UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS TÉRMITAS COMO BIOINDICADORES DE QUALIDADE DE HABITAT NA CAATINGA, BRASIL: HÁ UMA SINTONIA ENTRE AS VARIÁVEIS ESTRUTURAIS DOS HABITATS E AS TAXOCENOSES AMOSTRADAS? WAGNER DE FRANÇA ALVES NATAL-RN 2009 Divisão de Serviços Técnicos Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Central Zila Mamede Alves, Wagner de França Térmitas como bioindicadores de qualidade de habitat na caatinga, Brasil: há uma sintonia entre as variáveis estruturais dos habitats e as taxocenoses amostradas? / Wagner de França Alves – Natal, RN, 2009. 47 f. Orientador: Alexandre Vasconcellos. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas. 1. Isoptera – Dissertação. 2. Semi-árido – Dissertação. 3. Grupos alimentares – Dissertação. 4. Abundância – Dissertação. 5. Variáveis ambientais – Dissertação. I. Vasconcellos, Alexandre. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BCZM CDU 595.72(043.3) WAGNER DE FRANÇA ALVES TÉRMITAS COMO BIOINDICADORES DE QUALIDADE DE HABITAT NA CAATINGA, BRASIL: HÁ UMA SINTONIA ENTRE AS VARIÁVEIS ESTRUTURAIS DOS HABITATS E AS TAXOCENOSES AMOSTRADAS? Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre. ORIENTADOR: PROF. DR. ALEXANDRE VASCONCELLOS NATAL-RN 2009 ii UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE BIOCIÊNCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS TÉRMITAS COMO BIOINDICADORES DE QUALIDADE DE HABITAT NA CAATINGA, BRASIL: HÁ UMA SINTONIA ENTRE AS VARIÁVEIS ESTRUTURAIS DOS HABITATS E AS TAXOCENOSES AMOSTRADAS? MEMBROS DA BANCA EXAMINADORA _____________________________________________ Prof. Dr. Alexandre Vasconcellos - Presidente Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia/CB/UFRN _____________________________________________ Prof. Dr. Adelmar Gomes Bandeira - Examinador Depto. de Sistemática e Ecologia/CCEN/UFPB _____________________________________________ Prof. Dr. Márcio Zikán Cardoso - Examinador Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia/CB/UFRN _____________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Andreazze - Suplente Depto. de Microbiologia e Parasitologia/CB/UFRN Natal, 26 de junho de 2009 iii “Desistir é a saída dos fracos. Insistir é a alternativa dos fortes”. Autor desconhecido iv Dedico esse trabalho especialmente aos meus pais, Xavier e Eliane, pelo amor e dedicação à minha vida. v AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço a Deus pelo seu amor incondicional e por tudo que ele fez em minha vida. Pois todas as coisas que até aqui conquistei foi pela permissão de Dele. Aos meus pais Francisco Xavier Alves e Eliane de França Cabral Alves, pelo amor, compreensão e investimento na minha vida escolar e acadêmica. Às minhas queridas irmãs Emiliana e Elidiane e demais familiares, pelo amor e apoio indispensáveis. Sem eles na minha vida, não teria alcançado este feito. Ao meu orientador Alexandre Vasconcellos, pelos conselhos e incentivos durante a graduação e o mestrado. Professor, não tenha dúvida que você tornou-se um dos personagens principais da minha vida. À Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), pelo ensino e oportunidades concedidas. Sendo considerada por mim a porta de entrada para uma vida profissional bem sucedida. À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte (FAPERN), pela ajuda financeira. À equipe gestora da Estação Ecológica do Seridó (ESEC), pela estadia e apoio durante a realização da pesquisa. vi Ao professor Adalberto Varela (DBEZ-UFRN) pelo apoio e informações preciosas para a elaboração dessa dissertação. Aos amigos Adriano Soares, Ruy Anderson, Rodrigo Bellezoni, Ricardo Pacheco, João Batista e Heitor Bruno pela amizade, pelos momentos de descontração na ESEC e pela preciosa ajuda nas coletas. Sem vocês, eu não teria terminado essa dissertação a tempo. Aos professores Adelmar Gomes Bandeira (UFPB), Márcio Zikán Cardoso (UFRN) e Ricardo Andreazze (UFRN) que aceitaram o convite para fazerem parte de minha banca examinadora. Obrigado também aos meus amigos de turma (2002.1) pela amizade compartilhada e por todos os momentos alegres que vivemos juntos durante a graduação. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO GERAL............................................................................................ 9 2. REFERÊNCIAS................................................................................................. 15 3. CAPÍTULO 1: Térmitas como bioindicadores de qualidade de habitat na caatinga, Brasil: há uma sintonia entre as variáveis estruturais dos habitats e as taxocenoses amostradas?.............................................................................................................. 21 Resumo.............................................................................................................................. 22 Abstract............................................................................................................................. 23 Introdução......................................................................................................................... 24 Material e Métodos........................................................................................................... 25 Resultados......................................................................................................................... 29 Discussão.......................................................................................................................... 31 Referências....................................................................................................................... 35 Tabela............................................................................................................................... 