A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO LUGARES DE PERIGO NA CIDADE DO AÇO: UMA DISCUSSÃO SOBRE GEOTECNOGÊNSE, VULNERABILIDADE E RISCO AMBIENTAL EM VOLTA REDONDA (RJ) SARAH ALMEIDA DE OLIVEIRA 1 MARIA NAÍSE DE OLIVEIRA PEIXOTO 2 EDUARDO VIEIRA DE MELLO 3 Resumo: O trabalho objetiva discutir o papel da geotecnogênse na configuração de lugares de perigo (Cutter,1996; Cutter et al., 2000), tomando como recorte espacial o Setor Leste da cidade de Volta Redonda (RJ). Os terrenos tecnogênicos reconhecidos, com base na classificação proposta por Peloggia et al. (2014), estão associados a diferentes tipos de processos e materiais deposicionais, os quais foram gerados durante o processo histórico de apropriação e evolução e do espaço urbano. A geotecnogênse compreende a articulação entre processos, formas e depósitos relacionados aos sistemas técnicos, trazendo elementos relevantes para a análise da vulnerabilidade e do risco ambiental. Como componente do contexto geográfico, permite traçar relações entre elementos e processos de diferentes naturezas e propriedades, na escala local, contribuindo para identificar variáveis e indicadores que auxiliem na apreensão dos lugares de perigo. Palavras-chave: Geotecnogênese, Vulnerabilidade, Risco Ambiental Abstract: The work discusses the role of geotehcnogenesis on hazards of place configuration (Cutter, 1996;. Cutter et al, 2000), taking the East Sector of Volta Redonda city (RJ, Brazil) as study area. The technogenic grounds recognized based on the classification proposed by Peloggia et al. (2014) are associated to different types of depositional processes and materials, generated during the historical process of appropriation and evolution of urban space. Geotechnogenesis comprises the relationships between processes, forms and deposits related to technical systems, bringing relevant elements for vulnerability and environmental risk analysis. As geographical context component, allows us to draw relationships between elements and processes of different nature and properties on the local scale, helping to identify variables and indicators to assist the apprehension of hazards of place. Key-words: Geotechnogenesis; Vulnerability, Environmental Risk 1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ vinculada ao Núcleo de Estudos do Quaternário & Tecnógeno (NEQUAT) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IGEO/UFRJ) E-mail de contato: [email protected] 2 Professora do Departamento de Geografia da UFRJ, pesquisadora do Núcleo de Estudos do Quaternário & Tecnógeno (NEQUAT) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IGEO/UFRJ). E-mail de contato: [email protected] 3 Professor do Colégio Federal Pedro II; Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ vinculado ao Núcleo de Estudos do Quaternário & Tecnógeno (NEQUAT) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (IGEO/UFRJ). E-mail de contato: [email protected] 6471 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 1 – Introdução No presente trabalho4 temos como objetivo discutir o papel da geotecnogênse para a configuração de “lugares de perigo” na cidade de Volta Redonda (RJ), com base nos conceitos utilizados por Cutter (1996) e Cutter et al. (2000). Estes autores propuseram o conceito de “hazards of place” para examinar os padrões de distribuição dos perigos e destacar os processos que dão origem aos mesmos, considerando as interações complexas entre os sistemas naturais, sociais e artificiais. Os lugares de perigo têm como característica principal a configuração de ameaça potencial a pessoas e bens, devendo ser considerados como fruto de uma interação contínua entre sistemas físicos, sociais e tecnológicos. Sua utilização exige a apreensão do contexto no qual estão inseridos, considerando a geografia do evento, suas propriedades físicas, assim como os aspectos sociais, políticos, temporais, organizacionais e econômicos (Cutter et al, 2000). Abordar a complexidade de situações de risco constitui um desafio metodológico importante para os estudos desenvolvidos neste campo (Castro et al, 2005), sendo a proposta de trazer à discussão os processos, formas e depósitos