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Filosofia - Poesia
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A face oculta
da Democracia
Qual é a real possibilidade do povo
governar um país se não sabe
governar a si mesmo?
planeta
poesia
Série Poetas da Região:
Sérgio Bernardo
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Abstração
Desjejum
Que sei eu das sombras
petrificadas em chinês
nas paredes da infância
Na minha mesa posta
um bule com o choro de ontem
Que sei eu dos muros
separando mundos
nos quintais da pátria
Entre os jornais do dia
Dib Curi
No Brasil, atualmente, muito se
discute sobre a Democracia. Para uns
a Democracia tem a ver com o fenômeno das massas. Os mais estudiosos dizem que não há melhor sistema para a humanidade. Outros afirmam que a nossa democracia é uma
democracia burguesa porque é baseada no dinheiro. Os socialistas querem superar a democracia representativa e iniciar a democracia
participativa onde o próprio povo decide seu destino. Para compreender a
Democracia é preciso saber suas origens, na Grécia, há 2.800 anos atrás.
Na Grécia arcaica o termo Democracia tinha pouco a ver com governo do povo. O democratus era o
governante do demos ou trities (subdivisão-circunscrição). Ele era indicado
por sua experiência, sabedoria e coragem. Em geral, era um homem idoso e honrado. Suas virtudes faziam
dele um “aristocrata”, um governante
com Aristós (aretê - excelência na conduta e na filosofia de vida).
Tanto para Platão como para
Aristóteles, a aristocracia significava
o governo dos melhores, sábios que tinham passado por um árduo processo
de amadurecimento pessoal através
dos três sistemas gregos de educação: a Paidéia, a Psicagogia e a
Mistagogia. Só para o leitor ficar informado a Paidéia, segundo o pesquisador Werner Jaeger, era o “processo
de educação em sua forma verdadeira, natural e genuinamente humana”.
Mais tarde, em todo o mundo,
aconteceram muitos golpes e
usurpação de tronos. A Aristocracia,
originada a partir da excêlencia pessoal, se degenerou em uma aberração onde o poder era herdado pelo sangue, passado de pai para filho ou em
acordos espúrios entre as elites ricas.
Voltando à democracia e à
Grécia, lembramos de Teseu, lendário herói de Atenas. Na Mitologia, ele
matou o Minotauro, monstro que devorava os jovens mais promissores de
Atenas. Na vida real, Teseu foi o
unificador dos genos (tribos) da
Grécia, pois conseguiu convencer
parte da península a reconhecer a unidade sob a supremacia de Atenas.
Desta forma, Teseu foi um dos
primeiros democratus da história da
humanidade, governante do Demos
grego unificado, originado das instâncias familiares regionais. Mais tarde
estes Demos seriam fortalecidos na reforma de Clístenes e teriam seu papel
no fortalecimento das cidades estado.
Exatamente neste momento começa a história da democracia moderna. Pouco antes das reformas de
Clístenes, em 508 aC, a Grécia perdeu boa parte de suas colônias da Ásia
Menor para os brigões da época, os
Persas. Desta forma foi obrigada a aumentar muito o contingente de seus
exércitos para se defender da ofensiva dos Persas que ameaçava submeter toda a Grécia.
A única maneira que Clístenes
arrumou para aumentar o contingente
de seus exércitos foi oferecer a todos os habitantes (escravos, comerciantes e estrangeiros) a cidadania e
o direito do voto desde que fossem a
guerra e voltassem vivos. Assim, mais
de 300 mil homens sem a rígida formação educacional grega se alistaram nos exércitos. Metade deles voltaria para votar nas Assembléias.
Justamente neste momento da
história é que o discurso e o conhecimento começariam a valer mais do que
a verdade e a sabedoria. Para convencer os milhares de homens ignorantes nas praças começou a prevalecer
a arte do discurso e da manipulação
das emoções. O voto da maioria passou a decidir. Os professores da nova
classe política que surgia foram os famosos sofistas, que tanto foram combatidos por Sócrates e Platão.
No período arcaico grego, ser
chamado de Demagogo era um grande elogio para um cidadão porque significava dizer que ele era reconhecido como um nobre condutor (gogia)
de um Demo. A partir do Século V
aC, no período clássico, a palavra demagogo ganhou o sentido pejorativo
de mentiroso e hipócrita porque a demagogia passou a ser a arte da dissimulação e da esperteza através da falácia e dos discursos sem verdade.
Não é de se estranhar que o
mundo grego, depois da instauração
desta falsa democracia iria encontrar
a sua bancarrota e a quebra dos seus
costumes e tradições. Foram elas
que fizeram da Grécia o maior exemplo de civilização de todos os tempos, uma civilização que respeitava e
valorizava a Vida e investia na educação e na sabedoria de seus cidadãos.
Mas qual era o conceito de sabedoria e de ignorância para os gregos? Na Grécia, ser instruído e sábio pouco tinha a ver com possuir técnica ou conhecimentos. Sócrates
chegou a dizer que não haveria pressa para adquirir conhecimentos pois
o prioritário era a educação dos vícios e das virtudes. O auto conhecimento traria paz de espírito e sabedoria,
muito antes da erudição e oratória.
Atualmente, a grande questão
é a possibilidade de existir um governo do povo, quando a sociedade não
privilegia a formação ética e o amadurecimento pessoal dos seus cidadãos. Qual é a real possibilidade do
povo governar um país se não sabe
governar a si mesmo?
Por isto, para dar certo, a democracia deve ser um sistema de ampliação dos direitos culturais e educacionais do povo. Para criarmos uma
verdadeira democracia cada um de
nós deverá se transformar num verdadeiro Democratus.
Nas mesmas palavras
dos mesmos livros
que sei eu de mim
Que sei eu
ignorante em didática
das aulas sonegadas
servido amargo
o roteiro em detalhes
do que podia ter sido
Em vez da geleia de morango
o suor das tarefas
num pote de cerâmica
A faca corta o pão
Eu que não sei nada
sendo parte de tudo
que sei eu do outro
como se amputasse
Que sei eu, me diga
das manhãs e tardes
tecidas em silêncio
No balcão da copa
Órfão das noites
paginando lendas
que sei eu das luas
Na ciranda do tempo
que sei eu da face
que move os espelhos
a língua do ódio
o relógio do micro-ondas
cobra meu tempo
Todo dia às 7
desjejuo em silêncio
e a família ignora
a fome de dentro
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