ENCONTRO NACIONAL DOS ESTUDANTES DO PT TEXTO BASE Apresentação Vem de longa data a recíproca contribuição entre os estudantes e o PT. Desde as primeiras mobilizações após a ditadura até as manifestações atuais estivemos petistas e estudantes, buscando as mesmas conquistas, lutando pelas mesmas causas, fazendo as mesmas campanhas, gritando o mesmo grito. Foi assim das Diretas Já ao Lula lá. Do Fora Collor, Do Não à ALCA ao Fora FMI. Agora, sem ALCA, sem FMI e com 10 anos do PT á frente do Governo Federal, surge o desafio de “Avaliar os 10 anos de Governo Petista na educação”, construir "A educação que queremos para o Brasil", tarefa que será mais bem executada se conseguirmos construir no Movimento Estudantil "Uma nova cultura política". Diante destes três eixos de debate que compõe o tema do próximo Encontro Nacional de Estudantes do PT que tentaremos envolver estudantes de cursos pré-vestibulares, educação popular, ensino médio, superior, técnico, tecnológico, à distância, prounistas, militantes do movimento estudantil e demais movimentos sociais de educação na construção do projeto de educação que o país precisa e pelo qual devemos lutar, partido e movimento. Balanço da Década (10 anos de PT no Governo) para educação. Neste ano de 2013 completa 10 anos de Partido dos Trabalhadores à frente do Governo Federal. Por iniciativa da Direção Nacional e em consonância com os anseios da militância petista serão organizados durante todo este ano um conjunto de atividades com intuito de avaliar este período de forma crítica e aprofundada, fazer o que estamos chamando de “balanço da década”. Este grande debate culminará com o V Congresso a ser realizado em Fevereiro de 2014. Nós, da Juventude do PT, também empenhados nesta tarefa, aproveitando a oportunidade da realização do ENEPT, iremos iniciar e apresentar ao conjunto do Partido uma análise do período com foco na educação. Em 2002, o povo votou pela mudança, ansioso por um projeto políticos voltado para as reais necessidades da classe trabalhadora, não mais subverniente aos interesses particulares do capital financeiro. O recado das urnas significou um verdadeiro “BASTA” ao sucateamento de nossas universidades, basta à desvalorização de nossos professores, basta de ver nossas crianças sem escola. Por isto, o principal desafio do governo do PT seria interromper a aplicação da agenda neoliberal na educação e inaugurar um novo período de recuperação das perdas, fortalecimento do “público” e da capacidade de investimento do Estado. Todavia, é bom ressaltar que na primeira fase do Governo Lula (2003/2005), diante de uma herança maldita e sob um cenário de hegemonia do capital financeiro no Governo, algumas dessas mudanças foram travadas, adiadas ou mesmo vetadas. No ensino básico, além de algumas medidas para qualificá-lo, o governo propôs o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Profissionais da Educação) que, diferentemente do Fundef no Governo FHC, que destinava recursos apenas para o ensino fundamental, também investiu na educação infantil, no ensino médio e na educação de jovens e adultos, além de 60% do fundo ser destinado á folha de pagamentos dos profissionais da educação. O Fundeb se constitui como a principal fonte de financiamento da educação básica brasileira, compreendendo 20% dos 25% dos recursos obrigatórios para Estados e Municípios investirem em educação. Em 2010, movimentou aproximadamente 80 bilhões de reais. O PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação) também se consolidou como determinação da política educacional nos entes federados, tendo em vista a assinatura do Termo de Adesão que obriga uma série de ações conjugadas para a melhoria educacional. Porém, a exigência da implantação da gestão democrática não tem sido praticamente observada por Estados e Municípios, que insistem em ignorar a determinação no Plano de Aplicação, negligenciando um dos grandes fatores da mudança da prática educacional vigente. Nesse particular, faz-se mister observar a exigência do estabelecimento da avaliação de desempenho para o professorado, é possível que nos próximos anos, todos os estados brasileiros sejam pautados por essa exigência, o que vai exigir dos educadores formulação e disputa para que tenhamos um processo de avaliação de desempenho democrático, eficiente e justo. O PDE também consolidou a parceria do Estado brasileiro com o empresariado da educação, que cada vez mais adentra no centro nervoso das decisões educacionais, obrigando-nos a lutar contra o estabelecimento de formas ultrapassadas de alfabetização, muitas vezes sem êxito, dado o nível de comprometimento de governos e a forma persecutória e compensatória com que