plebe rude e sua representatividade no cenário pós ditadura militar

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PLEBE RUDE E SUA REPRESENTATIVIDADE NO CENÁRIO DA DITADURA
MILITAR NO BRASIL
Luana Caroline Sossmeier, Tiago Fernando Buzzi
UNIOESTE - [email protected], [email protected]
“A música tem o poder de encorajar não importa qual forma de atividade”
(Walter Howard)
O Rock Nacional como marco de uma geração nos traz lembranças até os dias de hoje.
Na década de 1930 o rádio impulsionou de forma significativa as canções e os novos
compositores, de tal forma, que seria inviável falar de meios de comunicação sem música e
vice e versa, afinal o objetivo era pluralizar as letras.
Embora o rock no Brasil possa ter seu início declarado nos anos 1950, é em 1980 que
ganha de fato sua maior popularidade. Em meio a esbarros e tensões vividos em momentos
turbulentos da história, como por exemplo, a ditadura militar, é que nascem bandas de grande
valor no cenário brasileiro como a Plebe Rude, trazendo sua história de garra e
representatividade na música.
A história brasileira como sabemos é fruto de uma miscigenação, onde não há como
pensarmos a história da música -o rock propriamente como centro do estudo- sem a influência
de nomes, acontecimentos e movimentos internacionais. De 1960 a 1980, houve grandes
revelações no campo musical brasileiro. Logo de início, temos em 1964 o golpe civil militar,
que através de forte repressão censurou vários meios de comunicação, impossibilitando a livre
expressão no período. Embora houvesse diferenças sociais exacerbadas no país, na hora do
“corte” não havia pobre ou rico, qualquer subversivo que ousasse ferir ou perturbar os ideais
do governo militar era passível de veto.
Dessa forma, o estudo apresentado busca analisar além das canções do primeiro álbum
da banda Plebe Rude, o contexto histórico em que se desenvolveu o rock brasileiro,
considerando suas influencias e transformações.
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Plebe Rude e o rock no cenário da Ditadura Militar
Com ano de formação 1981 em Brasília, a banda punk Plebe Rude marcou a história
do rock brasileiro. O grupo teve sua primeira formação com Phillipe Seabra, André Mueller,
Gutje e Jander Bilahpra. Próximo a eles, outras grandes bandas também chamariam atenção,
como Aborto Elétrico (1978), Legião Urbana (1982), Capital Inicial (1982) e Os Paralamas do
Sucesso (1982). Todos faziam parte da chamada Turma da Colina, uma superquadra dentro do
campus da UNB em Brasília famosa pelo encontro dos amigos que ali moravam e descobriam
suas futuras afinidades.
O primeiro álbum da banda intitulado “O Concreto Já Rachou” foi lançado em 1985,
no período de abertura política no país, fazendo de suas letras verdadeiros hinos de
representação revolucionária juvenil. Já o segundo álbum “Nunca Fomos Tão Brasileiros” foi
apresentado junto à nova constituição de 1988, que evidenciava grandes mudanças no país. O
terceiro disco “Plebe Rude” traz características regionais brasileira, com arranjos de viola
caipira, entre outros instrumentos característicos. Já em 1992 é gravado “Mais Raiva do Que
Medo”, lançado em 1993 com uma postura crítica à Era Collor e suas medidas inapropriadas.
Em 2000 lançam ao vivo o disco “Enquanto a Trégua Não Vem”, no ano de 2003 Gutje e
Jander deixam a banda, dando oportunidade em 2004 á Clemente Nascimento, com uma nova
imagem à banda e ajudando na produção do quinto álbum intitulado “R ao Contrário”. Em
2011 entra o atual baterista da banda Marcelo Capucci, e no ano de 2014 a Plebe lança seu
sexto álbum “Nação Daltônica”, com a mesma influência punk e letras marcantes
evidenciando atitudes da nação brasileira.
O documentário “Rock Brasília – Era de Ouro” (2011), do diretor Vladimir Carvalho e
produção Marcus Logocki, aborda a história dos jovens de Brasília liderados por Renato
Russo, que pela ordem de hierarquia, segundo eles mesmos, era o mais velho e primeiro do
grupo. O documentário traz ainda grandes nomes como Fê Lemos, Flávio Lemos, Dado VillaLobos, Marcelo Bonfá, Herbert Vianna, João Barone, Bi Ribeiro, Dinho Ouro Preto, além dos
meninos da Plebe: Phillipe Seabra e André Mueller.
