Universidade Alto Vale do Rio do Peixe - UNIARP CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO Rua Victor Baptista Adami, 800 - Centro CEP: 89500-000 – Caçador - SC Telefone/Fax: (49) 3561-6200 PORTUGUÊS Atualização Gramatical, Ortográfica e Redacional ALUNO (A): _____________________________________ 1 COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS I) CONSIDERAÇÕES GERAIS - As noções de coesão e coerência costumam ser abordadas pelo campo da linguística como fatores que garantem a textualidade – aquilo que diferencia um texto de uma mera sequência de palavras. Uma das propriedades que distingue um texto de um amontoado de palavras ou frases é o relacionamento existente entre si. - Para Leonor Fávero, a coesão e a coerência textuais constituem níveis diferentes de análise. Isso porque, segundo a autora, pode "haver um sequenciamento coesivo de fatos isolados que não têm condição de formar um texto". Por outro lado, também pode haver textos destituídos de coesão mas cuja textualidade se dá [no âmbito] da coerência" (2003, p.11). Observem os exemplos: Exemplo 1: Maria está na cozinha. A cozinha tem as paredes com azulejos. Os azulejos são brancos. Também o leite é branco. Observando a construção acima, podemos concluir que "apesar de haver uma coesão relativamente forte no encadeamento das sentenças [...], as relações de sentido não unificam essa seqüência [sic]" (2003, p.11). Exemplo 2: "Comemora-se este ano o sesquicentenário de Machado de Assis. As comemorações devem ser discretas para que dignas de nosso maior escritor. Seria ofensa à memória do Mestre qualquer comemoração que destoasse da sobriedade e do recato que ele imprimiu a sua vida, já que o bruxo de Cosme Velho continua vivo entre nós" (Folha de S. Paulo, 4 de fev. de 1989 apud FÁVERO, 2003, p.12). Observando este outro exemplo, a autora comenta que o nome "Machado de Assis" foi substituído algumas vezes (por “bruxo de Cosme Velho”, "nosso maior escritor" e "Mestre"). Assim, o leitor precisa conhecer alguns fatos da vida do escritor para compreender esta mensagem. Essas informações não são obtidas a partir do conhecimento da língua, mas da cultura, registra a autora. II) A COESÃO De que trata, então, a coesão textual? Da ligação, da relação, da conexão entre as palavras de um texto, através de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes "A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos estão ligadas entre si dentro de uma seqüência" (FÁVERO, 2003, p.10). - O conceito de coesão se refere à ligação correta entre os elementos de um texto. Um texto é coeso quando emprega corretamente as conjunções, as preposições, os pronomes relativos etc, ou seja, o que garante a coesão textual é o uso adequado dos elementos estruturais formadores de um texto (verbal ou não). - É importante ressaltar que os aspectos relativos à coesão textual, como a concordância e o emprego dos conectivos, por exemplo, interferem na coerência de uma mensagem. III) A COERÊNCIA De que trata a coerência textual? Da relação que se estabelece entre as diversas partes do texto, criando uma unidade de sentido. Está, portanto, ligada ao entendimento, à possibilidade de interpretação daquilo que se ouve ou lê. "A coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macrotextualmente, refere-se aos modos como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante (FÁVERO, 2003, p.10). O conceito de coerência refere-se ao nexo entre os elementos argumentativos ou narrativos de um texto. Trata-se do princípio de inteligibilidade, isto é, aquilo que garante a compreensão da mensagem. A coerência está ligada ao sentido decorrente da organização das ideias: a falta de coerência em um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito. 2 Como Sintetizar um Texto Eraldo Cunegundes A síntese de texto é um tipo especial de composição que consiste em reproduzir, em poucas palavras, o que o autor expressou amplamente. Desse modo, só devem ser aproveitadas as ideias essenciais, dispensando-se tudo o que for secundário. Procedimentos: 1. Leia atentamente o texto, a fim de conhecer o assunto e assimilar as ideias principais; 2. Leia novamente o texto, sublinhando as partes mais importantes, ou anotando à parte os pontos que devem ser conservados; 3. Resuma cada parágrafo separadamente, mantendo a sequência de ideias do texto original; 4. Agora, faça seu próprio resumo, unindo os parágrafos, ou fazendo quaisquer adaptações conforme desejar; 5. Evite copiar partes do texto original. Procure exercitar seu vocabulário. Mantenha, porém, o nível de linguagem do autor; 6. Não se envolva nem participe do texto. Limite-se a sintetizá-lo. Exercício – Resumir este fragmento do artigo Oralidade e discurso jornalístico, de Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, Publicado em: Filologia e Lingüística Portuguesa, v. 3, 1999, pp. 105-120. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv018.pdf Acesso em 28/04/2011 TENDÊNCIAS DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade Como é sabido, a linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação de diversas linguagens: a linguagem verbal escrita, a fotográfica, a gráfica e a diagramática (que se refere aos diagramas de distribuição da informação no espaço da página) (Santaella, 1992). Esta análise restringe-se à linguagem verbal escrita, mais especificamente, à questão dos registros de linguagem. Assim, para que pudéssemos ter uma noção da linguagem jornalística contemporânea, seria necessário observar os diversos jornais brasileiros urbanos e as tendências, em linhas gerais, que se distribuem devido às características do público leitor ao qual o jornal se dirige e da ideologia política do periódico, presente na linguagem que a manifesta, como bem observa Lage (1990). No que diz respeito apenas à linguagem verbal, podemos dizer que existe, por parte dos grandes jornais, alguns que procuram organizar-se em termos de uma linguagem formal, culta e, para tanto, têm editado “manuais de redação” com informações e instruções para seus redatores. Por outro lado, há outros que, na busca de maior aproximação com o leitor das classes mais modestas da população, optam por uma linguagem popular. São os jornais que, na visão da professora Ana Rosa Ferreira Dias, 1996, no livro O discurso da violência: as marcas de oralidade no jornalismo popular, publicado pela EDUC/Cortez, denominam-se populares e entre os quais se situam o Notícias Populares, Última Hora e Folha da Tarde. Pesquisas sobre a linguagem jornalística sempre fazem referência a paralelismos entre a literatura e o jornalismo, não só porque ambos se utilizam da palavra impressa, mas, principalmente, pelo fato de o jornal, em uma primeira fase, ter se espelhado no belas-letras do discurso literário. Entretanto, nos dias de hoje “o jornalismo não é literatura” (cf. Pinto, 1986: 67) e a linguagem jornalística caracteriza-se como uma espécie de “língua veicular”. Nessa perspectiva, pressupõe-se que o jornal apresente um estilo preocupado com a comunicação em todos os níveis sócio-culturais. Os extremos, purismos e vulgarismos, não costumam constar de textos como editoriais, artigos de fundo, ficando a eventualidade de tais ocorrências a matérias assinadas. 3 Em princípio, o texto jornalístico deveria ser fiel à norma padrão culto e deveria colocar-se num espaço, ainda que vago, entre a linguagem literária e a falada: “O estilo jornalístico é um meiotermo entre a linguagem literaria e a falada. Por isso, evite tanto a retórica e o hermetismo como a gíria e o coloquioalismo” (Manual de redação e estilo. O Estado de São Paulo, 1990:16) Ao ler O Estado de São Paulo, podemos observar que esse padrão indefinido acentua-se pela variedade de seções, sendo praticamente impossível deixar de aceitar que há leitores específicos para cada seção do jornal e que é necessário chegar à linguagem que esperam encontrar em sua leitura. Cabe acrescentar que a concorrência entre os jornais leva-os à distinção inevitável como uma forma de obter a adesão de um público leitor específico. Nas palavras de Maria Lúcia Santaella (1992: 31): Cada jornal tenta encontrar sua própria face ou, pelo menos, traços distintivos que garantem sua faixa de público. Esta procura de face pode ter uma gama de variações que vai desde a tentativa de reversão da quantidade em qualidade, ou a intensificação de processos verbo-visuais no uso substantivo do espaço-folha, do tamanho de tipos, da integração imagempalavra, até os jornais que manipulam sensacionalisticamente as manchetes, apelando para um público incauto que consome ficção espalhafatosa como se fosse notícia. Ainda que a linguagem culta (“correta”, “simples”, “contida”) seja apontada como aquela pretendida nos manuais, nem sempre os fatos recebem no dia a dia dos noticiários uma análise objetiva e fria. No tratamento de certos temas como, por exemplo, crise econômica, política ou violência social, é difícil para o jornalista redigir o seu texto, empregando regras como as propostas pela Novo manual de redação da Folha de S. Paulo (1992: 113): O jornal reflete em seus textos o clima de tensão da maior parte dos fatos que noticia. Ela deve ser transmitida não por adjetivos, mas pela descrição seca e concisa de fatos dramáticos: Aviões de combate da força multinacional aliada iniciaram a guerra di Iraque às 2h30 da manhã de hoje (21h30 de ontem Brasília). A operação “tempestade do deserto” começou à 0h58 (19h58 em Brasília), com a decolagem de caças F-15 de uma base na região central da Arábia Saudita. O secretário norte-americano de defesa, Richard Chenet, disse que participaram aviões dos E.U.A., Grã-Bretanha, Arábia Saudita e Kwait. Duas horas após o início das hostilidades, o presidente George Bush disse na TV que “a guerra começou em 2 de agosto, quando o Iraque invadiu o Kwait. A notícia sobre a crise na Iugoslávia, publicada na Folha de S. Paulo em 06-07- 91- Caderno Mundo, segundo Ana Rosa F. Dias(op.cit., p. 41) é um bom exemplo de um texto noticioso que é exceção à regra. Nesse artigo observa-se, segundo Dias, que o clima de tensão emocional não se limita à narração direta e precisa dos fatos, mas ao uso de adjetivos (“reportagem excitante”); à presença pontual do discurso em primeira pessoa do singular (“vi tiroteios”); à avaliação, em que se empregam termos não usuais na linguagem culta (“deixando os observadores malucos”), entre outros. Essa obrigatoriedade educativa que a imprensa assume na comunidade aponta para o grau de expectativa que o leitor tem de ver veiculada a língua oficial, culta, e não raro ocorrem situações em que os jornais se vêem obrigados a justificar deslizes em relação à língua. Na edição de 23-05-93, o ombusdman da Folha de S. Paulo, Mario Vitor Santos, notificado sobre a frequência de erros de concordância, regência e ortografia no jornal, reconhece que tais ocorrências comprometem o padrão de qualidade e destaca como a mais importante das razões “a destruição do ensino básico no país, cujo resultado catastrófico se expressa na perda de conhecimentos e habilidades no manejo do idioma em toda a sociedade, inclusive na imprensa” (caderno 1, p. 6). Já na edição de 27-12-98, o atual ombusdman da Folha de S. Paulo, a jornalista Renata Lo Prete, comenta algumas cartas recebidas durante todo o ano e chama a atenção para uma em que o leitor diz ter dúvidas sobre o interesse final da função de ombusdman, já que a cada Domingo lê as repetidas críticas aos erros éticos e práticos dos jornalistas da Folha, mas isso não 4 tem sido traduzido em melhorias nos padrões do jornal, pelo contrário parecer criar uma expectativa frustrada. A jornalista se defende dizendo que “os erros se repetem, quanto a isso não há dúvida, mas mudanças de atitude, para melhor, acontecem no jornal”(caderno 1, p.6). Prosseguindo com os comentários feitos pelos leitores, a jornalista acrescenta na edição de 3-1-99 que é bastante comum ouvir nas Redações “o discurso de que é preciso se preocupar com os “grandes” erros, em vez de consumir energia com deslizes pontuais” (caderno 1, p. 10). Entretanto, acrescenta a jornalista, para o leitor as duas coisas não são excludentes. “A pesquisa constatou que incorreções factuais e de gramática têm influência decisiva sobre o grau de confiabilidade atribuído ao público” (p.10). Embora as justificativas dadas pelos jornalistas sejam amplas demais para os limites do questionamento do leitor, é verdade que a imprensa, de modo geral, tem procurado colocar-se como uma das responsáveis pela missão de defender a língua portuguesa. Isso se torna evidente através da divulgação dos Manuais de Redação que, entre seus objetivos, reafirmam o respeito às normas da gramática culta e buscam uma projeção que ultrapasse o público de jornalistas, propondo-se como auxiliares de todos os indivíduos que “precisem escrever com regularidade, estejam se preparando para exames de redação ou queiram conhecer as principais particularidades da Língua Portuguesa” (Manual de Redação e Estilo – O Estado de São Paulo, 1990: 11). Em outubro de 1998, Folha de S. Paulo abriu inscrições para o 28o. Programa de Treinamento: um curso de oito semanas que teve como objetivo “atrair novos talentos e deixá-los aptos a trabalhar em um jornal diário” (20-10-98, cad. 1, p. 10). Dentre as atividades do treinamento, destacam-se exercícios de redação: corrigir, cortar e titular textos, reescrever reportagens de forma a torná-las mais informativas e didáticas, desenhar e montar páginas eletronicamente; exercícios de reportagem: a turma acompanha repórteres da Folha no trabalho de apuração e faz reportagens de serviço e entrevistas; aulas de português: o professor Pasquale Cipro Neto, consultor da Folha, ministrou 12 horas de aulas de português, com ênfase nos pontos em que mais se cometem erros. Essa preocupação das empresas jornalísticas de “ensinar” a língua culta acaba por conduzir os manuais a posições nem sempre sustentáveis, em razão das leis socioculturais que orientam o fenômeno da variação linguística. Do mesmo modo que as gramáticas tradicionais, essas publicações passam a ditar normas que se perdem na superficialidade, desconsiderando os contextos situacionais em que ocorrem, tornando-se, por isso, inúteis. Segundo Ana Rosa Ferreira Dias (op.cit., p.43), “o próprio fechamento a que conduz uma classificação certo/errado contribui para a precariedade dessas leis de boa conduta linguística”, como se pode observar no Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo: 1992, p. 270). Vejam-se alguns exemplos citados no referido manual: - Antes de escrever: bicha, veado, fresco, boneca, traveco, sapatão, ela calça 42. - Veja se você não quer simplesmente dizer: homossexual, travesti, lésbica. - Mas também não exagere, escrevendo: gay (significa feliz), alfenado, safista. A simplificação dos manuais revela a dificuldade de seus autores para discutir problemas lingüísticos como o da norma e o do processo de variação sociocultural e geográfico da linguagem. Na verdade, essas obras divulgam, em certa medida, uma avaliação da língua extremamente discutível e talvez até pretensiosa. A divulgação dos manuais acaba tendo uma dupla função: se por um lado, propicia ao leitor a possibilidade de fiscalizar a execução do jornal, fazendo-o crer, por exemplo, que notícias bem escritas significam apuração dos fatos igualmente eficiente; por outro, acata a preocupação dos jornais com a formação de um público leitor específico que seja receptivo e se identifique com o discurso produzido. Em síntese, podemos dizer que se estabelece uma relação de dupla legitimidade, de mútuo reconhecimento, com a caracterização de um enunciador autorizado a dizer e de um enunciatário 5 apto para compreender o dito, isto é, “os que falam consideram os que escutam dignos de escutar e os que escutam consideram os que falam dignos de falar” (Bourdieu, 1983: 161). MARCAS DE ORALIDADE E DISCURSO JORNALÍSTICO Hoje, já não se pode mais pensar a língua falada e a língua escrita como modalidades invariantes. É preciso levar em conta que, no interior dessas modalidades, há variações provocadas pelas condições de produção e uso da linguagem. Embora haja muitas diferenças entre as duas modalidades da língua, a existência de textos que se situam na faixa do contínuo pode ser constatada como bem observa Marcuschi (1993: 71): Não resta dúvida de que existem textos tipicamente orais e outros que são tipicamente escritos. Também é certo que há certos fenômenos que são mediados pela escrita e outros são mediados pela fala. As práticas sociais criam formas de transmissão do conhecimento apropriadas tanto à cultura como aos modos de produção. Estas duas classes de textos exibirão diferenças sensíveis entre si, mas os textos restantes estarão dentro da faixa de um contínuo. É até provável que não sejam muitas as diferenças essencialmente lingüísticas e que a maioria delas seja de processamento, em função do tempo, das condições e dos meios de produção, além das diferenças do tipo de texto realizado. Em suas reflexões o professor associa ao contínuo lingüístico existente entre a fala e a escrita o correlato no contínuo dos gêneros textuais, acrescenta ainda que essa variação linguístico-textual encontra similaridade na variação tipológica entre os textos falados e escritos. Veja-se, por