FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR NÚCLEO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE QUÍMICA MARIA CRISTINA NERY DO NASCIMENTO Análise da Água Superficial e Subterrânea no Entorno do Depósito de Resíduos Sólidos Urbanos de Porto Velho-RO. Porto Velho-RO 2009 MARIA CRISTINA NERY DO NASCIMENTO Análise da Água Superficial e Subterrânea no Entorno do Depósito de Resíduos Sólidos Urbanos de Porto Velho-RO. Monografia apresentada ao Departamento de Química da Fundação Universidade Federal de Rondônia, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciado em Química. Área de Concentração: Meio Ambiente Orientadora: Profª. Dra. Miyuki Yamashita Porto Velho-RO 2009 ii FICHA CATALOGRÁFICA NASCIMENTO, M. C. N. Análise da Água Superficial e Subterrânea no Entorno do Depósito de Resíduos Sólidos Urbanos de Porto Velho-RO. / Maria Cristina Nery do Nascimento. Porto Velho/RO. 2009. 69p. Área de Concentração: Meio Ambiente Orientadora: Profª. Dra. Miyuki Yamashita 1. Resíduos Sólidos 2. Lixiviação 3. Metais Pesados 4. Água iii Análise da Água Superficial e Subterrânea no Entorno do Depósito de Resíduos Sólidos Urbanos de Porto Velho-RO. MARIA CRISTINA NERY DO NASCIMENTO BANCA EXAMINADORA __________________________________ (Dra. Miyuki Yamashita) __________________________________ (Dra. Adaiane Spinelli) __________________________________ (Ms. Elcimar Juarez Forte) iv Aos meus pais, Janete e Raimundo, pelo amor, coragem e dedicação... Ao meu esposo, Luiz, pela compreensão e carinho... Às minhas irmãs, Cláudia e Telma, pelo apoio e cumplicidade... Com todo meu amor, a vocês dedico este trabalho. v AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus em primeiro lugar, por ter guiado os meus passos e me ajudado a superar todos os obstáculos até este momento de minha vida. À minha orientadora Prof. Dra. Miyuki Yamashita pela paciência, incentivo e amizade, o que permitiu a elaboração coerente e didática deste trabalho. À minha família, em especial minha mãe Janete e meu pai Raimundo, por tudo que me ensinaram e ainda me ensinam no caminhar da vida, pela confiança, incentivo, e principalmente pelo incondicional amor que me dedicam; ao meu esposo, Luiz, por todo o amor, apoio, paciência, compreensão e carinho; e às minhas irmãs, Cláudia e Telma, pelo apoio, cumplicidade e pelos momentos de descontração que me proporcionaram. À minha família em geral, por sempre torcerem por mim. À minha amiga Maria José, pela amizade, conselhos, apoio e carinho tão valiosos. Ao Prof. Dr. Wanderley Bastos, responsável pelo Laboratório Biogeoquímica Ambiental, pela colaboração na cessão dos materiais e equipamentos necessários para a realização deste trabalho. À equipe do Laboratório de Biogeoquímica Ambiental, em especial a Alessandra, que me ajudou na tarefa de proceder às análises bacteriológicas. Ao Dario, que me ajudou na coleta em campo e nas análises de metais pesados. Ao Igor, que colaborou na confecção de mapas. Pela paciência, ensinamentos e troca de experiências de todos os membros do laboratório, que foram muito importantes para conclusão deste trabalho. Aos meus amigos de turma: Luís, Laerte, Márcia, Railane e Nilton, pelos momentos de descontração e amizade. Desejo a todos vocês sucesso! Aos professores, Mariza, Dilcélia, Charles, Aprígio, Avacir, Valdir, Mariângela, Miyuki, Adaiane e Wiss, pelos conhecimentos transmitidos, além de todos os outros professores do Departamento de Química, os quais contribuíram também para minha formação acadêmica. À associação de moradores da Vila Princesa, na pessoa de Seu Francisco e Seu Bahia, pela autorização das coletas feitas na área da comunidade, pelas informações fornecidas e pelo acompanhamento em campo. vi “O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta O que ela quer da gente é coragem” Grande Sertão, Veredas - João Guimarães Rosa vii SUMÁRIO LISTAS DE TABELAS ix LISTAS DE FIGURAS x RESUMO xi ABSTRACT xii 1. INTRODUÇÃO 01 2. REFERENCIAL TEÓRICO 02 2.1 Resíduos sólidos, definição e classificação 02 2.2 Resíduos gasosos e resíduos líquidos 04 2.3 Líquido lixiviado 05 2.4 Sistemas de destinação de resíduos sólidos 07 2.5 Resíduos sólidos no curso d’água 08 2.6 Resíduos sólidos urbanos e a contaminação por metais pesados 10 2.7 Efeitos tóxicos dos metais pesados no ser humano 12 2.8 Espectrometria de absorção atômica 15 2.9 Depósito de resíduos sólidos urbano de Porto Velho-RO 17 3. OBJETIVOS 21 3.1 Geral 21 3.2 Específicos 21 4. METODOLOGIA 22 4.1 Delineamento da pesquisa 22 4.2 Reagentes e soluções 22 4.3 Equipamentos 23 4.4 Pontos de amostragem 23 4.4.1 Mapa da área de estudo 24 viii 4.4.2 Descrição dos pontos amostrados 25 4.5 Coleta e conservação das amostras 28 4.6 Curva de calibração dos metais pesados 29 4.7 Extração química para a determinação de metais pesados 34 4.8 Análise bacteriológica 36 4.9 Análise dos dados 39 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 40 5.1 Parâmetros físico-químicos 40 5.1.1 Condutividade elétrica 40 5.1.2 Potencial Hidrogeniônico (pH) 41 5.1.3 Coliformes fecais e coliformes não fecais 42 5.1.4 Metais pesados 46 6. CONCLUSÕES 49 7. REFERÊNCIAS 50 ANEXO 55 ix LISTA DE TABELAS Tabela 01: Densidade dos principais metais pesados 11 Tabela 02: Localização geográfica de cada ponto 23 Tabela 03: Limites de Detecção da Técnica (LDT) para cada elemento 34 analisado. Tabela 04: Padrões de balneabilidade através da resolução CONAMA nº. 43 274, de 29 de novembro de 2000. Tabela 05: Padrões de potabilidade para águas subterrâneas, conforme 43 resolução nº. 518, de 25 de março de 2004. Tabela 06: Resultados das análises físico-químicos e bacteriológicos das 45 amostras de água dos poços e igarapés, localizados no depósito de lixo de Porto Velho-RO, 2009. Tabela 07: Resultados das análises físico-químicos e bacteriológicos das 45 amostras de água dos poços e nascentes, localizados no depósito de lixo de Porto Velho-RO, 2008. Tabela 08: Valores máximos permitidos para os elementos químicos pela 46 resolução nº. 357, de 25 de março de 2005 (CONAMA). Tabela 09: Concentração dos metais pesados do Lixão de Porto Velho-RO. 47 x LISTA DE FIGURAS Figura 01: Vista externa do lixão de Porto Velho-RO 17 Figura 02: Vista do lixão, obtida de uma estrada lateral de acesso. 19 Figura 03: Mapa com os pontos da amostragem 24 Figura 04: Igarapé Bica do Paulista. 25 Figura 05: Igarapé do Lixão. 26 Figura 06: Poço tubular. 26 Figura 07: Poço tipo amazonas. 27 Figura 08: Poço tipo amazonas. 27 Figura 09: Acondicionamento das amostras em garrafa de polietileno. 28 Figura 10: Amostras em frasco âmbar previamente esterilizado. 29 Figura 11: Curva de calibração do elemento químico Cádmio (Cd). 30 Figura 12: Curva de calibração do elemento químico Chumbo (Pb). 30 Figura 13: Curva de calibração do elemento químico Cobalto (Co). 31 Figura 14: Curva de calibração do elemento químico Cobre (Cu). 31 Figura 15: Curva de calibração do elemento químico Cromo (Cr). 32 Figura 16: Curva de calibração do elemento químico Manganês (Mn). 32 Figura 17: Curva de calibração do elemento químico Níquel (Ni). 33 Figura 18: Curva de calibração do elemento químico Zinco (Zn). 33 Figura 19: Extração química das amostras para a determinação de metais 35 pesados. Figura 20: Acondicionamento das amostras em tubos de teflon. 35 Figura 21: Espectrofotômetro de absorção Atômica por chama. 36 Figura 22: Método de membrana filtrante. 37 Figura 23: Procedimento membrana filtrante. 38 Figura 24: Placa com colônias de coliformes fecais (E. coli) e coliformes e 38 não fecais. Figura 25: Condutividade elétrica, nos pontos amostrados. 40 xi Figura 26: Variação do pH entre os pontos amostrados. 41 Figura 27: Números de coliformes fecais (E. coli) das amostras. 42 Figura 28: Números de coliformes não fecais das amostras. 44 xii RESUMO Atualmente, uma das grandes preocupações ambientais está relacionada aos resíduos sólidos gerados pela sociedade moderna e consumista. Com a intensificação do processo industrial, aliada ao crescimento da população e a conseqüente demanda por bens de consumo, o homem tem produzido quantidades significativas de resíduos sólidos, que acabam sendo constituídos de uma mistura muito complexa e de natureza diversa. O município de Porto Velho-RO gera em torno de 220 toneladas de lixo urbano por dia, o qual é disposto em uma área de lixão para resíduos sólidos urbanos desde 1993. O presente trabalho tem como objetivo avaliar as concentrações de metais pesados (Cd, Cu, Co, Cr, Pb, Mn, Ni e Zn), quantidade de coliformes fecais e coliformes não fecais, bem como o monitoramento dos parâmetros físico-químicos (pH e condutividade elétrica) do lixão urbano de Porto Velho-RO. As amostras de água foram coletadas em cinco pontos: dois igarapés e três poços (um poço tubular e dois poços amazonas) no mês de abril de 2009. As análises de metais pesados foram realizadas por espectrometria de absorção atômica por chama (GBC-Avanta). Os testes bacteriológicos foram realizados pelo método membrana filtrante e o meio de cultura choromocult. Os parâmetros físico-químicos foram realizados in loco. Os resultados obtidos foram comparados com os valores máximos permitidos para metais, coliformes fecais e pH em efluentes líquidos conforme a Resolução nº.357/2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) e pela Portaria nº.518/2004 do Ministério da Saúde (MS). Os resultados obtidos nesse estudo mostram que a água superficial e a água subterrânea no entorno do lixão municipal, estão com as suas qualidades comprometidas. PALAVRAS-CHAVE: 1. Resíduos Sólidos 2. Lixiviação 3. Metais Pesados 4. Água xiii ABSTRACT Actually, a major environmental concern is related to solid waste generated by modern consumerist society. With the intensification of the industrial process, coupled with population growth and consequent demand for consumer goods, the man has produced significant quantities of solid wastes that end up being made of a mixture of very complex and diverse nature. The municipality of Porto Velho-RO generates around 220 tonnes of urban waste per day, which is provided in an area of landfill for municipal solid waste since 1993. This study aims to evaluate the concentrations of heavy metals (Cd, Cu, Co, Cr, Pb, Mn, Ni and Zn), amount of fecal coliform and total coliform bacteria, as well as monitoring the physical and chemical parameters (pH and electrical conductivity) of the landfill urban Porto Velho-RO. Water samples were collected at five points: two streams and three wells (one tube well and two wells Amazon) in April 2009. The analysis of heavy metals was measured by spectrophotometer, atomic absorption by flame (GBC-Avant). The bacteriological tests were performed by the membrane filter method and the culture choromocult. The results were compared with the maximum limits for metals, fecal coliform and pH in effluents in accordance with Resolution No. 357/2005 of the National Council on the Environment (CONAMA) and Ordinance No. 518/2004 the Ministry of Health ( MS). The results of this study show that the surface water and groundwater in the vicinity of the municipal garbage dump, are its qualities compromised. KEYWORDS: 1. Solid Waste 2. leaching. 