Reflexão Critica referente ao texto Xerox: “A questão do conhecimento” Epistême e tèchnê: sobre a delimitação do oficio de filosofar. A filosofia grega é identificada por uma competência epistêmica - oficio (téchnê), sem igual. Nasce de um desejo humano de conhecer, não puramente passivo. Aconteceu naturalmente como uma atividade (profissão), uma pratica de certo tipo. Como Epistême correspondente a certo(s) modo(s) de acessar a sabedoria, de produzir ciência, dar forma e corpo a uma sabedoria especializada. Sempre esteve aliada a pratica da sabedoria alcançada. Tèchnê e epistême eram iguais na filosofia. Mas depende do conceito histórico e empenho dos autores. Neste contexto as filosofias produzidas são de muitas formas, menos em relação aos critérios que naturalmente se impuseram a essa pratica, que não puderam ter sabedorias multiformes: a verdade, o ser existente e o lógos. A objetividade da filosofia é encontrada no perguntar* e não nas respostas. Às vezes voltadas para: Saber perguntar, visando respostas satisfatórias Saber fazer um oficio à sabedoria adquirida. Saber combinar Ser com dizer e o pensar (Heráclito e Parmarides). Combinação que se reflete no Discurso. Ao analisar as raízes das palavras Philía e Sophia, percebemos que: Philía significava alma serena, envolvimento de intelecto com a fonte do saber. Sophia significava qualidade; disposição a ordem e a um conjunto de preceitos em sentido ativo e passivo. A sabedoria – Sophia, no sentido ativo era tida como epistême: explicação teórica da tèchnê(na polis: o trabalho dos artesãos, dos construtores, das pedreiras, etc., e de modo sofisticado: artimanha dos políticos). Esse termo expressava a habilidade manual e intelectual. A sabedoria no sentido passivo expressava acumulo: conjunto de resultados práticos e teóricos produzidos na tèchnê. Nesse sentido era sinônimo de cultura, porque historicamente se constituiu de um saber transmitido – tradição. A sabedoria filosófica resultou em ciência por que: Detinha instrução e ensino; algo que se aprende e pratica. 1 Expandia-se para alem do feito - acumulo de conhecimento dos sábios, do saber fazer e do que devia ser feito. Mas a idéia de passiva é imprópria, porque estava em ebulição esperando um pensamento critico. Consideradas mais do que a ciência, era a experiência vivida (realidade objetiva). Por ela é que as pessoas criavam suas construções racionais subjetivas – saber. Enquanto tal, subjetiva, não influenciava na vida dos outros, mas a partir do momento em que alguma sabedoria subjetivamente construída era interiorizada por outros produzia as máximas, as regras sociais, as verdades, caso contrario era esquecida. Essa interiorização gerava um saber cientifico e filosófico – experiência universalmente aceita. Não havia distinção entre ciência e filosofia para os gregos. A essência da filosofia era determinar a competência do filosofo e precisar os limites e possibilidades do logos. À medida que houve um acumulo de sabedoria, eruditamente, volta-se sobre si para a construção da tèchnê epistêmica: edificação da capacidade de produzir saber com eficiência e com pretensão à verdade. Empédocles trouxe contribuições significativas para o conceito de filosofia, distinguindo o valor da mente (reflexão) no papel do conhecimento, na busca pelo saber. Comparava filosofia com o amor dos namorados – que no senso comum só acontecia na união sexual. Mas que, para ele, acontecia - o amor, na união mental (fixação dos olhos um no outro). É na mente que se da o conhecimento, porque faz nascer do múltiplo o um (ordem) inteligível; só ela é capaz de perceber ou ver outras coisas. Por isso, que o estudo era muito importante, por que: expandia a inteligência; continha em si instrução e aprendizado; causava uma evolução do saber por envolvimento com o saber; na relação entre mestre e aprendiz, o aprendiz poderia superar o mestre; e não se podia evoluir do nada para quem nada sabe. A determinação de métodos para filosofá-lo (fazer ciência) nasce do envolvimento com a tradição do saber, dizia respeito a voltar-se sobre si mesma e sobre as coisas, para promover um logos convincente. A idéia de método pressupunha um exercício reflexivo a partir de duas exigências: Compromisso com a verdade (alêthês) e com o que é ser tal coisa (tà ónta). Junção do pensar com o dizer que exigiam estratégias retóricas, sintáticas e semânticas de produção de discurso. 2 De Empédocles é que derivou a idéia de método. De seu empenho e da necessidade que o conhecimento tem de envolver com a tradição do saber já desenvolvido (um saber que leva em conta um saber já construído) – construção de um caminho de investigação: “o meu discurso jamais perde de vista seu ponto de partida...”