38 Lista de Figuras................................................................................................................ 40 Figuras.............................................................................................................................. 41 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................... 45 5. ANEXO....................................................................................................................... 46 *O capítulo 1 desta dissertação corresponde ao artigo e segue as normas da revista científica, com exceção do resumo em português. O Capítulo 1 será submetido à revista científica Neotropical Entomology. viii 1. INTRODUÇÃO GERAL A Caatinga possui uma área de aproximadamente 734.478 km2 (cerca de 9% do território nacional), sendo a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente restritos ao território nacional, representando um dos maiores exemplos de ambiente semiárido da região Neotropical (MMA 2002, Leal et al. 2005). Esse bioma tradicionalmente foi estigmatizado como sendo homogêneo e caracterizado por uma baixa diversidade de espécies e endemismo. No entanto, os resultados dos trabalhos desenvolvidos atualmente desmentem esse pensamento, demonstrando que a Caatinga possui uma grande heterogeneidade de formações vegetais, constituídas por uma biodiversidade que, quando comparada à de outros ecossistemas semiáridos, representa uma das maiores do mundo (Leal et al. 2003). Mesmo possuindo grande significado biológico, a Caatinga é, sem dúvida, um dos biomas brasileiros mais alterados pelas atividades humanas, produto principalmente da exploração de madeira, práticas agrícolas inadequadas e o contínuo desmatamento para a criação de bovinos e caprinos, levando a um cenário de degradação, com poucas áreas ainda com vegetação nativa (Coimbra-Filho & Câmara 1996). A área da Caatinga alterada por atividades antrópicas fica entre 30,4% a 51,7% (Leal et al. 2005). É possível que esses valores estejam subestimados, diante de vários séculos de exploração dos recursos naturais da região do Nordeste brasileiro. Atualmente, a Caatinga é o bioma brasileiro com a menor área protegida. Para se ter uma idéia, menos de 1% da região, é de proteção integral, como Estações Ecológicas (Leal et al. 2005). Os efeitos da degradação da Caatinga sobre a estrutura das comunidades biológicas são praticamente desconhecidos, evidenciando a necessidade de estudos em áreas com diferentes níveis de impacto antrópico. No entanto, como a análise geral da diversidade, 9 incluindo todos os grupos taxonômicos, representa naturalmente um obstáculo prático, a utilização de alguns táxons, abundantes e com reconhecida importância para a manutenção dos processos ecológicos, pode servir como uma ferramenta para detectar padrões gerais relacionados com os efeitos da degradação. As espécies ou conjunto de espécies utilizados no monitoramento ambiental são chamados de “bioindicadores” e são úteis no estudo dos efeitos do desmatamento e na avaliação das mudanças que todo o ecossistema pode sofrer a partir de uma modificação ambiental (Eggleton & Bignell 1995, Brown 1997, Bandeira & Vasconcellos 2002). Neste contexto, alguns grupos de artrópodes respondem bem as características necessárias para a realização de um monitoramento adequado (Kremen et al. 1993). Os insetos, por exemplo, podem ser organismos bem adequados para o estudo dos efeitos da degradação da Caatinga sobre a estrutura das comunidades biológicas, devido ao fato deles terem um ciclo de vida relativamente curto, grande variedade de hábitos alimentares, sensibilidade a distúrbios ambientais, além de possuírem altas densidades (DeSouza & Brown 1994). Os térmitas, em especial, possuem várias características que salientam seu potencial como táxon bioindicador de qualidade ambiental, portanto adequados para monitoramentos em ecossistemas tropicais. Entre os principais atributos que justificam sua categorização como bioindicadores, estão: (i) amplitude de distribuição geográfica; (ii) abundância; (iii) importante papel funcional como decompositores nos ecossistemas; (iv) facilidade de amostragem através de protocolos padronizados; (v) curto tempo de resposta às perturbações antrópicas e (vi) são tratáveis taxonomicamente (Constantino 2005). Atualmente são conhecidas cerca de 2800 espécies de térmitas e a abundância de suas colônias está relacionada à qualidade do microhabitat, disponibilidade de recursos alimentares, umidade e tipo de solo (Constantino & Acioli 2006). Sete famílias 10 (Mastotermitidae, Hodotermitidae, Termopsidae, Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae) e 14 subfamílias são reconhecidas. A região Neotropical compreende 42% de todas as espécies de térmitas conhecidas e a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica e o Cerrado são os ecossistemas que possuem a maior diversidade termítica (Constantino 1998). No Brasil encontram-se apenas quatro famílias: Kalotermitidae, Rhinotermitidae, Serritermitidae e Termitidae (Constantino 1999). Os térmitas são ovíparos e paurometábolos, ou seja, suas ninfas vivem no mesmo habitat dos adultos. Seu ciclo de vida básico possui três estágios gerais de desenvolvimento: ovo, ninfa e adulto. Esses insetos vivem em colônias, nas quais há grupos de indivíduos morfologicamente semelhantes que realizam determinadas funções (Buzzi 2002): (i) adultos reprodutivos: são indivíduos que possuem olhos compostos bem desenvolvidos e dois pares de asas membranosas. Após a revoada nupcial, dão início a uma nova colônia; (ii) soldados: são estéreis, ápteros e responsáveis pela proteção da colônia contra invasores. Sua defesa pode ser mecânica, através de suas mandíbulas, e/ou química, pelo uso de substâncias sintetizadas por glândulas especiais. Os soldados do gênero