risco para infecções estafilocócicas severas são
o berçário, unidades de terapia intensiva, centro cirúrgico e enfermarias de isolamento para pacientes em
tratamento para câncer24. Em alguns destes locais, no
presente estudo considerados como críticos, a ocorrência de S. aureus foi maior. De 19 amostras positivas,
47,4% ocorreram nos setores críticos, 36,8% nos semicríticos e somente 15,8% nos setores não críticos.
Apesar de não haver diferença significativa entre estes
valores, 84,2% das amostras positivas para S. aureus
ocorreram nos setores críticos e semicríticos. A detecção
desta bactéria nestes setores é relevante por ser um organismo patogênico, exigindo medidas mais estritas de
higienização para reduzir o máximo possível a sua presença. Sabe-se que esta bactéria pode se manter viável
por meses em superfícies secas, principalmente quando
há presença de proteína e células epiteliais5.
Um aspecto importante que tem sido considerado
mais recentemente é a ocorrência de diferentes genótipos presentes no mesmo ambiente ou no mesmo indivíduo. Um estudo recente, realizado em Gana, mostrou
que em pacientes com um determinado tipo de úlcera,
um total de 26% apresentava o mesmo genótipo de
S. aureus na narina anterior e nas lesões e 16% estavam
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Conclusão
Os resultados encontrados neste estudo refletem um
nível alto de contaminação bacteriana dos terminais
de computadores analisados. A presença de bactérias
potencialmente patogênicas como Staphylococcus
aureus e epidermidis, principalmente nos setores críticos, é uma causa de apreensão. Normas de controle
de infecção precisam ser rigorosamente seguidas, realçando a desinfecção das superfícies de contato e a hi147
Terminais de computadores como reservatórios de bactérias
gienização adequada das mãos dos profissionais de
saúde, para evitar a transmissão cruzada de micro-organismos no ambiente hospitalar. Campanhas educativas para prevenção de IRAS devem ser incentivadas
para minimisar esse grave problema saúde pública.
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Endereço para correspondência:
Amauri Braga Simonetti
RS 153, Km 3, Jardim América
Passo Fundo-RS, CEP 89802-112
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Caovilla JJ, Chioquetta SG, Andreatta KT, Oleksinki C, Anzolin AP, Simonetti AB.
Recebido em 8 de julho de 2016
Aceito em 11 de agosto de 2016
148
J Health Sci Inst. 2016;34(3):144-8
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