Stefanel (2013), sobre a história do rock em Brasília ressalta que Renato, Fê e Flávio
Lemos, André Pretorius, Phillipe Seabra, entre outros tiveram influência de bandas britânicas,
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como The Clash, The Cure, Sex Pistols e Joy Division, bandas de punk, rock e pós-punk, que
contavam com atitudes rebeldes e letras politizadas, fazendo com que os brasileiros os vissem
como ídolos. Fê Lemos, conta no Rock Brasília (2011), que foi um dos primeiros a aderir o
modo de se vestir com roupas rasgadas e remendadas, usando alfinetes e uma coleira, que
havia ganhado de uma amiga. Phillipe também dando seu depoimento ao falar sobre um show
conta sobre um esbarro com a polícia, que não viria a ser único nesse período de repressão da
ditadura militar brasileira na década de 1980, afinal não só a Plebe Rude, como também a
Legião Urbana tiveram letras vetadas.
De família de classe média, eram adeptos do punk, que estava em ascensão. Como
eram revolucionários e contestadores, acompanhavam a era da censura de perto. Um exemplo,
é quando em 1982, fizeram um show cantando “Que País é Esse?” e “Vote em Branco” em
Pato de Minas e acabaram detidos pela polícia, que desaprovou as letras das canções.
No entanto, usar o rock como disseminador de ideias políticas não era muito comum.
Saggiorato (2012) aborda a efervescência do programa Jovem Guarda da TV Record, com os
apresentadores: Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Embora tenham batizado uma
geração, que não seria mais de adultos ou crianças, mas sim de jovens, não estabeleciam
relação alguma com as questões políticas e sociais da época. Roberto Carlos em suas canções
abordava apenas temas relacionados a carros, mulheres amor, enfim, mostrava-se
desinteressado. Até mesmo em seus discursos, definia-se como apolítico. Por isso “sem uma
posição política definida (...), os músicos brasileiros voltados à MPB guardavam resquícios
dos músicos da jovem guarda” (SAGGIORATO, 2012, p.54).
A presença da juventude era cada vez mais evidente no país, e se os integrantes da
jovem guarda não tinham interesse pelos acontecimentos políticos da época, havia quem
estivesse sendo atingido e assumisse esse papel de contestação. Por esse motivo a música
passa a ter um envolvimento com as manifestações no decorrer do período. É então em 1964
que o engajamento político dos músicos encontra-se forte. O ano de maior tensão foi o de
1968, com o decreto do Ato Institucional nº5, que fechou o Parlamento, cassou mandatos,
proibiu o habeas corpus, e qualquer manifestação artística que não fosse compatível com os
ideais militares. De acordo com Saggiorato (2012):
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Nesse período, a música, bem como qualquer manifestação artística, teria
de ser julgada pelos censores. Qualquer obra considerada ofensiva ao
Estado seria proibida e seu autor ficaria sob vigilância do Departamento de
Ordem Política e Social (DOPS). (p.69)
Além disso, é importante ressaltar os motivos e critérios que os censores usavam para
vetar as manifestações culturais e artísticas. Assuntos como religião, raça, sentido ambíguo
nas letras, demonstração de insatisfação com a realidade, relação com homossexualidade,
referências à ditadura de forma irônica e sarcástica, referências ao uso de drogas, letras de
caráter revolucionário, temas de natureza erótica ou sensual e qualquer forma de protesto que
fosse de caráter subversivo, eram vetados. O que chama atenção é que muitas músicas que
não tinham nada de assuntos subversivos acabavam sendo cortadas. Pois, “na impossibilidade
de classificar com certeza o teor das composições, os TCs [técnicos de censura] optam
seguramente pelo veto” (BERG, 2002, p.118), afinal se alguma letra tivesse ambiguidade e
fosse aprovada, a responsabilidade cairia sobre o técnico que a aprovou, então pela
insegurança, vetava-se.
