UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Agronomia Área de Concentração em Fruticultura de Clima Temperado Tese Seleção de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta Doralice Lobato de Oliveira Fischer Pelotas, 2013 DORALICE LOBATO DE OLIVEIRA FISCHER Seleção de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta Tese apresentada ao Programa de PósGraduação em Agronomia, da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Doutora em Ciências, área do conhecimento: Fruticultura de Clima Temperado. Orientador: Dr. José Carlos Fachinello Co-orientador (es): Dr. Valmor João Bianchi Drª. Clause Fátima de Brum Piana Pelotas, 2013 Banca Examinadora: José Carlos Fachinello – Professor, FAEM - UFPel (Presidente) Jair Costa Nachtigal – Pesquisador, Embrapa Clima Temperado Marcelo Barbosa Malgarim – Professor, FAEM - UFPel Flávio Gilberto Herter – Professor, FAEM - UFPel Moacir da Silva Rocha – Professor, IFSul-rio-grandense - CaVG Agradecimento A Deus, por estar sempre presente em minha vida. À Universidade Federal de Pelotas, pela oportunidade concedida e, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão da bolsa de estudos. Aos professores José Carlos Fachinello, Valmor João Bianchi e Clause Fátima de Brum Piana, pela orientação e valiosos ensinamentos. Aos professores da Pós-Graduação, pela contribuição e amizade. Aos colegas de curso, pelo auxílio e companheirismo. A todos que, de alguma forma, contribuíram para a conclusão deste trabalho. À minha família, Claudiomar, Lucas e Felipe, razão de tudo, DEDICO. Resumo FISCHER, Doralice Lobato de Oliveira. Seleção de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta. 2013. 97f. Tese (Doutorado) – Programa de PósGraduação em Agronomia. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas. O cultivo do mirtileiro é recente no Brasil e a expansão da área de produção é limitada pela disponibilidade de cultivares adaptadas às condições edafoclimáticas. Visando a obtenção de novos genótipos com características qualitativas e quantitativas superiores e mais adaptadas às condições de solo e clima da região sul do Rio Grande Sul, em relação às cultivares introduzidas de outros países, realizou-se a seleção massal de genótipos de mirtileiro em populações de polinização aberta. Posteriormente, avaliou-se o potencial de enraizamento de miniestacas dos genótipos selecionados comparando-os às cultivares de origem. O trabalho constou de dois experimentos, nos quais foram avaliados: experimento 1 - a seleção massal de genótipos de mirtileiro obtidos em populações de polinização aberta de três cultivares de mirtileiro: Bluegem, Bluebelle e Powderblue; experimento 2 - o potencial de enraizamento de miniestacas semilenhosas de 30 genótipos selecionados e das cultivares de origem. Os experimentos foram conduzidos, respectivamente, a campo e em estufa agrícola, sendo este último, com sistema de irrigação intermitente por microaspersão. Nas populações obtidas, foi possível constatar grande variabilidade genética, que possibilitou selecionar genótipos com floração e maturação de frutos mais precoces ou mais tardias em relação às plantas de origem, com alta produção e tamanho de frutos adequados ao mercado consumidor. Quanto ao potencial de enraizamento, pode-se concluir que dos 30 genótipos selecionados, oito destacaram-se como mais promissores para propagação por miniestaquia por apresentarem mais de 40,6% de estacas enraizadas. Palavras-chave: Vaccinium ashei, melhoramento, mirtilo, propagação. Abstract FISCHER, Doralice Lobato de Oliveira. Selection of blueberry genotypes obtained from open pollination. 2013. 97f. Thesis (Doctorate) – Postgraduate Program in Agronomy.Federal University of Pelotas, Pelotas. The blueberry crop is recent in Brazil and its expansion is limited by the availability of cultivars adapted to the edaphoclimatic conditions. In order to obtain new genotypes, with superior quality and quantitative characteristics as well as more adapted to the soil and climate conditions of the southern Rio Grande do Sul, in comparison with cultivars introduced from other countries, it was performed a mass selection of blueberry genotypes from open pollination populations. Subsequently, it was evaluated the rooting potential of minicuttings of the selected genotypes as compared with parent cultivars. The study consisted of two experiments: Experiment 1 - the mass selection of blueberry genotypes obtained from open pollination of three blueberry cultivars: Bluegem, Bluebelle and Powderblue; Experiment 2 - the rooting potential of softwood minicuttings of 30selected blueberry genotypes and parent cultivars. These experiments were performed in the field and greenhouse, respectively, the latter with intermittent irrigation system using microsprinklers. Within the populations obtained, it was noticed a high genetic variability which allowed the selection of genotypes with early and late flowering and fruit ripening as compared to the parent plants, with good yield and fruit size, suitable for the consumer market. Considering the rooting potential it was possible to conclude that among the 30 genotypes obtained eight stood out as the most promising for minicutting propagation because they showed more than 40,6% of rooted cuttings. Key-words: Vaccinium ashei, breeding, blueberry, propagation. Sumário PROJETO DE PESQUISA ............................................................................................................ 10 1 TÍTULO ................................................................................................................................ 12 2 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 12 3 HIPÓTESE ........................................................................................................................... 15 4 OBJETIVOS......................................................................................................................... 16 4.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................... 16 4.2 OBJETIVO ESPECÍFICOS ..................................................................................................... 16 5 METAS ................................................................................................................................. 17 6 MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................... 18 7 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DA PESQUISA............................................................. 22 8 PREVISÃO ORÇAMENTÁRIA ............................................................................................ 23 9 8.1 MATERIAL DE CONSUMO ..................................................................................................... 23 8.2 MATERIAL PERMANENTE DISPONÍVEL ................................................................................... 23 8.3 SERVIÇOS DE TERCEIROS ................................................................................................... 24 8.4 CUSTOS TOTAIS................................................................................................................. 24 RESULTADOS ESPERADOS............................................................................................. 25 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ......................................................................................................... 26 RELATÓRIO DO TRABALHO DE CAMPO ................................................................................. 34 ARTIGO 1: SELEÇÃO MASSAL DE GENÓTIPOS DE MIRTILEIRO OBTIDOS A PARTIR DE POLINIZAÇÃO ABERTA...................................................................................................................... 39 Resumo ....................................................................................................................................... 40 Abstract ....................................................................................................................................... 42 Introdução ................................................................................................................................... 42 Material e Métodos ...................................................................................................................... 44 Resultados e Discussão.............................................................................................................. 49 Variáveis morfológicas ................................................................................................................ 52 Variáveis fenológicas .................................................................................................................. 56 Variáveis de produção ................................................................................................................ 63 Variáveis químicas dos frutos ..................................................................................................... 66 Conclusões.................................................................................................................................. 76 Referências ................................................................................................................................. 76 ARTIGO 2: POTENCIAL DE ENRAIZAMENTO DE GENÓTIPOS DE MIRTILEIRO SELECIONADOS EM POPULAÇÕES DE POLINIZAÇÃO ABERTA ................................................. 81 Resumo ....................................................................................................................................... 82 Abstract ....................................................................................................................................... 83 Introdução ................................................................................................................................... 83 Material e Métodos ...................................................................................................................... 85 Resultados e Discussão.............................................................................................................. 86 Conclusão ................................................................................................................................... 92 Referências ................................................................................................................................. 92 10 CONCLUSÕES GERAIS ..................................................................................................... 94 11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 94 PROJETO DE PESQUISA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS FACULDADE DE AGRONOMIA ELISEU MACIEL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONOMIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO FRUTICULTURA DE CLIMA TEMPERADO Seleção qualitativa e quantitativa de uma população de plantas de mirtileiro obtida a partir de polinização aberta Doutoranda: Doralice Lobato de Oliveira Fischer Orientador: Dr. José Carlos Fachinello Pelotas, 2009 12 1 TÍTULO Seleção qualitativa e quantitativa de uma população de plantas de Mirtileiro obtida a partir de polinização aberta 2 INTRODUÇÃO Atualmente, a fruticultura no Brasil é uma atividade que exerce um importante papel econômico social e cultural. Graças aos avanços tecnológicos, pesquisa de ponta e melhoramento genético, o Brasil se destaca no cenário mundial, ocupando a posição de terceiro maior produtor de frutos do mundo (SOUZA, 2008). Mas, quando o assunto é exportação, o Instituto Brasileiro de Fruticultura (IBRAF) registra que apenas 2% da produção são enviados para fora do país (IBRAF, 2008). Realidade esta, que nos mostra um grande potencial de mercado a ser trabalhado e explorado. O Brasil produziu 43 milhões de toneladas anuais de frutos frescas, somando um faturamento de 724,2 milhões de dólares em 2008, tendo como meta prevista de elevar as vendas externas a um bilhão de dólares até 2010 (BEZERRA, 2004). No entanto, a produção brasileira das principais espécies frutíferas de clima temperado é insuficiente para atender a demanda interna, gerando uma crescente necessidade de importação de frutos que, a princípio, poderiam ser produzidas no Brasil, preenchendo a lacuna do mercado interno, visando também à exportação (ANTUNES, 2005), a exemplo da ameixa, pêssego, nectarina, maçã, pêra e de pequenos frutos como framboesa, amora e mirtilo. A conscientização de uma alimentação mais saudável vem aumentando a busca por frutos que oferecem característica nutracêuticas. Dentre os pequenos frutos, o mirtilo vem se destacando por apresentar inúmeras propriedades funcionais. Além do sabor, seus frutos são nutritivos e apresentam também propriedades terapêuticas, o que têm se tornado um atrativo para produtores e consumidores (VENDRUSCOLO, 2004; ANTUNES, 2006). O mirtileiro (Vaccinium ashei Reade) é uma espécie frutífera, nativa da América do Norte, Estados Unidos e Canadá, onde é largamente cultivado, e onde estão estabelecidas densas populações naturais que deram origem aos primeiros programas de melhoramento (RASEIRA, 2004). Dada à importância mundial desta cultura, especial atenção deve ser dada aos futuros programas de melhoramento, onde devem ser estudadas características da 13 planta e dos frutos, entre estas, a ampla adaptação a diferentes tipos de solo; clima; redução do tempo para iniciar colheita; resistência às pragas e doenças; além da seleção de novos genótipos com potencial para mecanização da colheita e excelência de sabor dos frutos (GALLETTA; BALLINGTON, 1996). No Brasil dentre os fatores que dificultam a expansão dessa cultura, está à dificuldade de adaptação de cultivares com relação ao clima e ao solo (HOFFMANN; ANTUNES, 2004), uma vez que a grande maioria das cultivares exploradas economicamente foram selecionadas para outras condições edafoclimáticas e, portanto, podem apresentar limitações para produção adequada nas diferentes áreas de produção brasileira. Entretanto, desde que utilizado genótipos adequados, existe condições favoráveis para o cultivo dessa espécie em várias regiões com características de clima temperado, onde os solos são bem drenados, com boa capacidade de retenção de água, ricos em matéria orgânica e pH de 4,2 a 5,5. Atualmente, muitos programas de melhoramentos genéticos do mirtileiro, buscam a ampliação de zonas de adaptação de diferentes cultivares. Isto porque, a posição geográfica do Hemisfério Sul, possibilita a disponibilidade de frutos frescos aos principais mercados localizados no Hemisfério Norte (E.U., Canadá e alguns países europeus), quando não há produção local nesta região, em função da temporada de inverno (PAGANINI, 2009). Eck et al. (1990) e Galletta e Ballington (1996) afirmam que, dentre os cinco grupos de mirtileiro cultivados comercialmente, o grupo Rabbitaye (V. ashei Reade) apresenta boas características como: vigor, longevidade, produtividade, tolerância a altas temperaturas e a seca, baixa necessidade em frio, frutos ácidos, firmes e de boa conservação. Segundo os melhoristas, esta espécie é a que possui maior potencial para uso no melhoramento genético em função da maior variabilidade genética para baixa necessidade em frio, resistência a seca, tolerância a variação de pH do solo e a altas temperaturas. Características estas, que a tornam promissora para as regiões mais frias do Brasil. No caso do mirtileiro, por se tratar de uma planta alógama, novos genótipos podem ser obtidos por seleção massal, método de melhoramento muito utilizado na antiguidade por agricultores, até mesmo de forma inconsciente e também por melhoristas por apresentar vantagens como, fácil condução e custos reduzidos (CARVALHO et al., 2003). 14 O mirtileiro é uma espécie perene, que pode ser propagada também por sementes, normalmente para fins de melhoramento. Suas flores apresentam várias características que favorecem a polinização cruzada, como pétalas soldadas entre si, formando uma campânula invertida com uma pequena abertura, que protege os estames da ação do vento desfavorecendo a autopolinização. Além disso, as flores são aromáticas e possuem glândulas nectaríferas na base do estigma tornando-se atrativa para alguns insetos responsáveis pela polinização cruzada (FONSECA; OLIVEIRA, 2007). Os primeiros programas de melhoramento genético desta espécie foram realizados com plantas nativas originárias da América do Norte, Estados Unidos e Canadá, onde estão estabelecidas densas populações naturais (RASEIRA, 2004). Utilizando cruzamentos de polinização aberta e/ou controlada que deram origem a uma extensa lista de cultivares (NESMITH, 2008). Novas seleções e cultivares de diversas espécies frutíferas podem ser obtidas através de programas de melhoramento resultantes de cruzamentos controlados, no entanto, algumas cultivares surgem de polinização livre. Dentro desse contexto, este projeto será realizado com o intuito de selecionar plantas de mirtileiro adaptadas a regiões de frio ameno, de alta qualidade genética e fitossanitária, a partir de uma população de plantas de polinização aberta. 