APOSTILA DE PORTUGUES

Propaganda
Universidade Alto Vale do Rio do Peixe - UNIARP
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - JORNALISMO
Rua Victor Baptista Adami, 800 - Centro
CEP: 89500-000 – Caçador - SC
Telefone/Fax: (49) 3561-6200
PORTUGUÊS
Atualização Gramatical, Ortográfica e Redacional
ALUNO (A): _____________________________________
1
COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS
I) CONSIDERAÇÕES GERAIS
- As noções de coesão e coerência costumam ser abordadas pelo campo da linguística como
fatores que garantem a textualidade – aquilo que diferencia um texto de uma mera sequência de
palavras. Uma das propriedades que distingue um texto de um amontoado de palavras ou frases é
o relacionamento existente entre si.
- Para Leonor Fávero, a coesão e a coerência textuais constituem níveis diferentes de análise. Isso
porque, segundo a autora, pode "haver um sequenciamento coesivo de fatos isolados que não têm
condição de formar um texto". Por outro lado, também pode haver textos destituídos de coesão mas
cuja textualidade se dá [no âmbito] da coerência" (2003, p.11). Observem os exemplos:
Exemplo 1: Maria está na cozinha. A cozinha tem as paredes com azulejos. Os azulejos são
brancos. Também o leite é branco.
Observando a construção acima, podemos concluir que "apesar de haver uma coesão
relativamente forte no encadeamento das sentenças [...], as relações de sentido não unificam essa
seqüência [sic]" (2003, p.11).
Exemplo 2: "Comemora-se este ano o sesquicentenário de Machado de Assis. As comemorações
devem ser discretas para que dignas de nosso maior escritor. Seria ofensa à memória do Mestre
qualquer comemoração que destoasse da sobriedade e do recato que ele imprimiu a sua vida, já
que o bruxo de Cosme Velho continua vivo entre nós" (Folha de S. Paulo, 4 de fev. de 1989 apud
FÁVERO, 2003, p.12).
Observando este outro exemplo, a autora comenta que o nome "Machado de Assis" foi substituído
algumas vezes (por “bruxo de Cosme Velho”, "nosso maior escritor" e "Mestre"). Assim, o leitor
precisa conhecer alguns fatos da vida do escritor para compreender esta mensagem. Essas
informações não são obtidas a partir do conhecimento da língua, mas da cultura, registra a autora.
II) A COESÃO
De que trata, então, a coesão textual? Da ligação, da relação, da conexão entre as palavras de um
texto, através de elementos formais, que assinalam o vínculo entre os seus componentes
"A coesão, manifestada no nível microtextual, refere-se aos modos como os componentes do
universo textual, isto é, as palavras que ouvimos ou vemos estão ligadas entre si dentro de uma
seqüência" (FÁVERO, 2003, p.10).
- O conceito de coesão se refere à ligação correta entre os elementos de um texto. Um texto é
coeso quando emprega corretamente as conjunções, as preposições, os pronomes relativos etc, ou
seja, o que garante a coesão textual é o uso adequado dos elementos estruturais formadores de
um texto (verbal ou não).
- É importante ressaltar que os aspectos relativos à coesão textual, como a concordância e o
emprego dos conectivos, por exemplo, interferem na coerência de uma mensagem.
III) A COERÊNCIA
De que trata a coerência textual? Da relação que se estabelece entre as diversas partes do texto,
criando uma unidade de sentido. Está, portanto, ligada ao entendimento, à possibilidade de
interpretação daquilo que se ouve ou lê.
"A coerência, por sua vez, manifestada em grande parte macrotextualmente, refere-se aos modos
como os componentes do universo textual, isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto
de superfície, se unem numa configuração, de maneira reciprocamente acessível e relevante
(FÁVERO, 2003, p.10).
O conceito de coerência refere-se ao nexo entre os elementos argumentativos ou narrativos
de um texto. Trata-se do princípio de inteligibilidade, isto é, aquilo que garante a compreensão
da mensagem.
A coerência está ligada ao sentido decorrente da organização das ideias: a falta de
coerência em um texto é facilmente deduzida por um falante de uma língua, quando não encontra
sentido lógico entre as proposições de um enunciado oral ou escrito.
2
Como Sintetizar um Texto
Eraldo Cunegundes
A síntese de texto é um tipo especial de composição que consiste em reproduzir, em poucas
palavras, o que o autor expressou amplamente. Desse modo, só devem ser aproveitadas as ideias
essenciais, dispensando-se tudo o que for secundário.
Procedimentos:
1. Leia atentamente o texto, a fim de conhecer o assunto e assimilar as ideias principais;
2. Leia novamente o texto, sublinhando as partes mais importantes, ou anotando à parte os
pontos que devem ser conservados;
3. Resuma cada parágrafo separadamente, mantendo a sequência de ideias do texto
original;
4. Agora, faça seu próprio resumo, unindo os parágrafos, ou fazendo quaisquer adaptações
conforme desejar;
5. Evite copiar partes do texto original. Procure exercitar seu vocabulário. Mantenha, porém,
o nível de linguagem do autor;
6. Não se envolva nem participe do texto. Limite-se a sintetizá-lo.
Exercício – Resumir este fragmento do artigo Oralidade e discurso jornalístico, de Maria
Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade, Publicado em: Filologia e Lingüística Portuguesa, v. 3, 1999,
pp. 105-120. Disponível em: http://www.fflch.usp.br/dlcv/lport/pdf/maluv018.pdf Acesso em 28/04/2011
TENDÊNCIAS DA LINGUAGEM JORNALÍSTICA CONTEMPORÂNEA
Maria Lúcia da Cunha Victório de Oliveira Andrade
Como é sabido, a linguagem jornalística compõe-se de uma conjugação de diversas
linguagens: a linguagem verbal escrita, a fotográfica, a gráfica e a diagramática (que se refere aos
diagramas de distribuição da informação no espaço da página) (Santaella, 1992). Esta análise
restringe-se à linguagem verbal escrita, mais especificamente, à questão dos registros de
linguagem. Assim, para que pudéssemos ter uma noção da linguagem jornalística contemporânea,
seria necessário observar os diversos jornais brasileiros urbanos e as tendências, em linhas gerais,
que se distribuem devido às características do público leitor ao qual o jornal se dirige e da ideologia
política do periódico, presente na linguagem que a manifesta, como bem observa Lage (1990).
No que diz respeito apenas à linguagem verbal, podemos dizer que existe, por parte dos
grandes jornais, alguns que procuram organizar-se em termos de uma linguagem formal, culta e,
para tanto, têm editado “manuais de redação” com informações e instruções para seus redatores.
Por outro lado, há outros que, na busca de maior aproximação com o leitor das classes mais
modestas da população, optam por uma linguagem popular. São os jornais que, na visão da
professora Ana Rosa Ferreira Dias, 1996, no livro O discurso da violência: as marcas de oralidade
no jornalismo popular, publicado pela EDUC/Cortez, denominam-se populares e entre os quais se
situam o Notícias Populares, Última Hora e Folha da Tarde.
Pesquisas sobre a linguagem jornalística sempre fazem referência a paralelismos entre a
literatura e o jornalismo, não só porque ambos se utilizam da palavra impressa, mas,
principalmente, pelo fato de o jornal, em uma primeira fase, ter se espelhado no belas-letras do
discurso literário. Entretanto, nos dias de hoje “o jornalismo não é literatura” (cf. Pinto, 1986: 67) e a
linguagem jornalística caracteriza-se como uma espécie de “língua veicular”.
Nessa perspectiva, pressupõe-se que o jornal apresente um estilo preocupado com a
comunicação em todos os níveis sócio-culturais. Os extremos, purismos e vulgarismos, não
costumam constar de textos como editoriais, artigos de fundo, ficando a eventualidade de tais
ocorrências a matérias assinadas.
3
Em princípio, o texto jornalístico deveria ser fiel à norma padrão culto e deveria colocar-se
num espaço, ainda que vago, entre a linguagem literária e a falada: “O estilo jornalístico é um meiotermo entre a linguagem literaria e a falada. Por isso, evite tanto a retórica e o hermetismo como a
gíria e o coloquioalismo” (Manual de redação e estilo. O Estado de São Paulo, 1990:16)
Ao ler O Estado de São Paulo, podemos observar que esse padrão indefinido acentua-se
pela variedade de seções, sendo praticamente impossível deixar de aceitar que há leitores
específicos para cada seção do jornal e que é necessário chegar à linguagem que esperam
encontrar em sua leitura.
Cabe acrescentar que a concorrência entre os jornais leva-os à distinção inevitável como
uma forma de obter a adesão de um público leitor específico. Nas palavras de Maria Lúcia
Santaella (1992: 31):
Cada jornal tenta encontrar sua própria face ou, pelo menos, traços distintivos que
garantem sua faixa de público. Esta procura de face pode ter uma gama de
variações que vai desde a tentativa de reversão da quantidade em qualidade, ou a
intensificação de processos verbo-visuais no uso substantivo do espaço-folha, do
tamanho de tipos, da integração imagempalavra, até os jornais que manipulam
sensacionalisticamente as manchetes, apelando para um público incauto que
consome ficção espalhafatosa como se fosse notícia.
Ainda que a linguagem culta (“correta”, “simples”, “contida”) seja apontada como aquela
pretendida nos manuais, nem sempre os fatos recebem no dia a dia dos noticiários uma análise
objetiva e fria. No tratamento de certos temas como, por exemplo, crise econômica, política ou
violência social, é difícil para o jornalista redigir o seu texto, empregando regras como as propostas
pela Novo manual de redação da Folha de S. Paulo (1992: 113):
O jornal reflete em seus textos o clima de tensão da maior parte dos fatos que
noticia. Ela deve ser transmitida não por adjetivos, mas pela descrição seca e
concisa de fatos dramáticos: Aviões de combate da força multinacional aliada
iniciaram a guerra di Iraque às 2h30 da manhã de hoje (21h30 de ontem Brasília). A
operação “tempestade do deserto” começou à 0h58 (19h58 em Brasília), com a
decolagem de caças F-15 de uma base na região central da Arábia Saudita. O
secretário norte-americano de defesa, Richard Chenet, disse que participaram
aviões dos E.U.A., Grã-Bretanha, Arábia Saudita e Kwait. Duas horas após o início
das hostilidades, o presidente George Bush disse na TV que “a guerra começou em
2 de agosto, quando o Iraque invadiu o Kwait.
A notícia sobre a crise na Iugoslávia, publicada na Folha de S. Paulo em 06-07- 91- Caderno
Mundo, segundo Ana Rosa F. Dias(op.cit., p. 41) é um bom exemplo de um texto noticioso que é
exceção à regra. Nesse artigo observa-se, segundo Dias, que o clima de tensão emocional não se
limita à narração direta e precisa dos fatos, mas ao uso de adjetivos (“reportagem excitante”); à
presença pontual do discurso em primeira pessoa do singular (“vi tiroteios”); à avaliação, em que se
empregam termos não usuais na linguagem culta (“deixando os observadores malucos”), entre
outros.
Essa obrigatoriedade educativa que a imprensa assume na comunidade aponta para o grau
de expectativa que o leitor tem de ver veiculada a língua oficial, culta, e não raro ocorrem situações
em que os jornais se vêem obrigados a justificar deslizes em relação à língua.
Na edição de 23-05-93, o ombusdman da Folha de S. Paulo, Mario Vitor Santos, notificado
sobre a frequência de erros de concordância, regência e ortografia no jornal, reconhece que tais
ocorrências comprometem o padrão de qualidade e destaca como a mais importante das razões “a
destruição do ensino básico no país, cujo resultado catastrófico se expressa na perda de
conhecimentos e habilidades no manejo do idioma em toda a sociedade, inclusive na imprensa”
(caderno 1, p. 6). Já na edição de 27-12-98, o atual ombusdman da Folha de S. Paulo, a jornalista
Renata Lo Prete, comenta algumas cartas recebidas durante todo o ano e chama a atenção para
uma em que o leitor diz ter dúvidas sobre o interesse final da função de ombusdman, já que a cada
Domingo lê as repetidas críticas aos erros éticos e práticos dos jornalistas da Folha, mas isso não
4
tem sido traduzido em melhorias nos padrões do jornal, pelo contrário parecer criar uma expectativa
frustrada. A jornalista se defende dizendo que “os erros se repetem, quanto a isso não há dúvida,
mas mudanças de atitude, para melhor, acontecem no jornal”(caderno 1, p.6).
Prosseguindo com os comentários feitos pelos leitores, a jornalista acrescenta na edição de
3-1-99 que é bastante comum ouvir nas Redações “o discurso de que é preciso se preocupar com
os “grandes” erros, em vez de consumir energia com deslizes pontuais” (caderno 1, p. 10).
Entretanto, acrescenta a jornalista, para o leitor as duas coisas não são excludentes. “A pesquisa
constatou que incorreções factuais e de gramática têm influência decisiva sobre o grau de
confiabilidade atribuído ao público” (p.10).
Embora as justificativas dadas pelos jornalistas sejam amplas demais para os limites do
questionamento do leitor, é verdade que a imprensa, de modo geral, tem procurado colocar-se
como uma das responsáveis pela missão de defender a língua portuguesa. Isso se torna evidente
através da divulgação dos Manuais de Redação que, entre seus objetivos, reafirmam o respeito às
normas da gramática culta e buscam uma projeção que ultrapasse o público de jornalistas,
propondo-se como auxiliares de todos os indivíduos que “precisem escrever com regularidade,
estejam se preparando para exames de redação ou queiram conhecer as principais particularidades
da Língua Portuguesa” (Manual de Redação e Estilo – O Estado de São Paulo, 1990: 11).
Em outubro de 1998, Folha de S. Paulo abriu inscrições para o 28o. Programa de
Treinamento: um curso de oito semanas que teve como objetivo “atrair novos talentos e deixá-los
aptos a trabalhar em um jornal diário” (20-10-98, cad. 1, p. 10). Dentre as atividades do
treinamento, destacam-se exercícios de redação: corrigir, cortar e titular textos, reescrever
reportagens de forma a torná-las mais informativas e didáticas, desenhar e montar páginas
eletronicamente; exercícios de reportagem: a turma acompanha repórteres da Folha no trabalho de
apuração e faz reportagens de serviço e entrevistas; aulas de português: o professor Pasquale
Cipro Neto, consultor da Folha, ministrou 12 horas de aulas de português, com ênfase nos pontos
em que mais se cometem erros.
Essa preocupação das empresas jornalísticas de “ensinar” a língua culta acaba por conduzir
os manuais a posições nem sempre sustentáveis, em razão das leis socioculturais que orientam o
fenômeno da variação linguística. Do mesmo modo que as gramáticas tradicionais, essas
publicações passam a ditar normas que se perdem na superficialidade, desconsiderando os
contextos situacionais em que ocorrem, tornando-se, por isso, inúteis. Segundo Ana Rosa Ferreira
Dias (op.cit., p.43), “o próprio fechamento a que conduz uma classificação certo/errado contribui
para a precariedade dessas leis de boa conduta linguística”, como se pode observar no Novo
Manual de Redação da Folha de S. Paulo: 1992, p. 270). Vejam-se alguns exemplos citados no
referido manual:
- Antes de escrever: bicha, veado, fresco, boneca, traveco, sapatão, ela calça 42.