exemplo, as relações de proximidade e diferença entre uma conversação espontânea e uma carta entre amigos ou um texto acadêmico e uma conferência universitária. Uma leitura atenta de jornais como Folha de S. Paulo ou Jornal da Tarde, ou de revistas como Veja permite-nos observar que o narrador-jornalista: - faz uso de discurso direto, estratégia que contribui para o fator envolvimento; - aponta-nos a presença de narrador onisciente que, ao reproduzir, presumivelmente, as palavras proferidas pelo interlocutor, aproxima o texto da narrativa oral. No trecho a seguir podemos constatar essa afirmação: “No momento do pouso, o aparelho chocou-se violentamente contra o solo, arremessando seus 36 passageiros para a frente. Com o impacto, a aeromoça sentada no fim do corredor deu uma cambalhota junto com a cadeira em que se encontrava presa pelo cinto de segurança. “O avião não aterrissou, ele praticamente caiu no chão”, contou a VEJA o industrial Almir Antônio Buzon, um dos 36 passageiros a bordo”. (Simplesmente quebrou! - Veja, 6 de janeiro de 1999, p. 68) - Recorre ao uso de termos gírios, léxico característico da modalidade oral da língua, dado que contribui para a familiaridade do discurso, sendo também um dos responsáveis pelo fator envolvimento: “Sem feridos, o episódio ficou no limite entre o acidente e a tragédia. As companhias envolvidas, no entanto, saíram bastante chamuscadas”. (Simplesmente quebrou! - Veja, 6 de janeiro de 1999, p. 68) - Formas populares incorporadas pelo jornalista integram o uso diário de uma camada específica da população que encontra nessas manifestações linguísticas a expressão da emoção. Observe o trecho a seguir: “O ministro Clóvis Carvalho, paulista de 60 anos, é um mouro para trabalhar, um sargento para obedecer e um general para mandar – e agora, nestes últimos dias, deu para andar rindo pelos corredores. Não é à toa. Ele continua carregando uma agenda de mouro, cumprindo ordens do presidente com a mesma disciplina de sempre, mas sua alegria explica-se pelo poder de general. Mantido como ministro da Casa Civil, cargo que ocupa desde o início do governo, Clóvis Carvalho foi o único ministro a ficar no segundo mandato com mais poder do que tinha no primeiro. (...) A exceção que chama a atenção é Clóvis Carvalho. Que já foi 6 apelidado de “gerentão do palácio” e “bedel de ministro”, e é malvisto por políticos de todos os partidos, inclusive do próprio, o PSDB, devido a sua vocação, exercitada com rigor cotidiano, de praticamente só abrir a boca para dizer “não”. E mais adiante: “O Clóvis recebeu um prato tão farto que o único risco hoje é que fique intoxicado”, diz um ministro, referindo-se ao prestígio crescente do chefe da Casa Civil. Além dos encargos velhos e novos, Clóvis Carvalho tornou-se o senhor do Palácio do Planalto, abaixo apenas do próprio presidente da República”. (O número 2: com seu poder turbinado na Casa Civil, Clóvis Carvalho vira o senhor do palácio - Veja, 6 de janeiro de 1999, p. 36). Além dessas manifestações, verifica-se nos textos um acentuado uso de pormenores, elemento característico do envolvimento no discurso falado. De fato, a necessidade de criar um contexto para a notícia permite ao jornalista a liberdade de arbitrar sobre a ênfase e a quantidade de pormenores. De modo geral, pode-se dizer que predomina no discurso jornalístico: - oralidade marcada em algumas manchetes e no corpo de certas notícias ou reportagens em que se projetam traços emocionais: “E agora, companheiro” ( Veja 7 de outubro de 1998, p. 3436); - envolvimento do redator, conduzindo a opinião do leitor, sempre com uma perspectiva crítica: “(...) Diante da realidade imposta pelo resultado das urnas, o espectro de um racha colossal passou a rondar com insistência a agremiação” (Veja 7 de outubro de 1998, p. 34); - uma forma de transformar as notícias em narrativa, em que aparecem marcadores conversacionais e citações de fala das pessoas envolvidas; - certa mistura entre linguagem culta e popular (oral) ou entre linguagem técnica e popular: “O ajuste fiscal de FHC vai pegar pesado na aposentadoria dos servidores públicos e aumentar o imposto sobre o cheque”. (Veja 7 de outubro de 1998, p. 40-43) - algumas frases de efeito nas manchetes: “A pancada que vem aí” (Veja 7 de outubro de 1998, p.40-43) . Manchete relativa ao ajuste fiscal do governo. Objetivando a interação escritor/leitor, no que diz respeito ao discurso jornalístico, verifica-se a influência do discurso sobre o leitor, baseada na perspectiva segundo a qual a notícia deve ser lida dentro das intenções em que foi escrita. A análise de alguns textos buscou deixar claro que o uso da oralidade no discurso escrito é uma maneira eficiente de construir um texto mais envolvente para o leitor. Assim, cremos que o discurso jornalístico traduz no uso das marcas de oralidade sua manifestação de criatividade e porque não dizer modernidade. BIBLIOGRAFIA BOURDIEU, Pierre (1983). “A economia das trocas lingüísticas”. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, p. 156-183. DIAS, Ana Rosa Ferreira (1996). O discurso da violência. São Paulo: Cortez. MARCUSCHI, Luiz Antônio (1993) O tratamento da oralidade no ensino de língua. Programa de PósGraduação em Letra e Lingüística, Recife: Universidade Federal de Pernambuco. PINTO, Edith Pimentel (1986)A língua escrita no Brasil. São Paulo: Ática. SANTAELLA, Lúcia (1992) Cultura de massas. São Paulo: Razão Social. 7 O que é uma resenha? Resenha é, segundo o dicionário, uma "apreciação breve de um livro ou de um escrito". Esta definição pode ser dividida em três partes, que devem servir de orientação para que se possa entender o que é resenha. A primeira parte está representada pela palavra "apreciação"; a segunda é a que concerne ao adjetivo "breve"; e a terceira e última diz respeito ao sintagma "de um livro ou de um escrito". O primeiro elemento a ser destacado nas resenhas é o fato de que tratam, todas elas, de uma apreciação. Ou seja, a resenha tem por finalidade: 1) fazer uma análise, um exame; e 2) emitir um julgamento, uma opinião. O objetivo da resenha é, pois, duplo. A resenha pretende decompor o objeto resenhado em suas unidades constituintes, proceder a um exame pormenorizado, investigá-lo a fundo; e, a partir dessa análise, a resenha deve se posicionar em relação ao objeto resenhado, deve julgá-lo, avaliá-lo. É importante que você perceba que esses dois objetivos estão combinados: para que você tenha elementos para julgar alguma coisa, é preciso que seja feita antes uma análise; e a finalidade da análise é exatamente fornecer elementos para o julgamento. Na resenha, esses dois objetivos são solidários: um não existe sem o outro. O segundo elemento presente na definição é o adjetivo "breve". A resenha é um texto rápido, pequeno. Isso não significa que sua análise deva ser rasa, superficial, ou que o seu julgamento possa ser precipitado. Não é isso. A principal implicação das limitações de tempo e espaço é que você deve ser seletivo. Você sabe, desde o início, que não vai conseguir esgotar a obra, investigar todos os seus pontos, examinar tudo pormenorizadamente. Logo, você deve eleger um ou outro aspecto mais saliente do texto para análise, deve investigar em detalhe apenas um dos pontos do objeto resenhado, em vez de tentar dar conta de tudo. Mas é importante que a sua escolha recaia sobre um ponto efetivamente relevante do texto, como a tese do autor ou um de seus principais argumentos. Por fim, a definição apresenta um terceiro elemento, a expressão "de um livro ou de um escrito". Este é um ponto controverso, porque o uso normal das resenhas ultrapassa muito o texto escrito. É extremamente comum encontrarmos hoje nos jornais resenhas de discos e filmes. O objeto da resenha não é, portanto, apenas um texto escrito. Em princípio, qualquer objeto é passível de uma apreciação nos moldes de uma resenha. O que é importante perceber aqui é que todas as resenhas têm um ponto de partida bastante definido. Fazem-se resenhas de textos e obras, e não de temas. Quando se pede uma resenha de um texto X, sobre um tema Y; não se quer que uma análise e uma opinião sobre o tema Y; o que se pede é que se examine e julgue o texto X. Perceba a diferença: não se quer a sua opinião sobre o tema Y, mas sobre o texto X. Não se deve jamais esquecer do texto que serve de ponto de partida para a resenha: esse texto é a própria razão de ser da resenha. Deve-se retomá-lo sempre, deve-se dialogar com o autor do texto. 8 Nas resenhas há mesmo um resumo do texto, em que se recuperam as ideias centrais do autor. Mas não confunda: resenha não é resumo; o resumo é apenas uma parte da resenha, que tem pelo menos duas outras partes: a parte da análise do texto e a parte do julgamento do texto. Por tudo o que foi dito, podemos dizer que resenha é um tipo de texto em que há, concomitantemente, exigências de forma e de conteúdo: Exigências de conteúdo: Toda resenha: a) deve conter uma síntese, um resumo do texto resenhado, com a apresentação das principais ideias do autor; b) deve conter uma análise aprofundada de pelo menos um ponto relevante do texto, escolhido pelo resenhista; c) deve conter um julgamento do texto, feito a partir da análise empreendida no item b; Exigências de forma d) A resenha deve ser pequena, ocupando geralmente até três laudas de papel A4 com espaçamento duplo; e) A resenha é um texto corrido, isto é, não devem ser feitas separações físicas entre as partes da resenha (com a subdivisão do texto em resumo, análise e julgamento, por exemplo); f) A resenha deve sempre indicar a obra que está sendo resenhada. Como se faz uma resenha? É importante saber que não há fórmulas mágicas, macetes ou receitas prontas sobre como fazer uma resenha. Como todos os outros tipos de texto, é alguma coisa que aprendemos por experiência e erro, treinando, fazendo. Serão muitos exercícios de resenha até você poder produzir boas resenhas, e o importante é não desanimar nesse trajeto. Para aqueles que, apesar de tudo o que viram, ainda não sabem por onde começar, seguem algumas dicas para uma resenha descritiva: 1) Leia o texto que serve de ponto de partida para a resenha. É o primeiro passo e o fundamental. A qualidade da sua resenha depende, em grande medida, da qualidade da leitura que você fizer desse texto. Se necessário, leia mais de uma vez. 2) Faça um resumo do texto. Selecione as ideias principais do autor do texto e monte um outro texto, seu. Mas cuidado: resumo não é cópia de alguns trechos do texto, com as palavras do autor. Resumo é um outro texto, um texto seu, em que você diz o que entendeu do texto, e quais são as ideias principais do autor. Se você não sabe ainda como resumir um texto, pense em como você o apresentaria para alguém que estivesse acabando de chegar em sala e lhe perguntasse: Sobre o que é esse texto que você está lendo? Outra estratégia interessante é ler o texto em um dia e tentar resumi-lo alguns dias depois. As ideias de que você conseguir lembrar serão seguramente as principais ideias do autor. Se você não conseguir lembrar de nada a respeito do texto, você não o entendeu. Volte ao texto e o leia novamente. 9 3) Todo texto contém várias ideias, que estão postas em uma hierarquia. Há ideias principais e há ideias secundárias, periféricas. Eleja uma ideia principal. 4) Analise a ideia escolhida. Procure traçar quais são os seus pressupostos, o que o autor pressupõe para formular essa ideia. Procure traçar também as suas implicações, as consequências que se pode retirar dessa ideia. Verifique quais as relações que a ideia estabelece no texto, com quais outras ideias ela dialoga. 5) Emita um julgamento de verdade a respeito dessa ideia. Ela é verdadeira ou não? Se é verdadeira, por quê? Se é falsa, por quê? Procure responder a essas perguntas com outros argumentos que não os usados pelo autor do texto. Por exemplo, se o autor diz que "ninguém é normal" e usa como argumento a colocação de que "o conceito de "normal" é muito relativo", não responda que essa ideia é verdadeira porque "o conceito de normal é muito relativo"; você estaria apenas repetindo o autor do texto. É crucial que o julgamento seja "seu", e não uma mera reprodução do que o autor pensa. Olhe para a maneira como o autor usa os conceitos, procure definir o que significa "relativo" para o autor e, aí sim, decida. 6) Faça tudo isso antes de começar a redigir o texto. Use um rascunho. Apenas depois de resolvidos os passos de 1 a 5 é que você estará pronto para escrever o texto, e decidir sobre a sua organização. Não há ordem predeterminada: você pode começar o texto pela sua conclusão, e depois explicá-la para o leitor (através da análise) e terminar por uma apreciação mais genérica do texto (o resumo); ou você pode começar pelo resumo, passar à análise e, em seguida, ao julgamento; ou você pode misturar as três coisas. É você que decide. O importante é que seu texto tenha organização, e unidade. Enfim, que não seja apenas um amontoado de parágrafos sobre o texto que está sendo resenhado. 10 Dissertação Dissertar é: I. Expor um assunto, esclarecendo as verdades que o envolvem, discutindo a problemática que nele reside; II. Defender princípios, tomando decisões; III. Analisar objetivamente um assunto através da sequência lógica de ideias; IV. Apresentar opiniões sobre um determinado assunto; V. Apresentar opiniões positivas e negativas, provando suas opiniões, citando fatos, razões, justificativas. Sendo a dissertação uma série concatenada de ideias, opiniões ou juízos, ela sempre será uma tomada de posição frente a um determinado assunto - queiramos ou não. Procurando convencer o leitor de alguma coisa, explicando a ele o nosso ponto de vista a respeito de um assunto, ou simplesmente interpretando um ideia, estaremos sempre explanando as nossas opiniões, retratando os nossos conhecimentos, revelando a nossa intimidade. É por esse motivo que se pode, em menor ou maior grau, mediar a cultura (vivência, leitura, inteligência...) de uma pessoa através da dissertação. A dissertação revela quem somos, o que sentimos, o que pensamos. Nesse ponto, tenha-se o máximo de cuidado com o extremismo. Temos liberdade total de expor nossas opiniões numa dissertação. Tudo o que expusermos, principalmente no campo político e religioso, deve ser acompanhado de argumentações e provas fundamentais. Para fazer uma boa dissertação, exige-se: a) Conhecimentos do assunto (adquirido através da leitura, da observação de fatos, do diálogo, etc.); b) Reflexões sobre o tema, procurando descobrir boas ideias e conclusões acertadas (antes de escrever é necessário pensar); c) Planejamento: 1. Introdução: consiste na proposição do tema, da ideia principal, apresentada de modo a sugerir o desenvolvimento; 2. Desenvolvimento: consiste no desenvolvimento da matéria, isto é, discutir e avaliar as ideias em torno do assunto permitindo uma conclusão; 3. Conclusão: pode ser feita por uma síntese das ideias discutidas no desenvolvimento. É o resultado final. d) Registrar ideias fundamentais numa sequência e) Acrescentar o que faltar, ou suprimir o que for supérfluo, desnecessário. f) Desenvolvimento do plano com clareza e correção, mantendo sempre fidelidade ao tema. 11 O ESTUDO DA DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA A ESTRUTURA DISSERTATIVA TESE 1º parágrafo 5 a 6 linhas ARGUMENTAÇÃO 2º, 3º e 4º parágrafos 5 a 6 linhas cada um CONCLUSÃO 5º parágrafo 5 a 6 linhas OBS.: Estrutura válida para um texto dissertativo-argumentativo de, no mínimo, 25 linhas, sem contar o título. Vamos iniciar o estudo com alguns esclarecimentos sobre a primeira parte da estrutura que é a Tese, antes chamada de Introdução, que deve ser clara, objetiva e concisa, preferencialmente. Esta precisa ser discutida, argumentada e concluída. MODELOS DE TESE 1 – Cena descritiva: Exemplo: O som invade a cidade. Buzinas estridentes atordoam os passantes. Edifícios altíssimos cobrem os céus cinzentos da metrópole. Uma fumaça densa e ameaçadora empresta a São Paulo o aspecto de fotografias antigas sombreadas pela cor do tempo. É a paisagem tristonha da poluição. 2 – Uma frase declarativa ou afirmação: Exemplo: O artista contemporâneo, diante de um mundo complexo e agitado, tem por missão traduzir o mais fielmente possível essa realidade. Mesmo que pareça impossível impedir que o subjetivismo esteja presente, deve-se despir de opiniões já estabelecidas de préjulgamentos ou preconceitos, a fim de que essa tradução seja fidedigna. 3 – Frases ou expressões nominais: Exemplo: Baixos salários. Médicos descontentes. Enfermagem pouco qualificada. Falta de medicamentos. Desvio de verbas. Hospitais insuficientes e mal aparelhados. Atendimento precário. Esse é o retrato da saúde pública brasileira. 4 – Resgate histórico ou dados retrospectivos: Exemplo: As primeiras manifestações de comunicação humana nas eras primitivas foram traduzidas por sons que expressavam sentimentos de dor, alegria ou espanto. Mais tarde, as pinturas rupestres surgiram como primeiros vestígios de tentativa de preservação de uma era... 5 – Citação: textual e comentada. Exemplo: Textual: "O escravo brasileiro, literalmente falando, só tem uma coisa: a morte." Joaquim Nabuco, grande teórico do movimento abolicionista brasileiro revela uma das características que o pensamento antiescravista tem: a nota de comiseração pelo escravo. Comentada: O teórico Joaquim Nabuco, em sua comiseração pelo escravo brasileiro, disse que este só tem a própria morte. O movimento brasileiro antiescravista, quando já fortalecido, deixou bem clara essa pungente acusação nas palavras dos abolicionistas. 