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ARTIGO ORIGINAL
Avaliação dos resultados das emissões otoacústicas
em hospital do sul de Santa Catarina
Evaluation of otoacoustic emissions test results in a hospital in southern Santa Catarina
Manuela Romagna Bongiolo1, Ana Carolina Barreto da Silva1, Ana Carolina Cancelier2,
Mayara Romagna Bongiolo3, Maria Emilia Vieira de Souza1, Vinícius de Oliveira Nitz4
RESUMO
Introdução: A audição é uma importante função sensorial, permitindo que a criança adquira conhecimentos e promova o desenvolvimento da linguagem oral. O Teste da Orelhinha é um exame de triagem onde se realiza uma avaliação rápida e eficaz para detectar
as patologias da audição. Esse trabalho tem por objetivo avaliar os resultados dos testes da orelhinha realizados no HNSC no ano de
2012, e ainda determinar o percentual de crianças que realizou o exame e o percentual de alterações no referido exame, relacionando
com prematuridade. Métodos: Estudo transversal, observacional, analítico, incluídos todos os exames realizados no período estabelecido para o estudo e excluídos apenas os que não tiveram os dados disponíveis para coleta. A coleta foi realizada pela pesquisadora
diretamente do arquivo de exames de Emissões Otoacústicas (EOA's), disponível no setor de neonatologia. Foram coletados: sexo,
idade gestacional (prematuridade), resultado do teste, encaminhamento para novo teste. Resultados: No período do estudo foram
realizados no Hospital Nossa Senhora da Conceição 2249 Testes da Orelhinha, tanto pelo Sistema Único de Saúde como por planos
de saúde privados. Estes testes foram o resultado de 1 ano de aplicação do teste nessa instituição. A distribuição por sexo não demonstrou diferença significativa com relação a alteração do teste. A população de prematuros apresentou mais alterações no Teste da
Orelhinha que os bebês a termo. Conclusão: A triagem auditiva neonatal consiste em um método seguro e eficaz para distinguir as
crianças em risco de perda auditiva. Os prematuros apresentaram uma maior alteração nos resultados dos testes.
UNITERMOS: Audição, Triagem Neonatal, Neonato.
ABSTRACT
Introduction: Hearing is an important sensory function, allowing the child to acquire knowledge and promote the development of oral language. The Baby
Hearing Test (BHT) is a screening tool used to make a quick and effective evaluation to detect hearing disorders in babies. This study aims to evaluate the
results of the BHT test administered in the Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) in 2012, and also to determine the percentage of children that
were tested and the percentage change in that examination, relating it to prematurity. Methods: A cross-sectional, observational, analytical study, including
all tests performed in the study period and excluding only those whose data were not available for collection. Data collection was conducted by the researcher
directly from the otoacoustic emissions tests (OAET) records, available in the neonatology sector. The collected data were: gender, gestational age (prematurity),
test result, and referral for retest. Results: During the study period 2,249 BHTs were performed at the HNSC, through both the public health system and
private health plans. These tests were the result of one year of testing in that institution. The distribution by gender showed no significant difference concerning test changes. The population of premature infants showed more changes in the hearing test than infants born to term. Conclusion: The neonate hearing
screening is a safe and effective method to distinguish children at risk of hearing loss. Preterm babies showed greater change in test results.
KEYWORDS: Hearing, Neonatal Screening, Neonate.
1
2
3
4
Médica. Graduação Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Mestre em Ciências da Saúde. Médica especialista em Pediatria. Professora do Curso de Graduação em Medicina da UNISUL.
Médica. Cursando pós-graduação em Radiologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ).
Estudante. Graduando da UNISUL.
Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 59 (4): xx-xx, out.-dez. 2015
1
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS EM HOSPITAL DO SUL DE SANTA CATARINA Bongiolo et al.
INTRODUÇÃO
A audição é uma importante função sensorial, permitindo que a criança adquira conhecimentos e promova o
desenvolvimento da linguagem oral (1). Do ponto de vista
intelectual, a audição é o sentido mais importante. Ao final
do sexto mês gestacional, o aparelho auditivo está completamente formado e funcionando adequadamente, o que confirma sua importância para o desenvolvimento neuropsicomotor da criança (2). A atenção auditiva é considerada um
importante processo para a aquisição de aspectos acústicos e
fonéticos dos padrões linguísticos. A atenção refere-se à determinação de qual estímulo sonoro será processado e para
qual será dada uma resposta. Faz parte da atenção auditiva a
atenção sustentada, que é a capacidade do ouvinte deter-se
em um estímulo específico durante um período de tempo,
e a vigilância, habilidade de manter-se preparado para uma
resposta a um estímulo intermitente (3).