abordam os educadores e as educadoras dessa modalidade de ensino. Na transição do Ensino Básico para o Superior, o novo ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, denominado por alguns como “novo vestibular” tem alterado profundamente a metodologia de avaliação no processo seletivo bem como o perfil dos estudantes universitários. O seu modelo mais aberto e menos “decoreba”; a possibilidade de, fazendo uma só prova, concorrer para as Universidades Federais de todo o país aumentou as chances de aprovação; e o consequente aumento de interesses nos cursos de licenciatura e noturno justificam a necessária defesa que o PT tem feito do Exame. O caminho agora passa pela luta que todas as Universidades Federais façam a adesão ao programa, bem como seja dobrado, no mínimo, os gastos com assistência estudantil. No ensino superior, a lógica começou a ser alterada e hoje quem é negro, pobre e da periferia pode sonhar em ter acesso a uma Universidade, seja ela pública, ou privada, seja pelo FIES ou pelo PROUNI. Por outro lado, é bem verdade que mais uma vez fracassamos na tentativa de fazer uma profunda e radical Reforma Universitária, no que tange, sobretudo, a sua concepção de construção de conhecimento e curricular. Acertadamente, o Governo utilizou a tática de expandir o ensino superior público, mas sabendo que uma expansão ainda limitada por si só não colará os filhos da classe trabalhadora na Universidade, criou um robusto programa de bolsas no ensino superior privado através de renúncia fiscal. O PROUNI – Programa Universidade para Todos - consiste na concessão de bolsas de estudos parciais e integrais para estudantes de baixa renda. Em troca de concessões de cinco tributos as IES privadas concedem “uma bolsa integral para o equivalente a 10,7 estudantes regularmente pagantes e devidamente matriculados ao final do correspondente período letivo anterior”. Em sete anos de programa, mais de um milhão de estudantes chegaram ao ensino superior através deste. Em face dos robustos números e da aceitação e apoio do programa no movimento educacional, ele tem problemas e ainda precisa ser aperfeiçoado. Bolsas parciais para cursos caros e estudantes de baixa renda não surtem muito efeito; não basta apenas garantir o acesso, é preciso investir na permanência através de assistência estudantil; IES sem democracia interna e que atuam contra o Movimento Estudantil precisam ser excluídas do programa; precisa-se diminuir a burocracia na troca de turno e cursos para os bolsistas; maior controle sobre a qualidade do ensino, e exigência do tripé ensino, pesquisa e extensão; comprovação de renda anual é excessiva burocracia. Estas alterações no programa somadas à urgente e necessária regulamentação do ensino privado são mudanças que ainda não conseguimos concluir e que devemos ter como principal desafio e objetivo para o próximo período. No que diz respeito ao ensino superior federal, ainda no inicio do Governo Lula, foram criadas as polêmicas lei de inovação tecnológica, a regulamentação das fundações privadas de apoio à pesquisa e as tentativas frustradas de aprovar no Congresso Nacional um projeto de Reforma Universitária. No entanto, o grande carro chefe foi a criação, em 2007, do REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. Os números da expansão das vagas no ensino superior público nos Governos do PT são robustos e confirmam que a lógica do sucateamento e da privatização foi substituída pela valorização do público e da ampliação do acesso. Em 10 anos tivemos um aumento significativo no orçamento das Universidades Federais, que passou de R$ 9 bilhões, em 2002, para R$ 20 bilhões, em 2010. Por mais que o programa tem sido um sucesso, não podemos deixar de destacar a maneira como se deu sua implementação via Decreto Lei, instrumento que não faz parte da legislação brasileira desde a constituição de 1988. Enquanto que, nas universidades a adesão ao programa se deu de maneira antidemocrática sem amplo debates nos conselhos e departamentos e em algumas IES foi necessário o uso da força policial para a aprovação nos conselhos universitário. Houve a criação do Programa Nacional de Assistência Estudantil – PNAES, tornando esta uma política de Estado e com investimento anual de mais de R$ 600 milhões em Assistência Estudantil. Quanto à expansão, com o PT no Governo, foram criadas 14 Universidades Federais e mais de 100 novos campi. Somada a ampliação nas Universidades já existentes, em 10 anos, dobramos o número de vagas no ensino superior federal. No entanto, cabe ressaltar que esta expansão se deu nos moldes conservadores, visto que ainda não alteramos a estrutura antidemocrática e excludente que organiza e