12 6 – Pergunta ou uma sequência de perguntas: Exemplo: Os pensadores do século XIX propuseram nos termos da época as questões que, apesar de toda a posterior realidade, continuam a intrigar os críticos sociais: como funciona a mente de um político? Quais são os fatores imponderáveis que o levam a agir desta ou daquela maneira? 7 – Definição: Exemplo O envelhecimento é um processo evolutivo que depende dos fatores hereditários, do ambiente e da idade, embora ainda não tenham sido descobertas as causas precisas que o determinam em toda a sua amplitude e diversidade. 8 – Linguagem figurada: Exemplo: Os meios de comunicação, com sua velocidade estonteante de informação, fazem de cada homem um condômino do mundo. De repente, todos ficaram sabendo quase tudo, sem tempo para digerir 90% das informações que recebem; é uma ilha cercada de comunicações por todos os lados. 9 – Narração: Exemplo: O ano de 1997 foi marcado pela expansão da informática no país: realizaram-se as mais importantes feiras do mundo, apresentando novidades que deslumbraram os brasileiros. Os mais ávidos de atualizar-se se transformaram em presas definitivas de um dos mercados mais lucrativos do planeta. 10 - Ideias contrastantes ou ponto de vista oposto: Exemplo: Enquanto muitos políticos brasileiros praticam a corrupção ao desviarem altíssimas somas em dinheiro do tesouro público, cerca de 30% da população sobrevive com menos de um salário mínimo. E, para agravar, ainda temos episódios inaceitáveis como a proposta de aumento do salário dos deputados de R$ 12.000 para R$ 21.000!! 11 – Comparação: Exemplo: A era da informática veio aprofundar os abismos do país: de um lado, assistimos ao avanço tecnológico desfrutado por cerca de 2% da população; de outro, assistimos à crescente marginalização da maioria que sequer consegue alfabetizar-se minimamente. 12 – Contestação ou confirmação de uma citação: Exemplo: O computador liberta, afirmou Nicholas Negroponte, o pioneiro da era digital. Contudo, o modo como a informática vem se impondo parece angustiar o homem, gerando ansiedade que, longe de libertar, escraviza. 13 – Declaração surpreendente: Exemplo: Jamais houve cinema silencioso. A projeção das fitas mudas era acompanhada por música de piano ou pequena orquestra. No Japão e outras partes do mundo, popularizou-se a figura do narrador ou comentador de imagens, que explicava a história ao público. Muitos filmes, desde os primórdios do cinema, comportavam música e ruídos especialmente compostos. 13 A ARGUMENTAÇÃO O desenvolvimento é a parte mais extensa do texto dissertativo. Compreende os argumentos (evidências, exemplos, justificativas etc.) que dão sustentação à tese – ideia central apresentada no primeiro parágrafo. O conteúdo dos parágrafos de desenvolvimento deve obedecer a uma progressão: repetir ideias mudando apenas as palavras resulta em redundância. É preciso encadear os enunciados de maneira que se completem (cada enunciado acrescentará informações novas ao anterior). Deve-se também evitar a reprodução de clichês, fórmulas prontas e frases feitas – recursos que enfraqueçam a argumentação. A adequada utilização de seu repertório cultural será determinante para diversificar e enriquecer seus argumentos. Observe alguns exemplos de argumentação: Tema: Televisão Argumentação por exemplificação Já foi criada até uma campanha – "Quem financia a baixaria é contra a cidadania" – para que sejam divulgados os nomes das empresas que anunciam nos programas que mais recebem denúncias de desrespeito aos direitos humanos. O mais importante nessa iniciativa é que a participação da sociedade, que pode abandonar a passividade e interferir na qualidade da programação que chega às casas dos brasileiros. Argumentação histórica Quem assiste à tevê hoje talvez nem imagine que seu compromisso inicial, quando chegou ao país, há pouco mais de meio século, fosse com educação, informação e entretenimento. Não se pode negar que ela evoluiu – transformou-se na maior representante da mídia, mas em contrapartida esqueceu-se de educar, além disso, informa relativamente e entretém de maneira discutível. Argumentação por constatação Para além daquilo que a televisão exibe, deve-se levar em conta também seu papel social. Quem já não renunciou a um encontro com amigo ou a um passeio com a família para não perder a novela ou a participação de algum artista num programa de auditório? Ao que tudo indica, muitos têm elegido a tevê como companhia favorita. Argumentação por comparação Enquanto países com Inglaterra e Canadá têm leis que protegem as crianças da exposição ao sexo e à violência na televisão, no Brasil não há nenhum controle efetivo sobre a programação. Não é de surpreender que muitos brasileiros estejam defendendo alguma forma de censura sobre a tevê aberta. Argumentação por testemunho Conforme citado pelo jornalista Nelson Hoineff, "o que a televisão tem de mais fascinante para quem a faz é justamente o que ela tem de mais nocivo para quem a vê: sua capacidade aparentemente infinita de massificação". De fato, mais de 80% da população brasileira tem esse veículo como principal fonte de informação e referência. 14 A CONCLUSÃO DO TEXTO DISSERTATIVO Quando elaboramos uma dissertação, temos sempre um objetivo definido: defender uma ideia, um ponto de vista. Para tanto, formulamos uma tese interessante, que será desenvolvida com eficientes argumentos, até atingir a última etapa da estrutura dissertativa: a conclusão. Assim, as ideias devem estar articuladas numa sequência que conduza logicamente ao final do texto. Não há um modelo único de conclusão. Cada texto pede um determinado tipo de fechamento, a depender do tema, bem como do enfoque escolhido pelo autor. Em textos com teor informativo, por exemplo, caberá a conclusão que condense as ideias consideradas. Já no caso de textos cujo conteúdo seja polêmico, questionador, será apropriada uma conclusão que proponha soluções ou trace perspectivas para o tema discutido. Observe alguns dos procedimentos para se concluir um texto dissertativo: Síntese da discussão – apropriada para textos expositivos, limita-se a condensar as ideias defendidas ao longo da explanação. Retomada da tese – é a confirmação da ideia central. Reforça a posição apresentada no início do texto. Deve-se, contudo, evitar a redundância ou mera repetição da tese. Proposta(s) de solução – partindo de questões levantadas na argumentação, consiste na sugestão de possíveis soluções para os problemas discutidos. Com interrogação (retórica) – só deve ser utilizada quando trouxer implícita a crítica procedente, que instigue a reflexão do leitor. É preciso evitar perguntas que repassem ao leitor a incumbência de encontrar respostas que deveriam estar contidas no próprio texto. 15 VARIANTES LINGUÍSTICAS Uma língua nunca é falada de maneira uniforme pelos seus usuários: ela está sujeita a muitas variações. O modo de falar uma língua varia: - de época para época: o português de nossos antepassados é diferente do que falamos hoje; - de região para região: o carioca, o baiano, o paulista e o gaúcho falam de maneiras nitidamente distintas; - de grupo social para grupo social: pessoas que moram em bairros chamados nobres falam diferente dos que moram na periferia. Costuma-se distinguir o português das pessoas mais prestigiadas socialmente (impropriamente chamada de fala culta ou norma culta) e o das pessoas de grupos sociais menos prestigiados (a fala popular ou norma popular); - de situação para situação: cada uma das variantes pode ser falada com mais cuidado e vigilância (a fala formal) e de modo mais espontâneo e menos controlado (a fala informal). Um professor universitário ou um juiz falam de um modo na faculdade ou no tribunal e de outro numa reunião de amigos, em casa e em outras situações informais. Além dessas, há outras variações, como, por exemplo, o modo de falar de grupos profissionais, a gíria própria de faixas etárias diferentes, a língua escrita e oral. Diante de tantas variantes linguísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta. Resposta: não existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada contexto. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a cada situação e consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida. Usar o português rígido, próprio da língua escrita formal, numa situação descontraída da comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos, fugir afinal das normas típicas dessa situação. Quando se fala das variantes, é preciso não perder de vista que a língua é um código de comunicação e também um fato com repercussões sociais. Há muitas formas de dizer que não perturbam em nada a comunicação, mas afetam a imagem social do falante. EXERCÍCIOS 1. Observe os inconvenientes linguísticos e reescreva a frase de forma que atenda à norma padrão: Convidamos aos professores para que dê início as discursões dos assuntos em palta. ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 2. Suponha um aluno se dirigindo a um colega de classe nestes termos: “Venho respeitosamente solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro.” A atitude desse aluno se assemelha à atitude do indivíduo que: a) comparece ao baile de gala trajando “smoking”. b) vai à audiência com uma autoridade de “short” e camiseta. c) vai à praia de terno e gravata. d) põe terno e gravata para ir falar na Câmara dos Deputados. e) vai ao Maracanã de chinelo e bermuda. 3. O que é e o que pode determinar a variação linguística? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 16 4. Por que podemos afirmar que somos falantes e, ao mesmo tempo, modificadores da língua? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 5. Sobre a língua, a norma padrão e as variantes linguísticas, analise as assertivas abaixo e, depois, assinale a alternativa verdadeira I. O meio sociocultural em que vive o sujeito determina os modos variados com que ele usa a fala. II. Linguagem é sinônimo da “fala humana” e esta se encontra na gramática que descreve o sistema de uma língua. III. O uso de uma determinada variante linguística dá identidade a grupos existentes na sociedade, a exemplo da pronúncia de palavras. IV. As línguas não são estáticas, mas mudam ao longo do tempo; a esse estudo dá-se o nome de variantes históricas. a) As assertivas II e IV estão corretas. c) Todas as assertivas estão corretas. b) As assertivas I, III e IV estão corretas. d) Apenas as assertivas I e III estão corretas. 6. Defender a existência de uma “realidade plurilinguística” em nosso país é defender todas as ideias a seguir, EXCETO: A) A língua que serve de forma de expressão a uma determinada comunidade passa por um processo constante de mudanças. B) A língua reduz sensivelmente seu repertório de palavras, ao entrar em contato com os meios modernos de comunicação de massa. C) A língua abriga em si uma abertura à multiplicidade de falares, sotaques. D) A realidade dinâmica da língua ocorre devido ao fato de o homem possuir o dom de criar. 7. Assinale a alternativa que contém uma informação FALSA em relação ao fenômeno da variação linguística. A) A variação linguística consiste num uso diferente da língua, num outro modo de expressão aceitável em determinados contextos. B) A variedade linguística usada num texto deve estar adequada à situação de comunicação vivenciada, ao assunto abordado, aos participantes da interação. C) As variedades que se diferenciam da variedade considerada padrão devem ser vistas como imperfeitas, incorretas e inadequadas. D) As línguas são heterogêneas e variáveis e, por isso, os falantes apresentam variações na sua forma de expressão, provenientes de diferentes fatores. 8. Mais importante do que falar correto, é saber escolher a variante linguística adequada a cada situação concreta de comunicação. Assinale a alternativa em que a variante linguística não é compatível com o gênero do texto indicado entre parênteses. a) “Nada pior para uma boa causa do que maus defensores: é o que ocorre com a ecologia.” (Introdução a um texto dissertativo) b) “Tu que tá acostumado a esculachá os otro e ganhá os cara na manha, te manca, que a tua hora vai chegá.” (Ameaça feita por um morador de periferia a um desafeto da mesma região e classe social) c) “Onde tem teatro, nós estamos por trás. Nos últimos quatro anos, a Volkswagen investiu R$ 27 milhões em projetos culturais como: teatro, música, exposições de arte, cinema e literatura. Não é favor, é nossa obrigação.” (Anúncio publicitário veiculado em revista de artes) d) “A história que começou há cinco séculos, nestas praias de Porto Seguro, deu origem a uma das grandes nações do mundo. Um país que nos orgulha pelo que já é, e nos inspira e desafia por tudo aquilo que pode vir a ser. Como toda criança, eu imagino, foi a geografia, antes da história, que primeiro me deu o sentimento de grandeza do Brasil.” (Discurso de uma autoridade numa comunicação solene) e) “Ontem, quando cheguei em casa, aborreci-me com a notícia de que não havia água. Como agravante, esclareça-se que já faziam cinco dias que o líquido precioso nos faltara. Custou-me conciliar com o sono sem o conforto de um banho.” (Fala de um senhor de estrato social elevado, apegado à rigidez gramatical) 17 QUAL É A DIFERENÇA ENTRE A NORMA GRAMATICAL, A PADRÃO E A CULTA? A norma gramatical é aquela relacionada à gramática normativa: só o que está de acordo com ela é correto. Porém ela incorpora muitas regras que não são usadas cotidianamente. A norma padrão, por sua vez, está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições representadas na gramática, mas é marcada pela língua produzida em certo momento da história e em uma determinada sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes formas de linguagem que hoje não são consideradas pela norma-padrão, com o tempo, podem vir a se legitimar. Por fim, a norma culta é a que resulta da prática da língua em um meio social considerado culto - tomando-se como base pessoas de nível superior completo e moradoras de centros urbanos. No Brasil, ela foi estudada por meio de pesquisa de campo realizada há quase 50 anos, tomando-se como base falantes de algumas capitais. Como desde então não foram realizados novos estudos, a norma culta caiu em desuso. O uso dessas regras varia de acordo com as situações e condições de vida de cada um. Em muitos casos, é na escola que ocorre o único contato das crianças com a gramática normativa e com a norma padrão. LÍNGUA PADRÃO, LÍNGUA CULTA, LÍNGUA LITERÁRIA E CONTRATO DE COMUNICAÇÃO Helênio Fonseca de Oliveira (UERJ) Disponível em: http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno10-09.html Acesso em 27/04/2010 A língua varia, como é sabido, no tempo, no espaço geográfico, no espaço social e de uma situação comunicativa para outra. Existem, portanto, várias “línguas portuguesas”, cada uma das quais é uma variedade do português. Cada variedade da língua é, em princípio, um código, com seus elementos e regras, por maior que seja a semelhança entre esses códigos. Porém, não é tão simples como possa parecer, à primeira vista, a tarefa de isolar e descrever tais variedades, porque não há fronteiras rígidas entre elas. Haverá sempre um componente de arbitrariedade em qualquer divisão que se faça, entretanto a descrição linguística não pode prescindir de tais divisões. A migração de trabalhadores de baixo nível salarial de uma região pobre para um grande centro, por exemplo, pode transformar um dialeto geográfico em social. O código usado pelas gerações mais velhas e o empregado pelas mais jovens são na verdade variedades diacrônicas muito próximas. Muitos elementos e regras do registro informal utilizados pela camada culta da população ocorrem também nos dialetos sociais das camadas ditas “incultas”. Além disso, tende a existir certa correlação entre escrita e formalidade, por um lado, e entre informalidade e fala, por outro. Esse entrecruzamento de dimensões dificulta o estabelecimento de limites precisos entre a coordenada social e a geográfica, entre a etária e a diacrônica, entre dialetos sociais e variações de uso (ultraformal, formal, semiformal e informal) ou ainda entre as dicotomias formal versus informal e escrito versus falado. O carioca e o paranaense, embora NÃO usem o mesmo código, falam a mesma língua, porque se consideram membros da mesma comunidade linguística e, supondo-se que tenham certo grau de escolaridade, utilizam, na comunicação escrita formal, a mesma variedade dessa língua, que é a sua forma padrão. Portanto, embora existam várias “línguas” portuguesas como códigos, há um e somente um português como instituição social. A língua padrão, que na sociolinguística anglófona se denomina standard language, é a variedade culta formal do idioma. Há quem tome o termo norma culta, indevidamente, como sinônimo de língua padrão. Ocorre que a língua culta, isto é, a das pessoas com nível elevado de instrução, 18 pode ser formal ou informal. A língua padrão é a culta, sim, mas limitada à sua vertente formal. É, pois, necessário distinguir os