Nasutitermes são bons exemplos de indivíduos que se defendem quimicamente. A colônia de alguns térmitas como, por exemplo, de Heterotermes longiceps apresenta soldados maiores e menores (dimorfismo). Enquanto que o gênero Anoplotermes não possui esta casta; (iii) operários: são ápteros com mandíbulas relativamente pequenas. Eles são responsáveis pela alimentação do casal real, das ninfas, dos soldados e pela manutenção dos ninhos, túneis e galerias. Em algumas espécies, podem, eventualmente, ajudar na defesa da colônia. Os térmitas apresentam associações mutualísticas com vários microorganismos pertencentes a três domínios: Archaea, Bacteria e Eucarya (protozoários e fungos). Esses simbiontes são fundamentais para a degradação da celulose; fixação do nitrogênio; conversão de compostos pobres em nitrogênio em outros mais nutritivos e deterioração da madeira, 11 condicionando-a para a alimentação de algumas espécies (Bignell 2000, Breznak 2000, Rouland-Lefêvre 2000). A transmissão de bactérias e protistas simbiontes entre os membros da colônia poderá ocorrer através de dois comportamentos: trofalaxia do tipo estomodeal e/ou proctodeal (Machida et al. 2001). O primeiro é a troca de saliva e comida regurgitada e o segundo é a transferência de fluidos do intestino posterior que também conterá produtos da digestão do inseto e do simbionte. Do ponto de vista econômico, constituem pragas importantes na agricultura e no ambiente urbano. Por exemplo, algumas espécies como Cylindrotermes sapiranga chegam a causar danos importantes à cultura da cana-de-açúcar (Miranda et al. 2004). E, principalmente na estação seca, algumas espécies do gênero Syntermes danificam pastagens, cortando e carregando grandes quantidades de folhas e colmos, nos vários estágios de desenvolvimento (Czepak et al. 2003). Danos causados por esses insetos, principalmente pelos térmitas de madeira seca (p.ex.: Cryptotermes brevis), também são observados na construção civil, trazendo enormes prejuízos, pois, de maneira geral, são percebidos quando já causaram grande comprometimento estrutural e os custos, com o controle curativo e recuperação das construções, são elevados (Eleotério & Berti-Filho 2000). Os térmitas estão entre os artrópodes mais abundantes nos ecossistemas tropicais, alcançando densidades em florestas úmidas que podem ultrapassar 8.000 indivíduos/m2 (Fittkau & Klinge 1973, Martius 1994, Bignell & Eggleton 2000). Em ecossistemas semiáridos, como por exemplo: em áreas na savana da Costa do Marfim, foram encontrados cerca de 1100 indivíduos/m2 (Miklós 1998). Em relação à biomassa viva dos animais terrestres, os térmitas podem representar uma fatia de 10% do total (Wilson 1993). Especificamente no interior dos solos, esses insetos chegam a responder por até 95% de toda a biomassa de insetos (Watt et al. 1997). 12 A importância funcional dos térmitas nos ecossistemas tropicais está intimamente ligada ao consumo de necromassa vegetal e aos seus hábitos de construção de túneis, galerias e ninhos (Wood & Sands 1978). Desta forma, esses insetos atuam como mediadores no processo de decomposição e ciclagem de nutrientes e como agentes de influência na estrutura e composição química dos solos (Holt 1987, Holt & Coventry 1990, Holt & Lapage 2000). Até 50% da decomposição dos detritos orgânicos de origem vegetal em florestas tropicais podem ser atribuídos aos térmitas (Bignell & Eggleton 2000). As alterações na estrutura dos solos causadas pela atividade dos térmitas influenciam na disponibilidade de recursos para organismos de outras categorias funcionais. A dinâmica oriunda de suas atividades alimentares e construtoras desempenha no solo um papel regulador insubstituível, contrabalanceando o empobrecimento superficial edáfico, imposto pela lixiviação e erosão mecânica, sendo um dos principais responsáveis pela formação da estrutura granular muito pequena dos latossolos nas regiões tropicais (Miklós 1998). Por esses motivos, esses insetos, juntamente com as minhocas e formigas, podem ser tratados como “engenheiros de ecossistemas” (Lavelle & Bignell 1997, Dangerfield et al. 1998). Os maiores valores de diversidade alfa e de abundância de térmitas foram registrados para as florestas úmidas tropicais (Eggleton & Bignell 1995). Por outro lado, mesmo possuindo, em geral, valores de diversidade e abundância menores, a fauna de térmitas das regiões áridas e semiáridas possui igual ou maior importância funcional para a dinâmica dos processos ecológicos do que aquela encontrada nas florestas úmidas. Em algumas formações de savana, os térmitas são responsáveis por mais de 20% da mineralização do carbono, valor bem superior quando comparado aos 2% registrados para as florestas úmidas (Holt 1987, Bignell et al. 1997). Somado ao seu papel no fluxo de carbono, a atividade pedológica desses insetos em alguns ecossistemas áridos e semiáridos aumenta consideravelmente a retenção de água pelo 13 solo, fato que reflete diretamente na estrutura da vegetação e produtividade primária local. Por isso, esses insetos são considerados organismos-chave para a manutenção da integridade estrutural e funcional desses ecossistemas (Holt & Conventry 1990, Whitford 1991). A importância ecológica dos térmitas é tão marcante em alguns ecossistemas semiáridos que o estímulo de sua fauna é utilizado como ferramenta biológica na recuperação de solos compactados. A técnica consiste em lançar sobre o solo uma calda de matéria orgânica que estimula a atividade pedológica de algumas populações de térmitas no local, promovendo conseqüentemente uma maior infiltração de água no solo e a restauração da ciclagem de nutrientes (Mando 1997, Mando & Miedema 1997). A biodiversidade de térmitas da Caatinga no Nordeste brasileiro ainda é pouco estudada. Nesse ecossistema, há poucos estudos sobre a composição das taxocenoses de térmitas, incluindo riqueza de espécies, grupos alimentares, hábitos de nidificação, abundância e biomassa das populações, tornando muito difícil a identificação da importância funcional desse táxon (Martius et al. 1999, Moura et al. 2006, Mélo & Bandeira 2007, Vasconcellos et al. 2007, Moura et al. 2008). O ritmo acelerado de utilização dos recursos naturais da Caatinga torna estratégico e imprescindível o desenvolvimento de estudos que visem avaliar os efeitos dos vários distúrbios causados pelas atividades humanas sobre a estrutura das comunidades biológicas, em busca da compatibilização do desenvolvimento sócio-econômico e manutenção da integridade desse ecossistema semiárido. 