os depósitos tecnogênicos no noroeste do paraná

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TECNÓGENO EM AMBIENTES FLUVIAIS: OS DEPÓSITOS TECNOGÊNICOS NO
NOROESTE DO PARANÁ, BRASIL
TECHNOGENE IN RIVER ENVIRONMENTS: STUDIES OF TECNOGENIC
DEPOSITS IN NORTHWESTERN PARANÁ STATE, BRAZIL
Resumo
Na forma de contribuir para as pesquisas do Tecnógeno no Brasil, este artigo tem como objetivo
descrever alguns processos e características da formação e ocorrência dos depósitos tecnogênicos,
principalmente, em ambientes fluviais na Mesorregião Noroeste do Paraná, especificamente nos
municípios de Cianorte, Loanda, Paranavaí e Umuarama. O artigo foi desenvolvido
metodologicamente a partir de dados obtidos em referências bibliográficas da temática no
ambiente pesquisado. Os procedimentos metodológicos apontam o emprego de técnicas de
obtenção de dados em campo e laboratório, utilizando-se também as geotecnologias na elaboração
dos produtos cartográficos. Os depósitos tecnogênicos formam-se por diversas influências
principalmente ligadas à ação antrópica. Sendo assim, estas mudanças retratam a materialidade do
processo de edificação da sociedade sobre a natureza em que o homem determina suas
características culturais.
Palavras-chave: Noroeste do Paraná; Tecnógeno; Depósitos Tecnogênicos.
Abstract
In order to contribute to the research of Technogene in Brazil, this article aims to describe some
processes and characteristics of the formation and occurrence of tecnogenic deposits mainly in
fluvial environments in Meso Northwest Paraná region, specifically in the municipalities of
Cianorte, Loanda, Paranavai and Umuarama. The article was methodologically developed from
data obtained in references researched the issue on the environment. The methodological
procedures suggest the use of technical data collection in the field and laboratory, also using the
geo in the preparation of cartographic products. The tecnogenic deposits are formed by various
influences mainly linked to human action. Thus these changes portray the materiality of the
process of building society on nature where man determines their cultural characteristics.
Key words: Northwestern Paraná; Technogene; Technogenic deposits;
1. Introdução
O termo Tecnógeno é usado para se referir
à situação geológico-geomorfológica atual
em que a ação geológica humana ganha
destaque significativo, principalmente no que
tange aos processos da dinâmica externa, em
relação à processualidade anteriormente
vigente- (Holocênica) natural. Assim, o
Tecnógeno aparece como uma expressão
geológica da transformação ambiental global.
Seu estudo representa uma contribuição
original da Geociências no entendimento e
no enfrentamento da crise ambiental
contemporânea (PELOGGIA, 1997, 1998).
Este período iniciou-se aproximadamente
há 200 anos, com a Revolução Industrial, e
dado fim ao Holoceno, ainda vigente na
ciência tradicional. Este último período do
Quaternário foi marcado segundo Suguio
(2001) por transformações culturais em que
os homens passaram a utilizar metais e,
posteriormente, as máquinas, tendo surgido a
5.000 a 6.000 anos AP com o
desenvolvimento da agricultura. De acordo
com o referido autor, o homem é um agente
geológico muito ativo, tende a deixar
vestígios de sua presença em sedimentos nas
formas de relevo e nos ecossistemas em
geral.
A sociedade tem sido ativa em algumas
mudanças na superfície do planeta, pois uma
das causas atuais a necessidade em alimentar
7 bilhões de pessoas (Martini & Ribeiro,
2011). Sendo assim, a sociedade necessitou
converter uma porção de florestas em áreas
agricultáveis e também áreas urbanas com
diversos fins de ocupação na implantação de
equipamentos urbanos como as industriais.
Na adubação das áreas agrícolas utilizamse muitos minerais como os fosfatos, nitratos,
silicatos e etc.. Para a construção das
habitações também são utilizados juntamente
com alguns tipos de rochas e sedimentos
como o calcário, a areia, a brita, a argila,
entre outros. Assim, acabam ocorrendo ainda
alterações nos ecossistemas como, por
exemplo, as extinções, os contrabandos de
animais e vegetais e o fenômeno das espécies
exóticas invasora1.
Corroborando com as informações do
assunto tratado, Erle e Pôncio (2007)
salientam que as taxas atuais de ocorrência,
velocidade, extensões e intensidades das
mudanças no uso da terra são muito maiores
que as constatadas ao longo da história,
conduzindo mudanças sem precedentes nos
ecossistemas e nos processos ambientais em
escalas local, regional e global.