gerencia o Ensino. Ampliamos, mas ainda falta Casa de Estudante e Restaurante Universitário. Ampliamos, mas tem muita obra ainda por fazer, sala de aula e laboratório a construir. Ampliamos, mas ainda tem defasagem de professores em boa parte das Universidades. Em síntese, ampliamos, mas não reestruturamos profundamente a Universidade como era uma das metas do REUNI. Nas políticas afirmativas, aprovamos no Congresso com muito peso e empenho do Governo Dilma a lei de cotas nas Universidades Federais. Esta lei foi fruto de muita luta do Movimento Negro e de Educação e visa inserir na Universidade um setor da população que por muito tempo teve este acesso negado. O grande mérito da Lei nº 12.711 foi, de forma inteligente e balanceada, mesclar as cotas raciais com as sociais. Com isto, mesmo com ataques dos setores mais conservadores, a nova lei teve apoio majoritário na sociedade, chegando a 62% da população defender o sistema de cotas sociais e raciais em universidades públicas, o que demonstra um grande avanço na disputa de hegemonia da sociedade brasileira. No entanto, ainda precisamos garantir uma política de permanência específica para estes novos estudantes que estão acessando a universidade pública, que trazem novas demandas aos programas de assistência estudantil, a fim de lhes garantir as mesmas condições de formação e conclusão que os demais estudantes possuem. Por fim, o grande legado deste balanço inicial ainda está por vir. Após muito debate, muita mobilização, muita pressão dos movimentos sociais, foi aprovado na Câmara e ainda tramita no Senado um novo PNE – Plano Nacional de Educação que estabelece as metas para educação brasileira nos próximos 10 anos. A proposta do Governo avança em muitos pontos: erradicação do analfabetismo; valorização do magistério; aumento substancial do ensino infantil com ênfase nas creches; universalização do ensino médio; aumento de percentual do ensino superior público em detrimento do privado, dentre outros. Todavia, o maior entrave está na meta de investimentos a serem feitos até o final do próximo decênio. Na proposta inicial, o Governo foi tímido e não contemplou a reivindicação do movimento social por 10% do PIB na educação pública até 2023. Após ser derrotado na Câmara e convencido nas ruas, o Governo se juntou aos movimentos na defesa deste maior investimento. Para tanto, tem encampado uma dura luta no Congresso na tentativa de garantir que 100% dos royalties e 50% do fundo social do pré-sal sejam destinados à educação. Frente a este conjunto de medidas, e mesmo considerando as legítimas divergências e críticas à política educacional dos 10 anos do PT à frente do Governo Federal, o balanço é positivo. Mudamos, essencialmente, as prioridades e a orientação geral na política. Saiu a precarização, a educação mercadoria e o culto ao privado, e entrou o fortalecimento do Estado e da educação pública como direito de todo cidadão. Mas ainda é pouco. Um governo democrático e popular dirigido pelo Partido dos Trabalhadores deve ousar mais, deve ir além, muito além dos números. Que os próximos 10 anos sejam de muita luta e construção de uma educação pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada. A Educação que nós queremos Talvez por vivermos em um país que foi assolado por uma violenta ditadura militar e logo depois atacado por uma avalanche neoliberal tenhamos aprendido muito a resistir e pouco a sonhar. Agora, após 10 anos de governo do PT e a construção de uma agenda de avanços na educação, talvez possamos retomar a nossa capacidade de propor uma educação diferente, democrática popular e transformadora. A Educação compreende um processo de socialização do conhecimento, uma atividade mediadora no seio da prática social geral. É um processo de internalização e incorporação de novos conhecimentos que serve a determinados objetivos econômicos e sociais, político-ideológicos e culturais. Por isto, não podemos restringir de maneira alguma nossos debates apenas a questão do financiamento. Devemos entender a educação como instrumento político central para fazermos a disputa de hegemonia na nossa sociedade e para construirmos o projeto de país justo, soberano, solidário e socialista que queremos construir. Mesmo que tenham sido notáveis os avanços na educação brasileira nos anos dos governos do PT, a maioria da população tem avaliações ruins sobre o tema. Isto acontece por que esse direito ainda é frágil, as escolas e universidades ainda não garantem acesso a todos. Além disto, quando as pessoas acessam as instituições não encontram a “qualidade” que esperavam. Contudo, a indignação que percorre esse processo é capitaneada pela campanha midiática de criminalização