3. Heavy Metals 4. Water xiv 1 INTRODUÇÃO A população mundial supera os 6 bilhões de pessoas, enquanto no Brasil, a população está em torno de 174 milhões de habitantes, a questão dos resíduos sólidos urbanos (RSU) é preocupante, e cerca de 242 mil toneladas de RSU são produzidos diariamente, dos quais aproximadamente 90 mil toneladas são resíduos sólidos domésticos. A produção per capita de resíduos domésticos em áreas urbanas, no país, é em torno de 0,5 kg a 1,0 kg por dia, dependendo do porte da cidade (IPT, 2000). Os resíduos sólidos são considerados a expressão mais visível e concreta dos riscos ambientais, ocupando um importante papel na estrutura de saneamento de uma comunidade urbana e, consequentemente, nos aspectos relacionados à saúde pública. Além das conseqüências para a saúde comunitária, deve-se considerar ainda o impacto que a disposição inadequada desses resíduos provoca no solo, na atmosfera, na vegetação e nos recursos hídricos (MORITZ, 1995). O gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos não tem um manejo seguro e nem um efetivo fluxo, pois existem muitos impactos sobre a saúde pública e o meio ambiente. No levantamento realizado pelo IBGE, em agosto de 2000, a situação dos municípios brasileiros referente à disposição final dos resíduos sólidos urbanos, é a seguinte: 63,6% na forma de lixão (dispostos a céu aberto), 18,4% em lixão controlado (aterrado) e 13,8% em aterro sanitário, do qual o percentual restante não foi informado para onde vão seus resíduos (OLIVEIRA & PASCAL, 2004). O município de Porto Velho-RO não é uma exceção da situação geral encontrada no Brasil, e tem a disposição de seu lixo realizada à semelhança de vazadouro, onde o mesmo é descartado de forma inadequada em depósito de resíduos sólidos urbanos, “lixão”, sem qualquer técnica ou tratamento. Não foi realizado nenhum estudo técnico prévio para a escolha daquela área e, tampouco montada, antes de sua instalação, uma infra estrutura que fosse capaz de evitar os danos conseqüentes da disposição de grandes quantidades diárias de lixo (NEUBAUER et al., 1999). De acordo com a Secretária Municipal de Serviços Públicos (SEMUSP), este depósito a céu aberto teve início em 1993. A disposição final dos resíduos sólidos urbanos coletados em Porto Velho é feita em uma área de 51 ha. Desse total, aproximadamente 50% já está ocupado com os resíduos. A área restante corresponde a Vila Princesa, um vale com nascentes e uma floresta parcialmente nativa (KREBS et al., 1999). 1 Estudos de poluição das águas desses locais mostram que todo lixão pesquisado provoca algum tipo de poluição nas mesmas. Desta forma é de se presumir que lixões poderão estar alterando a qualidade da água. Assim, preocupações com a contaminação dos recursos hídricos, decorrente da presença de metais pesados provenientes da inadequada disposição de resíduos sólidos, conduzem pesquisadores a direcionar seus objetivos de pesquisa a estes problemas (OLIVEIRA & PASCAL, 2004). Baseado nas informações citadas, é importante fazer um monitoramento da águas superficiais e subterrâneas sobre os parâmetros: níveis de concentração de metais pesados (Cd, Co, Pb, Mn, Ni, Cu, Zn e Cr), parâmetros físico – químicos (condutividade elétrica e pH) e bacteriológicos (coliformes fecais e coliformes totais) na área do lixão de Porto Velho – RO. Justifica – se a necessidade deste monitoramento, devido ao fato de o local do depósito de resíduos sólidos estar a uma distância de, aproximadamente, 4 km da margem do Rio Madeira e a preocupação pela saúde da comunidade que habita no entorno do depósito. 2 Referencial Teórico 2.1 Resíduos sólidos, definição e classificação Definem – se resíduos sólidos como o conjunto dos produtos não aproveitados das atividades humanas (domésticas, comerciais, industriais, de serviço de saúde) ou aqueles gerados pela natureza, como folhas, galhos, terra, areia, que são retirados das ruas e logradouros pela operação de varrição e enviados para os locais de destinação ou tratamento. Também podemos definir lixo como: os restos das atividades humanas, considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis. Normalmente, apresentam – se sob estado sólido, semi – sólido ou semilíquido. São várias formas possíveis de se classificar o lixo, por sua natureza física (seco e molhado), por sua composição química (matéria orgânica e matéria inorgânica), pelos riscos potenciais (perigosos e não–inertes). Normalmente, os resíduos são definidos segundo sua origem e classificação de acordo com o seu risco em relação ao homem e ao meio ambiente, em resíduos urbanos e resíduos especiais. De acordo com Ambiente Brasil (2007) os resíduos sólidos são classificados em: 2 Os resíduos urbanos ou lixo doméstico: gerados nas residências, no comércio ou em outras atividades desenvolvidas nas cidades. Incluem – se neles os resíduos dos logradouros públicos, como ruas e praças, denominado lixo de varrição ou público. Nestes resíduos encontram – se: papel, papelão, vidro, latas, plásticos, trapos, folhas, galhos e terra, restos de alimentos, madeira e todos os outros detritos apresentados à coleta nas portas das casas, pelos habitantes das cidades ou lançados nas ruas. Domiciliar: originado da vida diária das residências, constituído por setores de alimentos (tais como, casca de frutas, verduras, etc.), produtos deteriorados, jornais e revistas, garrafas, embalagens em geral, papel higiênico, fraldas descartáveis e uma grande diversidade e outros itens. Contém, ainda, alguns resíduos que podem ser tóxicos. Comercial: originado dos diversos estabelecimentos comerciais e de serviços, tais como, supermercados, estabelecimentos bancários, lojas, bares, restaurantes etc. Público: originado dos serviços de limpeza urbana, incluindo todos os resíduos de varrição das vias públicas, limpezas de praias, de galerias, de córregos e de terrenos, restos de podas de árvores, limpeza de feiras livres, constituído de restos vegetais diversos, embalagens, etc. Os resíduos especiais: gerados em indústrias ou em serviços de saúde, como hospitais, ambulatórios, farmácias, clínicas que, pelo perigo que representam à saúde pública e ao meio ambiente, exigem maiores cuidados no seu acondicionamento, transporte, tratamento e destino final. Também se incluem nesta categoria os materiais radioativos, alimentos ou medicamentos com prazos de validade vencidos ou deteriorados, resíduos de matadouros, inflamáveis, corrosivos, reativos, tóxicos e dos restos de embalagem de inseticida e herbicida empregados na área rural. Hospitalar: constitui-se dos resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes patogênicos. São produzidos em serviços de saúde, tais como: hospitais, clínicas, laboratórios, farmácias, clínicas veterinárias, postos de saúde etc. São agulhas, seringas, gazes, bandagens, algodões, órgãos e tecidos removidos, meios de culturas e animais usados em testes, sangue coagulado, luvas descartáveis, remédios com prazos de validade vencidos, instrumentos de resina sintética, filmes fotográficos de raios X etc. Em função de suas características, merece um cuidado especial em seu 3 acondicionamento, manipulação e disposição final. Deve ser incinerados e os resíduos levados para aterro sanitário. Portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários: constituem os resíduos sépticos, ou seja, que contêm ou potencialmente podem conter germes patogênicos. Basicamente originam-se de material de higiene pessoal e restos de alimentos, que podem hospedar doenças provenientes de outras cidades, estados e países. Industrial: originado nas atividades dos diversos ramos da indústria, tais como, metalúrgica, química, petroquímica, papelaria, alimentícia etc. O lixo industrial pode ser representado por cinzas, lodos, óleos, resíduos alcalinos ou ácidos, plásticos, papel, madeira, fibras, borracha, metal, escórias, vidros, cerâmicas e etc. Radioativos: resíduos provenientes da atividade nuclear (resíduos de atividades com urânio, césio, tório, radônio, cobalto), que devem ser manuseados apenas com equipamentos e técnicos adequados. Agrícola: resíduos sólidos das atividades agrícolas e da pecuária, como as embalagens de adubos, dos defensivos agrícolas, ração, resto de colheita etc. O lixo proveniente de pesticidas é considerado tóxico e necessita de tratamento especial. Entulhos: resíduos de construção civil, demolições e restos de obras, solos de escavações. O entulho é, geralmente, um material inerte, passível de reaproveitamento. 2.2 Resíduos gasosos e resíduos líquidos Os resíduos gasosos resultam das reações de fermentação aeróbia (desenvolvidos na superfície) e anaeróbia (nas camadas mais profundas); a fermentação anaeróbia dá origem a CO2 (dióxido de carbono) e a CH4(metano), o qual pode ser aproveitado para a produção de biogás. Os resíduos líquidos, também chamados lixiviados ou chorume variam de local para local e dependem de: teor em água dos resíduos; isolamento dos sistemas de drenagem; clima (temperatura, pluviosidade, evaporação); permeabilidade do substrato geológico; grau de compactação dos resíduos; idade dos resíduos. Os lixiviados têm 4 elevada concentração de matéria orgânica, de materiais tóxicos, pelo que deve ser feita a sua recolha e tratamento, de modo a impedir a sua infiltração no solo. Devido à grande distância em que normalmente os aterros sanitários se encontram, tornam muitas vezes inviável o acesso a esse tipo de destino final. A prática mais generalizada é o enterramento de resíduos em terrenos adjacentes, muitas vezes sem preparação, em solos inadequados e perto de espécies faunísticas e florística de elevada fragilidade, o que dá origem a focos de poluição e de contaminação localizados. Uma forma de minimizar esses efeitos é a seleção cuidadosa do local (tipo de solo, cobertura vegetal e regime hidrológico), sua impermeabilização e seu recobrimento sistemático com terra (AMBIENTE BRASIL, 2007). 