O homem também está alterando a
atmosfera, com o aumento do dióxido de
carbono (CO²) e óxido nitroso (N2O), e na
hidrosfera ao criar fertilizantes, produtos de
limpeza, pois aumenta-se o nitrogênio reativo
na água e na superfície da Terra. Estas
mudanças químicas são muito comuns em
quase todas as regiões habitadas por
humanos (IPCC, 2013). Há ainda a
modificações na refletividade da Terra com o
aumento das áreas urbanas e o
desmatamento. Esses fatores fizeram
diminuir a capacidade de absorção e reflexão
da radioatividade solar aumentando o efeito
estufa e as ilhas de calor.
1
"Espécie Exótica Invasora", por sua vez, é definida como
sendo aquela que ameaça ecossistemas, habitat ou espécies.
Essas espécies, por suas vantagens competitivas e
favorecidas pela ausência de predadores e pela degradação
dos ambientes naturais, dominam os nichos ocupados pelas
espécies nativas, notadamente em ambientes frágeis e
degradados (MMA, 2013).
Pellogia e Oliveira (2011, pag. 01)
enfatizam:
...o homem como agente geológico sendo
um ser natural que se diferencia da
natureza, sofre suas influências, mas
também age sobre ela, que interage e
transforma o meio, mas também se
transforma em decorrência dessa interação
que se dá na busca de seus meios de
produção de existência.
Diante destas premissas, os geocientistas
pesquisam a materialização dos efeitos
pontuais do homem sobre a dinâmica
terrestre a partir do momento em que foram
sendo
identificados
os
depósitos
tecnogênicos.
Atualmente, a gama de pesquisas
desenvolvidas na temática do Tecnógeno é
crescente no Brasil. Os autores Oliveira,
A.M.S; Queiroz Neto (1994) e Oliveira et al
in Gouveia et al (2005) e apresentam alguns
exemplos de estudos do Tecnógeno no Brasil
e fazem referência ao processo de ocupação
do Planalto Ocidental Paulista, que foi
ocupado a partir da expansão da cultura do
café, no final do século XIX e início do
século XX. Posteriormente ao Estado de São
Paulo, o Estado do Paraná também entrou
nesse processo de expansão da cultura do
café em meados do século XX o que acabou
culminando numa devastação da natureza e
um uso intensivo do solo.
As mudanças no uso da terra (solo)
determinaram
novas
condições
aos
ambienteis fluviais na produção de
sedimentos. Na forma de contribuir para as
pesquisas do Tecnógeno no Brasil, este artigo
tem como objetivo descrever alguns
processos e características da formação dos
depósitos tecnogênicos em ambientes fluviais
na região Noroeste do Paraná.
O
artigo
foi
desenvolvido
metodologicamente a partir de dados obtidos
em referências bibliográficas da temática no
ambiente pesquisado, que serão apontadas ao
longo do texto. Os procedimentos
metodológicos
dessas
referências
demonstram o emprego de técnicas de
obtenção de dados em campo e laboratório,
utilizando-se também as geotecnologias na
elaboração dos produtos cartográficos.
2. Aspectos Geográficos da Região Noroeste do Paraná
A
região
Noroeste
do
Paraná
geomorfologicamente
encontra-se
no
Terceiro
Planalto
Paranaense
com
predomínio topos alongados e aplainados,
com vertentes convexas e vales em “berço”
(MAACK, 1968). Ainda segundo o autor o
clima é classificado como subtropical úmido
mesotérmico, localizado na zona pluvial
tropical, apresentando clima chuvoso,
temperado quente e com raras geadas
noturnas, com tendências de concentrações
das chuvas nos meses de verão sem estação
seca definida.
Esta região do Paraná é caracterizada
geologicamente, pela ocorrência do arenito
da Formação Caiuá, Grupo Bauru,
sobreposto às rochas vulcânicas da Formação
Serra Geral, Grupo São Bento na Bacia
Sedimentar do Paraná e Depósitos
Quaternários nas planícies de inundação dos
principais rios da região (MINEROPAR,
2001) (Fig.01).
