Uni-ANHANGUERA - CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS CURSO DE QUÍMICA O ACELERADOR DE PARTÍCULAS APLICADO NA COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DO BÓSON DE HIGGS MAYARA DANIELE NUNES DOS SANTOS RAIZA LOHANA DE SOUZA TRINDADE GOIÂNIA Junho/2015 MAYARA DANIELE NUNES DOS SANTOS RAIZA LOHANA DE SOUZA TRINDADE O ACELERADOR DE PARTÍCULAS APLICADO NA COMPROVAÇÃO DA EXISTENCIA DO BÓSON DE HIGGS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário de Goiás Uni-ANHANGUERA, sob orientação da Professora Mª Renata Leal Martins, como requisito parcial para obtenção do bacharelado em Química. Goiânia Junho /2015 Dedicamos este trabalho primeiramente a Deus, aos nossos pais e família por sempre acreditarem em nosso potencial, e amigos que nos acompanham nesta etapa. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus primeiramente, pelo dom da vida e por nos guiar neste caminho. À nossa professora e orientadora Mª Renata Leal Martins, fonte inspiradora de inteligência e capacidade, que nos orientou com dedicação. Ao Centro Universitário de Goiás, Uni-ANHANGUERA, pela oportunidade de crescermos profissionalmente e pessoalmente. À nossos pais que nos conduziram a uma formação regada de humildade, respeito, princípios morais e honestidade. À nossos amigos e todos aqueles que nos incentivaram a alcançarmos os nossos objetivos. O cientista não estuda a natureza porque ela é útil; ele a estuda porque se deleita nela, e se deleita nela porque ela é bela. Se a natureza não fosse bela, não valeria a pena ser conhecida, e se não valesse a pena ser conhecida, a vida não valeria a pena ser vivida. Henry Poincaré Resumo Na busca por um modelo unificado que se explique todas as interações e propriedades das partículas, milhares de pesquisadores vêm tentando comprovar o Modelo Padrão que até então é a teoria mais aceita. Modelo que tenta explicar todas as interações da natureza e suas partículas. Até surgir a questão de porque as partículas bosonicas W e Z possuem massa, foi necessária uma nova partícula para dar embasamento a essa teoria, o bóson de Higgs, prevista pelo físico Peter Higgs em 1964. Mas para se comprovar a existência dessa partícula foi necessário o uso de colisores e de milhares de cientistas de vários países que se juntaram ao CERN (Organização Europeia para Investigações Nucleares). Grandes mentes e o mais potente dos colisores no mundo, o Grande Colisor de Hadrons (LHC), foram os responsáveis pela comprovação da existência do Higgs. O LHC choca a partículas carregadas a velocidade próxima a da luz, quebrando-as em pedaços menores e mais leves permitindo o seu estudo através de seus detectores. O bóson de Higgs foi detectado em Junho de 2012 pelos detectores ATLAS e CMS. PALAVRAS-CHAVE: Interações. LHC. CERN. Detectores. Colisor. LISTA DE FIGURAS Pagina Figura 1.1. Representação esquemática de uma partícula interagindo com um campo. 13 Figura 1.2. As doze partículas da matéria, férmions, e algumas de suas propriedades. 14 Figura 1.3. As 12 partículas da matérias, os férmions, separados nas três gerações. 15 Figura 1.4. Bárions são compostos por três quarks e mésons compostos por um quark e 15 um antiquark Figura 1.5 Representação do confinamento hadrônico 16 Figura 1.6. Observação de um neutrino batendo em um próton em uma câmara de bolhas 17 Figura 1.7. Um dos detectores de neutrinos do experimento Minos, nos EUA 17 Figura 1.8. 5 Tipos de bósons 18 Figura 1.9. As quatro interações fundamentais da Natureza e suas partículas elementares, 20 inclusive o gráviton Figura 1.10. Diagrama de Feynman representando uma partícula interagindo com um 21 fóton Figura 1.11. Representação das interações entre as partículas elementares 22 Figura 1.12. Representação de campo Quântico 23 Figura 1.13. Formação e aniquilação. Quando um elétron e um pósitron colidem, eles se 24 aniquilam, suas massas são transformadas em fóton.. Figura 2.1 A procura pelo bóson de Higgs mobilizou muitos cientistas a fim de se 25 comprovar Modelo Padrão. Figura 2.2. Quebra de simetria no campo de Higgs 26 Figura 2.3. Um bóson Z, uma possível cria de um bóson Higgs, decai em dois elétrons 26 (verde) e dois múons (vermelho).. Figura 2.4. Uma excitação no campo de Higgs é interpretado como bóson de higgs. 27 Figura 2.5 O potencial do campo de Higgs é chamado de 'El Sombrero' ou 'chapéu 28 mexicano' Figura 2.6 : Decaimento do bóson de higgs 29 Figura 2.7 : Representação diagramática da formação dos bósons W+ e W- 30 Figura 2.8 Produção e decaimento de um bóson de Higgs 30 Figura 3.1 Vista aérea da fronteira da Suíça com a França, indicando a rota do Grande 31 Colisor de Hádrons. Figura 3.2 O supercondutor permite correntes altíssimas tendo como consequência a 32 geração de campos magnéticos muito intensos. Figura 3.3 As partículas (prótons) são acelerados em sentidos opostos para que se choquem e 33 se quebrem em centenas de partículas de massas variadas Figura 3.4 Desenho esquemático do ALICE 34 Figura 3.5 Desenho esquemático do ATLAS. 35 Figura 3.6 Imagem esquemática do CMS. 35 Figura 3.7 Imagem esquemática do LHCb. 36 Figura 3.8 Localizações dos detectores do LHC 37 LISTA DE SIMBOLOS E SIGLAS CERN – European Organization for Nuclear Research (Centro Europeu de Pesquisa Nuclear) LHC – Larg Hadron Collider (Grande Colisor de Hadrons) ATLAS – A Toroidal LHC ApparatuS (Aparelho Toroidal do LHC) CMS – Compact Muon Solenoid (Solenoide de Múon Compacto) ALICE – A Large Ion Collider Experiment (Experiência do Grande Colisionador de Iõns) LHCb – Large Hadron Collider beauty (Grande Colisor de Hádrons “quark botton”) TeV – Teraeletronvolt GeV – Gigaeletronvolt QED – Eletrodinâmica Quântica VEV – Expectativa do Vácuo LISTA DE TABELAS Página Tabela 1.1. Visão esquemática da constituição da matéria segundo o Modelo Padrão. 