2.3 Líquido lixiviado O lixo sofre um processo de liquefação ao ser decomposto, devido à digestão praticada pelas bactérias, formando um caldo escuro e ácido denominado chorume (lixiviado ou percolado). Além disso, há naturalmente o problema do mau cheiro que se desprende sempre que o lixo se decompõe por fermentação anaeróbia (BRANCO, 1997). O líquido lixiviado (chorume ou percolado) é um líquido poluente originado da decomposição do lixo. O chorume, ou líquido percolado, cuja composição é muito variável, pode tanto escorrer e alcançar as coleções hídricas superficiais, como infiltrar no solo e atingir as águas subterrâneas, comprometendo sua qualidade e, por conseguinte, seu uso (SISINNO et al., 1997). O chorume possui elevada carga de poluentes orgânicos e inorgânicos e, ao entrar em contato com o solo, pode modificar, de forma intensa, suas características físicas, químicas e biológicas, bem como as das águas subterrâneas, caso consiga alcançá-las. A matéria orgânica presente no chorume tem importância na complexação e transporte de metais pesados e na retenção de alguns contaminantes orgânicos. Aliado a que a matéria orgânica natural presente no solo, além de participar desses processos, pode aumentar a concentração de constituintes do chorume no solo e, consequentemente, nas águas (LEITE et al., 2004). 5 O potencial de impacto deste efluente está relacionado com a alta concentração de matéria orgânica, presença de metais pesados e de substâncias recalcitrantes. A quantidade de líquido lixiviado produzido em um lixão depende de vários fatores como: condições meteorológicas do local (umidade, precipitação, evaporação, temperatura e ventos); geologia e geomorfologia (escoamento superficial e/ou infiltração subterrânea, grau de compactação e capacidade do solo em reter umidade); condições de operação do aterro (conformação e cobertura das células, grau de compactação dos resíduos, tipo de equipamento, recirculação do percolado); idade e natureza dos resíduos sólidos (tipo, umidade, nível de matéria orgânica, características); topografia (área e perfil do lixão); qualidade e quantidade de recicláveis e hábitos da população. A composição do chorume geralmente muda de um lixão para outro em função da qualidade e características dos RSU (TORRES et al., 1997). O volume de lixiviado é representado como os fenômenos físicos da percolação em um maciço homogêneo constituído por um material poroso. Da água que precipita sobre o aterro, parte é devolvida à atmosfera pela evapotranspiração, parte escoa superficialmente e o restante se infiltra, podendo ficar retida na camada de cobertura ou produzir um fluxo de percolação quando for atingida a saturação desta camada (ROCCA et al., 1993). A infiltração da precipitação, através do solo, é um processo natural, e faz parte do ciclo de recarga do lençol freático. A percolação é a infiltração de água através dos resíduos sólidos, carreando com ela, as substâncias solúveis suspensas no mesmo; e a lixiviação é a operação que separa certas substâncias, contidas nos resíduos sólidos, por meio de lavagem ou de percolação (OLIVEIRA & PASCAL, 2004). Os resíduos sólidos inicialmente agem como uma esponja e simplesmente absorvem a água. Entretanto, o material atinge um teor de umidade conhecida como capacidade de retenção. Qualquer acréscimo de água adicional resulta na percolação de igual quantidade da massa. Alguma percolação poderá forma-se antes que a capacidade de retenção tenha sido atingida, porque os resíduos, não sendo homogêneos, apresentam canais, e alguns destes, também não absorvem a água prontamente. A absorção do lixiviado irá variar em função do subsolo. Quando aumenta o nível de água no local do lixão, surgem dois efeitos indesejáveis: primeiro, considerando o aumento da pressão do percolado, irá aumentar a taxa de vazamento do líquido percolado no local, agravando o risco de possível contaminação da água subterrânea; segundo, é que, em tais circunstâncias, o nível de água contaminada, pode alcançar às fontes da superfície (SCHALCH, 1984). 6 2.4 Sistemas de destinação de resíduos sólidos Historicamente, existem três formas básicas adotadas pela sociedade urbana para a disposição de resíduos sólidos: lixão ou vazadouro, aterro controlado e aterro sanitário (CHARNOCK & WELLS, 1985). Os lixões ou vazadouros resultam da simples descarga do lixo a céu aberto, sem levar em consideração: a área em que está sendo feito à descarga, a percolação dos líquidos derivados da decomposição do lixo, a liberação de gases para a atmosfera e a proliferação de insetos, roedores e outros animais que podem transmitir doenças ao homem (SERRA et al., 1998). Aterro controlado diferencia-se dos lixões apenas pelo fato do lixo não ficar exposto a céu aberto, por ser periodicamente coberto com terra. O solo não é impermeabilizado e nem sempre possui sistema de drenagem dos líquidos percolados, tampouco captação de gases formados pela decomposição da matéria orgânica. Aterro sanitário refere-se a uma instalação previamente planejada para a posterior disposição de resíduos sólidos, visando a não causar danos, nem perigo, ao meio ambiente e à saúde pública (MUÑOZ, 2002). Um aterro sanitário é a mais adequada forma de disposição de resíduos no solo. Porém, apresenta os maiores custos de implantação. Uma vez que são aplicadas técnicas de impermeabilização e contenção de líquidos percolados para impedir o contato direto dos mesmos com o solo e os mananciais hídricos superficiais e subterrâneos. Estes líquidos percolados, conhecidos como chorume, são também submetidos a tratamento, geralmente em uma lagoa de estabilização, antes da sua introdução no sistema de drenagem superficial (KREBS et al., 1999). Segundo dados da PNSB – Pesquisa de saneamento 2000 (IBGE, 2002) somente 32,2% de todos os municípios destinam adequadamente seus resíduos sólidos (13,8% em aterros sanitários e 18,4% em aterros controlados). Em 63,6% dos municípios, o lixo, quando recolhido, é apenas transportado para os lixões. Estes não possuem nenhum tipo de controle, quer quanto ao tipo de resíduos recebidos, quer em relação às medidas de seguranças necessárias para minimizar ou evitar emissões de poluentes para o meio ambiente. A disposição inadequada dos resíduos sólidos promove a contaminação do solo, do ar e das águas superficiais e subterrâneas, além da proliferação de vetores de doenças, 7 influenciando negativamente a qualidade ambiental e a saúde da população (LEITE et al., 2004). Com relação à disposição final dos resíduos sólidos, constata-se hoje que nenhum dos locais até agora utilizados atende plenamente aos critérios sanitários e ambientais exigidos pelos órgãos responsáveis. Esta prática tem sido fator de conflito de uso do solo e, na maioria das vezes, resulta em um comprometimento da qualidade de vida da população do entorno, devido à poluição do ar, da água e à degradação do solo. O lixo, espalhado aleatoriamente, propicia a poluição atmosférica pela fumaça emanada da combustão não controlada dos resíduos e odores desagradáveis resultantes da decomposição da matéria orgânica. Os líquidos percolados, oriundos da massa de lixo, geralmente contaminam os cursos d’água e, em casos mais graves, contaminam também as águas subterrâneas (KREBS et al, 1999). 2.5 Resíduos sólidos no curso d’água Podemos classificar os danos causados pela disposição do lixo no curso d’água da seguinte forma: poluição física, química, bioquímica e biológica. Poluição física: os mecanismos de poluição das águas são desenvolvidos a partir do momento em que resíduos industriais e domésticos são lançados nos cursos d’água, causando uma série de perturbações físicas. Estas perturbações são verificadas nas variações do gradiente de temperatura e sedimentos inertes. Podem, ainda, trazer impactos mais graves ao meio aquático, como por exemplo, a possível quebra do ciclo vital das espécies, tornando a água biologicamente estéril (LIMA, 1983). O aumento da temperatura da água diminui a quantidade de oxigênio que ela pode reter em solução. Desta forma, os seres que habitam o meio aquático necessitam consumir maiores volumes de água para conseguir o oxigênio exigido pelo metabolismo. Poluição química: a poluição química dos recursos hídricos surge, em função de resíduos industriais não-biodegradáveis e resíduos, e pelo uso intensivo de herbicidas, fungicidas e outros. Os resultados deste fenômeno podem ser verificados nos próprios locais de despejo ou a determinadas distâncias deste local. As formas aparentes de revelação deste processo 8 são verificadas através da mudança de coloração das águas, da formação de correntes ácidas e águas tóxicas (LIMA, 1983). Poluição bioquímica: a poluição das águas superficiais ou subterrâneas, pelo lixo, é propiciada por uma série de fenômenos naturais como a lixiviação, percolação e arrastamento. A primeira conseqüência é a redução do nível de oxigênio presente na água. Dependendo da intensidade deste processo, muitos danos podem ocorrer inclusive à completa extinção da fauna e flora aquática (LIMA, 1983). A descarga do chorume nas águas provoca depressão do nível de oxigênio, elevando a DBO (demanda bioquímica de oxigênio). Quando o oxigênio desaparece ou é reduzido a níveis baixos, os organismos aeróbios são quase que totalmente exterminados, cedendo lugar aos anaeróbicos, responsáveis pelo desprendimento de gases (LUZ, 1969). Mesmo após parar de receber lixo, o aterro continua a produzir chorume por cerca de 50 anos (AL-MUZAINI, 1995). Sua composição físico-química é extremamente variável dependendo de vários fatores que vão desde as condições ambientais locais, tempo de disposição, forma de operação do aterro e até altas concentrações de sólidos suspensos, metais pesados, compostos orgânicos originados da degradação de substâncias. Por apresentar substâncias altamente solúveis, pode contaminar as águas do subsolo nas proximidades do aterro. A presença do chorume em águas subterrânea pode ter conseqüências extremamente sérias para o meio ambiente e para a saúde pública, por apresentar compostos altamente tóxicos. Sua toxicidade não pode ser associada a uma substância isoladamente e nem à soma de todas as substâncias presentes, mas sim ao efeito sinérgico entre as diferentes substâncias existentes (SERAFIM et al, 2003). O chorume é bem mais agressivo que o esgoto e precisa de um tratamento adequado. O tratamento do chorume é uma medida de proteção ambiental, de manutenção da estabilidade do aterro e uma forma de garantir uma melhor qualidade de vida para a população local. Poluição biológica: normalmente um corpo d’água é habitado por muitos seres vivos, dentre os quais podemos incluir os microrganismos (bactérias) que se alimentam de matéria orgânica (responsáveis pela limpeza do rio). Além dos microrganismos próprios dos rios, o mesmo recebe outras bactérias procedentes de cargas de esgotos que podem prejudicar seriamente a saúde da população que faz uso desta água para seu consumo diário. Essas bactérias são chamadas de coliformes (SERAFIM et al., 2003). 