tecnogênicos uma possibilidade de contribuir para o tratamento do tema no âmbito dos estudos geográficos. A cidade de Volta Redonda apresenta características relevantes para a discussão proposta, por constituir uma cidade-empresa fundada na década de 1940 em função da construção da Usina Presidente Vargas da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) – sendo por isso conhecida como a “Cidade do Aço”. O crescimento urbano desordenado experimentado principalmente a partir das décadas de 1970 e 1980, associado à geração de diferentes tipos de depósitos e feições tecnogênicas, e o conjunto de problemas ambientais ligados aos processos naturais e sociais vivenciados desde então, definem um quadro em que a investigação, na escala local, dos processos e produtos morfo e geotecnogênicos podem contribuir para a configuração de vulnerabilidades e riscos ambientais. 4 O trabalho integra a pesquisa de mestrado realizada pela primeira autora, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ. 6472 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2 – Vulnerabilidade, risco ambiental e a configuração de lugares de perigo A sociedade está mais vulnerável aos perigos e riscos ambientais? Esta questão tem balizado diversos estudos que se propõem a discutir as noções, a construção e a distribuição espacial das condições de perigo (hazard), vulnerabilidade e risco ambiental. Segundo Egler (1996) o risco ambiental resulta da interaçã entre três categorias: o risco natural, o risco tecnológico e o risco social. O risco natural está vinculado ao comportamento de sistemas naturais, considerando sua capacidade de resposta a eventos de curta ou longa duração, tais como inundações e desabamentos. O risco tecnológico é entendido como o potencial de danos – em diferentes escalas temporais – gerado pela estrutura produtiva, como explosões, derramamentos de produtos tóxicos e contaminação de sistemas naturais pela deposição de resíduos do processo produtivo. O risco social caracteriza-se como a resultante dos diversos problemas sociais que ocasionam a degradação das condições de vida. Esta abordagem integrada do risco ambiental também pode ser visualizada nas proposições feitas por Susan Cutter e colaboradores (Cutter 1996; 2011; Cutter et al., 2000, entre outros). Para esta autora, o perigo (hazard) é, por definição, uma ameaça potencial a pessoas e bens, e deve ser visto como fruto de uma interação contínua entre sistemas físicos, sociais e tecnológicos, exigindo a apreensão do contexto no qual está inserido. Este contexto envolve a geografia do evento, as propriedades físicas do hazard, assim como aspectos sociais, políticos, espaciais, temporais, organizacionais e econômicos (Cutter, op. cit.). Cutter et al. (2000) compreendem o risco como a probabilidade de ocorrência de um acidente, sendo o resultado das interações entre o perigo e a vulnerabilidade associada à resiliência dos sistemas e grupos sociais. A situação de risco não é, portanto, apenas constituída pela fonte de perigo, mas pelas condições naturais e socioeconômicas das áreas potencialmente afetadas (Castro et al., 2005). A vulnerabilidade, nesta perspectiva, engloba duas vertentes de análise: uma ligada à chamada condição pré-existente, e outra vinculada às condições de resistência e resiliência dos grupos localizados nas proximidades da fonte de perigo. 6473 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO A condição pré-existente considera que os perigos estão distribuídos espacialmente, e destaca as relações de vizinhança em relação à ocupação. As condições de resistência e resiliência indicam que a vulnerabilidade também é uma construção social, diretamente influenciada pelas condições socioeconômicas. Esta construção social é entendida como atrelada a processos históricos, culturais e econômicos que interferem na capacidade individual e/ou coletiva de lidar e responder adequadamente a situações de desastre (Cutter, 1996). Se o hazard constitui a fonte potencial de dano ou efeitos adversos, a vulnerabilidade configura o potencial de perda – material ou da vida – em função da existência do perigo. O potencial de perigo é mediado pela estrutura