Figura 01- Aspectos Geológicos da região Noroeste do
Paraná
Fonte: autores
Os arenitos da Formação Caiuá, recobrem
a maior parte da área, superposta por solos
residuais e transportado de textura arenosa,
fina a média (70 a 90%), que apresentam
vulnerabilidade
à
instalação
e
desenvolvimento de feições erosivas por
escoamento hídrico superficial, tanto
concentrado quanto difuso (SOUZA, 2001).
Maack (1968) alertava sobre a fragilidade
do substrato rochoso da região e os cuidados
para formas de ocupação. Assim como
também, Bigarella & Mazuchowski (1985)
alertaram que o principal tipo de risco natural
verificado na região Noroeste do Paraná e
que tem marcado todo o processo de uso e
ocupação da área é a ocorrência do fenômeno
erosão.
Souza (2001) corrobora esta informação,
salientando que devido a sua constituição
mineralógica as rochas da Formação Caiuá e
os materiais inconsolidados decompostos
sobre estas, apresentam-se friáveis, ou seja,
eles são de fácil desagregação, o qual facilita
a formação de erosões do tipo, sulcos,
ravinas e voçorocas.
Ermínio Kaiser, engenheiro agrônomo
aposentado do IBC (Instituto Brasileiro do
Café) relatou em entrevista a historiadora
Costa (2012), os problemas relacionados à
ocorrência de erosão desde o início do
processo de ocupação na região Noroeste do
Paraná, neste caso o município de Paranavaí
(fig. 02), no qual relata que:
“Aqui a erosão laminar, que vai arrastando
a terra embora arrastando também o
cafezal. Essa é uma sequência que fui
tirando de ano em ano. Começou assim,
depois foi aumentando, aumentando...
Agora não sei como esta, se é que existe. E
a terra vai soterrar as mudas que estão no
nível inferior e acaba jogando tudo dentro
do rio. Isto é entre Maringá e Paranavaí,
entre Alto Paraná e Nova Esperança, pra
ser mais exato”. (Kaiser, Londrina,
25/04/2007- Entrevista para Costa, 2012).
Figura 02- Processos erosivos na região de Paranavaí, 1963
Fonte: Acervo pessoal de Arminio Kaiser apud (COSTA, 2012)
Bettencourt (1978) apud Bigarella (2003)
baseado no processo de ocupação iniciados
na década de 1940 e os processos erosivos
que surgiram no talvegue do ribeirão do Rato
na região Noroeste do Paraná (Cianorte),
descreveu a evolução da paisagem do local
antes da colonização e depois desta, até o
final de 1970, e a dividiu em três fases (fig.
03).
Figura 03- Evolução do talvegue do Ribeirão do
Rato, Cianorte, Noroeste do Paraná
Fonte: Bettencourt (1978) apud Bigarella (2003)
A fase 1 mostra o recobrimento florestal
original;a fase 2 mostra a cultura do café em
um lado da vertente com o início de feições
erosivas,
devido,
provavelmente,
ao
desmatamento que colaborou para o
desenvolvimento dos processos de erosão
acelerada. No outro lado o recobrimento
florestal original e o surgimento de
assoreamento no fundo do vale; a fase 3
mostra um outro uso, o agropecuário com
plantação de pastagens que favoreceu a
redução da taxa de erosão, porém ocorreu o
entalhamento do leito do rio.
O modelo apresentado por Bettencourt
(1978) apud Bigarella (2003) apresenta a
ocupação das vertentes e seus usos, e como
este processo desencadeou a variação das
formas das vertentes e dos canais, bem como
proporcionou o acúmulo de materiais
inconsolidados causando o assoreamento
deles. Esse modelo de evolução da ocupação
das vertentes relacionadas ao uso da terra é o
que predominou na área em estudo.
Ainda no Noroeste do Paraná a cidade
de
Loanda
passou
por
inúmeras
transformações ambientais, na qual a erosão
foi um grande problema para o
desenvolvimento do município. Segundo
Cancean (2013) existe uma voçoroca na área
urbana com a estimativa de perda de
materiais inconsolidados (solos), é entorno
de 2.267.699m³, sendo desta forma a maior
voçoroca do estado do Paraná (fig. 04).
Cabe-se destacar, que o fenômeno da erosão,
ocorreu em quase todos os municípios da
região, principalmente ligados à estrutura
urbana. No próximo item será apresentado
alguns problemas relacionados aos processos
erosivos em ambientes fluviais em áreas
urbanas, e alguns resultados destas
alterações.
