Filosofia - Poesia 2 A face oculta da Democracia Qual é a real possibilidade do povo governar um país se não sabe governar a si mesmo? planeta poesia Série Poetas da Região: Sérgio Bernardo Se voce compoê poesias, mande seus versos que o Século XXI publica. Mande para a CAIXA POSTAL 89675 - CEP: 28610-972, Nova Friburgo (RJ) ou para o e-mail [email protected] br Abstração Desjejum Que sei eu das sombras petrificadas em chinês nas paredes da infância Na minha mesa posta um bule com o choro de ontem Que sei eu dos muros separando mundos nos quintais da pátria Entre os jornais do dia Dib Curi No Brasil, atualmente, muito se discute sobre a Democracia. Para uns a Democracia tem a ver com o fenômeno das massas. Os mais estudiosos dizem que não há melhor sistema para a humanidade. Outros afirmam que a nossa democracia é uma democracia burguesa porque é baseada no dinheiro. Os socialistas querem superar a democracia representativa e iniciar a democracia participativa onde o próprio povo decide seu destino. Para compreender a Democracia é preciso saber suas origens, na Grécia, há 2.800 anos atrás. Na Grécia arcaica o termo Democracia tinha pouco a ver com governo do povo. O democratus era o governante do demos ou trities (subdivisão-circunscrição). Ele era indicado por sua experiência, sabedoria e coragem. Em geral, era um homem idoso e honrado. Suas virtudes faziam dele um “aristocrata”, um governante com Aristós (aretê - excelência na conduta e na filosofia de vida). Tanto para Platão como para Aristóteles, a aristocracia significava o governo dos melhores, sábios que tinham passado por um árduo processo de amadurecimento pessoal através dos três sistemas gregos de educação: a Paidéia, a Psicagogia e a Mistagogia. Só para o leitor ficar informado a Paidéia, segundo o pesquisador Werner Jaeger, era o “processo de educação em sua forma verdadeira, natural e genuinamente humana”. Mais tarde, em todo o mundo, aconteceram muitos golpes e usurpação de tronos. A Aristocracia, originada a partir da excêlencia pessoal, se degenerou em uma aberração onde o poder era herdado pelo sangue, passado de pai para filho ou em acordos espúrios entre as elites ricas. Voltando à democracia e à Grécia, lembramos de Teseu, lendário herói de Atenas. Na Mitologia, ele matou o Minotauro, monstro que devorava os jovens mais promissores de Atenas. Na vida real, Teseu foi o unificador dos genos (tribos) da Grécia, pois conseguiu convencer parte da península a reconhecer a unidade sob a supremacia de Atenas. Desta forma, Teseu foi um dos primeiros democratus da história da humanidade, governante do Demos grego unificado, originado das instâncias familiares regionais. Mais tarde estes Demos seriam fortalecidos na reforma de Clístenes e teriam seu papel no fortalecimento das cidades estado. Exatamente neste momento começa a história da democracia moderna. Pouco antes das reformas de Clístenes, em 508 aC, a Grécia perdeu boa parte de suas colônias da Ásia Menor para os brigões da época, os Persas. Desta forma foi obrigada a aumentar muito o contingente de seus exércitos para se defender da ofensiva dos Persas que ameaçava submeter toda a Grécia. A única maneira que Clístenes arrumou para aumentar o contingente de seus exércitos foi oferecer a todos os habitantes (escravos, comerciantes e estrangeiros) a cidadania e o direito do voto desde que fossem a guerra e voltassem vivos. Assim, mais de 300 mil homens sem a rígida formação educacional grega se alistaram nos exércitos. Metade deles voltaria para votar nas Assembléias. Justamente neste momento da história é que o discurso e o conhecimento começariam a valer mais do que a verdade e a sabedoria. Para convencer os milhares de homens ignorantes nas praças começou a prevalecer a arte do discurso e da manipulação das emoções. O voto da maioria passou a decidir. Os professores da nova classe política que surgia foram os famosos sofistas, que tanto foram combatidos por Sócrates e Platão. No período arcaico grego, ser chamado de Demagogo era um grande elogio para um cidadão porque significava dizer que ele era reconhecido como um nobre condutor (gogia) de um Demo. A partir do Século V aC, no período clássico, a palavra demagogo ganhou o sentido pejorativo de mentiroso e hipócrita porque a demagogia passou a ser a arte da dissimulação e da esperteza através da falácia e dos discursos sem verdade. Não é de se estranhar que o mundo grego, depois da instauração desta falsa democracia iria encontrar a sua bancarrota e a quebra dos seus costumes e tradições. Foram elas que fizeram da Grécia o maior exemplo de civilização de todos os tempos, uma civilização que respeitava e valorizava a Vida e investia na educação e na sabedoria de seus cidadãos. Mas qual era o conceito de sabedoria e de ignorância para os gregos? Na Grécia, ser instruído e sábio pouco tinha a ver com possuir técnica ou conhecimentos. Sócrates chegou a dizer que não haveria pressa para adquirir conhecimentos pois o prioritário era a educação dos vícios e das virtudes. O auto conhecimento traria paz de espírito e sabedoria, muito antes da erudição e oratória. Atualmente, a grande questão é a possibilidade de existir um governo do povo, quando a sociedade não privilegia a formação ética e o amadurecimento pessoal dos seus cidadãos. Qual é a real possibilidade do povo governar um país se não sabe governar a si mesmo? Por isto, para dar certo, a democracia deve ser um sistema de ampliação dos direitos culturais e educacionais do povo. Para criarmos uma verdadeira democracia cada um de nós deverá se transformar num verdadeiro Democratus. Nas mesmas palavras dos mesmos livros que sei eu de mim Que sei eu ignorante em didática das aulas sonegadas servido amargo o roteiro em detalhes do que podia ter sido Em vez da geleia de morango o suor das tarefas num pote de cerâmica A faca corta o pão Eu que não sei nada sendo parte de tudo que sei eu do outro como se amputasse Que sei eu, me diga das manhãs e tardes tecidas em silêncio No balcão da copa Órfão das noites paginando lendas que sei eu das luas Na ciranda do tempo que sei eu da face que move os espelhos a língua do ódio o relógio do micro-ondas cobra meu tempo Todo dia às 7 desjejuo em silêncio e a família ignora a fome de dentro