19 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 10 OBJETIVOS 12 REFERENCIAL TEORICO 1 O MODELO PADRÃO 1.1 Descrição do modelo 13 1.2 Partículas fundamentais 14 1.3 Interações fundamentais 18 1.4 Outros conceitos do Modelo Padrão 21 2 O BÓSON DE HIGGS 2.1 O que é? 24 2.2 Observação 27 3 O GRANDE COLISOR DE HADRONS 3.1 O que é e como funciona 31 3.2 Detectores 33 CONSIDERAÇÕES FINAIS 38 REFERENCIAS BIBLIOGRAFICA 39 10 INTRODUÇÃO Desde os primórdios da humanidade o homem tem a necessidade de conhecer e entender tudo a sua volta. A partir do momento que o ele olhou para o céu e percebeu a sua imensidão, surgiu o impulso necessário à curiosidade pela descoberta de sua origem. Na antiguidade tudo era explicado através de mitos e lendas, isso mudou quando foi proposta, no período pré-socrático, uma explicação do que era constituída a matéria. Para Tales de Mileto tudo era feito de água, a matéria prima de tudo. A partir dessas primeiras suposições surgiu a grande jornada em busca do conhecimento cientifico e chegamos ao que sabemos ate então (AREND, 2005). Hoje entende-se, segundo estudiosos, que tudo é composto de apenas dois tipos de matéria, quarks, que interagem por força nuclear forte e eletrofraca para formar partículas compostas mais complexas, e os léptons, que não interagem com a fraca. Na década de 70 foi feito um modelo capaz de descrever e prever com exatidão tudo o que foi observado e descoberto em experimentos até hoje. Devido ao seu grande sucesso foi chamado de “Modelo Padrão” das interações fundamentais. Este modelo só é considerado se todas as partículas não possuírem massa porem, muitas partículas como os elétrons têm. Além disso, partículas de massa nula só podem se mover a velocidade da luz e nunca estar em repouso ou se mover a qualquer outra velocidade. Esse foi o problema solucionado por Peter Higgs, partículas que parecem ter massa, mas não a possuem (GREGORIS, Universidade Federal do ABC). Em 1964, Peter Higgs, através das ideias de Philip Anderson, postulou a existência do Campo de Higgs em que a partícula constituinte é o bóson de Higgs. Esse postulado diz que partículas que interagissem com este campo ganhariam massa, já os que não interagem permaneceriam os mesmos, com massa nula, viajando a velocidade da luz. Desde a concepção desta teoria, todas as previsões e consequências sucedidas do modelo padrão foram confirmadas. Exceto a descoberta do próprio bóson de Higgs (BELIZÁRIO, 2013). 11 No dia 10 de setembro de 2008 entrou em ação, na fronteira entre a França e a Suíça, o Grande Colisor de Hádrons, The Large Handron Collider (LHC), o maior acelerador de partículas até então construído pelo homem. Somente com seu funcionamento, houve condições tecnológicas suficientes para a procura pelo bóson de Higgs (BELUSSI, et tal; 2013). Em seu interior, partículas carregadas (prótons) são aceleradas em sentidos opostos a uma velocidade próxima a da luz, para provocar uma colisão em pontos específicos, onde estão localizados quatro grandes detectores, a fim de se captar as partículas. Sua meta é ajudar a responder questões sobre a criação do universo, a natureza da matéria e fenômenos observados no espaço, sobretudo a descoberta do “elo perdido” que daria a conclusão do Modelo Padrão, o bóson de Higgs (LAS CASAS, 2010). O Modelo Padrão da física de partículas que apresenta três das quatro forças fundamentais, a eletromagnética, as forças forte e fraca, além das partículas fundamentais que formam toda a matéria no mundo. De acordo com essa teoria, a partícula de Deus, como conhecida popularmente, seria o elemento crucial que responderia como existe a matéria em meio a toda a energia existente no universo. Por isso foi dada tanta importância de se comprovar a existência do bóson de Higgs, ele permitiria aos cientistas finalmente entender o principio da materialidade dos corpúsculos essenciais (STEINKIRCH, 2010). 12 OBJETIVOS Objetivo geral Descrever o acelerador de partículas aplicado na comprovação da existência do Bóson de Higgs. Objetivos específicos − Fazer um breve descrição do Modelo Padrão. − Apresentar o histórico e busca pela comprovação do Bóson de Higgs. − Apresentar sobre o histórico do LHC. 13 1 O MODELO PADRÃO 1.1 Descrição do modelo As teorias e descobertas de milhares de físicos desde 1930 resultaram em uma visão extraordinária na estrutura fundamental da matéria: tudo no universo é feito de alguns blocos básicos de construção chamados de partículas fundamentais. A melhor compreensão de como estas partículas e três das forças estão relacionadas umas com as outras é esclarecida no Modelo Padrão da física de partículas. Desenvolvido na década de 1970, ele explicou com sucesso quase todos os resultados experimentais e precisamente previu uma grande variedade de fenômenos, tenta descrever a natureza da matéria, ou de que é feito o universo e como se aglutinam suas partes, em termos de quatro forças, quatro partículas (virtuais) mediadoras e doze partículas fundamentais e suas antipartículas (MOREIRA, 2011). A Figura 1.1 é uma representação esquemática de uma partícula interagindo com um campo. Figura 1.1: Representação esquemática de uma partícula interagindo com um campo.O Modelo Padrão é o conjunto de teorias que descrevem quais são as partículas elementares que constituem a matéria e como elas interagem. Fonte: http://www.oestadoce.com.br/noticia/cientistas-belga-e-britanico-sao-os-vencedores-do-premio-nobel-defisica 14 De acordo com essa teoria, existem dois tipos de partículas fundamentais os férmions e bósons. Os férmions são partículas que constituem a matéria, tem spin semi-inteiro e satisfazem o princípio de exclusão de Pauli, onde férmions similares não podem dividir o mesmo estado quântico ao mesmo tempo. Existem doze tipos diferentes de partículas de matérias (sabores, números quânticos): seis quarks (confinados em partículas maiores, os hádrons): up, down, strange, charm, top e bottom e seis léptons: elétron, múon, tau e seus neutrinos correspondentes. Na matéria comum do próton, do nêutron, e do elétron, apenas o último é uma partícula fundamental. O próton e o nêutron são um conjunto de partículas menores, os quarks, que são mantidos juntos pela interação forte (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.2 mostra as doze partículas da matéria, os férmions e algumas de suas propriedades. Figura 1.2: As doze partículas da matéria, férmions, e algumas de suas propriedades. Fonte: http://journalofcosmology.com/Cosmology5.html 1.2 Partículas fundamentais Pares de cada grupo dos férmions formam uma geração, dentro de cada uma, os férmions se comportam exatamente como seus contrapontos na outra geração, com exceção de suas massas e de seus sabores (números quânticos). Toda a matéria é feita das primeiras gerações. As gerações mais altas de partículas (segunda e terceira gerações) são mais pesadas e instáveis e decaem muito rápido para a primeira geração e por isso só podem ser originados por um curto tempo em experimentos de grande energia (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.3 mostra as três gerações dos férmions (léptons e quarks). 