A deficiência auditiva é um sério problema de saúde pública e, muitas vezes, de difícil reconhecimento pelo fato de
os recém-nascidos possuírem uma aparência saudável. Porém, por algumas vezes não ser evidente nos primeiros meses de vida, a mesma pode ser diagnosticada tardiamente e,
assim, causar prejuízos ao desenvolvimento da linguagem,
bem como ao desenvolvimento global da criança, o que,
possivelmente, poderá tornar-se irreversível (4). Por esta razão, fazem-se necessários o diagnóstico e a intervenção precoce, para que os casos positivos de déficit de audição sejam
encaminhados para intervenção médica e, caso necessário,
programas de reabilitação. Nos neonatos em geral, a surdez
sensorial severa ou profunda varia de quatro a seis para cada
1000 nascidos vivos (2), ou de um a três em 1000, conforme
o Comitê Brasileiro Sobre Perdas Auditivas (3,4).
A surdez congênita se caracteriza pela diminuição da
percepção auditiva ao nascimento e ocorre em aproximadamente 1 para cada 1000 nascimentos. Vários são os fatores
de risco para perda auditiva, dentre os quais destacam-se:
história familiar de perda auditiva permanente na infância;
infecção congênita (citomegalovírus, rubéola, herpes, toxoplasmose, sífilis, Human Immunodeficiency Virus (HIV));
malformações da cabeça e pescoço; peso ao nascer abaixo
de 1500g ou 2500g; hiperbilirrubinemia, com exsanguíneo
transfusão; meningite bacteriana; asfixia severa, incluindo
índices de Apgar de 0 a 4 no 1º minuto ou de 0 a 6 no 5º
minuto; uso de medicamentos ototóxicos (aminoglicosídeos, tobramicina, diuréticos como furosemida, gentamicina,
amicacina, vancomicina, indometacina) utilizados por mais
de 5 dias; estigma ou outro achado associado à síndrome
que inclua perda auditiva sensório-neural; permanência em
Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) por
mais de 48 horas; preocupação do cuidador em relação à
audição, fala, linguagem ou atrasos no desenvolvimento;
síndromes associadas à perda de audição progressiva ou
tardia; desordens; infecções pós-natais, associadas à perda
de audição sensório-neural, incluindo confirmação de meningite bacteriana ou viral (especialmente vírus de herpes e
2
varicela); traumatismo craniano, incluindo a região do osso
temporal; quimioterapia; fatores perinatais, como anóxia,
icterícia, prematuridade e baixo peso; consanguinidade; alcoolismo materno; uso de drogas psicotrópicas na gestação; convulsões neonatais; suporte ventilatório por mais de
5 dias; Síndrome do Desconforto Respiratório; fibroplasia;
aspiração de mecônio; anormalidades cromossômicas; diabetes materna; gestações múltiplas; ausência de cuidados
pré-natais; episódios de apneia; hipocalcemia; pequeno
para a idade gestacional (5).
Os programas de triagem auditiva neonatal (TAN) são
importantes, já que visam à detecção precoce da deficiência
auditiva e são viáveis em função do seu baixo custo e facilidade (1). O Teste da Orelhinha é um exame de triagem no
qual se realiza uma avaliação rápida e eficaz para detectar as
patologias da audição, e tem como objetivo não somente detectar precocemente problemas auditivos, como também a
realização do tratamento o quanto antes e ainda obter dados
estatísticos que contribuirão para um melhor aprimoramento
das patologias e desenvolvimento de técnicas e equipamentos
mais sensíveis e específicos para seu diagnóstico. O teste é
feito, inicialmente, no segundo ou terceiro dia de vida preferencialmente, podendo ser realizado até os três meses, através
de Emissões Otoacústicas (EOA’s) durante 5 a 10 minutos.
O bebê deverá estar em sono natural, não há contraindicações, não incomodando e nem acordando a criança (7).
O registro das EOA’s é um exame que visa avaliar a
integridade da cóclea. Consiste em um método simples,
objetivo, rápido e não invasivo. As EOA’s são sons gerados
na cóclea da maioria das orelhas normais, por um processo
de ativação biomecânica dos cílios cocleares, em que se utiliza um som para estimular a cóclea (8). O referido exame
deve ser realizado nas maternidades, e, desde 2 de agosto
de 2010, a Lei federal 12.303/10 determinou sua obrigatoriedade em todos os hospitais públicos e privados do país
que atendam recém-nascidos (9).