9 Os coliformes não fecais são constituídos pelos gêneros Citrobacter, Enterobacter e Klebsiella, que estão presentes no solo e nos vegetais. Desta forma, não é possível afirmar categoricamente que uma amostra de água com resultado positivo para coliformes totais tenha entrado em contato com fezes (JAWETZ, 1989). Então Coliformes Totais = Coliformes Fecais + Coliformes Não Fecais. 2.6 Resíduos sólidos urbanos e a contaminação por metais pesados O gerenciamento de resíduos perigosos tem – se transformado, nas últimas décadas, em um dos temas ambientais mais complexos. O número crescente de materiais e substâncias identificadas como perigosas e a produção desses resíduos em quantidades cada vez maiores, têm exigido soluções mais eficazes e investimentos maiores por parte de seus geradores e da sociedade em geral. Além disso, com a industrialização crescente dos países ainda em desenvolvimento, esses resíduos passam a ser gerados em regiões nem sempre preparadas para processá-los ou, pelo menos, armazená-los e tratá–los adequadamente (MUÑOZ, 2002). As atividades com maior potencial de geração de resíduos perigosos são as indústrias químicas, as refinarias de petróleo, a siderurgia, as indústrias de metais não ferrosos, de papel e celulose, de processamento de couros e de instalações que executam serviços de galvanoplastia, decapagem e pintura. Poder–se-ia mesmo afirmar que toda a atividade industrial pode gerar algum tipo de resíduo classificado como perigoso pela legislação ambiental (EYER, 1995). Por outro lado, existem também os resíduos dos serviços de saúde (RSS), que representam um risco à saúde humana e ambiental, pela presença, principalmente de agentes biológicos, além de uma série de contaminantes químicos presentes nesses resíduos, dentre os quais destacam–se os metais pesados (OSHA, 1991; TAKAYANAGUI, 1993; ALLERMAN & POULSEN, 2000; TAKAYANAGUI, 2000). A expressão “metal pesado” é comumente utilizada para designar metais classificados como poluentes, englobando um grupo muito heterogêneo de metais, semimetais e mesmo não metais como o selênio. Na lista de metais pesados estão, com maior freqüência, os seguintes elementos: cobre, ferro, manganês, molibdênio, zinco, cobalto, níquel, vanádio, alumínio, prata, cádmio, cromo e chumbo (CETESB, 2001). 10 A classe de metais pesados compreende o maior grupo dos elementos químicos, sendo o termo “metal” referente às características de boa condutividade elétrica e térmica. Compreende–se como “metais pesados” elementos cuja densidade excede 5,0g/cm3 (Tabela 01), (BAIRD, 2002; FOSTNER & WITTMANN, 1979 apud GALVÃO, 2003). Tabela 01: Densidade dos principais metais pesados. METAL (Símbolo) CHUMBO (Pb) DENSIDADE (g/cm3) 11,3 COBRE (Cu) 8,9 CROMO (Cr) 7,2 NÍQUEL (Ni) 8,9 COBALTO (Co) 8,9 ZINCO (Zn) 7,1 CADMIO (Cd) 8,4 MANGANÊS (Mn) 7,4 Fonte: Química Ambiental (BAIRD, 2002). Metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio, arsênio, cromo, zinco e manganês, dentre outros, estão presentes em diversos tipos dos resíduos levados para lixões, aterros sanitários e incineradores, podendo ser encontrados nesse material: lâmpadas, pilhas galvânicas, baterias, resto de tintas, resto de produtos de limpeza, óleos lubrificantes usados, solventes, embalagens de aerossóis, resto de amálgama utilizada em consultórios odontológicos, materiais fotográficos e radiográficos, embalagens de produtos químicos, pesticidas, fungicidas e inseticidas, componentes eletrônicos descartados isoladamente em placas de circuitos impressos, resíduos de produtos farmacêuticos, medicamentos com prazos de validade vencidos, latarias de alimentos, aditivos alimentares, e plásticos descartados (EYER, 1995). A concentração de metais pesados no meio ambiente, com sua disseminação no solo, água e atmosfera tem sido motivo de crescente preocupação no mundo. Os metais pesados podem ser percolados por meio do chorume, que é o líquido resultante da 11 decomposição de resíduos. O chorume mistura-se com a água da chuva e outros líquidos, originalmente existentes no lixo, infiltrando-se no solo e, quando alcança o lençol freático, contamina a água subterrânea. A contaminação dessas águas tem consequências que perduram por tempo indefinido e são de difícil controle. Além de provocar a contaminação da água, essa disposição inadequada polui também o solo, atingindo as plantas, os animais e o homem (MAGOSSI & BONACELLA, 1991; SERRA et al, 1998). Por outro lado, a incineração de lixo forma materiais particulados que transportam metais pesados, dioxinas e furanos policlorinados, que são carregados pela fumaça e levados pelo vento, precipitando-se no solo contaminando, assim, o ambiente. Os metais pesados, uma vez no solo, podem ser assimilados pelos vegetais, podendo ter um efeito fitotóxico para o homem ao serem introduzidos na cadeia alimentar (GLASSER & CHANG, 1991; SERRA et al, 1998, CERQUEIRA & ALVES, 1999). Durante a incineração, os metais pesados são particularmente importantes pela resistência que possuem; elementos cuja concentração é a mesma. Antes e depois da incineração. Estes metais tóxicos são volatilizados e logo condensados na superfície das partículas de cinza suspensas no ar, podendo passar para vegetação ou solo, e por sua vez, podem ser facilmente inaladas ou ingeridas pelo homem (DENISON & SILBERGELD, 1988; SERRA et al, 1998). 2.7 Efeitos tóxicos dos metais pesados no ser humano A toxicidade dos metais pesados depende, em grande parte, da forma química do elemento, isto é, de sua especiação. Por exemplo, os quatro elementos Hg, Pb, Cd e As, nas suas formas de elementos livres condensados, não são particularmente tóxicos. Porém, os quatro são tóxicos nas suas formas catiônicas e também quando ligados a cadeias curtas de átomos de carbono. Do ponto de vista bioquímico, o mecanismo de sua ação tóxica deriva da forte afinidade dos cátions pelo enxofre. Assim, os grupos sulfidrila que ocorrem comumente nas enzimas que controlam a velocidade de reações metabólicas de importância crítica no corpo humano, ligam-se rapidamente aos cátions de metais pesados ingeridos ou a moléculas contendo tais metais. Pelo fato de a ligação resultante metalenxofre afetar a enzima como um todo, ela não pode atuar com normalidade, e em 12 conseqüência, a saúde humana vê-se afetada de maneira desfavorável, às vezes fatal (BAIRD, 2002). A toxicidade do elemento químico também depende da dose (quantidade absorvida), mesmo os elementos ditos essenciais podem vir a serem tóxicos, se absorvidos acima dos limites toleráveis para o funcionamento normal dos seres vivos. Ferro e cobre são elementos essenciais para os seres vivos, mas um ser humano adulto possui apenas 5g de Fe e 0,8g de Cu em seu corpo. Isso mostra que a absorção de quantidades extras desses metais mesmo pequenas, já pode causar desequilíbrios biológicos. O excesso de um elemento pode inclusive produzir deficiência de outro (ou outros) em um ser vivo. Por exemplo, elementos desnecessários podem saturar sítios metabólicos importantes, impedindo a fixação, transporte e utilização de elementos essenciais ao organismo, alterando assim as atividades fisiológicas e causando problemas de saúde. É o caso do excesso de Pb no organismo, o qual irá interferir na absorção dos elementos Ca, Fe, Cu e Zn, considerados essenciais (MELLO, 2003). Outros elementos-traços (os não essenciais), como Hg, Pb, Cd, Cr e Ni, entretanto, não têm função biológica conhecida e são geralmente tóxicos a uma grande variedade de organismos. Mesmo aqueles elementos com função biológica definida podem quando em grandes concentrações, apresentar alta toxicidade aos organismos vegetais e animais. As principais características de alguns metais pesados, citados por Damasceno (1996), são: Cádmio (Cd): com densidade 8,6 g/cm3; é utilizado em indústrias de galvanoplastia, na fabricação de baterias, em tubos de televisão, lâmpadas fluorescentes, utilizado, também, como pigmento e estabilizador de plásticos polivinílicos. As águas não poluídas contêm menos do que 1mg/L de Cd, e no caso de contaminação das águas superficiais, esta se dá por descarga de resíduos industriais e lixiviação de lixão, ou de solos que recebem lodo de esgoto. As principais vias de exposição ao Cd são os alimentos, a água para o consumo humano, ar, cigarros e exposição industrial. Os efeitos de intoxicação aguda por Cd são muito sérios, entre eles: hipertensão, problemas nos rins, destruição dos tecidos dos testículos e destruição dos glóbulos vermelhos do sangue. Acredita-se que grande parte da ação fisiológica do Cd é devido a sua similaridade ao Zn; o Cd pode substituir o Zn em algumas enzimas, causando alterações e impedindo a atividade catalítica de tais enzimas. 