processos tecnogênicos em ambientes urbanos e sua

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
PROCESSOS TECNOGÊNICOS EM AMBIENTES URBANOS E SUA
RELAÇÃO COM AREAS DE RISCO
PEDRO FRANÇA JUNIOR1
Resumo:
Os processos tecnogênicos em áreas urbanas tem relação com os ciclos de
ocupação dos lugares, que conforme as características geográficas intensificam na
modificação das dinâmicas ambientais. A urbanização pode proporcionar as maiores
intervenções antrópicas, que influenciam nos processos geológico-geomorfológicos
que se encontram em equilíbrio dinâmico no tempo geológico. Ao incorporar
materiais alóctones, inertes, incoesos, causam instabilidades geotécnicas, que
poderão gerar degradação ambiental e provocar acidentes geológicos. Com base
nestas informações este trabalho busca correlacionar processos tecnogênicos às
áreas de risco em ambientes urbanos, utilizando-se de pesquisas bibliográficas para
apontar os problemas relacionados à formação dos depósitos tecnogênicos.
Palavras-chave: Processos tecnogênicos; Depósitos Tecnogênicos; áreas de risco.
Abstract:
The tecnogenic processes is related to the occupation of cycles of the places, which according to the
geographical characteristics intensify in modifying environmental dynamics. Urbanization provides the
largest human interventions that influence the geological / geomorphological processes that are in
dynamic equilibrium in the geological time. By incorporating alien materials, inert, they cause
geotechnical instability, which could generate environmental degradation and cause geological
accidents. Based on this information and bibliographic references, this research aims to highlight the
problems and risks that may cause tecnogenic deposits in urban environments.
Key-words: Tecnogenic processes; tecnogenic deposits; risk areas
De acordo com Lombardo (1990) a urbanização que vem ocorrendo nos
grandes centros urbanos, que tem como origem principal o grande desenvolvimento
da economia (industrial e serviços), que possibilita uma concentração populacional
nas grandes cidades. Como reflexo politico de ocupação de espaço, sobretudo nos
países capitalistas do terceiro mundo, tem se configurado um perfil nos seguintes
aspectos: a- crescimento desordenado do sítio urbano; b- pressão demográfica; cverticalização urbana; d- aumento da frota de veículos; e- impermeabilização do solo
urbano; f- alterações no balanço hídrico; e g- pressão entre as áreas naturais.
1
- Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Estadual Paulista-UNESP
campus de Presidente Prudente-SP. E-mail de contato: [email protected]
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Partindo desses preceitos, os materiais gerados nos centros urbanos, em
diversos
ambientes,
denominados
aqui
de
Depósitos
Tecnogênicos,
são
condicionantes de desastres ambientais em inúmeras cidades do mundo. Em função
deste fato, Rogachevskaya (2006) discute como cada ambiente reage à
incorporação, mobilização e afirma que a retirada ou incremento destes materiais no
meio urbano pode imprimir acidentes em contexto local, regional e global, segundo
sua composição e extensão. Dentre os impactos ambientais cita-se a influência de
construções de grande porte com grande incorporação de material alheio ao
ambiente local, que acaba causando subsidências, colapsos e movimentos de
massa.
As interferências antrópicas na formação e evolução dos ambientes
influenciam fortemente
processos geológicos
e
geomorfológicos,
os quais
encontraram-se em equilíbrio dinâmico através do tempo. Os danos causados aos
elementos e processos ambientais podem ter efeitos de curto, médio e longo prazo,
principalmente no caso de incorporação de materiais naturais e antrópicos em áreas
de maior sensibilidade ambiental. As instabilidades causadas ao ambiente podem
refletir na qualidade de vida e em aspectos socioeconômicos de uma determinada
população, como afirma Rogachevskaya (2006).
Fatos que comprovam a discussão do autor acima, são as informações de
reportagens que tratam de tragédias por meio de desastres naturais que ocorrem em
áreas urbanas de regiões tropicais e sub-tropicais. Na maioria destes, trata-se de
episódios que resultam, mesmo indiretamente, de ações antrópicas, que acabam por
afetar a população em questões econômicas e sociais.
Com base nas informações relacionadas, este trabalho tem como objetivo de
relacionar processos tecnogênicos as áreas de risco. Para isso desenvolveu-se
pesquisas bibliográficas a fim de apontar os principais problemas relacionados as
intervenções antrópicas e a geração dos riscos ambientais.