da política e não, como gostaríamos, por uma agenda de transformações efetivas na educação brasileira construída pelo povo. O que está em jogo no próximo período não é mais uma agenda do passado. Nos últimos 10 anos nos debruçamos nas tarefas de “tirar do atraso” a educação pública. Foram inúmeros esforços para compensar anos de congelamento salarial de servidores, falta de infraestrutura, escolas que haviam fechado, bem como a não expansão do ensino superior tão necessário ao desenvolvimento. As últimas mobilizações mostraram que não basta ter derrotado a agenda neoliberal, o povo brasileiro quer saber que futuro nos aguarda. Neste sentido, os estudantes petistas, em conjunto com o movimento de educação, devem pautar a construção de uma agenda de lutas à favor da educação pública com formulação do programa que queremos para os próximos anos. É chegada a hora de retomar nossa mobilização para construir uma educação que não só permita igualdade no acesso ao conhecimento, mas que ajude a impulsionar grandes transformações no Brasil, que sirva para emancipação d@s oprimid@s e explorad@s de nosso país. Nesse sentido, defendemos uma educação que seja pública, democrática e popular. Pública por que é fundamental que se cumpra a Constituição Federal que diz que “a educação é um direito de todos e um dever do estado”. O setor privado não tem compromissos com o desenvolvimento de nosso país, geralmente estimula a doutrina neoliberal entre os estudantes e só se preocupa com os seus interesses. A influência destes na educação brasileira é imensa, seja no ensino superior e cursinhos pré-vestibulares, onde são a maioria; seja nas escolas de ensino fundamental e médio, que são bastante expressivos. A educação não pode ser vista como mercadoria, organizada pela lógica do lucro. Superar este entrave passa por fortalecer o ensino e a produção cientifica pública de maneira combinada com a diminuição dos grandes privilégios que os tubarões do ensino têm. Democrática por que é inadmissível que a pratica educacional tenha a figura do professor como seu único e indiscutível agente. As escolas e universidades do Brasil possuem uma estrutura extremamente centralizada e verticalizada, tanto na gestão das instituições quando nas “aulas”. Assim, os e as estudantes de nosso país aprendem desde cedo que não podem participar das decisões de sua vida nem gerir o seu futuro. Este tipo de estrutura representa uma forma de organizar o mundo onde alguém que detém poder decide pelos outros. A prática da educação bancária, como diria Paulo Freire, admite que os estudantes sejam meras jarras vazias a serem preenchidas pelo verdadeiro conhecimento que é detido pelo professor. Aceitar isso é como aceitar todas as pechas que os de cima sempre nos impuseram, como se para governar um país fosse necessário ser doutor, ou que para participar da política fosse necessário ser velho, por exemplo. Popular por que precisamos que a educação seja voltada aos interesses dos que não só sonham, mas necessitam de um mundo justo e solidário. A educação formal do Brasil trata o conhecimento como algo petrificado, imóvel e dissociado da realidade social. Nós, estudantes petistas, entendemos que todo conhecimento tem lado em um mundo que é divido pela propriedade privada. Por isto, queremos que nossas escolas e universidades ensinem a construir o conhecimento a partir de uma profunda relação com a sociedade, a transformar a realidade e a lutar pela justiça e pela igualdade, à começar pela relação estabelecida entre estudantes, professores e servidores dentro desses espaços. Queremos que todas as instituições tenham educação em direitos humanos e contra a opressão de gênero, raça, etnia e orientação sexual. Que se extingua o ensino religioso nas escolas por que nosso estado é laico. Que possamos ouvir sobre a história do Brasil e tratar com o olhar dos oprimidos e explorados os temas da escravidão e da ditadura militar, por exemplo. Queremos uma educação que seja do povo e para o povo brasileiro. Para isto, precisamos ter uma reforma estrutural na educação do nosso país. Essa reforma precisa ser impulsionada por nossos governos, mas também precisa ser construída de baixo para cima, pelos estudantes, trabalhadores em educação e também por toda a sociedade. Precisamos ressaltar a urgência das lutas pelos 10 % do PIB para a educação pública e pela erradicação do analfabetismo. Se é verdade que a educação que queremos não envolve simplesmente mais financiamento, também é verdade que não a construiremos sem que se ampliem muito os recursos para garantir acesso e permanência universal em todos os níveis. Também a exemplo de nossos irmãos da Venezuela e de Cuba, precisamos