13 Chumbo (Pb): com densidade de 11,34 g/cm3; é utilizado na fabricação de baterias, sendo usado, também, na gasolina, em pigmentos, munição e soldas. O teor de Pb em rios e lagos encontra-se na faixa de 1 a 10mg/L, porém valores maiores têm sido registrados onde a contaminação tem ocorrido como resultado de atividades industriais. As principais vias de exposição ao Pb são a água para consumo humano, alimentos, ar, cigarros. A toxidade aguda causada pelo Pb provoca várias disfunções nos rins, no sistema reprodutivo, fígado, no cérebro e sistema nervoso central. A vítima pode ter dores de cabeça e dores musculares, sentindo-se facilmente cansada e irritada e a toxicidade moderada pode causar anemia. Cromo (Cr): com densidade de 7,19 g/cm3; é usado na fabricação de ligas metálicas empregadas nas indústrias de transporte, construções e fabricação de maquinários, na fabricação de tijolos refratários; utilizado, também, na indústria têxtil, fotográfica e de vidros. Os níveis de Cr na água, geralmente, são baixos (9,7mg/L), embora níveis maiores já tenham sido relatados como conseqüência do lançamento nos rios de resíduos contendo este metal. O Cr é um elemento essencial ao ser humano, que se mostra necessário para o metabolismo da glicose, lipídeos e para a utilização de aminoácidos em vários sistemas; parece ser necessário, também, para a prevenção de diabete e arteriosclerose. As principais vias de exposição ao Cr são água para consumo humano, alimentos, ar, cigarros. A forma hexavalente do Cr é reconhecida como carcinogênica, causando câncer no trato digestivo e nos pulmões, podendo causar, também, dermatites e úlceras na pele e nas narinas. Os níveis de 10 mg/kg de peso corporal o Cr6+ pode causar necroses no fígado, nefrites e morte, e a níveis inferiores podem ocorrer irritações na mucosa gastrointestinal. Níquel (Ni): com densidade de 8,90 g/cm3; é utilizado na produção de ligas, na indústria de galvanoplastia, na fabricação de baterias juntamente com o Cd (baterias NiCd), em componentes eletrônicos, produtos de petróleo, pigmentos e como catalisadores para hidrogenação de gorduras. Problemas significantes de contaminação de águas com Ni estão associados com a descarga de efluentes industriais contendo altos níveis desse metal. Normalmente os níveis de Ni nas águas superficiais variam entre 5 a 20mg/L. As principais vias de exposição ao Ni são a água para consumo humano, alimentos, ar, exposição industrial, cigarros. O Ni, relativamente, não é tóxico e as concentrações a que, normalmente, o homem encontra-se exposto são aceitáveis. As concentrações tóxicas de Ni 14 podem causar muitos efeitos, entre eles, o aumento da interação competitiva com cinco elementos essenciais (Ca, Co, Cu, Fe, e Zn) provocando efeitos mutagênicos pela ligação do Ni aos ácidos nucleicos, indução de câncer nasal, pulmonar e na laringe, indução ao aparecimento de tumores malignos nos rins e também apresentar efeitos teratogênicos. Zinco (Zn): com densidade de 7,14 g/cm3; é empregado na galvanização de produtos de ferro; utilizado em baterias, fertilizantes, lâmpadas, televisores e aros de rodas; componentes de Zn são usados em pinturas, plásticos, borrachas, em alguns cosméticos e produtos farmacêuticos. O Zn é um elemento essencial, com uma média diária necessária de 10 a 20 mg; tem uma função na síntese e metabolismo de proteínas e ácidos nucleicos e na divisão mitótica das células. Este material tende a ser menos tóxico que os outros metais pesados, porém, os sintomas de toxidade por Zn são vômitos, desidratação, dores de estômago, náuseas, desmaios e descoordenação dos músculos. O Zn mostra uma relação fortemente positiva sobre o Cd, à hipertensão induzida pelo Cd pode ser reduzida pelo Zn. 2.8 Espectrometria de absorção atômica A espectrometria de absorção atômica se baseia na quantidade de radiação absorvida pelos átomos neutros no estado fundamental do elemento de interesse, os quais são produzidos no nebulizador-queimador. Esta absorção é proporcional à população de átomos no estado fundamental, os quais, por sua vez, são proporcionais à concentração da solução distribuída na chama. A quantidade absorvida é medida pela diferença entre o sinal transmitido na presença e na ausência do elemento a ser determinado (CIENFUEGOS & VAITSMAN, 2000). Para que o processo da absorção atômica ocorra, é necessária a produção de átomos livres no estado fundamental. Nos instrumentos com chama, o processo de obtenção destes átomos inicia-se com a nebulização da amostra em solução. A amostra é aspirada, transformada em fino aerosol e misturada com gases combustíveis e oxidantes que produzem a chama. As finas gotículas são transportadas até a mesma, aquecidas e dessolvatadas, sendo o solvente eliminado, formando pequenas partículas de material sólido. Com mais calor, ocorre liquefação e vaporização da amostra. Neste momento, o elemento a ser analisado, também chamado 15 analito, ainda está na forma de moléculas. Aplicando-se mais energia, estas moléculas dissociam-se e transforma-se em átomos livres. O número de átomos livres no estado fundamental, formado nesta etapa, irá determinar a quantidade de radiação absorvida. A concentração da solução em análise pode ser obtida através da comparação de sua absorvância com uma solução-padrão com concentração exatamente conhecida (CIENFUEGOS & VAITSMAN, 2000). Cada elemento possui um número específico de elétrons na estrutura orbital, que está associada ao núcleo. A configuração orbital normal e mais estável de um átomo é chamada de estado fundamental. Quando se aplica certa quantidade de energia ao átomo, ela será absorvida e ocorrerá a promoção de um elétron mais externo para a configuração menos estável, conhecida como estado excitado (CIENFUEGOS & VAITSMAN, 2000). Como esse estado é instável, o átomo retorna espontaneamente ao estado fundamental, liberando energia luminosa com comprimento de onda diretamente relacionado com a transição eletrônica que ocorre. Para se dispor de átomos no estado excitado, a amostra deve ser submetida a um ambiente de alta energia térmica, com a chama ou plasma. O espectro de emissão de um elemento consiste em um conjunto de comprimentos de onda, chamados linhas de emissão, devido à natureza discreta dos comprimentos de onda emitidos. A intensidade de uma linha de emissão aumenta com o aumento do número de átomos excitados do elemento (CIENFUEGOS & VAITSMAN, 2000). No processo da absorção atômica, o átomo, no estado fundamental, absorve energia luminosa de um dado comprimento de onda, para passar ao estado excitado. Aumentando-se o número de átomos no percurso luminoso, a absorção da luz também aumenta, e por sua medida pode-se determinar a quantidade de espécie de interesse. Portanto, o uso de fontes de emissão de radiação luminosa e a seleção cuidadosa de comprimento de onda permitem a determinação de diversos elementos. Na absorção atômica a única função da chama consiste em converter o aerosol em vapor atômico, capaz de absorver luz de uma fonte primária de energia como, por exemplo, as lâmpadas de catodo oco (CIENFUEGOS & VAITSMAN, 2000). 16 2.9 Depósito de resíduos sólidos urbanos de Porto Velho - RO Até meados de 1992, a disposição final dos resíduos sólidos gerados pela população de Porto Velho era realizada em uma área distante 7 km do centro da cidade, situada à margem direita do rio Madeira. As operações no local eram realizadas sem quaisquer critérios técnicos, resultando em um verdadeiro “lixão”. Este procedimento, com passar do tempo, ocasionou um grande comprometimento ambiental da referida área. O seu posicionamento em local inadequado do ponto de vista do meio físico e do ponto de vista legal é outro fator negativo para sua utilização como área de disposição de resíduos sólidos (KREBS et al., 1999). Todos estes aspectos negativos, aliados ao fato que os vetores de expansão urbana apontavam no sentido da referida área, deram origem a conflitos de uso do solo, transtornos às comunidades vizinhas e contribuíram para a desativação das operações neste local, em 1992 (KREBS et al., 1999). Com o encerramento das atividades, procurou-se outra área que se situasse a uma distância adequada dos vetores de expansão urbana e que apresentasse características favoráveis do ponto de vista do meio físico e ambiental. Desta maneira, foi definida a atual área de disposição de resíduos sólidos do município, que está localizada a uma distância de aproximadamente 4 km do Rio Madeira e 12 km da zona urbana de Porto Velho (KREBS et al., 1999) (Figura 01). Figura 01: Vista externa do Lixão de Porto Velho/RO. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 17 A disposição do lixo urbano de Porto Velho é realizada a semelhança de vazadouro (forma de deposição do lixo, em que este é simplesmente descartado em determinado local, sem qualquer técnica ou cuidado), onde o mesmo é simplesmente jogado a margem de um vale, sendo posteriormente empurrado por um trator de esteira para dentro do mesmo. Não há qualquer preocupação em termos de recobrimento ou disposição em camadas regularmente cobertas com terra (NEUBAUER et al., 1999). O lixo é empurrado para o vale que corresponde às nascentes de um igarapé. Verificações no local indicaram que existem duas nascentes que já foram totalmente encobertas com lixo, o qual, neste local, apresenta espessura de aproximadamente 10m e largura de 100m. O chorume gerado neste depósito de lixo contamina as águas deste igarapé, desde suas áreas de nascente. As observações realizadas no local permitiram verificar que não foi efetuada nenhuma impermeabilização de fundo (selagem com material argiloso compactado e/ou mantas geomecânicas), nem colocados drenos de gases e estruturas para contenção e tratamento de chorume (KREBS et al., 1999). Esta modalidade é um dos tipos de deposição mais utilizada, devido aos custos operacionais e aos investimentos de implantação e operação serem relativamente baixos, não havendo qualquer tipo de separação entre resíduos orgânicos e inorgânicos, os quais são coletados de forma conjunta (NEUBAUER et al., 1999). A composição do lixo urbano de Porto Velho apresenta sua maior fração constituída por matéria orgânica, atingindo 50,7% de material reciclável e 40% de material considerado rejeito (Porto Velho apud NEUBAUER et al., 1999) (Figura 02). Dentro da área de domínio do depósito e próximo às áreas de disposição, está inserida a Vila Princesa (uma distância de 1 km) a qual foi formada logo após a mudança do antigo “lixão”. A população que reside na Vila é formada, principalmente, por migrantes, com baixa escolaridade e, conseqüentemente, com profissões que proporcionam baixa renda, sendo em média cinco pessoas por moradia. Os primeiros catadores que residem na Vila Princesa moravam, anteriormente, no centro urbano de Porto Velho e trabalhavam no antigo “lixão”, localizado na Estrada do Santo Antônio a 7 quilômetros do centro. Como essas pessoas trabalhavam catando e vendendo materiais para reciclagem, também já no antigo “lixão”, e esse se deslocou para uma área fora do perímetro urbano, essas pessoas viram-se obrigadas a mudarem para as proximidades do mesmo. Essa mudança de local do “lixão” ocorreu em razão do mau gerenciamento do lixo e de sua destinação, comprometendo a qualidade ambiental do local (COSTA, 2001). 