dois conceitos. Língua culta é um termo mais amplo que língua padrão, uma vez que abrange não só o padrão, que é suprarregional, mas também as variedades cultas informais de cada região. Entendam-se como cultos os dialetos sociais das pessoas acima de determinado grau de escolaridade. Desse modo o termo adquire objetividade e nos desvencilhamos do ranço de preconceito de que está impregnado. A língua culta informal, portanto, não é padrão. A variedade padrão da língua “lidera” um conjunto de códigos que se influenciam mutuamente, a saber: (a) as variedades orais cultas informais das diversas áreas geográficas; (b) a língua escrita culta informal (c) as variedades literárias do idioma, que se baseiam no padrão, mas, no caso do Brasil, nem sempre correspondem fielmente a ele. A língua literária seria, em princípio, a variedade padrão artistificada, mas pode dar-se ao caso de ela se desviar do padrão quando o desvio é esteticamente necessário, daí a importância de distinguir também língua padrão de língua literária, embora se empreguem com frequência os dois termos como equivalentes, impropriedade a que se acrescenta mais uma, a de incluir língua escrita nessa série pseudo-sinonímica, inclusão obviamente inexata, visto que a língua padrão, embora se use sobretudo na escrita, pode usar-se também na comunicação oral formal. A língua oral culta é geograficamente mais diversificada do que sua correspondente escrita, ou seja, do que o padrão, e, entre as formas escritas da língua, no caso do português atual do Brasil, as literárias variam mais, de uma região para outra, que as não-literárias, em consequência de um compromisso da literatura brasileira, nas últimas nove décadas, com os registros coloquiais. Certas “infrações” à norma gramatical que no Brasil se sentem, a partir do modernismo, como adequadas a um poema ou a um conto, não seriam aceitáveis numa carta comercial ou num discurso do paraninfo numa cerimônia de formatura. Na literatura anterior ao modernismo, ao contrário, tais “liberdades” seriam inadmissíveis. Por outro lado, o uso literário da língua escrita permite e até estimula a originalidade, ao contrário do seu emprego não-literário, que privilegia a padronização, daí ser bastante perceptível na literatura um outro tipo de variação, a individual. É a isso que nos referimos quando falamos em estilo de um escritor. A problemática do estilo sobrevive às controvérsias sobre a disciplina que o estuda. O que quer que se diga sobre a estilística, continuará sendo verdade que ficam na obra de arte as marcas pessoais de quem a produziu e que graças a elas se pode, por exemplo, muitas vezes, identificar o autor da obra, quando existe dúvida sobre a autoria. Voltemos, porém, ao tema da língua literária e da maneira como ela se relaciona com a língua padrão. Do fato de o português literário atual do Brasil não utilizar necessariamente a variedade formal culta do idioma (língua padrão) não se pode concluir que os coloquialismos observáveis em obras literárias se devam empregar em qualquer gênero textual. O que é “virtude” num gênero, ou seja, o que é adequado ao contrato de comunicação desse gênero, pode ser “defeito” em outro, isto é, pode ser inadequado segundo o contrato deste outro. Contrato de comunicação é um dos conceitos básicos da análise semiolinguística do discurso de Patrick Charaudeau e pode definir-se como um conjunto de “regras” discursivas que determinam o que é e o que não é “permitido” no ato de produzir e de interpretar textos (orais ou escritos). Define, portanto, até onde os sujeitos da comunicação podem “ir” em sua atividade de codificação e de descodificação. 19 Distinguir língua padrão de língua literária é importante, não só na descrição linguística, porque dessa distinção depende a boa escolha do corpus, mas também no ensino do idioma. O estudante normalmente não vai à escola para aprender a redigir no estilo sofisticado de um Guimarães Rosa, mas para tornar-se capaz de produzir uma prosa não literária razoável, de interpretar textos, enfim de dominar certo número de contratos de comunicação orais e escritos. O contato da maioria dos alunos com textos literários visaria prioritariamente a fazer deles leitores, não necessariamente autores. Uns poucos, excepcionalmente motivados para a produção literária e que revelassem aptidão para essa atividade, seriam estimulados a desenvolver seu potencial criativo. Antes do advento do modernismo, a expectativa dos usuários da língua, a que de modo geral os escritores correspondiam, era que a literatura fosse escrita na língua padrão. Foi a militância político-linguística de Mário de Andrade e de seus companheiros que mudou o contrato de comunicação da literatura no Brasil no que se refere à variação linguística: em textos literários o registro formal (língua padrão) deixou de ser obrigatório e tornou-se facultativo, passando a escolha da variedade linguística utilizada a obedecer às necessidades estilísticas do escritor. Hoje, na verdade, o reduto do padrão é a prosa formal não literária, que assume a forma de cartas comerciais, textos didáticos, científicos, técnicos, burocráticos, jurídicos notícias na mídia impressa etc. Seria interessante, a esta altura, aprofundar um pouco mais o conceito de língua padrão. Essa variedade da língua caracteriza-se: pelo comprometimento com a norma gramatical (apesar de alguns pontos de atrito); por sua natureza formal; por ser mais usada na escrita (embora o possa ser também na fala); por seu caráter suprarregional; por sua relação inseparável com o conceito de nação; pelo prestígio de que goza; por seu relativo acronismo. As três primeiras características dispensam esclarecimentos. A quarta característica é o caráter suprarregional da língua padrão, que consiste em indivíduos de diferentes regiões do Brasil usarem a mesma variedade do português na comunicação formal escrita, embora empreguem dialetos geográficos diferentes na comunicação informal do dia a dia. Isso se pode demonstrar por meio de um experimento simples: Submetem-se a um observador textos técnicos, jurídicos, burocráticos etc. redigidos em diferentes regiões do país e pede-se que ele identifique a região de origem dos respectivos autores, o que ele provavelmente, em virtude da suprarregionalidade da língua padrão, não será capaz de fazer, pelo menos não com base na variedade da língua utilizada. Se o fizer, será graças a índices não linguísticos. Ao contrário, se gravarmos em fita trechos de conversações de falantes de diferentes dialetos geográficos, pedindo a alguém que faça a escuta das gravações, essa pessoa provavelmente não encontrará dificuldade para identificar a região de origem dos respectivos falantes. Mesmo com relação a comunicações escritas informais, essa identificação não será difícil em certas circunstâncias. 20 Os primeiros textos escritos em português aparecem relativamente pouco tempo depois do surgimento de Portugal como nação. No Brasil, a partir da Independência, vários intelectuais passam a defender a denominação “Língua Brasileira” para o idioma nacional. O quinto item é o prestígio, atributo essencial da língua padrão, graças ao qual ela é tradicionalmente dada como “correta” e os registros informais, como “incorretos”, “viciosos” e até, de certo modo, como “inexistentes”. A negação da existência de tais códigos está implícita em exclamações como “Isso não é português!”, que ouvimos às vezes com referência a vocábulos e construções típicos desses registros. Isso nos leva a uma discussão interessante sobre o que é “existir” em matéria de linguagem. Não custa lembrar que uma forma, prestigiosa ou não, existe na língua quando, em determinadas situações comunicativas, a comunidade que fala ou escreve essa língua a emprega. O sexto e último item, o relativo acronismo da variedade padrão da língua, resulta do fato de que ela evolui mais vagarosamente que as demais variedades, embora também evolua. Entre a nossa conversação espontânea e a de um português ou brasileiro do século XVIII, a distância é maior que entre a nossa comunicação formal e a desse mesmo indivíduo, supondo que ele tivesse acesso à língua padrão de sua época. Por mais elitistas que sejam as origens da língua padrão, que se baseia, evidentemente, num dialeto social e geográfico prestigioso, há vantagens práticas em aprendê-la. Quem não é capaz de empregá-la sofre várias formas de exclusão e é incapaz de comunicar-se nas situações em que ela é necessária. Uma política linguística verdadeiramente democrática, por conseguinte, é a que defende o seu ensino na escola, não evidentemente como variedade única, mas como código a ser usado nos gêneros textuais que o exigem, em obediência aos respectivos contratos de comunicação. GÊNEROS E TIPOS: UMA APROXIMAÇÃO Mara Lucia Fabrício de Andrade (UNESP) Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/2/06.htm Acesso em 01/05/2011 1 INTRODUÇÃO Até que ponto gêneros e tipos podem ser aproximados é uma questão que tem sido abordada em vários trabalhos. Essa é a questão que direciona as reflexões aqui presentes. 2 GÊNEROS DO DISCURSO OU TIPOS TEXTUAIS Comunicar-se eficientemente parece, a princípio, algo fácil e simples a qualquer indivíduo, dada a agilidade e a habilidade que todos têm de usar a linguagem. No entanto durante esse processo realizado automaticamente, ou seja, sem uma real consciência do que subjaz à competência linguística, não se questiona a sequência de passos a percorrer para que se consiga realizar o complexo ato de comunicação por meio da língua. Nesse sentido a comunicação seria extremamente difícil se, como diz Bakhtin (1997, p. 302), os indivíduos não dominassem os gêneros de discurso e tivessem de criá-los no processo de fala. As dificuldades da criação de um gênero a cada construção de enunciado de modo totalmente livre seriam sentidas na perda da agilidade do processo. Daí ser necessário admitir, com Bakhtin, que a língua se realiza por meio de enunciados (orais ou escritos). Dadas as diferentes situações de uso, os enunciados vão sendo organizados, agrupados em tipos - de acordo com a finalidade - e ensinados de forma a levar o aprendiz a tomar conhecimento dos diferentes tipos e a usá-los de acordo com os objetivos que têm em mente (Pasquier e Dolz, 1996). Os enunciados - organizados e agrupados - são usados em toda e qualquer atividade humana. Essas atividades se caracterizam por condições especiais de atuação e por objetivos específicos, e, sendo inúmeras, cada esfera de atividade desenvolve tipos relativamente estáveis 21 de enunciados que passam a ser comumente associados a elas. Mesmo variando em termos de extensão, conteúdo e estrutura, os enunciados conservam características comuns, daí serem considerados tipos relativamente estáveis. Bakhtin (1997) chama de gêneros de discurso esses tipos estáveis de enunciados. Vale ressaltar que o termo gênero normalmente é associado aos estudos literários, daí a tendência, nos estudos linguísticos, para o uso da expressão tipos de texto, considerada mais neutra (Silva, 1995). Estando assentado que um passo no processo de comunicação é a escolha do tipo de texto, o que fica por verificar é quais são e como podem ser classificados os tipos de textos. 3 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS Num levantamento geral, Vilela (1999) abstrai os pressupostos que fundamentam as diferentes tipologias textuais existentes, classificando-as da seguinte maneira: 1) as que consideram as características textuais internas dos textos (ou formais); 2) as que consideram os traços textuais exteriores aos textos (ou funcionais); 3) as que conciliam traços internos e externos ao texto (formais e funcionais). a. Uma classificação funcional Melo (1985, apud Lonardoni, 1996) estabelece - a exemplo do que se faz para a literatura os gêneros para o jornalismo. Ao estudar os gêneros jornalísticos no Brasil, Melo retoma a obra de Luiz Beltrão, pesquisador que estudou sistematicamente esse assunto. A classificação feita por Beltrão atende a critérios funcionais, de acordo com as funções que os textos desempenham em relação ao leitor: informar, explicar ou orientar. A partir dessas funções, propõe três categorias básicas: a) jornalismo informativo: notícia, reportagem, história de interesse humano, informação pela imagem; b) jornalismo interpretativo: reportagem em profundidade; c) jornalismo opinativo: editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada, opinião do leitor. Acrescentando alguns elementos, Melo reduz essa classificação a duas categorias: * jornalismo informativo: nota, notícia, reportagem, entrevista. * jornalismo operativo: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura, carta. Com esse seu estudo, Melo, de certa forma, evidencia a proximidade que há entre gênero e tipos textuais. Os tipos textuais, assim, não se limitam especificamente ao literário, ao jornalístico, ao técnico ou ao científico: são, na verdade, modelos gerais, que são escolhidos, adaptados e readaptados de acordo com cada função específica que exercem na comunicação. b. Uma classificação formal e funcional No modelo que elabora, Silva (1995) concilia contribuições advindas de várias perspectivas de análise. Silva, acreditando que, de um ponto de vista linguístico, uma das grandes dificuldades encontradas nas classificações de tipos textuais decorre da falta de distinção entre os planos ou níveis de análise, propõe critérios para uma classificação dos tipos textuais-discursivos em níveis. No nível 1 são contemplados critérios formais (ou internos), e no nível 2 são contemplados critérios funcionais, do âmbito do discurso (ou externos). A partir do segundo nível surge a diferença fala-escrita e pode ser observada a existência de alguns “exemplares prototípicos”, ou casos que apresentam propriedades que permitem uma rápida identificação do tipo de texto com uma estrutura de referência (Silva, 1995). O terceiro nível surge pela recuperação que a autora faz, com rótulos diferentes, de uma observação de Labov (1985) na qual a narrativa, para valer a pena, tem de levar a algum ponto, permitindo que o ouvinte se sinta compensado, e não frustrado, pela atenção que despendeu. Isso, porém, só acontece quando o narrador é capaz de explorar os recursos avaliativos, e, nesse caso, está-se em outro plano, ou nível, o do papel que, por exemplo, uma estória contada em meio a uma conversa desempenha na interação, isto é, a função social que a estória pode ter para o autoengrandecimento do narrador (Silva, 1995). Sendo assim, esse terceiro nível contempla a diferença entre a estrutura de tipo textual, sua ocorrência num tipo de enunciado e a inserção desse tipo (ou 22 unidade) num aspecto discursivo mais abrangente; aspecto esse que teria uma função peculiar, ou, em outras palavras, um propósito comunicativo específico. Nesse propósito comunicativo caracterizado pela argumentatividade - está envolvida a interação social por intermédio da língua e, consequentemente, a intencionalidade natural a essa interação (Koch, 1984). Os três níveis propostos por Silva (1995) são, a seguir, apresentados de maneira mais esquemática: a) Primeiro nível: estruturas discursivas. São estruturas discursivas disponíveis na língua, e, portanto, pertencentes ao plano das potencialidades da língua, tradicionalmente identificadas como gêneros de discurso: - estrutura narrativa [predicados de ação; juntura temporal]; - estrutura descritiva [predicados estativos em torno de entidades]; - estruturas de tipo expositivo/argumentativo [proposições, construções sintáticas complexas (subordinação) e construções hipotéticas]; - estruturas procedurais [organizações sequenciais nas quais a referência a pessoa tem menos interesse que o processo em si (daí a ocorrência de sujeitos genéricos ou da impessoalidade); o verbo se apresenta no modo dos diretivos, o imperativo, o futuro ou o infinitivo; é comum o uso de orações independentes]; - estrutura expressiva [predicados com verbos de opinião, avaliativos, ou subjetivos, em que predomina a primeira pessoa]; - estruturas dialógicas [identificadas pela alternância das pessoas do discurso envolvidas, podendo, porém, ser reproduzidas em certas formas da escrita]. b) Segundo nível: uso das estruturas discursivas em situações reais de comunicação. São instâncias de uso de estruturas que aparecem sob organizações típicas associadas às diversas atividades desenvolvidas pelos indivíduos, como, por exemplo, a estória, a piada, o editorial. c) Terceiro nível: função ou propósito comunicativo com que dada unidade discursiva é empregada, sua força ilocucionária, ou a variedade de eventos comunicativos a que se associa. É o nível das superposições, em que se busca identificar qual a intenção predominante (Koch, 1984; Silva, 1995). Silva cita a teoria de Jakobson (1969) por entendê-la propícia para uma primeira identificação. Esses níveis propostos por Silva (1995), para uma melhor visualização do conjunto, são condensados e também renomeados na tabela 01: Tabela 01: Níveis de análise de tipos textuais o. nível: unidades formais 1 2o. nível: unidades 3o. nível: unidades comunicativas argumentativas função/propósito estruturas discursivas (internas à língua) usos das estruturas comunicativo dos usos das discursivas em circunstâncias estruturas discursivas em reais