2 – Processos Tecnogênicos em ambientes urbanos
Dada à complexidade das dinâmicas sociais e naturais, a identificação e
classificação dos depósitos tecnogênicos possibilitam o entendimento acerca da
intervenção humana sobre a natureza e suas dinâmicas, constituindo-se em marcos
estratigráficos na paisagem (Peloggia 1996). A composição dos materiais
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tecnogênicos está diretamente relacionada à ação antrópica desenvolvida num dado
ambiente, contendo, assim, materiais autóctones, sedimentos remobilizados e
artefatos manufaturados diversificados. Além disso, a formação destes depósitos e
terrenos são “heterocrônicos”, ou seja, há uma discrepância temporal do
desenvolvimento e difusão das técnicas pelo planeta, não ocorrendo ao mesmo
tempo nos mesmos lugares.
No que tange ao tempo da formação destes depósitos e terrenos
compreende-se que são formados no tempo histórico, que se diferencia do tempo
geológico. Em síntese, de acordo com Miyazaki (2014) a concepção de tempo
histórico permite aos pesquisadores identificar a gênese de evolução dos depósitos
tecnogênicos, além de conhecer, através dos registros impregnados nas camadas,
as fases históricas de transformação da paisagem local. Na escala de tempo
profundo, ou tempo que escoa (geológico), seria impossível trabalhar os depósitos
tecnogênicos, já que as transformações ocorrem de forma pontual e em um curto
espaço de tempo (100 anos, no máximo), devido à ação do ser humano em
transformar, induzir e construir novas estruturas e formas.
Os depósitos e terrenos tecnogênicos podem também serem interpretados
como sistemas, que de acordo com Figueira (2007) a proposição do termo sistema
deu-se em função de que como resultado da tecnogênese ocorrer, diversidade,
complexidade, dinamismo e, principalmente uma interação de processos e feições
dentro de vários ambientes. A partir desta visão o autor conseguiu visualizar uma
hierarquia evolutiva e cronológica dos processos no município de São Paulo-SP.
Este dinamismo pode ser entendido como consequência da combinação dos
aspectos do meio físico com o rápido crescimento da cidade. Onde a cidade iniciase de um ambiente de primeira ordem (ambiente geológico), na sequencia
consolida-se um de segunda ordem (ação tecnogênica) e finalmente, dentro de um
processo de reabilitação, culmina-se com um sistema de terceira ordem (ação
tecnogênica) (Figueira, 2007).
Para se determinar os sistemas tecnogênicos deve-se levar em consideração
a tipologia dos materiais; os processos de intervenção sobre o meio; a tipologia ou
relações entre determinadas feições; a própria dinâmica do processo de urbanização
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da cidade e, principalmente, o comportamento e necessidades do homem em
diversos momentos e situações de interação de cada sistema tecnogênico.
Zorzato e Peloggia (2000) mostram que em São Paulo, de acordo com a
Secretaria de Habitação, no período de 1989 a 2001, 63% dos acidentes geológicos
(escorregamentos) em encostas envolveram, ao menos depósitos tecnogênicos. No
que diz respeito às situações de risco quanto a escorregamentos cadastrados, 41%
dos casos envolviam depósitos tecnogênicos. Nas baixadas, 25% das situações de
solapamento de margens de córregos envolviam tais depósitos.
De acordo com Mirandola (2008), as situações descritas acima por Zorzato e
Peloggia op cit podem ser explicadas: a primeira é decorrente da alteração artificial
do equilíbrio geomorfológico das encostas, com consequente geração de
escorregamentos induzidos, envolvendo depósitos superficiais (como os colúvios) ou
maciços saprolíticos estruturados.
No segundo caso é a criação de depósitos de baixa estabilidade geotécnica.
Enquanto os colúvios e outros depósitos superficiais são os “materiais básicos para
os escorregamentos” em encostas naturais de regiões tropicais; nas encostas
urbanas frequentemente são coberturas tecnogênicas, referidas frequentemente
como “solos antrópicos”, “lançamentos de lixo” ou, mais especificadamente,
coberturas remobilizadas (Peloggia, 1994).
Ainda de acordo com o autor, no terceiro é a alteração do regime hídrico e do
escoamento das aguas superficiais e subterrâneas. A alteração dos níveis freáticos
tem sido verificada como agente deflagrador de escorregamentos em maciços
naturais e tecnogênicos, enquanto que a impermeabilização superficial das bacias,
intensifica o escoamento pelos talvegues, vai associar-se às áreas de risco de
baixada sujeitas a serem atingidas pelo alagamento ou pelo processo de
solapamento de margens dos canais onde, com frequência, os materiais erodidos
também são depósitos tecnogênicos.