. Diógenes de Apolônia propôs algo semelhante – “partir de uma verdade incontestável e exprimi-la com simplicidade e convicção”. E Também Arquitas de Taranto. Coube, por tanto, aos primeiros filos fugir, através da filosofia, dos mitos - sem produzir novos, buscando novos padrões de explicação, uma sabedoria teórica e pratica. Exercitando o pensamento critico, voltado para a tradição do saber e para o aprimoramento do fazer bem feito, eles se moveram para adiante das explicações tradicionais, além de seu próprio passado. A ousadia foi uma característica marcante entre os sábios gregos, mas não foi suficiente para autenticar o fazer cientifico. Suas teorias têm outra justificativa: sua concepção sobre a teoria. Para eles, teorizar era um exercício atencioso da inteligência; um exame detalhado daquilo que se estava observando – descrever minuciosamente. Teoria englobava o ver, mas um ver no sentido de meditação do intelecto sobre as idéias. O exame (ou meditação) do que se estava investigando não se restringia a um simples ver, mas por um arrebatamento interior, se alargava alem dele. Estimulado pelo que via o filo se dedicava a construir racionalmente a visão do que via. Por isso, corpo e mente estavam envolvidos (percepção sensível e intelecto). Investigar é próprio do filosofar, é a elevação da mente para alem das aparências, ou seja, fazer ciência, produzir conhecimento, não somente o desejo de saber. Por estas condições, a filosofia abarcava dois grandes campos de investigação: das coisas celestes e o das divinas. Em termos de coisas celestes, se investigava tudo o que se referiam as coisas do alto (Sol, Lua, Estrelas, etc.), mas no aspecto de suas relações com o cotidiano humano: plantações, colheitas, saúde e doença, destinos individuais e coletivos, etc. Investigação sobre o que era empírico. Em termos de coisas divinas, se investigava tudo o que só se torna possível saber explicando o que não se vê e que só o intelecto esta em condições de explicar. Foi investigando as coisas divinas que os filos gregos descobriram que as coisas empiricamente constatadas não dizem o que é tal ser. Alem destes dois campos a filo também se ocupou com o estudo do discurso e da demonstração: retórica, gramática e lógica (dialética). 3 Em síntese, foram três as principais tendências de investigação filosófica grega: explicação com os fenômenos da natureza, dos fenômenos humanos e explicação dos fenômenos da alma-intelecto. Essas tendências implicaram: saber teórico, saber pratico (ética ou política) e saber técnico (fazer bem feito). A busca de um critério de verdade ou de universalização teórica. A filosofia grega descobriu que não se pode saber tudo de todas as coisas, a não ser em partes, mas submetendo o múltiplo a um princípio de unidade – atribuído por Aristóteles a Xenófanes. O múltiplo só se deixa conhecer mediante um principio de unidade. A razão humana pede por um principio único – um: referencial epistêmico atribuído à ordem cósmica. Basicamente, existem dois modos de conhecer a unidade: arché generativa um substrato pelo qual todas as coisas que existem provem e conservadas, e arché explicativa - unidade inteligível através da qual se poderiam dar como conhecidas à totalidade das coisas e fenômenos observados. Também em Heráclito o principio de unidade também estava vinculado com a admissão por todos de algo universalmente aceito como verdadeiro. Sua maior contribuição foi a de que o que fosse tido como verdadeiro deveria ser valido para todos. Propôs que o pensar humano deveria estar sujeito a um critério de verdade com validez universal. Concebia a unidade como um princípio de comunidade: “o Kósmos é um e comum”. Sua extraordinária descoberta foi a de que a razão humana necessita instituir uma unidade, um comum, universalmente valido para promover o conhecimento na ciência e refreio na vida social. O único um, provem do múltiplo. A unidade, ou ordem, é uma exigência da razão (lógos). Mas esta unidade se da por interconexão de princípios. Conhecer alguma coisa significa estabelecer um conjunto de pontos de referencias a partir de onde me localizo: estabelecer conexão mediante critérios. Só pode fazer isso quem é capaz de distinguir algo de outro algo. Filosofar significava edificar racionalmente certa ordem que viesse a favorecer tanto a pacificação da mente humana perante o desconhecido quanto o arranjo das relações humanas - vida social. 4