15 Figura 1.3: As 12 partículas da matérias, os férmions, separados nas três gerações (de cima para baixo: primeira geração, segunda geração e terceira geração). Fonte: http://sro0.wordpress.com/2012/07/17/particulasfundamentais Os hádrons são uma família de partículas de grande massa formadas por quarks, são divididos em dois grupos, os bárions formados por três quaks e os mésons, formados de um quark e um antiquark. Bárions possuem spin semi inteiro e satisfazem o Princípio da Exclusão de Pauli, já os mésons possuem spin inteiro e não obedecem ao Princípio da Exclusão de Pauli. O nêutron e o próton são exemplos de hádrons (MOREIRA, 2004). A Figura 1.4 mostra a composição dos tipos de hádrons: mésons e bárions. Figura 1.4: Bárions são compostos por três quarks e mésons compostos por um quark e um antiquark Fonte: http://blog.funboxcomedy.com/2008/09/when-hadrons-collider.html Os léptons são partículas de interação fraca, encontradas fora do núcleo atômico, podem ter cargas elétricas ou não (neutrinos), diversamente aos quarks não possuem uma 16 qualidade chamada cor (carga de interação forte, não é uma cor propriamente dita), e suas interações são apenas eletromagnética e fraca, que diminuem com a distância. Já a cor entre os quarks faz com que a força entre eles aumenta com a distância, de modo que eles sempre são encontrados em combinações chamadas de hádrons, fenômeno conhecido como confinamento. A maioria das partículas elementares são hádrons. A massa de cada aglomeração de quarks ultrapassa a massa de seu componente por causa da energia de ligação (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.5 é a representação esquemática do confinamento hadrônico. Figura 1.5: Representação do confinamento hadrônico. Fonte: http://sro0.wordpress.com/2012/07/17/particulasfundamentais O neutrino é uma partícula leptônica que tem massa muito pequena e sua carga elétrica pode ser considerada nula, por isso é muito difícil ser detectada, (BELUSSI, et. al; 2013). Tem o spin ½ e é formado em vários processos de desintegração beta, e na desintegração dos mésons K. No interior do sol o hidrogênio é convertido em hélio e os fótons emanados com ele são acompanhados por neutrinos. Deste modo, os neutrinos toleram apenas interações fracas e gravitacionais. Experimentos indicam que durante seu deslocamento se transformam de um tipo em outro (oscilações de neutrinos), (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.6 é a representação vista por aparelho de um neutrino colidindo com um próton. 17 Figura 1.6: Observação de um neutrino batendo em um próton em uma câmara de bolhas. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Neutrino Existem três tipos de neutrinos: “neutrino do elétron”, “neutrino do múon” e “neutrino do tau”. Possuem esses nomes porque, na maior parte das vezes, quando um neutrino do elétron interage com outras partículas, surge um elétron; quando um neutrino do múon interage, surge um múon, e assim por diante. A grande parte dos neutrinos que atingem a Terra vindos do espaço, transpassam-na como se fosse transparente e saem do ouro lado. O laboratório do grupo Minos, no Fermilab, nos EUA, produz neutrinos em grande quantidade para seu estudo. Os neutrinos são o segundo elemento mais abundante no universo, perde apenas para o fóton. (PERES, et al. IFGW). A Figura 1.7 mostra o detector de neutrinos do experimento Minos, nos EUA. Figura 1.7: Um dos detectores de neutrinos do experimento Minos, nos EUA. Fonte: http://portal.ifi.unicamp.br/drcc/gefan Os bósons são os transmissores das interações na natureza, chamadas também de partículas virtuais, possuem o spin inteiro e não obedecem ao princípio de exclusão de Pauli, 18 eles se comportam seguindo a Estatística de Bose-Einstein. Entre eles temos os fótons, os bósons W+, W- e Z, bóson de Higgs e glúons, teoricamente existe o gráviton também, mas ainda não foi comprovada sua existência. Quanto mais baixa a energia de um sistema de bósons, maior a probabilidade que as partículas estejam no mesmo estado (STEINKIRCH, 2010). De acordo com o Modelo Padrão os bósons W (de cargas elétricas opostas) decaem de forma independente. Um bóson W pode decair num par quark e antiquark ou lépton e antilépton. Os cientistas querem observar este modo particular, em que os dois Bósons W decaem em pares de lépton e antilépton, excluindo léptons tau por causa das dificuldades de identificação deste. Os Físicos chamam a este modelo: H→WW→lνlν ou WW→lνlν, em que l representa um elétron, muon, positron ou antimuon (BELUSSI, et. al; 2013). A Figura 1.8 mostra os cinco tipos de bósons. Figura 1.8: Os 5 tipos de bósons Fonte: http://ffden-2.phys.uaf.edu/211_fall2002.web.dir/Brian_Yarmak/bosons.html 1.3 Interações fundamentais Existem quatro tipos de interações fundamentais ou acoplamentos no modelo padrão: eletromagnética (junção da eletricidade e do magnetismo), gravitacional, força forte (nuclear) e fraca. Cada uma delas é correspondente a uma propriedade fundamental da matéria: a interação forte é ligada à cor, a fraca ligada à carga fraca, a gravitacional à massa e a eletromagnética à carga elétrica. Cada interação tem sua partícula mediadora, que pode não ter massa, mas ter energia, ou seja, são pulsos de energia chamados de partículas virtuais (MOREIRA, 2004). O fóton media a interação eletromagnética; os bósons W+, W− e Z mediam a interação fraca; os oito tipos dos glúons mediam a interação forte. Seis dos