- Veja se você não quer simplesmente dizer: homossexual, travesti, lésbica.
- Mas também não exagere, escrevendo: gay (significa feliz), alfenado, safista.
A simplificação dos manuais revela a dificuldade de seus autores para discutir problemas
lingüísticos como o da norma e o do processo de variação sociocultural e geográfico da linguagem.
Na verdade, essas obras divulgam, em certa medida, uma avaliação da língua extremamente
discutível e talvez até pretensiosa.
A divulgação dos manuais acaba tendo uma dupla função: se por um lado, propicia ao leitor
a possibilidade de fiscalizar a execução do jornal, fazendo-o crer, por exemplo, que notícias bem
escritas significam apuração dos fatos igualmente eficiente; por outro, acata a preocupação dos
jornais com a formação de um público leitor específico que seja receptivo e se identifique com o
discurso produzido.
Em síntese, podemos dizer que se estabelece uma relação de dupla legitimidade, de mútuo
reconhecimento, com a caracterização de um enunciador autorizado a dizer e de um enunciatário
5
apto para compreender o dito, isto é, “os que falam consideram os que escutam dignos de escutar
e os que escutam consideram os que falam dignos de falar” (Bourdieu, 1983: 161).
MARCAS DE ORALIDADE E DISCURSO JORNALÍSTICO
Hoje, já não se pode mais pensar a língua falada e a língua escrita como modalidades
invariantes. É preciso levar em conta que, no interior dessas modalidades, há variações provocadas
pelas condições de produção e uso da linguagem.
Embora haja muitas diferenças entre as duas modalidades da língua, a existência de textos
que se situam na faixa do contínuo pode ser constatada como bem observa Marcuschi (1993: 71):
Não resta dúvida de que existem textos tipicamente orais e outros que são
tipicamente escritos. Também é certo que há certos fenômenos que são
mediados pela escrita e outros são mediados pela fala. As práticas sociais
criam formas de transmissão do conhecimento apropriadas tanto à cultura
como aos modos de produção. Estas duas classes de textos exibirão
diferenças sensíveis entre si, mas os textos restantes estarão dentro da faixa
de um contínuo. É até provável que não sejam muitas as diferenças
essencialmente lingüísticas e que a maioria delas seja de processamento, em
função do tempo, das condições e dos meios de produção, além das
diferenças do tipo de texto realizado.
Em suas reflexões o professor associa ao contínuo lingüístico existente entre a fala e a
escrita o correlato no contínuo dos gêneros textuais, acrescenta ainda que essa variação
linguístico-textual encontra similaridade na variação tipológica entre os textos falados e escritos.
Veja-se, por exemplo, as relações de proximidade e diferença entre uma conversação espontânea
e uma carta entre amigos ou um texto acadêmico e uma conferência universitária.
Uma leitura atenta de jornais como Folha de S. Paulo ou Jornal da Tarde, ou de revistas
como Veja permite-nos observar que o narrador-jornalista:
- faz uso de discurso direto, estratégia que contribui para o fator envolvimento;
- aponta-nos a presença de narrador onisciente que, ao reproduzir, presumivelmente, as
palavras proferidas pelo interlocutor, aproxima o texto da narrativa oral. No trecho a seguir
podemos constatar essa afirmação: “No momento do pouso, o aparelho chocou-se violentamente
contra o solo, arremessando seus 36 passageiros para a frente. Com o impacto, a aeromoça
sentada no fim do corredor deu uma cambalhota junto com a cadeira em que se encontrava presa
pelo cinto de segurança. “O avião não aterrissou, ele praticamente caiu no chão”, contou a VEJA o
industrial Almir Antônio Buzon, um dos 36 passageiros a bordo”. (Simplesmente quebrou! - Veja, 6
de janeiro de 1999, p. 68)
- Recorre ao uso de termos gírios, léxico característico da modalidade oral da língua, dado
que contribui para a familiaridade do discurso, sendo também um dos responsáveis pelo fator
envolvimento: “Sem feridos, o episódio ficou no limite entre o acidente e a tragédia. As companhias
envolvidas, no entanto, saíram bastante chamuscadas”. (Simplesmente quebrou! - Veja, 6 de
janeiro de 1999, p. 68)
- Formas populares incorporadas pelo jornalista integram o uso diário de uma camada
específica da população que encontra nessas manifestações linguísticas a expressão da emoção.
Observe o trecho a seguir: “O ministro Clóvis Carvalho, paulista de 60 anos, é um mouro para
trabalhar, um sargento para obedecer e um general para mandar – e agora, nestes últimos dias,
deu para andar rindo pelos corredores. Não é à toa. Ele continua carregando uma agenda de
mouro, cumprindo ordens do presidente com a mesma disciplina de sempre, mas sua alegria
explica-se pelo poder de general. Mantido como ministro da Casa Civil, cargo que ocupa desde o
início do governo, Clóvis Carvalho foi o único ministro a ficar no segundo mandato com mais poder
do que tinha no primeiro. (...) A exceção que chama a atenção é Clóvis Carvalho. Que já foi
6
apelidado de “gerentão do palácio” e “bedel de ministro”, e é malvisto por políticos de todos os
partidos, inclusive do próprio, o PSDB, devido a sua vocação, exercitada com rigor cotidiano, de
praticamente só abrir a boca para dizer “não”. E mais adiante: “O Clóvis recebeu um prato tão farto
que o único risco hoje é que fique intoxicado”, diz um ministro, referindo-se ao prestígio crescente
do chefe da Casa Civil. Além dos encargos velhos e novos, Clóvis Carvalho tornou-se o senhor do
Palácio do Planalto, abaixo apenas do próprio presidente da República”. (O número 2: com seu
poder turbinado na Casa Civil, Clóvis Carvalho vira o senhor do palácio - Veja, 6 de janeiro de
1999, p. 36).
Além dessas manifestações, verifica-se nos textos um acentuado uso de pormenores,
elemento característico do envolvimento no discurso falado. De fato, a necessidade de criar um
contexto para a notícia permite ao jornalista a liberdade de arbitrar sobre a ênfase e a quantidade
de pormenores.
De modo geral, pode-se dizer que predomina no discurso jornalístico:
- oralidade marcada em algumas manchetes e no corpo de certas notícias ou reportagens
em que se projetam traços emocionais: “E agora, companheiro” ( Veja 7 de outubro de 1998, p. 3436);
- envolvimento do redator, conduzindo a opinião do leitor, sempre com uma perspectiva
crítica: “(...) Diante da realidade imposta pelo resultado das urnas, o espectro de um racha colossal
passou a rondar com insistência a agremiação” (Veja 7 de outubro de 1998, p. 34);
- uma forma de transformar as notícias em narrativa, em que aparecem marcadores
conversacionais e citações de fala das pessoas envolvidas;
- certa mistura entre linguagem culta e popular (oral) ou entre linguagem técnica e popular:
“O ajuste fiscal de FHC vai pegar pesado na aposentadoria dos servidores públicos e aumentar o
imposto sobre o cheque”. (Veja 7 de outubro de 1998, p. 40-43)
- algumas frases de efeito nas manchetes: “A pancada que vem aí” (Veja 7 de outubro de
1998, p.40-43) . Manchete relativa ao ajuste fiscal do governo.
Objetivando a interação escritor/leitor, no que diz respeito ao discurso jornalístico, verifica-se
a influência do discurso sobre o leitor, baseada na perspectiva segundo a qual a notícia deve ser
lida dentro das intenções em que foi escrita. A análise de alguns textos buscou deixar claro que o
uso da oralidade no discurso escrito é uma maneira eficiente de construir um texto mais envolvente
para o leitor. Assim, cremos que o discurso jornalístico traduz no uso das marcas de oralidade sua
manifestação de criatividade e porque não dizer modernidade.
BIBLIOGRAFIA
BOURDIEU, Pierre (1983). “A economia das trocas lingüísticas”. In: ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu:
Sociologia. São Paulo: Ática, p. 156-183.
DIAS, Ana Rosa Ferreira (1996). O discurso da violência. São Paulo: Cortez.
MARCUSCHI, Luiz Antônio (1993) O tratamento da oralidade no ensino de língua. Programa de PósGraduação em Letra e Lingüística, Recife: Universidade Federal de Pernambuco.
PINTO, Edith Pimentel (1986)A língua escrita no Brasil. São Paulo: Ática.
SANTAELLA, Lúcia (1992) Cultura de massas. São Paulo: Razão Social.
7
O que é uma resenha?
Resenha é, segundo o dicionário, uma "apreciação breve de um livro ou de um escrito". Esta
definição pode ser dividida em três partes, que devem servir de orientação para que se possa
entender o que é resenha.
A primeira parte está representada pela palavra "apreciação"; a segunda é a que concerne
ao adjetivo "breve"; e a terceira e última diz respeito ao sintagma "de um livro ou de um escrito".
O primeiro elemento a ser destacado nas resenhas é o fato de que tratam, todas elas, de
uma apreciação. Ou seja, a resenha tem por finalidade:
1) fazer uma análise, um exame; e
2) emitir um julgamento, uma opinião.
O objetivo da resenha é, pois, duplo. A resenha pretende decompor o objeto resenhado em
suas unidades constituintes, proceder a um exame pormenorizado, investigá-lo a fundo; e, a partir
dessa análise, a resenha deve se posicionar em relação ao objeto resenhado, deve julgá-lo, avaliá-lo. É importante que você perceba que esses dois objetivos estão combinados: para que você
tenha elementos para julgar alguma coisa, é preciso que seja feita antes uma análise; e a finalidade
da análise é exatamente fornecer elementos para o julgamento. Na resenha, esses dois objetivos
são solidários: um não existe sem o outro.
O segundo elemento presente na definição é o adjetivo "breve". A resenha é um texto
rápido, pequeno. Isso não significa que sua análise deva ser rasa, superficial, ou que o seu
julgamento possa ser precipitado. Não é isso. A principal implicação das limitações de tempo e
espaço é que você deve ser seletivo. Você sabe, desde o início, que não vai conseguir esgotar a
obra, investigar todos os seus pontos, examinar tudo pormenorizadamente. Logo, você deve eleger
um ou outro aspecto mais saliente do texto para análise, deve investigar em detalhe apenas um dos
pontos do objeto resenhado, em vez de tentar dar conta de tudo. Mas é importante que a sua
escolha recaia sobre um ponto efetivamente relevante do texto, como a tese do autor ou um de
seus principais argumentos.
Por fim, a definição apresenta um terceiro elemento, a expressão "de um livro ou de um
escrito". Este é um ponto controverso, porque o uso normal das resenhas ultrapassa muito o texto
escrito. É extremamente comum encontrarmos hoje nos jornais resenhas de discos e filmes. O
objeto da resenha não é, portanto, apenas um texto escrito. Em princípio, qualquer objeto é
passível de uma apreciação nos moldes de uma resenha. O que é importante perceber aqui é que
todas as resenhas têm um ponto de partida bastante definido. Fazem-se resenhas de textos e
obras, e não de temas. Quando se pede uma resenha de um texto X, sobre um tema Y; não se
quer que uma análise e uma opinião sobre o tema Y; o que se pede é que se examine e julgue o
texto X. Perceba a diferença: não se quer a sua opinião sobre o tema Y, mas sobre o texto X. Não
se deve jamais esquecer do texto que serve de ponto de partida para a resenha: esse texto é a
própria razão de ser da resenha. Deve-se retomá-lo sempre, deve-se dialogar com o autor do texto.
8
Nas resenhas há mesmo um resumo do texto, em que se recuperam as ideias centrais do autor.
Mas não confunda: resenha não é resumo; o resumo é apenas uma parte da resenha, que tem
pelo menos duas outras partes: a parte da análise do texto e a parte do julgamento do texto.
Por tudo o que foi dito, podemos dizer que resenha é um tipo de texto em que há,
concomitantemente, exigências de forma e de conteúdo:
Exigências de conteúdo:
Toda resenha:
a) deve conter uma síntese, um resumo do texto resenhado, com a apresentação das principais
ideias do autor;
b) deve conter uma análise aprofundada de pelo menos um ponto relevante do texto, escolhido
pelo resenhista;
c) deve conter um julgamento do texto, feito a partir da análise empreendida no item b;
Exigências de forma
d) A resenha deve ser pequena, ocupando geralmente até três laudas de papel A4 com
espaçamento duplo;
e) A resenha é um texto corrido, isto é, não devem ser feitas separações físicas entre as partes
da resenha (com a subdivisão do texto em resumo, análise e julgamento, por exemplo);
f) A resenha deve sempre indicar a obra que está sendo resenhada.
Como se faz uma resenha?
É importante saber que não há fórmulas mágicas, macetes ou receitas prontas sobre como
fazer uma resenha. Como todos os outros tipos de texto, é alguma coisa que aprendemos por
experiência e erro, treinando, fazendo. Serão muitos exercícios de resenha até você poder produzir
boas resenhas, e o importante é não desanimar nesse trajeto. Para aqueles que, apesar de tudo o
que viram, ainda não sabem por onde começar, seguem algumas dicas para uma resenha
descritiva:
1) Leia o texto que serve de ponto de partida para a resenha. É o primeiro passo e o
fundamental. A qualidade da sua resenha depende, em grande medida, da qualidade da leitura que
você fizer desse texto. Se necessário, leia mais de uma vez.
2) Faça um resumo do texto. Selecione as ideias principais do autor do texto e monte um outro
texto, seu. Mas cuidado: resumo não é cópia de alguns trechos do texto, com as palavras do autor.
Resumo é um outro texto, um texto seu, em que você diz o que entendeu do texto, e quais são as
ideias principais do autor. Se você não sabe ainda como resumir um texto, pense em como você o
apresentaria para alguém que estivesse acabando de chegar em sala e lhe perguntasse: Sobre o
que é esse texto que você está lendo? Outra estratégia interessante é ler o texto em um dia e tentar
resumi-lo alguns dias depois. As ideias de que você conseguir lembrar serão seguramente as
principais ideias do autor. Se você não conseguir lembrar de nada a respeito do texto, você não o
entendeu. Volte ao texto e o leia novamente.
9
3) Todo texto contém várias ideias, que estão postas em uma hierarquia. Há ideias principais e
há ideias secundárias, periféricas. Eleja uma ideia principal.
4) Analise a ideia escolhida. Procure traçar quais são os seus pressupostos, o que o autor
pressupõe para formular essa ideia. Procure traçar também as suas implicações, as consequências
que se pode retirar dessa ideia. Verifique quais as relações que a ideia estabelece no texto, com
quais outras ideias ela dialoga.