18 Com relação ao abastecimento de água, 100% dos moradores utilizam, hoje, água de um poço tubular construído em 2001. Cabe salientar que duas residências possuem poços tipo “amazonas”. Porém nem sempre o abastecimento de água dá-se desta forma, em situações semelhantes, com informa NEUBAUER (1999): “A água consumida em 95% das moradias provém de fontes existentes nas proximidades, ou da chuva. O restante utiliza água do Clube dos Trinta” (que fica próximo da Vila princesa). Segundo informações da empresa responsável pelo saneamento básico em Porto Velho – CAERD (Companhia de Águas e Esgoto de Rondônia), apenas 60% da população da capital recebe água tratada, restando aos demais à utilização de poços escavados tipo “amazonas”, os quais atingem a água do primeiro lençol freático. É importante salientar que as pessoas que trabalham no “lixão” e residem na Vila possuem uma função muito importante no que se refere à reciclagem e, conseqüentemente, ao reaproveitamento de diversos materiais, diminuindo em parte a degradação ambiental. Porém deve-se deixar claro que essas pessoas trabalham sem nenhum tipo de máscara, luva ou botas, para proteger-se da contaminação, à qual estão expostos nesse local, pois ali é depositado tanto o lixo doméstico e comercial, quanto o lixo hospitalar do município de Porto Velho (COSTA, 2001). Figura 02: Vista do Lixão, obtida de uma estrada lateral de acesso. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 19 O atual depósito de lixo situa-se no km 13 da BR-364, à direita da referida rodovia, no sentido Porto Velho - Rio Branco. As coordenadas da entrada do depósito (balança), medidas com GPS são 851.005 x 6.356.557 (KREBS et al., 1999). Como premissa básica, deve-se sempre levar em consideração a importância das características do meio físico da área para se avaliar os impactos que esta atividade causa ao meio ambiente e à saúde das comunidades que habitam os entornos do depósito. No local ocorrem latossolos espessos, com horizonte concrecionário colunar, desenvolvidos sobre sedimentos argilo-arenosos. Estes solos, mesmo sendo dominantemente argilosos, devido à sua estruturação interna, são bastante permeáveis. Por outro lado, esta estruturação confere-lhes uma baixa suscetibilidade aos processos erosivos. Nos vales próximos, de acordo com o Mapa Geológico (ADAMY & ROMANINI, 1990), ocorrem rochas graníticas relacionadas ao Proterozóico Médio (granitos do tipo Santo Antônio). Do ponto de vista geomorfológico, a área apresenta um relevo moderadamente ondulado, constituído por colinas, cujas cotas mais elevada situam-se em torno de 130m. O local onde se situa o depósito corresponde a um pequeno divisor de águas, com geometria alongada em forma de tabuleiro, intensamente dissecada pelas drenagens. Nas encostas deste tabuleiro, ocorrem várias nascentes que dão origem aos pequenos cursos de água que deságuam no igarapé Mato Grosso, e este segue em sentido ao Rio Madeira. No entorno do depósito ainda existe floresta nativa, onde ocorrem árvores de grande porte. A área total disponível é de 51 ha, já tendo sido ocupados cerca de 40 ha. O lote de terras faz parte da Gleba Garças, que se constitui de terras devolutas arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, no ano de 1972 (KREBS et al, 1999). A disposição inadequada dos resíduos sólidos leva à contaminação do solo pela infiltração do chorume. O chorume (lixiviado ou percolado) apresenta elevadas concentrações de matéria orgânica, bem como substâncias inorgânicas, tais como metais pesados. O caráter ácido dos solos da região permite que o chorume, juntamente com a água da chuva, transporte elementos orgânicos e inorgânicos. Esta contaminação pode atingir as águas subterrâneas e, consequentemente, a população. 20 3 OBJETIVOS 3.1 Geral Avaliar alguns parâmetros de potabilidade e balneabilidade das águas subterrâneas e superficiais no entorno ao depósito de resíduos sólidos urbanos do município de Porto Velho-RO. 3.2 Específicos • Analisar parâmetros físico-químicos e bacteriológicos dos cursos d’água na área de estudo. • Determinar as concentrações de metais pesados metais (Cd, Cu, Cr, Ni, Zn, Pb, Co e Mn) em águas superficiais e subterrâneas. • Comparar a qualidade da água disponibilizada à comunidade da Vila Princesa, frente aos padrões estabelecidos pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, Resolução nº.357, de 17 de março de 2005, Resolução nº.274 de 29 de novembro de 2000 e do Ministério da Saúde – MS, Portaria nº. 518, de 25 de março de 2004. 21 4 METODOLOGIA 4.1 Delineamento da pesquisa Esta pesquisa constitui-se num estudo transversal, definido como um estudo no qual as observações ou mensurações das variáveis de interesse são feitas simultaneamente, de forma que os dados obtidos representam uma “radiografia” de uma determinada situação, em um dado momento (Forattini, 1992, Perreira, 1995). Deste modo, esta investigação trata da avaliação dos níveis de metais, teste bacteriológico e parâmetro físico - químico na área do depósito de lixo urbano de Porto Velho-RO, no ano de 2009. Visando o alcance dos objetivos traçados para esta investigação, foi elaborada uma metodologia que envolveu um conjunto de procedimentos que se iniciaram com a delimitação do local do estudo, a escolha dos instrumentos e preparação dos materiais para coleta, prosseguindo com a demarcação dos pontos para coleta das amostras, adoção de técnicas analíticas, validação dos métodos, além do tratamento estatístico dos dados levantados. As variáveis estudadas constituíram-se pelos metais: cádmio, cobre, cromo, níquel, zinco, chumbo, cobalto e manganês, parâmetros físico - químicos (pH e condutividade elétrica) e coliformes fecais (E. coli) e não fecais, presente nas matrizes: água superficial e subterrânea. 4.2 Reagentes e soluções Todas as soluções foram preparadas com reagentes de grau analítico e água deionizada de alta pureza e purificada através do sistema Milli-Q plus (Milipore). O ácido nítrico (HNO3 a 70%) e ácido clorídrico (HCl a 37%) empregado foi da Merck e Spectrum, respectivamente. As soluções padrões de 1000 ppm de Cu, Cd, Co, Pb, Ni , Cr, Mn e Zn e o meio de cultura Chromocult Coliform Ágar empregados foram da Merck. 22 4.3 Equipamentos Os equipamentos utilizados foram os seguintes: para demarcação dos pontos utilizou-se um receptor de GPS (Sistema de Posicionamento Global), modelo GARMIN’XL 12. Nas análises físico-químicos empregou-se o pHmetro da SCHOTTHANDYLAB digital para as medidas de pH e o condutivimetro da SCHOTT–HANDHELD CONDUCTIVITY METER – HANDYLAB, modelo LF1, para as medidas de condutividade elétrica. O espectrofotômetro de absorção atômica modelo Avanta da GBC foi empregado na determinação de metais pesados. 4.4 Pontos de amostragem Para a realização deste trabalho, estabeleceu-se cinco pontos amostrais (Figura 04 a 08), sendo dois pontos de igarapés (Figura 04 e 05) e três pontos de poços um tipo tubular e dois tipos amazonas (Figura 06 a 08). A localização geográfica (Tabela 02) de cada ponto amostrado foi determinada, por GPS Em todos os pontos selecionados para amostragens da água, foram medidos, in loco, os seguintes parâmetros físico-químicos: pH e Condutividade elétrica. Tabela 02: Localização dos pontos de coleta de água entorno do lixão urbano de Porto Velho-RO, coletadas em abril de 2009. Amostras Coordenadas Local de referência ______________________ S W P 01 08°50’44.0 063°56’24.7 Igarapé P 02 08°50’46.5 063°56’32.2 Igarapé P 03 08°50’57.9 063°56’25.6 Poço tubular P 04 08°51’01.8 063°56’27.6 Poço amazonas P 05 08°51’03.4 063°56’25.7 Poço amazonas 23 24 Figura 03: Mapa de localização da área e os pontos (P 01 a P 05) de coletas das amostras. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 4.4.1 Mapa da área de estudo 4.4.2 Descrição dos pontos amostrados A coleta foi realizada em abril de 2009 (período chuvoso). Foram coletadas amostras em 05 pontos: • Ponto 01: “Bica do Paulista” - igarapé que nasce antes do lixão. Atravessa a Br 364 e deságua no igarapé Mato Grosso, o qual segue em direção ao Rio Madeira (Figura 04). Figura 04: Igarapé Bica do Paulista. Fonte: Biogeoquímica, 2009. • Ponto 02: “Igarapé do Lixão”, nasce debaixo do lixão (10 m abaixo do nível do solo do Lixão) e deságua no igarapé Mato Grosso seguindo em direção ao Rio Madeira (Figura 05). 25 Figura 05: Igarapé do Lixão. Fonte: Biogeoquímica, 2009. • Ponto 03: Poço tubular, que se encontra na parte central da Vila Princesa (inserida a uma distância de 1 km do lixão), possui 56 metros de profundidade e foi perfurado no ano de 2001 (Figura 06). Figura 06: Poço tubular. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 26 • Ponto 04: Poço tipo amazonas, que se encontra em uma residência da Vila Princesa (próximo ao lixão), possui 20 metros de profundidade (Figura 07). Figura 07: Poço tipo amazonas. Fonte: Biogeoquímica, 2009. • Ponto 05: Poço tipo amazonas, que se encontra em outra residência da Vila Princesa (próximo a Br 364), possui 19 metros de profundidade (Figura 08). Figura 08: Poço tipo amazonas. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 27 4.5 Coleta e conservação das amostras Para a análise de metais pesados, todos os materiais utilizados para coleta e acondicionamento eram de polietileno e foram previamente submergidos em solução de ácido nítrico (HNO3) por 24hs, para a eliminação de metais interferentes (VARIAN, 1988; APHA, 1998; VOEGBORLO et al., 1999) e, posteriormente, enxaguados com água MILLI-Q. Foram coletados em cada ponto 5L de água e adicionado ácido nítrico (HNO3) (Figura 09). Figura 09: Acondicionamento das amostras em garrafas de polietileno. Fonte: Biogeoquímica, 2009. Para a análise bacteriológica, foi utilizado frasco âmbar (Figura 10), previamente esterilizado. As amostras foram armazenadas numa caixa de isopor, contendo gelo para manter a preservação bacteriológica até a análise. 28 Figura 10: Amostras em frasco âmbar previamente esterilizado. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 4.6 Curva de calibração dos metais pesados Os metais pesados nas amostras foram quantificados a partir das curvas de calibração de cada elemento. Na Figura 11 é apresentada a curva de calibração do cobalto. As soluções padrões foram obtidas por diluição dos padrões de 1000 mg L-1 de metais pesados. Os intervalos de concentração, equação da reta e o coeficiente de correlação usados na quantificação dos elementos químicos das amostras de água são apresentados na Tabela 03 e estão dentro do intervalo ótimo de utilização do equipamento de espectrometria de absorção atômica. 