A
B
Figura 04- A-Areal no leito da Voçoroca Vila Vitória- Loanda-PR. B-obras de contenção na voçoroca.
Essa voçoroca encontra-se a montante do Ribeirão Areia Branca, dessa forma, com as chuvas são carreados
esses materiais para o rio, comprometendo suas águas.Fonte: Cancean (2013).
3. Depósitos tecnogênicos: estudo de caso
de Umuarama-PR
Foi a partir do processo de degradação dos
solos, impulsionadas, principalmente, pelas
lavouras de café que a população rural mudouse para as áreas urbanas em busca de melhores
condições de vida e financeiras em alguns
estados brasileiros. Assim como aconteceu em
outros municípios do Estado do Paraná,
Umuarama sofreu um aumento significativo de
sua população a partir de 1970.
Essas mudanças no uso da terra aceleraram a
ocorrência da degradação do meio físico,
culminando na ocorrência de feições erosivas
que colaboraram na produção de sedimentos
diferenciados sobre as planícies de inundação já
alteradas, assim como no assoreamento dos
cursos d`água que favoreceram a formação de
depósitos tecnogênicos.
Os depósitos tecnogênicos nessa área foram
identificados por França Junior (2010) como um
geoindicador2, pois representaram a alteração
das mudanças do uso da terra na bacia do
córrego Pinhalzinho II.
2
“Os geoindicadores são medidas de magnitudes,
frequências, taxas e tendências de processos ou fenômenos
geológicos, que ocorrem em períodos de cem anos ou menos,
ou próximo a superfície terrestre e podem apresentar
variações significativas para avaliação e compreensão das
mudanças ambientais rápidas”Coltrinari & McCall (1995,
pag. 05).
Nessa mesma pesquisa o autor utilizou o
conceito de geoindicador para o reconhecimento
dos processos de erosão e deposição fluvial,
conforme citações do geoindicators da União
Internacional de Ciências Geológicas (IUGS)3.
A identificação dos depósitos tecnogênicos
na pesquisa de França Junior (2010) partiu
primariamente por trabalhos de campo para
identificação de processos degradacionais na
bacia, onde se observaram nas cabeceiras de
drenagem da área urbana, pequenas erosões
remontantes, que foram estagnadas com obras
de engenharia.
Concomitantemente,
foram
analisados
registros fotográficos de obras mitigadoras em
feições erosivas mostradas por Souza (2001). A
partir desses dados o autor questionou-se: onde
estas grandes quantidades de sedimentos e
materiais inconsolidados foram parar? Foi na
busca por esta resposta que foram identificados
os depósitos tecnogênicos de Umuarama
espalhados sobre as planícies aluviais a jusante
da área urbana.
França Junior (2010) relata a variação
ocorrida na planície aluvial do córrego
Pinhalzinho II no período de 1970 para 2010
(fig. 05) em que o autor descreve.
As alterações verificadas na bacia de 1970 para
2010 refletem uma adaptação do sistema fluvial
as condicionantes de aumento de fluxo e
3
IUGS- disponível em http://www.lgt.lt/geoin/
sedimentos na planície. Estas são provocadas
indiretamente pelo agente antrópico, mas as
alterações na dinâmica hídrica da bacia são
adaptações naturais às novas condições
estabelecidas. O aumento da carga de sedimentos
assoreou o canal, e este passou a divagar
lateralmente, ora depositando material, ora
retirando, proporcionando o alargamento da
planície, a formação de erosões marginais, áreas
encharcadas, e pacotes de sedimentos
tecnogênicos.(FRANÇA JUNIOR, 2010, pag.
76).
2010
1970
A
B
Figura 05- Alterações geomorfológicas na planície de inundação do córrego Pinhalzinho II, Umuarama-PR
em 1970 e 2010.
Fonte: França Junior (2010)
Os depósitos tecnogênicos identificados por França Junior (2010) foram classificados segundo
metodologia de Pellogia (1999), conforme o quadro 1.
Quadro 1: Classificação integrada dos depósitos tecnogênicos.
Parâmetro
Depósito
tecnogênico
Gênese
Composição
1ª ORDEM
Construídos A
Induzidos A
Modificados A
Úrbicos C
Gárbicos C
Espólicos C
Líticos
2ª ORDEM
Retrabalhados B
Remobilizados
Sedimentares
Tecnogênicoaluviais D
Fonte: Peloggia, 1999.