5) Emita um julgamento de verdade a respeito dessa ideia. Ela é verdadeira ou não? Se é
verdadeira, por quê? Se é falsa, por quê? Procure responder a essas perguntas com outros
argumentos que não os usados pelo autor do texto. Por exemplo, se o autor diz que "ninguém é
normal" e usa como argumento a colocação de que "o conceito de "normal" é muito relativo", não
responda que essa ideia é verdadeira porque "o conceito de normal é muito relativo"; você estaria
apenas repetindo o autor do texto. É crucial que o julgamento seja "seu", e não uma mera
reprodução do que o autor pensa. Olhe para a maneira como o autor usa os conceitos, procure
definir o que significa "relativo" para o autor e, aí sim, decida.
6) Faça tudo isso antes de começar a redigir o texto. Use um rascunho. Apenas depois de
resolvidos os passos de 1 a 5 é que você estará pronto para escrever o texto, e decidir sobre a sua
organização. Não há ordem predeterminada: você pode começar o texto pela sua conclusão, e
depois explicá-la para o leitor (através da análise) e terminar por uma apreciação mais genérica do
texto (o resumo); ou você pode começar pelo resumo, passar à análise e, em seguida, ao
julgamento; ou você pode misturar as três coisas. É você que decide. O importante é que seu texto
tenha organização, e unidade. Enfim, que não seja apenas um amontoado de parágrafos sobre o
texto que está sendo resenhado.
10
Dissertação
Dissertar é:
I. Expor um assunto, esclarecendo as verdades que o envolvem, discutindo a problemática que
nele reside;
II. Defender princípios, tomando decisões;
III. Analisar objetivamente um assunto através da sequência lógica de ideias;
IV. Apresentar opiniões sobre um determinado assunto;
V. Apresentar opiniões positivas e negativas, provando suas opiniões, citando fatos, razões,
justificativas.
Sendo a dissertação uma série concatenada de ideias, opiniões ou juízos, ela sempre será
uma tomada de posição frente a um determinado assunto - queiramos ou não. Procurando
convencer o leitor de alguma coisa, explicando a ele o nosso ponto de vista a respeito de um
assunto, ou simplesmente interpretando um ideia, estaremos sempre explanando as nossas
opiniões, retratando os nossos conhecimentos, revelando a nossa intimidade. É por esse motivo
que se pode, em menor ou maior grau, mediar a cultura (vivência, leitura, inteligência...) de uma
pessoa através da dissertação.
A dissertação revela quem somos, o que sentimos, o que pensamos. Nesse ponto, tenha-se
o máximo de cuidado com o extremismo. Temos liberdade total de expor nossas opiniões numa
dissertação. Tudo o que expusermos, principalmente no campo político e religioso, deve ser
acompanhado de argumentações e provas fundamentais.
Para fazer uma boa dissertação, exige-se:
a) Conhecimentos do assunto (adquirido através da leitura, da observação de fatos, do diálogo,
etc.);
b) Reflexões sobre o tema, procurando descobrir boas ideias e conclusões acertadas (antes de
escrever é necessário pensar);
c) Planejamento:
1. Introdução: consiste na proposição do tema, da ideia principal, apresentada de modo a sugerir o
desenvolvimento;
2. Desenvolvimento: consiste no desenvolvimento da matéria, isto é, discutir e avaliar as ideias
em torno do assunto permitindo uma conclusão;
3. Conclusão: pode ser feita por uma síntese das ideias discutidas no desenvolvimento. É o
resultado final.
d) Registrar ideias fundamentais numa sequência
e) Acrescentar o que faltar, ou suprimir o que for supérfluo, desnecessário.
f) Desenvolvimento do plano com clareza e correção, mantendo sempre fidelidade ao tema.
11
O ESTUDO DA DISSERTAÇÃO ARGUMENTATIVA
A ESTRUTURA DISSERTATIVA
TESE
1º parágrafo
5 a 6 linhas
ARGUMENTAÇÃO
2º, 3º e 4º parágrafos
5 a 6 linhas cada um
CONCLUSÃO
5º parágrafo
5 a 6 linhas
OBS.: Estrutura válida para um texto dissertativo-argumentativo de, no mínimo, 25 linhas,
sem contar o título. Vamos iniciar o estudo com alguns esclarecimentos sobre a primeira
parte da estrutura que é a Tese, antes chamada de Introdução, que deve ser clara, objetiva
e concisa, preferencialmente. Esta precisa ser discutida, argumentada e concluída.
MODELOS DE TESE
1 – Cena descritiva: Exemplo:
O som invade a cidade. Buzinas estridentes atordoam os passantes. Edifícios altíssimos
cobrem os céus cinzentos da metrópole. Uma fumaça densa e ameaçadora empresta a
São Paulo o aspecto de fotografias antigas sombreadas pela cor do tempo. É a paisagem
tristonha da poluição.
2 – Uma frase declarativa ou afirmação: Exemplo:
O artista contemporâneo, diante de um mundo complexo e agitado, tem por missão traduzir
o mais fielmente possível essa realidade. Mesmo que pareça impossível impedir que o
subjetivismo esteja presente, deve-se despir de opiniões já estabelecidas de préjulgamentos ou preconceitos, a fim de que essa tradução seja fidedigna.
3 – Frases ou expressões nominais: Exemplo:
Baixos salários. Médicos descontentes. Enfermagem pouco qualificada. Falta de
medicamentos. Desvio de verbas. Hospitais insuficientes e mal aparelhados. Atendimento
precário. Esse é o retrato da saúde pública brasileira.
4 – Resgate histórico ou dados retrospectivos: Exemplo:
As primeiras manifestações de comunicação humana nas eras primitivas foram traduzidas
por sons que expressavam sentimentos de dor, alegria ou espanto. Mais tarde, as pinturas
rupestres surgiram como primeiros vestígios de tentativa de preservação de uma era...
5 – Citação: textual e comentada. Exemplo:
Textual: "O escravo brasileiro, literalmente falando, só tem uma coisa: a morte." Joaquim
Nabuco, grande teórico do movimento abolicionista brasileiro revela uma das
características que o pensamento antiescravista tem: a nota de comiseração pelo escravo.
Comentada: O teórico Joaquim Nabuco, em sua comiseração pelo escravo brasileiro,
disse que este só tem a própria morte. O movimento brasileiro antiescravista, quando já
fortalecido, deixou bem clara essa pungente acusação nas palavras dos abolicionistas.
12
6 – Pergunta ou uma sequência de perguntas: Exemplo:
Os pensadores do século XIX propuseram nos termos da época as questões que, apesar
de toda a posterior realidade, continuam a intrigar os críticos sociais: como funciona a
mente de um político? Quais são os fatores imponderáveis que o levam a agir desta ou
daquela maneira?
7 – Definição: Exemplo
O envelhecimento é um processo evolutivo que depende dos fatores hereditários, do
ambiente e da idade, embora ainda não tenham sido descobertas as causas precisas que o
determinam em toda a sua amplitude e diversidade.
8 – Linguagem figurada: Exemplo:
Os meios de comunicação, com sua velocidade estonteante de informação, fazem de cada
homem um condômino do mundo. De repente, todos ficaram sabendo quase tudo, sem
tempo para digerir 90% das informações que recebem; é uma ilha cercada de
comunicações por todos os lados.
9 – Narração: Exemplo:
O ano de 1997 foi marcado pela expansão da informática no país: realizaram-se as mais
importantes feiras do mundo, apresentando novidades que deslumbraram os brasileiros.
Os mais ávidos de atualizar-se se transformaram em presas definitivas de um dos
mercados mais lucrativos do planeta.
10 - Ideias contrastantes ou ponto de vista oposto: Exemplo:
Enquanto muitos políticos brasileiros praticam a corrupção ao desviarem altíssimas somas
em dinheiro do tesouro público, cerca de 30% da população sobrevive com menos de um
salário mínimo. E, para agravar, ainda temos episódios inaceitáveis como a proposta de
aumento do salário dos deputados de R$ 12.000 para R$ 21.000!!
11 – Comparação: Exemplo:
A era da informática veio aprofundar os abismos do país: de um lado, assistimos ao avanço
tecnológico desfrutado por cerca de 2% da população; de outro, assistimos à crescente
marginalização da maioria que sequer consegue alfabetizar-se minimamente.
12 – Contestação ou confirmação de uma citação: Exemplo:
O computador liberta, afirmou Nicholas Negroponte, o pioneiro da era digital. Contudo, o
modo como a informática vem se impondo parece angustiar o homem, gerando ansiedade
que, longe de libertar, escraviza.
13 – Declaração surpreendente: Exemplo:
Jamais houve cinema silencioso. A projeção das fitas mudas era acompanhada por música
de piano ou pequena orquestra. No Japão e outras partes do mundo, popularizou-se a
figura do narrador ou comentador de imagens, que explicava a história ao público. Muitos
filmes, desde os primórdios do cinema, comportavam música e ruídos especialmente
compostos.
13
A ARGUMENTAÇÃO
O desenvolvimento é a parte mais extensa do texto dissertativo. Compreende os
argumentos (evidências, exemplos, justificativas etc.) que dão sustentação à tese – ideia
central apresentada no primeiro parágrafo. O conteúdo dos parágrafos de desenvolvimento
deve obedecer a uma progressão: repetir ideias mudando apenas as palavras resulta em
redundância. É preciso encadear os enunciados de maneira que se completem (cada
enunciado acrescentará informações novas ao anterior). Deve-se também evitar a
reprodução de clichês, fórmulas prontas e frases feitas – recursos que enfraqueçam a
argumentação.
A adequada utilização de seu repertório cultural será determinante para diversificar e
enriquecer seus argumentos. Observe alguns exemplos de argumentação:
Tema: Televisão
Argumentação por exemplificação
Já foi criada até uma campanha – "Quem financia a baixaria é contra a cidadania" – para
que sejam divulgados os nomes das empresas que anunciam nos programas que mais
recebem denúncias de desrespeito aos direitos humanos. O mais importante nessa
iniciativa é que a participação da sociedade, que pode abandonar a passividade e interferir
na qualidade da programação que chega às casas dos brasileiros.
Argumentação histórica
Quem assiste à tevê hoje talvez nem imagine que seu compromisso inicial, quando chegou
ao país, há pouco mais de meio século, fosse com educação, informação e entretenimento.
Não se pode negar que ela evoluiu – transformou-se na maior representante da mídia, mas
em contrapartida esqueceu-se de educar, além disso, informa relativamente e entretém de
maneira discutível.
Argumentação por constatação
Para além daquilo que a televisão exibe, deve-se levar em conta também seu papel social.
Quem já não renunciou a um encontro com amigo ou a um passeio com a família para não
perder a novela ou a participação de algum artista num programa de auditório? Ao que tudo
indica, muitos têm elegido a tevê como companhia favorita.
Argumentação por comparação
Enquanto países com Inglaterra e Canadá têm leis que protegem as crianças da exposição
ao sexo e à violência na televisão, no Brasil não há nenhum controle efetivo sobre a
programação. Não é de surpreender que muitos brasileiros estejam defendendo alguma
forma de censura sobre a tevê aberta.
Argumentação por testemunho
Conforme citado pelo jornalista Nelson Hoineff, "o que a televisão tem de mais fascinante
para quem a faz é justamente o que ela tem de mais nocivo para quem a vê: sua
capacidade aparentemente infinita de massificação". De fato, mais de 80% da população
brasileira tem esse veículo como principal fonte de informação e referência.
14
A CONCLUSÃO DO TEXTO DISSERTATIVO
Quando elaboramos uma dissertação, temos sempre um objetivo definido: defender
uma ideia, um ponto de vista. Para tanto, formulamos uma tese interessante, que será
desenvolvida com eficientes argumentos, até atingir a última etapa da estrutura
dissertativa: a conclusão. Assim, as ideias devem estar articuladas numa sequência que
conduza logicamente ao final do texto.
Não há um modelo único de conclusão. Cada texto pede um determinado tipo de
fechamento, a depender do tema, bem como do enfoque escolhido pelo autor. Em textos
com teor informativo, por exemplo, caberá a conclusão que condense as ideias
consideradas. Já no caso de textos cujo conteúdo seja polêmico, questionador, será
apropriada uma conclusão que proponha soluções ou trace perspectivas para o tema
discutido.
Observe alguns dos procedimentos para se concluir um texto dissertativo:
Síntese da discussão – apropriada para textos expositivos, limita-se a condensar as
ideias defendidas ao longo da explanação.
Retomada da tese – é a confirmação da ideia central. Reforça a posição apresentada no
início do texto. Deve-se, contudo, evitar a redundância ou mera repetição da tese.
Proposta(s) de solução – partindo de questões levantadas na argumentação, consiste na
sugestão de possíveis soluções para os problemas discutidos.
Com interrogação (retórica) – só deve ser utilizada quando trouxer implícita a crítica
procedente, que instigue a reflexão do leitor. É preciso evitar perguntas que repassem ao
leitor a incumbência de encontrar respostas que deveriam estar contidas no próprio texto.
15
VARIANTES LINGUÍSTICAS
Uma língua nunca é falada de maneira uniforme pelos seus usuários: ela está sujeita a
muitas variações. O modo de falar uma língua varia:
- de época para época: o português de nossos antepassados é diferente do que falamos hoje;
- de região para região: o carioca, o baiano, o paulista e o gaúcho falam de maneiras nitidamente
distintas;
- de grupo social para grupo social: pessoas que moram em bairros chamados nobres falam
diferente dos que moram na periferia. Costuma-se distinguir o português das pessoas mais
prestigiadas socialmente (impropriamente chamada de fala culta ou norma culta) e o das pessoas
de grupos sociais menos prestigiados (a fala popular ou norma popular);
- de situação para situação: cada uma das variantes pode ser falada com mais cuidado e
vigilância (a fala formal) e de modo mais espontâneo e menos controlado (a fala informal). Um
professor universitário ou um juiz falam de um modo na faculdade ou no tribunal e de outro numa
reunião de amigos, em casa e em outras situações informais.
Além dessas, há outras variações, como, por exemplo, o modo de falar de grupos
profissionais, a gíria própria de faixas etárias diferentes, a língua escrita e oral.
Diante de tantas variantes linguísticas, é inevitável perguntar qual delas é a correta.
Resposta: não existe a mais correta em termos absolutos, mas sim, a mais adequada a cada
contexto. Dessa maneira, fala bem aquele que se mostra capaz de escolher a variante adequada a
cada situação e consegue o máximo de eficiência dentro da variante escolhida.
Usar o português rígido, próprio da língua escrita formal, numa situação descontraída da
comunicação oral é falar de modo inadequado. Soa como pretensioso, pedante, artificial. Por outro
lado, é inadequado em situação formal usar gírias, termos chulos, desrespeitosos, fugir afinal das
normas típicas dessa situação.
Quando se fala das variantes, é preciso não perder de vista que a língua é um código de
comunicação e também um fato com repercussões sociais. Há muitas formas de dizer que não
perturbam em nada a comunicação, mas afetam a imagem social do falante.