social, pelo contexto geográfico e pela interação entre os diferentes tipos de vulnerabilidade – biofísica e social. Assim, para Cutter (1996), o caráter espacial da análise sobre vulnerabilidades, hazards e riscos materializa-se através do conceito de hazards of place, proposto para examinar os padrões de distribuição dos perigos e avaliar os processos que dão origem aos mesmos, buscando uma abordagem mais integrada dos diversos contextos de vulnerabilidade (Cutter e Solecki, 1989). Dentro desta concepção, a interação entre os fatores sociais, políticos e econômicos, por si só e em combinação com outros, cria um mosaico de perigos que afetam as pessoas e os lugares que estas habitam. Cutter (2011) indica, deste modo, que o conhecimento espacial é requisito fundamental para as pesquisas sobre vulnerabilidade e risco ambiental. A identificação da(s) fonte(s) potencial(is) de dano e a caracterização das condições socioeconômicas e ambientais do seu entorno mostram-se, deste modo, como etapas necessárias para mensurar os possíveis danos. Ressalta-se que os lugares de perigo não se restringem apenas à análise da localização da fonte de dano, mas a todo um contexto de vulnerabilidade que pode estar vinculado espacialmente de maneira direta ou indireta àquele processo perigoso. Neste sentido, os lugares de perigo se configuram onde a vulnerabilidade social, assim como a vulnerabilidade ambiental, constituem fatores potenciais de ampliação dos danos gerados por algum evento perigoso. 6474 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 3 – Geotecnogênse, vulnerabilidades e risco ambiental no Setor Leste de Volta Redonda O conceito de geotecnogênse vem sendo utilizado em estudos desenvolvidos no campo das Geociências, buscando tratar os diferentes níveis da ação transformadora da sociedade sobre o meio geológico, envolvendo: “(...) (1) as alterações dos processos da dinâmica geológica externa, sejam erosivos ou deposicionais (...) que se desdobram em (2) criação de formas de relevo e (3) formação de depósitos geológicos sedimentares.” (Peloggia e Oliveira, 2005, p. 2) Esta transformação do meio geológico pela ação humana apresenta três facetas fundamentais, segundo Peloggia e Oliveira (op. cit.): a transformação da fisiografia das paisagens, com a criação de modelados específicos (o relevo tecnogênico), a influência na fisiologia das paisagens (criação e modificação de processos geológicos/geomorfológicos superficiais) e a criação de depósitos sedimentares correlativos (estratigrafia). Estas alterações modificam a organização e o funcionamento dos sistemas ambientais e são movidas essencialmente pelo emprego de sistemas técnicos de diferentes características, que produzem mudanças nos processos de degradação (remoção e transporte) e agradação (acumulação) de materiais (tecnogênse de processos) através de intervenções como cortes, escavações, aterros, retificações de canais, entre outras, resultando em formas de relevo (morfotecnogênese) e em formações superficiais (tecnogênese de depósitos) diferenciadas, geradas direta ou indiretamente por estes processos (Peloggia e Oliveira, 2005). No Brasil, grande parte dos estudos neste campo têm se dedicado a definir sistemas de classificação para as formas e terrenos tecnogênicos, considerando sua gênese e propriedades, bem como à produção de documentos capazes de representar a sua distribuição espacial. A proposta de classificação e mapeamento apresentada por Peloggia et al. (2014), utilizada no presente estudo, individualiza diferentes tipos de terrenos artificiais com gênese associada a 6475 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO processos de agradação ou degradação (processos erosivos ou deposicionais), ou ainda a alterações nas propriedades químicas ou físicas do solo (Mapa 1, Quadro 1). Área I Área II Mapa 1 - Terrenos tecnogênicos identificados no Setor Leste de Volta Redonda (RJ). A linha tracejada que acompanha a BR393 individualiza duas áreas com características de densidade e padrão de ocupação distintos. Para detalhamento dos tipos de terrenos tecnogênicos, ver Quadro 1. 