Falar da censura num período tão turbulento como a ditadura brasileira nos faz
observar vários aspectos predominantes. O primeiro pode ser identificado no forte terrorismo
em que os militares e ditadores que ocupavam o poder se reafirmavam. Com atos de tortura e
arbitrariedade (atos institucionais) legitimando seu controle ideológico, o uso da força bruta
nessa hierarquia advinha dos princípios norte-americanos, tornando a obediência um ato cego
e retrógrado, já que seus integrantes não pensavam por si e sim por uma sociedade que
repreendia e oprimia. Um exemplo é a Operação Bandeirantes (OBAN) que tinha como
objetivo desfazer organizações que pudessem comprometer o regime militar não importando o
método utilizado.
De acordo com os censores era necessário “preservar a ordem”. A autora Magalhães
(1997) traz que, para o governo o regime pode ser relacionado a relação de “pai severo, porém
protetor”. A exaltação à pátria demonstra essa relação onde o governo dizia manter a ordem
em prol da moral. A ideologia oferecida era baseada num enfrentamento a violência, como
um apelo. Dessa forma podemos identificar ligações entre a violência simbólica e as físicas,
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que tinham o objetivo de manter a ordem e o bem-estar na sociedade, ou ainda, como forma
de defesa, uma cooperação com o regime “protetor da nação”.
A censura nesse período esteve representava através de forte coerção, houve um
verdadeiro “terrorismo cultural”, com invasões às universidades, demissão de funcionários,
fiscalização de cursos universitários, “a educação passou a ser tratada como um problema
político” (STEPHANOU, 2001, p.201). Afinal, tudo pelo controle da hegemonia.
Essa forte opressão da censura contou ainda com auxilio da imprensa para propagação
e imposição de sua ideologia. “Na visão dos militares, a imprensa deveria ser um elemento
aglutinador, gerador de consenso, limitando-se a divulgar o crescimento econômico e as
campanhas governamentais (...)” (STEPHANOU, 2001, p.299). A imprensa sempre deveria
estar a serviço do Estado, propagando sua ideologia, onde houvesse colaboração e uma visão
favorável aos ideais ditatoriais. Saggiorato (2012) certifica:
A censura durante o AI-5 era uma atitude que visava conservar o sistema
político existente contra qualquer tipo de força inovadora, recriminando
rádios, televisão, cinema, discos, músicas, shows e espetáculos teatrais. (...)
Para estarem certos de seu controle, os militares possuíam diversas sedes
em diversas localidades, que formavam o aparelho censório. (p.83)
Com as manifestações artísticas, como peças teatrais, filmes, festivais, literatura,
telenovelas, canções, etc. censuradas crescia essa vontade de se expor e evidenciar os
conflitos do sistema, afinal, os militares tinham pavor de uma ameaça comunista no país. E
como em geral, as letras estavam associadas à denúncia da realidade, os censores se sentiam
claramente provocados. “(...) no final da década de 1960 e início da década de 1970, só viriam
a público a música, a peça de teatro, o livro, enfim, o produto cultural que os censores
julgassem adequados ao momento político” (SAGGIORATO, 2012, p.81), e não mudou
muito pra década de 1980, já que o período durou até 1985.
Stephanou (2011), afirma que os músicos engajados na cultura de protesto procuravam
resolver o “grande dilema da intelectualidade: conscientizar, gerar indignação, colaborar para
criar um clima de revolução, um desejo por mudança” (p.137), queriam ainda denunciar
aquela realidade despertando a população. Esse ideal poderia ser percebido não só nos
roqueiros como também em compositores da MPB, que marcaram os anos de 1960.
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O caráter ético-moral influenciava de forma expressiva os compositores do período
militar, “além das letras, o comportamento e até mesmo a vida pessoal dos artistas interferiam
em suas carreiras, despertando a atenção dos censores. Os músicos, então, eram censurados
por não se adequarem à ética do regime” (SAGGIORATO, 2012, p.85). Um exemplo é a
DCDP1, que ao analisar as manifestações artísticas, identificava primeiro o autor e se o
mesmo produzia obras que feriam a moral do regime. Saggiorato (2012) traz em questão a
censura moral - novamente em prol do controle social -, que era baseado em pré-conceitos
sobre o comportamento dos indivíduos, que muitas vezes se inspiravam na juventude
britânica e norte-americana, seja com roupas rasgadas ou no espirito rebelde e contracultural2.
O interessante aqui é que essa censura não advinha somente dos militares, mas também de
uma parte conservadora da sociedade, que compactuavam com o sistema e acabavam por
reproduzir seu discurso ditador.