EXERCÍCIOS
1. Observe os inconvenientes linguísticos e reescreva a frase de forma que atenda à norma padrão:
Convidamos aos professores para que dê início as discursões dos assuntos em palta.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
2. Suponha um aluno se dirigindo a um colega de classe nestes termos: “Venho respeitosamente
solicitar-lhe se digne emprestar-me o livro.” A atitude desse aluno se assemelha à atitude do
indivíduo que:
a) comparece ao baile de gala trajando “smoking”.
b) vai à audiência com uma autoridade de “short” e camiseta.
c) vai à praia de terno e gravata.
d) põe terno e gravata para ir falar na Câmara dos Deputados.
e) vai ao Maracanã de chinelo e bermuda.
3. O que é e o que pode determinar a variação linguística?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
16
4. Por que podemos afirmar que somos falantes e, ao mesmo tempo, modificadores da língua?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
5. Sobre a língua, a norma padrão e as variantes linguísticas, analise as assertivas abaixo e, depois, assinale
a alternativa verdadeira
I. O meio sociocultural em que vive o sujeito determina os modos variados com que ele usa a fala.
II. Linguagem é sinônimo da “fala humana” e esta se encontra na gramática que descreve o sistema de uma
língua.
III. O uso de uma determinada variante linguística dá identidade a grupos existentes na sociedade, a exemplo
da pronúncia de palavras.
IV. As línguas não são estáticas, mas mudam ao longo do tempo; a esse estudo dá-se o nome de variantes
históricas.
a) As assertivas II e IV estão corretas.
c) Todas as assertivas estão corretas.
b) As assertivas I, III e IV estão corretas.
d) Apenas as assertivas I e III estão corretas.
6. Defender a existência de uma “realidade plurilinguística” em nosso país é defender todas as ideias a
seguir, EXCETO:
A) A língua que serve de forma de expressão a uma determinada comunidade passa por um processo
constante de mudanças.
B) A língua reduz sensivelmente seu repertório de palavras, ao entrar em contato com os meios modernos de
comunicação de massa.
C) A língua abriga em si uma abertura à multiplicidade de falares, sotaques.
D) A realidade dinâmica da língua ocorre devido ao fato de o homem possuir o dom de criar.
7. Assinale a alternativa que contém uma informação FALSA em relação ao fenômeno da variação
linguística.
A) A variação linguística consiste num uso diferente da língua, num outro modo de expressão aceitável em
determinados contextos.
B) A variedade linguística usada num texto deve estar adequada à situação de comunicação vivenciada, ao
assunto abordado, aos participantes da interação.
C) As variedades que se diferenciam da variedade considerada padrão devem ser vistas como imperfeitas,
incorretas e inadequadas.
D) As línguas são heterogêneas e variáveis e, por isso, os falantes apresentam variações na sua forma de
expressão, provenientes de diferentes fatores.
8. Mais importante do que falar correto, é saber escolher a variante linguística adequada a cada situação
concreta de comunicação. Assinale a alternativa em que a variante linguística não é compatível com o gênero
do texto indicado entre parênteses.
a) “Nada pior para uma boa causa do que maus defensores: é o que ocorre com a ecologia.” (Introdução a
um texto dissertativo)
b) “Tu que tá acostumado a esculachá os otro e ganhá os cara na manha, te manca, que a tua hora vai
chegá.” (Ameaça feita por um morador de periferia a um desafeto da mesma região e classe social)
c) “Onde tem teatro, nós estamos por trás. Nos últimos quatro anos, a Volkswagen investiu R$ 27 milhões em
projetos culturais como: teatro, música, exposições de arte, cinema e literatura. Não é favor, é nossa
obrigação.” (Anúncio publicitário veiculado em revista de artes)
d) “A história que começou há cinco séculos, nestas praias de Porto Seguro, deu origem a uma das grandes
nações do mundo. Um país que nos orgulha pelo que já é, e nos inspira e desafia por tudo aquilo que
pode vir a ser. Como toda criança, eu imagino, foi a geografia, antes da história, que primeiro me deu o
sentimento de grandeza do Brasil.” (Discurso de uma autoridade numa comunicação solene)
e) “Ontem, quando cheguei em casa, aborreci-me com a notícia de que não havia água. Como agravante,
esclareça-se que já faziam cinco dias que o líquido precioso nos faltara. Custou-me conciliar com o sono
sem o conforto de um banho.” (Fala de um senhor de estrato social elevado, apegado à rigidez
gramatical)
17
QUAL É A DIFERENÇA ENTRE A NORMA GRAMATICAL, A PADRÃO E A CULTA?
A norma gramatical é aquela relacionada à gramática normativa: só o que está de acordo
com ela é correto. Porém ela incorpora muitas regras que não são usadas cotidianamente. A
norma padrão, por sua vez, está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições
representadas na gramática, mas é marcada pela língua produzida em certo momento da história e
em uma determinada sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes formas de
linguagem que hoje não são consideradas pela norma-padrão, com o tempo, podem vir a se
legitimar. Por fim, a norma culta é a que resulta da prática da língua em um meio social
considerado culto - tomando-se como base pessoas de nível superior completo e moradoras de
centros urbanos. No Brasil, ela foi estudada por meio de pesquisa de campo realizada há quase 50
anos, tomando-se como base falantes de algumas capitais. Como desde então não foram
realizados novos estudos, a norma culta caiu em desuso.
O uso dessas regras varia de acordo com as situações e condições de vida de cada um. Em
muitos casos, é na escola que ocorre o único contato das crianças com a gramática normativa e
com a norma padrão.
LÍNGUA PADRÃO, LÍNGUA CULTA,
LÍNGUA LITERÁRIA E CONTRATO DE COMUNICAÇÃO
Helênio Fonseca de Oliveira (UERJ) Disponível em: http://www.filologia.org.br/viicnlf/anais/caderno10-09.html
Acesso em 27/04/2010
A língua varia, como é sabido, no tempo, no espaço geográfico, no espaço social e de uma
situação comunicativa para outra. Existem, portanto, várias “línguas portuguesas”, cada uma das
quais é uma variedade do português.
Cada variedade da língua é, em princípio, um código, com seus elementos e regras, por maior que
seja a semelhança entre esses códigos. Porém, não é tão simples como possa parecer, à primeira
vista, a tarefa de isolar e descrever tais variedades, porque não há fronteiras rígidas entre elas.
Haverá sempre um componente de arbitrariedade em qualquer divisão que se faça, entretanto a
descrição linguística não pode prescindir de tais divisões.
A migração de trabalhadores de baixo nível salarial de uma região pobre para um grande centro,
por exemplo, pode transformar um dialeto geográfico em social. O código usado pelas gerações
mais velhas e o empregado pelas mais jovens são na verdade variedades diacrônicas muito
próximas. Muitos elementos e regras do registro informal utilizados pela camada culta da população
ocorrem também nos dialetos sociais das camadas ditas “incultas”. Além disso, tende a existir certa
correlação entre escrita e formalidade, por um lado, e entre informalidade e fala, por outro.
Esse entrecruzamento de dimensões dificulta o estabelecimento de limites precisos entre a
coordenada social e a geográfica, entre a etária e a diacrônica, entre dialetos sociais e variações de
uso (ultraformal, formal, semiformal e informal) ou ainda entre as dicotomias formal versus
informal e escrito versus falado.
O carioca e o paranaense, embora NÃO usem o mesmo código, falam a mesma língua, porque se
consideram membros da mesma comunidade linguística e, supondo-se que tenham certo grau de
escolaridade, utilizam, na comunicação escrita formal, a mesma variedade dessa língua, que é a
sua forma padrão. Portanto, embora existam várias “línguas” portuguesas como códigos, há um e
somente um português como instituição social.
A língua padrão, que na sociolinguística anglófona se denomina standard language, é a variedade
culta formal do idioma. Há quem tome o termo norma culta, indevidamente, como sinônimo de
língua padrão. Ocorre que a língua culta, isto é, a das pessoas com nível elevado de instrução,
18
pode ser formal ou informal. A língua padrão é a culta, sim, mas limitada à sua vertente formal. É,
pois, necessário distinguir os dois conceitos.
Língua culta é um termo mais amplo que língua padrão, uma vez que abrange não só o padrão,
que é suprarregional, mas também as variedades cultas informais de cada região. Entendam-se
como cultos os dialetos sociais das pessoas acima de determinado grau de escolaridade. Desse
modo o termo adquire objetividade e nos desvencilhamos do ranço de preconceito de que está
impregnado.
A língua culta informal, portanto, não é padrão. A variedade padrão da língua “lidera” um conjunto
de códigos que se influenciam mutuamente, a saber: (a) as variedades orais cultas informais das
diversas áreas geográficas; (b) a língua escrita culta informal (c) as variedades literárias do idioma,
que se baseiam no padrão, mas, no caso do Brasil, nem sempre correspondem fielmente a ele.
A língua literária seria, em princípio, a variedade padrão artistificada, mas pode dar-se ao caso de
ela se desviar do padrão quando o desvio é esteticamente necessário, daí a importância de
distinguir também língua padrão de língua literária, embora se empreguem com frequência os
dois termos como equivalentes, impropriedade a que se acrescenta mais uma, a de incluir língua
escrita nessa série pseudo-sinonímica, inclusão obviamente inexata, visto que a língua padrão,
embora se use sobretudo na escrita, pode usar-se também na comunicação oral formal.
A língua oral culta é geograficamente mais diversificada do que sua correspondente escrita, ou
seja, do que o padrão, e, entre as formas escritas da língua, no caso do português atual do Brasil,
as literárias variam mais, de uma região para outra, que as não-literárias, em consequência de um
compromisso da literatura brasileira, nas últimas nove décadas, com os registros coloquiais.
Certas “infrações” à norma gramatical que no Brasil se sentem, a partir do modernismo, como
adequadas a um poema ou a um conto, não seriam aceitáveis numa carta comercial ou num
discurso do paraninfo numa cerimônia de formatura. Na literatura anterior ao modernismo, ao
contrário, tais “liberdades” seriam inadmissíveis.
Por outro lado, o uso literário da língua escrita permite e até estimula a originalidade, ao contrário
do seu emprego não-literário, que privilegia a padronização, daí ser bastante perceptível na
literatura um outro tipo de variação, a individual. É a isso que nos referimos quando falamos em
estilo de um escritor.
A problemática do estilo sobrevive às controvérsias sobre a disciplina que o estuda. O que quer que
se diga sobre a estilística, continuará sendo verdade que ficam na obra de arte as marcas
pessoais de quem a produziu e que graças a elas se pode, por exemplo, muitas vezes, identificar o
autor da obra, quando existe dúvida sobre a autoria.
Voltemos, porém, ao tema da língua literária e da maneira como ela se relaciona com a língua
padrão. Do fato de o português literário atual do Brasil não utilizar necessariamente a variedade
formal culta do idioma (língua padrão) não se pode concluir que os coloquialismos observáveis em
obras literárias se devam empregar em qualquer gênero textual.
O que é “virtude” num gênero, ou seja, o que é adequado ao contrato de comunicação desse
gênero, pode ser “defeito” em outro, isto é, pode ser inadequado segundo o contrato deste outro.
Contrato de comunicação é um dos conceitos básicos da análise semiolinguística do discurso
de Patrick Charaudeau e pode definir-se como um conjunto de “regras” discursivas que determinam
o que é e o que não é “permitido” no ato de produzir e de interpretar textos (orais ou escritos).
Define, portanto, até onde os sujeitos da comunicação podem “ir” em sua atividade de codificação e
de descodificação.
19
Distinguir língua padrão de língua literária é importante, não só na descrição linguística, porque
dessa distinção depende a boa escolha do corpus, mas também no ensino do idioma. O estudante
normalmente não vai à escola para aprender a redigir no estilo sofisticado de um Guimarães Rosa,
mas para tornar-se capaz de produzir uma prosa não literária razoável, de interpretar textos, enfim
de dominar certo número de contratos de comunicação orais e escritos. O contato da maioria dos
alunos com textos literários visaria prioritariamente a fazer deles leitores, não necessariamente
autores. Uns poucos, excepcionalmente motivados para a produção literária e que revelassem
aptidão para essa atividade, seriam estimulados a desenvolver seu potencial criativo.
Antes do advento do modernismo, a expectativa dos usuários da língua, a que de modo geral os
escritores correspondiam, era que a literatura fosse escrita na língua padrão. Foi a militância
político-linguística de Mário de Andrade e de seus companheiros que mudou o contrato de
comunicação da literatura no Brasil no que se refere à variação linguística: em textos literários o
registro formal (língua padrão) deixou de ser obrigatório e tornou-se facultativo, passando a escolha
da variedade linguística utilizada a obedecer às necessidades estilísticas do escritor.
Hoje, na verdade, o reduto do padrão é a prosa formal não literária, que assume a forma de cartas
comerciais, textos didáticos, científicos, técnicos, burocráticos, jurídicos notícias na mídia impressa
etc.
Seria interessante, a esta altura, aprofundar um pouco mais o conceito de língua padrão. Essa
variedade da língua caracteriza-se:
pelo comprometimento com a norma gramatical (apesar de alguns pontos de atrito);
por sua natureza formal;
por ser mais usada na escrita (embora o possa ser também na fala);
por seu caráter suprarregional;
por sua relação inseparável com o conceito de nação;
pelo prestígio de que goza;
por seu relativo acronismo.
As três primeiras características dispensam esclarecimentos.
A quarta característica é o caráter suprarregional da língua padrão, que consiste em indivíduos
de diferentes regiões do Brasil usarem a mesma variedade do português na comunicação formal
escrita, embora empreguem dialetos geográficos diferentes na comunicação informal do dia a dia.
Isso se pode demonstrar por meio de um experimento simples: Submetem-se a um observador
textos técnicos, jurídicos, burocráticos etc. redigidos em diferentes regiões do país e pede-se que
ele identifique a região de origem dos respectivos autores, o que ele provavelmente, em virtude da
suprarregionalidade da língua padrão, não será capaz de fazer, pelo menos não com base na
variedade da língua utilizada. Se o fizer, será graças a índices não linguísticos.
Ao contrário, se gravarmos em fita trechos de conversações de falantes de diferentes dialetos
geográficos, pedindo a alguém que faça a escuta das gravações, essa pessoa provavelmente não
encontrará dificuldade para identificar a região de origem dos respectivos falantes. Mesmo com
relação a comunicações escritas informais, essa identificação não será difícil em certas
circunstâncias.
20
Os primeiros textos escritos em português aparecem relativamente pouco tempo depois do
surgimento de Portugal como nação. No Brasil, a partir da Independência, vários intelectuais
passam a defender a denominação “Língua Brasileira” para o idioma nacional.
O quinto item é o prestígio, atributo essencial da língua padrão, graças ao qual ela é
tradicionalmente dada como “correta” e os registros informais, como “incorretos”, “viciosos” e até,
de certo modo, como “inexistentes”.
A negação da existência de tais códigos está implícita em exclamações como “Isso não é
português!”, que ouvimos às vezes com referência a vocábulos e construções típicos desses
registros. Isso nos leva a uma discussão interessante sobre o que é “existir” em matéria de
linguagem. Não custa lembrar que uma forma, prestigiosa ou não, existe na língua quando, em
determinadas situações comunicativas, a comunidade que fala ou escreve essa língua a emprega.