14 2. REFERÊNCIAS Bandeira, A. G. & Vasconcellos, A. 2002. A quantitative survey of termites in a gradient of disturbed highland forest in Northeastern Brazil (Isoptera). Sociobiology 39: 429-439. Bignell, D. E., Eggleton, P. & Stork, N. E. 1997. Termites as mediators of carbon fluxes in tropical forest: budgets for carbon dioxide and methane emissions, p. 109-133. In Watt, A. D., Stork, N. E. and Hunter, M. D. (eds), Forest and insects. Chapman and Hall, London. Bignell, D. E. 2000. Introduction to symbiosis, p. 169-187. In Abe, T., Higashi, M. & Bignell, D. E. 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DE LIMA2, RODRIGO BELLEZONI2 & ALEXANDRE VASCONCELLOS2 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 59072-970, Natal, Rio Grande do Norte, Brasil. 2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Biociências, Departamento de Botânica, Ecologia e Zoologia, [email protected], 59072-970, Natal, [email protected], RN, Brasil. E-mail: [email protected], [email protected] e [email protected] 21 RESUMO - A composição das taxocenoses de térmitas foi analisada em três áreas de Caatinga na Estação Ecológica do Seridó, localizada no município de Serra Negra do Norte, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil. As três áreas sofreram cortes seletivos e foram utilizadas para atividades de pastagem e agricultura. No período de setembro de 2007 a fevereiro de 2009 foi aplicado um protocolo padronizado de amostragem de térmitas e variáveis ambientais foram mensuradas em cada área, como granulometria, pH e matéria orgânica do solo, estoque de necromassa, altura da vegetação, densidade de árvores, diâmetro dos caules à altura do tornozelo (DAT) e comprimento maior e menor das copas. Foram encontradas 10 espécies de térmitas pertencentes a oito gêneros nas três áreas estudadas. Além disso, foram identificados quatro grupos alimentares: consumidores de madeira, consumidores de húmus, consumidores de madeira/húmus e consumidores de folhas. Os consumidores de madeira foram dominantes em todas as áreas, tanto em número de espécies quanto em número de encontros. No geral, as áreas não foram significativamente diferentes em relação às variáveis ambientais mensuradas. O mesmo padrão foi observado para as taxocenoses de térmitas, não havendo diferença significativa da riqueza de espécies, abundância relativa e composição dos grupos alimentares e taxonômicos entre as três áreas. A sintonia entre a composição das taxocenoses e as variáveis ambientais reforça o potencial dos térmitas como indicadores biológicos de qualidade de habitat. PALAVRAS-CHAVE: Isoptera, semiárido, grupos alimentares, abundância, variáveis ambientais. 22 ABSTRACT – The composition of termite assemblages was analyzed at three Caatinga sites of the Seridó Ecological Station, located in the municipality of Serra Negra do Norte, in the state of Rio Grande do Norte, Brazil. These sites have been subjected to selective logging, and cleared for pasture and farming. A standardized sampling protocol for termite assemblages (30h/person/site) was conducted between September 2007 and February 2009. At each site we measured environmental variables, such as soil granulometry, pH and organic matter, necromass stock, vegetation height, tree density, stem diameter at ankle height (DAH) and the largest and the smallest crown width. Ten species of termites, belonging to eight genera and three families, were found at the three experimental sites. Four feeding-groups were sampled: wood-feeders, soil-feeders, wood-soil interface feeders and leaf-feeders. The wood-feeders were dominant in number of species and number of encounters at all sites. In general, the sites were not significantly different in relation to the environmental variables measured. The same pattern was observed for termite assemblages, where no significant differences in species richness, relative abundance and taxonomic and functional composition were observed between the three sites. The agreement between the composition of assemblages and environmental variables reinforces the potential of termites as biological indicators of habitat quality. KEY WORDS: Isoptera, semi-arid, feeding groups, abundance, environmental variables. 