Pode-se compreender que os pacotes de
sedimentos
encontrados
no
córrego
Pinhalzinho
II
em
Umuarama-PR,
correspondem em sua gênese aos depósitos
induzidos de 1ª ordem, mas que, no entanto,
a partir da urbanização com o aumento das
áreas impermeabilizadas, partes dos materiais
inconsolidados
foram
dragados
e
remobilizadas- retificação do canal (2ª
ordem) para a jusante da bacia em 1998, de
acordo com Souza (2001).
Quanto à composição, existem duas fases:
na base dos depósitos, encontram-se os
depósitos induzidos com características
tecnogênicas aluviais. Pode-se destacar que
Estrutura
Estratificados
Em camadas
Em células
Maciços
Irregulares
Formas de
Ocorrência
Maciços
isolados
Lençóis de
aterramento
Coluviformes
Aluviformes
Ambientes
Industriais B
Mineiros B
Urbanos B e
peri-urbanos
Rurais B
há depósitos úrbicos associados nas margens
e no leito do canal. Este tipo de material só é
transportado por grandes fluxos de água, pois
possui aspectos granulométricos grosseiros, o
que impede sua deposição nas planícies.
A organização interna dos depósitos bem
como sua estrutura são estratificadas em
camadas centimétricas a decimétricas que são
resultantes de processos naturais acamados,
ou seja, com sobreposição horizontal de fases
deposicionais
distintas.
Estas
fases
correspondem como descrito por Oliveira
(1994) em fases de ocupação e a demanda de
sedimentos nas áreas fonte.
Nas figuras 6 e 7 podem ser observados os
detalhes: variação de tonalidade de cor; a
estratificação plana/paralela; características
granulométricas e a presença de fragmentos
de origem antrópica.
Quanto à forma de ocorrência, os
depósitos que foram mapeados por França
Junior (2010) correspondem a depósitos
aluvioformes, sendo depositadas em amplas
planícies retrabalhadas pelo fluxo do canal,
que segundo o autor geraram alterações
morfométricas no canal.
Figura 06- Descrição trincheira1- córrego Pinhalzinho II
Fonte: França Junior (2010)
Figura 07- Trincheira 2- córrego Pinhalzinho II
Fonte: França Junior (2010)
O ambiente é um local onde o fluxo
hídrico dos principais afluentes do córrego
Pinhalzinho II se juntam. Os pontos de
análise correspondem a 2 trincheiras na
planície de inundação deste canal a 1km do
perímetro urbano.
Bigarella (2003) salienta que para uma
análise da diversidade climática numa região,
dentro de uma visão em pequena escala no
tempo, deve-se levar em consideração as
variações das condições meteorológicas
locais de cada uma das áreas. Outro
problema de importância segundo o mesmo
autor, que deve ser levado em consideração
no estudo das várzeas, é o desmatamento de
origem antrópica, que provoca erosão
acelerada na vertente e modificação nos
regimes hidrológicos dos cursos d’água,
dando origem a formação de terraços
antrópicos.
Por isso, cabe-se destacarnesta pesquisa
que parte dos processos erosivos, que
acabaram formando os depósitos citados,
foram
influenciados
por
processos
atmosféricos em conjunto com a fragilidade
dos solos; as áreas de concentração hídrica; e
as mudanças no uso da terra. Em 1998, ano
de El Nino a precipitação chegou a 2200mm,
600mm acima da média que é 1622mm,
(França Junior, 2010). Os efeitos foram
significativos na bacia estudada, onde o
córrego Pinhalzinho II, região a jusante da
área urbana de Umuarama, formou
meandros, e alterou praticamente parte de sua
planície de inundação, o leito com
assoreamento, erosão marginal e a mudança
no nível de base local (fig. 08).
Dentro da visão da hidrologia os autores,
Paul & Mayer (2001); Tucci (2001) e Chin
(2006) corroboram a informação que a
produção de sedimentos em bacias urbanas,
como mostradas anteriormente nas figuras
(05 e 06), ocorre por fases. No início com a
modificação da cobertura da bacia pela
retirada da sua proteção natural, o solo fica
desprotegido e a erosão aumenta no período
chuvoso, aumentando também a produção de
sedimentos. Segundo estes autores as
principais fases na produção de sedimentos
em área urbanas são:
Fase 1- estágio inicial: ocorre em novos
loteamentos o solo fica desprotegido, e
dependendo das condições climáticas pode
ocorrer uma grande movimentação de terra,
que é transportada por escoamento
superficial.