O sexto e último item, o relativo acronismo da variedade padrão da língua, resulta do fato de
que ela evolui mais vagarosamente que as demais variedades, embora também evolua. Entre a
nossa conversação espontânea e a de um português ou brasileiro do século XVIII, a distância é
maior que entre a nossa comunicação formal e a desse mesmo indivíduo, supondo que ele tivesse
acesso à língua padrão de sua época.
Por mais elitistas que sejam as origens da língua padrão, que se baseia, evidentemente, num
dialeto social e geográfico prestigioso, há vantagens práticas em aprendê-la. Quem não é capaz de
empregá-la sofre várias formas de exclusão e é incapaz de comunicar-se nas situações em que ela
é necessária.
Uma política linguística verdadeiramente democrática, por conseguinte, é a que defende o seu
ensino na escola, não evidentemente como variedade única, mas como código a ser usado nos
gêneros textuais que o exigem, em obediência aos respectivos contratos de comunicação.
GÊNEROS E TIPOS: UMA APROXIMAÇÃO
Mara Lucia Fabrício de Andrade (UNESP) Disponível em: http://www.filologia.org.br/soletras/2/06.htm
Acesso em 01/05/2011
1 INTRODUÇÃO
Até que ponto gêneros e tipos podem ser aproximados é uma questão que tem sido
abordada em vários trabalhos. Essa é a questão que direciona as reflexões aqui presentes.
2 GÊNEROS DO DISCURSO OU TIPOS TEXTUAIS
Comunicar-se eficientemente parece, a princípio, algo fácil e simples a qualquer indivíduo,
dada a agilidade e a habilidade que todos têm de usar a linguagem. No entanto durante esse
processo realizado automaticamente, ou seja, sem uma real consciência do que subjaz à
competência linguística, não se questiona a sequência de passos a percorrer para que se consiga
realizar o complexo ato de comunicação por meio da língua.
Nesse sentido a comunicação seria extremamente difícil se, como diz Bakhtin (1997, p.
302), os indivíduos não dominassem os gêneros de discurso e tivessem de criá-los no processo de
fala. As dificuldades da criação de um gênero a cada construção de enunciado de modo totalmente
livre seriam sentidas na perda da agilidade do processo. Daí ser necessário admitir, com Bakhtin,
que a língua se realiza por meio de enunciados (orais ou escritos). Dadas as diferentes situações
de uso, os enunciados vão sendo organizados, agrupados em tipos - de acordo com a finalidade - e
ensinados de forma a levar o aprendiz a tomar conhecimento dos diferentes tipos e a usá-los de
acordo com os objetivos que têm em mente (Pasquier e Dolz, 1996).
Os enunciados - organizados e agrupados - são usados em toda e qualquer atividade
humana. Essas atividades se caracterizam por condições especiais de atuação e por objetivos
específicos, e, sendo inúmeras, cada esfera de atividade desenvolve tipos relativamente estáveis
21
de enunciados que passam a ser comumente associados a elas. Mesmo variando em termos de
extensão, conteúdo e estrutura, os enunciados conservam características comuns, daí serem
considerados tipos relativamente estáveis. Bakhtin (1997) chama de gêneros de discurso esses
tipos estáveis de enunciados. Vale ressaltar que o termo gênero normalmente é associado aos
estudos literários, daí a tendência, nos estudos linguísticos, para o uso da expressão tipos de
texto, considerada mais neutra (Silva, 1995).
Estando assentado que um passo no processo de comunicação é a escolha do tipo de texto,
o que fica por verificar é quais são e como podem ser classificados os tipos de textos.
3 CLASSIFICAÇÃO DOS TIPOS TEXTUAIS
Num levantamento geral, Vilela (1999) abstrai os pressupostos que fundamentam as
diferentes tipologias textuais existentes, classificando-as da seguinte maneira:
1) as que consideram as características textuais internas dos textos (ou formais);
2) as que consideram os traços textuais exteriores aos textos (ou funcionais);
3) as que conciliam traços internos e externos ao texto (formais e funcionais).
a. Uma classificação funcional
Melo (1985, apud Lonardoni, 1996) estabelece - a exemplo do que se faz para a literatura os gêneros para o jornalismo. Ao estudar os gêneros jornalísticos no Brasil, Melo retoma a obra de
Luiz Beltrão, pesquisador que estudou sistematicamente esse assunto. A classificação feita por
Beltrão atende a critérios funcionais, de acordo com as funções que os textos desempenham em
relação ao leitor: informar, explicar ou orientar. A partir dessas funções, propõe três categorias
básicas:
a) jornalismo informativo: notícia, reportagem, história de interesse humano, informação
pela imagem;
b) jornalismo interpretativo: reportagem em profundidade;
c) jornalismo opinativo: editorial, artigo, crônica, opinião ilustrada, opinião do leitor.
Acrescentando alguns elementos, Melo reduz essa classificação a duas categorias:
* jornalismo informativo: nota, notícia, reportagem, entrevista.
* jornalismo operativo: editorial, comentário, artigo, resenha, coluna, crônica, caricatura,
carta.
Com esse seu estudo, Melo, de certa forma, evidencia a proximidade que há entre gênero e
tipos textuais. Os tipos textuais, assim, não se limitam especificamente ao literário, ao jornalístico,
ao técnico ou ao científico: são, na verdade, modelos gerais, que são escolhidos, adaptados e
readaptados de acordo com cada função específica que exercem na comunicação.
b. Uma classificação formal e funcional
No modelo que elabora, Silva (1995) concilia contribuições advindas de várias perspectivas
de análise. Silva, acreditando que, de um ponto de vista linguístico, uma das grandes dificuldades
encontradas nas classificações de tipos textuais decorre da falta de distinção entre os planos ou
níveis de análise, propõe critérios para uma classificação dos tipos textuais-discursivos em
níveis.
No nível 1 são contemplados critérios formais (ou internos), e no nível 2 são contemplados
critérios funcionais, do âmbito do discurso (ou externos). A partir do segundo nível surge a
diferença fala-escrita e pode ser observada a existência de alguns “exemplares prototípicos”, ou
casos que apresentam propriedades que permitem uma rápida identificação do tipo de texto com
uma estrutura de referência (Silva, 1995).
O terceiro nível surge pela recuperação que a autora faz, com rótulos diferentes, de uma
observação de Labov (1985) na qual a narrativa, para valer a pena, tem de levar a algum ponto,
permitindo que o ouvinte se sinta compensado, e não frustrado, pela atenção que despendeu. Isso,
porém, só acontece quando o narrador é capaz de explorar os recursos avaliativos, e, nesse caso,
está-se em outro plano, ou nível, o do papel que, por exemplo, uma estória contada em meio a uma
conversa desempenha na interação, isto é, a função social que a estória pode ter para o autoengrandecimento do narrador (Silva, 1995). Sendo assim, esse terceiro nível contempla a diferença
entre a estrutura de tipo textual, sua ocorrência num tipo de enunciado e a inserção desse tipo (ou
22
unidade) num aspecto discursivo mais abrangente; aspecto esse que teria uma função peculiar, ou,
em outras palavras, um propósito comunicativo específico. Nesse propósito comunicativo caracterizado pela argumentatividade - está envolvida a interação social por intermédio da língua e,
consequentemente, a intencionalidade natural a essa interação (Koch, 1984).
Os três níveis propostos por Silva (1995) são, a seguir, apresentados de maneira mais
esquemática:
a) Primeiro nível: estruturas discursivas.
São estruturas discursivas disponíveis na língua, e, portanto, pertencentes ao plano das
potencialidades da língua, tradicionalmente identificadas como gêneros de discurso:
- estrutura narrativa [predicados de ação; juntura temporal];
- estrutura descritiva [predicados estativos em torno de entidades];
- estruturas de tipo expositivo/argumentativo [proposições, construções sintáticas
complexas (subordinação) e construções hipotéticas];
- estruturas procedurais [organizações sequenciais nas quais a referência a pessoa tem
menos interesse que o processo em si (daí a ocorrência de sujeitos genéricos ou da
impessoalidade); o verbo se apresenta no modo dos diretivos, o imperativo, o futuro ou o infinitivo;
é comum o uso de orações independentes];
- estrutura expressiva [predicados com verbos de opinião, avaliativos, ou subjetivos, em
que predomina a primeira pessoa];
- estruturas dialógicas [identificadas pela alternância das pessoas do discurso envolvidas,
podendo, porém, ser reproduzidas em certas formas da escrita].
b) Segundo nível: uso das estruturas discursivas em situações reais de comunicação.
São instâncias de uso de estruturas que aparecem sob organizações típicas associadas às
diversas atividades desenvolvidas pelos indivíduos, como, por exemplo, a estória, a piada, o
editorial.
c) Terceiro nível: função ou propósito comunicativo com que dada unidade discursiva
é empregada, sua força ilocucionária, ou a variedade de eventos comunicativos a que se
associa.
É o nível das superposições, em que se busca identificar qual a intenção predominante
(Koch, 1984; Silva, 1995). Silva cita a teoria de Jakobson (1969) por entendê-la propícia para uma
primeira identificação.
Esses níveis propostos por Silva (1995), para uma melhor visualização do conjunto, são
condensados e também renomeados na tabela 01:
Tabela 01: Níveis de análise de tipos textuais
o. nível: unidades formais
1
2o. nível: unidades
3o. nível: unidades
comunicativas
argumentativas
função/propósito
estruturas discursivas
(internas à língua)
usos das estruturas
comunicativo dos usos das
discursivas em circunstâncias estruturas discursivas em
reais de comunicação
circunstâncias reais de
comunicação
potencialidades
usos
funções
w o tipo de veículo w o tipo
de literatura w o tipo de
narrativa
destinatário w a modalidade
conativa
de língua (falada ou escrita)
w etc...
descritiva
expositiva / argumentativa
procedural
referencial metalingüística
expressiva
expressiva poética
dialógicas
fática
23
c. Um exemplo de análise
Uma grande dificuldade que há, conforme Silva (1995), para se realizarem análises empíricas está exatamente em identificar e
delimitar porções de discurso inseridas em outras unidades maiores. Um exemplo é a entrevista, que pode abranger as mais diferentes
manifestações linguísticas. No entanto, tendo por base a análise por níveis - nos termos de Silva (1995) -, a entrevista poderia ser
considerada um tipo de texto, uma vez que diz respeito a uma atividade que se realiza e que se caracteriza pela troca dialógica. Na
tentativa de ilustrar essa questão é que se apresenta a tabela 02.
Nessa tabela, as unidades formais, correspondentes ao primeiro nível, evidenciam as estruturas básicas que sustentam um
tipo textual e as suas marcas aparentes na superfície do texto, daí seu número restrito. As unidades comunicativas, que correspondem
ao segundo nível, e podem ser numerosas, são: o veículo de comunicação utilizado, o “estilo geral” ou tipo de literatura, o receptor e o
tipo de código utilizado. As unidades argumentativas, que correspondem ao terceiro nível, estão relacionadas com a intenção subjacente
à comunicação. Os níveis de análise assim dispostos permitem uma análise mais apurada dos diferentes tipos de textos.
Os tipos de textos utilizados nessa proposta de análise - que aparecem na tabela 02 - foram limitados a alguns tipos veiculados
por jornal.
Tabela 02
Traços de textos (veiculados por jornais) e níveis de análise
Tipos
de Unidades
Textos
Formais
Unidades
Unidades Comunicativas
N De A E Di P J
JR
Argumentativas
R LCI LCO LAR LJU ADT TEE INF FAL ESC REP DES INF OPI CO RE EX PO FA ME
Notícia
+
±
-
- -
- + ± ± ±
+
-
-
+
±
±
-
+
±
-
+
-
+
±
±
-
-
-
Científico
±
+
+ - -
± ± ± + +
-
-
-
+
±
±
-
+
±
-
+
-
+
±
-
-
-
±
Editorial
-
±
+ ± -
- + ± ± ±
±
±
-
+
±
-
-
+
±
-
-
+
+
-
±
-
-
-
Carta/leitor ±
±
± + -
± ± ± ± -
+
-
-
±
±
±
-
+
±
-
-
+
±
±
+
±
±
±
Crônica
±
±
± + -
± ± ± ± -
±
+
-
+
±
±
-
+
±
-
-
+
±
±
±
+
±
±
Entrevista
±
±
± ± +
± ± ± ± ±
+
-
-
±
±
±
-
+
±
-
+
-
±
±
±
±
±
±
Quadrinho ±
±
± ± +
- ± ± ± -
+
±
-
±
±
+
-
+
±
+
-
+
-
-
±
-
+
±
Legenda
unidades
unidades formais:
unidades comunicativas:
N [narrativa]
J [jornal]
CO [conativa],
De [descritiva]
J-R [jornal-revista]
RE [referencial],
argumentativas:
A [expositiva/argumentativa] R [revista]
EX [expressiva],
E [expressiva]
LCI [literatura-científica]
PO [poética],
Di [dialógicas]
LCO [literatura-cotidiana]
FA [fática].
P [procedural]
LAR [literatura-arte]
ME [metalinguística],
LJU [literatura-jurídica]
ADT [adulto]
TEE [teen]
INF [infantil]
FAL [fala]
REP [reportado]
ESC [escrita]
DES [desenho]
INF [informativo]
OPI [opinativo]
24
4 GÊNEROS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS, E ESTILO
Com relação ao exposto até aqui, poder-se-ia questionar que tomar gênero como sinônimo de tipo textual não seria válido,
dada a distinção dos gêneros em primários e secundários (Bakthin, 1997; Schneuwly, mimeo).
Por um lado, o gênero primário é caracterizado por tipos de enunciado espontâneos e naturais, que ocorrem na imediatez da
fala, e o gênero secundário, por tipos de enunciados da fala aprimorados por meio da escrita (Bakthin, 1997; Schneuwly, mimeo). Por
outro lado, um tipo textual pode ser caracterizado como espontâneo ou planejado, conforme os traços “falado” e “escrito”, que, conforme
Silva (1995), são traços de análise pertinentes ao segundo nível.
Sendo assim, o uso de tipo textual por gênero não é problemático porque, em essência, a distinção permanece como um dos
traços no segundo nível. Tal acontece porque, entre outras razões, é possível, como faz Silva (1995), na esteira de Bakthin (1997),
conciliar aspectos formais e funcionais, já que ambos têm pressupostos pertinentes ao terceiro tipo proposto na classificação de Vilela
(1999).