23 A Caatinga possui uma área de aproximadamente 800.000 km2 na região nordeste do Brasil e possui um clima semiárido, com elevados índices de evapotranspiração potencial (1500-200 mm/ano) e geralmente uma baixa precipitação (300-1000 mm/ano), muitas vezes concentrada de três a cinco meses (Sampaio 1995). Esta formação vegetal tradicionalmente foi estigmatizada como sendo homogênea e caracterizada por uma baixa diversidade de espécies e endemismo. No entanto, os resultados dos estudos desenvolvidos recentemente desmentem esse pensamento e apresentam a Caatinga como uma formação vegetal bastante heterogênea e com uma biodiversidade composta por várias espécies endêmicas (Leal et al 2003). Mesmo possuindo grande significado biológico, a Caatinga é uma das formações vegetais brasileiras mais alteradas pelas atividades humanas (Leal et al 2005). Os efeitos da degradação da Caatinga sobre as comunidades biológicas são praticamente desconhecidos. A análise dos efeitos da perturbação antrópica sobre todos os táxons de uma comunidade da Caatinga representa naturalmente um obstáculo prático. Neste contexto, os térmitas possuem várias características que salientam seu potencial como táxon bioindicador de qualidade de habitat, e adequados para serem utilizados em programas de monitoramento em ecossistemas tropicais (Brown 1997, Bandeira et al 2003, Vasconcellos et al no prelo). Entre os principais atributos que justificam sua categorização como indicadores biológicos de qualidade de habitat, estão: (i) amplitude de distribuição geográfica; (ii) elevada abundância; (iii) baixa capacidade de locomoção; (iv) importância funcional; (v) facilidade de amostragem através de protocolos padronizados; (vi) curto tempo de resposta às perturbações antrópicas; e (vii) por serem tratáveis taxonomicamente (Brown 1997, Constantino 2005). Em alguns ecossistemas áridos e semiáridos, a atividade pedológica dos térmitas aumenta consideravelmente a retenção de água pelo solo, fato que reflete diretamente na estrutura da vegetação e produtividade primária local. Por isso, esses insetos são considerados 24 essenciais para a manutenção da integridade estrutural e funcional desses ecossistemas (Holt & Conventry 1990, Whitford 1991). O presente estudo teve como objetivo analisar a estrutura das taxocenoses de térmitas em três áreas com histórias diferentes de manejo. Em cada uma destas áreas foram mensuradas onze variáveis ambientais com intuito de verificar se o tipo de manejo foi suficiente para criar áreas com características ambientais diferentes e se esta possível diferença entre estas áreas poderia afetar significativamente a composição das taxocenoses de térmitas. Se os térmitas são realmente bons indicadores de qualidade ambiental espera-se que eles acompanhem as variações estruturais do habitat, ou seja, se as áreas forem diferentes nos seus parâmetros ambientais espera-se que as taxocenoses de térmitas também possuam composições diferentes, acompanhando os parâmetros dos habitats, como foi observado em áreas de Floresta Tropical Úmida (Eggleton et al 2002, Jones et al 2003) e em uma outra área de Caatinga (Vasconcellos et al no prelo). Material e Métodos O estudo foi desenvolvido na Estação Ecológica do Seridó (ESEC-Seridó), localizada no Município de Serra Negra do Norte, Estado do Rio Grande do Norte, Brasil (6°33’30” a 6°37’00”S e 37°14’30” a 37°16’30”W). A ESEC-Seridó ocupa uma área de 1166,4 ha e anteriormente foi utilizada para pecuária e extração de madeira. Sua vegetação dominante é a Caatinga arbóreo-arbustiva hiperxerófila. O clima local é quente e semiárido, com temperatura média anual de 27,5°C e precipitação média anual em torno de 744,7 mm. O maior volume de chuvas ocorre entre os meses de fevereiro e maio. Quanto aos solos, há um predomínio dos Luvissolos (Bruno Não-Cálcico Vértico), Solos Litólicos Eutróficos e Vertissolos, além de afloramentos rochosos esparsamente localizados (MA 1978). 25 O estudo foi realizado de setembro de 2007 a fevereiro de 2009 em três áreas de Caatinga, escolhidas a partir do depoimento de moradores sobre a história de cada área e a forma de manejo atual. Desta forma, as áreas foram categorizadas arbitrariamente em: (i) Área A1, com vegetação secundária, tendo sido sujeita as atividades agropecuárias, com diferentes intensidades, há cerca de 30 anos; (ii) Área A2, com vegetação secundária com um tempo de regeneração semelhante à da A1, sendo atualmente margeada por estradas de barro. Além disso, teve parte de sua área utilizada para a plantação de capim elefante (Pennisetum sp.) até meados de 2006; (iii) Área A3, localizada fora dos limites da ESEC-Seridó. Apresenta visualmente um alto grau de perturbação antrópica e é usada eventualmente para a criação de gado. Amostragem de térmitas. Um protocolo padronizado de amostragem rápida da biodiversidade de térmitas (30h/pessoa/área) foi aplicado em cada uma das áreas. Esse protocolo consistiu na demarcação de seis transectos de 65 m. Em cada um destes transectos foram marcadas cinco parcelas de 5x2 m com espaçamento de 10 m entre elas, totalizando 300 m2 amostrados por área. Os térmitas foram procurados em vários microhábitats (solo, troncos e galhos das árvores, ninhos ativos e abandonados, serrapilheira, sob casca de árvores, raízes mortas, etc.). A identificação das espécies foi feita com base em trabalhos taxonômicos listados em Constantino (1998) e por comparação com espécimes da Coleção de Isoptera do Centro de Biociências da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Grupos alimentares. As espécies foram categorizadas em quatro grupos alimentares, de acordo com as observações in situ, morfologia das mandíbulas dos operários (Deligne 1966), análise do conteúdo intestinal (Bandeira 1989) e com base nos trabalhos desenvolvidos em ecossistemas do nordeste brasileiro (Bandeira et al 2003, Mélo & Bandeira 2004, Sena et al 26 2003, Vasconcellos et al 2008, Vasconcellos et al no prelo). Os quatro grupos alimentares foram: (i) consumidores de madeira, alimentam-se de madeira em diferentes estágios de decomposição e não possuem partículas de silte ou areia em seu intestino; (ii) consumidores de húmus, alimentam-se predominantemente de partículas orgânicas misturadas com solo. O conteúdo intestinal dos espécimes possui grande quantidade de silte e areia misturado à matéria orgânica ingerida; (iii) consumidores de madeira/húmus, consomem predominantemente madeira em estágio avançado de decomposição, geralmente misturada com o solo mineral. Seus representantes geralmente costumam transportar solo para o interior do tronco que está sendo consumido; e (iv) consumidores de folhas, alimentam-se principalmente de folhas secas encontradas na serrapilheira. Densidade de ninhos. Para estimar a densidade de ninhos de térmitas foram demarcadas em cada área de estudo cinco parcelas de 100 x 20 m, totalizando 1 hectare por área. Todos os ninhos com população ativa, independente de seu tamanho, foram contados. Variáveis abióticas e da vegetação. Foram mensuradas as seguintes variáveis ambientais relacionadas ao solo de cada área: (i) granulometria (proporção areia-silte-argila); (ii) matéria orgânica do solo; (iii) pH, através de um phmetro (modelo Instrutherm pH 2500) e iv) estoque de necromassa, a partir de 13 transectos (quatro na A1, cinco na A2 e quatro na A3) que continham, cada um, cinco parcelas de 0,5 x 0,5 m separadas uma da outra por 10 m. Em cada área foi realizada uma descrição fisionômica estrutural da vegetação através da demarcação de cinco parcelas de 20 x 10 m, totalizando 1000 m2/área. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos vivos que se individualizaram numa altura de 10 cm em relação ao nível do solo e que possuíam diâmetro ≥ 5 cm. Em seguida, cada árvore teve os 27 seguintes parâmetros medidos: (i) diâmetro à altura do tornozelo (DAT); (ii) altura da árvore; (iii) comprimento maior da copa; e (iv) comprimento menor da copa. Análises. Uma vez obtidos os dados biológicos, como riqueza de espécies, grupos alimentares, grupos taxonômicos e número de encontros das espécies, este último sendo considerado como uma medida indireta da abundância relativa (Jones 2000), foram calculadas as medidas ecológicas de uso freqüente no monitoramento ambiental, através dos programas: Primer 5 e Estimates 7.5 (Clarke & Warwick 2001, Colwell 2005). As estimativas de riqueza de espécies para cada área foram realizadas utilizando os estimadores não-paramétricos Jacknife 1 e Chao 2, considerados dois dos melhores estimadores não-paramétricos de riqueza de espécies (Walther & Moore 2005). Para comparar a riqueza de espécies, também foram construídas curvas de acúmulo de espécies baseadas em amostras. Para tanto foram realizadas 500 aleatorizações a partir dos dados inicias de coleta em cada parcela As variáveis ambientais das áreas foram comparadas através da ANOVA, com teste de Tukey a posteriori, caso houvesse diferença significativa entre as áreas. O número de encontros das espécies por transecto dentro de cada área foi comparado através do teste nãoparamétrico Kruskal-Wallis e o número de encontros dos grupos alimentares e taxonômicos de cada área foram comparados através do teste Qui-Quadrado. Todos esses testes foram realizados através do programa Statistica 7.1 (StatSoft 2005). A análise de componentes principais (ACP), realizada a partir dos parâmetros estruturais das três áreas estudadas, foi utilizada com o intuito de demonstrar se havia segregação espacial entre as áreas analisadas, utilizando-se o primeiro e o segundo componentes da análise (Clarke & Warwick 2001). Antes da realização do ACP os dados abióticos e da vegetação foram normalizados. No ACP, a variável silte e comprimento menor da copa foram excluídas por apresentarem alta correlação (> 0,95) com as variáveis areia e 28 comprimento maior da copa, respectivamente. Tal procedimento é aconselhado quando há uma forte correlação entre as variáveis analisadas, não acarretando perda de informação na análise (Clarke & Warwick 2001). Uma ANOVA, com os escores do primeiro componente da ACP, foi realizada para verificar a existência de diferença significativa entre os atributos ambientais mensurados nas áreas. Resultados Dez espécies de térmitas foram encontradas nas três áreas estudadas, sendo sete na A1, seis na A2 e sete na A3. Cinco espécies ocorreram simultaneamente nas três áreas. Duas foram exclusivas de A1, uma de A2 e duas de A3 (Tabela 1). Duas espécies representaram novos registros para a ESEC-Seridó, Anoplotermes sp. e Ruptitermes reconditus (Silvestri). A família Termitidae foi dominante em riqueza de espécies nas três áreas, com oito espécies, seguida por Kalotermitidae e Rhinotermitidae, com apenas uma espécie cada. Entre as subfamílias de Termitidae, Termitinae foi a dominante, com quatro espécies, seguida por Apicotermitinae e Nasutitermitinae, com duas espécies cada. A espécie mais abundante nas três áreas foi Heterotermes sulcatus (Mathews), estando presente em 73,33%, 66,66% e 50% das parcelas analisadas nas áreas A1, A2 e A3, respectivamente. Além disso, foi constatado na A3 o aporte de matéria orgânica a partir das fezes de gado, o que, em parte, pode ser responsável pela presença de algumas espécies associadas a este material, como Amitermes nordestinus (Mélo & Fontes). De acordo com os estimadores não-paramétricos Jackknife 1 e Chao 2, a riqueza de espécies estimada nas três áreas de estudo foi muito próxima da riqueza observada (Tabela 1). Além disso, a curva de acúmulo de espécies demonstrou que a riqueza de espécies de cada 29 área não foi significativamente diferente (Fig 1). Também não houve diferença significativa entre o número de encontros por transecto (Kruskal-Wallis H= 5,39; P> 0,05). Os consumidores de madeira foram dominantes nas três áreas analisadas, com o maior número de espécies (três em cada área) e abundância relativa. Por outro lado, os consumidores de húmus e os consumidores de folhas apresentaram apenas uma espécie cada, Anoplotermes sp. e R. reconditus, respectivamente. A área A1 foi à única que apresentou todos os grupos alimentares (Fig 2a). O número de encontros não foi significativamente diferente entre as áreas para os grupos alimentares (χ2 = 11,49, gl = 6, P > 0,05) e grupos taxonômicos (χ2 = 3,47, gl = 4, P > 0,05). A densidade estimada de ninhos de térmitas nas três áreas foi de 0,7 ninhos ativos/ha. Todos os ninhos foram