29 0,22 0,20 0,18 Abs 0,16 0,14 0,12 -2 0,10 Y= 2,35.10 + 0,10176X r= 0,99811 0,08 0,06 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 1,8 2,0 Cadmio / ppm Figura 11: Curva de calibração do elemento químico Cádmio (Cd). 0,018 0,016 0,014 Abs 0,012 0,010 0,008 -4 Y = 1,5405410 + 0,00592X R = 0,99938 0,006 0,004 0,002 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Chumbo / ppm Figura 12: Curva de calibração do elemento químico Chumbo (Pb). 30 0,10 0,08 abs 0,06 0,04 0,02 -3 Y= 1,35.10 + 0,02835X r= 0,99989 0,00 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Cobalto / ppm Figura 13: Curva de calibração do elemento químico Cobalto (Co). 0,14 0,12 0,10 Abs 0,08 0,06 0,04 -5 Y = 3,4090910 + 0,04197X R = 0,99902 0,02 0,00 -0,02 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 Cobre / ppm Figura 14: Curva de calibração do elemento químico Cobre (Cu). 31 0,16 0,14 0,12 Abs 0,10 0,08 0,06 -3 0,04 Y= 2,83.10 + 0,0127X r= 0,99821 0,02 0,00 0 2 4 6 8 10 12 Cromo / ppm Figura 15: Curva de calibração do elemento químico Cromo (Cr). 0,25 0,20 Abs 0,15 0,10 -3 Y= 2,88.10 + 0,0602X r= 0,99945 0,05 0,00 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 Manganês / ppm Figura 16: Curva de calibração do elemento químico Manganês (Mn). 32 0,16 0,14 0,12 Abs 0,10 0,08 0,06 -3 Y= 1,32.10 + 0,03126X r= 0,99985 0,04 0,02 0,00 0 1 2 3 4 5 Níquel / ppm Figura 17: Curva de calibração do elemento químico Níquel (Ni). 0,55 0,50 Abs 0,45 0,40 0,35 -1 Y= 1,07.10 + 0,28383X r= 0,99821 0,30 0,25 0,6 0,8 1,0 1,2 1,4 1,6 Zinco/ pppm Figura 18: Curva de calibração do elemento químico Zinco (Zn). 33 4.7 Extração química para a determinação de metais pesados Foram realizadas as digestões ácidas para abertura das amostras para a análise de metais, de acordo com APHA (1992), sendo feitas adaptações no Laboratório de Biogeoquímica Ambiental – Universidade Federal de Rondônia/Unir (Figura 19). A análise iniciou-se com a transferência de 1L da amostra preservada para um becker. Adicionou-se 5mL de ácido nítrico (HNO3), levou-se as amostras à chapa aquecedora. Deixou-se evaporar até quase secar (redução de volume até aproximadamente 20mL) e colocou-se 3mL de ácido clorídrico(HCl), deixando reduzir o volume até aproximadamente 10mL. Depois de evaporado, foi ressuspenso com 10mL de ácido clorídrico (HCl 0,1 mol L-1), acondicionado em tubos de teflon (Figura 20). Após a calibração do equipamento de absorção atômica foram analisados os metais nas amostras de água (Figura 21). Cada metal foi analisado segundo suas curvas de calibração com os seguintes limites de detecção apresentados na Tabela 04. Tabela 03: Limites de Detecção da Técnica (LDT) para cada elemento analisado. LDT Cd mg L-1 Co mg L-1 Cr mg L-1 Cu mg L-1 Pb mg L-1 Ni mg L-1 0,01 0,01 0,01 0,38 0,01 0,01 Mn mg L-1 0,01 Zn mg L-1 0,01 Para métodos que empregam uma curva analítica, o limite de detecção é definido como a concentração analítica que gera uma resposta com um fator de confiança. 34 Figura 19: Extração química das amostras para a determinação de metais pesados. Fonte: Biogeoquímica, 2009. Figura 20: Acondicionamento das amostras em tubos de teflon. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 35 Figura 21: Espectrofotômetro de absorção Atômica por chama. Fonte: Biogeoquímica, 2009. Para o controle de qualidade do processo analítico, as amostras foram analisadas em triplicadas e acompanhas de três brancos (controles), o qual se pode subtrair as contaminações do ambiente de trabalho e dos reagentes utilizados nas extrações químicas. 4.8 Análise bacteriológica Para a análise bacteriológica, foi utilizada a técnica de membrana filtrante e o meio de cultura Chromocult Coliform Ágar por ser um meio simples, econômico, e por apresentar resultados rápidos (Figura 22). O Chromocult é uma combinação de dois substratos cromogênicos (Salmon – Gal e X – glicuronídeo – subtratos enzimáticos sintéticos) que possibilita a detecção de coliformes totais e fecais (E. coli), em uma mesma placa, que é diferenciada pela cor. O meio de cultura Chromocult Coliform Ágar é aprovado e certificado pelo USEPA (United States Environmental Protection Agency - USEPA, 2009). 36 Figura 22: Método de membrana filtrante. Fonte: PRO-ANALISE, 2009. No laboratório a análise se iniciou com a diluição de 100 vezes, o qual uma alíquota 1mL da amostra aferindo a 100mL de água deionizada estéril (previamente autoclavada), passando em seguida pelo processo de filtração através da membrana filtrante de acetato de celulose quadriculada (Millipore) de 0,45μm de porosidade (Figura 23). A seguir, as membranas foram colocadas sobre o meio de cultura chromocult. As placas foram incubadas a 35ºC por 24h. Foi observada a presença de coliformes (colônias rosa/lilás) e de coliformes fecais (E. coli) (colônias violetas/pretas), expressando-se o resultado em número mais provável (NMP/100 mL) de amostra (Figura 24). A partir da contagem destas colônias, foi calculado a densidade de coliformes presentes na amostra e multiplicando pelo fator de diluição (100/mL). O número de coliformes totais foi determinado pela somatória das colônias rosa/lilás e violetas/pretas (CETESB, 1987). 37 Figura 23: Procedimento membrana filtrante. Fonte: PRO-ANALISE, 2009. Figura 24: Placa com colônias de coliformes fecais (E. coli) e coliformes não fecais. Fonte: Biogeoquímica, 2009. 38 4.9 Análise dos dados Após a obtenção dos dados, estes foram digitados em planilhas Excel e a partir deles organizou-se matrizes de dados a partir da coleta, considerando-se as variáveis físicoquímicas (condutividade elétrica e pH) para o ambiente lótico; e variáveis geoquímicas da água superficial e subterrânea (Cd, Co, Cu, Cr, Pb, Mn, Ni e Zn) e testes bacteriológicos. Para a análise de dados das curvas de calibração linear, utilizou-se o programa Origin (Data Analysis Technical Graphics) versão 6.0. Os mapas foram confeccionados no Laboratório de Biogeoquímica Ambiental Wolfgang Cristian Pfeiffer, utilizando a Base Cartográfica da SEDAM (2002) e imagens de alta resolução de 2006 obtidas pelo programa Google Earth. Estas imagens foram georreferenciadas no programa Global Mapper, versão 5.09 e o mapa foi elaborado no programa ArcMap 9.2. 39 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 Parâmetros físico-químicos 5.1.1 Condutividade elétrica Os resultados obtidos da condutividade elétrica encontram-se expostos na Figura 25. Observa-se que a condutividade se mostrou muito elevado no ponto 02. A grande incidência da condutividade pode estar relacionada com a dissolução de ácidos carbônicos, fúlvicos, húmicos e carbonatos resultantes da oxidação da matéria orgânica na vazante, enquanto que no período de cheia se justifica pela elevada lixiviação de sólidos em suspensão com grandes quantidades de íons e influência do chorume, que é impactante. Figura 25: Condutividade elétrica, nos pontos amostrados. Nos estudos realizado por Santos (2006), a condutividade elétrica do chorume da lixeira urbana de Porto Velho-RO, apresentou uma média de 5526,00 µS/cm (nos períodos de chuva e seca), sendo considerado bastante alto, se comparado ao valor obtido por Sisinno & Moreira (1996), no aterro controlado do Morro do Céu-RJ, de 6,20 µS/cm, indicando provável carga de compostos orgânicos e inorgânicos transportada. 40 5.1.2 Potencial Hidrogeniônico (pH) Por influir em diversos equilíbrios químicos que ocorrem naturalmente, o pH é uma variável importante do ponto de vista ambiental. A influência do pH sobre os ecossistemas aquáticos naturais dá-se diretamente devido a seus efeitos sobre a fisiologia das diversas espécies. Também o efeito indireto é muito importante, podendo, determinadas condições de pH contribuir para a precipitação de elementos químicos tóxicos, como metais pesados; outras condições podem exercer efeitos sobre as solubilidades de nutrientes. Os resultados obtidos de pH encontram-se expostos na Figura 26, onde se observa que o pH variou entre 4,08 a 6,26. Figura 26: Variação do pH entre os pontos amostrados. De acordo com Segato & Silva (2000), valores altos de pH são características de um chorume mais antigo, que se encontra na fase metanogênica. Nesta fase, organismos estritamente anaeróbios decompõem os produtos da fermentação ácida (CO2, H2 e ácidos graxos menores) e os convertem em CH4, substâncias húmicas e água. Tais substâncias húmicas são responsáveis pela coloração parda encontrada no lixiviado o qual foi observado no P02 (Figura 05 e Figura 26). 41 5.1.3 Coliformes fecais e coliformes não fecais Os resultados de coliformes fecais (E. coli) foram maiores no ponto 02, conforme a Figura 27. Figura 27: Números de coliformes fecais (E. coli) das amostras. Os coliformes fecais (E. coli) fora do seu “habitat natural”, o intestino de animais homeotermos, causa grandes danos quando em contato com outras regiões internas do corpo (infecção urinária de alta patogenicidade). A predominância desse grupo se deve à evasão de excretas pelas águas das chuvas e pela lixiviação que possui alto teor contaminante. No igarapé do lixão (P02), os coliformes fecais (E. coli) apresentaram níveis altos de 30000 NMP/100mL, portanto, não se enquadram na categoria de satisfatório dos padrões de balneabilidade da resolução CONAMA nº. 274, de 29 de novembro de 2000, Tabela 04. 42 Tabela 04: Padrões de balneabilidade através da resolução CONAMA nº. 274, de 29 de novembro de 2000. Categorias Coliformes fecais (E. coli) NMP/100 mL Excelente até 250 Muito boa até 500 Satisfatória até 1000 Imprópria > 2500 Referente aos poços, todas as amostras coletadas nos pontos P03, P04 e P05 apresentaram-se acima do permitido do padrão de potabilidade recomendado pela Portaria nº. 518, de 25 de março de 2004, do Ministério da Saúde (Tabela 05). Tabela 05: Padrões de potabilidade para águas subterrâneas, conforme resolução nº. 518, de 25 de março de 2004. Coliformes fecais (E. coli) NMP/100 mL Portaria nº. 518/2004 ausente A presença de coliformes fecais é um fato preocupante, uma vez que a água proveniente destes poços é utilizada pela população da Vila Princesa. A presença de coliformes pode estar associada à limitação do poder filtrante do solo. Os resultados de coliformes não fecais foram maiores nos pontos 01 e 02, como mostra a Figura 28. Os coliformes não fecais apresentam uma estrutura diferente, pois estão presentes no solo, na vegetação e ainda podem ser encontrados entericamente. Este grupo de 43 bactérias obteve um valor significativo, caracterizando a freqüência de Proteus e Serratia. No período de cheia, a grande presença destas bactérias se deve à lixiviação de matéria orgânica e inorgânica do solo pelas águas das chuvas em direção ao corpo d’água. Figura 28: Números de coliformes não fecais das amostras. Observando as Figuras 06, 07 e 08, nota-se que não há muito cuidado em relação à limpeza em redor dos pontos P03, P04 e P05, os quais apresentam cobertura inadequada (com exceção P03). Portanto, estão mais susceptíveis à contaminação oriunda da região. Contudo, não se excluem problemas de má construção e conservação dos poços como outros fatores que podem estar influenciando a composição das águas. Nas Tabelas 06 e 07 são apresentados os resultados das análises feitas no presente trabalho e os que foram feitas pela Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (CAERD), em água dos poços, nascentes e igarapés, localizados no depósito de lixo de Porto Velho-RO (COSTA & MALAGUTTI, 2008). 