glúons são 19 classificados como pares de cores e de anti-cores. As outras duas espécies são uma mistura mais complexadas cores e anti-cores; e os bósons de Higgs, que induzem a quebra espontânea de simetria dos grupos de calibre são responsáveis pela existência da massa inercial (STEINKIRCH, O modelo padrão). Exemplos de acoplamento eletromagnético é a interação entre os elétrons e o núcleo do átomo e a emissão de raios X; a atração entre quarks é um tipo de acoplamento de força forte, que também é responsável por manter os prótons unidos no núcleo atômico; os decaimentos radioativos, por exemplo, o β (um nêutron decaindo para próton pela emissão de um elétron e um neutrino) exemplifica a interação fraca; e a interação gravitacional atua entre todas as partículas massivas, ela que nos mantém presos a terra e que nos faz girar em torno do sol (é a interação mais fraca dentre todas) (MOREIRA, 2004). A Tabela 1.1 é a representação esquemática das partículas que constituem a matéria segundo o modelo padrão. Tabela 1.1: Visão esquemática da constituição da matéria segundo o Modelo Padrão Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806-11172007000200001&script=sci_arttext As interações fundamentais acontecem como se as partículas complementares “trocassem” outras partículas entre si. Assim como partículas eletricamente carregadas interagiriam trocando fótons, partículas com carga cor interagiriam trocando glúons, 20 partículas com carga fraca trocariam partículas W e Z enquanto partículas com massa trocariam grávitons. Logo, as partículas de matéria (léptons, quarks e hádrons) interagem trocando partículas virtuais (fótons, glúons, W e Z, e grávitons), (MOREIRA, 2009). A Figura 1.9 representa as quatro interações fundamentais do modelo padrão: eletromagnética, força fraca e forte e gravitacional. Figura 1.9: As quatro interações fundamentais da Natureza e suas partículas elementares, inclusive o gráviton (G, ainda não detectado). Fonte: http://www.cienciamao.usp.br/cienciasfisicas/index.php?painel=32 Essas interações são descritas através de campos de força e os calculo de amplitudes de probabilidade em Física de Partículas demanda a resolução de varias integrais extensas e complicadas, que possuem um grande número de variáveis. Essas integrais têm uma estrutura regular, portanto seus resultados podem ser alcançados graficamente através de diagramas, os diagramas de Feynman. Esses diagramas foram ferramentas criadas por Richard Feynman para calcular espalhamentos e reações na teoria quântica de campos. São um conjunto de regras colocadas de forma gráfica para representar essas expressões matemáticas que governam as interações entre as partículas elementares (STEINKIRCH, 2010).. As partículas são representadas por linhas, que podem ser esboçadas de diferentes maneiras, dependendo do tipo da partícula (em geral, férmions são representados por linhas retas e bósons por linhas curvas). Os pontos onde linhas se encontram são chamados de Vertex, esse ponto tem o valor da constante de acoplamento em questão. As linhas podem ser de três tipos: internas (conectam dois vértices), entrando (momento inicial) e saindo (momento final). A parte inferior do diagrama representa o momento inicial e a parte superior, 21 o final. O eixo vertical representa o tempo e o eixo horizontal não representa a distância entre as partículas que interagem. Partículas que caminham no tempo, ditas externas, são reais e representam o processo físico. As partículas internas, que não caminham no tempo, são chamadas de partículas virtuais e não são observadas diretamente; elas representam, nos diagramas de Feynman, os mecanismos envolvidos nas interações, (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.10 e a representação de um diagrama de Feynman. Figura 1.10: Diagrama de Feynman representando uma partícula interagindo com um fóton (o tempo decorre da esquerda para a direita). Fonte: http://cienciamestre.blogspot.com.br/2012/02/teoria-de-tudo_02.html 1.4 Outros conceitos no Modelo Padrão Campo é um conceito essencial nas teorias sobre partículas elementares, possui intensidade, energia, fluxo, extensão, duração, propagação, spin e muitas outras propriedades relacionados a partículas materiais. As partículas são agrupamentos quantizados de algum campo, e dele ganham essas propriedades descritas por grandezas mensuráveis. Os quanta desses campos são as partículas mediadoras já citadas das interações fundamentais. Portanto, o fóton é a quantização do campo eletromagnético, os glúons são a quantização do campo forte, o gráviton é a quantização do campo gravitacional, e as partículas W+, W- ,Z° e bóson de Higgs quantização do campo fraco (MOREIRA, 2004). A Figura 1.11 é uma representação das interações entre as partículas elementares. 22 Figura 1.11: Representação das interações entre as partículas elementares Fonte: http://sro0.wordpress.com/2012/07/17/particula-maldita-hugs-for-higgs/ O modelo padrão foi construído e dirigido através dos princípios da simetria, que pode ser dividido em diversos grupos e que são matematicamente relacionadas à conservação de certas propriedades. Uma das intervenções de simetria mais simples é a translação no espaço (as leis físicas não dependem do local das coordenas de origem). Outra simetria importante conhecida com Invariância de Gauge ou teoria de calibre prevê que todo o bóson de rotação unitária, partículas virtuais, tem massa nula (m0 = 0), mostrando a contradição das massas existentes nas partículas Z e W. (MOREIRA, 2009). O Modelo padrão evoluiu de uma descrição do eletromagnetismo pela teoria de campos quântica, a eletrodinâmica quântica (QED, descreve as interações fracas e eletromagnéticas), para uma teoria mais ampla que junta às forças fraca e forte. A estrutura teórica desse modelo se fundamenta no grupo de simetria de gauge. Ela interconecta três dos quatro acoplamentos, a eletromagnética e as forças forte e fraca e seus respectivos grupos (conjunto de operações que deixa o objeto em questão invariante). O modelo padrão é uma teoria de calibre com grupo: SU(3) x SU(2) x U(1), no qual SU(3) representa a força forte, SU(2) representa a força fraca, U(1) representa a força eletromagnética. O bóson de Higgs é o único bóson na teoria que não é de calibre. Das quatro interações fundamentais existentes na Natureza, o Modelo Padrão consegue associar as interações, eletromagnética e fraca, mas não consegue unificar a interação forte com as outras, além de não explicar a interação gravitacional, (STEINKIRCH, 2010). A Figura 1.12 representa um campo quântico, que é a aplicação conjunta da mecânica quântica e da relatividade aos campos que fornece uma estrutura teórica usada na física de partículas e na física da matéria condensada. 