No que se refere ao estilo é possível fazer algumas observações a partir do exposto por Bakthin (1997):
A variedade dos gêneros do discurso pode revelar a variedade dos estratos e dos aspectos da personalidade
individual, e o estilo individual pode relacionar-se de diferentes maneiras com a língua comum. O problema de saber o
que na língua cabe respectivamente ao uso corrente e ao indivíduo é justamente problema do enunciado
(apenas no enunciado a língua comum se encarna numa forma individual). A definição de um estilo em geral e
de um estilo individual em particular requer um estudo aprofundado da natureza do enunciado e da diversidade
dos gêneros do discurso.O vínculo indissolúvel, orgânico, entre o estilo e o gênero mostra-se com grande
clareza quando se trata do problema de um estilo lingüístico [sic] ou funcional. De fato, o estilo lingüístico[sic]
ou funcional nada mais é senão o estilo de um gênero peculiar a uma dada esfera da atividade e da
comunicação humana. Cada esfera conhece seus gêneros, apropriados à sua especificidade, aos quais
correspondem determinados estilos. Uma dada função (científica, técnica, ideológica, oficial, cotidiana) e dadas
condições, específicas para cada uma das esferas da comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um
dado tipo de enunciado, relativamente estável do ponto de vista temático, composicional e estilístico. (p. 283,
grifo meu)
Primeiro observa-se a distinção que há entre um estilo individual e um estilo geral pertinente ao tipo de enunciado. Em segundo
lugar, observa-se que, quando se trata de um estilo geral pertinente ao tipo de enunciado, este está estreitamente correlacionado com o
gênero. Sendo assim, esse estilo geral relacionado ao gênero é passível de ser caracterizado por traços pertinentes, também
pertencentes ao segundo nível. Na tabela 02 esses traços são apresentados como tipos de literatura.
A partir daí verifica-se que, na verdade, o estilo individual, relativo às escolhas individuais no plano sintático ou do vocabulário
(Swales, 1990; apud Silva, 1995), é uma característica subjetiva. E, que o estilo geral, pertinente ao tipo de enunciado, pode contrariamente ao que propõe Silva (1995) - aparecer também como traços característicos de determinados tipos de textos, passíveis de
ser alocados no segundo nível.
5 TIPOS TEXTUAIS COMO “FERRAMENTA”
Para Bakthin (1997), quando um indivíduo utiliza a língua, sempre o faz por meio de um tipo de texto ainda que possa não ter
consciência disso; ou seja, a escolha de um tipo é um dos passos - se não o primeiro - a ser seguidos no processo de comunicação.
Por isso, e nessa perspectiva de continuum, os tipos textuais podem ser uma ferramenta que está à disposição do falante,
sendo por ele escolhidos da maneira que melhor lhe convém para, no processo de comunicação, auxiliá-lo na sua expressão linguística.
Tomar um tipo textual como uma estrutura básica normalmente usada em uma determinada situação o torna uma valiosa
“ferramenta” (ou “instrumento” de caráter cognitivo) que o falante procura, guia e controla para poder expressar a função maior da
linguagem que é atingir uma comunicação, em maior ou menor grau, argumentativa, ou seja, uma comunicação cujo objetivo é
eficazmente alcançado e concretizado; daí dizer-se que a argumentatividade está inscrita no uso da língua (Schneuwly, mimeo; Koch.
1984; Silva, 1995; Neves, 1997).
6 CONCLUSÃO
As ideias aqui tratadas, relativas aos níveis de análise para o estabelecimento de uma tipologia textual - que se apresentaria
como uma ferramenta (um padrão socialmente aceito) por meio da qual o falante “constrói” (níveis 1 e 2) sua intenção comunicativa
(nível 3) -, são fundamentadas na teoria funcional da linguagem proposta por Dik e Halliday (apud Neves, 1997), dentro da qual se
admite a argumentação como mais um fator inerente ao uso (Koch, 1984; Neves, 1997).
Neste sentido a proposta de análise baseada em “níveis” se mostra mais adequada à análise da diversidade textual existente,
pois se trata de uma análise que se faz genérica e abrangente ao mesmo tempo em que mantém as características específicas dos
textos, tais como a informatividade e a opinião, apresentadas na proposta de Melo.
25
De uma maneira geral a busca por uma tipologia textual é uma prática clássica. E foi da tradição que os diferentes tipos (ou
gêneros, e aqui, sim, talvez esse termo fosse mais adequado) - como o épico, o lírico e o dramático ou a poesia e a prosa - foram
herdados, e ainda sobrevivem, ora preservados intactos na arte, ora decompostos e recompostos em inúmeros e diferentes níveis, mas
todos a serviço da intenção comunicativa de um falante que a eles recorre como se recorre a uma ferramenta de trabalho.
BIBLIOGRAFIA
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da Criação Verbal. 2a. ed. São Paulo : Martins Fontes, 1997.
BRANDÃO, H. N. Texto, gêneros do discurso e ensino. Mimeo.
JAKOBSON, R. Lingüística e comunicação. São Paulo : Cultrix, 1969.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. São Paulo : Cortez, 1984.
LABOV, W. Language in the inner city. Philadelphia : Univ of Philadelphia Press, 1975.
LONARDONI, M. No topo da notícia. De como a submanchete faz manchete. Dissertação de mestrado. Unesp-Araraquara, 1996.
MELO, J. M. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis : Vozes, 1985.
NEVES, M. H. M. A gramática funcional. Martins Fontes : São Paulo, 1997.
PASQUIER, A.; DOLZ, J. Un decálogo para enseñar a escribir. Cultura y Educación, 1996, n. 2, p. 31-41.
SAUSSURE, F. Curso de lingüística geral. São Paulo : Cultrix, 1971.
SCHNEUWLY, B. Gêneros e tipos de texto: considerações psicológicas e ontogenéticas. Trad. Roxane H. R. Rojo. In: REUTER, Y. (ed.) Les Interactions
Lecture-Écriture (Actes du Colloque Théodile-Crel): 155-173. Ber : Peter Lang. Mimeo.
SILVA, V. L. P. Forma e função nos gêneros de discurso. 1995. Mimeo.
SILVA, V. L. P. Forma e função nos gêneros de discurso. Alfa, 42, 1997.
SILVA, J. Q. G. Gênero discursivo e tipo textual. Scripta 2, n. 4, 9, 87-106, 1999.
SWALES, J. Genre analysis. Cambridge : Cambridge Univ. Press, 1990.
VASCONCELOS, S. I. C. C. Os discursos jornalísticos. Itajaí (SC)/ Maringá (PR) : Univali, 1999.
VILELA, M. Gramática da língua portuguesa. 2ª ed. Coimbra : Livraria Almedina, 1999.
REDAÇÃO DE TEXTOS CLAROS, COERENTES E CONCISOS
http://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/manual_texto_introducao.htm
Um bom texto jornalístico depende, antes de mais nada, de clareza de raciocínio e domínio do
idioma. Não há criatividade que possa substituir esses dois requisitos.
Deve ser um texto claro e direto. Deve desenvolver-se por meio de encadeamentos lógicos. Deve
ser exato e conciso. Deve estar redigido em nível intermediário, ou seja, utilizar-se das formas mais
simples admitidas pela norma culta da língua. Convém que os parágrafos e frases sejam curtos e
que cada frase contenha uma só ideia. Verbos e substantivos fortalecem o texto jornalístico, mas
adjetivos e advérbios, sobretudo se usados com frequência, tendem a piorá-lo.
O tom dos textos noticiosos deve ser sóbrio e descritivo. Mesmo em situações dramáticas ou
cômicas, é essa a melhor maneira de transmitir o fato da emoção. Deve evitar fórmulas
desgastadas pelo uso e cultivar a riqueza dos vocábulos acessíveis à média dos leitores.
O autor pode e deve interpretar os fatos, estabelecer analogias e apontar contradições, desde que
sustente sua interpretação no próprio texto. Deve abster-se de opinar, exceto em artigo ou crítica.
26
REGÊNCIA VERBAL/NOMINAL
Trata da relação verbo/nome e seus complementos. Perguntar ao verbo/nome que
preposição é exigida por ele. Quem simpatiza, simpatiza com (por exemplo). Os pronomes
relativos vêm acompanhados de preposição, dependendo da regência do verbo. (Exemplo:
A senhora a cuja casa me referi. O médico com quem simpatizo.). OU da regência do
NOME (Exemplo: Ninguém conseguiu esquecer a cilada de que ele foi vítima. (vítima de).
A ocorrência da crase está ligada à regência.
A regência verbal
A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre os verbos e os termos
que os complementam (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos
adverbiais).
O estudo da regência verbal permite ampliar a capacidade expressiva, pois oferece
oportunidade de conhecermos as diversas significações que um verbo pode assumir com a
simples mudança ou retirada de uma preposição. Observe:
A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
A mãe agrada ao filho. -> agradar significa "causar agrado ou prazer", satisfazer.
Logo, conclui-se que "agradar alguém" é diferente de "agradar a alguém".
Saiba que:
O conhecimento do uso adequado das preposições é um dos aspectos fundamentais do
estudo da regência verbal. As preposições são capazes de modificar completamente o
sentido do que se está sendo dito. Veja os exemplos:
Cheguei ao metrô.
Cheguei no metrô.
No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo caso, é o meio de transporte por
mim utilizado. A oração "Cheguei no metrô", popularmente usada a fim de indicar o lugar a
que se vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é muito comum
existirem divergências entre a regência coloquial, cotidiana de alguns verbos, e a regência
culta.
Existem algumas variáveis na conjugação de alguns verbos. Os linguistas chamam os
desvios de variáveis, enquanto os gramáticos tratam-nos como erros.
verbo ver e derivados.
Forma popular: se eu ver, se eu rever, se eu revesse.
Forma padrão: se eu vir, se eu revir, se eu revisse.
27
verbo vir e derivados.
Forma popular: se eu vir, seu eu intervir, eu intervi, ele interviu, eles proviram.
Forma padrão: seu eu vier, se eu intervier, eu intervim, ele interveio, eles provieram.
ter e seus derivados.
Forma popular: quando eu obter, se eu mantesse, ele deteu.
Forma padrão: quando eu obtiver, se eu mantivesse, ele deteve.
pôr e seus derivados.
Forma popular: quando eu compor, se eu disposse, eles disporam.
Forma padrão: quando eu compuser, se eu dispusesse, eles dispuseram.
reaver.
Forma popular: eu reavi, eles reaveram, ela reavê.
Forma padrão: eu reouve, eles reouveram, ela reouve.
A regência nominal
Regência Nominal é o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou
advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por
uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vários
nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o
regime de um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos.
Observe o exemplo:
Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos
pela preposição "a". Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que
os regem. Observe-os atentamente e procure, sempre que possível, associar esses nomes
entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.
Substantivos
Admiração a, por
Devoção a, para, com, por
Medo a, de
Aversão a, para, por
Doutor em
Obediência a
Atentado a, contra
Dúvida acerca de, em, sobre
Ojeriza a, por
Bacharel em
Horror a
Proeminência sobre
Capacidade de, para
Impaciência com
Respeito a, com, para com, por
28
Adjetivos
Acessível a
Diferente de
Necessário a
Acostumado a, com
Entendido em
Nocivo a
Afável com, para com
Equivalente a
Paralelo a
Agradável a
Escasso de
Parco em, de
Alheio a, de
Essencial a, para
Passível de
Análogo a
Fácil de
Preferível a
Ansioso de, para, por
Fanático por
Prejudicial a
Apto a, para
Favorável a
Prestes a
Ávido de
Generoso com
Propício a
Benéfico a
Grato a, por
Próximo a
Capaz de, para
Hábil em
Relacionado com
Compatível com
Habituado a
Relativo a
Contemporâneo a, de
Idêntico a
Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a
Impróprio para
Semelhante a
Contrário a
Indeciso em
Sensível a
Curioso de, por
Insensível a
Sito em
Descontente com
Liberal com
Suspeito de
Desejoso de
Natural de
Vazio de
Advérbios
Longe de
Perto de
Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são
formados: paralela a; paralelamente a; relativa a; relativamente a.
29
CRASE
Temos vários tipos de contração ou combinação na Língua Portuguesa. A contração se dá
na junção de uma preposição com outra palavra.
Na combinação, as palavras não perdem nenhuma letra quando feita a união. Observe:
• Aonde (preposição a + advérbio onde)
• Ao (preposição a + artigo o)
Na contração, as palavras perdem alguma letra no momento da junção. Veja:
• da ( preposição de + artigo a)
• na (preposição em + artigo a)
Crase é a fusão de duas vogais idênticas, representada graficamente pelo acento grave.
Fomos à piscina
à = artigo + preposição
Ocorrerá a crase sempre que houver um termo que exija a preposição a e outro termo que
aceite o artigo a.
Para termos certeza de que o "a" aparece repetido, basta utilizarmos alguns artifícios:
I. Substituir a palavra feminina por uma masculina correspondente. Se aparecer ao ou aos diante
de palavras masculinas, é porque ocorre a crase.
Exemplos:
Temos amor à arte.
(Temos amor ao estudo)
Respondi às perguntas. (Respondi aos questionário)
Li as perguntas
(Li os textos)
II. Substituir o "a" por para ou para a. Se aparecer para a, ocorre a crase:
Exemplos:
Contarei uma estória a você.
(Contarei uma estória para você.)
Fui à Holanda
(Fui para a Holanda)
III. Substituir o verbo "ir" pelo verbo pelo verbo "voltar". Se aparecer a expressão voltar da, é
porque ocorre a crase.
Exemplos:
Iremos a Curitiba.
(Voltaremos de Curitiba)
Iremos à Bahia
(Voltaremos da Bahia)
Não ocorre a Crase
a) antes de verbo
Voltamos a contemplar a lua.
b) antes de palavras masculinas
Gosto muito de andar a pé.
Passeamos a cavalo.
c) antes de pronomes de tratamento, exceção feita a senhora, senhorita e dona:
Dirigiu-se a V.Sa. com aspereza
Dirigiu-se à Sra. com aspereza.
d) antes de pronomes em geral:
Não vou a qualquer parte.
Fiz alusão a esta aluna.
e) em expressões formadas por palavras repetidas:
Estamos frente a frente.
Estamos cara a cara.
30
f) quando o "a" vem antes de uma palavra no plural:
Não falo a pessoas estranhas.
Restrição ao crédito causa o temor a empresárias.
Crase facultativa
1. Antes de nome próprio feminino:
Refiro-me à (a) Juliana.
2. Antes de pronome possessivo feminino:
Dirija-se à (a) sua fazenda.
3. Depois da preposição até:
Dirija-se até à (a) porta.
Casos particulares
1. Casa
Quando a palavra casa é empregada no sentido de lar e não vem determinada por nenhum adjunto
adnominal, não ocorre a crase.
Exemplos:
Regressaram a casa para almoçar
Regressaram à casa de seus pais
2. Terra
Quando a palavra terra for utilizada para designar chão firme, não ocorre crase.
Exemplos: Regressaram a terra depois de muitos dias passados no barco.
Regressaram à terra natal.
3. Pronomes demonstrativos: aquele, aquela, aqueles, aqueles, aquilo.
Se o tempo que antecede um desses pronomes demonstrativos reger a preposição a, vai ocorrer a
crase.
Exemplos:
Está é a nação a que me refiro.
(Este é o país a que me refiro.)
Esta é a nação à qual me refiro.
(Este é o país ao qual me refiro.)
Estas são as finalidades às quais se destina o projeto.