3 HIPÓTESE Novas seleções e cultivares de mirtileiro podem ser obtidas a partir de polinização aberta. 16 4 4.1 OBJETIVOS Objetivo Geral Selecionar, a partir de uma população obtida por polinização aberta, genótipos de mirtileiro com boas características de produção e adaptação climática a zonas de inverno ameno. 4.2 Objetivo Específicos - Viabilizar o desenvolvimento de cultivares produtivas e adaptadas a região Sul do Rio Grande do Sul; - Selecionar novos genótipos de mirtileiro por meio de avaliações físico-químicas dos frutos e da produtividade das plantas; - Avaliar dentre os genótipos pré-selecionados quais tem o melhor potencial para propagação clonal. 17 5 METAS Pré-selecionar ao final de cada ciclo produtivo, pelo menos dez genótipos de cada cultivar com potencial para uso no avanço da seleção. Selecionar dois genótipos de mirtileiro com potencial de cultivo superior às cultivares existentes. Lançar, pelo menos, uma nova seleção no mercado viveirista. 18 6 MATERIAL E MÉTODOS O trabalho será conduzido em área experimental da empresa Frutplan Mudas Ltda, localizada na Colônia Ramos, 3° distrito, Pelotas, RS, a 31° 33' 4,13" S, 52° 23' 54,13" W e 120 m de altitude. O material vegetal a ser utilizado neste trabalho será uma população de 3.554 plantas plantadas no mês de fevereiro de 2007, obtidas de polinização aberta das cultivares Bluegem (1.212 plantas), Bluebelle (1.439 plantas) e Powderblue (903 plantas) a partir de frutos selecionados com base no tamanho. As mudas serão plantadas em área previamente adubada com superfosfato triplo na proporção de 375 kg ha-1, conforme análise de solo, em espaçamento de 30 x 30 cm, com sistema de irrigação por aspersão. Após o primeiro ciclo de produção, as plantas passarão por uma seleção, sendo eliminadas as plantas com baixo vigor, alta suscetibilidade a doenças, frutos de pequeno tamanho, de baixa qualidade, com tendência a rachaduras, ausência de pruína e pouco atrativos. Durante o período de desenvolvimento do projeto, os melhores genótipos serão avaliados quanto: às variáveis morfológicas, fenológicas e produtivas da planta e variáveis químicas dos frutos. Caracteres morfológicos, fenológicos e produtivos Planta - vigor: número médio de brotações basais, altura (cm) e diâmetro (mm) da planta realizada no maior ramo principal, sendo a primeira medida obtida a 10 cm do solo. - início da brotação: tendo como base, quando as primeiras gemas atingirem o estádio de ponta verde. - potencial de enraizamento: será avaliada a facilidade de enraizamento das seleções por meio de estacas semilenhosas. - época de floração: será determinada por meio do comportamento fenológico de cada planta. Avaliações referentes à floração e brotação serão realizadas uma vez por semana, de acordo com a descrição dos estádios de desenvolvimento de gema (CHILDERS; LYRENE, 2006), considerando o início da floração quando as plantas apresentavam mais de 5% das flores abertas, a plena floração quando verificado 50% das flores abertas e o fim da floração quando havia 90% das flores abertas; e o início da brotação, quando as gemas atingiram o estádio de ponta verde. 19 Fruto - época de maturação: a data do início e do fim da maturação será determinada por avaliações semanais, quando a epiderme dos frutos estiver totalmente escura (azulada). - uniformidade de maturação: será avaliada de acordo com a coloração dos frutos. - produção: será avaliada por meio dos dados da colheita total e avaliação da massa total dos frutos de cada planta. Os resultados serão expressos em gramas de massa fresca de frutos por planta. - peso médio: será obtido através da pesagem (g) de 10 frutos de cada planta após a colheita. - tamanho: após cada colheita, o tamanho dos frutos provenientes de uma amostra será avaliado por meio do diâmetro (mm), com o auxílio de um paquímetro digital. - tamanho e quantidade de sementes: as sementes serão separadas da polpa, e, após secagem a sombra por 24 horas, será realizada a contagem e pesagem das sementes. Desta forma, será possível relacionar o número de sementes/fruto com o diâmetro dos frutos e com o peso das sementes. - facilidade de colheita (persistência do pedúnculo): avaliação se há dificuldade ou não, durante a colheita dos frutos, dos pedúnculos se desprenderem da planta. a) Características físico-químicas - firmeza: medida com auxílio de um penetrômetro manual McCornick FT 327 com ponteira de 8/16 polegadas de diâmetro que, pela compressão exercida, mede a força equivalente para vencer a resistência dos tecidos da polpa. Serão realizadas duas leituras em lados opostos da secção equatorial dos frutos. Os resultados serão expressos em Newton (N), considerando as médias das duas leituras; - sólidos solúveis (SS): determinado por meio de refratometria, com refratômetro Shimadzu, utilizando-se uma gota de suco puro de cada repetição, sendo o resultado expresso em ºBrix; - pH: determinado com o uso de peagâmetro modelo PHS-3B, utilizando-se uma amostra de suco puro de cada amostra; - acidez titulável (AT): determinada por titulometria de neutralização, com diluição de 10 ml de suco puro em 90 ml de água destilada e titulação com solução 20 de NaOH 0,1N, até que o suco atinja pH 8,1, expressa em porcentagem de ácido málico, segundo a metodologia de Manzino et al. (1987); b) Características sensoriais Após a colheita as avaliações serão realizadas por uma equipe treinada de julgadores. O método de análise sensorial a ser empregado é o descritivo, teste de avaliação de atributos, segundo Lawless e Haymann (1998). Para a avaliação de aparência, as amostras serão apresentadas em bandejas plásticas codificadas com três dígitos aleatórios com dez frutos, sob luz natural, tendo o julgador que expressar sua percepção visual através de escala. As características avaliadas serão: - Cicatrização - Coloração - Teor de cerosidade (pruína) Será utilizada a escala edônica de 9 cm. - Sabor - Textura Para o sabor e a textura, será solicitado aos julgadores que provem as amostras codificadas com três dígitos aleatórios, em cabines individuais com luz vermelha para mascarar a aparência e que expressem as sensações descrevendo a intensidade das características percebidas em relação aos seguintes atributos: doçura, acidez, sabor característico, sabor estranho (fermentado, passado), dureza da casca (1ª mordida), suculência (durante a mastigação), residual (após engolir) e qualidade geral do produto. Os julgadores receberão as amostras acompanhadas de uma ficha constituída de escala não estruturada de 9 cm, ancorada por termos descritivos, onde o julgador marcará com um traço vertical a intensidade da característica solicitada. O delineamento experimental será totalmente casualizado com esquema fatorial com três repetições, sendo a unidade experimental composta por 10 frutos. Os dados serão submetidos à análise de variância e, logo, para a comparação das médias, será aplicado o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. O delineamento experimental utilizado para a análise sensorial será o de blocos casualizados, sendo cada julgador uma repetição. Os dados serão submetidos à 21 análise de variância das características avaliadas e, para a comparação das médias, será aplicado o teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade de erro. Será realizada também a correlação de Pearson entre as variáveis físicoquímicas e sensoriais, onde serão apresentados somente os resultados relevantes. 7 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO DA PESQUISA 2009 2010 2011 2012 Atividades M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M Revisão bibliográfica Elaboração de projeto Avaliações Elaboração da tese x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x X x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x X x x x x x x x x x x x x x Defesa de tese x Publicação dos resultados x 8 Previsão orçamentária 8.1 Material de consumo Descrição Unidade Quantidade Preço unitário R$ Valor total R$ Fertilizantes saco 12 38,00 456,00 Substrato saco 02 14,20 28,40 m3 03 30,00 90,00 Ácido indolbutírico unidade 01 75,00 75,00 Álcool etílico unidade 01 10,00 10,00 Cartucho de tinta unidade 03 50,00 150,00 Papel para impressora pacote 03 13,00 39,00 Areia Subtotal 8.2 848,40 Material permanente disponível Descrição Unidade Quantidade Preço unitário R$ Valor total R$ Tesoura de poda unidade 01 155,00 155,00 Paquímetro digital unidade 01 570,00 570,00 Estufa agrícola unidade 01 10.000,00 10.000,00 Sistema de irrigação unidade 01 3.500,00 3.500,00 Subtotal 14.225,00 24 8.3 Serviços de terceiros Descrição Unidade Quantidade Preço unitário R$ Roçada D/H 24 50,00 1.200,00 Capina manual D/H 21 25,00 525,00 Análise de solo unidade 24 18,00 432,00 Análise foliar unidade 12 27,00 324,00 Encadernações unidade 07 12,00 84,00 folha 1000 0,10 100,00 Material bibliográfico - - - 1.500,00 Participação de eventos científicos - - - 2.500,00 Fotocópias Subtotal 8.4 Custos Totais Descrição Valor total R$ Material de consumo 848,40 Material permanente 14.225,00 Serviços de terceiros 6.665,00 Imprevistos (10 %) 2.173,84 Total geral 23.912,24 Valor total R$ 6.665,00 9 RESULTADOS ESPERADOS Espera-se com o desenvolvimento do projeto, selecionar genótipos de mirtileiro, com características agronômicas desejáveis. Lançar pelo menos, uma nova seleção no mercado viveirista. Revisão bibliográfica Aspectos gerais da cultura A cultura do mirtileiro foi introduzida no Brasil em 1983, pela Embrapa Clima Temperado (Pelotas – RS), que implantou uma coleção de cultivares do grupo rabbiteye provenientes da Universidade da Flórida (Estados Unidos). Somente sete anos após, iniciou-se o plantio comercial na cidade de Vacaria (RS) (ANTUNES, 2007). Atualmente, a área de plantio estimada é de pouco mais de 270 hectares, concentrados nas regiões Sul e Sudeste (POLL et al., 2013). O mirtileiro (Vaccinium ashei Reade) pertence à família Ericaceae, subfamília Vaccinoideae e gênero Vaccinium, é uma espécie frutífera nativa da América do Norte, Estados Unidos e Canadá, onde é largamente cultivado e estão estabelecidas densas populações naturais que foram fonte de material vegetal para os primeiros programas de melhoramento da cultura (RASEIRA, 2004). De acordo com Hoffmann (2008), dentre as espécies, comercialmente se destacam três grupos que são classificados de acordo com o genótipo, hábito de crescimento e tipo de fruto, entre outras características, conforme descrição a seguir: - ‘Highbush’ (mirtilo gigante), tetraplóide, originário da costa oeste da América do Norte. A qualidade dos frutos em termos de sabor e tamanho é superior aos demais grupos. Dentro deste grupo, Vaccinium corymbosum L. é a espécie mais importante, além de V. australee V. darrowique são usadas em programas de melhoramento genético; - ‘Rabbiteye’, hexaplóide, originário do sul da América do Norte. Compreende a espécie Vaccinium ashei Reade. Caracteriza-se por apresentar boa produtividade e maior conservação pós-colheita, no entanto seus frutos são de menor tamanho e de qualidade inferior quando comparado ao grupo highbush. Por apresentar baixa necessidade em frio, apresenta maior importância comercial em regiões com menor disponibilidade de frio, devido à tolerância ao calor e resistência à deficiência hídrica; - ‘Lowbush’, diplóide, pequeno arbusto com hábito de crescimento rasteiro, produz frutos pequenos, destinados à indústria. Para cada um desses grupos há uma forma diferenciada para a utilização dos frutos e prática de manejo, como propagação e colheita. As plantas do mirtileiro de porte arbustivo apresentam altura de 1,5 a 3 m. Adaptadas aos climas temperados são exigentes em frio para a superação da 27 dormência. Necessitam solos medianamente ácidos (pH entre 4,5 a 5,2), ricos em matéria orgânica e, normalmente, exigem irrigação (HOFFMANN; ANTUNES, 2004). A estrutura de suas flores desfavorece a autopolinização e favorece a polinização cruzada, pois as pétalas são soldadas entre si formando uma campânula invertida com uma abertura pequena, protegendo os estames da ação do vento e evitando que o pólen caia sobre o seu próprio estigma. As flores são atrativas para os insetos, pois além de serem aromáticas, possuem glândulas nectaríferas na base do estigma (FONSECA; OLIVEIRA, 2007). Para que haja uma boa produção em plantios comerciais é necessário que pelo menos 80% das flores frutifique havendo a necessidade da presença de insetos polinizadores, pois em função do seu formato, o pólen cai fora do estigma. Mesmo em espécie autofértil como do tipo highbush a polinização cruzada é importante, pois proporciona a colheita de frutos de maior tamanho. No caso do mirtileiro do tipo ‘rabbiteye’ há, em geral, algum grau de incompatibilidade. Assim, é aconselhável o plantio de, pelo menos, duas cultivares para a polinização cruzada. A produção é proveniente de ramos de ano, e a colheita deve ser realizada semanalmente podendo se estender por até seis semanas, pois a maturação dos frutos nos ramos é irregular. A colheita só deve ser iniciada quando a epiderme dos frutos estiver totalmente escura (RASEIRA, 2007). Geralmente o período de maturação dos frutos varia de duas a cinco semanas, de acordo com a idade das plantas. Quanto mais velha a plantação, maior a produção e mais prolongado é o período de colheita. Em média, o mirtileiro entra em produção comercial no quarto ano depois da plantação (0,5 a 1,0 t ha-1). A produção aumenta regularmente até atingir 10 t ha-1 do sétimo ao oitavo ano após o plantio. Atingindo esta fase, a produção mantém-se estável desde que os tratos culturais sejam aplicados corretamente (SERRADO et al., 2008). Em plantios bem manejados, plantas dos grupos higbush e rabbiteye podem produzir mais de 4.536 kg ha-1 a cada ano. Cultivares do grupo rabbiteye podem, ocasionalmente, produzir até 25 kg por planta. No grupo highbush, os frutos têm melhor qualidade, quando colhidos a cada 5 ou 7 dias dependendo da temperatura. E o sabor dos frutos do grupo rabbiteye melhora se colhidos com menos frequência, ou seja, colheitas a cada 10 dias permite obter frutos com o máximo de sabor (MAINLAND; CLINE, 2002). 28 Os frutos são de cor azul intensa, recobertos de cera, com diâmetro entre 1,5 a 2,5 cm de diâmetro, com polpa de sabor doce-ácido e muitas sementes de pequeno tamanho (HOFFMANN; ANTUNES, 2004). O fruto não é climatérico, isto significa que a intensidade respiratória diminui gradualmente da colheita à senescência. Como os frutos não amadurecem depois de colhidos, a colheita deve realizar-se no estado quase ótimo de maturação para consumo (SOUSA et al., 2007). Propagação De um modo geral, as plantas podem ser propagadas de forma sexuada, por sementes, e assexuada, por meio da multiplicação de partes vegetativas. A forma de reprodução das plantas tem fundamental importância no melhoramento genético (ARAÚJO; BRUCKNER, 2008). Na maioria das plantas cultivadas, a propagação é realizada por meio de sementes, que também pode ser utilizada na produção de mudas frutíferas, sendo responsável pela variação populacional e obtenção de novas variedades. Entretanto, na produção comercial de mudas a propagação assexuada pode ser mais interessante, especialmente em plantas frutíferas por ser mais rápida, reduzir o período juvenil e proporcionar a obtenção de plantas idênticas à planta matriz (HOFFMANN et al., 2005). Desta forma, a propagação vegetativa é utilizada também para perpetuar genótipos obtidos pelo melhoramento conduzido ou selecionados em populações naturais (HOFFMANN et al., 1996). A propagação do mirtileiro pode ser realizada por sementes ou por meio de enxertia e estaquia. Dos meios disponíveis para a propagação comercial, a estaquia é a mais utilizada (ANTUNES et al., 2004). Por se tratar de uma planta alógama, novos genótipos de mirtileiro podem ser obtidos por polinização aberta, a exemplo das cultivares Aliceblue e Bluegem (RASEIRA, 2007), método de melhoramento muito utilizado na antiguidade por agricultores, até mesmo de forma inconsciente e também por melhoristas por apresentar vantagens como, facilidade de condução e custos reduzidos (CARVALHO et al., 2003). 