O rock em especial, como instrumento contestatório teve grande relevância no cenário
crítico brasileiro. Dessa forma:
Nas décadas de 1960 e 1970 os campos cultural e, devidamente, musical
passam a ser uma extensão dos conflitos político-ideológicos do Estado e
também dos ideais de esquerda. Portanto, durante o regime militar não
somente o Estado oficial tem seu projeto de homogeneização cultural, mas
também as esquerdas apresentam e tentam executar o seu.
(SAGGIORATO, 2012, p.96)
É relevante lembrar, que os compositores passavam por muitas dificuldades para
vincular suas músicas. Estamos aqui nos referindo aos meninos de Brasília, em geral, filhos
da classe média, então, se para eles manter-se na mídia devido a essas condições já era
complicado, imaginemos como seria para os setores mais populares da sociedade, que não
tinham as mesmas chances. No depoimento de Phillipe Seabra do documentário Rock Brasília
(2011), ele mesmo fala que em um dos primeiros esbarros com a polícia, eles foram liberados,
1
DCDP: Divisão de Censura de Diversões Públicas, que era o órgão responsável por analisar todas as produções
artísticas do período militar, concedendo um veredito de aprovação ou veto.
2
O movimento revolucionário da Contracultura teve seu início no final dos anos 50 e no começo dos anos 60
com os chamados beatniks. A contracultura buscava desmistificar o sistema que alienava, além disso, teve como
representantes os hippies.
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por pensarem que eles poderiam ser filhos de militares. De qualquer forma, os chamados
roqueiros não se adequariam a ética militar, se é que assim pode se dizer.
Como veremos a seguir nas letras da banda Plebe Rude, as composições
demonstravam o descontentamento com o regime militar. Era evidente o pedido pela
liberdade. Muitos se inspiravam nos hippies, que eram contra o establishment3 e
questionavam os valores vigentes da sociedade dominante, mas para os militares o termo
hippie era sinônimo de marginal. Segundo Saggiorato (2012), “O descontentamento e a
“displicência” desses grupos musicais, ao tratar de assuntos polêmicos em suas letras
reforçam a ideia transgressora que com a qual os classificamos” (p.98). Isso, porque as
canções eram de denúncia, e isso não poderia ser tolerado.
Em uma entrevista concedida ao site Música e Cinema, Phillipe Seabra fala sobre a
banda. Ao ser perguntado sobre o início da carreira, o compositor afirma que sofreram muito
com a censura, afinal a realidade em Brasília, não diferente de outros locais, era a de mandar
as letras das canções para análise da censura, diz ainda que as mais subversivas não eram
mandadas. Phillipe também é questionado se é mais fácil falar de assuntos como política
morando em Brasília, e ele afirma que:
Não tem jeito, estamos aqui do lado. Mas no nosso caso parece que o rock
de Brasília conseguiu abordar esses temas de uma maneira mais palpável, e
imagino que por isso, o movimento fechou com o resto do Brasil. As músicas
continuam assustadoramente atuais. (SEABRA, 2013)4
Em outro momento da entrevista, Leonardo Caprara pergunta qual é o sentimento de
ter feito parte do movimento musical rock Brasília, e Phillipe responde que ás vezes é um
pouco estranho, existem estudos a respeito, mas que definitivamente eles foram influenciados
pela proximidade da repressão, e que fica feliz por a Plebe ainda ser respeitada e por não abrir
mão de seus princípios.
Algumas letras da Plebe foram escritas há 20, 30 anos, mas continuam refletindo a
realidade atual. Nesse sentido, procuramos trazer algumas letras que evidenciam as discussões
realizadas até o momento.
3
4
Grupo que exerce autoridade e controle, defendendo seus privilégios numa sociedade.
Entrevista por Leonardo Caprara, disponível no site musicaecinema.com.
7
“O Concreto Já Rachou” foi o primeiro álbum da banda Plebe Rude. Lançado em 1985
com 7 faixas, é considerado o melhor da banda. Foi produzido por Herbert Vianna, que por
fazer parte do cenário do rock Brasília, entendia a postura da banda.