Este trabalho tem por objetivo avaliar os resultados dos
testes da orelhinha realizados no HNSC no ano de 2012,
e, ainda, determinar o percentual de crianças que realizou
o exame e o percentual de alterações no referido exame,
relacionando com prematuridade.
MÉTODOS
Estudo transversal, observacional, analítico, incluídos
todos os exames realizados no período estabelecido para
o estudo e excluídos apenas os que não tiverem os dados
disponíveis para coleta.
A coleta foi realizada pela pesquisadora diretamente do
arquivo de exames de EOA, disponível no setor de neonatologia iniciada após a aprovação pelo Comitê de Ética em
pesquisa. Foram coletados: sexo, idade gestacional, resultado do teste, encaminhamento para novo teste.
Os dados foram tabulados e analisados através do programa estatístico SPSS 16.0. Para análise das associações,
Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 59 (4): xx-xx, out.-dez. 2015
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS EM HOSPITAL DO SUL DE SANTA CATARINA Bongiolo et al.
foi utilizado o teste Chi-quadrado, com nível de significância de 95%. Os resultados foram apresentados em números absolutos e percentuais.
Pesquisa aprovada pelo comitê de ética e pesquisa pela
Resolução CNS 466/12, código 12.494.4.01.III.
RESULTADOS
No período do estudo, foram realizados no Hospital Nossa Senhora da Conceição 2249 Testes da Orelhinha, tanto pelo Sistema Único de Saúde como por
planos de saúde privados. Estes testes foram o resultado de 1 ano de aplicação do teste nessa instituição, no
ano de 2012.
A distribuição por sexo reflete os nascimentos ocorridos no período, sendo 44,9% do sexo masculino, 47,3%
do feminino e em 7,8% doas casos não foi anotado o sexo
da criança.
A prematuridade apresentou uma prevalência no período de 13,9% dos nascimentos, visto que os testes foram realizados em todos os bebês nascidos na instituição.
O Gráfico 1 mostra esta distribuição.
Com relação aos resultados dos testes, a Tabela 1 mostra que 85,9% dos testes foram normais, e os demais dados
podem ser nela observados.
Do total de testes realizados, 316 foram encaminhados para novo teste. A Tabela 2 mostra os resultados desse reteste.
A análise dos dados referentes aos resultados dos testes
associados ao sexo não mostrou diferenças em relação ao
sexo masculino e feminino (p=0,074). No entanto, em prematuros houve mais testes alterados, conforme pode ser
observado no Gráfico 1.
O segundo teste realizado também apresentou resultados mais alterados em prematuros, conforme pode ser
observado na Tabela 3.
DISCUSSÃO
Tabela 1 – Resultados dos Testes da Orelhinha realizados no HNSC
no período de 2012.
Resultado
Frequência
Percentual Válido
1933
85,9
Alterado OE1
76
3,4
Alterado OD2
71
3,2
Alteradas 2 orelhas
169
7,5
Total
2249
100,0
Normal
Os programas de TAN são importantes e eficientes, já
que buscam a detecção precoce da deficiência auditiva (1).
Há vários métodos objetivos e subjetivos para avaliar a integridade do sistema auditivo em recém-nascidos, todos contendo vantagens e desvantagens clínicas (7). Idealmente,
100
88,1
90
1
Orelha Esquerda; 2 Orelha Direita
80
72,8
70
Tabela 2 – Resultados do segundo Teste da Orelhinha.
60
50
Resultado
Frequência
Percentual Válido
239
10,7
Alterada OE1
4
,2
Alterada OD2
7
,3
Normal
Alteradas 2 orelhas
Não precisou realizar
Não compareceu ao reteste
5
,2
1930
86,0
31
1,4
Encaminhado ao otorrino
23
1,0
Reteste em janeiro de 2013
4
2
1
40
30
20
15
6,1
10
6,1
2,9
2,7
2,5
0
Normal
Alternado OE
Prematuros
Alternado OD
Alternadas
2 orelhas
A termo
Gráfico 1 – Distribuição percentual dos resultados dos testes entre
neonatos prematuros e a termo (p<0,01).