29 Propagação sexuada A propagação sexuada apresenta inúmeras vantagens quando comparada à multiplicação de partes vegetativas. No melhoramento genético de plantas, geralmente utiliza-se sementes, por estas constituírem o centro das variações genéticas naturais ou planejadas. As sementes são, portanto, um meio rápido e eficiente de difusão de novas cultivares (MARCOS FILHO, 2005). Quanto ao modo de reprodução sexuada, as espécies se classificam em autógamas e alógamas. Nas plantas autógamas, predominam a reprodução por meio da autofecundação podendo ocorrer após várias gerações a homozigose, ou seja, os descendentes apresentam uma magnitude de variabilidade bastante baixa entre si. Nas espécies alógamas, predomina a reprodução por fecundação cruzada, originando geralmente descendentes distintos entre si e diferentes dos pais que os originaram, em consequência da segregação genética. Esta variabilidade genética é de grande importância não só para evolução das espécies, mas também para a seleção de plantas com características de interesse agronômico (BRUCKNER; WAGNER JÚNIOR, 2008). Grande parte das frutíferas são alógamas, provavelmente a propagação vegetativa seja em parte responsável pela manutenção da alogamia nessas espécies (ARAÚJO; BRUCKNER, 2008). No melhoramento de plantas autógamas busca-se a obtenção de plantas individuais, pois a base de seleção é o indivíduo, que é objeto de observação e avaliação. Já em plantas alógamas, a ênfase é dada à população e não aos indivíduos, realiza-se o melhoramento através da seleção na qual a variabilidade genética está disponível, não havendo a de necessidade de ser gerada (CARVALHO et al., 2003). Porém, quando se identifica um indivíduo superior, a fixação das suas características só é possível pela multiplicação vegetativa. Tradicionalmente, na maioria das frutíferas, o melhoramento resume-se na seleção de pais, seguida do cruzamento entre estes, da seleção dos melhores híbridos e de sua propagação assexuada. Entretanto há uma tendência de aperfeiçoamento dos principais métodos que podem ser utilizados na fruticultura, tais como: introdução de plantas, seleção, seleção massal, seleção massal estratificada, seleção com testes de progênies e seleção recorrente (BRUCKNER; WAGNER JÚNIOR, 2008). 30 O método da seleção massal tem sido muito utilizado em diversas frutíferas, entre estas, na cultura do maracujazeiro (PIMENTEL et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2008), da aceroleira (PAIVA et al., 1999) e do açaizeiro (OLIVEIRA; FARIAS NETO, 2008). Carvalho et al. (2003) afirmam que, entre estes métodos de melhoramento, a seleção massal se destaca por apresentar facilidade de condução. Entretanto, os resultados do melhoramento dependem muito do conhecimento do modo de reprodução das espécies, que se dividem em quatro grupos: - Plantas autógamas sendo consideradas aquelas em que o gameta polinizador é produzido na mesma planta que o gameta receptor sem ocorrer autoincompatibilidades. Podendo ocorrer cruzamentos naturais que, normalmente não ultrapassam 5%. - Plantas alógamas, consideradas de fecundação cruzada, pois o pólen responsável pela fecundação do gameta materno é produzido por outra planta. - Plantas autógamas com frequente alogamia, essas plantas apresentam taxas de fecundação cruzada bastante variável. - Plantas de reprodução assexual, divididas em plantas de propagação vegetativa e apomíticas. As espécies de propagação vegetativa incluem propagação por diferentes partes vegetativas. A apomixia é uma forma de reprodução assexual na qual o embrião da semente se desenvolve sem a fusão dos gametas a partir de uma célula não reduzida (2n) do óvulo (célula mãe). Quanto ao melhoramento do mirtileiro, vários programas estão em andamento em todo o mundo, tendo como resultado a obtenção de diversas cultivares a exemplo da cultivar Brigitta do grupo highbush, selecionada na Austrália a partir de sementes de polinização aberta. Há uma tendência recente para acelerar o processo de lançamento de novas cultivares. Os primeiros programas costumavam levar até 25 anos a partir do cruzamento original, as plantas eram muitas vezes avaliadas por um período de 6 a 12 anos antes da seleção, e então as seleções avançadas eram avaliadas por mais 6 a 12 anos, em delineamentos experimentais antes do lançamento. Atualmente, há um esforço para que novas cultivares sejam lançadas de 10 a 12 anos a partir da obtenção das sementes, com expectativas de reduzir esse tempo para apenas oito anos (HANCOCK, 2006). 31 Propagação assexuada A propagação assexuada é utilizada quando a espécie não produz sementes, ou produz apenas sob condições especiais - quando a progênie não reflete o genótipo com as características selecionadas pelo melhorista -, ou ainda quando apresenta vantagens em termos de formação mais rápida e uniforme de plantios comerciais. Esse tipo de propagação baseia-se no uso de estruturas vegetativas, por meio de regeneração de partes da planta mãe, pelos métodos de estaquia, enxertia, mergulhia, cultivo in vitro e de estruturas especializadas. Esse método de propagação é imprescindível quando há interesse em manter a identidade do genótipo (HOFFMANN et. al. 2005). Entende-se por estaquia a forma de propagação na qual é possível a formação de raízes adventícias a partir de segmentos de ramos (estacas) destacados da planta mãe, que acondicionados em condições favoráveis de cultivo originam uma nova planta completa (FACHINELLO, 2005). É um método que apresenta inúmeras vantagens para espécies que podem ser assim propagadas, pois muitas plantas podem ser formadas a partir de uma única planta matriz. Além disso, apresentam maior viabilidade econômica para o estabelecimento de plantios clonais, permitindo a rápida multiplicação de genótipos selecionados a um custo reduzido (ARAÚJO; BRUCKNER, 2008). O mirtileiro, quando propagado por estaca, seja lenhosa ou herbácea, possibilita obter-se, dependendo da cultivar, enraizamento na ordem de 60% a 80%. Na Europa, são usados os dois métodos de propagação, enquanto, nos Estados Unidos, prefere-se utilizar estacas lenhosas para o mirtilo gigante (‘highbush’) e herbáceas para ‘rabbiteye’ (BOUNOUS, 2003). Cultivares Testes foram realizados na coleção da Embrapa Clima Temperado, por Raseira (2004), e os resultados das características físico-químicas avaliadas nos frutos de oito cultivares são descritos abaixo seguidos das épocas de floração e colheita, segundo estudo realizado por Antunes et al. (2008), durante os anos de 2003, 2004 e 2005. - ‘Bluebelle’: essa cultivar é autofértil, seus frutos são firmes, de tamanho pequeno a médio, com diâmetro de 1,0 a 1,7 cm e massa média de frutos de 2,2 g o 32 sabor é doce e ácido, predominando a acidez, a película é bem escura com presença moderada de pruína. O teor médio de sólidos solúveis é de 11,5 ºBrix. O início da floração ocorre de 15 a 25/08 e a maturação dos frutos de 3 a 14/12 podendo finalizar de 20 a 31/01. - ‘Bluegem’: é resultante de polinização livre e requer polinização cruzada, sendo a cultivar Woodard uma das polinizadoras recomendadas. Os frutos são muito saborosos, apresentaram diâmetro entre 1,0 e 1,6 cm e massa média em torno de 1,3 g, a película apresenta bastante pruína. O teor de sólidos solúveis tem sido entre 10,5 e 12,8 ºBrix. A floração pode iniciar de 10 a 25/8 e a maturação dos frutos de 8 a 14/12 finalizando de 20 a 26/01. - ‘Powderblue’: produz frutos de ótimo sabor, doce ácido equilibrado, que apresentaram tamanho médio a bom, variando de 1,2 a 1,5 cm massa média de 1,2 g. É uma das cultivares que apresentaram maior quantidade de pruína na película. É considerada resistente a doenças, sendo as plantas produtivas e vigorosas. O início da floração ocorre no período 10 a 30/08 e a colheita dos frutos de 14 a 22/12 podendo finalizar de 20 a 31/1. - ‘Aliceblue’: originária de polinização aberta da cultivar Beckyblue, necessita de polinização. Mostrou muito boa adaptação às condições de Pelotas (RS) e os frutos têm um sabor equilibrado de acidez e açúcar. O teor de sólidos solúveis tem sido em média, 11,3 a 11,8 ºBrix. A massa média dos frutos tem variado entre 1,5 e 1,8 g. É a cultivar de maturação mais precoce, dentre as testadas. Floresce de meados de agosto a início de setembro e a colheita inicia, nas condições de Pelotas, RS, em meados de novembro. - 'Briteblue': produz frutos grandes, acima de 1,3 cm de diâmetro, com película azul-clara, sabor regular e boa firmeza. Em Pelotas a massa média e o diâmetro dos frutos foram de 1,3 a 1,6 g e 1,0 a 1,7cm, respectivamente. O teor de sólidos solúveis totais variou de 9,2 a 11,3 ºBrix. Entre as cultivares testadas, é a que produz os frutos mais firmes. Floresce de 10 a 25 agosto e a colheita ocorre de 9 a 14/12 finalizando de 20 a 26/01. - ‘Climax’: é proveniente de um cruzamento entre ‘Callaway’ e ‘Ethel’. Os frutos são de tamanho médio, com película de coloração azul-escura e polpa saborosa. Em Pelotas, o diâmetro e a massa média dos frutos variou respectivamente de 1,0 a 1,7cm, e 1,8 g. A película apresenta-se coberta por bastante pruína, dando ao fruto 33 um aspecto bem azulado; o teor de sólidos solúveis varia entre 10 e 12,4 ºBrix. O sabor é doce ácido. Floresce de 10 a 25/08 e o início da maturação dos frutos ocorre no início da primeira quinzena de dezembro finalizando de 7 a 26/01. - ‘Delite’: é oriunda do cruzamento de duas seleções: T14 e T15. Os frutos são excelentes, de tamanho pequeno a médios, variando o diâmetro de 1,2 a 1,8 cm com massa média de 1,2 g, e teor de sólidos solúveis de 10,8 e 12,5 ºBrix. A película apresenta menos pruína do que os frutos da cv. Climax, sendo bem escura. O florescimento desta cultivar ocorre de 10 a 25/08 e o início do amadurecimento dos frutos de 14 a 20/12, finalizando de 7 a 31/01. - ‘Woodard’: cultivar oriunda do cruzamento entre ‘Ethel’e ‘Callaway’. Os frutos têm boa aparência sendo a película azul-claro. São considerados macios e, portanto, inadequados para transporte a longas distâncias. A massa e o diâmetro médio dos frutos variaram respectivamente entre 1,0 a 1,2 g, e 1,1 a 1,5 cm. O teor de sólidos solúveis tem sido superior a 12 ºBrix, podendo chegar a 13,9 ºBrix. A floração inicia de 10 a 20/08 e a maturação de 9 a 14/12 finalizando de 20 a 26/01. Relatório do Trabalho de Campo UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel Programa de Pós-Graduação em Agronomia Área de Concentração Fruticultura de Clima Temperado Relatório de Trabalho de Campo Seleção de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta Doutoranda: Doralice Lobato de Oliveira Fischeri Orientador: Dr. José Carlos Fachinello Co-orientadores: Dr. Valmor João Bianchi Drª. Clause Fátima de Brum Piana Pelotas, 2013 Introdução No Brasil, dentre os fatores que dificultam a expansão da cultura do mirtileiro, está a dificuldade de adaptação de cultivares com relação ao clima e ao solo (HOFFMANN; ANTUNES, 2004), uma vez que a grande maioria das cultivares exploradas economicamente foram selecionadas para outras condições edafoclimáticas e, portanto, podem apresentar limitações para produção adequada nas diferentes áreas de produção no Brasil. Entretanto, desde que utilizados genótipos adequados, existe condições favoráveis para o cultivo dessa espécie em várias regiões com características de clima temperado, onde os solos são bem drenados, com boa capacidade de retenção de água, ricos em matéria orgânica e pH de 4,2 a 5,5. Por se tratar de uma planta alógama, novos genótipos de mirtileiro podem ser obtidos por seleção massal, método de melhoramento muito utilizado por melhoristas por apresentar vantagens como facilidade de condução e custos reduzidos (CARVALHO et al., 2003). Novas seleções e cultivares de diversas espécies frutíferas podem ser obtidas através de programas de melhoramento por meio de cruzamentos controlados. No entanto, algumas cultivares surgem de polinização livre. Dentro desse contexto, esta pesquisa foi realizada com o intuito de selecionar plantas de mirtileiro adaptadas a regiões de frio ameno, com alta qualidade genética e fitossanitária, a partir de uma população de plantas de polinização aberta. Também se buscou verificar a facilidade de enraizamento de miniestacas semilenhosas dos genótipos selecionadas comparando-os as cultivares de origem. O material propagativo, oriundo de matrizeiro da Frutplan Mudas Ltda, consistiu de plantas provenientes de sementes e miniestacas de 30 genótipos obtidos de três populações de cultivares comerciais (Powderblue, Bluegem e Bluebelle). Os trabalhos realizados constituíram-se de dois experimentos, conforme descrição a seguir: 37 Experimento 1 – Seleção de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta O experimento foi conduzido em área experimental da empresa Frutplan Mudas Ltda., localizada na Colônia Ramos 3° distrito do município de Pelotas, Rio Grande do Sul, a 31º 33' 04,77" S, 52º 23' 50,46" O e 110 m de altitude, no período de dezembro de 2005 a janeiro de 2011. O material vegetal utilizado constituiu-se de 3.554 plantas, provenientes de sementes das cultivares Bluegem (1.212 plantas), Bluebelle (1.439 plantas) e Powderblue (903 plantas). O experimento foi conduzido em área previamente adubada conforme análise de solo, em espaçamento de 30 x 30 cm, com sistema de irrigação por aspersão. A seleção massal nas plantas das três populações foi realizada em três ciclos (2007/08, 2008/09 e 2010/11). No primeiro ciclo realizou-se a seleção negativa, eliminando-se as plantas indesejáveis; no segundo, foi realizada a seleção positiva, onde foram selecionadas 20 plantas de cada uma das populações; e no terceiro, também por seleção positiva, foram selecionados dez plantas de cada conjunto das 20 resultantes da etapa anterior. Como critério de seleção, para os dois primeiros ciclos, foram utilizadas as seguintes características: vigor da planta, produção, estado fitossanitário, início de produção, presença de pruína na epiderme, tamanho e sabor do fruto, esta última avaliada por dois indivíduos. Ao final do segundo ciclo, as 20 plantas préselecionadas de cada população foram avaliadas, por um período de dois anos (2009/10 e 2010/11), registrando-se as variáveis morfológicas, fenológicas e produtivas das plantas e variáveis químicas dos frutos. Experimento 2 – Potencial de enraizamento de genótipos de mirtileiro selecionados em populações de polinização aberta O experimento foi conduzido em casa de vegetação, na empresa Frutplan Mudas Ltda., Pelotas-RS, no período de dezembro de 2011 a março de 2012, utilizando-se miniestacas semilenhosas provenientes de ramificações laterais, de 30 genótipos selecionados de populações das cultivares comerciais (Blubelle, Bluegem e Powderblue), coletadas em dezembro de 2012. 38 O material utilizado foi segmentos de ramos secundários com três gemas com comprimento médio de 4 cm e diâmetro médio de 3 mm, contendo uma folha na extremidade superior. Após o preparo, as miniestacas foram tratadas com àcido indolbutírico (AIB), na concentração de 2.000 mg L-1, sendo colocadas para enraizar em Vermiculita® de granulometria fina, sob irrigação intermitente por microaspersão. Após o plantio, as estacas foram regadas com uma solução fungicida de Captan 500 PM (3 g L-1 de água), sendo este mesmo tratamento, mais tarde, repetido quinzenalmente na forma de pulverização. O pH de parte da água, utilizada para irrigação, foi corrigido com Quimifol P30 para aproximadamente 4,5, sendo as estacas regadas com esta solução três vezes por dia. Durante a condução do experimento, quando necessário, foram retiradas as invasoras, folhas caídas e estacas mortas. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições. Os tratamentos compreenderam trinta genótipos selecionados em populações de polinização aberta e três cultivares (testemunhas). A unidade experimental constituiu-se de oito miniestacas. Três meses após a instalação do experimento, avaliou-se os percentuais de estacas sobreviventes, enraizadas, com folhas persistentes e com formação calo, o número de raízes e o comprimento da maior raiz por estaca. Resultados A variabilidade genética existente entre as progênies nas populações permite a continuação do processo de seleção, visando à obtenção de plantas superiores com boas características quantitativas, qualitativas e adaptadas às condições de solo e clima da região, onde há vastas áreas com condições edafoclimáticas favoráveis ao cultivo da cultura do mirtileiro. A análise conjunta dos resultados permite afirmar que dos 30 genótipos testados, 12 podem ser propagados por miniestacas semilenhosas, possibilitando a obtenção de até 84,4% de mudas formadas. As seleções obtidas e que apresentam potencial agronômico, continuam sendo avaliadas e comparadas com as plantas de origem e, posteriormente, poderão constituir novas cultivares. Artigo 1: Seleção massal de genótipos de mirtileiro obtidos a partir de polinização aberta 40 SELEÇÃO MASSAL DE GENÓTIPOS DE MIRTILEIRO OBTIDOS A PARTIR DE POLINIZAÇÃO ABERTA DORALICE LOBATO DE OLIVEIRA FISCHER1, JOSÉ CARLOS FACHINELLO2, VALMOR JOÃO BIANCHI3, CLAUSE FÁTIMA DE BRUM PIANA4 RESUMO - No Brasil, as cultivares de mirtileiro, exploradas economicamente, foram introduzidas de outros países e, sendo assim, selecionadas em outras condições edafoclimáticas, podendo apresentar limitações para seu cultivo. Visando a obtenção de plantas superiores mais adaptadas para as condições brasileiras, realizou-se a seleção massal em três populações de mirtileiro de polinização aberta com o objetivo de obter progênies superiores. O material vegetal utilizado constituiuse de 3.554 plantas, provenientes de sementes das cultivares Bluegem (1.212 plantas), Bluebelle (1.439 plantas) e Powderblue (903 plantas). O experimento foi conduzido em área previamente adubada conforme análise de solo, em espaçamento de 30 x 30 cm, com sistema de irrigação por aspersão. A seleção massal nas plantas das três populações foi realizada em três ciclos (2007/08, 2008/09 e 2010/11). No primeiro ciclo realizou-se a seleção negativa, eliminando-se as plantas indesejáveis; no segundo, foi realizada a seleção positiva, onde foram selecionadas 20 plantas de cada uma das populações; e no terceiro, também por seleção positiva, foram selecionados dez plantas de cada conjunto das 20 resultantes da etapa anterior. Como critério de seleção, para os dois primeiros ciclos, foram utilizadas as seguintes características: vigor da planta, produção, estado fitossanitário, início de produção, presença de pruína na epiderme, tamanho e sabor do fruto. Ao final do segundo ciclo, as 20 plantas pré-selecionadas de cada população foram avaliadas, por um período de dois anos (2009/10 e 2010/11), registrando-se variáveis morfológicas, fenológicas e produtivas das plantas e variáveis químicas dos frutos. A consideração subjetiva dos resultados dessa 1 Engª. Agr., Doutoranda do PPGA, Fruticultura de Clima Temperado, FAEM, UFPel, Caixa Postal 623, CEP 96001-970 Pelotas, RS. [email protected] 2 Eng. Agr., Doutor, Departamento de Fitotecnia, FAEM, UFPel. Caixa Postal 354, CEP 96010-900, Pelotas, RS. [email protected] 3 Eng. Agr., Doutor, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, UFPel, Pelotas, RS. [email protected] 4 Bióloga, Doutora, Centro de Desenvolvimento Tecnológico, UFPel, Pelotas, RS. [email protected] 41 avaliação foi um critério adicional utilizado para a seleção de plantas no terceiro ciclo. Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que genótipos oriundos das três cultivares têm potencial para dar continuidade ao processo de seleção, destacando-se como mais promissores os genótipos BG5, BG2, BG3, BG6, PW3, PW5, PW1, BB10, BB5 e BB2 por apresentarem bom desenvolvimento vegetativo, alta produtividade, frutos de boa qualidade e de tamanho adequado ao mercado consumidor. Termos para indexação: Vaccinium ashei Reade, mirtilo, característica fenológicas, produtividade. 42 MASS PLANT SELECTION OF BLUEBERRY GENOTYPES OBTAINED FROM OPEN POLLINATION ABSTRACT -Blueberry cultivars economically grown in Brazil were introduced from other countries, in which they were selected according different edaphoclimatic conditions and so it might impose some limitation to its cultivation. In order to obtain superior progenies better adapted to Brazilian conditions, it was performed mass plant selection in three free polinization blueberry populations. The plant material consisted of 3,554 plants obtained from seeds of the cultivars Bluegem (1,212 plants), Bluebelle (1,439 plants) and Powderblue (903 plants). The experiment was performed in an area previously fertilized according to soil analysis, in a spacing of 30 x 30 cm, with sprinkler irrigation system. The mass selection was performed during three growing seasons (2007/08, 2008/09 and 2010/11). In the first growing season it was performed a negative selection, eliminating the undesirable plants; in the second, a positive selection was performed, where 20 plants were selected from each of the populations; and the third, also by positive selection, where 10 plants were selected within each set of 20 plants previously selected in the second step. As the selection criteria, it was used the following characteristics for the first two growing seasons: plant vigor, production, plant health, beginning of production, presence of epidermal bloom, fruit size and fruit flavor. At the end of the second growing season, the pre-selected 20 plants of each population were evaluated for a period of two years (2009/10 and 2010/11), recording morphological, phenological and productive parameters of these plants as well as chemical parameters of the fruits. The subjective consideration of these outcomes was an additional criterion used for the selection of the third growing season plants. Based on the results obtained, it can be concluded that genotypes obtained from three cultivars have the potential to continue the selection process, especially the most promising genotypes BG5, BG2, BG3, BG6, PW3, PW5, PW1, BB10, BB5 and BB2 because they present a good vegetative growth, high yield, fruit quality and size appropriate to the consumer market. Index terms: Vaccinium ashei Reade, blueberry, phenological characteristics, yield. 43 INTRODUÇÃO As primeiras mudas de mirtileiro cultivadas no Brasil foram plantadas em áreas experimentais da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, Rio Grande do Sul) em 1983, as quais foram provenientes de uma coleção de cultivares do grupo rabbiteye da Universidade da Flórida (Estados Unidos), servindo como base para a difusão da cultura no país. Por ser uma espécie exótica e pouco conhecida, somente sete anos após iniciou-se o plantio comercial no Rio Grande do Sul (ANTUNES, 2007). O mirtileiro (Vaccinium ashei Reade) é uma espécie frutífera, nativa da América do Norte, que pertence à família Ericaceae, subfamília Vaccinoideae. É largamente cultivado nos Estados Unidos e no Canadá, onde estão estabelecidas densas populações naturais que deram origem aos primeiros programas de melhoramento (RASEIRA, 2004). Segundo Hoffmann (2008), entre as espécies de mirtileiro, destacam-se comercialmente três grupos, highbush, rabbiteye e lowbush, classificados de acordo com o genótipo, o hábito de crescimento e o tipo de fruto, entre outras características. O grupo rabbiteye, originário do sul da América do Norte, é hexaplóide e compreende a espécie Vaccinium ashei Reade. Caracteriza-se por apresentar boa produtividade e maior conservação dos frutos em pós-colheita, no entanto, seus frutos são de menor tamanho e de qualidade inferior quando comparados aos do grupo highbush. Por apresentar baixo requerimento em frio, tolerância ao calor e resistência à deficiência hídrica, o grupo habbiteye tem maior importância comercial em regiões com menor disponibilidade de frio. Galletta e Ballington (1996) enfatizam que, devido à importância mundial desta cultura, atenção especial deve ser dada aos futuros programas de melhoramento, particularmente ao estudo de características da planta e dos frutos, tais como, ampla adaptação a diferentes tipos de solo e de clima, antecipação do início da colheita, resistência a pragas e doenças, potencial para mecanização da colheita e excelência de sabor dos frutos. Tradicionalmente, na maioria das frutíferas o melhoramento consiste em seleção de genitores, cruzamento, seleção dos melhores híbridos e propagação assexuada. Entretanto, há uma tendência de aperfeiçoamento dos principais métodos utilizados na fruticultura, tais como: introdução de plantas, seleção, seleção massal, seleção 44 massal estratificada, seleção com testes de progênies e seleção recorrente (BRUCKNER; WAGNER JÚNIOR, 2008). O mirtileiro é uma espécie perene, que pode ser propagada também por sementes, normalmente para fins de melhoramento. Suas flores apresentam várias características que favorecem a polinização cruzada, como pétalas soldadas entre si, formando uma campânula invertida com uma pequena abertura, que protege os estames da ação do vento desfavorecendo a autopolinização. Além disso, as flores são aromáticas e possuem glândulas nectaríferas na base do estigma que atraem os insetos responsáveis pela polinização cruzada (FONSECA; OLIVEIRA, 2007). Em plantas de polinização cruzada não há necessidade de gerar variabilidade genética através dos cruzamentos artificiais, o melhoramento pode ser realizado a partir da variabilidade disponível, tornando-se um método prático, de baixo custo e de fácil execução (CARVALHO et al., 2003). Essa estratégia é denominada seleção massal e tem sido muito utilizada em diversas frutíferas, como aceroleira (PAIVA et al., 1999), goiabeira serrana (DUCROQUET et al., 2007), maracujazeiro (PIMENTEL et al., 2008; OLIVEIRA et al., 2008) e açaizeiro (OLIVEIRA; FARIAS NETO, 2008). No Brasil, a grande maioria das cultivares de mirtileiro exploradas economicamente foram introduzidas, ou seja, foram selecionadas em outras condições edafoclimáticas, com isso podendo apresentar limitações para produção nas diferentes áreas de cultivo. Entretanto, desde que utilizados genótipos adaptados, existem condições favoráveis para o cultivo dessa espécie em várias regiões com características de clima temperado, em áreas de solos bem drenados, com boa capacidade de retenção de água, ricos em matéria orgânica e pH de 4,2 a 5,5. Visando a obtenção de plantas superiores com boas características qualitativas e quantitativas e adaptadas às condições de solo e clima da região sul do Rio Grande Sul, realizou-se a seleção massal de genótipos de mirtileiro em três populações oriundas de polinização aberta. MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi conduzido em área experimental da empresa Frutplan Mudas Ltda, localizada na Colônia Ramos, 3º distrito do município de Pelotas, Rio Grande 45 do Sul, a 31º 33' 04,77" S, 52º 23' 50,46" O e 110 m de altitude, no período de dezembro de 2005 a janeiro de 2011. As plantas matrizes que deram origem as populações foram provenientes de um matrizeiro irrigado por gotejamento, constituído por 815 plantas de oito cultivares, sendo 152 Bluegem, 153 Bluebelle, 162 Powderblue, 50 Climax, 47 Briteblue, 49 Woodard, 188 Delite, todas com três anos de idade na época, e 14 Aliceblue, com um ano de idade. A disposição dessas plantas no matrizeiro é apresentada na Figura 1. Figura 1. Pomar de mirtileiro das plantas matrizes que deram origem as progênies. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Das oito cultivares citadas, ‘Bluebelle’, ‘Powderblue’ e ‘Bluegem’ foram utilizadas para a coleta de frutos, para formar as três populações objeto do estudo. A seguir 46 são descritas, algumas características dessas cultivares, conforme estudos realizados por Raseira (2007), e épocas de floração e colheita, segundo Antunes et al. (2008). - ‘Bluebelle’: é autofértil, seus frutos são firmes, de tamanho pequeno a médio, com diâmetro de 1,0 a 1,7 cm e massa média de frutos de 2,2 g, o sabor é agridoce, predominando a acidez, a película é bem escura com presença moderada de pruína. O teor médio de sólidos solúveis é de 11,5 ºBrix. O início da floração ocorre de 15 a 25/08 e a maturação dos frutos de 3 a 14/12, podendo finalizar de 20 a 31/01. - ‘Bluegem’: é resultante de polinização livre e requer polinização cruzada, sendo a cultivar Woodard uma das polinizadoras recomendadas. Os frutos são muito saborosos, com diâmetro entre 1,0 e 1,6 cm e massa média em torno de 1,3 g; a película apresenta bastante pruína. O teor médio de sólidos solúveis está entre 10,5 e 12,8 ºBrix. A floração pode iniciar de 10 a 25/08 e a maturação dos frutos de 8 a 14/12, finalizando de 20 a 26/01. -‘Powderblue’: possui frutos de ótimo sabor, teor de acúcares e acidez equilibrado, com diâmetro variando de 1,2 a 1,5 cm e massa média de 1,2 g. É uma das cultivares que apresentam maior quantidade de pruína na película. É considerada resistente a doenças e suas plantas são produtivas e vigorosas. O início da floração ocorre no período de 10 a 30/08 e a colheita dos frutos tem início entre 14 e 22/12 e finaliza entre 20 e 31/01. Em dezembro de 2005, realizou-se a seleção e coleta dos frutos de maior tamanho das cultivares Bluebelle, Powderblue e Bluegem, oriundas do matrizeiro. As sementes desses frutos foram extraídas, secas à sombra, estratificadas e semeadas em bandejas contendo areia de granulometria média como substrato e cobertas com uma leve camada de Vermiculita®. Após a germinação, as plântulas com aproximadamente 8 cm de altura foram transferidas para sacolas de plástico de 13 x 20 cm contendo Plantmax® como substrato, dando origem a 3.554 mudas, sendo 1.212 da cultivar Bluegem, 1.439 da Bluebelle e 903 da Powderblue. No início do mês de fevereiro de 2007, as mudas com aproximadamente um ano de idade foram transplantadas para o campo experimental, agrupadas por cultivar de origem, formando três populações (Figura1). A área experimental foi previamente preparada e adubada com superfosfato triplo na proporção de 375 kg ha-1, conforme análise de solo. O plantio foi realizado em espaçamento adensado de 30 x 30 cm, 47 sob sistema de irrigação por aspersão. Em torno de cada planta foi colocada acícula de pinus como cobertura morta. Utilizou-se o sistema adensado de plantas devido à limitação de área disponível e mão-de-obra. O clima local, segundo classificação de Köppen, é do tipo Cfa, com temperatura média anual de 17,8 ºC, umidade relativa média anual de 80,7% e precipitação pluvial média anual de 1.367 mm (AGROMETEOROLOGIA, 2011). O solo da região é do tipo argissolo vermelho-amarelo, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação (SANTOS et al., 2006), e o pH da área experimental é 4,5, conforme a análise de solo. Durante o período de desenvolvimento das plantas foram empregadas todas as práticas culturais de rotina, conforme recomendação de Antunes et al. (2004) e Freire (2004). O método utilizado para selecionar as plantas nas três populações foi a seleção massal, realizado em três ciclos (2007/08, 2008/09 e 2010/11). No primeiro ciclo realizou-se a seleção negativa, eliminando-se as plantas indesejáveis; no segundo, foi realizada a seleção positiva, onde foram selecionadas 20 plantas de cada uma das populações; e no terceiro, também por seleção positiva, foram selecionados dez plantas de cada conjunto de 20 resultantes da etapa anterior. Como critério de seleção, para os dois primeiros ciclos, foram utilizadas as seguintes características: vigor da planta, produção de frutos, estado fitossanitário, início de produção, presença de pruína na epiderme dos frutos, tamanho e sabor do fruto, esta última avaliada por dois avaliadores diferentes. Outras características secundárias observadas foram formato da copa, coloração, formato e tamanho das folhas, das flores e dos frutos, distância de entrenós dos ramos e formato dos cachos. Ao final do segundo ciclo, as 60 plantas selecionadas foram avaliadas, por um período de dois anos (2009/10 e 2010/11), registrando-se variáveis morfológicas, fenológicas e produtivas da planta e variáveis químicas dos frutos. A consideração subjetiva dos resultados dessa avaliação foi um critério adicional utilizado para a seleção de plantas no terceiro ciclo. Essas variáveis são descritas a seguir. - Variáveis morfológicas: número de hastes principais da planta; altura (cm) e diâmetro (mm) da maior haste principal, sendo o diâmetro mensurado a 10 cm do solo; número de brotações basais emitidas no ano; e massa fresca da poda verde (kg). 