Nesta
fase
existe
a
predominância dos sedimentos e pequena
produção de resíduos sólidos.
Figura 08- Croqui representando mudanças
geomorfológicas do córrego Pinhalzinho II em
1998.
Fonte: Souza (2001); Croqui: França Junior
(2010)
Fase 2- estágio intermediário: parte da
população está estabelecida, ainda existe
importante movimentação de terra devido à
nova construção e a produção de resíduos da
população se soma ao processo de produção
de sedimentos;
Fase 3- estágio final: praticamente todas
as superfícies urbanas estão consolidadas e
apenas resulta produção de lixo urbano, com
menor parcela de sedimentos de algumas
áreas de construção ou sem cobertura
consolidada. A figura (09) corrobora estas
fases.
A região Noroeste do Paraná passou por
diversas fases, e, atualmente, possui certa
estabilidade na processualidade de formação
tecnogênica, assim como foi descrito por
Oliveira (1990) quando descreveu por meio
de esquema hipotético a evolução dos
depósitos relacionados ao uso do solo no
Planalto Ocidental Paulista.
Figura 09. Fases gerais de urbanização com as mudanças associadas processo, das condições do canal e
ajustes morfológicos.As curvas são aproximadas para indicar tendências, mas poderia apresentar mudanças
bruscas e variações consideráveis entre as variáveis.
Fonte: Adaptado de Chin (2006)
O
que
se
observa
atualmente,
influenciando diretamente na produção de
depósitos tecnogênicos e se misturando ao
mesmo, são os fluídos tóxicos- esgotos
residenciais e industriais; resíduos urbanosfolhas e galhos de árvores, a presença de
resíduos sólidos de natureza diversa- lixo,
entulhos, que são carregados pela lavagem
das ruas em dias de chuva; e os materiais
inconsolidados que depositam-se junto com
os sedimentos nos fundos de vale (fig.10).
França Junior (2010) relata em sua
pesquisa, que devido à falta de mata ciliar ou
APP (Área de Proteção Permanente), no
entorno de alguns cursos d’água, a vegetação
que predomina nos fundos de vale das
médias cidades do Noroeste é a pastagem de
natureza exótica, e que esta colabora para
conter e armazenar os sedimentos e resíduos
dos canais sobre as planícies. Este fato
contribui significativamente para a formação
dos depósitos tecnogênicos nas planícies de
inundação.
4.
Figura 10- Depósitos e fluidos Tecnogênicos na
planície do Córrego Pinhalzinho II, Umuarama-PR
Fonte: França Junior (2010)
Considerações Finais
Esta
pesquisa
demonstrou
alguns
processos e características da formação dos
depósitos tecnogênicos na região Noroeste do
Paraná, principalmente ligados às alterações
na paisagem provocadas pela ação antrópica.
As planícies aluviais desta região possuem
características amplas e com deposição
Holocênica, ou seja, oriundas de uma
primeira natureza sem intervenção do
homem.
Assim como Betencourt (1978) apud
Bigarella (2003) descreveu os depósitos
erosivos no ribeirão dos Ratos que foram
considerados como tecnogênicos, nessa
pesquisa, França Junior (2010) também
confirmou estas evidências, mas com feições
diferenciadas incluindo fases urbanas. O
ambiente urbano, assim como foi descrito
anteriormente, são os motores que
impulsionam uma rede de contradições e
manifestações da sociedade sobre a natureza.
Estes podem promover o consumo e a
geração
de
resíduos
em
formatos
diferenciados, e determinar mudanças
morfológicas conforme sua dinâmica.
Os depósitos tecnogênicos que recobrem
as antigas várzeas nos trazem a história
ambiental destes lugares, em ambientes
rurais com as mudanças no uso da terra e nas
áreas urbanas, com alterações significativas
na dinâmica natural registradas por fases com
a variação faciológica e nas formas do
relevo- mudanças do canal, nível de base, e
morfométricos.
Podem-se considerar os depósitos
tecnogênicos de diversas formas, pois
retratam a materialidade do processo de
edificação da sociedade sobre a natureza em
que o homem determina suas características
conforme suas necessidades cotidianas.
Em futuros projetos, deve-se analisar o
estado polínico destes depósitos, bem como
desenvolver as datações absolutas e
cruzamentos com relativas a fim de
corroborar com as pesquisas e os efeitos do
Tecnógeno na região Noroeste do Paraná.
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