de comunicação circunstâncias reais de comunicação potencialidades usos funções w o tipo de veículo w o tipo de literatura w o tipo de narrativa destinatário w a modalidade conativa de língua (falada ou escrita) w etc... descritiva expositiva / argumentativa procedural referencial metalingüística expressiva expressiva poética dialógicas fática 23 c. Um exemplo de análise Uma grande dificuldade que há, conforme Silva (1995), para se realizarem análises empíricas está exatamente em identificar e delimitar porções de discurso inseridas em outras unidades maiores. Um exemplo é a entrevista, que pode abranger as mais diferentes manifestações linguísticas. No entanto, tendo por base a análise por níveis - nos termos de Silva (1995) -, a entrevista poderia ser considerada um tipo de texto, uma vez que diz respeito a uma atividade que se realiza e que se caracteriza pela troca dialógica. Na tentativa de ilustrar essa questão é que se apresenta a tabela 02. Nessa tabela, as unidades formais, correspondentes ao primeiro nível, evidenciam as estruturas básicas que sustentam um tipo textual e as suas marcas aparentes na superfície do texto, daí seu número restrito. As unidades comunicativas, que correspondem ao segundo nível, e podem ser numerosas, são: o veículo de comunicação utilizado, o “estilo geral” ou tipo de literatura, o receptor e o tipo de código utilizado. As unidades argumentativas, que correspondem ao terceiro nível, estão relacionadas com a intenção subjacente à comunicação. Os níveis de análise assim dispostos permitem uma análise mais apurada dos diferentes tipos de textos. Os tipos de textos utilizados nessa proposta de análise - que aparecem na tabela 02 - foram limitados a alguns tipos veiculados por jornal. Tabela 02 Traços de textos (veiculados por jornais) e níveis de análise Tipos de Unidades Textos Formais Unidades Unidades Comunicativas N De A E Di P J JR Argumentativas R LCI LCO LAR LJU ADT TEE INF FAL ESC REP DES INF OPI CO RE EX PO FA ME Notícia + ± - - - - + ± ± ± + - - + ± ± - + ± - + - + ± ± - - - Científico ± + + - - ± ± ± + + - - - + ± ± - + ± - + - + ± - - - ± Editorial - ± + ± - - + ± ± ± ± ± - + ± - - + ± - - + + - ± - - - Carta/leitor ± ± ± + - ± ± ± ± - + - - ± ± ± - + ± - - + ± ± + ± ± ± Crônica ± ± ± + - ± ± ± ± - ± + - + ± ± - + ± - - + ± ± ± + ± ± Entrevista ± ± ± ± + ± ± ± ± ± + - - ± ± ± - + ± - + - ± ± ± ± ± ± Quadrinho ± ± ± ± + - ± ± ± - + ± - ± ± + - + ± + - + - - ± - + ± Legenda unidades unidades formais: unidades comunicativas: N [narrativa] J [jornal] CO [conativa], De [descritiva] J-R [jornal-revista] RE [referencial], argumentativas: A [expositiva/argumentativa] R [revista] EX [expressiva], E [expressiva] LCI [literatura-científica] PO [poética], Di [dialógicas] LCO [literatura-cotidiana] FA [fática]. P [procedural] LAR [literatura-arte] ME [metalinguística], LJU [literatura-jurídica] ADT [adulto] TEE [teen] INF [infantil] FAL [fala] REP [reportado] ESC [escrita] DES [desenho] INF [informativo] OPI [opinativo] 24 4 GÊNEROS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS, E ESTILO Com relação ao exposto até aqui, poder-se-ia questionar que tomar gênero como sinônimo de tipo textual não seria válido, dada a distinção dos gêneros em primários e secundários (Bakthin, 1997; Schneuwly, mimeo). Por um lado, o gênero primário é caracterizado por tipos de enunciado espontâneos e naturais, que ocorrem na imediatez da fala, e o gênero secundário, por tipos de enunciados da fala aprimorados por meio da escrita (Bakthin, 1997; Schneuwly, mimeo). Por outro lado, um tipo textual pode ser caracterizado como espontâneo ou planejado, conforme os traços “falado” e “escrito”, que, conforme Silva (1995), são traços de análise pertinentes ao segundo nível. Sendo assim, o uso de tipo textual por gênero não é problemático porque, em essência, a distinção permanece como um dos traços no segundo nível. Tal acontece porque, entre outras razões, é possível, como faz Silva (1995), na esteira de Bakthin (1997), conciliar aspectos formais e funcionais, já que ambos têm pressupostos pertinentes ao terceiro tipo proposto na classificação de Vilela (1999). No que se refere ao estilo é possível fazer algumas observações a partir do exposto por Bakthin (1997): A variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos estratos e dos aspectos da personalidade individual, e o estilo individual pode relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum. O problema de saber o que na língua cabe respectivamente ao uso corrente e ao indivíduo é justamente problema do enunciado (apenas no enunciado a língua comum se encarna numa forma individual). A definição de um estilo em geral e de um estilo individual em particular requer um estudo aprofundado da natureza do enunciado e da diversidade dos gêneros do discurso.O vínculo indissolúvel, orgânico, entre o estilo e o gênero mostra-se com grande clareza quando se trata do problema de um estilo lingüístico [sic] ou funcional. De fato, o estilo lingüístico[sic] ou funcional nada mais é senão o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da comunicação humana. Cada esfera conhece seus gêneros, apropriados à sua especificidade, aos quais correspondem determinados estilos. Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e dadas condições, específicas para cada uma das esferas da comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um dado tipo de enunciado, relativamente estável do ponto de vista temático, composicional e estilístico. (p. 283, grifo meu) Primeiro observa-se a distinção que há entre um estilo individual e um estilo geral pertinente ao tipo de enunciado. Em segundo lugar, observa-se que, quando se trata de um estilo geral pertinente ao tipo de enunciado, este está estreitamente correlacionado com o gênero. Sendo assim, esse estilo geral relacionado ao gênero é passível de ser caracterizado por traços pertinentes, também pertencentes ao segundo nível. Na tabela 02 esses traços são apresentados como tipos de literatura. A partir daí verifica-se que, na verdade, o estilo individual, relativo às escolhas individuais no plano sintático ou do vocabulário (Swales, 1990; apud Silva, 1995), é uma característica subjetiva. E, que o estilo geral, pertinente ao tipo de enunciado, pode contrariamente ao que propõe Silva (1995) - aparecer também como traços característicos de determinados tipos de textos, passíveis de ser alocados no segundo nível. 5 TIPOS TEXTUAIS COMO “FERRAMENTA” Para Bakthin (1997), quando um indivíduo utiliza a língua, sempre o faz por meio de um tipo de texto ainda que possa não ter consciência disso; ou seja, a escolha de um tipo é um dos passos - se não o primeiro - a ser seguidos no processo de comunicação. Por isso, e nessa perspectiva de continuum, os tipos textuais podem ser uma ferramenta que está à disposição do falante, sendo por ele escolhidos da maneira que melhor lhe convém para, no processo de comunicação, auxiliá-lo na sua expressão linguística. Tomar um tipo textual como uma estrutura básica normalmente usada em uma determinada situação o torna uma valiosa “ferramenta” (ou “instrumento” de caráter cognitivo) que o falante procura, guia e controla para poder expressar a função maior da linguagem que é atingir uma comunicação, em maior ou menor grau, argumentativa, ou seja, uma comunicação cujo objetivo é eficazmente alcançado e concretizado; daí dizer-se que a argumentatividade está inscrita no uso da língua (Schneuwly, mimeo; Koch. 1984; Silva, 1995; Neves, 1997). 6 CONCLUSÃO As ideias aqui tratadas, relativas aos níveis de análise para o estabelecimento de uma tipologia textual - que se apresentaria como uma ferramenta (um padrão socialmente aceito) por meio da qual o falante “constrói” (níveis 1 e 2) sua intenção comunicativa (nível 3) -, são fundamentadas na teoria funcional da linguagem proposta por Dik e Halliday (apud Neves, 1997), dentro da qual se admite a argumentação como mais um fator inerente ao uso (Koch, 1984; Neves, 1997). Neste sentido a proposta de análise baseada em “níveis” se mostra mais adequada à análise da diversidade textual existente, pois se trata de uma análise que se faz genérica e abrangente ao mesmo tempo em que mantém as características específicas dos textos, tais como a informatividade e a opinião, apresentadas na proposta de Melo. 25 De uma maneira geral a busca por uma tipologia textual é uma prática clássica. E foi da tradição que os diferentes tipos (ou gêneros, e aqui, sim, talvez esse termo fosse mais adequado) - como o épico, o lírico e o dramático ou a poesia e a prosa - foram herdados, e ainda sobrevivem, ora preservados intactos na arte, ora decompostos e recompostos em inúmeros e diferentes níveis, mas todos a serviço da intenção comunicativa de um falante que a eles recorre como se recorre a uma ferramenta de trabalho. BIBLIOGRAFIA BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. 2a. ed. São Paulo : Martins Fontes, 1997. BRANDÃO, H. N. Texto, gêneros do discurso e ensino. Mimeo. JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. São Paulo : Cultrix, 1969. KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo : Cortez, 1984. LABOV, W. Language in the inner city. Philadelphia : Univ of Philadelphia Press, 1975. LONARDONI, M. No topo da notícia. De como a submanchete faz manchete. Dissertação de mestrado. Unesp-Araraquara, 1996. MELO, J. M. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis : Vozes, 1985. NEVES, M. H. M. A gramática funcional. Martins Fontes : São Paulo, 1997. PASQUIER, A.; DOLZ, J. Un decálogo para enseñar a escribir. Cultura y Educación, 1996, n. 2, p. 31-41. SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. São Paulo : Cultrix, 1971. SCHNEUWLY, B. Gêneros e tipos de texto: considerações psicológicas e ontogenéticas. Trad. Roxane H. R. Rojo. In: REUTER, Y. (ed.) Les Interactions Lecture-Écriture (Actes du Colloque Théodile-Crel): 155-173. Ber : Peter Lang. Mimeo. SILVA, V. L. P. Forma e função nos gêneros de discurso. 1995. Mimeo. SILVA, V. L. P. Forma e função nos gêneros de discurso. Alfa, 42, 1997. SILVA, J. Q. G. Gênero discursivo e tipo textual. Scripta 2, n. 4, 9, 87-106, 1999. SWALES, J. Genre analysis. Cambridge : Cambridge Univ. Press, 1990. VASCONCELOS, S. I. C. C. Os discursos jornalísticos. Itajaí (SC)/ Maringá (PR) : Univali, 1999. VILELA, M. Gramática da língua portuguesa. 2ª ed. Coimbra : Livraria Almedina, 1999. REDAÇÃO DE TEXTOS CLAROS, COERENTES E CONCISOS http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_introducao.htm Um bom texto jornalístico depende, antes de mais nada, de clareza de raciocínio e domínio do idioma. Não há criatividade que possa substituir esses dois requisitos. Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de encadeamentos lógicos. Deve ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizar-se das formas mais simples admitidas pela norma culta da língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e que cada frase contenha uma só ideia. Verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas adjetivos e advérbios, sobretudo se usados com frequência, tendem a piorá-lo. O tom dos textos noticiosos deve ser sóbrio e descritivo. Mesmo em situações dramáticas ou cômicas, é essa a melhor maneira de transmitir o fato da emoção. Deve evitar fórmulas desgastadas pelo uso e cultivar a riqueza dos vocábulos acessíveis à média dos leitores. O autor pode e deve interpretar os fatos, estabelecer analogias e apontar contradições, desde que sustente sua interpretação no próprio texto. Deve abster-se de opinar, exceto em artigo ou crítica. 26 REGÊNCIA VERBAL/NOMINAL Trata da relação verbo/nome e seus complementos. Perguntar ao verbo/nome que preposição é exigida por ele. Quem simpatiza, simpatiza com (por exemplo). Os pronomes relativos vêm acompanhados de preposição, dependendo da regência do verbo. (Exemplo: A senhora a cuja casa me referi. O médico com quem simpatizo.). OU da regência do NOME (Exemplo: Ninguém conseguiu esquecer a cilada de que ele foi vítima. (vítima de). A ocorrência da crase está ligada à regência. A regência verbal A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). O estudo da regência verbal permite ampliar a capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de conhecermos as diversas significações que um verbo pode assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. Observe: A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar. A mãe agrada ao filho. -> agradar significa "causar agrado ou prazer", satisfazer. Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de "agradar a alguém". Saiba que: O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal. As preposições são capazes de modificar completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos: Cheguei ao metrô. Cheguei no metrô. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração "Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é muito comum existirem divergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns verbos, e a regência culta. Existem algumas variáveis na conjugação de alguns verbos. Os linguistas chamam os desvios de variáveis, enquanto os gramáticos tratam-nos como erros. verbo ver e derivados. Forma popular: se eu ver, se eu rever, se eu revesse. Forma padrão: se eu vir, se eu revir, se eu revisse. 27 verbo vir e derivados. Forma popular: se eu vir, seu eu intervir, eu intervi, ele interviu, eles proviram. Forma padrão: seu eu vier, se eu intervier, eu intervim, ele interveio, eles provieram. ter e seus derivados. Forma popular: quando eu obter, se eu mantesse, ele deteu. Forma padrão: quando eu obtiver, se eu mantivesse, ele deteve. pôr e seus derivados. Forma popular: quando eu compor, se eu disposse, eles disporam. Forma padrão: quando eu compuser, se eu dispusesse, eles dispuseram. reaver. Forma popular: eu reavi, eles reaveram, ela reavê. Forma padrão: eu reouve, eles reouveram, ela reouve. A regência nominal Regência Nominal é o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição "a". Veja: Obedecer a algo/ a alguém. Obediente a algo/ a alguém. Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os regem. Observe-os atentamente e procure, sempre que possível, associar esses nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece. Substantivos Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de Aversão a, para, por Doutor em Obediência a Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por Bacharel em Horror a Proeminência sobre Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por 28 Adjetivos Acessível a Diferente de Necessário a Acostumado a, com Entendido em Nocivo a Afável com, para com Equivalente a Paralelo a Agradável a Escasso de Parco em, de Alheio a, de Essencial a, para Passível de Análogo a Fácil de Preferível a Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a Apto a, para Favorável a Prestes a Ávido de Generoso com Propício a Benéfico a Grato a, por Próximo a Capaz de, para Hábil em Relacionado com Compatível com Habituado a Relativo a Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por Contíguo a Impróprio para Semelhante a Contrário a Indeciso em Sensível a Curioso de, por Insensível a Sito em Descontente com Liberal com Suspeito de Desejoso de Natural de Vazio de Advérbios Longe de Perto de Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a. 29 CRASE Temos vários tipos de contração ou combinação na Língua Portuguesa. A contração se dá na junção de uma preposição com outra palavra. Na combinação, as palavras não perdem nenhuma letra quando feita a união. Observe: • Aonde (preposição a + advérbio onde) • Ao (preposição a + artigo o) Na contração, as palavras perdem alguma letra no momento da junção. Veja: • da ( preposição de + artigo a) • na (preposição em + artigo a) Crase é a fusão de duas vogais idênticas, representada graficamente pelo acento grave. Fomos à piscina à = artigo + preposição Ocorrerá a crase sempre que houver um termo que exija a preposição a e outro termo que aceite o artigo a. Para termos certeza de que o "a" aparece repetido, basta utilizarmos alguns artifícios: I. Substituir a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se aparecer ao ou aos diante de palavras masculinas, é porque ocorre a crase. Exemplos: Temos amor à arte. (Temos amor ao estudo) Respondi às perguntas. (Respondi aos questionário) Li as perguntas (Li os textos) II. Substituir o "a" por para ou para a. Se aparecer para a, ocorre a crase: Exemplos: Contarei uma estória a você. (Contarei uma estória para você.) Fui à Holanda (Fui para a Holanda) III. Substituir o verbo "ir" pelo verbo pelo verbo "voltar". Se aparecer a expressão voltar da, é porque ocorre a crase. Exemplos: Iremos a Curitiba. (Voltaremos de Curitiba) Iremos à Bahia (Voltaremos da Bahia) Não ocorre a Crase a) antes de verbo Voltamos a contemplar a lua. b) antes de palavras masculinas Gosto muito de andar a pé. Passeamos a cavalo. c) antes de pronomes de tratamento, exceção feita a senhora, senhorita e dona: Dirigiu-se a V.Sa. com aspereza Dirigiu-se à Sra. com aspereza. d) antes de pronomes em geral: Não vou a qualquer parte. Fiz alusão a esta aluna. e) em expressões formadas por palavras repetidas: Estamos frente a frente. Estamos cara a cara. 30 f) quando o "a" vem antes de uma palavra no plural: Não falo a pessoas estranhas. Restrição ao crédito causa o temor a empresárias. Crase facultativa 1. Antes de nome próprio feminino: Refiro-me à (a) Juliana. 