48 - Variáveis fenológicas originais: datas de início, plena e final da floração, início da brotação e início e final da maturação dos frutos. Avaliações referentes à floração e brotação foram realizadas uma vez por semana, de acordo com a descrição dos estádios de desenvolvimento de gema (CHILDERS; LYRENE, 2006), considerando o início da floração quando as plantas apresentavam mais de 5% das flores abertas, a plena floração quando verificado 50% das flores abertas e o fim da floração quando havia 90% das flores abertas; e o início da brotação, quando as gemas atingiram o estádio de ponta verde. As avaliações de maturação dos frutos também foram realizadas semanalmente. Em estágio de maturação completa, os frutos foram colhidos a cada sete dias, conforme recomendação de Mainland e Cline (2002). Foram realizadas até nove colheitas durante o período de maturação. - Variáveis fenológicas derivadas: precocidade da floração em relação a cultivar mãe, período até a plena floração, período de floração, precocidade da brotação em relação a cultivar mãe, precocidade da maturação em relação a cultivar mãe e período de maturação dos frutos. Para avaliar as variáveis, precocidade de brotação e floração das plantas e maturação dos frutos, adotou-se como referência a data em que a maioria dos clones da cultivar mãe iniciou brotação, floração e maturação. A diferença entre a data da planta da progênie e a data da cultivar mãe, tomada como referência, expressa a precocidade em número de dias. Assim, números positivos caracterizam genótipos tardios, o número zero significa que o genótipo floresce na mesma data que a cultivar mãe e números negativos caracterizam genótipos precoces. - Variáveis produtivas: produção de frutos por planta (kg) e produção de frutos grandes, médios e pequenos por planta (kg). Para classificar os frutos foram utilizados dois baldes, um com furos de 14,7 mm de diâmetro, para separar os frutos grandes, e outro com furos de 12,5 mm de diâmetro, para separar os frutos médios dos frutos pequenos. - Variáveis químicas dos frutos: sólidos solúveis (ºBrix) determinados com auxílio de refratômetro digital de bancada; pH, com pHmetro digital; e acidez titulável (% de ácido cítrico), por meio da diluição de 10 ml de suco puro em 90 ml de água destilada e titulação com NaOH 0,01 N até atingir o pH de 8,1, conforme as normas do Instituto Adolfo Lutz (PREGNOLATTO; PREGNOLATTO, 1985); e a relação 49 SS/AT, determinada pela razão entre os dois constituintes. Essas variáveis foram mensuradas a cada colheita, a partir de uma amostra de 25 a 30 frutos. Para a comparação das características das progênies com as das cultivares mães, foram escolhidos ao acaso, no matrizeiro, três clones de cada cultivar mãe, marcados e avaliados segundo as variáveis morfológicas e de produção. Para a avaliação das variáveis fenológicas, foram escolhidos e marcados dez clones de cada cultivar mãe. A análise estatística consistiu de análise descritiva dos dados por meio de medidas descritivas e gráfico de caixa (“box plot”) e análise correlação entre variáveis. Essas análises foram efetuadas com o uso do programa estatístico WinStat (MACHADO; CONCEIÇÃO, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO No período de agosto a outubro de 2007, partindo de um total de 3.554 plantas, avaliou-se a floração em 1.231 delas, sendo 799, 281 e 151 oriundas das cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle, respectivamente. Observou-se uma grande variabilidade entre as plantas com relação à época de floração, frutificação, início da brotação, vigor, formato da copa, coloração, formato e tamanho das folhas, das flores e dos frutos, distância de entrenós dos ramos, presença e quantidade de pruína nos frutos maduros e formato dos cachos. Com relação à coloração das folhas, nas três populações, todas as plantas que apresentaram as folhas de tom verde intenso possuíam também pilosidade, e seus frutos apresentavam coloração escura intensa, brilhantes e não apresentavam pruína. Esta característica pode ser importante para a seleção indireta, podendo reduzir a quantidade de plantas a serem avaliadas em etapas posteriores. Para Bruckner e Wagner Júnior (2008), em frutíferas é importante que a seleção seja realizada tão logo seja possível, pois além de reduzir a quantidade de plantas, reduz também o espaço necessário para avaliações posteriores e os custos. Em 2007/08, durante o primeiro período de produção das progênies, iniciou-se o processo de seleção massal negativa. Nesta fase, foram eliminadas todas as plantas improdutivas, com pouco vigor, com frutos de sabor indesejável, pequenos, de baixa qualidade, com tendência a rachaduras, ausência de pruína e pouco atrativos. Resultando em 459 plantas selecionadas, das quais 208 oriundas da cultivar 50 Bluegem, 172 da Bluebelle e 79 da Powderblue. Cada planta foi etiquetada com o nome da cultivar de origem, o número da linha e o número da planta dentro da linha. Os índices de seleção para as populações das cultivares Bluegem, Bluebelle e Powderblue foram, respectivamente, 17,16%, 19,05% e 5,49%. Raseira e Nakasu (2002) afirmam que o processo de seleção de genótipos é muito subjetivo e depende, entre outros fatores, da experiência do melhorista, de seus objetivos e do conhecimento que ele tem do germoplasma. Salientam também que, em estágios iniciais dos programas de melhoramento, os critérios de seleção costumam ser menos rígidos que em programas mais adiantados. No presente trabalho, observa-se que os índices de seleção desse primeiro ciclo estão de acordo com aqueles disponíveis da literatura (OKIE; WEINBERGER, 1996; CLARK; MOORE, 2006) e que ainda há variabilidade dentro das populações para a grande maioria das variáveis analisadas, o que possibilita a continuidade do processo de seleção. Em programas de melhoramento do mirtileiro conduzidos em Arkansas, do total de 3.523 mudas oriundas de polinização aberta, em quatro anos foram selecionados 158 genótipos, ou seja, mais de 99% das plantas foram eliminadas em um período de quatro anos após o plantio, dando origem a 0,22% de genótipos (CLARK; MOORE, 2006). Para outras culturas como a da ameixeira, 97% a 99% das plantas também podem ser eliminadas logo no quinto ano (OKIE; WEINBERGER, 1996). De acordo com Nakasu e Raseira (2002), as principais causas da eliminação dessas plantas são faltas de produtividade, suscetibilidade a doenças e produção de frutos pequenos, pouco atrativos, com tendência a rachaduras, falta de firmeza e baixa qualidade. O segundo ciclo de seleção (2009/10) resultou na seleção de 20 plantas de cada população. Nesta fase, os índices de seleção foram 9,62%, 11,63% e 25,32%, para as populações de Bluegem, Bluebelle e Powderblue, respectivamente. Durante o período de desenvolvimento das plantas, observou-se a presença de algumas pragas e doenças. Na época da maturação dos frutos, ocorreram pequenos danos causados por pássaros, agravando-se no final da colheita. Nos Estados Unidos há registros de que o ataque de pássaros compromete até 10% da produção nacional de frutos, causando prejuízos estimados em 10 milhões de dólares (PRITTS, 2006). 51 Observou-se ataque severo de cochonilha (Quadras pidiotus sp.) em algumas plantas e a presença de alguns insetos, como lagarta mede-palmo, que não causaram danos expressivos. Grande parte das flores apresentou danos causados por abelha-irapuá (Trigona spinipes). Silveira et al. (2010) relatam que esse inseto é considerado praga de várias culturas, pois se alimenta de folhas, flores e frutos. Em mirtileiro os danos maiores são causados durante o período de floração, comprometendo a produção em consequência da baixa frutificação, frutos de menor tamanho e com menor quantidade de sementes. Durante a maturação dos frutos, houve uma expressiva quantidade de frutos atacados por crisomelídeos (Colaspis sp.) e de folhas atacadas por suas larvas. Em 2009, durante o período de floração, surgiram os primeiros sintomas de Botrytis nas flores e de ferrugem (Puccinia sp.) nas folhas, sendo este último bastante nítido no outono, ocasionando a perda precoce das folhas em algumas plantas. A partir de 2009 algumas plantas morreram, tendo como causa Fusarium, e em 2010, Sclerotium Rolfsii. Cline e Schilder (2006) afirmam que os fungos são os patógenos mais comumente encontrados no mirtileiro, e que o gênero Botrytis não é considerado de muita importância na maioria das regiões de plantio, no entanto, sob condições de umidade em períodos chuvosos, como é o caso da região sul do RS, pode causar sérios danos nas flores e nos frutos. Essa observação pode servir de alerta para produtores de regiões que apresentam condições de alta umidade e de temperatura amena na época da floração. No presente trabalho, a incidência de Botrytis em 2009, durante o período de floração, agravou-se na plena floração, época em que houve dias consecutivos de chuva alternados de temperaturas altas. Nos levantamentos de doenças características da cultura do mirtileiro realizados por Ueno (2007), em plantas na região Sul do Rio Grande do Sul, foram identificados, entre outros fungos, os gêneros Botrytis, associado a ramos e flores, e Sclerotium, associado a colo e raízes, que, por serem considerados patógenos de plantas, representam um potencial para causar danos à cultura. Nas figuras de 2 a 19 são apresentados os gráficos de caixa que descrevem o comportamento dos clones da cultivar mãe, avaliados no matrizeiro, e das 20 plantas selecionadas de cada progênie, para todas as variáveis analisadas. Esses gráficos 52 possibilitam a análise do comportamento de plantas da progênie e clones da cultivar mãe, dentro de cada ano e entre os anos. De modo geral, verifica-se para todas as variáveis que o comportamento dos clones da planta mãe variou entre os anos, evidenciando o efeito de ano, isto é, o efeito das características de ambiente que variam de um ano para o outro. Comparando-se as três cultivares mães, verificou-se que o efeito de ano também variou entre elas, caracterizando a interação entre cultivar e ano. O acúmulo de horas de frio e as médias das temperaturas máximas e mínimas no período de 2005 a 2011 são apresentados na Tabela 1. Tabela 1. Acúmulo de horas de frio (abaixo de 7,2 ºC) e média das temperaturas (ºC) máximas e mínimas, nos meses de maio a setembro dos anos de 2005 a 2011, na sede da Estação Experimental da Embrapa Clima Temperado em Pelotas - RS, a 31° 37' 15,57" S, 52° 31' 30,77" W e 164 m de altitude. Ano Horas de frio Temperatura máxima Temperatura mínima 2005 276 20 10 2006 474 19 9 2007 780 17 8 2008 479 18 9 2009 502 19 9 2010 330 19 11 2011 409 18 9 Variáveis morfológicas Para três das variáveis relacionadas ao vigor das plantas (altura e diâmetro da haste principal e massa fresca da poda verde), as progênies das cultivares Bluegem e Bluebelle apresentaram valores máximos inferiores aos valores mínimos dos clones de suas respectivas mães (Figuras 2, 3 e 4). Diferenças morfológicas entre plantas da progênie e clones da cultivar mãe eram esperadas devido à diferença de idade entre os grupos. A progênie da cultivar Powderblue, entretanto, apresentou um bom vigor inicial, com valores mais próximos dos valores dos clones da mãe. Em 2009/10, segundo ano após o plantio, as progênies apresentaram um bom crescimento, com altura da haste principal variando de 0,8 a 2,0 m e diâmetro entre 11,7 mm e 24,6 mm (Figuras 2 e 3). Entretanto, no segundo ano, observou-se 53 incremento apenas no diâmetro da haste principal, que variou de 13,4 a 29,9 mm. Os diâmetros medianos observados em 2009/10 e 2010/11 foram, respectivamente, 15,6 e 21,9 mm, para Bluegem, 16,7 e 21,2 mm, para Powderblue e 16,6 e 21,3 mm, para Bluebelle. A estabilização na altura das plantas, no segundo ano após o plantio, também foi observada por Yu et al. (2006) em cultivares do grupo highbush e rabbiteye. É provável que o baixo incremento na altura das plantas seja decorrente da poda de formação. Isso porque, no primeiro inverno após o plantio, as hastes principais das mudas são rebaixadas a aproximadamente 20 cm e originam, em média, três pernadas que se desenvolvem durante a fase vegetativa. No ano seguinte, durante o período de repouso, essas pernadas são podadas a um terço do seu tamanho, surgindo várias ramificações laterais, limitando o crescimento vertical das plantas. Nos anos posteriores, surgem novas hastes principais (Figura 5), mais vigorosas, que são podadas a 40 cm proporcionando aumento na altura das plantas. Figura 2. Distribuição da altura da haste principal (cm), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Nota: n indica número de plantas; ponto amarelo indica valor extremo; ponto vermelho indica valor atípico (“outlier”). 54 A massa fresca da poda verde dos clones da cultivar Bluebelle (em 2009, variação de 4,90 kg a 13,28 kg) foi bastante superior à dos clones das cultivares Bluegem (em 2009, variação de 3,09 kg a 4,34 kg) e Powderblue (em 2009, variação de 0,82 kg a 2,84 kg) (Figura 4). É possível que este fato se deva a maior abundância de brotações basitônicas da cultivar Bluebelle (Figura 6). O número de brotações basais emitidas no ano (Figura 6) por clones de Bluebelle variou de 24 a 64, enquanto clones das cultivares Powderblue e Bluegem emitiram de 3 a 7 e de 1 a 7 brotações, respectivamente. Porém, nas progênies das cultivares Bluegem e Powderblue, registrou-se um efeito inverso, as quais apresentaram algumas plantas com um número expressivo de brotações basitônicas de até 35 e 36 brotações por planta, respectivamente. Souza et al. (2011), também constataram diferenças significativas entre três cultivares de mirtileiro quanto ao número de brotações emitidas da base das plantas. Em plantios comerciais, durante a fase de formação das plantas a emissão de um maior número de brotações basais é essencial, no entanto, após este período torna-se indesejável, pois demanda maior mão-de-obra para a realização da poda de verão, onerando desta forma os custos de produção. Figura 3. Distribuição do diâmetro (mm) da haste principal, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 55 Figura 4. Distribuição da massa fresca da poda verde (kg), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Figura 5. Distribuição do número de hastes principais, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 56 Figura 6. Distribuição da variável número de brotações basais emitidas no ano, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Variáveis fenológicas Para avaliar a precocidade de floração da progênie em relação a cultivar mãe, considerou-se como referência a data em que a maioria dos clones da cultivar mãe iniciou a floração, no respectivo ano. Esse critério também foi utilizado para determinar as datas de referência para precocidade de brotação e de maturação de frutos (Tabela 2). Quanto à precocidade de floração, houve variação para os clones e suas progênies (Figura 7). Em 2009, 70% dos clones de Bluegem iniciaram a floração em 26/08, e em 2010, o início de floração foi antecipado em duas semanas, visto que 60% dos clones floresceram em 11/08. Os clones das cultivares Powderblue e Bluebelle, por sua vez, mantiveram a mesma data de início de floração nos dois anos. Observa-se na Figura 7 que os valores mais extremos para a variável precocidade da floração das progênies foram -42 dias (planta mais precoce) e 28 dias (planta mais tardia). A variação observada para a variável precocidade de floração apenas na cultivar Bluegem nos dois ciclos, pode estar relacionada a 57 fatores genéticos quanto a maior exigência em frio, uma vez que no segundo ciclo a diferença de horas de frio foi de 172 horas a menos que o ciclo anterior. De acordo com Antunes et. al (2008), variações no padrão fenológico podem ser consequência das características genéticas de cada cultivar e de fenômenos climáticos como temperatura e fotoperíodo, que interferem na floração e brotação. Tabela 2. Datas de referência para a avaliação da precocidade de floração, brotação e maturação da progênie em relação à mãe, por cultivar e ano. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Data de referência Cultivar Ano Floração Brotação Maturação Bluegem Powderblue Bluebelle 2009 26/08 02/09 01/12 2010 11/08 01/09 08/12 2009 02/09 02/09 08/12 2010 01/09 08/09 14/12 2009 19/08 02/09 12/12 2010 18/08 15/09 15/12 Para a variável período de plena floração (Figura 8), a amplitude de variação foi aproximadamente a mesma nos dois anos, com extremos de sete (plena em 01/09) e 56 dias (plena em 02/09) em 2009, e de seis (plena em 01/09) e 50 dias (plena em 02/09) em 2010. Nas progênies mais tardias, a floração plena ocorreu em 30/09 com duração aproximada de 72 dias. Para progênies e clones das três cultivares, exceto os clones de Bluebelle, observou-se, de 2009 para 2010, um aumento da variabilidade do período de plena floração. A correlação linear entre as variáveis precocidade de floração (PF) e período de plena floração (PPF) foi negativa e significativa (Tabela 3). Esse resultado indica que plantas mais precoces tendem a ter períodos de plena floração mais longos. Entre as variáveis precocidade de floração (PF) e precocidade de maturação (PM), o coeficiente de correlação linear foi não significativo para as cultivares Powderblue e Bluebelle, e positivo e significativo para a cultivar Bluegem, embora sua magnitude não tenha sido muito elevada. 58 Figura 7. Distribuição da variável precocidade de floração,por cultivar,nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Nota: As datas de floração de referência, correspondente ao ponto zero, foram: 26/08/2009 e 11/08/2010, para Bluegem; 02/09/2009 e 01/09/2010, para Powderblue; e 19/08/2009 e 18/08/2010, para Bluebelle. Figura 8. Distribuição da variável período de plena floração, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 59 Tabela 3. Correlação entre as variáveis precocidade de floração e período de plena floração (PF x PPF) e precocidade de floração e precocidade de maturação (PF x PM) nas progênies das três cultivares, nos dois anos. PF x PPF PF x PM Cultivar Ano r Valor p r Valor p Bluegem Powderblue Bluebelle 2009/10 -0,93 < 0,0001 0,57 0,0080 2010/11 -0,78 < 0,0001 0,58 0,0068 2009/10 -0,75 0,0002 0,32 0,1689 2010/11 -0,79 < 0,0001 0,29 0,2998 2009/10 -0,93 < 0,0001 0,40 0,0848 2010/11 -0,87 < 0,0001 -0,18 0,4576 De acordo com Kluge et al. (2002), o período de floração é muito importante em frutíferas por estar associado à época de maturação dos frutos. Assim, é possível determinar com antecedência a época de maturação dos frutos e planejar as atividades do pomar. Em geral, o número de dias da plena floração até a colheita é relativamente constante para a mesma cultivar. Assim, quanto mais compacto o período de floração, menor será o período entre o início e final da colheita. Diante dos resultados relativos à floração, no presente trabalho percebe-se que é possível um escalonamento de produção das progênies. Verifica-se na Figura 9 que o período de floração também aumentou de 2009 para 2010, para as progênies e os clones da cultivar mãe. O maior período de floração observado foi de 77 dias, nas progênies de Powderblue e Bluebelle, e o menor foi de 14 dias, na progênie de Bluegem. Wagner Júnior et al. (2009) testaram diferentes unidades de frio em diferentes cultivares de pessegueiro e verificaram que o requerimento de frio variou entre as cultivares, num intervalo de 50 a 400 unidades de frio. Nienow e Floss (2002), ao avaliarem genótipos e cultivares de pessegueiro e de nectarineiras, também observaram variações na época de floração das seleções e das cultivares dentro de cada safra e entre as três safras estudadas. Eles atribuíram essas variações ao fator genético em combinação com as condições meteorológicas. No presente trabalho, a grande variação entre plantas da progênie e clones da cultivar mãe, observada para as variáveis fenológicas, pode ser decorrente de fatores genéticos relacionados ao requerimento em frio e necessidade de calor. 