23 Figura 1.12: Representação de campo quântico. A Teoria Quântica de Campos (eletrodinâmica quântica) é a aplicação conjunta da mecânica quântica e da relatividade aos campos que fornece uma estrutura teórica usada na física de partículas e na física da matéria condensada. Fonte: http://allmirante.blogspot.com.br/2010/05/evolucao-por-supercordas-55-formidavel.html A cada tipo de partícula há associada uma antipartícula, com mesma massa, mesmo spin e carga oposta (com exceção dos bósons de gauge, que não tem massa) (STEINKIRCH, 2010). Matéria e antimatéria se aniquilam mutuamente quando se encontram, e convertem sua massa total em uma quantidade equivalente de energia (fóton, dada pela equação de Einstein E = mc²) ou em outros pares de partícula/antipartícula. Há no universo uma assimetria matéria/antimatéria, existe mais matéria do que antimatéria e são raras as antipartículas que ocorrem naturalmente. Graças a essa assimetria é possível a existência de conjunto de massas gigantes como planetas. Os pares partícula-antipartícula são normalmente observados nos detectores de câmaras de neblina conforme figura abaixo (MOREIRA, 2009). Os principais problemas do modelo padrão estão em não ter explicações quânticas sobre a gravidade, não explicar as oscilações dos neutrinos, não esclarecer a predominância no universo observável da matéria sobre a antimatéria (MOREIRA, 2009).. A Figura 1.13 mostra a colisão de um elétron com um pósitron (antipartícula) e sua aniquilação formando o fóton. 24 Figura 1.13: Formação e aniquilação. Quando um elétron e um pósitron colidem, eles se aniquilam, suas massas são transformadas em fóton. Fonte: http://www.astro.iag.usp.br/~ronaldo/intrcosm/Glossario/Antipart.html 2 O BÓSON DE HIGGS 2.1 O que é? Bósons de Higgs são partículas elementares que foram teorizadas em 1964, pelo físico Peter Higgs e que foram usadas por Steven Weinberg e Abdus Salam para explicar porque as partículas virtuais, bósons W e Z, têm massa. Este bóson é a partícula (quantum) que forma o Campo de Higgs, campo de energia que permeia todo o universo. Foi descoberto em julho de 2012 e a confirmação de sua existência foi dada em março de 2013 através das pesquisas do CERN, especificamente no acelerador de partículas. Ele foi proposto porque não se entendia como as partículas subatômicas adquiriam massas. Este campo deve interagir com as partículas e lhes atribuir massa. As partículas massivas interagem mais diretamente com o campo de Higgs e as partículas sem massa alguma não interagem com ele, (STEINKIRCH, 2010). 25 Em 1962 existia um paradoxo na teoria eletrofaca, formulada por Sheldon Glashow, envolvendo os bósons W e Z, do porque elas possuem massa, sendo que as partículas virtuais não devem ser mássicas de acordo com o Modelo Padrão e a simetria, pois mediam as interações das partículas reais. A debilidade das interações fracas exigiria que essas partículas tivessem massas elevadas, mas a simetria da teoria que explica essas interações estabelecia que elas não tivessem massa. Esse impasse só acabaria se as massas dos bósons W e Z fossem produzidas por outras partículas, no caso, os bósons de Higgs (MOREIRA, 2009). A Figura 2.1 é uma representação fantástica do bóson de Higgs, sua procura mobilizou vários cientistas de vários países. Figura 2.1: A procura pelo bóson de Higgs mobilizou muitos cientistas a fim de se comprovar Modelo Padrão. Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=tevatron-resultados-bosonhiggs&id=020115120702 De acordo com o chamado mecanismo de Higgs, quebra de simetria, os bosons W e Z se chocariam com outras partículas existentes em todo o universo e interagiria com um campo adquirindo massa, o campo de Higgs, o que explicariam suas massas. Ou seja, a massa das partículas W e Z seriam dadas pela massa das partículas com as quais estariam permanentemente chocando-se. Essas partículas foram essenciais para unificar as forças eletromagnéticas e força fraca (teoria eletrofraca, desenvolvida em 1960), que explica todas as interações dos léptons (MOREIRA, et. al. 2011) A Figura 2.2 representa a quebra de simetria no campo de Higgs, é neste momento que as partículas ganham massa. 26 Figura 2.2: Quebra de simetria no campo de Higgs Fonte: http://physicsact.wordpress.com/2012/08/24/e-o-boson-de-higgs-a-quantas-anda/ A força eletrofraca esta sujeito a distancia e massa das partículas. Teoricamente em altas energias as duas forças (fraca e eletromagnética) agem como um único fenômeno, em quanto que em baixas energias elas estão desacopladas em fenômenos diferentes (SOUZA, 2004). A Figura 2.3 mostra a colisão entre partículas e a formação do bóson Z e seu decaimento. Figura 2.3: Um bóson Z, uma possível cria de um bóson Higgs, decai em dois elétrons (verde) e dois múons (vermelho). Fonte: http://www.inovacaotecnologica.com.br/noticias/noticia.php?artigo=fim-jogo-bosonhiggs#.U0F77qhdXXo 27 2.2 Observação Acredita-se que o campo de Higgs surgiu há um trilionésimo de segundos após o Big Bang, quando todas as partículas que foram criadas não possuíam massa e eram todas iguais, apenas energia. Após a temperatura do universo ter baixado o suficiente, o campo de Higgs se condensou em um certo valor maior que zero através de todo o espaço (GREENE, 2005). É muito difícil observar o campo de higgs diretamente. Por esse motivo tem-se o descobrimento do bóson envolveu grandes quantidades de energia para sua descoberta. Através de colisões de partículas, que geram vibrações, que são detectadas