44 Tabela 06: Resultados das análises físico-químicos e bacteriológicos das amostras de água dos poços e igarapés, localizados no depósito de lixo de Porto velho-RO, 2009. Parâmetro pH Condutividade Coliformes fecais Unidades Igarapés ________________ P 01 P 02 Poços __________________ P 03 P 04 P 05 __ 5,60 6,26 4,08 4,20 4,22 µ S/cm 8,80 437,00 39,00 27,00 31,00 500 30000 133 833 250 NMP/100 mL P 03: poço tubular ; P 04: poço amazonas ;P 05: poço amazonas __ sem unidade. Tabela 07: Resultados das análises físico-químicos e bacteriológicos das amostras de água dos poços e nascentes, localizados no depósito de lixo de Porto Velho-RO obtidos pelos autores COSTA & MALAGUTTI, 2008. Parâmetro pH Condutividade Coliformes fecais Unidades Nascentes _______________ NS1 NS2 Poços __________________ P 03 P 04 P 05 __ 4,54 6,89 5,39 4,80 4,74 µ S/cm 92,6 1114 21,1 16,3 18,6 1500 900 ** 1700 800 NMP/100 mL P 03: poço tubular; P 04: poço amazonas; P 05: poço amazonas __ sem unidade. ** ausente. Comparando os resultados obtidos em 2008 (Tabela 07) e 2009 (Tabela 06) pode-se observar que houve um aumento dos valores de condutividade elétrica nos poços. Esse aumento da condutividade elétrica está relacionado com a contaminação dos mesmos. Porém, nas águas superficiais das nascentes apresentaram maiores valores de condutividade elétrica do que dos igarapés. Em 2008, no poço P03, foi observado ausência de coliformes fecais (E. coli), entretanto, em 2009, pode-se observar quantidade elevadas de coliformes fecais (133 NMP/100mL). De acordo com a portaria 518 do Ministério da Saúde, as águas para o consumo, não pode ter presença de coliformes fecais. 45 De acordo com Costa & Filho (2008), a contaminação das águas da nascente e dos poços não pode ser atribuída exclusivamente à ação do chorume, mas aos objetos de rede de esgotos, a grande quantidade de fossas sépticas próximas e às infiltrações das águas superficiais no solo contaminado. Esses resultados evidenciam o risco à saúde que esse tipo de fonte pode representar, caso não sejam aplicadas medidas visando ao tratamento e à preservação da qualidade microbiológica da água. Acredita-se, portanto, que o desenvolvimento de um trabalho de educação sanitária para a população, a adoção de medidas preventivas visando à preservação das fontes de água e o tratamento das águas já comprometidas, aliados às técnicas de tratamento de dejetos, podem servir como ferramentas necessárias para diminuir ao máximo o risco de ocorrência de enfermidades de veiculação hídrica. 5.1.4 Metais pesados Os resultados (média e desvio padrão) das amostras e os valores máximos permissíveis pela Resolução nº. 357, de 17 de Março de 2005 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) (Tabelas 08 e 09). Tabela 08: Valores máximos permitidos para os elementos químicos pela resolução nº. 357, de 25 de março de 2005 (CONAMA). CONAMA (Cd) (Co) (Cu) Elementos (mg/L) (Cr) (Pb) (Mn) (Ni) (Zn) 0,001 0,05 0,009 0,05 0,025 0,18 0,01 0,1 46 Tabela 09: Concentração dos metais pesados do Lixão de Porto Velho-RO. AMOSTRAGEM Elementos (mg/L) P 01 P 02 P 03 P 04 P 05 Cd <LDT <LDT <LDT <LDT <LDT Co <LDT 1,00 ± 0,08 <LDT <LDT <LDT Cu <LDT 1,68 ± 0,24 2,30 ± 0,19 0,77 ± 0,00 0,48 ± 0,16 Pb 0,52 ± 0,08 1,44 ± 0,45 0,15 ± 0,14 <LDT <LDT Cr <LDT <LDT <LDT <LDT <LDT Mn 5,06 ± 0,13 366,08 ± 43,28 0,70 ± 0,32 <LDT 1,16 ± 0,07 Ni 0,73 ± 0,03 2,79 ± 0,17 0,97 ± 0,17 0,78 ± 0,26 0,66 ± 0,31 Zn 1,13 ± 0,04 6,31 ± 0,61 3,72± 1,01 1,32 ± 0,19 0,78 ± 0,86 <LDT: Menor que o limite de detecção da técnica. Pode-se verificar na Tabela 09, que foram detectados os metais pesados Co, Cu, Pb, Mn, Ni e Zn , porém as concentrações encontradas estão acima dos padrões estabelecidos pelo CONAMA, como observado. Com o aumento da pluviosidade, os elementos químicos tendem a tornar-se mais disponíveis no solo, além disso, o chorume torna-se mais abundante e acaba carregando esses elementos com maior intensidade. Os valores de Cd e Cr de todas as amostras encontram-se abaixo do limite de detecção da técnica utilizada. As baixas concentrações desses íons metálicos podem ser atribuídas á baixa solubilidade dos mesmos, nas condições prevalentes, tais como pH ácido, elevado teor de matéria orgânica, redução de sulfato, uma vez que podem precipitar como hidróxidos e/ou com sulfetos, aos mecanismos de retenção pelo solo, sedimentos e material em suspensão, a complexação dos metais com a matéria orgânica (BUSCHINELLI apud SISINNO & MOREIRA, 1996). Como pode ser observado, a amostra do P02 apresentou as maiores concentrações (exceto Cd e Cr), sendo que Co, Cu, Pb, Mn, Ni e Zn excederam todos os limites estabelecidos pelo CONAMA. As demais amostras dos pontos P01, P03, P04 e P05 47 apresentaram valores menores de concentração desses elementos (exceto Cd e Cr), entretanto excederam todos os limites estabelecidos pelo CONAMA. Os elementos Mn e Zn tiveram as maiores concentrações acima do limite tolerável de 0,1 e 0,18 mg/L, respectivamente. As concentrações de Zn podem estar relacionadas com a presença de materiais de borracha e pilhas observado em campo, na área ativa do lixão. O caso do Mn pode estar relacionado a processos biogeoquímicos do solo, mas nesse caso é provável que esteja associada também à contaminação oriunda de materiais que contém esse elemento, já que esse metal atingiu concentrações de 366,08 mg/L durante esse período. As principais fontes de Mn, dispostas no lixo, que contribuem para o aumento de suas concentrações, são as pilhas comuns e alcalinas e as lâmpadas fluorescentes. O cobre apresenta-se em quantidades importantes em metais ferrosos, restos de materiais eletrônicos, latas, tampas de garrafas e fios elétricos. Em muitas situações, os catadores de lixo queimam os fios para retirar o cobre neles contido, o que acaba disponibilizado partículas do mesmo para o solo. O Pb manifesta-se também em metais ferrosos e é muito utilizado na indústria de tintas, pintura em cerâmica e soldagem, latas de estanho, tubos de creme dental, pilhas e baterias (SEGATO & SILVA, 2000). De acordo com Santos (2006), ao comparar os resultados obtidos no seu trabalho (análise do chorume da Lixeira Urbana de Porto Velho-RO), com os resultados de Sisinno & Moreira, observou que as concentrações médias (exceto para Cd e Co) totais de metais foram maiores no chorume do lixão de Porto Velho-RO, do que aqueles encontrados no aterro sanitário do Morro do Céu-RJ. A tendência natural do chorume através do processo de lixiviação, é de se concentrar na parte inferior do depósito (o que acontece no lixão). O solo deve atuar como um filtro, sendo indispensável sua baixa permeabilidade á medida em que o chorume se movimenta através dele, para reduzir seu poder contaminante. O solo onde está instalada a lixeira pública de Porto Velho apresenta alta permeabilidade tendo como principais litologias os lateritos e a formação Jaci Paraná, que apresentam esta particularidade. Sendo assim, levando-se em consideração a necessidade de baixa permeabilidade do solo para uma deposição de resíduos mais segura as características das litologias presentes na área de estudo e os resultados obtidos neste estudo considera-se que o lugar utilizado para deposição de lixo não é adequado para a finalidade a que se destina (NEUBAUER et al., 1999). 48 6 CONCLUSÕES A informação gerada traz novos conhecimentos sobre a situação ambiental da área estudada, no que se refere à presença de metais e coliformes fecais, trazendo subsídios para ações político-administrativas municipais. - As concentrações de metais (Co, Cu, Pb, Mn, Ni e Zn), tanto na água superficial e subterrânea, apresentaram valores inadequados de concentrações . - A condutividade elétrica e análise bacteriológica mostraram-se significativas no ponto mais próximo ao lixão. Os resultados demonstraram que a água do igarapé está sendo contaminada por coliformes fecais (E. coli) e coliformes totais. O número mais provável (NMP/100mL) de coliformes fecais ultrapassou a categoria de satisfatória para balneabilidade (CONAMA, 2005) e dos padrões de potabilidade (Ministério da Saúde, 2004). Os resultados obtidos nesse estudo, indicam a necessidade de dar continuidade ao monitoramento nesses corpos d’água. Fica evidente que o referido local não é adequado, considerando-se os critérios constantes na legislação Ambiental Federal, no que se refere à distância de corpos d’água. Além disso, o tipo de solo que ocorre na área é permeável e permite a infiltração do chorume no substrato. Nestas análises, foi possível alcançar os objetivos traçados inicialmente, sendo caracterizados os níveis de metais pesados, testes bacteriológicos e parâmetros físicoquímicos em uma matriz ambiental (água) na área no entorno do Lixão Urbano de Porto Velho-RO. . 49 7 REFERÊNCIAS APHA, AWWA & WPCF. Métodos normalizados, para el analisis de águas potables y residuales. ed. 17ª. 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PONTOS 56 S W CONDUTIVIDADE ELÉTRICA/µScm-1 pH P 01 08°50’44.0 063°56’24.7 8,80 5,60 P 02 08°50’46.5 063°56’32.2 437,00 6,26 P 03 08°50’57.9 063°56’25.6 39,00 4,08 P 04 08°51’01.8 063°56’27.6 27,00 4,20 P 05 08°51’03.4 063°56’25.7 31,00 4,22 COLIFORMES FECAIS/100ml 300 500 700 25000 30000 35000 100 100 200 700 1000 800 400 100 000 COLIFORMES NÃO FECAIS/100ml 9000 8300 7000 11800 11500 8900 100 100 100 1500 1500 1700 1000 300 900 COLIFORMES TOTAIS/100mL 9300 8800 7700 36800 41500 43900 200 200 300 2200 2500 2500 1400 400 900