60 Para a variável precocidade de brotação (Figura 10), em 2009 verificou-se pouca variação das progênies em relação aos clones da planta mãe. Apenas uma planta da progênie de Bluegem e quatro plantas de cada uma das progênies de Powderblue e Bluebelle foram sete dias mais tardias que a mãe. As demais plantas das três progênies brotaram na mesma data que os clones de suas mães (02/09). Em 2010, porém, as três progênies apresentaram maior variação, com plantas mais tardias (até 14 dias) e plantas mais precoces (até 21 dias) que os clones da mãe. Uma planta discrepante foi identificada na progênie de Bluebelle, com precocidade de 52 dias. Esses resultados podem evidenciar variabilidade genética entre as progênies para o caráter requerimento em frio, mesmo sem recorrer ao cruzamento dirigido, o que comprova a possibilidade de explorar a variabilidade em populações de livre polinização. Verifica-se na Figura 11 que o período de maturação não variou dentro de ano para os clones das cultivares, exceto em 2009/10, para Powderblue, e 2009/10, para Bluebelle. As progênies, por sua vez, apresentaram ampla variação no período de maturação, com extremos de 14 e 49 dias, e uma planta discrepante da progênie de Bluebelle com ciclo de maturação de 66 dias. Também se observa, para as três progênies, que houve aumento do período de maturação de um ano para o outro. As medianas observadas em 2009/10 e 2010/11 foram, respectivamente, 28 e 34,5 dias, para Bluegem, 28 e 34 dias, para Powderblue e 26 e 34 dias, para Bluebelle. O aumento no período de maturação das progênies, no segundo ciclo, já era esperado, uma vez que também há certa tendência de aumento na produção de frutos. Segundo Serrado et al. (2008), na cultura do mirtileiro o período de maturação dos frutos varia de duas a cinco semanas, de acordo com a idade das plantas. Quanto mais velho o pomar, maior a produção e mais prolongado é o período de colheita. Em média, o mirtileiro entra em produção comercial no quarto ano depois do plantio (0,5 a 1 t ha-1). A produção aumenta regularmente até atingir 10 tha-1 do sétimo ao oitavo ano após o plantio. Ao atingir esta fase, a produção mantém-se estável desde que os tratos culturais sejam aplicados corretamente. O comportamento da variável precocidade de maturação (Figura 12) variou entre progênies e anos. Os valores extremos para a progênie de Bluebelle foram -14 e 10 em 2009/10 e -14 e 6 em 2010/11; para Powderblue, -7 e 7 em 2009/10 e -13 e 7 em 2010/11; para Bluegem, -7 e 14 em 2009/10 e -7 e 13 em 2010/11. 61 Figura 9. Distribuição da variável período total de floração, por cultivar, anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Figura 10. Distribuição da variável precocidade de brotação, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Nota: As datas de brotação de referência, correspondente ao ponto zero, foram: 02/09/2009 e 01/09/2010, para Bluegem; 02/09/2009 e 08/09/2010, para Powderblue; e 02/09/2009 e 15/09/2010, para Bluebelle. 62 Figura 11. Distribuição da variável período de maturação dos frutos, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Figura 12. Distribuição da variável precocidade de maturação, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Nota: As datas de maturação de referência, correspondente ao ponto zero, foram: 012/12/2009 e 08/12/2010, para Bluegem; 08/12/2009 e 14/12/2010, para Powderblue; e 12/12/2009 e 15/12/2010, para Bluebelle. 63 Variáveis de produção Considerando que existe uma diferença de cinco anos entre as plantas matrizes e as progênies, é de se esperar uma diferença expressiva na comparação dos dois grupos. Por essa razão, era esperado que os clones da cultivar mãe, com sete anos de idade em 2009, tenham um comportamento superior ao das plantas da progênie, com menos de dois anos de idade na mesma época. De fato, a superioridade produtiva dos clones da mãe em relação às progênies foi observada, em 2009/10, para as três cultivares e, mais expressivamente, para a cultivar Powderblue (Figura 13). Em 2010/11, entretanto, a progênie da cultivar Bluegem, com quase três anos, obteve produção de frutos próxima à dos clones da mãe, que, aos oito anos, produziram entre 0,767 kg e 1,334 kg por planta. As plantas mais produtivas da progênie de Bluegem produziram 1,341 kg e 1,274 kg. Neste ano, as progênies das cultivares Powderblue e Bluebelle tiveram seus máximos (1,412 kg e 1,415 kg, respectivamente) próximos dos mínimos dos clones da mãe (1,604 kg e 1,462 kg, respectivamente). Figura 13. Distribuição da variável produção total de frutos (kg), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 64 A produção entre os clones das cultivares variou de 1,5 a 6,8 kg por planta, em 2009, e de 0,7 a 3,9 kg, em 2010. Entre as progênies, no entanto, a produção variou de 0,2 a 1,7 kg, em 2009, e de 0,2 a 1,5 kg, em 2010, evidenciando uma provável estabilização da produção. Yu et al. (2006) testaram à adaptação de dez cultivares, incluindo as do grupo rabbiteye, e obtiveram produção de 0,5 a 1,0 kg por planta no terceiro ano após o plantio, e de 2,0 a 3,0 kg no quarto ano, entrando em plena produção no quinto ano. Ao avaliar três safras consecutivas, Antunes et al. (2008) verificaram grandes diferenças entre as produções de sete cultivares de mirtileiro do grupo rabbiteye, com uma variação de 0,35 a 1,63 kg por planta. Esses autores supõem que essas diferenças de produção sejam consequência da polinização e de fatores intrínsecos à própria adaptação das plantas, como o requerimento de baixas temperaturas e as variações climáticas locais. As cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle apresentaram produção média de 1,25, 1,02 e 1,63 kg por planta, respectivamente. Na Figura 13 verifica-se em 2010/11 um decréscimo da produção dos clones e da progênie de Bluegem e dos clones de Powderblue, e um baixo incremento nas demais progênies. Esses resultados podem estar relacionados à ocorrência de Botrytis, pois se verificou a campo que a incidência foi maior nas plantas das populações Bluegem e Powderblue. Provavelmente, essa maior incidência se deva ao maior adensamento de plantas dentro das populações (208 da cultivar Bluegem, 172 da Bluebelle e 79 da Powderblue). Outro fator relevante é a localização dos clones de Powderblue e Bluegem no matrizeiro, que ficam na parte mais baixa e mais próxima da área de plantio das progênies (Figura 1). Esses fatores podem ter sido determinantes nos rendimentos de produção. Contudo, diante desses resultados, observa-se que as progênies selecionadas no presente trabalho são promissoras, podendo alcançar produções satisfatórias quando atingirem a idade de plena produção, do sétimo ao oitavo ano. Quanto às variáveis de produção de frutos grandes, médios e pequenos, os clones apresentaram comportamento similar durante os dois anos. Os clones Bluegem e Powderblue apresentaram maior produção total, maior produção de frutos médios e grandes, e maior produção de frutos pequenos, em 2009/10, decrescendo em 2010/11. Efeito inverso foi observado para os clones de Bluebelle, nos dois anos. 65 Para as progênies quando comparado os dois ciclos, observou-se que, em 2010/11, diminuiu a produção de frutos médios e grandes (Figura 14) e aumentou a produção de frutos pequenos (Figura 15). Yu et al. (2006) observaram comportamento semelhante em plantas do grupo higbush, as quais, com o passar dos anos, apresentaram redução no peso médio dos frutos. Considerando a idade das progênies e a variação do tamanho dos frutos de um ano para o outro entre os clones no presente trabalho, é possível que o comportamento diferenciado das plantas deva-se também a fatores genéticos e, principalmente, de ambiente, uma vez que durante este ciclo, o acúmulo de horas de frio foi de 330, bem abaixo dos seis últimos anos, que variaram de 474 a 780 horas. De acordo com Serrado et al. (2008), a produção e o período de colheita do mirtileiro aumentam regularmente com o passar dos anos, atingindo a estabilidade do sétimo ao oitavo ano após o plantio. Na maioria dos genótipos observou-se que os frutos apresentam maior tamanho nas primeiras colheitas, decrescendo ao final desse período. Em um número restrito de genótipos, com produção de frutos mais uniformes, o tamanho permaneceu praticamente o mesmo até o término da colheita. Figura 14. Distribuição da variável produção de frutos médios e grandes (kg), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 66 Figura 15. Distribuição da variável produção de frutos pequenos (kg), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Variáveis químicas dos frutos Os dados referentes às variáveis químicas dos frutos são apresentados nas Figuras 16, 17, 18 e 19. Para a variável pH da polpa, observa-se que as progênies das três cultivares apresentaram pouca variabilidade, com alguns valores discrepantes. A progênie da cultivar Bluebelle tende a ser menos ácida que os clones da mãe que apresentaram pH abaixo de 3. Nota-se para a cultivar Powderblue, a presença de frutos com valores de pH discrepantes, inferior (2,04) e superior (4,13). Moraes et al. (2007) e Souza et al. (2011), ao analisarem frutos de mirtileiro do grupo rabbitaye, observaram valores de pH entre 2,44 e 2,74 e 2,56 e 2,67, respectivamente. Os valores discrepantes encontrados no presente trabalho podem ser resultantes de características inerentes à progênie, uma vez que todas as colheitas foram realizadas a cada sete dias em estádio de maturação completa. Quanto à frequência de colheita, Mainland e Cline (2002) afirmam que os frutos do grupo highbush têm melhor qualidade quando colhidos a cada cinco ou sete dias, dependendo da temperatura, e que o sabor dos frutos do grupo rabbiteye melhora quando colhidos aproximadamente a cada dez dias, alcançando o máximo de sabor. 67 Figura 16. Distribuição da variável pH do fruto, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Na Figura 17 são apresentados os resultados referentes à variável sólidos solúveis. Assim como registrado para o pH da polpa, em ambos os ciclos de produção, verificou-se pouca variação (de 12,4 a 13,9 ºBrix) para os clones das três cultivares mães. As progênies, por sua vez, apresentaram aumento uniforme no teor de sólidos solúveis de um ano para o outro. Os teores medianos observados em 2009/10 e 2010/11 foram, respectivamente, 12,3 e 14,5 ºBrix, para Bluegem, 12,4 e 14,2 ºBrix, para Powderblue e 12,6 e 14,1 ºBrix, para Bluebelle. Brackmann et al. (2010), analisando características químicas da cultivar Bluegem, observaram teor médio de sólidos solúveis de 11,7 ºBrix. Outros autores, entretanto, encontraram valores superiores. Hummer et al. (2007), ao analisarem seis cultivares do grupo southern highbush, obtiveram média 12,6 ºBrix e Antunes et al. (2008) observaram teor médio de 13,2 ºBrix para um grupo de oito cultivares (incluindo Bluegem, Powderblue e Bluebelle), avaliadas por três anos seguidos. No presente trabalho, os teores de sólidos solúveis observados, em 2010, nas progênies Bluegem e Powderblue e em parte da progênie Bluebelle foram iguais ou superiores a 13 ºBrix, comprovando a superioridade dessas progênies. 68 Figura 17. Distribuição da variável sólidos solúveis do fruto (ºBrix), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Figura 18. Distribuição da variável acidez titulável do fruto (% de ácido cítrico), por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. 69 Kluge et al. (2002) ressaltam que o teor de sólidos solúveis é muito importante na determinação da qualidade dos frutos. De acordo com Coutinho e Cantillano (2007), quando maduros, os frutos do mirtileiro devem apresentar teores de sólidos solúveis entre 13 e 14 ºBrix. E acrescentam ainda que o grau ótimo de maturação do fruto no momento da colheita é muito importante por influenciar diretamente no sabor e favorecer o tempo de armazenamento. Além disso, segundo Argenta et al. (2004) a diferença de resultados observada na concentração de sólidos solúveis entre os trabalhos mencionados acima pode ser explicada ainda pela variação que as frutíferas apresentam entre cultivares, ano e região de produção e manejo e idade das plantas. Para a acidez titulável (Figura 18), verifica-se, de modo geral, um aumento pouco expressivo de 2009/10 para 2010/11. As medianas observadas, respectivamente, em 2009/10 e 2010/11, foram: Bluegem: 0,58 e 0,67, para clones, e 0,65 e 0,63, para progênie; Powderblue: 0,57 e 0,68, para clones, e 0,68 e 0,70, para progênie; Bluebelle: 0,72 e 0,83, para clones, e 0,78 e 0,83 para progênie. Também se observa que a variabilidade da acidez nas progênies não se altera muito de um ano para outro, mas há presença de valores discrepantes. Na progênie de Bluegem ocorre um valor discrepante inferior (0,37, em 2009/10), enquanto nas progênies de Powderblue (1,13, em 2010/11) e Bluebelle (1,02, em 2009/10, e 1,47, em 2010/11) ocorrem discrepantes superiores. Com exceção desse último valor considerado discrepante, os demais valores encontrados neste trabalho estão abaixo do limite superior do intervalo verificado por Rodrigues et al. (2007), onde a acidez titulável variou de 0,76 a 1,28 em seis cultivares do grupo rabbiteye, incluindo as cultivares de Bluegem, Powderblue e Bluebelle, que apresentaram valores de 1,28, 0,95 e 0,92, respectivamente. A diferença de valores encontrada entre os dois trabalhos, provavelmente, deve-se ao ponto de colheita dos frutos, pois, de acordo Fachinello et al. (1996), os teores de sólidos solúveis tendem a aumentar com a maturação. O comportamento da variável relação entre sólidos solúveis e acidez titulável (SS/AT), conforme pode ser observado na Figura 19, variou entre cultivares. De 2009/10 para 2010/11, os clones das três cultivares reduziram os seus valores, enquanto as progênies apresentaram efeito inverso com medianas de 18,8 e 23,6 (Bluegem), 18,2 e 20,0 (Powderblue) e de 16,5 e 17,7 (Bluebelle). Os valores 70 verificados neste trabalho são superiores aos encontrados por Rodrigues et al. (2007) para as cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle que foram de 9,53, 14,74 e de 13,69, respectivamente. Figura 19. Distribuição da variável SS/AT do fruto, por cultivar, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. A ocorrência de valores elevados da relação SS/AT dos frutos nas progênies, em 2010/11, pode ser decorrente do aumento no conteúdo de sólidos solúveis dos frutos naquele ano. A progênie de Bluegem, quando comparada às demais, destacou-se por apresentar maior teor de SS em 2010/11. Para Bleinroth (1977), a relação SS/AT é diretamente proporcional aos sólidos solúveis e inversamente proporcional a acidez titulável. E, de acordo com Valero e Altisent (1998), a relação SS/AT é uma das formas mais utilizadas para a avaliação do sabor, sendo mais representativa que a medição isolada de açúcares ou da acidez. O terceiro ciclo de seleção (2010/11), que também foi baseado nos resultados da avaliação dessas variáveis durante os dois anos, resultou em um conjunto de 30 plantas, sendo dez de cada população. Nas Tabelas 4, 5, 6 e 7, essas 30 plantas selecionadas são caracterizadas quanto às variáveis de produção, morfológicas, fenológicas e químicas dos frutos, respectivamente. 71 Verifica-se na Tabela 4, que genótipos da cultivar Bluegem foram os que apresentaram as maiores produções e as mais consistentes nos dois anos. As produções médias dos cinco genótipos mais produtivos de cada grupo foram: 1,17 kg para Bluegem, 0,85 kg para Powderblue e 0,75 kg para Bluebelle. No primeiro ciclo de produção (2009/10), os genótipos BG5, BG2, BG6, BG3, PW3, PW5, PW1, BB10, BB2, BB5 e BB6 destacaram-se por apresentar alta produção de frutos grandes e médios. Esses genótipos apresentaram também bom desenvolvimento em altura e diâmetro das hastes principais; com exceção do genótipo BG6, que apresentou apenas três hastes principais, os demais produziram um número superior de brotações permitindo a condução das plantas com 5 a 7 hastes (Tabela 5). As variáveis fenológicas são apresentadas na Tabela 6. Quanto à floração, considerando-se os dois ciclos nos três grupos é possível encontrar genótipos precoces, BG3 PW10 e BB2, que floresceram 15, 29 e 35 dias antes da data de referência, respectivamente, e genótipos tardios, BG6, PW6 e BB9, que floresceram 28, 14 e 21 dias após a data de referência, respectivamente. Para a maturação dos frutos, os mais precoces foram BG3, PW3 e BB3, (7, 13 e 14 dias antes da data de referência, respectivamente) e os mais tardios foram BG6, PW4 e BB5 (14,7 e 10 dias depois da data de referência, respectivamente). Na Tabela 7 observa-se que a maioria dos genótipos da cultivar Bluegem apresentam valores desejáveis para a relação SS/AT. As médias dos genótipos por grupo foram: 22,5 para Bluegem, 20,17 para Powderblue e 16,75 para Bluebelle. Destacam-se com as maiores médias, considerando os dois ciclos, os genótipos BG3 (30,3), PW9 (24,9), PW1 (24,8), BG9 (24,6), PW5 (24,5), BG2 (24,2). Esses resultados evidenciam que entre as plantas selecionadas há genótipos promissores (Figura 20), com um bom desenvolvimento vegetativo e frutos de qualidade, podendo alcançar produções satisfatórias quando atingirem a idade de plena produção. 