considerados arborícolas, sendo construídos sobre árvores vivas ou mortas, sem o contato direto de sua estrutura com a superfície do solo. As espécies construtoras desses ninhos foram Microcerotermes strunckii (Sörensen) e Nasutitermes corniger (Motschulsky). A única área que apresentou ninhos foi a A1, com uma densidade de 2 ninhos ativos/ha, enquanto que nas outras áreas não foram encontrados ninhos no interior das parcelas analisadas. No entanto, foi constatada a presença de ninhos de N. macrocephalus e M. strunckii na A3 e de N. corniger na A2, mas fora das parcelas. Entre as onze variáveis ambientais coletadas nas três áreas (Fig 3), apenas a densidade média dos vegetais em A3 apresentou diferença significativa em relação à das outras áreas (F2,12=11,59; P< 0,05). De acordo com a análise de componentes principais (ACP), não houve uma clara separação das áreas referentes aos seus atributos abióticos e de estrutura da vegetação (Fig 4). As áreas não foram significativamente diferentes de acordo com os escores do primeiro componente principal (F2,11= 2,86; P=0,22). 30 Discussão A riqueza de espécies encontrada na ESEC-Seridó foi relativamente baixa, quando comparada a outras áreas de Caatinga do nordeste brasileiro (Mélo & Bandeira 2004, Vasconcellos et al no prelo). Incluindo o presente estudo, o número de térmitas registrado na literatura para a Caatinga alcança as 30 espécies (Martius et al 1999, Mélo & Bandeira 2004, Vasconcellos et al no prelo). Especificamente para estes estudos, a riqueza de espécies pode ser maior, pois as amostras de Kalotermitidae e Apicotermitinae estavam em morfo-espécies e não foram comparadas entre as áreas. Além disso, estes estudos foram realizados apenas nas Ecorregiões da Depressão Sertaneja Setentrional (Martius et al 1999, Mélo & Bandeira 2004) e na margem do Planalto da Borborema (Vasconcellos et al no prelo) e existem mais seis Ecorregiões, com características climáticas, geomorfológicas e vegetacionais diferentes na Caatinga (Velloso et al 2002). As taxocenoses da ESEC-Seridó foram consideradas estruturalmente simples, sendo compostas por poucas espécies e grupos tróficos e uma baixa abundância relativa das espécies. Além disso, a maioria das espécies, exceto A. nordestinus, possui uma ampla distribuição geográfica ocorrendo em, pelo menos, dois biomas distintas. A baixa riqueza de espécies de térmitas na ESEC-Seridó pode estar relacionada com a baixa precipitação média anual, muitas vezes concentrada em três meses (MA 1978), e a baixa concentração de matéria orgânica no solo, em virtude da baixa produtividade desse ecossistema e às perturbações antrópicas impostas há décadas sobre a região. A maior abundância relativa de H. sulcatus nas três áreas examinadas sugere que essa espécie seja uma das mais importantes na ciclagem de madeira na ESEC-Seridó e a mais resistente à perturbação antrópica. Alguns estudos comprovaram que sua colônia pode resistir a altas temperaturas no solo (em média 34°C) e consumir cerca de 98,8 kg de madeira 31 seca/ha/ano, tendo preferência a madeira de espécies exóticas, como, por exemplo, a madeira da algaroba (Prosopis juliflora) (Mélo & Bandeira 2007). Tais atributos podem explicar a dominância dessa espécie em todas as parcelas, principalmente na A3. No final da década de noventa, Martius et al (1999) registraram na ESEC-Seridó a presença de uma espécie de Constrictotermes, posteriormente identificada como Constrictotermes cyphergaster, e Inquilinitermes spp., com uma densidade de 2 ninhos ativos de C. cyphergaster/ha. As espécies de Inquilinitermes são inquilinas obrigatórias dos ninhos das espécies de Constrictotermes (Mathews 1977). No presente estudo, nenhuma colônia desses térmitas foi encontrada, sugerindo uma significativa diminuição da abundância dessas espécies na ESEC-Seridó. As causas da drástica diminuição ou extinção local das populações desses térmitas são desconhecidas e a ausência de ninhos de C. cyphergaster afeta negativamente muitas outras populações de animais, pois seus ninhos ativos e abandonados servem de locais de refúgio, predação e nidificação para vários invertebrados e até vertebrados, como algumas aves Psittaciformes que nidificam na estrutura abandonada dos seus ninhos (Mathews 1977, Cunha & Brandão 2000, Barreto & Castro 2007). A diminuição das populações de C. cyphergaster da ESEC-Seridó também pode afetar a ciclagem de nutrientes e o fluxo de energia na área. Moura et al (2008) estimaram um consumo de 44,5±14,70 kg de madeira/ha/ano apenas para as populações de C. cyphergaster em uma área de Caatinga localizada no Estado da Paraíba, nordeste brasileiro. Nesta mesma área, foi estimada apenas para C. cyphergaster uma densidade de 59,0 ± 22,5 ninhos ativos/ha (Vasconcellos et al 2007). Na ESEC-Seridó, Martius et al (1999) haviam estimado, em nível de gênero, uma densidade igual a um ninho/ha de Nasutitermes e Microcerotermes. Um resultado similar a este foi obtido na área A1, com o registro de um ninho ativo por hectare das espécies N. corniger e M. strunckii. Vasconcellos et al (no prelo), por sua vez, encontraram um valor mais 32 de dezesseis vezes superior ao das três áreas analisadas na ESEC-Seridó, equivalente a 11 ninhos/ha numa área de Caatinga submetida ao corte seletivo de madeira (±30 anos atrás) localizada na RPPN-Fazenda Almas, no Estado da Paraíba. A composição dos grupos alimentares não foi diferente entre as áreas. Sabe-se que a perturbação antrópica de habitats pode diminui os sítios de nidificação e a disponibilidade de recursos para varias populações de térmitas (Bandeira & Vasconcellos 2002). Em florestas tropicais úmidas, há uma tendência para as espécies consumidoras de húmus serem as mais afetadas pela perturbação de habitat (DeSouza & Brown 1994, Jones et al 2003, Bandeira