superar o analfabetismo, afinal ter acesso à escrita e a leitura são condições mínimas para a cidadania. É chegada a hora de iniciar um processo que possa fazer com que a educação seja um direito pleno garantido a todos e todas. Sonhamos isso, entendendo a mesma como tijolo fundamental em nosso projeto de justiça, igualdade e solidariedade. Não existe pronta a educação que queremos. Ela virá da mobilização e da construção de milhares, será feita da luta por dignidade e desenhada pela vontade de mudança. Movimento Estudantil: Por uma nova Cultura Política. O Movimento Estudantil consiste em uma parcela da sociedade que se organiza a partir de um “lócus”, que é a escola ou universidade. Esta parcela da sociedade não é uma classe social. Os estudantes são uma categoria social que vivenciam uma realidade e demandas específicas e gerais dentro de um mesmo local. A partir desta realidade social é que surge a sua organização e sua intervenção na sociedade. Desta maneira, o Movimento Estudantil possui suas peculiaridades. A primeira delas é de ser policlassista, ou seja, existem estudantes e grupos de todas as classes sociais. A segunda, é a sua transitoriedade, ninguém é estudante para sempre. Estas características são fundamentais para debatermos e entendermos a ação do Movimento Estudantil como movimento social. Desta forma, o Movimento Estudantil não possui uma origem e uma formação classista que o coloque no centro da luta de classes, o que traz e impõe limites à organização estudantil. É através da política de parcela dos estudantes, prioritariamente dos seus dirigentes, que o Movimento Estudantil se insere, ou não, na disputa geral da sociedade. Compreender esse caráter não classista é necessário para percebermos a amplitude de sua base social, fruto de um processo histórico de exclusão dos segmentos populares. Estes elementos são fundamentais para se pensar as táticas de organização. Não adianta reproduzirmos métodos de organização do movimento sindical ou campesinato para o Movimento Estudantil, achando que iremos solucionar os seus problemas. O Movimento Estudantil deve produzir maneiras próprias de se organizar e fazer política, o que não impede a realização de atividades em conjunto com os demais movimentos, visando a troca de experiência. Acreditamos que o Movimento Estudantil deve ser de massas, onde todos os estudantes podem propor e construir o movimento. Contudo, não abriremos mão de nossas posições e opções: acreditamos na luta de classes e, frente a ela, temos lado e partido: o dos trabalhadores e trabalhadoras. Não escondemos a ninguém nossa opção partidária, construindo o partido nos movimentos sociais. O Movimento Estudantil também é marcado por uma extrema dificuldade de pensar sobre sua própria práxis, seu “fazer movimento” e a transmissão de sua cultura e organização. A construção deste ENEPT também perpassa pela necessidade de o Movimento Estudantil repensar sobre si mesmo, questionar sua atuação e se debruçar sobre problemas originados nas últimas décadas que não foram debatidos profundamente pelo PT e pelo movimento em si. Precisamos nos preparar e produzir uma cultura política para o Movimento Estudantil que dê conta das novas mudanças na sociedade, escola e universidades, tais como: surgimento de um maior número de estudantes trabalhadores; mudança do perfil social dos estudantes tanto da escola como especialmente das universidades; conjuntura desfavorável à organização coletiva; estrutura anacrônica, centralizada e verticalizada da maioria de suas entidades e a dificuldade de envolver os estudantes que participam de Coletivos de Mulheres, Negros, LGBT, Culturais nas instâncias tradicionais do Movimento Estudantil. De forma alguma este é um problema apenas de como as entidades se organizam, no entanto, está aí um problema da baixa participação em seus processos decisórios. A estrutura da maioria das entidades são baseadas no tripé assembleia-conselho-diretoria remontam aos sindicatos pelegos dos anos 50. Este tripé é importante e deve ser usado, mas enquanto único método de organização coletiva é insuficiente, pois a participação dos estudantes se restringe basicamente à decisão do voto e da maioria. A maior integração e diálogo com os demais movimentos e organizações juvenis; diálogo e participação ativa das comunidades próximas às escolas e universidades no cotidiano estudantil e nas tomas de decisões; aproximação da política estudantil com a cultura; diálogo e maior compreensão sobre a realidade do estudante trabalhador são alguns dos desafios a serem debatidos pelo PT e o Movimento Estudantil. Uma nova cultura política se faz urgente e necessária! Direção Nacional da JPT