6476 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO Quadro 1: Classificação de terrenos artificiais (tecnogênicos) proposta por Peloggia et al. (2014). Terreno tecnogênico Agradação Degradação Modificado Misto Classificação genética Exemplos típicos Depósito Tecnogênico Construído de 1ª Geração DepósitoTecnogênico Induzido de 1ª Geração Depósito Tecnogênico de 2ª Geração Cicatrizes Tecnogênicas Induzidas (Terreno Erodido, Terreno Escorregado, Terreno Afundado) Cicatrizes Tecnogênicas Construídas (Terreno Escavado) Horizontes Alterados (Solo Quimicamente Alterado e Solo Mecanicamente Alterado) Unidades Compostas (Camadas Sobrepostas) Aterros, bota-foras, barragens de terra, depósitos de lixo e aterros sanitários Depósitos sedimentares relacionados às redes de drenagem atuais Depósitos formados por retrabalhamento de depósitos previamente existentes Sulcos, ravinas, voçorocas, escorregamentos em geral, dolinas, poços sumdouros, depressões Cortes de terraplanagem, cavas de mineração Solo contaminado com efluentes ou pesticidas Solo compactado, subsolagem de solo agrícola Aterro (depósito construído) sobre depósito de assoreamento (induzido) ou sobre horizontes de solo tecnogênico Aterro alterado por efluentes (depósitos construído e modificado), camadas arqueológicas Unidades Complexas (Camadas Complexas) A cidade de Volta Redonda insere-se em um dos principais eixos econômicos do país, tenho sido instalada inicialmente sobre terraços e planícies e fluviais quaternários do Rio Paraíba do Sul, localizados a sul da planta da usina. A partir das décadas de 1970 e 1980, a malha urbana se expande principalmente para norte, leste e sul da cidade, ocupando vertentes e topos de colinas e morros desenvolvidos sobre o substrato cristalino e sobre os depósitos terciários da Bacia sedimentar de Volta Redonda e do Graben Casa de Pedra, bem como as cabeceiras de drenagem e os fundos de vale das bacias hidrográficas afluentes do Rio Paraíba do Sul. Esta expansão tem ocasionado alterações geomorfológicas significativas, as quais vêm sendo foco de estudos conduzidos pelo NEQUAT (Núcleo de Estudos do Quaternário & Tecnógeno) abordando as relações com as transformações na dinâmica dos sistemas de drenagem, com os diferentes tipos de processos erosivos 6477 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO e com a distribuição espacial dos depósitos e feições tecnogênicas (Castro, 2004; Mello et al., 2005; Pinto, 2009; Peixoto et al., 2011). Considerando a densidade,o padrão da ocupação e o potencial de expansão da malha urbana no Setor Leste de Volta Redonda, foram individualizadas duas áreas distintas, visualizadas no Mapa 1: uma correspondente à borda da área de ocupação urbana já consolidada, a noroeste do setor (Área I), e outra, com menor densidade de ocupação, situada na sua porção centro-leste (Área II). Na Área I destaca-se a ocorrência de um terreno tecnogênico misto (do tipo camadas complexas, conforme classificação apresentada no Quadro 1), cuja gênese está relacionada ao despejo de diferentes tipos de rejeitos industriais em antigos terrenos da CSN, situados às margens do Rio Paraíba do Sul. A área próxima a este terreno tecnogênico foi doada pela CSN em meados da década de 1990 para a construção de moradias, destinadas a priori para seus funcionários. Entretanto, por volta dos anos 2000, logo após a entrega das habitações construídas, os moradores começaram a identificar o afloramento de alguns compostos químicos no solo e em bueiros. A contaminação do solo e das águas superficiais e subsuperficiais foi constatada por estudos e relatórios técnicos, inexistindo até o momento uma avaliação sobre a extensão e as consequências desta contaminação (Brígida, 2015). Nesta área, devemos destacar a importância não apenas da vulnerabilidade ligada à proximidade da fonte de perigo, mas também às características destes terrenos e à sua localização sobre a planície do Rio Paraíba do Sul, para a contaminação das águas superficiais e subterrâneas, o que amplia as condições de vulnerabilidade pré-existentes. A dispersão aérea de particulados gerados pela deposição e manejo dos materiais tecnogênicos também deve ser considerada na vulnerabilidade, podendo implicar em um alcance espacial bem mais