2. Antes de pronome possessivo feminino: Dirija-se à (a) sua fazenda. 3. Depois da preposição até: Dirija-se até à (a) porta. Casos particulares 1. Casa Quando a palavra casa é empregada no sentido de lar e não vem determinada por nenhum adjunto adnominal, não ocorre a crase. Exemplos: Regressaram a casa para almoçar Regressaram à casa de seus pais 2. Terra Quando a palavra terra for utilizada para designar chão firme, não ocorre crase. Exemplos: Regressaram a terra depois de muitos dias passados no barco. Regressaram à terra natal. 3. Pronomes demonstrativos: aquele, aquela, aqueles, aqueles, aquilo. Se o tempo que antecede um desses pronomes demonstrativos reger a preposição a, vai ocorrer a crase. Exemplos: Está é a nação a que me refiro. (Este é o país a que me refiro.) Esta é a nação à qual me refiro. (Este é o país ao qual me refiro.) Estas são as finalidades às quais se destina o projeto. (Estes são os objetivos aos quais se destino o projeto.) Houve um sugestão anterior à que você deu. (Houve um palpite anterior ao que você me deu.) Ocorre também a crase a) Na indicação do número de horas: Chegamos às nove horas. b) Na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha oculta: Usam sapatos à (moda de) Luís XV. c) Nas expressões adverbiais femininas, exceto às de instrumento: Chegou à tarde (tempo). Falou à vontade (modo). d) Nas locuções conjuntivas e prepositivas; à medida que, à força de... OBSERVAÇÕES: Lembre-se que: Há - indica tempo passado. Moramos aqui há seis anos A - indica tempo futuro e distância. Daqui a dois meses, irei à fazenda. Moro a três quarteirões da escola. 31 Coloque crase onde for necessário: 1. Ele fez referência a tarefa feita por nós. 2. Traçou uma reta oblíqua a do centro. 3. Não conheço as que saíram. 4. Ela se referia as que saíram. 5. Apresentou-lhe a esposa. 6. Apresentou-o a esposa. 7. Era uma camisa semelhante a que o diretor usava. 8. Ele desconhecia aquele regulamento. 9. Ele não obedecia aquele regulamento. 10. Não me refiro aquilo. 11. Não vi aquilo. 12. Esta é a lei a qual fiz alusão. 13. Esta é a lei a qual desconhecia. 14. Esta é a mulher a quem fiz referência. 15. Esta é a mulher a qual fiz referência. 16. Ela se dedica a empresa e obedece as leis. 17. Não compareceu as reuniões que eram úteis as pesquisas. 18. O juiz, indiferente as súplicas, condenou o réu a forca. 19. Nas próximas férias, iremos a Bélgica, a Suécia e a Portugal. 20. Viajaremos a Londres e a Roma do Coliseu. 21. Já fomos a Paraíba, a Pernambuco e a Goiás. 22. Também fomos a Santa Catarina e a progressista Florianópolis. 23. As vezes, o pessoal sai as escondidas. 24. A reunião vai das cinco as seis horas. 25. A reunião vai durar de cinco a seis horas. 32 COLOCAÇÃO PRONOMINAL Pode haver dúvida em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe) na frase. Será que, na frase Não me toque, o pronome deveria ficar antes do verbo (Não me toque) ou depois dele (Não toque-me)? Tudo vai depender dos ímãs. Ímãs? É, são palavras que puxam, atraem esses pronomes: Qualquer palavra de sentido negativo, por exemplo, é ímã; atrai o pronome. Não, nunca, jamais, nem, ninguém, nada, etc. Exemplo: Não me toque; Acho que ele nunca se tocou; etc.; A palavra QUE, menos quando for substantivo, também é ímã. Sempre atrai o pronome: Quero que me faça um favor!; Foi ela que se estropiou; E aquele quê chamou-me à atenção (aqui, o quê é substantivo, nome, e não é ímã. Significa algo mais, qualquer coisa), etc.; Qualquer advérbio (palavra que exprime circunstâncias de tempo, modo, lugar, afirmação, dúvida, etc.), como hoje (tempo), sempre (tempo), já (tempo), sempre (tempo), talvez (dúvida), agora (tempo), aqui (lugar), etc. Exemplos: Aqui se faz, aqui se paga; Eles agora se entendem; Tudo já se acabou; etc. Obs.: se, após o advérbio, houver pausa (com vírgula), não haverá a atração: Ontem, deram-me um presente; Pronomes demonstrativos, principalmente os grifados (este, esse, aquele, isso, isto, aquilo etc.). Exemplos: Esse garoto se deu mal; Sabia que isso lhe faz bem?; Pronomes indefinidos (aqueles que se referem a um ser de maneira vaga, imprecisa, indefinida), como tudo, todos, vários, muitos, poucos, diversos, alguém, ninguém, etc. Exemplos: Ninguém se culpou; Creio que todos o chamaram; etc. Conjunções subordinativas (palavrinhas que ligam as orações subordinadas às principais), como porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante, enquanto, quanto mais, etc. Exemplos: Ficou bravo porque se danou; Quanto mais se gaba, mais se ilude. Obs.: se o porque for substituível pela palavra que (caso em que será explicativo), não atrairá o pronome. Exemplo: Fique quieta já, porque (que) chamaram-na de desequilibrada; Pronomes relativos (que, quem, o qual, a qual, quanto, onde, etc.). Exemplos: Onde se estabeleceu a desordem?; Eis a moça a quem me dirigi. Somente nesses casos o pronome vem antes do verbo? Não, faltam alguns detalhes importantes: na expressão formada por em + verbo no gerúndio (o verbo terminado em ndo), o pronome se também fica antes do verbo: Em SE tratando de dinheiro, não tomemos partido. O mesmo acontece nas frases exclamativas e optativas (que exprimem emoção, desejo, etc.). Exemplos: Que Deus o acompanhe!; Que ele se dê muito bem; etc. Outra construção frequente é a formada por preposição (geralmente a, para...) + verbo no infinitivo (cantar, cantares, cantar, cantarmos, cantarem, etc.). Levando-se em consideração o som, que deve ser agradável, convencionou-se que o pronome também deve posicionar-se antes do verbo. Exemplo: Ao se trocarem, notaram vestes estranhas no armário; Para se promoverem, fizeram coisas terríveis; etc. Obs.: Se a preposição for a e o pronome, a ou o, preferir-se-á, por questão de sonoridade, a colocação após o verbo: Eu estava a olhá-la (e não "Eu estava a a olhar"); Eu estava a olhá-lo (e não "Eu estava a o olhar"). E quando o pronome vem depois do verbo? Em primeiro lugar, é bom você saber que, se não houver ímã algum, o pronome pode ficar depois do verbo. Pode, mas é claro que, se for possível a próclise, ela será preferida, pois compactua com 33 a tendência do português falado no Brasil. Veja algumas situações em que se deve colocar o pronome após o verbo: Uma frase nunca deve ser iniciada por um pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe). Algumas inadequações: “Me faça um favor”; “Se preocupou comigo?” Corrigindo-os, teríamos: Faça-me um favor; Preocupou-se comigo?; Em frases imperativas afirmativas (exprimem ordem, pedido), o pronome também fica depois do verbo: Entregue-me o papel!; Dê-lhe o baralho; etc.; Com o gerúndio (forma em que o verbo termina em ndo, como andando, correndo, etc.), o pronome prefere ficar após o verbo: O evento ocorreu desse modo, evitando-se os conflitos; Vi as crianças perdendo-se entre agressões; etc. Obs.: na expressão formada por em + se + gerúndio, como já foi dito, o pronome (se) fica antes do verbo. Exemplo: Em se tratando de futebol, ele é o melhor. O pronome também pode ficar no meio do verbo? Pode, claro. Mas a mesóclise, como é chamada essa construção, é praticamente inexistente no português falado no Brasil, tendo em vista que a nossa tendência é pôr o pronome antes do verbo (o que recebe o nome de próclise na Gramática). Mas é inevitável neste caso: Quando a frase for iniciada por um verbo no futuro do pretérito do indicativo (eu faria, tu farias, ele faria, etc.) ou no futuro do presente do mesmo modo (eu farei, tu farás, ele fará, etc.). Nesse caso, não se pode colocar o pronome antes (nenhuma oração deve iniciar-se por pronomes oblíquos átonos) nem depois do verbo. Tem que ser no meio mesmo. Outro detalhe: mesmo não sendo em início de frase, quando não existe ímã e o tempo verbal é um dos dois mencionados, pode-se intercalar o pronome: Eu preferi-lo-ia mais bem passado (não há ímã, e o tempo é o futuro do pretérito. Pode-se deixar o pronome no meio ou, preferível, colocá-lo antes (Eu o preferiria mais bem passado). Errado seria colocar o pronome depois do verbo no futuro do pretérito ou do presente (Eu “preferiria-o”). Eu a amo ou Eu amo-a? Tanto faz. Com os pronomes eu, tu, ele, nós, vós e eles, a colocação do pronome é facultativa (você escolhe se quer antes ou depois do verbo). Logo, Eu a amo e Eu amo-a estão corretíssimas. O infinitivo isolado é outro caso opcional (infinitivo é a forma natural do verbo: vender, cantar, chorar, sorrir, etc.): Sem ofendê-lo (ou Sem o ofender), eu gostaria de tirar uma satisfação. Tome cuidado para não colocar o pronome após particípios (forma em que o verbo, geralmente, termina em do, to e so, como cantado, vendido, dito, etc.): Tenho “dito-lhe” (errado); Tenho lhe dito (certo). E quando houver dois ou mais verbos? Se esses verbos dependerem um do outro, tratar-se-á de uma locução verbal (união de um verbo auxiliar e um principal): Todos querem dançar; Ele vai andando; etc.. Esse é um caso bastante simples. Se quiser ter a certeza de que sempre estará de acordo com a norma-padrão, é só deixar o pronome oblíquo átono sempre depois do principal, desde que este não esteja no particípio (o verbo principal sempre estará no infinitivo, gerúndio ou particípio). Exemplos: Realmente não estamos entendendo-a; Ela quis dizer-me que está bem. Se houver palavra atrativa (ímã) antes da locução, o pronome oblíquo poderá vir antes da locução ou depois do principal: Realmente não A estamos entendendo ou Realmente não estamos entendendo-A. 34 Se não houver ímã algum, o pronome oblíquo pode, na prática, adotar qualquer posição; de preferência aquela que não nos fira os ouvidos: Ela ME quis dizer que está bem; Ela quis ME dizer que está bem; Ela quis dizer-ME que está bem (as duas últimas construções soam de maneira mais natural; em se tratando de colocação pronominal em locuções verbais, quando houver mais de uma possibilidade, apele ao seu ouvido, ao som agradável). EXERCÍCIOS 1. a) b) c) d) Assinale a frase com erro de colocação pronominal: Tudo se acaba com a morte, menos a saudade Com muito prazer, se soubesse, explicaria-lhe tudo João tem-se interessado por suas novas atividades Ele estava preparando-se para o vestibular de Direito 2. a) b) c) d) Assinale a frase com erro de colocação pronominal: Tudo me era completamente indiferente Ela não me deixou concluir a frase Este casamento não deve realizar-se Ninguém havia lembrado-me de fazer as reservas 3. a) b) c) d) Assinale a frase incorreta: Nunca mais encontrei o colega que me emprestou o livro Retiramo-nos do salão, deixando-os sós Faça boa viagem! Deus proteja-o Não quero magoar-te, porém não posso deixar de te dizer a verdade 4. O funcionário que se inscreve, fará prova amanhã: 1. Ocorre próclise em função do pronome relativo 4. Tanto a ênclise quanto a próclise são aceitáveis a) Correta apenas a 1ª afirmativa. c) São corretas a 1ª e a 3ª 2. Deveria ocorrer ênclise 3. A mesóclise é impraticável b) Apenas a 2ª é correta d) A 4ª é a única correta 5. Assinale a colocação inaceitável: a) Maria Oliva convidou-o b) Se abre a porta da caleça por dentro c) Situar-se-ia Orfeu numa gafieira? d) D. Pedro II o convidou 6. a) b) c) d) O pronome pessoal oblíquo átono está bem colocado em um só dos períodos. Qual? Isto me não diz respeito! Respondeu-me ele, afetadamente. Segundo deliberou-se na sessão, espero que todos apresentem-se na hora conveniente. Os conselhos que dão-nos os pais, levamo-los em conta mais tarde. Amanhã contar-lhe-ei por que peripécias consegui não envolver-me. 7. Estas conservas são para nós __________ durante o inverno. Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna: a) alimentarmos-nos b) alimentar-mo-nos c) nos alimentarmos d) nos alimentarmo-nos 8. Caso _______ lá, _______, para que não _______ Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas: a) se demoram � avisem-nos � nos preocupemos b) se demorem � avisem-nos � preocupemo-nos c) demorem-se � nos avisem � preocupemo-nos d) demorem-se � nos avisem � nos preocupemos 9. Do lugar onde _______, ______um belo panorama, em que o céu ________com a terra a) se encontrava � se divisava � ligava-se b) se encontravam � se divisava � ligava-se c) se encontravam � divisava-se � se ligava d) encontravam-se � divisava-se � se ligava 35 CONCORDÂNCIA NOMINAL 1. Substantivo + Substantivo... + Adjetivo Quando o adjetivo posposto se refere a dois ou mais substantivos, concorda com o último ou vai facultativamente: para o plural, no masculino, se pelo menos um deles for masculino; para o plural, no feminino, se todos eles estiverem no feminino. Exemplos: Ternura e amor humano. Amor e ternura humana. Ternura e amor humanos. Carne ou peixe cru. Peixe ou carne crua. Carne ou peixe crus. 2. Adjetivo + Substantivo + Substantivo + ... Quando o adjetivo anteposto se refere a dois ou mais substantivos, concorda com o mais próximo. Exemplos: Mau lugar e hora. Má hora e lugar. 3. Substantivo + Adjetivo + Adjetivo + ... Quando dois ou mais adjetivos se referem a um substantivo, este vai para o singular ou plural. Exemplos: Estudo as línguas inglesa e portuguesa. Estudo a língua inglesa e (a) portuguesa. Os poderes temporal e espiritual. O poder temporal e (o) espiritual. 4. Ordinal + Ordinal + ... + Substantivo Quando dois ou mais ordinais vêm antes de um substantivo, determinando-o, este concorda com o mais próximo ou vai para o plural. Exemplos: A primeira e segunda lição. A primeira e segunda lições. 5. Substantivo + Ordinal + Ordinal + ... Quando dois ou mais ordinais vêm depois de um substantivo, determinando-o, este vai para o plural. Exemplo: As cláusulas terceira, quarta e quinta. 6. Um e outro / Nem um nem outro + Substantivo Quando as expressões "um e outro", "nem um nem outro" são seguidas de um substantivo, este permanece no singular. Exemplos: Um e outro aspecto. Nem um nem outro argumento. De um e outro lado. 7. Um e outro + Substantivo + Adjetivo Quando um substantivo e um adjetivo vêm depois da expressão "um e outro", o substantivo vai para o singular e o adjetivo para o plural. Exemplos: Um e outro aspecto obscuros. Uma e outra causa juntas. 36 8. "O (a) mais ... possível" - "Os (as) mais ... possíveis" - "O (a) pior ... possível" - "Os (as) piores ..." - "O (a) melhor ... possível" - "Os (as) melhores ... possíveis" O adjetivo "possível", nas expressões "o mais ...", "o pior ...", "o melhor ..." permanece no singular. Com as expressões "os mais ...", "os piores ...", "os melhores ...", vai para o plural. Exemplos: Os dois autores defendem a melhor doutrina possível. Estas frutas são as mais saborosas possíveis. Eles foram os mais insolentes possíveis. Comprei poucos livros, mas são os melhores possíveis. 9. Particípio + Substantivo O particípio concorda com o substantivo a que se refere. Exemplos: Feitas as contas ... Postas as cartas na mesa ... Vistas as condições ... Salvas as crianças ... Restabelecidas as amizades ... Observação: "Salvo", "posto" e "visto" assumem também papel de conectivos, sendo, por isso, invariáveis: Salvo honrosas exceções. Posto ser tarde, irei. Visto ser longe, não irei. 10. Anexo / bastante / incluso / leso / mesmo / próprio + Substantivo Essas palavras concordam com o substantivo a que se referem. Vão anexas as cópias. Recebi bastantes flores. Vão inclusos os documentos. Ele mesmo falou aquilo. Ela mesma falou aquilo. Elas próprias falaram aquilo. 11. Meio (= metade) + Substantivo O adjetivo "meio" concorda com o substantivo a que se refere. Exemplos: Meias medidas. Meio litro. Meia garrafa. 12. Meio (= um tanto) + Adjetivo O advérbio "meio", que se refere a um adjetivo, permanece invariável. Exemplos: Ela parecia meio encabulada. Janela meio aberta. Observações: 1. Na fala, observam-se exemplos do advérbio "meio" flexionado. Tal fato pode ser explicado pelo fenômeno da "concordância atrativa", ou por influência do adjetivo a que se refere: "Ela está meia cansada". 2. Em "meio-dia e meia", "meia" concorda com a palavra "hora", oculta na expressão "meio-dia e meia (hora)". Essa é a construção recomendada pela maioria dos manuais de cultura idiomática. A construção "meio-dia e meio" também ocorre na fala; a forma "meio" permanece no masculino, por atração ou influência da forma masculina "meio-dia". 3. A palavra "meio" funciona como elemento de justaposição em "meias-luas", "meios-termos", "meios-tons", "meia-idade", etc. 37 13. Casa, página (+ número) + numeral Na enumeração de casas e páginas, o numeral concorda com a palavra oculta "número". Exemplos: Casa dois. Página dois. 14. Substantivo + é bom / é preciso / é proibido Em construções desse tipo, quando o substantivo não está determinado, as expressões "é bom", "é preciso", "é proibido" permanecem no singular. Exemplos: Maçã é bom para a saúde. É preciso cautela. É proibido entrada. Observação: Quando há determinação do sujeito, a concordância efetua-se normalmente: É proibida a entrada de meninas. EXERCÍCIOS 1) Assinale a alternativa em que ocorreu erro de concordância nominal. a) livro e revista velhos b) aliança e anel bonito c) rio e floresta antiga d) homem, mulher e criança distraídas 2) Assinale a frase que contraria a norma culta quanto à concordância nominal. a) Falou bastantes verdades. b) Já estou quites com o colégio. c) Nós continuávamos alerta. d) Haverá menos dificuldades na prova. 