et al 2003, Vasconcellos et al 2008). Por outro lado, os térmitas consumidores de madeira foram os mais afetados com a perturbação de habitat em uma área de Caatinga localizada no Estado da Paraíba (Vasconcellos et al no prelo). Mesmo com tempo de perturbação diferente, nenhuma prova estatística foi capaz de sustentar a idéia de que as áreas são diferentes em relação às variáveis ambientais mensuradas e níveis de perturbação. O mesmo padrão foi observado para as taxocenoses de térmitas, não havendo diferença significativa da riqueza de espécies, abundância relativa, composição dos grupos alimentares e taxonômicos entre as três áreas. Vasconcellos et al (no prelo) verificaram uma diferença significativa entre áreas de Caatinga com diferentes níveis de perturbação de habitat, causados pelo corte da vegetação e pisoteio de bovinos e caprinos, tendo como conseqüência a presença de taxocenoses de térmitas estruturalmente diferentes entre as áreas, acompanhando a diferença das variáveis ambientais mensuradas em cada área. No presente estudo, os habitats foram bastante semelhantes, não apresentando diferenças significativas entre os seus atributos estruturais e nem da composição das taxocenoses de térmitas. A sintonia entre estes resultados reforça o potencial dos térmitas como indicadores biológicos de qualidade de habitat na Caatinga. 33 Agradecimentos Aos professores Adelmar G. Bandeira, Márcio Z. Cardoso e Adalberto A. V. Freire pelas sugestões durante a elaboração deste artigo; Ao Ricardo Pacheco e João B. Trindade pelo auxílio nas coletas de campo; À equipe gestora da Estação Ecológica do Seridó, pela estadia e apoio durante a realização do estudo; À Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Norte – FAPERN, pelo apoio ao projeto. 34 Referências Bandeira A G (1989) Análise da termitofauna (Insecta: Isoptera) de uma floresta primária e de uma pastagem na Amazônia Oriental. Bol Mus Para Emilio Goeldi Ser Zool 5: 225-241. Bandeira A G & Vasconcellos A (2002) A quantitative survey of termites in a gradient of disturbed highland forest in Northeastern Brazil (Isoptera). Sociobiology 39: 429-439. Bandeira A G, Vasconcellos A, Silva M, Constantino R (2003) Effects of habitat disturbance on the termite fauna in a highland humid forest in the Caatinga Domain, Brazil. Sociobiology 42: 117-127. Barreto L S & Castro M S (2007) Ecologia de nidificação de abelhas do gênero Partamona (Hymenoptera: Apidae) na caatinga, Milagres, Bahia. Biota Neotropica 7: 137-142. 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Ruptitermes reconditus (Silvestri) 2 0 0 Subterrâneo CF MA, CA e CE Nasutitermes corniger (Motschulsky, 1855) 0 4 0 Arborícola CM MA, BA, CA, CE e FA Nasutitermes macrocephalus (Silvestri, 1903) 2 0 0 Arborícola CM MA, CA, CE e FA Amitermes amifer Silvestri, 1901 5 13 6 Madeira MH MA, CE e CA Amitermes nordestinus Melo & Fontes 0 0 1 Madeira MH CA Microcerotermes strunckii (Sörensen, 1884) 0 0 1 Arborícola CM CA, CE e FA Termes fatalis (Linnaeus) 1 5 2 Madeira MH MA e FA Espécies KALOTERMITIDAE Neotermes sp. RHINOTERMITIDAE Heterotermes sulcatus (Mathews) TERMITIDAE Apicotermitinae Nasutitermitinae Termitinae 38 Total de espécies 7 6 7 Total de encontros 38 47 30 Jackknife 1 7.97± 0.97 6.00 ± 0.00 8.93 ± 1.34 Chao 2 7.00 ± 0.12 6.00 ± 0.05 7.32 ± 0.90 1 Distribuição nos ecossistemas brasileiros: BA, Brejo de altitude; CA, Caatinga; CE, Cerrado; FA, Floresta Amazônica; MA, Mata Atlântica. 39 Fig 1 Curva de rarefação da riqueza de espécies de térmitas em três áreas de Caatinga, Rio Grande do Norte, Brasil. (A1); Média das espécies observadas (A1); Médias das espécies observadas (A2); das espécies observadas (A3); Intervalo de confiança Intervalo de confiança (A2); Média Intervalo de confiança (A3) Fig 2 (a) Número de encontros (abundância relativa) dos grupos alimentares e (b) dos grupos taxonômicos em três áreas de Caatinga, Rio Grande do Norte, Brasil. Fig 3 Médias e desvios padrão de onze variáveis ambientais registradas em três áreas de Caatinga, Rio Grande do Norte, Brasil. Letras diferentes indicam diferença estatística entre as médias das variáveis. Fig 4 Análise de componentes principais (ACP) de variáveis ambientais registradas em três áreas de Caatinga (A1, A2 e A3), Rio Grande do Norte, Brasil. Variáveis ambientais: Dve, densidade da vegetação; MOS, matéria orgânica do solo; Arg, argila; Nec, necromassa; Cmc, comprimento maior da copa, DAT, diâmetro à altura do tornozelo; Alv, altura dos vegetais; pH e Areia. 40 Fig 1 41 Fig 2 42 Fig 3 43 Fig 4 44 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Heterotermes sulcatus foi a espécie subterrânea mais resistente à perturbação antrópica, tendo sido a espécie com o maior número de encontros exclusivos nas parcelas; Apesar do registro de duas novas espécies de térmitas e tomando por base um estudo sobre a termitofauna realizado na ESEC-Seridó por Martius et. al. (1999), houve uma simplificação da taxocenose de térmitas na ESEC-Seridó nos últimos dez anos, devido à ausência de uma espécie de Constrictotermes, posteriormente identificada como Constrictotermes cyphergaster, e duas espécies de Inquilinitermes; A composição das taxocenoses de térmitas e as variáveis ambientais entre as áreas não foram estatisticamente diferentes; A composição das taxocenoses de térmitas poderá contribuir na escolha de áreas que tenham um valor de conservação maior. 45 5. ANEXO - Foto das espécies de térmitas encontradas nas áreas de estudo. 7. Neotermes sp. 7. Heterotermes sulcatus 2,31 mm 0,81 mm 7. Ruptitermes reconditus 7. Nasutitermes corniger 1,12 mm 1,06 mm 7. Anoplotermes sp. 0,68 mm 7. Nasutitermes macrocephalus 1,10 mm 46 7. Amitermes amifer 1,06 mm 8. Amitermes nordestinus 0,81 mm 9. Microcerotermes strunckii 1,06 mm 10. Termes fatalis 1,06 mm 47