A música popularmente conhecida “Proteção” (1985) traz em sua letra:
A PM na rua, a guarda nacional \ Nosso medo sua arma, a coisa não tá mal
\ A instituição está aí para a nossa proteção \ Pra sua proteção \ Tanques lá
fora, exército de plantão \ Apontados aqui pro interior \ E tudo isso pra sua
proteção \ Pro governo poder se impor \ A PM na rua nosso medo de viver \
O consolo é que eles vão me proteger \ A única pergunta é: me proteger do
que? \ Sou uma minoria mais pelo menos falo o que quero apesar repressão
\ ...é para sua proteção... \ ...é para sua proteção... \ Tropas de choque, PM's
armados \ Mantêm o povo no seu lugar \ Mas logo é preso, ideologia
marcada \ Se alguém quiser se rebelar \ Oposição reprimida, radicais
calados \ Toda angústia do povo é silenciada \ Tudo pra manter a boa
imagem do Estado!
O trecho aborda o controle expresso pela ditadura militar brasileira, com justificativa
de “proteção”. Mas na verdade, essa proteção está ligada ao controle social e ideológico da
época, onde a segurança fazia parte do discurso de progresso da nação. A letra também
apresenta críticas diretas à polícia e ao Estado, sem medo de falar a verdade. Além disso,
quando o compositor da letra usa o termo “radicais calados”, podemos lembrar os atos de
tortura, que eram comuns no período e da suposta prevenção que o comunismo estaria
tomando nas manifestações e obras artísticas e culturais.
A letra “Brasília”, sétima faixa do álbum traz questões relacionadas à letra
anteriormente citada:
As árvores enfeitam e a polícia controla \ (Utopia na mente de alguns…) \ (...)
Os comércios só vendem \ e os porteiros só olham \ E essas pessoas elas não
fazem nada \ mas essas pessoas elas não fazem nada \ Nada! (Brasília…) Nada!
(Brasília…) \ Nada! (Brasília…) Nada!(Brasília…)
A composição traz um paradoxo da cidade com tudo o que há na cidade, como
prédios, carros, comércios, mas também com o controle pela polícia, não fugindo da crítica. A
Plebe também chama a população a luta, quando afirma que “as pessoas elas não fazem
nada”, afinal, muitos com medo do sistema se fechavam, não se manifestando.
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Uma das canções mais famosas da banda, “Até Quando Esperar” tornou-se o hino do
grupo, devido a sua letra expressiva. Segue a letra:
Não é nossa culpa \ Nascemos já com uma bênção \ Mas isso não é
desculpa \ Pela má distribuição \ Com tanta riqueza por aí, onde é que está \
Cadê sua fração \ Com tanta riqueza por aí, onde é que está \ Cadê sua
fração \ Até quando esperar \ E cadê a esmola que nós damos \ Sem
perceber que aquele abençoado \ Poderia ter sido você (...) \ Até quando
esperar a plebe ajoelhar \ Esperando a ajuda de Deus \ Até quando esperar
a plebe ajoelhar \ Esperando a ajuda de Deus \ Posso \ Vigiar teu carro \ Te
pedir trocados \ Engraxar seus sapatos
Baseada numa crítica à realidade, a música traz aspectos ligados às diferenças sociais.
Embora tenham nascido em setores da classe média, os integrantes não se veem diferente do
resto da população, pois mesmo o país tendo tanta riqueza, a miséria continua. O trecho “Até
quando esperar?” remete-se a uma chamada de atenção, onde é cada vez mais difícil conviver
com a realidade dos grandes burgueses. A letra também traz frases características de
trabalhadores autônomos, que pedem trocados, vigiam carros e engraxam sapatos, dando a
possibilidade do ouvinte se colocar no lugar dessas pessoas que ainda vivem em condições de
pouca estabilidade social. Essa música pode ser facilmente compreendida como uma prece
popular.
A ditadura militar no Brasil foi um regime violento e opressivo, onde as relações de
poder eram difundidas pela sociedade civil. A ditadura de 64 e o capitalismo contaram com
objetos comuns, que servem para evidenciar as desigualdades na sociedade. Ambas buscavam
os próprios interesses, não pensando em primeiro lugar no povo, mas sim acreditando que
seus métodos e fins justificariam seus meios, por isso o questionamento “Até quando
esperar?”.
A composição “Minha Renda” problematiza as questões voltadas ao mercado e ao
consumo. Com base no trecho: “Você me comprou, pôs meu talento a venda \ você me
ensinou que o importante é a renda \ contrato milionário, grana, fama e mulheres \ a música
não importa, o importante é a renda!”, observamos que devido a essa realidade muitas bandas
não conseguiam seu espaço no mercado, já que é preciso aceitar as condições da gravadora.