extenso. Na Área II observa-se uma quantidade significativa de terrenos tecnogênicos de agradação ligados tanto à mineração como à disposição de rejeitos 6478 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO industriais, estes últimos identificados em grande parte como áreas sob suspeita de contaminação (Foto 1). Rodovia do Contorno Terrenos tecnogênicos Foto 1: Visualização de terrenos tecnogênicos de agradação identificados no Setor Leste de Volta Redonda, ao longo da Rodovia do Contorno e nas reentrâncias de cabeceiras de drenagem e fundos de vale adjacentes, sob investigação do Ministério Púbico por suspeita de contaminação . Fonte: Acervo NEQUAT (junho/2015). Destaca-se na Área II a presença de importantes vias de transporte, em especial a Ferrovia do Aço (gerida pela MRS Logística), a BR 393 (Rodovia Lúcio Meira) e a VRD 101 (Três Poços), além da Rodovia do Contorno, projetada para escoar o intenso fluxo de carga que passa atualmente pelo centro de Volta Redonda. Estas vias constituem eixos de circulação de cargas potencialmente perigosas e/ou com materiais passíveis de dispersão aérea, e ainda possibilitam o acesso a locais com baixa densidade de ocupação, favorecendo a instalação de novos loteamentos e empreendimentos imobiliários, bem como o crescimento dos bairros originados de antigos núcleos de posse. A localização do Condomínio Parque do Contorno (que faz parte do Programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal), instalado em 2010 ao lado de uma área com suspeita de contaminação, indica um preocupante quadro de vulnerabilidade e risco social e ambiental. Os terrenos tecnogênicos representados no Mapa 1 estão associados a diferentes tipos de processos e materiais deposicionais, os quais foram gerados durante o processo histórico de apropriação e evolução e do espaço urbano, com resultantes na transformação dos sistemas biofísicos. A deposição de materiais perigosos sobre coberturas sedimentares quaternárias e/ou tecnogênicas e no eixo 6479 A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO de cabeceiras de drenagem e fundos de vale amplia o contexto de vulnerabilidade como condição pré-existente, ao favorecer a propagação dos efeitos negativos em depósitos e solos com diferentes propriedades e arranjos espaciais, assim como nas águas superficiais e subterrâneas. A esse respeito, é importante destacar, ainda, o potencial de concentração na Área I dos efeitos da contaminação de solos e corpos hídricos associados aos terrenos tecnogênicos apontados na Área II, tendo em vista a posição destes últimos no eixo das linhas de drenagem afluentes do Rio Paraíba do Sul. O cenário de vulnerabilidades ligadas à geotecnogênese reconhecido no Setor Leste de Volta Redonda contempla, pelo exposto, diferentes componentes espaciais: a disposição e exposição localizada de resíduos perigosos; a expansão da malha urbana sobre ou próximo de terrenos tecnogênicos perigosos; a ampliação das áreas com potencial de contaminação em função da posição destes terrenos na morfologia quaternária, e consequentemente das relações com as características dos materiais subsuperficiais e com a dinâmica dos fluxos d´água superficiais, subsuperficiais e subterrâneos. Ainda é necessário aprofundar a caracterização dos diferentes tipos de terrenos tecnogênicos, e estabelecer indicadores consistentes para sua avaliação espacial, bem como para sua integração com outros processos perigosos e com a vulnerabilidade socioeconômica, tendo em vista a construção e diferenciação dos lugares de perigo. A geotecnogênse, compreendida como articulação entre processos, formas e depósitos relacionados aos sistemas técnicos, traz, assim, elementos relevantes para a análise da vulnerabilidade e do risco ambiental. Como componente do contexto geográfico, permite traçar relações entre elementos e processos de diferentes naturezas, na escala local, contribuindo para a ampliação do leque de variáveis passíveis de utilização na apreensão dos lugares de perigo. 4 – Referências Bibliográficas BRÍGIDA, I. Conflitos socioambientais em Volta Redonda: o caso Volta Grande IV. 2015. 172p. 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