Promoção da Saúde e Determinantes Sociais Luiza S. Heimann Médica Sanitarista Diretora do instituto de Saúde da SES - SP Padrões de Determinação As formas concretas de inserção sócioeconômica da população (condições de trabalho e condições de vida) são relevantes para explicar a saúde e o perfil epidemiológico. As condições gerais de existência caracterizam o modo de vida que articula condições de vida e estilo de vida (Possas, 1989). Modo de vida e saúde Condições de vida: condições materiais necessárias à subsistência, relacionadas à nutrição, à habitação, ao saneamento básico e às condições do meio ambiente. Estilo de vida: formas social e culturalmente determinadas de vida, que se expressam no padrão alimentar, no dispêndio energético cotidiano no trabalho e no esporte, hábitos como fumo, alcool e lazer (Possas, 1989:197) Determinantes da Saúde (Dahlgren e Whitehead) Definições Determinantes sociais de saúde (DSS) são as condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham ou "as características sociais dentro das quais a vida transcorre” (Tarlov,1996) Desigualdades: diferenças sistemáticas na situação de saúde de grupos populacionais Iniqüidades: as desigualdades na saúde evitáveis, injustas e desnecessárias (Whitehead) 30 ANOS DEBATENDO A DETERMINAÇÃO DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Emergência da Epidemiologia Social na América Latina: Laurell (1976) e Breilh (1979) Tarefas iniciais 1 ª) Demonstrar que a doença, tem caráter histórico e social; 2ª) Definir o objeto de estudo, que permita um aprofundamento na compreensão do processo saúdedoença como processo social; 3ª) Modo de conceituar a causalidade, ou melhor, a determinação (Laurell, 1982). EPIDEMIOLOGIA SOCIAL NO BRASIL A.Tambelini (1975) – Acidentes de trânsito (causalidade estrutural) R. Guimarães, P. Sabrosa, etc.: “Saúde e Medicina no Brasil” (CEBES, 1978) . C. Victora – Mortalidade Infantil e estrutura agrária C. Monteiro - Mortalidade Infantil e espaço urbano M. Goldbaum e Luis Jacinto – Doença de Chagas Maurício Barreto – Esquistossomose N. Almeida Filho – Doença mental e urbanização Djalma Agripino de Melo Filho – Compreensão e crítica da Epidemiologia Social Por que enfatizar os determinantes sociais? Os determinantes sociais tem um impacto direto na saúde Os determinantes sociais estruturam outros determinantes da saúde São as ‘causas das causas’ Diferenciais intra-urbanos e desigualdades sociais em saúde Os determinantes sociais que explicam a estruturação do espaço urbano e as condições de reprodução da vida (biológica, ecológica, econômica e cultural), definem, em última análise, o padrão e o perfil epidemiológico da população. Distinção entre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Czeresnia, 2003) Promover: Impulsionar, fomentar, originar, gerar. Refere-se a medidas que não se dirigem a doenças específicas, mas que visam aumentar a saúde e o bem estar. Implica o fortalecimento da capacidade individual e coletiva para lidar com a multiplicidade dos determinantes e condicionantes da saúde. Distinção entre Promoção da Saúde e Prevenção de Doenças (Czeresnia, 2003) Prevenir: Preparar, chegar antes de, impedir que se realize... Exige ação antecipada,baseada no conhecimento da história natural da doença para tornar seu progresso improvável. Implica o conhecimento epidemiológico para o controle e redução do risco de doenças. Projetos de prevenção e educação baseiam-se na informação científica e recomendações normativas. PROMOÇÃO DA SAÚDE: concepções a) Saúde como produto de amplo espectro de fatores relacionados a qualidade de vida, com ênfase em ações voltadas para o coletivo e o ambiente (físico, social, político, econômico, cultural), contemplando a “autonomia” de indivíduos e grupos (capacidade para viver a vida) e a equidade. (Carvalho et al., 2004) b) Saúde como produto de comportamentos de indivíduos e famílias (estilos de vida, dieta, atividade física, hábito de fumar), com ênfase em programas educativos relacionados a riscos comportamentais passíveis de mudança. PROMOÇÃO DA SAÚDE: abordagens a) ressalta a atuação sobre os determinantes sócio-ambientais da saúde e políticas públicas intersetoriais, voltadas à melhoria da qualidade de vida das populações. b) reforça a tendência de diminuição das responsabilidades do Estado, delegando aos indivíduos, progressivamente, o autocuidado Determinantes Sociais e Promoção da Saúde Os determinantes sociais podem ter um efeito na saúde positivo (fomento, promoção da saúde e da qualidade de vida) ou negativo (riscos, doenças e agravos) Substituição da abordagem comportamental por abordagem ampla dos problemas de saúde: ação sobre determinantes, caráter coletivo, políticas públicas, capacidade dos indivíduos e de comunidades; Estratégias combinadas: individuais, ambientais, políticas . Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde da OMS (CSDH) Composta de 20 membros, destacados líderes mundiais do mundo político, de governos, da sociedade civil e da academia Lidera iniciativa mundial para criar Comissões Nacionais em todo o mundo Criada pela Assembléia Mundial da Saúde de 2004 Implantada em março de 2005, com mandato até março de 2008 Processo de constituição da CNDSS Decreto presidencial de 13/3/2006 cria a CNDSS Grupo de dezessete especialistas e personalidades da vida social, econômica, cultural e científica do país, nomeado pelo Ministro da Saúde Constituição da CNDSS expressa o reconhecimento de que a saúde é um bem público a ser construído com a participação solidária de todos os setores da sociedade brasileira CNDSS LINHAS DE ATUAÇÃO Produção e Disseminação de conhecimentos e informações Políticas e Programas Mobilização Social Página WEB: http://www.determinantes.fiocruz.br/ PROMOÇÃO DA SAÚDE e o processo da REFORMA SANITÁRIA BRASILEIRA Inserir a promoção da saúde no setor para introduzir mudanças no conjunto das políticas públicas econômicas e sociais (emprego, segurança, educação, ambiente, seguridade social, etc.). Agregar valores mobilizando vontades e ações políticas que permitam a redistribuição do poder na saúde e em outros setores dos governos para viabilizar as mudanças necessárias. A DSS, a Promoção da Saúde e a Constituição “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” Constituição Federal, art.196 Estratégias Criar dispositivos institucionais que facilitem o empowerment e certos deslocamentos de poder técnico, administrativo e político no sentido de alterar os modos tecnológicos de intervenção sobre necessidades, projetos e ideais de saúde. Construir pontes de articulação e pactuação com outros setores e segmentos sociais para assegurar políticas públicas saudáveis voltadas para a qualidade de vida: câmaras técnicas, comitê intersetorial, conselhos, comissões, grupos de trabalho, etc. Comentários finais É a capacidade de mobilizar grupos humanos e forças políticas que, em última análise, pode incidir sobre uma determinada correlação de forças e enfrentar a questão das desigualdades em saúde. Este poder político a ser conquistado pelos sujeitos sociais relevantes tem a possibilidade de construir novas acumulações e alterar uma dada distribuição de poder, ou seja uma política. Só o compromisso dos trabalhadores de saúde em disponibilizar informações técnicas e científicas para os sujeitos sociais, tornando-os parceiros de um projeto emancipatório pode dar significado e sentido a este fazer humano.