DIABETES E AMILOIDOSE

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ANO LECTIVO DE 2004/05
ANATOMIA PATOLÓGICA GERAL - BIOPATOLOGIA
DIABETES E AMILOIDOSE
A designação diabetes mellitus abrange diversas doenças que têm a hiperglicemia
como característica comum. As mais frequentes são a diabetes tipo 1 (correspondendo a
5-10% dos casos) e a diabetes tipo 2 (que inclui cerca de 80% dos casos).
A diabetes tipo 1 (antigamente também designada como diabetes juvenil ou insulinodependente) resulta duma insuficiência/ausência de produção de insulina, tendo como
mecanismo patogénico mais comum a destruição das células  do pâncreas endócrino
por fenómenos imunológicos, geralmente de natureza auto-imune.
Na diabetes tipo 2 (anteriormente designada como diabetes do adulto ou não- insulinodependente) há também alterações na produção de insulina (embora mais de carácter
qualitativo do que quantitativo), mas o defeito fundamental reside na “resistência à
insulina”, ou seja, na deficiente resposta à insulina por parte dos tecidos periféricos
encarregados da sua metabolização.
Sejam quais forem os mecanismos envolvidos na patogénese da diabetes, o défice
absoluto ou relativo de insulina vai condicionar alterações do metabolismo de hidratos
de carbono, lipídeos e proteínas. Daqui resultam as complicações responsáveis, a longo
prazo, pela elevada morbilidade e mortalidade dos doentes diabéticos. Estas
complicações caracterizam-se por: lesões vasculares (em pequenos e grandes vasos
arteriais, estes com aterosclerose acelerada), renais e neurológicas. Os diabéticos têm,
também, uma maior susceptibilidade às infecções.
Para ilustrar as complicações resultantes da diabetes escolhemos o seguinte
Caso clínico-patológico (exame necrópsico): Homem de 65 anos com diabetes mellitus
tipo 2 desde há 20 anos. Estava em hemodiálise por insuficiência renal crónica desde há
vários anos. Apresentava, ainda, perturbações da visão por retinopatia diabética. Cerca
de 15 dias antes da morte, iniciou quadro “séptico”, com pneumonia e infecção urinária.
A situação foi “complicada” por um enfarte do miocárdio que causou a morte do
doente.
Doc 1 (Histologia): Artéria coronária com placa de ateroma circunferencial
Doc 2 (Histologia): Coração com enfarte recente – necrose de coagulação do miocárdio
Doc 3 (Histologia): Rim com nefrosclerose diabética – glomerulosclerose nodular e
arteriolosclerose hialina. Observe, ainda, lesões de pielonefrite crónica.
A amiloidose compreende um grupo heterogéneo de doenças que têm em comum o
depósito de substância amiloide em múltiplos órgãos. Designa-se por amiloide um
conjunto de proteínas de composição química variada (ver adiante), mas que apresentam
idêntico aspecto morfológico (em microscopia óptica e electrónica) e são bi-refringentes
em microscopia de luz polarizada após coloração pelo vermelho do Congo. A
amiloidose pode ser sistémica (envolvimento multivisceral) ou localizada a um órgão.
Há numerosos tipos químicos de amiloide. Os mais comuns são constituídos pelas
proteínas AL (amyloid-light chain) e AA (amyloid-associated). A proteína AL é
formada por cadeias leves de imunoglobulinas, e aparece em situações em que há
proliferação de células produtoras de imunoglobulinas (neoplasias de plasmócitosplasmocitoma/mieloma, e neoplasias de linfócitos B- linfomas B). A proteína AA
deriva duma proteína sérica que aparece em situações de inflamação crónica prolongada
(por exemplo, na artrite reumatóide).
Algumas formas da doença são hereditárias/familiares destacando-se, em Portugal, a
Polineuropatia Amiloidótica Familiar (PAF), descrita e estudada pela primeira vez por
Corino de Andrade em pescadores do norte do país. Trata-se duma doença com
hereditariedade autossómica dominante em que a substância amiloide se deposita
preferencialmente em nervos periféricos e do sistema nervoso autónomo. A proteína
amiloide é, neste caso, uma forma mutada de transtirretina (sendo esta uma proteína
sérica normal que transporta tiroxina e retinol).
Caso clínico-patológico (exame necrópsico): Mulher de 32 anos com PAF
diagnosticada na adolescência. Dados semiológicos mais relevantes: alterações da
sensibilidade dos membros inferiores, que levaram a múltiplas lesões traumáticas;
perturbações do trânsito intestinal, com diarreias abundantes; insuficiência renal crónica
necessitando de hemodiálise. Tinha, ainda, insuficiência cardíaca congestiva que se
agravou antes da morte. Faleceu com um quadro de insuficiência cardíaca e
desequilíbrio hidro-electrolítico.
Nos documentos que se seguem pode observar depósitos de substância amilóide, que na
coloração de H&E apresenta um aspecto eosinófilo, amorfo.
Doc 4 (Histologia): Nervo sural. Presença de substância amiloide nas baínhas nervosas.
Doc 5 (Histologia): Rim. Presença de substância amiloide nos glomérulos e no
interstício peri-tubular. Note, ainda, o espessamento da parede de alguns vasos devido
ao depósito de amiloide.
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