Cabe-se considerar ainda que os depósitos tecnogênicos induzidos
contribuem para o assoreamento dos canais, influindo assim num mecanismo para
alagamento de pontos e enchentes em planícies fluviais.
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3- Depósitos tecnogênicos e os riscos ambientais
As altas taxas de crescimento das cidades, além de provocarem a
degradação ambiental, colocam em situação de risco significativas parcelas da
população, devido ao fato de que a apropriação de relevo ocorre, muitas vezes, sem
se respeitar suas limitações físicas. Nas cidades, os processos de erosão, de
assoreamento dos rios, de movimentos de massa, de poluição dos mananciais e das
enchentes relacionam-se ao modo de uso e ocupação do solo e também com as
determinações sócio-econômicas (PELOGGIA, 1998). Neste sentido, CASSETTI
(1995, p.33) afirma:
O relevo, enquanto componente do quadro natural, assume
expressividade como base territorial, uma vez que se confunde com
a base topográfica. Nesse contexto, o relevo passa a se caracterizar
como objeto de apropriação diferencial, dada a concepção
externalizada contida no mesmo. Portanto o relevo como forma de
apropriação é ocupado de forma diferencial, se caracterizando como
relação de classe. Nesse momento justifica-se a maior
vulnerabilidade da população pobre aos riscos apresentados por
determinados compartimentos morfológicos, relacionados, sobretudo
aos impactos processuais.
Peloggia (1998) resume as características dos depósitos tecnogênicos
remobilizados da região das encostas da cidade de São Paulo, onde o autor
descreve:
Portanto, e em síntese, é via de regra marcante a heterogeneidade
composicional e granulométrica das coberturas remobilizadas, em
função dos tipos de solos que a deram origem (em geral
provenientes da própria encosta ou de movimentações de terra nas
proximidades ou não) e da quantidade e tipo de entulhos, artefatos
e mesmo lixo presentes. Tal heterogeinidade dos depósitos leva à
expectativa de que as propriedades geotécnicas sejam bastante
variáveis de um local a outro e mesmo em um só depósito, não
permitindo portanto a tentativa de definição laboratorial de dado
quantitativos representativos. No entanto, entre as características
comuns observadas, condicionadas pela gênese particular, são
destacáveis: a compacidade e consistência (dependendo da
granulometria predominante na matriz) em geral fofa e muito mole a
mole (valores do SPT –Standart Penetration Test – entre 0 e 4)
predominantemente, ou eventualmente média (SPT da ordem de 6
a 9) a maiores profundidades (da ordem de 4 a 7 metros); as
elevadas macroporosidade e permeabilidade. Na maior parte dos
casos é nítido o contraste geomecânico com o substrato (solo
superficial ou solo saprolítico frequentemente) menos permeável,
possibilitando a percolação preferencial da água de infiltração ao
longo do contato das camadas, ou mesmo a criação de um nível de
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água transitório (temporário) restrito à camada superficial (Peloggia,
1998. Pag.78-79).
Entre os depósitos mencionados acima, e que possuem presença em vários
municípios, o autor menciona os aterros urbanos e os aterros sanitário e “lixões”.
Em síntese, as instabilidades relatadas em aterros urbanos
permitem adefinição de algumas características gerais, quais
sejam: 1) a alta mobilidade da massa escorregada; 2) o
mecanismo de instabilização via de regra associado à geração
de pressões neutras no maciço (lençol d’água empoleirado); 3)
a independência da ruptura em relação à ocorrência de chuvas;
4) o alto potencial destrutivo dos escorregamentos,
requentemente sob a forma de “corridas” (PELOGGIA, 1998a,
p.132).
Portanto, um condicionante forte da instabilização deste tipo de depósito é o
acúmulo de água em seu interior devido, conforme menciona Peloggia (1998a) ao
citar um Manual Geotécnico da Prefeitura Paulistana (PMSP, 1992d), a criação de
pressões neutras provocadas por infiltrações de águas das chuvas e servidas,
vazamento de tubulações enterradas e da própria água advinda do terreno no qual
ocorreu a deposição, por meio de saturação e surgências d’água. Quanto aos
aterros sanitários e “lixões”, estes possuem particular potencial de risco à população,
conforme mencionado por Peloggia (1998a, p.133).