(Estes são os objetivos aos quais se destino o projeto.)
Houve um sugestão anterior à que você deu.
(Houve um palpite anterior ao que você me deu.)
Ocorre também a crase
a) Na indicação do número de horas:
Chegamos às nove horas.
b) Na expressão à moda de, mesmo que a palavra moda venha oculta:
Usam sapatos à (moda de) Luís XV.
c) Nas expressões adverbiais femininas, exceto às de instrumento:
Chegou à tarde (tempo).
Falou à vontade (modo).
d) Nas locuções conjuntivas e prepositivas; à medida que, à força de...
OBSERVAÇÕES: Lembre-se que:
Há - indica tempo passado.
Moramos aqui há seis anos
A - indica tempo futuro e distância.
Daqui a dois meses, irei à fazenda.
Moro a três quarteirões da escola.
31
Coloque crase onde for necessário:
1. Ele fez referência a tarefa feita por nós.
2. Traçou uma reta oblíqua a do centro.
3. Não conheço as que saíram.
4. Ela se referia as que saíram.
5. Apresentou-lhe a esposa.
6. Apresentou-o a esposa.
7. Era uma camisa semelhante a que o diretor usava.
8. Ele desconhecia aquele regulamento.
9. Ele não obedecia aquele regulamento.
10. Não me refiro aquilo.
11. Não vi aquilo.
12. Esta é a lei a qual fiz alusão.
13. Esta é a lei a qual desconhecia.
14. Esta é a mulher a quem fiz referência.
15. Esta é a mulher a qual fiz referência.
16. Ela se dedica a empresa e obedece as leis.
17. Não compareceu as reuniões que eram úteis as pesquisas.
18. O juiz, indiferente as súplicas, condenou o réu a forca.
19. Nas próximas férias, iremos a Bélgica, a Suécia e a Portugal.
20. Viajaremos a Londres e a Roma do Coliseu.
21. Já fomos a Paraíba, a Pernambuco e a Goiás.
22. Também fomos a Santa Catarina e a progressista Florianópolis.
23. As vezes, o pessoal sai as escondidas.
24. A reunião vai das cinco as seis horas.
25. A reunião vai durar de cinco a seis horas.
32
COLOCAÇÃO PRONOMINAL
Pode haver dúvida em relação à colocação dos pronomes oblíquos átonos (me, te, se, nos, vos, o,
a, lhe) na frase. Será que, na frase Não me toque, o pronome deveria ficar antes do verbo (Não me
toque) ou depois dele (Não toque-me)? Tudo vai depender dos ímãs. Ímãs? É, são palavras que
puxam, atraem esses pronomes:
Qualquer palavra de sentido negativo, por exemplo, é ímã; atrai o pronome. Não, nunca, jamais,
nem, ninguém, nada, etc. Exemplo: Não me toque; Acho que ele nunca se tocou; etc.;
A palavra QUE, menos quando for substantivo, também é ímã. Sempre atrai o pronome: Quero que
me faça um favor!; Foi ela que se estropiou; E aquele quê chamou-me à atenção (aqui, o quê é
substantivo, nome, e não é ímã. Significa algo mais, qualquer coisa), etc.;
Qualquer advérbio (palavra que exprime circunstâncias de tempo, modo, lugar, afirmação, dúvida,
etc.), como hoje (tempo), sempre (tempo), já (tempo), sempre (tempo), talvez (dúvida), agora
(tempo), aqui (lugar), etc. Exemplos: Aqui se faz, aqui se paga; Eles agora se entendem; Tudo já se
acabou; etc. Obs.: se, após o advérbio, houver pausa (com vírgula), não haverá a atração: Ontem,
deram-me um presente;
Pronomes demonstrativos, principalmente os grifados (este, esse, aquele, isso, isto, aquilo etc.).
Exemplos: Esse garoto se deu mal; Sabia que isso lhe faz bem?;
Pronomes indefinidos (aqueles que se referem a um ser de maneira vaga, imprecisa, indefinida),
como tudo, todos, vários, muitos, poucos, diversos, alguém, ninguém, etc. Exemplos: Ninguém se
culpou; Creio que todos o chamaram; etc.
Conjunções subordinativas (palavrinhas que ligam as orações subordinadas às principais), como
porque, embora, conforme, se, como, quando, conquanto, caso, quanto, segundo, consoante,
enquanto, quanto mais, etc. Exemplos: Ficou bravo porque se danou; Quanto mais se gaba, mais
se ilude. Obs.: se o porque for substituível pela palavra que (caso em que será explicativo), não
atrairá o pronome. Exemplo: Fique quieta já, porque (que) chamaram-na de desequilibrada;
Pronomes relativos (que, quem, o qual, a qual, quanto, onde, etc.). Exemplos: Onde se
estabeleceu a desordem?; Eis a moça a quem me dirigi.
Somente nesses casos o pronome vem antes do verbo?
Não, faltam alguns detalhes importantes: na expressão formada por em + verbo no gerúndio (o
verbo terminado em ndo), o pronome se também fica antes do verbo: Em SE tratando de dinheiro,
não tomemos partido. O mesmo acontece nas frases exclamativas e optativas (que exprimem
emoção, desejo, etc.). Exemplos: Que Deus o acompanhe!; Que ele se dê muito bem; etc.
Outra construção frequente é a formada por preposição (geralmente a, para...) + verbo no infinitivo
(cantar, cantares, cantar, cantarmos, cantarem, etc.). Levando-se em consideração o som, que
deve ser agradável, convencionou-se que o pronome também deve posicionar-se antes do verbo.
Exemplo: Ao se trocarem, notaram vestes estranhas no armário; Para se promoverem, fizeram
coisas terríveis; etc. Obs.: Se a preposição for a e o pronome, a ou o, preferir-se-á, por questão de
sonoridade, a colocação após o verbo: Eu estava a olhá-la (e não "Eu estava a a olhar"); Eu estava
a olhá-lo (e não "Eu estava a o olhar").
E quando o pronome vem depois do verbo?
Em primeiro lugar, é bom você saber que, se não houver ímã algum, o pronome pode ficar depois
do verbo. Pode, mas é claro que, se for possível a próclise, ela será preferida, pois compactua com
33
a tendência do português falado no Brasil. Veja algumas situações em que se deve colocar o
pronome após o verbo:
Uma frase nunca deve ser iniciada por um pronome oblíquo átono (me, te, se, nos, vos, o, a, lhe).
Algumas inadequações: “Me faça um favor”; “Se preocupou comigo?” Corrigindo-os, teríamos:
Faça-me um favor; Preocupou-se comigo?;
Em frases imperativas afirmativas (exprimem ordem, pedido), o pronome também fica depois do
verbo: Entregue-me o papel!; Dê-lhe o baralho; etc.;
Com o gerúndio (forma em que o verbo termina em ndo, como andando, correndo, etc.), o pronome
prefere ficar após o verbo: O evento ocorreu desse modo, evitando-se os conflitos; Vi as crianças
perdendo-se entre agressões; etc. Obs.: na expressão formada por em + se + gerúndio, como já foi
dito, o pronome (se) fica antes do verbo. Exemplo: Em se tratando de futebol, ele é o melhor.
O pronome também pode ficar no meio do verbo?
Pode, claro. Mas a mesóclise, como é chamada essa construção, é praticamente inexistente no
português falado no Brasil, tendo em vista que a nossa tendência é pôr o pronome antes do verbo
(o que recebe o nome de próclise na Gramática). Mas é inevitável neste caso:
Quando a frase for iniciada por um verbo no futuro do pretérito do indicativo (eu faria, tu farias, ele
faria, etc.) ou no futuro do presente do mesmo modo (eu farei, tu farás, ele fará, etc.). Nesse caso,
não se pode colocar o pronome antes (nenhuma oração deve iniciar-se por pronomes oblíquos
átonos) nem depois do verbo.
Tem que ser no meio mesmo. Outro detalhe: mesmo não sendo em início de frase, quando não
existe ímã e o tempo verbal é um dos dois mencionados, pode-se intercalar o pronome: Eu preferi-lo-ia mais bem passado (não há ímã, e o tempo é o futuro do pretérito. Pode-se deixar o pronome
no meio ou, preferível, colocá-lo antes (Eu o preferiria mais bem passado). Errado seria colocar o
pronome depois do verbo no futuro do pretérito ou do presente (Eu “preferiria-o”).
Eu a amo ou Eu amo-a?
Tanto faz. Com os pronomes eu, tu, ele, nós, vós e eles, a colocação do pronome é facultativa
(você escolhe se quer antes ou depois do verbo). Logo, Eu a amo e Eu amo-a estão corretíssimas.
O infinitivo isolado é outro caso opcional (infinitivo é a forma natural do verbo: vender, cantar,
chorar, sorrir, etc.): Sem ofendê-lo (ou Sem o ofender), eu gostaria de tirar uma satisfação. Tome
cuidado para não colocar o pronome após particípios (forma em que o verbo, geralmente, termina
em do, to e so, como cantado, vendido, dito, etc.): Tenho “dito-lhe” (errado); Tenho lhe dito (certo).
E quando houver dois ou mais verbos?
Se esses verbos dependerem um do outro, tratar-se-á de uma locução verbal (união de um verbo
auxiliar e um principal): Todos querem dançar; Ele vai andando; etc.. Esse é um caso bastante
simples.
Se quiser ter a certeza de que sempre estará de acordo com a norma-padrão, é só deixar o
pronome oblíquo átono sempre depois do principal, desde que este não esteja no particípio (o
verbo principal sempre estará no infinitivo, gerúndio ou particípio).
Exemplos: Realmente não estamos entendendo-a; Ela quis dizer-me que está bem. Se houver
palavra atrativa (ímã) antes da locução, o pronome oblíquo poderá vir antes da locução ou depois
do principal: Realmente não A estamos entendendo ou Realmente não estamos entendendo-A.
34
Se não houver ímã algum, o pronome oblíquo pode, na prática, adotar qualquer posição; de
preferência aquela que não nos fira os ouvidos: Ela ME quis dizer que está bem; Ela quis ME dizer
que está bem; Ela quis dizer-ME que está bem (as duas últimas construções soam de maneira mais
natural; em se tratando de colocação pronominal em locuções verbais, quando houver mais de uma
possibilidade, apele ao seu ouvido, ao som agradável).
EXERCÍCIOS
1.
a)
b)
c)
d)
Assinale a frase com erro de colocação pronominal:
Tudo se acaba com a morte, menos a saudade
Com muito prazer, se soubesse, explicaria-lhe tudo
João tem-se interessado por suas novas atividades
Ele estava preparando-se para o vestibular de Direito
2.
a)
b)
c)
d)
Assinale a frase com erro de colocação pronominal:
Tudo me era completamente indiferente
Ela não me deixou concluir a frase
Este casamento não deve realizar-se
Ninguém havia lembrado-me de fazer as reservas
3.
a)
b)
c)
d)
Assinale a frase incorreta:
Nunca mais encontrei o colega que me emprestou o livro
Retiramo-nos do salão, deixando-os sós
Faça boa viagem! Deus proteja-o
Não quero magoar-te, porém não posso deixar de te dizer a verdade
4. O funcionário que se inscreve, fará prova amanhã:
1. Ocorre próclise em função do pronome relativo
4. Tanto a ênclise quanto a próclise são aceitáveis
a) Correta apenas a 1ª afirmativa.
c) São corretas a 1ª e a 3ª
2. Deveria ocorrer ênclise
3. A mesóclise é impraticável
b) Apenas a 2ª é correta
d) A 4ª é a única correta
5. Assinale a colocação inaceitável:
a) Maria Oliva convidou-o
b) Se abre a porta da caleça por dentro
c) Situar-se-ia Orfeu numa gafieira? d) D. Pedro II o convidou
6.
a)
b)
c)
d)
O pronome pessoal oblíquo átono está bem colocado em um só dos períodos. Qual?
Isto me não diz respeito! Respondeu-me ele, afetadamente.
Segundo deliberou-se na sessão, espero que todos apresentem-se na hora conveniente.
Os conselhos que dão-nos os pais, levamo-los em conta mais tarde.
Amanhã contar-lhe-ei por que peripécias consegui não envolver-me.
7. Estas conservas são para nós __________ durante o inverno.
Assinale a alternativa que completa corretamente a lacuna:
a) alimentarmos-nos
b) alimentar-mo-nos
c) nos alimentarmos
d) nos alimentarmo-nos
8. Caso _______ lá, _______, para que não _______
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas:
a) se demoram � avisem-nos � nos preocupemos
b) se demorem � avisem-nos � preocupemo-nos
c) demorem-se � nos avisem � preocupemo-nos
d) demorem-se � nos avisem � nos preocupemos
9. Do lugar onde _______, ______um belo panorama, em que o céu ________com a terra
a) se encontrava � se divisava � ligava-se
b) se encontravam � se divisava � ligava-se
c) se encontravam � divisava-se � se ligava
d) encontravam-se � divisava-se � se ligava
35
CONCORDÂNCIA NOMINAL
1. Substantivo + Substantivo... + Adjetivo
Quando o adjetivo posposto se refere a dois ou mais substantivos, concorda com o último ou vai
facultativamente:


para o plural, no masculino, se pelo menos um deles for masculino;
para o plural, no feminino, se todos eles estiverem no feminino.
Exemplos:
Ternura e amor humano.
Amor e ternura humana.
Ternura e amor humanos.
Carne ou peixe cru.
Peixe ou carne crua.
Carne ou peixe crus.
2. Adjetivo + Substantivo + Substantivo + ...
Quando o adjetivo anteposto se refere a dois ou mais substantivos, concorda com o mais
próximo.
Exemplos:
Mau lugar e hora.
Má hora e lugar.
3. Substantivo + Adjetivo + Adjetivo + ...
Quando dois ou mais adjetivos se referem a um substantivo, este vai para o singular ou plural.
Exemplos:
Estudo as línguas inglesa e portuguesa.
Estudo a língua inglesa e (a) portuguesa.
Os poderes temporal e espiritual.
O poder temporal e (o) espiritual.
4. Ordinal + Ordinal + ... + Substantivo
Quando dois ou mais ordinais vêm antes de um substantivo, determinando-o, este concorda
com o mais próximo ou vai para o plural.
Exemplos:
A primeira e segunda lição.
A primeira e segunda lições.
5. Substantivo + Ordinal + Ordinal + ...
Quando dois ou mais ordinais vêm depois de um substantivo, determinando-o, este vai para o
plural.
Exemplo:
As cláusulas terceira, quarta e quinta.
6. Um e outro / Nem um nem outro + Substantivo
Quando as expressões "um e outro", "nem um nem outro" são seguidas de um substantivo, este
permanece no singular.
Exemplos: Um e outro aspecto.
Nem um nem outro argumento. De um e outro lado.
7. Um e outro + Substantivo + Adjetivo
Quando um substantivo e um adjetivo vêm depois da expressão "um e outro", o substantivo vai
para o singular e o adjetivo para o plural.
Exemplos: Um e outro aspecto obscuros.
Uma e outra causa juntas.