3) Há erro de concordância nominal na frase: a) Nenhuns motivos me fariam ir. b) Estavam bastante fracos. c) - Muito obrigada, disse a mulher. d) Foi um crime de lesa-cristianismo. 4) Está correta quanto à concordância nominal a frase: a) Levou camisa, calça e bermuda velhos. b) As crianças mesmo consertariam tudo. c) Trabalhava esperançoso o rapaz e a moça. d) Preocupadas, a mãe, a filha e o filho resolveram sair. 5) Cometeu-se erro no emprego de ANEXO em: a) Anexas seguirão as fotocópias. b) Em anexo estou mandando dois documentos. c) Estão anexos a certidão e o requerimento. d) Anexo seguiu uma foto. 6) Há erro de concordância nominal na seguinte frase: a) Vós próprios podereis conferir. b) Desenvolvia atividades o mais interessantes possíveis. c) Anexo ao requerimento a documentação solicitada. d) Ele já estava quite e tinha bastantes possibilidades de vitória. 7) Assinale o erro de concordância nominal. a) Maçã é ótimo para isso. c) Não será permitida interferência de ninguém. b) É necessário atenção. d) Música é sempre bom. 38 8) Assinale a frase imperfeita quanto à concordância nominal. a) O artista andava por longes terras. b) Realizava uma tarefa monstro. c) Os garotos eram tal qual o avô. d) Aquela é a todo-poderosa. 9) Em qual alternativa apenas a segunda palavra dos parênteses pode ser usada na lacuna? a) Estudei música e literatura............................ ( francesa / francesas ) b) Histórias quanto.............................. tristes. ( possível / possíveis ) c) Nem um nem outro......................... fugiu. ( animal / animais ) d) Só respondia com .......................palavras. ( meio / meias ) 10) Marque o erro de concordância. a) Os alunos ficaram sós na sala. b) Já era meio-dia e meio. c) Os alunos ficaram só na sala. d) Márcia está meio vermelha. 11) Assinale a opção em que o nome da cor apresenta erro de concordância. a) Tem duas blusas verde-musgos. b) Usava sapatos creme. c) Comprou faixas verde-azuladas. d) Trouxe gravatas azul-celeste. 12) Aponte o erro de concordância. a) Vi homem e mulher animados. b) Era uma pseuda-esfera. c) Encontramos rio e lagoa suja. d) Regina ficou a sós. 13) Marque a frase com palavra mal flexionada. a) Comprou camisas vermelho-sangue. b) Assuntos nenhum lhe agravavam. c) Não há quaisquer perspectivas. d) Elas não se abrem por si sós. 14) (PROF.-MT) A frase em que a concordância nominal contraria a norma culta é: a) O poeta considera ingrata a terra e o filho. b) O poeta considera ingrato o filho e a terra. c) O poeta considera ingratos a terra e o filho. d) O poeta fala de um filho e uma terra ingratas. e) O poeta fala de uma terra e um filho ingratos. 15) "tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português." Das frases abaixo, a que contraria a norma culta quanto à concordância nominal é: a) Tornou-se clara para o leitor minha posição sobre o assunto. b) Deixei claros para o leitor meus pontos de vista sobre o assunto. c) Ficou clara para o leitor minha posição e meus argumentos sobre o assunto. d) Ficaram claras para o leitor minha posição e argumentação sobre o assunto. e) Quero tornar claros para o leitor serem estes meus argumentos sobre o assunto. 16) (TFC) Assinale a opção em que não há erro. a) Seguem anexo os formulários pedidos. b) Não vou comprar esta camisa. Ela está muito caro. c) Estas questões são bastantes difíceis. d) Eu lhes peço que as deixem sós. e) Estando pronto os preparativos para o início da corrida, foi dada a largada. 39 CONCORDÂNCIA VERBAL Regra geral: o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa. Exemplos: O gerente falou com a secretária. A secretária e suas auxiliares não compareceram à reunião. Sujeito coletivo Se o sujeito for um coletivo do singular seguindo de um complemento no plural, o verbo pode ir para o plural ou permanecer no singular: A série de notas fiscais referentes ao pagamento das mercadorias adquiridas no mês de março próximo passado está sendo enviada a V.Sa. através de nosso representante. O número de papéis e documentos é inferior... A multidão foi levada... A maioria das notas fiscais é emitida pelo computador. Um coletivo geral determina que o verbo permaneça no singular: O povo queria eleições diretas para presidência da República. O exército não se conformou com o papel que lhe reservou a nova Constituição. A tendência é pela concordância com a expressão utilizada. Da mesma forma, uma expressão partitiva tanto pode levar o verbo para o plural, como admitir o uso do singular: A maior parte dos funcionários conseguiu... Uma porção de notas promissórias vence... Um grupo de notas promissórias estão rasuradas. Há outras expressões cujo procedimento quanto ao uso de singular e plural é semelhante; são elas: uma porção de, o grosso de, o resto de. Sujeito são os pronomes relativos QUE e QUEM a) se o sujeito for o pronome relativo QUE, o verbo concordará em número e pessoa com o antecedente do pronome. Exemplo: Fui eu que liguei o rádio. Fomos nós que consertamos a TV. b) se o sujeito for o pronome QUEM, o verbo fica na 3ª pessoa do singular. Exemplo: Não sou eu quem faz o jantar. Fui eu quem pagou o jantar. Sujeito com o verbo no infinitivo As secretárias parece terem gostado do estagiário. As secretárias parecem ter gostado do estagiário. É indiferente gramaticalmente o uso do singular ou do plural. A diferença é semântica e estilística. Estilisticamente, o emprego do verbo parecer no singular entorpece a construção, tira-lhe a graça, tornado-a rasa e artificial. Quando se diz "as secretárias... ter" a frase ganha mais vida e intensidade afetiva. Sujeito com o verbo pronominal Não se pode realizar esses projetos. Não se podem realizar esses projetos. 40 No primeiro caso chama-se a atenção para a ação: realizar, ou seja, "não é possível realizar esses projetos". No segundo, em virtude da concordância, a atenção concentra-se em projetos. Gramaticalmente, pode-se considerar realizar como sujeito e projetos como objeto e pode-se também considerar projetos como sujeito e então o verbo vai para o plural. Em geral prefere-se a concordância no plural. Sujeitos de pessoas gramaticais diferentes Se houver dois ou mais sujeitos de pessoas gramaticais diferentes, o verbo irá para o plural, concordando com a pessoa que tem precedência na ordem gramatical. Eu e tu=nós Eu e ele=nós Eu, tu e ele=nós Tu e ele=vós Você e ela=eles Marcos e tu fizestes o que havia sido recomendado? Eu e você estivemos a semana toda estudando, e agora não há o que reclamar. Você e eu redigiremos o relatório. Eu e o vendedor fizemos um acordo. Você e o diretor já conheciam a política da empresa. Você e a secretária não sabiam que decisão tomar? Portanto o verbo vai para a 1ª pessoa do plural se entre os sujeitos houver um da 1ª pessoa. Irá para a 2ª pessoa do plural se, não havendo sujeito da 1ª pessoa, houver um da 2ª. Somente irá para a 3ª pessoa do plural se os sujeitos forem da 3ª pessoa. Verbo antecedido de vários sujeitos Se houver mais de um sujeito singular antecedendo um verbo, este ficará no singular ou irá para o plural: A nota fiscal e a duplicata registram informações importantes. Registram informações importantes a nota fiscal e a duplicata. Registra informações importantes a nota fiscal e a duplicata. No caso de sujeito de números diversos (singular e plural) precedendo o verbo, este vai para o plural. Se estes sujeitos estiverem depois dele, o verbo poderá ficar no singular se o sujeito mais próximo estiver no singular: O funcionário e os clientes reconheceram-se culpados. Reconheceu-se culpado o funcionário e os clientes. Reconheceram-se culpados os clientes e o funcionário. Sujeito composto + palavra que os resuma Se o sujeito for composto e houver palavras que os resuma, o verbo concordará com esta palavra. Relatório, correspondências, memorandos nada o levava a tomar uma atitude diferente. Clientes, fornecedores de serviços, vendedores, ninguém queria visitá-lo durante a semana. Datilografias esmeradas, estética, asseio, tudo contribui para uma apresentação agradável. Sujeitos ligados por como, bem como... 41 Dois sujeitos do singular ligados por como, bem como, assim como, do mesmo modo que, tanto...como, não só... mas também requerem análise: se se tratar de adição, coloca-se o verbo no plural; se se tratar de comparação, coloca-se o verbo no singular: O reajuste salarial, da mesma forma que o de março, não alterou seu padrão de vida. A disciplina, assim como o arrojo, fizeram dele profissional invejável. Sujeito constituído por cerca de, mais de, menos de Sujeito constituído por expressões que indicam quantidade aproximada determina que a concordância se faça com o complemento dessas expressões: Cerca de cem estudantes adquiriam os livros. Menos de dez pessoas entraram na loja. A expressão mais de um determina o verbo no singular: Mais de um executivo viajou para o Rio de Janeiro Se essas expressões se repetirem, o verbo irá para o plural. O Sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou indefinido plural Se o sujeito for constituído pelos pronomes indicados, o verbo pode permanecer na 3ª pessoa do plural ou concordar com o pronome pessoal que indica o todo: Quantos, entre os empregados, estariam dispostos a participar dos festejos? Quantos, entre vós, estaríeis dispostos... Se o interrogativo estiver no singular, o verbo ficará no singular. Nas orações interrogativas que utilizam quem ou o que, faz-se a concordância com o substantivo ou pronome que vier depois do verbo: Quem são os clientes? Que será isso que aconteceu? O que são estragos, defeitos? Sujeitos ligados por ou e por nem Se ligados por essas conjunções, o verbo tanto pode ir para o plural como ficar no singular, conforme se queira ou não atribuir a ação a todos os sujeitos: Ou o Departamento de Vendas ou o de Promoção terá de alterar o comportamento... Nem o Departamento de Vendas nem o de Promoção tiveram de alterar o comportamento. Se a ação só pode ser atribuída a um deles, o verbo ficará no singular: Ou o gerente ou o diretor será responsável. As expressões um ou outro ou nem um nem outro admitem o verbo no singular. Um ou outro teria de digitar o relatório. Nem uma nem outra respondeu acertadamente à questão. Já a locução um e outro leva, com frequência, o verbo no plural: Um e outro auxiliar de escritório admitiam estar enganados. 42 Sujeitos ligados por com Regra geral, o verbo vai para o plural quando a ideia que se quer transmitir é de soma: O chefe da seção com o gerente recorreram a argumentos de força para estimular seus funcionários. Se se desejar realçar um dos elementos, o verbo poderá ficar no singular. O office-boy, com todos os jovens da empresa, resolveu formar um time de basquete. Sujeitos ligados por conjunção comparativa Admitem o verbo tanto no singular como no plural: Tanto João como Bruno participaram... O serviço, como qualquer produto, deve ter preço justo. Observe-se que o primeiro elemento foi destacado. Sujeito expresso por horas Se aparecer na frase a palavra relógio como sujeito, o verbo ficará no singular: O relógio deu 15 horas. O verbo dar deve concordar regularmente com o sujeito expresso: Deram 10 horas no relógio da matriz. Iam dar 18 horas, quando o diretor reuniu todos os gerentes. Concordância com o verbo "ser" Se o sujeito do verbo ser ou parecer for constituído pelos pronomes: isto, isso, aquilo, tudo e o predicativo estiver no plural, o verbo irá para o plural: Isto são ossos duros de roer. Aquilo pareciam-me bisbilhotices... Eram tudo falcatruas de profissional incompetente. Se o sujeito designar pessoa, o verbo concordará com ele: Ela era as alegrias da casa. Jaime foi os terrores de seu bairro. Se o sujeito é constituído de um substantivo e o verbo ser vem seguido de pronome pessoal, o verbo concordará com o pronome: Os funcionários mais aplicados somos nós. Os maiores diretores sois vós. Os verdadeiros profissionais são eles. 43 EXERCÍCIOS Para melhorar seu domínio de concordância verbal, reescreva as orações a seguir, substituindo as palavras em destaque pelas palavras entre parênteses: 01. Desapareceu, da pasta de Camila, a moeda de prata. (os três reais) ________________________________________________________________________________ 02. Aconteceu, na reunião de ontem, uma decisão importante que pôs em risco o futuro da empresa. (reações dos sindicalistas) ________________________________________________________________________________ 03. Encerrada há duas horas, a pesquisa nos trouxe más notícias. (os levantamentos) ________________________________________________________________________________ 04. Falta ainda um mês para o exame. (dois meses) ________________________________________________________________________________ 05. Aconteceu, ao contrário do que previa o senador, uma boa receptividade ao plano. (os deputados /manifestações de repúdio) ________________________________________________________________________________ 06. Se persistirem, os altos juros levarão o Brasil ao caos. (a inflação) ________________________________________________________________________________ Preencha as lacunas das frases abaixo com formas verbais dos verbos bater, consertar e haver, respectivamente, fazendo a correta concordância verbal. - As aulas começam quando _____________ oito horas. - Nessa loja ______________ relógios de parede. - Ontem ______________ ótimos programas na televisão. Analise as frases abaixo e analise as ocorrências de concordância nominal e justifique por que as palavras em destaque apresentam flexões diferentes. - As crianças queriam ficar sós no quintal. - As crianças queriam ficar só no quintal. ________________________________________________________________________________ Observe e responda: Por que a palavra em destaque não poderia ser redigida assim, bom. Esta água mineral é boa para a saúde. ________________________________________________________________________________ Complete os espaços com as palavras obrigado, certo, sensato, respectivamente, flexionando-as, se necessário: “Muito _________, disse ela. Vocês procederam_________ considerando meu ponto de vista e minha argumentação_____________. 44 PONTUAÇÃO O uso da vírgula é tão importante que o que chamamos de pontuação deveria na verdade ser chamado de "virgulação", visto que é a vírgula e não o ponto que comanda o jogo de pausas e as relações sintáticas dentro das frases. De fato, poucas coisas podem afetar tanto o sentido, a clareza e a qualidade geral de um texto quanto o uso correto e racional da vírgula. A vírgula corresponde a uma pequena pausa que se faz ao falar e que é exigida pelo sentido. Daí que, para colocar as vírgulas corretamente, convém reler o escrito em voz alta (ou silenciosamente), fixando-se nessas pausas breves. Tais pausas costumam coincidir com o final de entidades gramaticais bem definidas, o que permite formular algumas regras de validade geral. Emprego da Vírgula Estando a oração em ordem direta (seus termos se sucedem na seguinte progressão: sujeito → verbo → complementos do verbo (objetos) → adjunto adverbial), isto é, sem inversões ou intercalações, o uso da vírgula é, de modo geral, desnecessário. Assim: Não se usa vírgula: Não se usa vírgula separando termos que ligam-se diretamente entre si: a) entre sujeito (QUEM) e predicado (O QUÊ). Todos os colaboradores da empresa estiveram presentes. Sujeito predicado b) entre o verbo e seus objetos. O trabalho custou sacrifício V.T.D.I. O.D. aos realizadores. O.I. Entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto adnominal. A surpreendente reação Adj.Adnominal Nome do governo Adj.Adnominal contra os sonegadores Compl.Nominal despertou reações entre empresários. Uso obrigatório da vírgula 1. Se houver elemento intercalado, utilize duas vírgulas. Exemplos: Comunico-lhe que, a partir desta data, atenderemos em novo endereço. Quase sempre, as perguntas são respondidas. Obs.: (adjunto adverbial antecipado – vírgula facultativa) 2. Para assinalar orações subordinadas que se encontrem no princípio de uma frase, ou seja, antes da principal. Exemplo: Se não houvesse crise financeira, viveríamos no paraíso. 3. Para assinalar as orações intercaladas. Exemplo: Os dois fornecedores, embora tivessem bons produtos, não atendiam às especificações necessárias. 4. Para assinalar a presença das orações adversativas, ou seja, qualquer oração coordenada adversativa é antecedida por uma vírgula ou outro sinal de pontuação forte. Exemplo: Faz muito sol, no entanto está frio. A regra anterior aplica-se também às orações coordenadas conclusivas. Exemplo: Está revisando conteúdos de língua Portuguesa, portanto, melhorará sua escrita. Nota: Quer as conjunções/locuções adversativas, quer as conclusivas sempre que se apresentem no meio de uma oração vêm isoladas por vírgulas 45 Exemplo: A secretária chegou tarde. Os candidatos à vaga, no entanto, continuavam à sua espera. 5. Para assinalar orações justapostas. Exemplo: Na empresa, os produtos são desenvolvidos com rigoroso controle de qualidade, o mercado consumidor abrange 95% do consumo nacional, a tecnologia de fabricação/processo do produto não depende de terceiros. 