como partículas, no caso, o bóson de Higgs. Então, observar uma partícula em um acelerador, por exemplo, é nada mais do criar e analisar vibrações em certos campos (GUIMARÃES, 2013). A Figura 2.4 é uma analogia a excitação no campo de Higgs. Figura 2.4: Uma excitação no campo de Higgs é interpretado como bóson de higgs. Fonte: http://physicsact.wordpress.com/2012/08/24/e-o-boson-de-higgs-a-quantas-anda/ A abordagem de campos e vibrações mostra como o universo funciona em um nível intenso e essencial. Esses campos abrangem todo o espaço. Alguns campos podem interagir entre si, enquanto que outros não envolvem. Exemplo o campo eletromagnético que pode interagir com os campos de partículas carregadas, mas não pode interagir com os campos da força nuclear forte. Ou pode interagir indiretamente com o campo do glúon, em primeiro lugar, fazendo vibrações nos quarks que, depois, fazem os glúons vibrar. Tudo no mundo é o resultado de vibrações de muitos campos infinitamente grandes que ocupam o universo (GUIMARÃES, 2013). No vácuo (estado quântico de menor energia possível), o campo de Higgs recebe um valor diferente de zero, que existe em todo lugar no universo a todo tempo. Este valor é chamado de expectativa do vácuo (VEV) do campo de Higgs, que é constante e igual a 246 28 GeV. O valor da expectativa do vácuo diferente de zero tem o papel fundamental de conferir massa as partículas elementares, incluindo o bóson de Higgs. O ganho de um VEV diferente de zero quebra com facilidade a simetria, esse é o mecanismo de Higgs (STEINKIRCH, 2010). A Figura 2.5 representa o potencial do campo de Higgs, o ‘El Sombrero’ Figura 2.5: O potencial do campo de Higgs é chamado de 'El Sombrero' ou 'chapéu mexicano'. Fonte: http://astro.sunysb.edu/steinkirch/reviews/sm07.pdf O menor estado de energia do campo de higgs ocorre quando atinge um certo valor não nulo, diferentemente dos outros campos (MOREIRA, 2009). A maioria das partículas é instável e se decai após certo tempo, algumas podem ser em segundos e se transformam em outras partículas menores e menos massivas, podem decair de diferentes modos. O resultado das partículas formadas é chamado de canal de decaimento. O bóson de Higgs é pesado, bastante instável e radioativo. É tão instável que decai antes mesmo de percorrer qualquer distância mensurável no detector, só é observado os vestígios de seu decaimento. Seu tempo de vida é de aproximadamente 10^-22 segundos. Conforme o Modelo Padrão, o Bóson de Higgs pode decair em meia dúzia de padrões de trilhas distintas, ou canais, como em dois bósons Z, dois fótons ou dois bósons W (BELUSSI, et. al; 2013). A influência da massa do bóson de Higgs se torna clara na Figura 2.6. 29 Foto 2.6: Decaimento do bóson de higgs. Fonte:http://atlas.physicsmasterclasses.org/fr/wpath_higgs.htm O decaimento do bóson de Higgs em pares de bóson W era o decaimento mais possível nas regiões ainda permitidas de valores de massa, como mostra o tracejado azul, (WW). Devido o bóson de Higgs não possuir carga elétrica os bósons W apresentam cargas opostas. Mas de acordo com o modelo padrão ele também pode se decair em fóton e férmions. Mas nas ultimas colisões foram detectadas com o decaimento do bóson de Higgs, com massa de 125 GeV, em léptons tau e quartks botton (BELUSSI, et. al; 2013). Se um bóson de Higgs decair em 2 bósons W, a ocorrência irá se parecer com a constituição normal de um par de bóson W (+ e -). Esse procedimento é possível de acordo com o Modelo Padrão e não tem relação com a produção do bóson de Higgs. A técnica de fabricação de pares de bósons W (sem influência do Bóson de Higgs) acontece com mais frequência. Observando apenas as figuras dos acontecimentos não é possível distingui-los. Os Físicos de Partículas chamam este procedimento de aumento da razão sinal/ruído (BELUSSI, et. al; 2013). De acordo com a revista Nature Physics, até as ultimas analises, sinais expressivos foram demonstrados em canais onde o bóson decai para qualquer pare de γ γ, WW, ou ZZ, como previsto pela teoria do Modelo Padrão. No geral, esses resultados confirmam diretamente que a nova partícula está profundamente relacionada com o mecanismo de quebra espontânea de simetria eletrofraca, em que os bósons W e Z tornam-se massivos e, portanto, é proposta como um bóson de Higgs (Grupo CMS, 2014). 30 A Figura 2.7 demonstra diagramaticamente a formação de bósons W+ e W- Figura 2.7: Representação diagramática da formação dos bósons W+ e WFonte: https://kjende.web.cern.ch/kjende/pt/wpath_lhcphysics2.htm Para aumentar a razão sinal/ruído no modo de decaimento escolhido deve se notar o ângulo entre os 2 leptons carregados (detectáveis) no plano transverso à linha de feixe. Este ângulo é chamado de ângulo de abertura. Devido às relações entre spins das partículas produzidas, espera-se que os acontecimentos com bósons de Higgs sejam mais frequentemente associados a ângulos inferiores a 90º, enquanto que os acontecimentos com pares de bósons W não provenientes de bósons de Higgs não têm nenhuma razão para ter algum valor particular de ângulo, e por isso irão preencher os valores possíveis. Isto pode ser bem observado em histogramas (BELUSSI, et. al; 2013). A Figura 2.8 são dois diagramas de Feynman mostrando a produção e decaimento de um bóson de Higgs e um acontecimento de fundo (neste caso é a produção de um par de quarks top-antitop). Figura 2.8: Produção e decaimento de um bóson de Higgs. Fonte: http://kjende.web.cern.ch/kjende/pt/wpath_higgs.htm 31 3 O GRANDE COLISOR DE HADRONS 3.1 O que é e como funciona O grande colisor de hádrons (LHC, Large Hadron Collider) é um acelerador de partículas (hadrons) construído a cerca de 100 metros de profundidade e com um anel de 27 km de extensão, sob a fronteira entre a França e Suíça. É parte de um projeto criado pela Organização Européia para Pesquisa Nuclear (CERN). Consumiu cerca de 6 bilhões de dólares para a sua construção, é considera a maior máquina já construída pela homem e o acelerador de maior energia existente. O LHC é também é tido como o maior experimento científico da história e tem como objetivo analisar e comprovar