Orelha Esquerda; 2 Orelha Direita
Tabela 3 – Distribuição percentual dos resultados dos Retestes da Orelhinha em neonatos prematuros e a termo
Normal
Alterada OE
Alterada OD
Alteradas 2
orelhas
Não compareceu
ao reteste
Encaminhado
ao otorrino
Reteste em
janeiro de 2013
Prematuros
65,9%
2,4%
7,3%
1,2%
13,4%
7,3%
2,4%
A Termo
81,1%
0,9%
0,4%
0,9%
8,3%
7,5%
0,9%
Valor de p<0,01.
Revista da AMRIGS, Porto Alegre, 59 (4): xx-xx, out.-dez. 2015
3
AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS EM HOSPITAL DO SUL DE SANTA CATARINA Bongiolo et al.
todos os neonatos e lactentes deveriam realizar a TAN. Entretanto, quando isso não é possível, recomenda-se realizar
a TAN nos neonatos e lactentes que possuíram algum fator
de risco para perda auditiva. A identificação dos fatores
de risco é fundamental para que haja acompanhamento
audiológico dos neonatos e lactentes e para a escolha dos
protocolos de cada programa de TAN (5).
Verificou-se que, no ano de 2012, foram analisados
2249 recém-nascidos e, destes, 85,9% apresentaram Testes da Orelhinha normais. Apresentaram alteração na orelha esquerda 3,4% dos pacientes, 3,2% na orelha direita e
7,5% alterados nas duas orelhas. A análise dos resultados
com relação ao sexo não demonstrou diferença significativa, visto que 44,9% foram do sexo masculino e 47,3%,
do sexo feminino e em 7,8% dos recém-nascidos, o sexo
não estava relatado.
Como o teste foi realizado em todos os recém-nascidos na instituição, avaliou-se a prevalência de nascimentos
prematuros no período, que foram de 13,9% do total de
nascimentos. Esta taxa de prevalência de prematuridade
encontra-se dentro da taxa encontrada por estudo realizado em 2008, que registrou, no sul e sudeste do país, taxas
variando de 3,5 a 15% de prematuridade (10).
A população de prematuros apresentou mais alterações
no Teste da Orelhinha do que os bebês a termo. Este dado
está de acordo com o estudo de Lima et al, no qual a prevalência de alterações do Teste da Orelhinha demonstrou-se
maior em pacientes prematuros, que são os que mais permanecem em unidades de terapia intensiva (1), e os que
possuem alterações pulmonares, cardíacas, infecciosas e
neurológicas. A prematuridade é a principal causa de morbidade e mortalidade neonatal, responsável por 75% das
mortes neonatais (11). Ainda consideradas como uma das
causas de prematuridade, as infecções congênitas como
rubéola, sífilis, toxoplasmose, citomegalovírus, herpes e
AIDS, mesmo quando assintomáticas, podem causar deficiência auditiva no neonato e podem estar associadas ao
aparecimento tardio da perda auditiva ou ainda a progressão dessa perda (12). Prematuros também são alvos dos
antibióticos para tratamento de infecções, como a gentamicina e amicacina, que podem ser medicamentos ototóxicos
que, lesando a cóclea, prejudicam o funcionamento coclear
e podem levar à deficiência auditiva (12).
A alteração do resultado é comum e pode estar ligada à presença de líquido na orelha média, vernix caseoso
no conduto auditivo, excessivo colabamento da pele do
meato acústico externo, cerúmen, e até mesmo falhas do
próprio aparelho utilizado para o teste podem levar a um
resultado positivo, sendo assim a importância do reteste.
Se persistir o resultado anormal, a criança é encaminhada
para um novo reteste e, se ainda anormal, será encaminhada a testes mais específicos, os quais avaliarão o mecanismo de transmissão do som, como a Impedancimetria.
Se este exame resultar normal, a criança passa ao exame de Audiometria de Respostas Elétricas (BERA), que
mede o grau de perda auditiva neurossensorial e orien4
ta sobre a necessidade de assistência precoce com o uso
de aparelho de amplificação sonora e acompanhamento
fonoaudiológico. Se, por outro lado, a Impedancimetria
mostrar comprometimento do mecanismo de transmissão do som, a criança é encaminhada ao Otorrinolaringologista (13). No hospital estudado, após reteste alterado, o
paciente já é encaminhado ao Otorrinolaringologista para
realização de testes mais específicos.
Segundo Maia et al, de 88 recém-nascidos triados, 35%
dos resultados demonstraram-se alterados e, nesse estudo,
dos 2449 dos pacientes que realizaram o teste, 14,1% foram alterados. Com relação à prematuridade, 22,86% nasceram de 30 a 37 semanas no estudo citado, e 13,9% eram
prematuros no estudo atual (13).