72 Tabela 4. Caracterização quanto às variáveis de produção de clones e genótipos selecionados das cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Bluegem PF (kg) PFGM (kg) Ano Mãe 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 Clone 1 Clone 2 Clone 3 2,950 0,767 2,884 0,966 2,275 1,334 1,870 0,390 1,987 0,575 1,670 0,594 1,080 0,378 0,897 0,391 0,605 0,739 1,748 1,341 1,542 1,274 1,303 1,075 1,033 0,682 1,012 0,772 0,859 0,881 0,859 0,688 0,808 0,732 0,653 0,748 0,541 0,620 1,335 0,521 1,119 0,082 0,928 0,436 0,690 0,117 0,412 0,240 0,541 0,228 0,351 0,033 0,376 0,146 0,561 0,332 0,394 0,231 0,412 0,820 0,423 1,192 0,375 0,638 0,343 0,564 0,600 0,532 0,318 0,653 0,507 0,654 0,432 0,586 0,092 0,416 0,148 0,389 BG5 BG2 BG6 BG3 BG10 BG7 BG9 BG4 BG1 BG8 Clone 1 Clone 2 Clone 3 PW5 PW1 PW8 PW4 PW9 PW10 PW7 PW6 PW2 PFP (kg) Mãe 4,854 3,867 6,797 2,404 2,255 1,604 3,476 3,531 4,893 2,089 1,874 1,465 1,378 0,336 1,904 0,315 0,381 0,139 1,218 0,371 1,179 1,311 0,395 1,065 0,786 0,717 0,753 0,699 0,611 0,947 0,571 0,689 0,569 0,735 0,403 0,352 0,316 0,828 0,798 0,104 0,883 0,476 0,289 0,464 0,670 0,190 0,346 0,024 0,371 0,398 0,406 0,257 0,160 0,031 0,339 0,199 0,207 0,186 0,420 0,267 0,296 0,835 0,106 0,601 0,116 0,527 0,407 0,675 0,241 0,549 0,165 0,432 0,409 0,704 0,064 0,153 0,109 0,643 Progênie PW3 Bluebelle PF (kg) PFGM (kg) PFP (kg) Mãe Progênie 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 Powderblue PF (kg) PFGM (kg) PFP (kg) Clone 1 Clone 2 Clone 3 2,336 3,095 1,970 1,462 2,668 2,949 1,409 1,928 1,002 0,866 1,413 1,518 0,927 1,167 0,969 0,597 1,256 1,431 0,614 1,415 0,350 1,182 0,704 0,824 0,520 0,627 0,965 0,359 0,480 0,443 0,381 0,595 0,275 0,597 0,160 0,800 0,156 0,628 0,489 0,660 0,258 0,616 0,459 0,160 0,331 0,197 0,737 0,139 0,349 0,235 0,315 0,376 0,235 0,480 0,137 0,324 0,087 0,086 0,125 0,755 0,093 0,566 0,245 0,664 0,188 0,430 0,228 0,220 0,131 0,208 0,066 0,218 0,040 0,117 0,023 0,476 0,069 0,542 Progênie BB10 BB5 BB2 BB4 BB6 BB1 BB7 BB3 BB8 BB9 Nota: PF = produção de frutos por planta, PFGM = produção de frutos grandes e médios e PFP = produção de frutos pequenos. 73 Tabela 5. Caracterização quanto às variáveis morfológicas de clones e genótipos selecionados das cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Ano AH Mãe Bluegem DH MFPV NHP Powderblue AH DH MFPV NBA NHP NBA Mãe 2009/10 223 37,55 3,09 4 5 215 29,55 2,30 Clone 1 Clone 1 2010/11 227 39,63 0,34 4 1 205 32,26 0,71 2009/10 220 35,40 4,34 4 7 226 20,30 2,84 Clone 2 Clone 2 2010/11 238 38,17 2,95 6 5 230 23,05 0,91 2009/10 265 26,06 3,87 6 3 203 18,90 0,82 Clone 3 Clone 3 2010/11 315 31,70 1,37 6 4 198 22,56 0,34 Progênie Progênie 2009/10 132 20,52 0,69 3 5 145 19,11 1,38 BG1 PW1 2010/11 145 25,04 0,33 3 4 152 22,14 0,53 2009/10 147 24,51 0,79 6 9 155 16,20 1,15 BG2 PW2 2010/11 152 29,75 0,54 5 9 162 23,36 0,59 2009/10 137 17,13 1,41 7 7 183 22,15 2,06 BG3 PW3 2010/11 160 23,24 0,58 6 4 200 26,78 0,71 2009/10 150 12,78 1,69 7 31 163 18,61 1,04 BG4 PW5 2010/11 154 17,93 0,92 6 35 190 24,04 0,75 2009/10 185 24,58 2,07 5 5 186 15,87 0,52 BG5 PW4 2010/11 186 29,97 0,57 5 13 198 17,83 0,38 2009/10 170 22,89 0,80 3 1 98 14,74 0,50 BG6 PW6 2010/11 181 27,79 0,43 3 4 110 18,94 0,37 2009/10 190 15,12 1,45 6 4 132 12,91 0,98 BG8 PW7 2010/11 198 21,22 0,42 5 4 138 18,95 0,53 2009/10 160 15,55 0,53 5 5 130 11,74 0,91 BG9 PW8 2010/11 165 19,91 0,13 5 4 140 19,92 0,52 2009/10 163 18,40 1,06 7 1 159 20,15 0,71 BG10 PW9 2010/11 150 22,56 0,30 6 5 155 20,85 0,44 2009/10 150 25,18 0,83 4 3 153 17,64 1,09 BG7 PW10 2010/11 158 29,85 0,46 4 2 156 21,51 0,53 Nota: AHP = altura da maior haste principal (cm), DHP = diâmetro da maior haste principal (mm), hastes principais da planta, NBA = número de brotações basais emitidas no ano. AH Bluebelle DH MFPV 257 267 257 257 250 258 24,08 28,33 22,73 28,33 32,20 28,33 154 168 154 155 142 145 146 148 160 165 146 155 137 141 164 171 154 163 166 160 poda 16,90 1,93 21,27 0,70 16,90 0,66 20,80 0,34 23,68 0,54 25,50 0,28 19,05 0,94 25,27 0,49 20,25 0,84 24,46 0,53 14,92 0,84 21,75 0,39 17,13 0,77 22,90 0,46 16,77 1,03 24,50 0,34 15,06 1,17 21,40 0,66 17,53 1,09 22,09 0,39 verde (kg), NHP = NHP NBA 7 6 6 4 6 6 30 31 45 64 24 36 Mãe 4 5 6 6 3 4 7 6 3 5 3 5 Clone 1 Clone 2 Clone 3 4,90 7,84 7,97 6,35 13,28 9,65 Progênie 6 6 7 2 6 6 6 7 5 5 3 4 5 5 6 6 5 5 7 5 MFPV 4 BB1 1 0 BB2 5 7 BB3 5 8 BB4 11 5 BB8 5 9 BB7 8 3 BB9 1 22 BB10 24 1 BB5 3 8 BB6 6 = massa fresca da 6 8 6 7 5 2 5 0 3 2 3 4 4 2 3 3 4 0 4 3 6 5 6 4 6 3 5 7 6 15 6 9 6 5 6 7 7 0 6 6 número de 74 Tabela 6. Caracterização quanto às variáveis fenológicas de clones e genótipos selecionados das cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Bluegem PF PPF CF Ano PB PM CM Mãe 2009/10 Clone 1 2010/11 2009/10 Clone 2 2010/11 2009/10 Clone 3 2010/11 Progênie 2009/10 BG1 2010/11 2009/10 BG2 2010/11 2009/10 BG3 2010/11 2009/10 BG4 2010/11 2009/10 BG6 2010/11 2009/10 BG5 2010/11 2009/10 BG7 2010/11 2009/10 BG9 2010/11 2009/10 BG10 2010/11 2009/10 BG8 2010/11 Powderblue PF PPF CF PB PM CM Mãe -14 0 -7 0 0 0 21 15 14 28 7 21 42 56 19 56 35 42 -7 0 0 7 0 0 0 0 0 0 0 0 34 27 34 27 34 27 7 21 7 7 -7 -15 7 21 7 28 7 21 7 21 7 -8 7 21 -14 7 14 21 7 28 14 30 14 21 7 7 7 21 14 21 7 29 7 14 28 14 28 42 35 49 28 50 28 42 21 28 28 42 35 42 21 64 21 35 56 49 0 14 0 7 0 0 0 7 0 0 0 7 7 14 0 0 0 0 0 7 14 6 0 0 0 -7 0 0 14 13 14 6 7 0 7 -7 7 0 0 -7 14 28 42 48 17 20 42 41 42 42 28 28 35 48 35 41 27 41 34 41 Clone 1 Clone 2 Clone 3 PW2 PW3 PW5 PW4 PW6 PW7 PW8 PW9 PW10 PB PM CM Mãe -7 0 0 0 0 0 14 21 7 21 7 21 28 35 21 42 21 35 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 49 49 25 49 42 49 -14 -14 -7 -14 -14 -14 0 7 0 0 0 14 0 -21 7 7 -7 -6 -7 -29 21 28 7 14 28 35 7 14 7 21 7 7 7 21 14 7 21 20 14 43 42 63 21 42 49 77 21 28 28 49 21 28 14 49 28 28 35 41 28 64 0 7 0 7 7 7 0 7 0 -7 0 0 0 -7 7 -7 7 7 0 -14 0 -6 -7 -6 -7 -13 -7 -6 0 7 -7 -6 -7 -13 0 -6 -7 -6 0 0 27 41 25 41 34 48 28 34 35 28 34 20 34 34 27 27 42 48 21 21 Progênie PW1 Bluebelle PF PPF CF Clone 1 Clone 2 Clone 3 0 14 0 8 0 0 21 14 21 20 21 28 42 49 42 64 42 70 0 0 0 0 0 0 0 -1 0 -1 0 -7 42 35 42 35 42 41 14 21 14 0 -35 -22 -35 -29 14 21 7 -22 14 8 14 8 -7 -15 7 0 14 14 7 35 49 36 54 37 7 7 32 50 14 27 14 27 21 36 14 28 28 42 28 56 63 64 70 71 21 28 28 71 35 48 28 48 35 50 21 49 0 -7 0 14 0 -21 0 -14 0 -14 0 0 7 14 0 -7 0 -7 0 -14 0 -1 -7 -7 0 -7 -7 -7 -7 -14 7 6 10 -1 0 -7 0 -7 -14 -7 18 35 42 48 14 27 34 27 25 25 28 28 25 49 35 27 35 41 21 34 Progênie BB9 BB10 BB1 BB2 BB3 BB4 BB5 BB6 BB7 BB8 Nota: PF = precocidade de floração em relação a cultivar mãe; PPF = período até a plena floração; CF = período de floração; PB = precocidade de brotação em relação a cultivar mãe, PM = precocidade da maturação em relação a cultivar mãe; e CM = período de maturação. 75 Tabela 7. Caracterização quanto às variáveis químicas do fruto de clones e genótipos selecionados das cultivares Bluegem, Powderblue e Bluebelle, nos anos de 2009/10 e 2010/11. FAEM/UFPel, Pelotas - RS, 2012. Ano pH Bluegem SS (ºBrix) AT (%) SS/AT Mãe 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 Clone 1 Clone 2 Clone 3 BG1 BG2 BG3 BG4 BG7 BG5 BG6 BG9 BG10 BG8 Powderblue SS (ºBrix) AT (%) SS/AT Mãe 3,26 3,06 3,25 3,10 3,21 3,14 13,65 13,66 13,60 13,08 13,48 13,16 0,57 0,65 0,56 0,57 0,58 0,58 24,04 21,02 24,24 22,97 23,32 22,84 Progênie 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 2009/10 2010/11 pH Clone 1 Clone 2 Clone 3 10,80 13,80 13,03 15,06 10,82 15,30 12,89 14,05 11,97 14,03 12,12 15,08 12,06 13,47 12,47 14,42 11,70 14,07 13,67 14,97 0,50 0,54 0,59 0,58 0,37 0,48 0,59 0,55 0,62 0,64 0,65 0,62 0,70 0,78 0,49 0,61 0,64 0,75 0,77 0,64 21,78 25,43 22,21 26,19 28,94 31,72 21,77 25,31 19,41 21,88 18,65 24,46 17,30 17,18 25,49 23,75 18,23 18,69 17,66 23,32 PW1 PW2 PW3 PW4 PW5 PW7 PW6 PW8 PW9 PW10 Bluebelle SS (º Brix) AT (%) SS/AT 3,14 2,90 3,06 2,86 3,01 2,88 12,72 13,01 12,75 12,60 13,12 13,01 0,66 0,80 0,72 0,83 0,76 0,85 19,21 16,20 17,62 15,11 17,17 15,34 3,12 2,96 3,16 2,95 3,26 2,89 3,05 2,95 3,28 3,10 3,31 3,08 3,13 3,02 3,22 3,08 3,05 2,92 3,31 3,00 13,63 15,28 12,32 15,38 11,68 12,61 13,22 15,54 12,22 14,10 12,47 13,52 12,83 14,68 13,23 13,46 12,10 14,33 11,90 13,72 0,81 0,88 0,85 0,90 0,92 1,06 0,81 0,88 0,65 0,68 0,68 0,75 0,91 0,75 0,77 0,74 0,81 0,84 0,78 0,75 16,86 17,41 14,57 17,00 12,69 11,86 16,37 17,67 18,86 20,84 18,46 17,98 14,11 19,66 17,14 18,19 15,02 16,98 15,18 18,32 Mãe 3,22 3,07 3,19 3,07 3,13 3,06 12,80 13,48 12,54 13,84 12,35 13,85 0,58 0,64 0,58 0,68 0,62 0,67 22,21 21,14 21,57 20,36 19,86 20,61 Progênie 3,36 3,17 3,27 3,18 3,20 3,22 3,27 3,19 3,17 3,07 3,21 3,13 3,11 3,06 3,30 3,21 3,17 2,98 3,23 2,45 pH Clone 1 Clone 2 Clone 3 Progênie 3,20 3,13 3,15 2,95 3,21 3,12 3,12 3,10 2,04 3,18 3,29 4,13 3,56 3,26 3,10 3,06 2,84 3,08 3,25 3,12 14,24 14,23 12,35 12,97 12,28 15,34 12,82 14,66 9,59 14,63 13,45 14,09 12,23 13,03 12,14 13,66 12,60 15,36 12,28 14,30 0,60 0,55 0,90 1,13 0,67 0,65 0,71 0,79 0,40 0,58 0,78 0,69 0,54 0,62 0,73 0,84 0,47 0,67 0,69 0,76 23,67 25,83 13,65 11,52 18,30 23,77 18,15 18,67 23,80 25,10 17,22 20,35 22,75 21,03 16,72 16,26 26,82 23,07 17,87 18,93 Nota: SS = sólidos solúveis; AT = acidez titulável; e SS/AT = relação entre sólidos solúveis e acidez titulável. BB1 BB2 BB3 BB4 BB6 BB7 BB9 BB10 BB5 BB8 76 a b ) ) Figura 20. Aspectos morfológicos dos frutos de genótipos oriundos das cultivares Bluegem (a) e Powderblue (b). FAEM/ UFPel, Pelotas-RS, 2013. CONCLUSÕES Com base nos resultados obtidos, pode-se concluir que genótipos oriundos das três cultivares têm potencial para dar continuidade ao processo de seleção, destacando-se como mais promissores os genótipos BG5, BG2, BG3, BG6, PW3, PW5, PW1, BB10, BB5 e BB2 por apresentarem bom desenvolvimento vegetativo, alta produtividade, frutos de boa qualidade e de tamanho adequado ao mercado consumidor. REFERÊNCIAS AGROMETEOROLOGIA ‑ FAEM/UFPEL: normais climatológicas mensais do período 1971/2000. Disponível em: <http://www.ufpel.edu.br/faem/agrometeorologia/normais.htm>. Acesso em: dez. 2011. ANTUNES, L.E.C.; GONÇALVES, E.D.; TREVISAN, R. Instalação e manejo do pomar. In: RASEIRA, M. do C.B; ANTUNES, L.E.C. A cultura do mirtilo. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. p.35-40. (Documento, 121). 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Com o presente trabalho teve-se como objetivo avaliar o potencial de enraizamento de miniestacas semilenhosas de 30 genótipos de mirtileiro obtidos em populações de polinização aberta a partir das cultivares: Bluegem, Bluebelle e Powderblue. O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições, sendo a unidade experimental constituída de oito miniestacas. Os tratamentos consistiram de 10 genótipos selecionados de cada população (BG1, BG2, BG3, BG4, BG5, BG6, BG7, BG8, BG9, BG10, BB1, BB2, BB3, BB4, BB5, BB6, BB7, BB8, BB9, BB10, PW1, PW2, PW3, PW4, PW5, PW6, PW7, PW8, PW9 e PW10) e, como testemunhas, as três cultivares mães, totalizando 33 genótipos. Foram utilizadas miniestacas com aproximadamente 4 cm de comprimento e 3 mm de diâmetro, contendo três gemas e uma folha inteira na extremidade superior. As miniestacas foram imersas em solução com AIB (2.000 mg L-1), por 10 segundos, e colocadas para enraizar em bandejas plásticas contendo Vermiculita® de granulometria fina como substrato. Após o plantio, as estacas foram mantidas em ambiente protegido, sob sistema automático de irrigação intermitente por micro aspersão. Após 90 dias, avaliaram-se a porcentagem de estacas sobreviventes, enraizadas, com folhas persistentes, com formação de calo, número de raízes por estaca e comprimento da maior raiz por estaca. Os resultados evidenciaram variações importantes entre os genótipos para todas as variáveis analisadas. Concluiu-se, portanto, que os genótipos mais promissores para propagação por miniestaquia são PW3, PW6, BG4, BG8, BB4, 1 Engª. Agr., Doutoranda do PPGA, Fruticultura de Clima Temperado, FAEM, UFPel, Caixa Postal 623, CEP 96001-970 Pelotas, RS. [email protected] 2 Eng. Agr., Doutor, Departamento de Fitotecnia, FAEM, UFPel. Caixa Postal 354, CEP 96010-900, Pelotas, RS. [email protected] 3 Eng. Agr., Doutor, Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, UFPel, Pelotas, RS. [email protected] 4 Bióloga, Doutora, Centro de Desenvolvimento Tecnológico, UFPel, Pelotas, RS. [email protected] 83 BG5, PW1, BB5, BG6, PW10, PW8, BG1 e BB9, por apresentarem mais de 40,6% de estacas enraizadas. Termos para indexação: Vaccinium ashei, propagação, estaca, mudas. ROOTING POTENTIAL OF BLUEBERRY GENOTYPES SELECTED FROM OPEN POLLINATION POPULATIONS ABSTRACT - The cutting is one of the most used methods for blueberry propagation due its satisfactory results and low cost. The aim of this study was to evaluate the rooting potential of 30 blueberry genotypes by softwood cuttings, obtained from open pollinated populations of the cultivars Bluegem, Bluebelle and Powderblue. The experimental design was a randomized complete block with four replications and the experimental unit consisted of a set of eight minicuttings. The treatments consisted of 10 genotypes selected from each population (BG1, BG2, BG3, BG4, Bg5, BG6, BG7, BG8, BG9, BG10, BB1, BB2, BB3, BB4, BB5, BB6, BB7, BB8, BB9, BB10, PW1, PW2, PW3, PW4, PW5, PW6, PW7, PW8, PW9 and PW10) and, as control, the three mother cultivars, totaling 33 genotypes. It was used minicuttings measuring approximately 4 cm in length and 3 mm in diameter with three buds and a full leaf at the upper end. The minicuttings were dipped in an AIB solution (2.000 mg L-1) for 10 seconds and placed for rooting in plastic trays containing fine grained Vermiculite® as substrate. Subsequently, the cuttings were kept in a greenhouse under automatic intermittent irrigation using micro sprinklers. After 90 days, it was evaluated the percentage of surviving cuttings, rooted cuttings, cuttings with persistent leaves, cuttings with callus formation, number of roots per cutting and length of roots per cutting. The results demonstrated significant variations among genotypes for all analyzed parameters. It was therefore concluded that the most promising genotypes for propagation by minicuttings are PW3, PW6, BG4, BG8, BB4, BG5, PW1, BB5, BG6, PW10, PW8, BG1 e BB9, because they show more than 40,6 % of rooted cuttings. Index terms: Vaccinium ashei, propagation, cutting, seedling. 84 INTRODUÇÃO A propagação do mirtileiro pode ser realizada por estacas lenhosas durante o período de dormência antes de iniciar a brotação, por estacas semilenhosas e herbáceas retiradas durante a fase vegetativa, por micropropagação, e ainda por sementes para a obtenção de novas cultivares (MAILAND, 2006). Dos métodos disponíveis para se propagar mirtileiro, a estaquia é a mais utilizada comercialmente (ANTUNES et al., 2007). Na produção comercial de mudas de plantas frutíferas, a propagação assexuada ou vegetativa pode ser mais interessante por ser mais rápida, por reduzir o período juvenil e proporcionar a obtenção de plantas idênticas à planta matriz (HOFFMANN et al., 2005), além disso, é utilizada para fixar características desejáveis em genótipos obtidos pelo melhoramento conduzido ou selecionados em populações naturais (HOFFMANN, 1996). A estaquia é um método de propagação vegetativa que apresenta inúmeras vantagens, entre elas, a possibilidade de obtenção de muitas plantas a partir de uma única planta matriz e a maior viabilidade econômica para o estabelecimento de plantios clonais, o que permite a rápida multiplicação de genótipos selecionados a um custo reduzido (ARAÚJO; BRUCKNER, 2008). O mirtileiro, quando propagado por estacas, lenhosas e/ou herbáceas, dependendo da cultivar, possibilita obter enraizamento na ordem de 60% a 80%. Na Europa, são utilizados os dois tipos de estacas, enquanto nos Estados Unidos prefere-se utilizar estacas lenhosas para o grupo highbush e herbáceas para rabbiteye (BOUNOUS, 2003). As estacas herbáceas podem ser retiradas durante todo o ciclo vegetativo, embora maior porcentagem de enraizamento seja obtida quando são preparadas na primavera. Os genótipos avaliados no presente estudo foram obtidos por seleção a partir de três populações de livre polinização, com o objetivo maior de identificar novas cultivares com características superiores. Portanto, o conhecimento da capacidade de enraizamento é fundamental para a continuidade do processo de seleção destes genótipos. Sendo assim, pelo fato do mirtileiro ser uma espécie alógama, a propagação vegetativa é essencial para a manutenção das características agronômicas das plantas selecionadas no processo de melhoramento da espécie. 