“Você é músico, não é revolucionário! \ Faça o que eu te digo que te faço milionário!”.
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Em geral, as letras apresentadas são de caráter crítico e de protesto social, pois
abordam questões do cotidiano em que estamos inseridos, mesmo tendo sido pensadas há 20
anos. A música assim como outras manifestações retrata e questiona situações de problema.
Ao longo da história brasileira observamos que uma parcela da população sempre esteve
interessada e determinada a expor de forma valente seus ideais transgressores.
Os artistas por tentarem se firmar no mercado e resistindo a todas as
dificuldades existentes conseguiram criar uma nova música, sobretudo de
qualidade, misturando elementos da música erudita, folclórica com
subsídios jazzísticos, bem como do blues e da música
brasileira.(SAGGIORATO, 2012, p.162)
No período em que houve forte repressão por meio da ditadura, os jovens através do
rock e frente às manifestações políticas mostraram suas atitudes. Os anos 1960 ficaram
marcados na memória norte-americana pela representação da contracultura e nos hippies, que
pregavam a paz e o livre amor, além de contestar o modo de vida material e individualista.
Dessa forma, a partir dessa década vários compositores brasileiros orientados pelas figuras
internacionais, começaram a aderir aos mesmos conceitos, o que assustou a sociedade, que os
via como marginais.
Conclusão
A atitude rock nesse meio procurava mobilizar a sociedade. “O cinema era uma forma
de fazer política; a literatura, de conscientizar; o teatro, de resistir; a música, de convocar para
a luta; a imprensa, de denunciar” (STEPHANOU, 2001, p.301). As várias manifestações
tinham como objetivo tomar partido de uma luta contra as desigualdades vividas na
sociedade, aproximando as pessoas que também buscavam melhores condições de vida e uma
posição mais ativa, por isso o grande incomodo dos militares na época.
Saggiorato (2012) assevera que o comportamento dos artistas do rock não se
enquadravam a nenhum segmento político, porque se tratava de uma postura
descompromissada. Eles eram a favor da liberdade e da justiça, isso fica claro em suas letras.
Assim, era muito fácil violar os ideais do regime miliar. Por mais que o AI-5 tenha sido
10
retirado em 1978, as letras ainda precisavam ser analisadas pelos técnicos de censura, além
disso, embora a ditadura tenha seu fim decretado em 1985, alguns atos se mantiveram até
1988.
Cabe nesse sentido considerar o papel social e formador do rock enquanto
manifestação cultural, não só no passado, mas também atualmente, porque além de gênero
musical ele influencia numa formação cultural e social dos indivíduos, seja através da moda,
do comportamento, das discussões acadêmicas, do mercado, da formação de tribos, etc. A
geração marcada por fortes críticas ao sistema conquistou seu espaço e vem conquistando até
hoje.
REFERÊNCIAS
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(1964-1984). São Carlos: Edufscar, 2002.
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04 de mai de 2015.
CAPRARA, Leonardo. Entrevista com a banda Plebe Rude. Disponível em <
http://musicaecinema.com/plebe-rude-entrevista/>. Acesso em 06 de mai de 2015.
CARVALHO, Vladimir. Rock Brasília – Era de Ouro. Canal Brasil: Cor, 111min, 2011.
MAGALHÃES, Marionilde de. A lógica da suspeição: sobre os aparelhos repressivos à época
da ditadura militar. Revista Brasileira de História. São Paulo: ANPUH, v.17, n. 34, 1997, p.
203-20.
SEABRA, Phillipe. Proteção. In: RUDE, Plebe. O Concreto Já Rachou. EMI, 1985.
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Concreto Já Rachou. EMI, 1985.
SEABRA, Phillipe; X, André; Bilaphra, Jander; Gutje. Brasília. In: RUDE, Plebe. O Concreto
Já Rachou. EMI, 1985.
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SAGGIORATO, Alexandre. Anos de Chumbo: rock e repressão durante o AI-5. Passo Fundo:
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STEFANEL, Xandra. O rock de Brasília e a História de uma Geração. Disponível em
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04 de mai de 2015.
STHEPANOU, Alexandre Ayub. Censura no Regime Militar e militarização das artes. Porto
Alegre: EDIPUCRS, 2001.
12
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