6. Para assinalar orações coordenadas aditivas que apresentem sujeitos diferentes. Exemplo: Eu vou trabalhar, e você vai estudar. Outras situações de uso obrigatório da vírgula É obrigatória a vírgula para assinalar o vocativo onde quer que ele se encontre na frase. Exemplo: Prezados senhores, Comunicamos que os itens solicitados serão entregues até o dia 05 de novembro. É obrigatória a vírgula para assinalar o aposto. Exemplo: A empresa, com mais de 70 anos, cresce continuamente com a determinação de quem faz da qualidade e do respeito ao consumidor o melhor de sua história. É obrigatória a vírgula para assinalar expressões de caráter explicativo, como, ou seja, isto é... Exemplo: Sua missão é informar, ou seja, garantir a disseminação de informações de forma idônea. É obrigatória a vírgula para assinalar o local numa data. Exemplo: Caçador, 10 de junho de 2011. É obrigatória a vírgula para assinalar enumerações simples de caráter morfológico. Exemplo: Entre as subdisciplinas da comunicação incluem-se a teoria da informação, comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal, marketing, publicidade, propaganda, relações públicas, análise do discurso, telecomunicações e Jornalismo. Emprego do ponto e vírgula O ponto-e-vírgula indica uma pausa um pouco mais longa que a vírgula e um pouco mais breve que o ponto. O emprego do ponto-e-vírgula depende muito do contexto em que ele aparece. Podem-se seguir as seguintes orientações para empregar o ponto-e-vírgula: a) Para separar duas orações coordenadas que já contenham vírgulas: Ex. Enviamos a remessa do seu pedido; no entanto, em virtude de problemas com a transportadora, ocorreu atraso na entrega. b) Para separar duas orações coordenadas, quando elas são longas: Ex. O diretor e a coordenadora já avisaram a todos os colaboradores que não serão permitidas trocas de turno durante o semestre na empresa; porém alguns funcionários ignoram essa ordem. c) Para separar enumeração após dois pontos: Ex. Os colaboradores devem respeitar as seguintes regras: - não fumar nas dependências da empresa; - otimizar o uso da internet; - utilizar adequadamente os Equipamentos de Proteção Individual. 46 EXERCÍCIO Coloque a pontuação, quando for necessário, nos períodos abaixo: José venha cá Amanda a mais moça da família é mais esperta Ao acabarem as aulas os alunos se retiraram Os funcionários os gerentes os diretores e os visitantes saíram O candidato estudou e fez ótima prova O Brasil espera que cada um cumpra com seu dever Que cada um cumpra com seu dever o Brasil espera Logo que eles chegaram o secretário começou a fala Se puder irei visitá-lo Este caso por exemplo não está totalmente esclarecido José estuda Física e eu Português Os dois irmãos Cosme e Damião saíram... Antonieta e Antônia as duas irmãs são lindas Aborrecimentos tristezas nada incomoda Já lhe disse tudo querida Ela é uma menina linda mas Quanta saudade meu amor José João Jair ninguém viu o crime Na praia do morro houve uma competição Houve na praia do morro uma competição Maria quando corre sua mãe diz dá-me água gelada Todos foram à praia exceto Pedro O homem que é mortal tem a alma imortal Haveremos um dia homens e mulheres de nos entender 47 ALGUMAS DIFICULDADES Nenhum ou nem um? A dúvida quanto ao emprego de tais palavras é comum, para tentar esclarecê-la observe os enunciados: Nenhum centavo foi destinado à educação. Nem um centavo foi destinado à educação. Nenhum é um pronome indefinido, significa nulo, inexistente, no primeiro exemplo o pronome refere-se ao substantivo centavo, assim afirma sua inexistência. Afirma que não existe centavo algum. Nem um é uma sequência formada por nem (advérbio) e um (numeral), significa nem sequer um, nem mesmo um, enfatiza a ideia de que nem o mínimo foi considerado, como visto no segundo exemplo. Por que / Por quê / Porque ou Porquê? A maioria da população sofre com as dificuldades em entender a utilização da língua-padrão portuguesa, principalmente na utilização do "Por que / Por quê / Porque / Porquê". Confira alguns exemplos: - Não sei por que você acha isso. - Claro. Por quê? - Não julgues porque não te julguem. - Dê-me ao menos um porquê para sua atitude. A forma por que é a sequência de uma preposição (por) e um pronome interrogativo (que). É equivalente a "por qual motivo", "por qual razão", vejamos: - Não sei por qual motivo você acha isso. - Não sei por qual razão você acha isso. Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto: final, de interrogação ou exclamação, ou um ponto de reticências, a sequência deve ser grafada por quê, pois, devido à posição na frase, o monossílabo que passa a ser tônico. - Não sei por quê! - Ainda não terminou? Por quê? Existem casos em que por que representa uma sequência preposição + pronome relativo, equivalendo a pelo qual, pelos quais, pelas quais, pela qual. Em outros contextos por que equivale a "para que". - O túnel por que deveríamos passar desabou ontem. (por que = pelo qual) A forma porque também é uma conjunção, equivalente a pois, já que, uma vez que, como: - Você continua implicando comigo! É porque eu faltei ontem? Porque também pode indicar finalidade, como: para que, a fim de. Trata-se de um uso mais frequente na linguagem atual. A forma porquê representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo e normalmente surge acompanha de uma palavra determinando, um artigo, por exemplo. - Creio que os verdadeiros porquês mais uma vez não vieram à luz 48 Mas/Mais: Mas: conjunção adversativa, equivale a porém, contudo, entretanto: Ex.: Tento não sofrer, mas a dor é muito forte. Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos: Ex.: É um dos garotos mais bonitos da escola. Onde/Aonde: 1. Só se deve usar onde quando se referir a lugar. O país onde nasci fica muito distante. Nos demais casos, use em que São muito convincentes os argumentos em que você se baseia. 2. Só se deve usar aonde, quando a regência do verbo assim o exigir. Aonde iremos à noite? (ir a) / Aonde você pretende chegar? (chegar a) 3. Não use onde para se referir a datas. Isto aconteceu nos anos 70, onde houve uma verdadeira revolução de costumes. Melhor dizer: Isto aconteceu nos anos 70, quando houve uma verdadeira revolução de costumes. Mal/Mau Mal: advérbio (opõe-se a bem), como substantivo indica doença, algo prejudicial: Ex: Ele se comportou muito mal. (advérbio) Ex: A prostituição infantil é um mal presente em todas as partes do Brasil. (substantivo) Mau: adjetivo (ruim, de má qualidade) Ex: Ele não é um mau sujeito. Ao encontro de/De encontro a Ao encontro de: significa “ser favorável a”, “aproximar-se de”. Ex: Quando avistei minha mãe fui correndo ao encontro dela. De encontro a: indica oposição, colisão. Ex: Suas idéias sempre vieram de encontro às minhas. Somos mesmo diferentes. Afim/A fim Afim: adjetivo que indica igual, semelhante. Ex: Temos objetivos afins. A fim: indica finalidade: Ex: Trabalho hoje a fim de folgar amanhã. Demais/De mais Demais: advérbio de intensidade, sentido de “muito”. Ex: Você é chato demais. Demais também pode ser pronome indefinido, sentido de “os outros”. Ex: Alguns professores saíram da sala enquanto os demais permaneceram atentos às orientações. De mais: opõe-se a de menos. Ex: Não vejo nada de mais em seu comportamento. 49 Senão/Se não Senão: sentido de “caso contrário”, “a não ser”. Ex: não fazia coisa alguma senão conversar. Se não: sentido de “caso não”. Ex: Se não houver conscientização, haverá escassez de água. Meio-dia e meio ou meio-dia e meia? A expressão meio-dia e meio (12h30min.) é comumente dita, no entanto, é incorreta, pois o numeral fracionário meio deve concordar em gênero com a palavra da qual ele é uma fração. Observe: Comprei três metros e meio de tecido (três metros mais meio metro). Andei duas léguas e meia para chegar até aqui. (duas léguas mais meia légua). Podemos concluir que a expressão correta é meio-dia e meia, já que o numeral fracionário concorda em gênero com a palavra hora, embora essa esteja subtendida. Eu ou mim? No caso oblíquo dos pronomes há as formas “mim” e “ti” que correspondem aos pronomes pessoais “eu” e “tu”, respectivamente. Por este motivo, há sempre muitos equívocos no uso dos mesmos, pois são equivalentes. Você já escutou frases do tipo: Gostaria que esse assunto ficasse entre eu e você! Isso é entre mim e ele! De acordo com a norma culta da língua, a primeira oração está equivocada! O correto é: Entre mim e você ou Entre mim e ti! Esse fato é justificado no emprego do pronome oblíquo após preposição (entre) ao invés do pronome pessoal. Obedecendo a este princípio, a segunda oração está adequada! Para ficar mais claro, os pronomes oblíquos têm função de complemento e os pessoais do caso reto de sujeito: 1. Ela mandou o recado para mim. Veja: Ela mandou. O quê? O recado. Para quem? Para mim. Logo, “mim” está completando o objeto direto “recado”. 2. Dê-me uma folha para eu escrever o recado. Veja: Alguém vai praticar a ação de escrever. Quem? Eu. Logo, “eu” é o sujeito da oração. O mesmo acontece com as demais preposições, além de “para” e “entre”: a) Ele falou algo sobre mim. b) Faça isso por nós. c) Nós não podemos falar por ti! Portanto, é ERRADO dizer “para mim fazer”, pois quem vai praticar a ação é “eu”: para eu fazer. Haja vista Podem ocorrer as seguintes concordâncias: A expressão fica invariável Exemplo: Haja vista aos livros da escola. (atente-se) Haja vista os livros da escola. (por exemplo) A expressão vai para o plural Exemplo: Hajam vista os livros da escola. (vejam-se) 50 Fragmentação Nunca interrompa seu pensamento antes dos pronomes relativos, gerúndios, conjunções subordinativas. ERRADO: O carro ficara estacionado no shopping. Onde tínhamos ido fazer compras. A empresa tem aumentado sua receita. Ampliando seu mercado. Ele tem lutado para manter o status. Uma vez que perdeu quase toda a fortuna. CERTO: As mesmas orações sem ponto final, apenas o emprego da vírgula. Pronome Relativo Não transforme sem necessidade o pronome relativo QUE em o qual, a qual, os quais, as quais. Só o faça quando houver ambiguidade, como neste exemplo: Encontramos a filha do fazendeiro que perdeu todo o dinheiro na Bolsa. Nesse caso, o QUE pode referir-se tanto à filha quanto ao fazendeiro. Verificar os verbos que se relacionam *Presente do indicativo com Presente do subjuntivo Ex.: É inevitável / que cedo ou tarde estas qualidades sejam valorizadas. * Imperativo com presente do subjuntivo Ex.: Faça a revisão do carro / para que viaje tranquilo. * Futuro do presente com Presente do subjuntivo Ex.: Fará a revisão do carro / para que viaje tranquilo. *Pretérito Imperfeito (indicativo) com Pretérito imperfeito (subjuntivo) Ex.: Desejávamos/ que tudo não passasse de um grande sonho. *Pretérito Perfeito (indicativo) com Pretérito imperfeito (subjuntivo) Ex.: Desejei / que tudo não passasse de um grande sonho. *Futuro do Pretérito (indicativo) com Pretérito Imperfeito (subjuntivo) Ex.: Desejaria / que tudo não passasse de um grande sonho *Futuro (subjuntivo) com Futuro do Presente (indicativo) Ex.: Quando terminarem a reforma da casa / ficarei sossegado. *Pretérito Imperfeito (subjuntivo) com Pretérito Imperfeito (indicativo) Ex.: Se eu pudesse ficar sem escrever / não escreveria mais. O emprego de APESAR DO....x / APESAR DE O .. Uma pessoa que entende como ninguém a República dos Tucanos lembra que, apesar de o ministro estar sendo acusado de falar demais, ele nunca foi desautorizado pelo presidente. Observe o detalhe apesar de o ministro Bresser Pereira estar sendo acusado... Outros casos 1. Apesar da chuva, ele saiu de casa. Apesar de a chuva cair torrencialmente, ele saiu de casa. 51 2. Ele reclamou desses artigos, que já foram revogados. O fato de esses artigos terem sido revogados não vem ao caso. Particularidades léxicas e gramaticais 1. ao nível de: (= à mesma altura) // em nível de (= hierarquia) 2. em princípio: (= em tese) // a princípio: (= no início) 3. tampouco: (=também não) // tão pouco: (=muito pouco) 4. acerca de:(= a respeito de) // cerca de: (=durante) // a cerca de: (ideia de distância // há cerca de: (aproximadamente no passado) 5. bastantes: (= muitos, suficientes) // bastante: (muito) Não Use: ao meu ver / a cores / a nível / às expensas / comunicamo-lhes / conseguimos nos concentrarmos / ajoelhamos-nos / face ao / haja visto / inflingirem / econômicas-financeiras / à rua / custei para / haviam(=existiam) / ao par (= ciente) / fazem 15 dias / de sábado / iremos no / intervi / implicou em / Use: a meu ver // em cores // ao nível // a expensas // comunicamos-lhes // conseguimos nos concentrar // ajoelhamo-nos // em face de // haja vista // infringirem // econômico-financeiras // na rua // custou-me // havia // a par // faz 15 dias // aos sábados // iremos ao // intervim // implicou “Vítima fatal" Fatal significa mortífero, que causa a morte, que traz ruína ou desgraça. Por isso, não existe a expressão "vítima fatal": a vítima recebe a morte, e não a produz. Fatal é um golpe, um tiro, um acidente, uma pancada, um choque, uma batida, e nunca a vítima. Anexo / bastante / incluso / leso / mesmo / próprio + Substantivo Essas palavras concordam com o substantivo a que se referem. Vão anexas as cópias. Recebi bastantes flores. Vão inclusos os documentos. Ele mesmo falou aquilo. Ela mesma falou aquilo. Elas próprias falaram aquilo. Substantivo + é bom / é preciso / é proibido Em construções desse tipo, quando o substantivo não está determinado, as expressões "é bom", "é preciso", "é proibido" permanecem no singular. Exemplos: Maçã é bom para a saúde. É preciso cautela. É proibido entrada. Observação: Quando há determinação do sujeito, a concordância efetua-se normalmente: É proibida a entrada de meninas. Exercícios: 1. A opção que apresenta erro quanto à grafia do porquê: a) Leio revistas e jornais, porque desejo estar sempre informado. b) Gostaria de rever os lugares por que andei antigamente. c) Você não me apresentou os resultados. Por quê? d) Não sei porque desistes das coisas com tanta facilidade. e) Se eu pudesse resolver todos os porquês do mundo... 52 2. Em relação ao uso da palavra destacada nas frases abaixo, todas as alternativas estão corretas, exceto: a) Quero saber o porquê de seu aborrecimento. b) Não sei aonde está o livro. c) “Não há mal que sempre dure.” d) Como você é mau! e) O avião aterrissará daqui a pouco. 3. Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses. a) João não está _______ de ir à Europa este mês. (afim – a fim) b) _________ela mora? (Onde - Aonde) c) Irei ____________ você quiser que eu vá. (onde/aonde) d) Não gosto muito dela, ________ tenho de admitir que é ________ inteligente do que eu supunha. (mas/mais) e) Comportou-se ______ durante a reunião. Não creio que seja um ______ sujeito, porém. (mal/mau) f) _______-humorados de todo o mundo, uni-vos (mal/mau) g) Várias pessoas expuseram opiniões que vieram __________________________ minhas durante o debate, o que muito me animou. (de encontro às / ao encontro das) h) Muitas pessoas têm opiniões que vêm _____________________ minhas, o que chega a me desanimar. (de encontro às / ao encontro das) i) Não há nada ________________ em gostar ___________ de doces. (de mais/demais) j) Ela anda ___________ chateada com os acontecimentos. (meio/meia) k) Já passava de _________-noite e ___________ quando ela chegou. Estava cansada e _______________ nervosa. (meio/meia) l) Não tinha _____________________ centavo para comer (nem um / nenhum) m) Não vou te entregar coisa______________. (Não vou te entregar nada.) (nenhuma / nem uma) n) Ela não derramou ______________lágrima sequer. (Ela não derramou nem uma única lágrima) (nenhuma / nem uma) o) Não havia ____________carro parado na frente da empresa. (Não havia nada parado) (nem um / nenhum) p) Ela não disse ________________ palavra. (Ela não disse nada ou Ela não disse palavra alguma.) 4. Complete com “eu” ou “mim”: - eles chegaram antes de ________ . - há algum trabalho para ________ fazer? - há algum trabalho para ________ ? - ele pediu para __________ elaborar alguns exercícios; - para ________, viajar de trem é uma aventura deliciosa; 5. Assinale a única frase correta quanto ao uso dos pronomes pessoais: a) você não pode ir sem eu; b) meu amigo, o diretor quer falar consigo; c) entre eu e tu não pode haver romance; d) era para mim encontrar a solução do problema; e) para mim, jogador de futebol tem que ter raça. 53 6 . Era para _________ falar ________ ontem, mas não __________ encontrei em parte alguma. a) mim – consigo – o; b) eu – com ele – lhe; c) mim – consigo – lhe; d) mim – contigo – te e) eu – com ele – o . 7. Leia atentamente as seguintes frases: I - João deu o livro para mim ler. II - João deu o livro para eu ler. A respeito das frases anteriores, assinale a afirmação correta: a) a frase I está certa, pois a preposição para exige o pronome oblíquo mim. b) a frase II está certa¸ pois o sujeito de ler deve ser o pronome do caso reto eu. c) a frase I está certa, pois mim é objeto direito de deu. d) a frase II está certa, pois para exige o pronome do caso reto eu. e) ambas as frases estão corretas, pois a preposição para pode exigir a forma mim quanto a eu. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999. BRITTO, Luiz Percival Leme. À sobra do caos: ensino da língua X tradição gramatical. Campinas: ALB / Mercado de Letras, 1997. 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