experimentalmente teorias da física de partículas e de campos, e também estudar a física envolvida no surgimento do universo (MARTINS, 2010). A Figura 3.1 é a vista aérea da rota do Grande Colisor de Hádrons, na fronteira entre a França e Suíça. Figura 3.1: Vista aérea da fronteira da Suíça com a França, indicando a rota do Grande Colisor de Hádrons. Fonte: http://noticias.terra.com.br/ciencia/pesquisa/lhc-completa-5-anos-com-particula-de-deus-e-teoriasapocalipticas,223eab12a9001410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html 32 Os amplificadores são usados para prover ondas de rádio que são lançadas na parte interior de estruturas repercussivas chamadas de cavidades de frequência de rádio. O colisor é formado por centenas de imãs supercondutores que tem a função é fazer com que o feixe de prótons (que são extraídos do hidrogênio) faça curvas e permaneçam sempre em um fluxo circular do anel. Todo o anel do LHC é refrigerado por um grande sistema de criogenia que usa cerca de 120 toneladas de hélio líquido a uma temperatura próxima a 271ºC negativos, por causa dos fios de liga de nióbio-titânio dos supercondutores que só são ativos a temperaturas muito baixas. O LHC é um acelerador do tipo Ciclontron, que utiliza um campo elétrico para acelerar as partículas e um campo magnético para direciona-las, sendo que quanto maior for o campo elétrico maior vai ser a energia da partícula. A medida que passam pelas cavidades de colisão, essas partículas retém e concentram parte dessa ondas de rádio. (STEINKIRCH, 2010). A Figura 3.2 mostra um supercondutor. Figura 3.2: O supercondutor permite correntes altíssimas tendo como consequência a geração de campos magnéticos muito intensos. Fonte: http://www.ced.ufsc.br/men5185/trabalhos/64_efeito_meissner/lhc.html As partículas são aceleradas com velocidades de aproximadamente 99,999994% da velocidade da luz no vácuo, em um segundo chegam a dar 11 mil voltas no anel. Fenômenos que acontecem nessa amplitude de velocidade são esclarecidos pela relatividade especial de Einstein, segundo a qual tempo e espaço não são absolutos, ou seja, em referenciais 33 diferentes, as medidas de cada uma das grandezas são diferentes. Uma das decorrências desse fato é o fenômeno da dilatação temporal: quando qualquer coisa se move com a velocidade próxima à da luz, seu tempo parece passar mais lentamente. Este efeito não é notado em velocidades habituais, mas, para uma partícula que viaja quase à velocidade da luz, o tempo passa muito mais devagar tempo suficiente para que ela percorra um espaço maior do que era esperado e possa ser detectada. (PEREIRA, 2011). Abaixo a Figura 3.3 demonstra uma colisão entre partículas. Elas são aceleradas em sentidos opostos e se chocam em um determinado ponto. Figura 3.3: As partículas (prótons) são acelerados em sentidos opostos para que se choquem e se quebrem em centenas de partículas de massas variadas. Fonte: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/8449-fisicos-encontram-provavel-particula-de-deus 3.2 Detectores Para investigar os desígnios de pesquisa do LHC existem quatro detectores principais em funcionamento em pontos diferentes do seu anel: ATLAS, CMS, LHCb e ALICE. As partículas são forçadas a se colidirem nesses pontos para que sejam detectadas. ALICE (A Large Ion Collider Experiment) é um detector arquitetado para o estudo da colisão entre íons pesados. Os choques de núcleos de chumbo são observadas com energia do centro de massa de 2,76 TeV por núcleo. A colaboração ALICE estuda o plasma quark-glúon, como ele se expande e esfria, analisando como ele continuamente origina as partículas que compõem a matéria do nosso universo hoje. Mas pretendem também que sejam pesquisados 34 algumas outras partículas formados nas colisões dos íons pesados, como múons e fótons. Fornecendo energia de mais de 100 mil vezes a energia do sol, pretende-se que a temperatura criada e a densidade de energia após as colisões sejam grandes o suficiente para originar o plasma de quarks e glúons, uma fase da matéria em que quarks (partículas elementares que formam, por exemplo, os prótons e nêutrons) e glúons (partículas mediadoras da interação forte) estão confinados (PEREIRA, 2011). A Figura 3.4 é um desenho esquemático do detector ALICE. Figura 3.4: Desenho esquemático do ALICE Fonte: http://resenha-on.blogspot.com.br/2010/11/universo-era-liquido-logo-depois-do-big.html ATLAS (Aparato Toroidal do LHC) é um detector onde feixes de prótons se chocam com energia do centro de massa de até 7 TeV. Mede 46 metros de comprimento por 25 de largura e 25 de altura, é o maior dos detectores. Em seu interior existe um aparelho, o rastreador interno, que detecta e avalia momento que as partículas passam. Existem seis subsistemas diferentes que analilsam o ponto de colisão. Os principais objetivos do detector ATLAS são: detectar o bóson de Higgs (confirmado em março de 2013), estudar partículas supersimétricas, dimensões extras (super cordas) e buracos negros; pesquisar por que a matéria do Universo é dominada pela matéria escura; conseguir medidas mais precisas para aperfeiçoar o modelo padrão, como as da massa e do tamanho do bóson W (PEREIRA, 2011). Abaixo a Figura 3.5 mostra um desenho esquemático do ATLAS. 