Conforme Fanning & Fanning (1989), os “solos criados pelo homem” que
provavelmente causarão os maiores problemas no futuro são aqueles em que
os detritos orgânicos são soterrados. Depósitos nos quais materiais de lixo
(material “gárbico”) são enterrados podem dar lugar: a) a subsidências das
superfícies dos terrenos; b) a riscos de explosões em função da geração de
metano e outros gases naturais sob condições anaeróbicas; c) à contaminação
das águas subterrâneas com substâncias químicas. Como pôde ser observado, os
depósitos tecnogênicos apresentam grande variedade de formações, com presença
de camadas constituintes determinadas pelo material componente e pelo processo
de deposição.
Realmente, conforme descrevem Chemekov (1983) e Ter-Stepanian (1988),
os depósitos tecnogênicos são caracterizados por sua grande variedade e por
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feições
diferenciadas
claras,
e
caracterizam
uma
classe
genética
independente (como os aluviais, os vulcânicos etc.), embora possam ser
traçadas analogias aos depósitos naturais. São independentes (ou diríamos,
guardam elevado grau de independência) da situação externa (rocha do
substrato,
posição
hipsométrica,
clima,
tectônica),
e
em
geral
contêm
artefatos diversos (PELOGGIA, 1996, p.61).
Meuser (2010) em um amplo trabalho sobre solos antropogênicos discute os
problemas decorrentes de cada tipo de material depositado em áreas urbanas e
rurais, em especial detalhamento através de análises químicas para detectar, nos
diferentes horizontes artificiais os tipos e os efeitos dos elementos tóxicos presentes.
Em algumas cidades, os solos antropogênicos apresentaram uma diversidade de
materiais (lixo, restos industriais, restos de mineração, restos de construção, entre
outros) que formam um intricado mosaico de situações problemáticas de difícil
solução.
As informações destacadas acima, nos ajuda a corroborar a informação do
quanto é difícil descrever e classificar os depósitos tecnogênicos. Peloggia op cit
descreve que as próprias condições de formação (movimentações e reestabilizações
sucessivas de material lançado) implicam em precárias condições de estabilidade e
equilíbrio, pode levar em ruptura.
Cabe-se destacar que, o autor se preocupa com a condição de estabilidade
dos depósitos, o que leva-se a questionar o riscos que a população em torno destes
depósitos pode estar.
4- Considerações Finais
Os estudos dos depósitos tecnogênicos não estão apenas ligados a sua
processualidade, onde ocorre, mas também na explicação por que ele está ali. E
estas questões envolvem dinâmicas ambientais e sociais, que se constitui em
características distintas de lugar para lugar. Pode-se ainda incluir, questões politicas,
infraestrutura urbana, e cultural. Vários exemplos podem servir para justificar estas
indagações.
De acordo com Oliveira et al (2005) os ciclos de ocupação se superpõem
mesclando os efeitos, de maneira que os processos observados atualmente
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constituem herança complexa dos processos desencadeados pelas sucessivas
intervenções antrópicas. Só a compreensão da história ambiental de cada ação
tecnogênica, ocorrida em uma dada área, permite diagnosticar efeitos, de maneira a
avaliar a necessidade de novas intervenções, desta vez para recuperar as áreas que
resultarem degradadas. Esta compreensão pode ser obtida por estudos geológicos,
geomorfológicos sobre o Tecnógeno que, na intersecção entre os dados históricos e
seus efeitos no meio-físico, ajudam a reconstituir a história ambiental.
No entanto cada região ou cidade possui características peculiares
geográficas, de sociedade e natureza que acabam diferenciando algumas feições
tecnogênicas. No Brasil, existem diversas evidências de formações tecnogênicas,
manifestadas em terrenos e depósitos espalhados nos mais diversos espaços,
sendo assim é necessário desenvolver estudos detalhados destes pontos a fim de
compreender os processos de sua formação classifica-los e prognosticar efeitos
sobre o ambiente.
Uma forma de iniciar as pesquisas sobre os processos tecnogênicos é fazendo
o levantamento utilizando as metodologias mais conhecidas desenvolvidas por
pesquisadores do Brasil baseados em autores internacionais. Na pesquisa de
Peloggia et al (2014) foi desenvolvido uma junção de outras metodologias para a
classificação dos terrenos tecnogênicos. Nos referenciais desta pesquisa, bem como
na Revista Quaternary and Environmental Geosciences2 de 2014 é possível verificar
diversas pesquisas sobre o Tecnógeno/Antropoceno, que ajudam entender melhor
as novas processualidades impostas pelo agente antrópico nos mais diferentes
lugares.
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