85 Dentro desse contexto, objetivou-se com este trabalho avaliar o potencial de enraizamento de 30 genótipos selecionados em populações de mirtileiro de polinização aberta e das respectivas plantas matrizes. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em estufa agrícola, no município de Pelotas, RS, a 31º 33' 04,77" S, 52º 23' 50,46" O e 110 m de altitude, no período de dezembro de 2011 (com a coleta do material vegetal) a março de 2012 (avaliação do experimento), utilizando-se miniestacas semilenhosas, obtidas de ramificações laterais, de genótipos resultantes de polinização aberta entre plantas de oito cultivares de mirtileiro (Bluegem, Bluebelle, Powderblue, Climax, Briteblue, Woodard e Delite e Aliceblue). O delineamento experimental foi em blocos casualizados, com quatro repetições, cada uma representou uma unidade experimental composta de oito estacas. Os tratamentos consistiram de 33 genótipos de mirtileiro, sendo 30 genótipos selecionados das populações Bluegem, Bluebelle e Powderblue (identificados como BG1, BG2, BG3, BG4, BG5, BG6, BG7, BG8, BG9 e BG10, BB1, BB2, BB3, BB4, BB5, BB6, BB7, BB8, BB9 e BB10, PW1, PW2, PW3, PW4, PW5, PW6, PW7, PW8, PW9 e PW10) e as três cultivares mães (Bluegem, Bluebelle e Powderblue), utilizadas como testemunhas. Os ramos foram coletados no período da manhã, e colocados em baldes com água. Em seguida, foram segmentados em miniestacas com três gemas, com medidas aproximadas de 4 cm de comprimento e 3 mm de diâmetro descartando-se a parte apical dos ramos. Após a segmentação, foram removidas as folhas da base das miniestacas, deixando-se, na extremidade superior, uma folha inteira. Com o auxílio de um canivete foram feitas duas lesões superficiais na base das estacas. Posteriormente, as bases foram imersas por 10 segundos em uma solução com Ácido Indolbutírico (AIB), na concentração de 2.000 mg L-1. A seguir, foram colocadas para enraizar em bandejas plásticas, contendo Vermiculita® de granulometria fina como substrato. O AIB foi dissolvido em álcool etílico, na proporção de 0,4 (v:v), e o restante do volume completado com água destilada. Após o plantio, as estacas foram regadas com uma solução do fungicida Captan 500 PM (3 g L-1 de água), sendo este mesmo tratamento fitossanitário repetido 86 quinzenalmente na forma de pulverização. O material propagativo foi mantido em ambiente protegido (estufa agrícola) sob sistema de irrigação intermitente por microaspersão, de forma a manter a umidade relativa próxima a 90%, evitando assim o ressecamento das estacas. O pH de parte da água, utilizada para irrigação, foi corrigido com Quimifol P30 para aproximadamente 4,5, sendo as estacas regadas com esta solução três vezes por dia. Após 90 dias da instalação do experimento, avaliaram-se as variáveis: percentual de estacas sobreviventes, enraizadas, com folhas persistentes e com formação calo, número de raízes e comprimento da maior raiz por estaca. Os dados foram submetidos à análise de correlação e de variância e quando houve efeito significativo de genótipo utilizou-se o teste de Tukey (α = 0,05) para a comparação das médias. As análises foram processadas com o uso do programa estatístico WinStat (MACHADO; CONCEIÇÃO, 2005). RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da variância revelou efeito altamente significativo do genótipo para todas as variáveis (p < 0,0001), exceto para a variável percentual de estacas sobreviventes. O coeficiente de variação variou de 35,9% (para percentual de estacas enraizadas) a 71,4% (para percentual de estacas com folha), evidenciando a elevada variabilidade dessas variáveis. Nas Tabelas 1 e 2 são apresentados os resultados obtidos com os 33 genótipos de mirtileiros, com destaque para o percentual de estacas enraizadas (Tabela 1), sendo possível observar uma grande variação entre os genótipos, que apresentaram médias de 3,1% a 84,4%. Pelo teste de Tukey foi possível inferir que o genótipo PW3 (com média 84,4%) foi superior aos genótipos BG7, PW9, BB1, PW5, BB2, BB8, BG2, BB7, BG9 e PW2 (que variaram de 3,1% a 15,6%), mas não diferiu dos demais (com variação de 25,0% a 71,9%). Esses dados corroboram a afirmação de Hoffmann (2005) de que a propagação do mirtileiro por estacas proporciona resultados bastante variáveis conforme a cultivar. Diversos autores, ao conduzirem estudos sobre propagação do mirtileiro, constataram que o enraizamento é um processo que pode variar de acordo com o ambiente, o tipo de substrato, a concentração de AIB, a época e o tipo de estaca, (DAMIANI; SCHUCH, 2009; NASCIMENTO et al., 2011; VIGNOLO et al., 2012). 87 Trevisan et al. (2008) ao testarem o enraizamento de seis cultivares de mirtileiro obtiveram valores variando de zero a 51,6% de enraizamento. Estes autores verificaram também que diversos fatores, isoladamente ou em conjunto, influenciam o enraizamento de estacas, e recomendam um estudo aprofundado dos mesmos, uma vez que a simples alteração de uma ou mais condições pode viabilizar a propagação vegetativa de espécies consideradas de difícil enraizamento, como o mirtileiro. Diante do exposto, parece razoável esperar que os genótipos que apresentaram baixa taxa de enraizamento no presente trabalho possam expressar melhor potencial de enraizamento sob outras condições de enraizamento. Os resultados referentes à variável número médio de raízes por estaca (Tabela 1) evidenciam que o genótipo BG5 (com média de 12,77) foi superior aos genótipos BB4, BB5, BG, BB3, BB, BB9, PW10, PW9, BB6, BG2, BB2, BB8, PW5, BB1, BB7, BG9, PW2 (com médias entre 0,75 e 5,44), mas não diferiu dos demais (que variaram de 5,56 a 12,27). Observa-se, portanto, grande variação entre os genótipos em relação à qualidade do sistema radicular. Esta capacidade para a formação de raízes pode estar associada a fatores genéticos e a responsividade dos tecidos a indução da rizogênese, com ou sem a aplicação de AIB exógeno. Destaca-se que a maioria dos genótipos selecionados na população de Bluegem apresentou número médio de raízes acima de 5,56 superando a média da cultivar mãe (5,13), o que representa ser uma característica altamente desejável sob o ponto de vista da propagação. Para a variável comprimento da maior raiz (Tabela 1), a maior média foi registrada no genótipo BG5 (4,81 cm), porém superou apenas as médias dos genótipos BG9 e PW2 (0,75 e 0,45 cm, respectivamente), não diferindo das demais, que variaram de 1,21 a 4,61 cm. Levando-se em consideração o tipo de estaca, estes valores estão de acordo com os encontrados por Nascimento et al. (2011), que ao trabalharem com o enraizamento de microestacas, utilizando o mesmo tipo de substrato, conseguiram valor máximo de 2,63 cm. Considerando-se a profundidade das células (4,5 cm) das bandejas, nota-se que as estacas que emitiram raízes com comprimento até metade desta profundidade apresentaram um sistema radicular bem desenvolvido, mostrando-se promissoras ao desenvolvimento posterior ao transplante. 88 Tabela 1. Estacas enraizadas, número de raízes por estaca e comprimento da maior raiz em 33 genótipos de mirtileiro. UFPel, 2012. Número de raízes por Comprimento da maior Estacas enraizadas (%) estaca raiz (cm) Genótipo1 PW3 PW6 PW BG4 BG8 BB4 BG5 PW1 BB5 BG6 PW10 PW8 BG1 BB9 BB3 BB PW7 BB6 BB10 BG10 PW4 BG3 BG BG7 PW9 BB1 PW5 BB2 BB8 BG2 BB7 BG9 PW2 CV (%) 1 Média2 84,4 71,9 68,8 59,4 59,4 59,4 53,1 53,1 53,1 50,0 50,0 43,8 40,6 40,6 37,5 37,5 34,4 34,4 34,4 31,3 28,1 25,0 25,0 15,6 15,6 15,6 12,5 12,5 12,5 9,4 9,4 3,1 3,1 63,65 a ab ab abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc bc bc bc bc bc bc bc bc c c Genótipo1 BG5 BG1 BG4 PW4 PW1 BG6 BG3 BG10 BB10 PW8 PW6 BG8 PW3 PW7 PW BG7 BB4 BB5 BG BB3 BB BB9 PW10 PW9 BB6 BG2 BB2 BB8 PW5 BB1 BB7 BG9 PW2 Média2 12,77 12,27 8,13 8,13 8,12 7,80 7,50 7,39 7,38 7,27 6,87 6,82 6,67 6,52 6,18 5,56 5,44 5,19 5,13 4,54 4,21 3,37 3,23 2,67 2,19 2,00 1,92 1,69 1,33 1,33 1,13 1,00 0,75 50,54 a ab abc abc abc abcd abcd abcd abcd abcd abcd abcd abcd abcd abcd abcd bcd bcd bcd cd cd cd cd cd cd cd cd cd cd cd cd cd d Genótipo1 BG5 PW10 PW3 BB10 PW7 PW BG1 BG4 BG PW8 BB BB5 PW4 BG6 BG8 PW6 PW9 PW1 BB3 BB4 BB6 BG10 BB9 BG3 BB1 BB2 BG7 BB8 BB7 PW5 BG2 BG9 PW2 Média2 4,81 4,61 4,42 4,28 4,22 4,19 4,17 4,14 4,13 4,09 3,88 3,74 3,64 3,59 3,59 3,53 3,24 3,16 3,13 2,98 2,95 2,63 2,54 2,46 2,30 2,23 1,88 1,71 1,24 1,23 1,21 0,75 0,45 47,31 a ab abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc abc bc c PW: cultivar Powderblue, BG: cultivar Bluegem e BB: cultivar Bluebelle. Médias ajustadas seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível α=0,05. 2 89 Tabela 2. Estacas sobreviventes, com calo e com folha em 33 genótipos de mirtileiro. UFPel, 2012. Estacas sobreviventes (%) 1 Genótipo Média 2 PW 96,9 a BB9 93,8 ab PW3 90,6 ab PW6 87,5 ab PW5 84,4 ab BG4 78,1 ab BB4 75,0 ab PW9 71,9 ab BB3 71,9 ab BB 68,8 ab BG2 62,5 ab BG6 62,5 ab BG7 62,5 ab BG8 62,5 ab BB6 62,5 ab BG1 59,4 ab PW10 59,4 ab BB8 59,4 ab PW8 56,3 ab BG5 53,1 ab PW1 53,1 ab BG10 50,0 ab PW2 50,0 ab BB1 43,8 ab BB5 43,8 ab BB7 43,8 ab PW7 40,6 ab BG9 34,4 ab PW4 31,3 ab BB2 31,3 ab BB10 31,3 ab BG3 28,1 ab BG 21,9 b CV (%) 45,59 1 2 Estacas com formação de calo (%) Genótipo1 Média 2 PW3 87,5 a BB5 81,3 ab BG2 71,9 abc BG4 71,9 abc PW9 71,9 abc BB1 68,8 abc BB4 68,8 abc BB9 68,8 abc PW1 65,6 abcd BG5 62,5 abcde BG6 59,4 abcde BB6 59,4 abcde PW5 56,3 abcde PW6 56,3 abcde BB 53,1 abcde BB3 50,0 abcde PW10 46,9 abcde BG1 40,6 abcde BG7 40,6 abcde PW2 37,5 abcde PW8 37,5 abcde PW 37,5 abcde BG8 34,4 abcde BB7 34,4 abcde BG 34,4 abcde BG3 31,3 bcde PW4 31,3 bcde BB8 31,3 bcde BB10 21,9 cde BG10 18,8 cde PW7 18,8 cde BG9 12,5 de BB2 9,4 e 42,39 Estacas com folhas (%) Genótipo1 BB9 PW3 PW BB3 PW6 BG4 PW1 BG1 BG8 PW9 BB4 BB6 BG5 BG6 BB BG10 PW8 BB8 BG2 BB5 PW10 BB7 BB10 BG7 PW5 PW7 BG BG3 BB1 PW2 PW4 BB2 BG9 Média 2 87,5 a 75,0 ab 71,9 ab 56,3 abc 53,1 abc 50,0 abc 50,0 abc 46,9 abc 43,8 abc 43,8 abc 43,8 abc 43,8 abc 40,6 abc 40,6 abc 37,5 abc 34,4 abc 31,3 abc 31,3 abc 28,1 abc 25,0 abc 21,9 abc 21,9 abc 21,9 abc 18,8 bc 18,8 bc 18,8 bc 15,6 bc 12,5 bc 12,5 bc 9,4 bc 9,4 bc 3,1 c 0,0 c 71,31 PW: cultivar Powderblue, BG: cultivar Bluegem e BB: cultivar Bluebelle. Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível α=0,05. 90 Quanto ao número de raízes, constata-se que na propagação comercial por estaquia, a presença de uma única raiz bem desenvolvida é suficiente para desenvolvimento satisfatório após o transplante. De acordo com Damiani e Schuch (2009), na cultura do mirtileiro o desenvolvimento de um sistema de enraizamento mais eficiente do material propagativo resulta em mudas com maior qualidade fisiológica e diminuição de perdas durante a fase de aclimatização. A ocorrência de raízes cujo comprimento atingiu a profundidade máxima do substrato nas bandejas sugere que as avaliações poderiam ter sido realizadas antes dos 90 dias (Figura 1). Krewer e Cline (2011) relatam que plantas do grupo rabbiteye têm sido propagadas, frequentemente, por estacas semilenhosas com elevados percentuais de enraizamento (70% a 80%) em um período de apenas seis a oito semanas (42 a 56 dias), tempo considerado curto quando comparado a estacas lenhosas que levam em média seis meses (180 dias) para enraizar. Figura 1. Estacas de mirtileiro enraizadas. Estacas enraizadas de genótipos oriundos da cultivar Powderblue, três meses após serem colocada para enraizar. UFPel, 2012. A análise de correlação entre as variáveis percentual de enraizamento (PE), número médio de raízes (NR) e comprimento da maior raiz (CR) revelou que a magnitude e a significância do coeficiente de correlação (r) se alteram entre as progênies das cultivares. A correlação PE x NR foi não significativa para todas as progênies, sendo um indicativo de que genótipos com os maiores percentuais de enraizamento não apresentaram os maiores valores para número de raízes e viceversa; a correlação PE x CR foi não significativa para a progênie de Bluebelle, 91 significativa e fraca para Powderblue e (r=0,32) e significativa e moderada para Bluebelle (r=0,53). A correlação NR x CR foi altamente significativa para todas as progênies, sendo mais elevada para Bluebelle e Powderblue (0,63 e 0,60, respectivamente) do que para Bluegem (0,54). Para o percentual de estacas sobreviventes (Tabela 2), verifica-se que apenas as médias das cultivares testemunhas PW (96,9%) e BG (21,9%) diferiram. Todos os demais genótipos, que variaram de 28,1 a 93,8%, não diferiram para esta variável. A média geral de sobrevivência foi de 58,2%. Quanto ao percentual de estacas com formação de calo, observa-se que o genótipo PW3 (com média 87,5%) foi superior aos genótipos BG3, PW4, BB8, BB10, BG10, PW7, BG9 e BB2 (que variaram de 9,4% a 31,3%), mas não diferiu dos demais (com variação de 34,4% a 81,3%). Os genótipos PW7 e BB10, mesmo apresentando baixo percentual de formação de calo, apresentaram enraizamento de 34,4%, sendo possivelmente um indicativo de que estes processos sejam independentes, podendo a formação de calo resultar na emissão de raízes ou não. Por outro lado, no presente trabalho foi observado que em grande parte das estacas enraizadas havia também a formação de calos, conforme já observado por Hoffmann et al. (1995). A correlação entre percentual de enraizamento e percentual de formação de calo foi significativa, mas fraca para as três cultivares mães: 0,35 para Powderblue, 0,42 para Bluegem e 0,47 para Bluebelle. Para a variável percentual de estacas com folhas persistentes, o genótipo BB9 que apresentou a maior média (87,5%) e foi superior aos genótipos BG7, PW5, PW7, BG, BG3, BB1, PW2, PW4, BB2 e BG9 (que variaram de 0,0% a 18,8%), mas não diferiu dos demais (com variação de 21,9% a 87,5%). A cultivar testemunha BG também está entre os genótipos que apresentaram os mais baixos valores para percentual de sobrevivência e número de raízes por estaca. Estes resultados podem ser atribuídos à queda antecipada das folhas nesses tratamentos e à falta de controle de temperatura no ambiente de enraizamento, uma vez que a estufa não é climatizada. Purcino et al. (2012), ao avaliarem o efeito da presença de folhas em estacas de alfavaca-cravo (Ocimum gratissimum L.) e alfavaca anis (O. selloi Benth) em casa de vegetação, perceberam que a ausência de folhas reduziu drasticamente a porcentagem de estacas enraizadas que apresentaram mortalidade de até 30%. 92 No presente trabalho, a correlação mais elevada e significativa foi observada para as variáveis percentual de estacas sobreviventes e percentual de folhas persistentes: 0,72 para Bluegem, 0,64 para Powderblue e 0,77 para Bluebelle. A correlação entre percentual de enraizamento e percentual de folhas persistentes também foi altamente significativa para todas as cultivares, sendo mais elevada para Bluegem (0,75) e moderada para Powderblue (0,59) e Bluebelle (0,50). Segundo Fachinello et al. (2005), em estacas semilenhosas ou herbáceas, a presença de folhas favorece o enraizamento, provavelmente devido à produção de co-fatores do enraizamento e auxinas presentes nas folhas. Além disso, a temperatura é um dos fatores externos importante no processo de enraizamento, por favorecer a divisão celular na formação de raízes. Contudo, em estacas herbáceas e semilenhosas, altas temperaturas estimulam uma elevada taxa de transpiração, induzindo o murchamento das estacas. CONCLUSÃO Nas condições em que foi realizado o experimento, conclui-se que os genótipos mais promissores para propagação por miniestaquia são PW3, PW6, BG4, BG8, BB4, BG5, PW1, BB5, BG6, PW10, PW8, BG1 e BB9, por apresentarem mais de 40,6% de estacas enraizadas. REFERÊNCIAS ANTUNES, L.E.C; GONÇALVES, E.D; TREVISAN, R.; RISTOW, N.C. Propagação. In: SANTOS, A.M. dos;UENO B.; FREIRE, C.J. da S.; GONÇALVES, E.D; COUTINHO, E.F.; HERTER, F.G.; MADAIL, J.C.M., PEREIRA, J.F.M.; ANTUNES, L. E.C.; WREGE, M.S.; RISTOW, N.C.; TREVISAN, R.; CANTILLANO, R.F.F. Sistema de Produção do Mirtilo. Sistemas de Produção - Versão Eletrônica Novembro/2007. 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Nas condições em que foi realizado o experimento, conclui-se que os genótipos mais promissores para propagação por miniestaquia são PW3, PW6, BG4, BG8, BB4, BG5, PW1, BB5, BG6, PW10, PW8, BG1 e BB9, por apresentarem mais de 40,6% de estacas enraizadas. 11 Referências bibliográficas ANTUNES, L.E.C.; GONÇALVES, E.D.; TREVISAN, R. Propagação. In: RASEIRA, M. do C.B; ANTUNES, L.E.C. A cultura do mirtilo. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2004. p.29-36. (Documento, 121). ANTUNES, L.E.C; MADAIL, J.C.M. Jornal da Fruta, Lages, jul.2005. Mirtilo: que negócio é esse? ANTUNES, L.E.C. Sistema de Produção do Mirtilo (Vaccinium spp). In: ANTUNES, L.E.C.; RASEIRA, M.C.B. Cultivo do mirtilo (Vaccinium spp). Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2006. p.13-16. ANTUNES, L.E.C.; GONÇALVES, E.D.; RISTOW, N.C.; CARPENEDO, S.; TREVISAN, R. Fenologia, produção e qualidade de frutos de mirtilo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.43, n.8, p.1011-1015, 2008. ANTUNES, L.E.C. Introdução. 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