35 Figura 3.5: Desenho esquemático do ATLAS. Fonte: http://kjende.web.cern.ch/kjende/pt/atlas.htm CMS (Compact Muon Solenoid,) é um detector de múons que também detecta fótons, elétrons, hádrons e até a identifica neutrinos. O solenóide do CMS é uma bobina de fio supercondutor que gera um campo magnético de 4 Tesla, cerca de 100 mil vezes maior que o campo terrestre. O detector do CMS opera como um amplo filtro em forma de “cebola cilíndrica”, pois é formada de diferentes camadas, cada uma projetada para parar e detectar os diversos tipos de partículas, que podem ser criados das colisões próton-próton e entre íons pesados. CMS foi projetado para estudar propriedades de partículas antecipadamente conhecidas com uma ótima precisão (PEREIRA, 2011). A Figura 3.6 é uma imagem esquemática do CMS. Figura 3.6: Imagem esquemática do CMS Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Solenoide_de_Múon_Compacto 36 LHCb (Large Hadron Collider beauty), onde beauty faz referencia ao quark bottom (quark b), é um experimento criado para medidas precisas da vquebra de simetria de carga e paridade e para a pesquisa dos decaimentos incomuns de mésons com os quarks b e anti-b, um conjunto conhecido por méson b. Esse detector foi especificamente arquitetado para capturar essas partículas e o resultado do seu decaimento. Ele estende-se por um comprimento de 20 m ao longo do tubo do LHC, com os seus subdetectores montados um ao lado do outro, diferentemente do CMS. Cada um dos subdetectores do LHCb é específico na detecção e analise de uma característica diferente das partículas geradas pela colisão de hádrons. Coletivamente, os componentes do detector são capazes de reunir informações sobre a identidade, a trajetória, o momento e a energia de cada partícula gerada e podem também identificar partículas entre as bilhões que surgem a partir da colisão (PEREIRA, 2011). A Figura 3.7 é um desenho esquemático do LHCb. Figura 3.7: Desenho esquemático do LHCb. Fonte: http://www.hep.phy.cam.ac.uk/lhcb/ Um dos principais objetivos do LHC é comprovar a existência do bóson de Higgs, (feito em 2013). Esse acelerador de partículas recria as condições existentes nos primeiros instantes do aparecimento do universo, para que possa ser observado e estudado as condições do espaço neste exato momento e com isso constatar e provar a existência do Bóson de Higgs. Os detectores responsáveis por observar essa partícula são o ATLAS e o CMS. O bóson de 37 Higgs se decai tão rapidamente que ele sequer chega a atingir os detectores. Assim, o que estes registram não é o bóson em si, mas as partículas "secundárias" nas quais ele decai. São, então, analisadas as energias e as direções do movimento dessas partículas. Estes decaimentos deixam rastros nos detectores do LHC permitindo o seu estudo (MARTINS, 2010). A Figura 3.8 é uma representação esquemática da localização dos detectores no LHC. Figura 3.8: Localizações dos detectores do LHC. Fonte: http://people.physics.tamu.edu/kamon/research/refColliders/LHC/LHC_is_back.html A primeira execução física do LHC começaram em 30 de março de 2010, com uma energia de centro de massa de 8 TeV (trilhões de eletron volts), ou seja, a energia de prótons de 3,5 GeV (gigaeletron volts) por feixe. Isso foi suficiente para procurar novas partículas com massa abaixo de 1 TeV. Ele foi desligado em 2013 para torna-lo mais potente e seguro. Foi religado novamente dia 05 de Abril de 2015 com a possibilidade de chegar a experimentos com níveis de energia de ate 13 TeV, e esperam agora encontrar e estudar partículas mais pesadas. Os estudos sobre o bóson continuarão encontrar e estabelecer suas propriedades ainda será um desafio (CERN, 2015). 38 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao longo de décadas cientistas de todo o mundo tentam explicar sobre interações das partículas e de onde tudo surgiu, na tentativa de encontrar um caminho para essas explicações, criaram o Modelo Padrão, que esclarece grande parte das duvidas sobre o universo. E graças à criação dos colisores foi e é possível estudar essas interações invisíveis aos olhos, na pratica. Ao determinar a existência do bóson de Higgs foi possível comprovar a teoria do Modelo Padrão, que seria um grande passo a frente ao conhecimento sobre o cosmos. Graças a teoria criada por Peter Higgs para preencher o buraco das indagações sobre o modelo, massa das partículas bosonicas, que foi possível dar continuidade as pesquisas em cima desse modelo. Para Higgs, quando aconteceu a grande explosão do Big Bang, há 14 bilhões de anos, todas as partículas eram apenas energia e existiria algo que interagia com elas e que as dava a propriedade massiva. A descoberta da existência dessa partícula em simulações no LHC, explica como as partículas adquirem massas tão diferentes umas das outras. Logo a descoberta do bóson de Higgs confirma as teorias criadas nas ultimas décadas dando sentido a continuidade das pesquisas em cima do Modelo Padrão, mostrando que os cientistas não estão indo pelo caminho errado e levando a possibilidade da descoberta de outras incógnitas que até então não foram explicadas pelo Modelo Padrão. 39 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS E FONTES CONSULTADAS AREND, Silvana. A busca do conhecimento ao longo dos tempos. UNISC, Outubro de 2005. GREGORIS, Eduardo. O LHC: A Máquina de Descobertas. Universidade Federal do ABC. 2008. Santo Andre- SP. Disponivel em: <http://www.ufabc.edu.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3232:o-lhc-amaquina-de-descobertas&catid=187:artigos&Itemid=184> Grupo CMS. Evidence for the direct decay of the 125 GeV Higgs boson to fermions. Revista Nature Physic. 22 de Junho de 2014. Disponivel em: <http://www.nature.com/nphys/journal/v10/n8/full/nphys3005.html> LAS CASAS, Renato. O Grande Colisor de Hádrons (LHC). UFMG – Observatório nacional Frei Rosário. Minas Gerais. Maio de 2010. Disponível em: <http://www.observatorio.ufmg.br/Pas96.htm>. MARTINS, Felipe Bernardo. Estudo do Grande Colisor de Hádrons. III Jornada Científica - IFMG, 2010. MOREIRA, Marco Antônio. O Modelo Padrão da Física de Partícula. Revista Brasileira de Ensino de Física. V. 31, n. 1, 1306. Abril de 2009. 40 MOREIRA, Marco Antônio et al. Do átomo grego ao Modelo Padrão : os indivisíveis de hoje. Porto Alegre: UFRGS, Instituto de Física, 2011. PIMENTA, Jean Júnio Mendes et al. O Bóson de Higgs. Rev. Bras. Ensino Fís. vol.35 no.2 São Paulo. Junho de 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S180611172013000200006&lng=en &nrm=iso&tlng=pt>. Revista eletrônica CERN Accelerating science. Disponivel em: <http://home.web.cern.ch/> Acesso: Março 2015. SOUZA, Ronaldo Eustaquio De. Introdução a Cosmologia. EdUSP, 2004 STEINKIRCH, Marina von. O Modelo Padrão. Instituto de Física da USP. 2010. Disponível em: <http://astro.sunysb.edu/steinkirch/reviews/sm07.pdf> PERES, Orlando Luis Goulart, et al. Grupo de Estudo de Física e Astrofísica de Neutrinos (GEFAN). Disponivel em: <http://portal.ifi.unicamp.br/drcc/gefan> . 41