42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 1 URETEROTOMIA COMO TRATAMENTO DE OBSTRUÇÃO URETERAL PARCIAL EM UM CÃO – RELATO DE CASO URETEROTOMY AS TREATMENT OF PARTIAL URETERAL OBSTRUCTION IN A DOG – CASE REPORT ¹MILTON MIKIO MORISHIN FILHO, ²ANA PAULA HUIDA FRANÇA; ³SIMONE GONÇALVES DA SILVA; 4 RENATA FOGAGNOLI CONCEIÇÃO ¹Professor Adjunto - Universidade Tuiuti do Paraná (UTP), ²Médica Veterinária Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – UTP, ³Médica Veterinária Residente em Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais – UTP, 4Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária - UTP RESUMO: Ureterotomia é a técnica cirúrgica utilizada para remover urólitos que causem obstrução do ureter. Foi atendida uma cadela da raça Lhasa Apso, 7 anos, apresentando anorexia, apatia, êmese, fezes amolecidas e polidipsia com evolução de 3 dias. Exame ultrassonográfico revelou urólito em ureter esquerdo, causando dilatação ureteral significativa. Foi realizada avaliação diária até identificação do momento ideal para ureterotomia. A evolução do paciente foi favorável e sem complicações. Palavras-chaves: Urólito, urolitíase, ureter ABSTRACT: Ureterotomy is the surgical technique used to remove uroliths that cause ureter obstruction. A Lhasa Apso breed bitch, 7 years, was attended presenting anorexia, apathy, emesis, softened faeces and polydipsia with 3 days of evolution. Ultrasound examination showed urolith in left ureter, causing significant ureteral dilatation. Daily 0808 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 2 assessment was conducted to indentify the ideal time to ureterotomy. The evolution of the patient was favorable and without complications. Key-words: Urolith, urolithiasis, ureter INTRODUÇÃO Urolitíase é uma enfermidade causada pela presença de urólitos no trato urinário, que se caracterizam por formação sólida desenvolvida a partir da hipersaturação da urina por substâncias cristalogênicas. (Rey e Pernas, 2012). A obstrução ureteral ocorre quando urólitos se alojam nos ureteres, comprometendo o fluxo urinário. A ureterotomia consiste no acesso cirúrgico ao ureter indicado para remoção de cálculos que estejam causando obstrução (Fossum, 2008). Este trabalho objetiva relatar um caso de urólito em ureter levando a obstrução parcial do trato urinário, demonstrando a avaliação necessária para escolha do momento correto para intervenção cirúrgica. DESCRIÇÃO DO RELATO Uma cadela da raça Lhasa Apso, 7 anos, foi atendida com histórico de anorexia, apatia, êmese, fezes amolecidas e polidipsia a 3 dias. Ao exame físico o animal apresentou dor à palpação abdominal. Ultrassonografia abdominal revelou nefrólitos em rins e urólito de 0,7 cm no terço proximal de ureter esquerdo, causando dilatação ureteral significativa. Exames de sangue demonstraram leucocitose e anemia. A urinálise revelou urina de aspecto turvo, densidade reduzida, traços de proteína, sangue, ph ácido, células de transição, leucócitos e bactérias. Foi observado, por meio da repetição diária dos exames, deslocamento mínimo do urólito em direção à bexiga e dilatação da pelve renal, além de diminuição da leucocitoce. No sétimo dia de avaliação, houve aumento da creatinina (2,2mg/dL), levando à decisão de ureterotomia 0809 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 3 para remoção de urólito. O procedimento foi iniciado com incisão retroumbilical para acesso ao rim esquerdo. Foi realizada incisão longitudinal ao longo do ureter e acima do urólito, remoção do urólito e síntese da parede ureteral com fio poliglactina 910 nº 4.0 em padrão de sutura simples separado. O acompanhamento clínico, laboratorial e ultrassonográfico pós-operatórios demonstraram ausência de sinais de estenose ureteral e normalização de todas as alterações, sugerindo manutenção da função renal. O paciente foi avaliado dois meses após o procedimento e manteve-se sem complicações. Recomendaram-se reavaliações periódicas para controle de novas obstruções. DISCUSSÃO A urolitíase afeta entre 1,5 e 3% da população canina, e representa uma complicação de causa multifatorial que provoca aumento da excreção urinária de certos minerais. (Vicente e Madrigal, 2012; Waki e Kogika, 2015). Urólitos de oxalato de cálcio são o principal cristal presente na urina ácida (Vicente e Madrigal, 2012). No caso relatado suspeita-se deste tipo de cálculo devido ao ph 5,0, ainda que não se observe presença de cristais de oxalato na urina. Waki e Kogika (2015) citam o Lhasa Apso como uma raça predisposta à formação desse tipo de cálculo e dizem, ainda, que apenas 5% dos urólitos são encontrados na pelve renal e nos ureteres. Os urólitos de oxalato de cálcio apresentam menor incidência em fêmeas, possivelmente pela ação protetora exercida pela redução da excreção urinária de oxalato e do aumento de citrato oriundas da ação dos estrógenos, considerados inibidores da cristalização (Rey e Pernas, 2012). Rey e Pernas (2012) dizem que há predisposição a infecções no trato urinário em casos de presença de urólitos, e citam a hematúria, disúria, cistite, polaciúria e estrangúria como sinais comuns da urolitíase. 0810 42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de 2015 - Curitiba - PR 4 No caso relatado, o paciente não apresentou alterações no fluxo urinário, no entanto, a urinálise e exames hematológicos demonstraram sinais de infecção e início de comprometimento renal. Giordani et al (2008) relatam um caso de hidronefrose como consequência da obstrução ureteral. Além disso, Faria et al (2011) ressaltam a ocorrência de pionefrose nos casos de infecção urinária decorrente de urolitíase crônica. Isto demonstra a importância da identificação precoce do urólito e do acompanhamento destes casos para a prevenção de complicações. Rodrigues et al. (2007) diz que o grau da lesão renal depende da integridade e do tempo de obstrução. Caso a obstrução seja aliviada, a lesão renal será totalmente reversível. A ureterotomia para remoção de cálculos é indicada se ocorrer ou se houver a possibilidade de obstrução ureteral (FOSSUM, 2008). Neste caso, optou-se por este procedimento no momento em que foi observada dilatação da pelve renal e aumento de creatinina, e a evolução do paciente foi favorável e sem complicações. CONCLUSÃO A ureterotomia se mostrou eficaz no tratamento da obstrução ureteral quando realizada no momento ideal, identificado por meio do controle diário da função renal e imagem ultrassonográfica. O tratamento precoce evita a evolução da obstrução para alterações renais. A rápida identificação e instituição do tratamento adequado são essenciais para evitar complicações como hidronefrose ou pionefrose, que poderiam levar a perda irreversível da função renal. REFERÊNCIAS 1 - FARIA, L. G.; SAMPAIO, G.R.; CAMPOS, I. O.; LACRETA, A. C. C. J.; VARASCHIN, M. S.; KAWAMOTO, F. Y. 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