No estudo de Faistauer et al, 2.165 recém-nascidos foram submetidos ao Teste da Orelhinha. Do total, 17% falharam no primeiro teste de EOA’s, visto que 14,1% foram
alterados em nosso estudo. Entre as que falharam, 68%
apresentaram falha bilateral, enquanto que 32%, unilateral,
e no presente estudo, 53,19%, bilateral e 46,80%, unilateral
considerando os testes alterados. Na fase de reteste, ou
seja, da execução do novo teste de EOA’s após o primeiro,
ocorreu uma perda de 24% dos pacientes e, no presente
estudo, de 1,6%. Dos 279 reavaliados, 4% falharam novamente e, no presente estudo, 0,7% (14).
Dos prematuros que realizaram reteste, 65,9% foram
normais, 2,4% com alteração na OE, 7,3% na OD, 1,2%
nas duas orelhas, 13,4% não compareceram ao reteste,
7,3% foram encaminhados ao Otorrinolaringologista e
ainda 2,4% dos retestes foram marcados para janeiro de
2013. Já os recém-nascidos a termo, os quais realizaram
reteste, um total de 81,1% foi normal, sendo que 0,9% foi
alterado na OE, 0,4% na OD, 0,9% nas duas orelhas, 8,3%
não compareceram ao reteste, 7,5% foram encaminhados
ao especialista e 0,9% dos retestes remarcado para janeiro
de 2013.
Podemos observar, assim, que a triagem realizada no
serviço estudado está adequada aos objetivos preconizados, uma vez que o índice de falha correspondeu a 0,7%.
Em um ensaio efetuado em um hospital do interior de São
Paulo, o qual realizou o programa de TAN por um período
de dois anos, 6,6% dos recém-nascidos avaliados falharam.
O reteste foi feito em 98,7% dos casos que falharam, e
7,8% destes necessitaram de encaminhamento para diagnóstico audiológico e otológico (14).
É importante esclarecer ainda que os testes compatíveis
com audição normal não descartam que, no decorrer da
infância, perdas auditivas não possam ser adquiridas através de infecções, otites, medicamentos ototóxicos, trauma
ou causas genéticas que poderão gerar causas permanentes
de déficit auditivo. A deficiência auditiva neonatal não deve
ser considerada definitiva, visto que algumas alterações podem melhorar com a idade ou serem adquiridas (11).
O teste de triagem se faz importante para antecipar o
processo de intervenção logo no início de vida da criança,
garantindo a estimulação necessária em todos os aspectos
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AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DAS EMISSÕES OTOACÚSTICAS EM HOSPITAL DO SUL DE SANTA CATARINA Bongiolo et al.
fundamentais para seu desenvolvimento e, assim, maximizar a competência linguística e comunicativa, bem como o
desenvolvimento de linguagem, da cognição e do aspecto
socioemocional de crianças com perda auditiva (6).
É recomendável a realização da triagem auditiva em
todos os recém-nascidos apresentando risco ou não para
surdez, tendo como método de avaliação o uso de técnica
objetiva (8). A TAN permite a detecção de possíveis alterações auditivas em neonatos e lactentes, o que possibilita o
diagnóstico da perda auditiva antes do terceiro mês de vida
e a intervenção antes dos seis meses (5). Cerca de 50% das
perdas auditivas poderiam ser evitadas ou até mesmo suas
sequelas diminuídas, se ocorressem precocemente medidas
de detecção, diagnóstico e reabilitação (2).
CONCLUSÃO
Conclui-se que a triagem auditiva neonatal consiste em
um método seguro e eficaz para distinguir as crianças em
risco de perda auditiva. Essa questão é de grande relevância, tendo em vista que, uma vez firmado o diagnóstico
precoce, a devida investigação pode ser iniciada, minimizando futuras dificuldades na aquisição da linguagem. Dos
2249 pacientes avaliados, 85,9% tiveram os resultados do
Teste da Orelhinha normais, e 14,1% necessitaram de reteste. A prevalência de nascimentos prematuros no período
foi de 13,9% do total de nascimentos, totalizando 65,9%
dos testes normais e 34,1% alterados conforme discussão,
apresentando maior alteração dos resultados dos testes do
que os bebês a termo.
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 Endereço para correspondência
Manuela Romagna Bongiolo
Rua Felipe Schmidt, 203/101
88.701-180 – Tubarão, SC – Brasil
 (48) 3626-6191
 [email protected]
Recebido: 19/11/2014 – Aprovado: 29/10/2015
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