36
8. "O (a) mais ... possível" - "Os (as) mais ... possíveis" - "O (a) pior ... possível" - "Os (as)
piores ..." - "O (a) melhor ... possível" - "Os (as) melhores ... possíveis"
O adjetivo "possível", nas expressões "o mais ...", "o pior ...", "o melhor ..." permanece no
singular. Com as expressões "os mais ...", "os piores ...", "os melhores ...", vai para o plural.
Exemplos:
Os dois autores defendem a melhor doutrina possível.
Estas frutas são as mais saborosas possíveis.
Eles foram os mais insolentes possíveis.
Comprei poucos livros, mas são os melhores possíveis.
9. Particípio + Substantivo
O particípio concorda com o substantivo a que se refere.
Exemplos:
Feitas as contas ...
Postas as cartas na mesa ...
Vistas as condições ...
Salvas as crianças ...
Restabelecidas as amizades ...
Observação:
"Salvo", "posto" e "visto" assumem também papel de conectivos, sendo, por isso, invariáveis:
Salvo honrosas exceções.
Posto ser tarde, irei.
Visto ser longe, não irei.
10. Anexo / bastante / incluso / leso / mesmo / próprio + Substantivo
Essas palavras concordam com o substantivo a que se referem.
Vão anexas as cópias.
Recebi bastantes flores.
Vão inclusos os documentos.
Ele mesmo falou aquilo.
Ela mesma falou aquilo.
Elas próprias falaram aquilo.
11. Meio (= metade) + Substantivo
O adjetivo "meio" concorda com o substantivo a que se refere.
Exemplos: Meias medidas. Meio litro.
Meia garrafa.
12. Meio (= um tanto) + Adjetivo
O advérbio "meio", que se refere a um adjetivo, permanece invariável.
Exemplos: Ela parecia meio encabulada.
Janela meio aberta.
Observações:
1. Na fala, observam-se exemplos do advérbio "meio" flexionado. Tal fato pode ser explicado
pelo fenômeno da "concordância atrativa", ou por influência do adjetivo a que se refere: "Ela está
meia cansada".
2. Em "meio-dia e meia", "meia" concorda com a palavra "hora", oculta na expressão "meio-dia e
meia (hora)". Essa é a construção recomendada pela maioria dos manuais de cultura idiomática. A
construção "meio-dia e meio" também ocorre na fala; a forma "meio" permanece no masculino, por
atração ou influência da forma masculina "meio-dia".
3. A palavra "meio" funciona como elemento de justaposição em "meias-luas", "meios-termos",
"meios-tons", "meia-idade", etc.
37
13. Casa, página (+ número) + numeral
Na enumeração de casas e páginas, o numeral concorda com a palavra oculta "número".
Exemplos: Casa dois.
Página dois.
14. Substantivo + é bom / é preciso / é proibido
Em construções desse tipo, quando o substantivo não está determinado, as expressões "é bom",
"é preciso", "é proibido" permanecem no singular.
Exemplos: Maçã é bom para a saúde.
É preciso cautela.
É proibido entrada.
Observação:
Quando há determinação do sujeito, a concordância efetua-se normalmente:
É proibida a entrada de meninas.
EXERCÍCIOS
1) Assinale a alternativa em que ocorreu erro de concordância nominal.
a) livro e revista velhos
b) aliança e anel bonito
c) rio e floresta antiga
d) homem, mulher e criança distraídas
2) Assinale a frase que contraria a norma culta quanto à concordância nominal.
a) Falou bastantes verdades.
b) Já estou quites com o colégio.
c) Nós continuávamos alerta.
d) Haverá menos dificuldades na prova.
3) Há erro de concordância nominal na frase:
a) Nenhuns motivos me fariam ir.
b) Estavam bastante fracos.
c) - Muito obrigada, disse a mulher.
d) Foi um crime de lesa-cristianismo.
4) Está correta quanto à concordância nominal a frase:
a) Levou camisa, calça e bermuda velhos.
b) As crianças mesmo consertariam tudo.
c) Trabalhava esperançoso o rapaz e a moça.
d) Preocupadas, a mãe, a filha e o filho resolveram sair.
5) Cometeu-se erro no emprego de ANEXO em:
a) Anexas seguirão as fotocópias.
b) Em anexo estou mandando dois documentos.
c) Estão anexos a certidão e o requerimento.
d) Anexo seguiu uma foto.
6) Há erro de concordância nominal na seguinte frase:
a) Vós próprios podereis conferir.
b) Desenvolvia atividades o mais interessantes possíveis.
c) Anexo ao requerimento a documentação solicitada.
d) Ele já estava quite e tinha bastantes possibilidades de vitória.
7) Assinale o erro de concordância nominal.
a) Maçã é ótimo para isso.
c) Não será permitida interferência de ninguém.
b) É necessário atenção.
d) Música é sempre bom.
38
8) Assinale a frase imperfeita quanto à concordância nominal.
a) O artista andava por longes terras.
b) Realizava uma tarefa monstro.
c) Os garotos eram tal qual o avô.
d) Aquela é a todo-poderosa.
9) Em qual alternativa apenas a segunda palavra dos parênteses pode ser usada
na lacuna?
a) Estudei música e literatura............................ ( francesa / francesas )
b) Histórias quanto.............................. tristes. ( possível / possíveis )
c) Nem um nem outro......................... fugiu. ( animal / animais )
d) Só respondia com .......................palavras. ( meio / meias )
10) Marque o erro de concordância.
a) Os alunos ficaram sós na sala.
b) Já era meio-dia e meio.
c) Os alunos ficaram só na sala.
d) Márcia está meio vermelha.
11) Assinale a opção em que o nome da cor apresenta erro de concordância.
a) Tem duas blusas verde-musgos.
b) Usava sapatos creme.
c) Comprou faixas verde-azuladas.
d) Trouxe gravatas azul-celeste.
12) Aponte o erro de concordância.
a) Vi homem e mulher animados.
b) Era uma pseuda-esfera.
c) Encontramos rio e lagoa suja.
d) Regina ficou a sós.
13) Marque a frase com palavra mal flexionada.
a) Comprou camisas vermelho-sangue.
b) Assuntos nenhum lhe agravavam.
c) Não há quaisquer perspectivas.
d) Elas não se abrem por si sós.
14) (PROF.-MT) A frase em que a concordância nominal contraria a norma culta é:
a) O poeta considera ingrata a terra e o filho.
b) O poeta considera ingrato o filho e a terra.
c) O poeta considera ingratos a terra e o filho.
d) O poeta fala de um filho e uma terra ingratas.
e) O poeta fala de uma terra e um filho ingratos.
15) "tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português."
Das frases abaixo, a que contraria a norma culta quanto à concordância nominal é:
a) Tornou-se clara para o leitor minha posição sobre o assunto.
b) Deixei claros para o leitor meus pontos de vista sobre o assunto.
c) Ficou clara para o leitor minha posição e meus argumentos sobre o assunto.
d) Ficaram claras para o leitor minha posição e argumentação sobre o assunto.
e) Quero tornar claros para o leitor serem estes meus argumentos sobre o assunto.
16) (TFC) Assinale a opção em que não há erro.
a) Seguem anexo os formulários pedidos.
b) Não vou comprar esta camisa. Ela está muito caro.
c) Estas questões são bastantes difíceis.
d) Eu lhes peço que as deixem sós.
e) Estando pronto os preparativos para o início da corrida, foi dada a largada.
39
CONCORDÂNCIA VERBAL
Regra geral: o verbo deve concordar com o sujeito em número e pessoa.
Exemplos:
O gerente falou com a secretária.
A secretária e suas auxiliares não compareceram à reunião.
Sujeito coletivo
Se o sujeito for um coletivo do singular seguindo de um complemento no plural, o verbo
pode ir para o plural ou permanecer no singular:
A série de notas fiscais referentes ao pagamento das mercadorias adquiridas no mês de
março próximo passado está sendo enviada a V.Sa. através de nosso representante.
O número de papéis e documentos é inferior...
A multidão foi levada...
A maioria das notas fiscais é emitida pelo computador.
Um coletivo geral determina que o verbo permaneça no singular:
O povo queria eleições diretas para presidência da República.
O exército não se conformou com o papel que lhe reservou a nova Constituição.
A tendência é pela concordância com a expressão utilizada. Da mesma forma, uma
expressão partitiva tanto pode levar o verbo para o plural, como admitir o uso do singular:
A maior parte dos funcionários conseguiu...
Uma porção de notas promissórias vence...
Um grupo de notas promissórias estão rasuradas.
Há outras expressões cujo procedimento quanto ao uso de singular e plural é semelhante;
são elas: uma porção de, o grosso de, o resto de.
Sujeito são os pronomes relativos QUE e QUEM
a) se o sujeito for o pronome relativo QUE, o verbo concordará em número e pessoa com o
antecedente do pronome.
Exemplo: Fui eu que liguei o rádio.
Fomos nós que consertamos a TV.
b) se o sujeito for o pronome QUEM, o verbo fica na 3ª pessoa do singular.
Exemplo: Não sou eu quem faz o jantar.
Fui eu quem pagou o jantar.
Sujeito com o verbo no infinitivo
As secretárias parece terem gostado do estagiário.
As secretárias parecem ter gostado do estagiário.
É indiferente gramaticalmente o uso do singular ou do plural. A diferença é semântica e
estilística. Estilisticamente, o emprego do verbo parecer no singular entorpece a construção, tira-lhe
a graça, tornado-a rasa e artificial. Quando se diz "as secretárias... ter" a frase ganha mais vida e
intensidade afetiva.
Sujeito com o verbo pronominal
Não se pode realizar esses projetos.
Não se podem realizar esses projetos.
40
No primeiro caso chama-se a atenção para a ação: realizar, ou seja, "não é possível realizar
esses projetos". No segundo, em virtude da concordância, a atenção concentra-se em projetos.
Gramaticalmente, pode-se considerar realizar como sujeito e projetos como objeto e pode-se
também considerar projetos como sujeito e então o verbo vai para o plural. Em geral prefere-se a
concordância no plural.
Sujeitos de pessoas gramaticais diferentes
Se houver dois ou mais sujeitos de pessoas gramaticais diferentes, o verbo irá para o plural,
concordando com a pessoa que tem precedência na ordem gramatical.
Eu e tu=nós
Eu e ele=nós
Eu, tu e ele=nós
Tu e ele=vós
Você e ela=eles
Marcos e tu fizestes o que havia sido recomendado?
Eu e você estivemos a semana toda estudando, e agora não há o que reclamar.
Você e eu redigiremos o relatório.
Eu e o vendedor fizemos um acordo.
Você e o diretor já conheciam a política da empresa.
Você e a secretária não sabiam que decisão tomar?
Portanto o verbo vai para a 1ª pessoa do plural se entre os sujeitos houver um da 1ª pessoa.
Irá para a 2ª pessoa do plural se, não havendo sujeito da 1ª pessoa, houver um da 2ª. Somente irá
para a 3ª pessoa do plural se os sujeitos forem da 3ª pessoa.
Verbo antecedido de vários sujeitos
Se houver mais de um sujeito singular antecedendo um verbo, este ficará no singular ou irá
para o plural:
A nota fiscal e a duplicata registram informações importantes.
Registram informações importantes a nota fiscal e a duplicata.
Registra informações importantes a nota fiscal e a duplicata.
No caso de sujeito de números diversos (singular e plural) precedendo o verbo, este vai
para o plural. Se estes sujeitos estiverem depois dele, o verbo poderá ficar no singular se o sujeito
mais próximo estiver no singular:
O funcionário e os clientes reconheceram-se culpados.
Reconheceu-se culpado o funcionário e os clientes.
Reconheceram-se culpados os clientes e o funcionário.
Sujeito composto + palavra que os resuma
Se o sujeito for composto e houver palavras que os resuma, o verbo concordará com esta
palavra.
Relatório, correspondências, memorandos nada o levava a tomar uma atitude diferente.
Clientes, fornecedores de serviços, vendedores, ninguém queria visitá-lo durante a semana.
Datilografias esmeradas, estética, asseio, tudo contribui para uma apresentação agradável.
Sujeitos ligados por como, bem como...
41
Dois sujeitos do singular ligados por como, bem como, assim como, do mesmo modo que,
tanto...como, não só... mas também requerem análise: se se tratar de adição, coloca-se o verbo no
plural; se se tratar de comparação, coloca-se o verbo no singular:
O reajuste salarial, da mesma forma que o de março, não alterou seu padrão de vida.
A disciplina, assim como o arrojo, fizeram dele profissional invejável.
Sujeito constituído por cerca de, mais de, menos de
Sujeito constituído por expressões que indicam quantidade aproximada determina que a
concordância se faça com o complemento dessas expressões:
Cerca de cem estudantes adquiriam os livros.
Menos de dez pessoas entraram na loja.
A expressão mais de um determina o verbo no singular:
Mais de um executivo viajou para o Rio de Janeiro
Se essas expressões se repetirem, o verbo irá para o plural.
O Sujeito é um pronome interrogativo, demonstrativo ou indefinido plural
Se o sujeito for constituído pelos pronomes indicados, o verbo pode permanecer na 3ª
pessoa do plural ou concordar com o pronome pessoal que indica o todo:
Quantos, entre os empregados, estariam dispostos a participar dos festejos?
Quantos, entre vós, estaríeis dispostos...
Se o interrogativo estiver no singular, o verbo ficará no singular. Nas orações interrogativas
que utilizam quem ou o que, faz-se a concordância com o substantivo ou pronome que vier depois
do verbo:
Quem são os clientes?
Que será isso que aconteceu?
O que são estragos, defeitos?
Sujeitos ligados por ou e por nem
Se ligados por essas conjunções, o verbo tanto pode ir para o plural como ficar no singular,
conforme se queira ou não atribuir a ação a todos os sujeitos:
Ou o Departamento de Vendas ou o de Promoção terá de alterar o comportamento...
Nem o Departamento de Vendas nem o de Promoção tiveram de alterar o comportamento.
Se a ação só pode ser atribuída a um deles, o verbo ficará no singular:
Ou o gerente ou o diretor será responsável.
As expressões um ou outro ou nem um nem outro admitem o verbo no singular.
Um ou outro teria de digitar o relatório.
Nem uma nem outra respondeu acertadamente à questão.
Já a locução um e outro leva, com frequência, o verbo no plural:
Um e outro auxiliar de escritório admitiam estar enganados.
42
Sujeitos ligados por com
Regra geral, o verbo vai para o plural quando a ideia que se quer transmitir é de soma:
O chefe da seção com o gerente recorreram a argumentos de força para estimular seus
funcionários.
Se se desejar realçar um dos elementos, o verbo poderá ficar no singular.
O office-boy, com todos os jovens da empresa, resolveu formar um time de basquete.
Sujeitos ligados por conjunção comparativa
Admitem o verbo tanto no singular como no plural:
Tanto João como Bruno participaram...
O serviço, como qualquer produto, deve ter preço justo.
Observe-se que o primeiro elemento foi destacado.
Sujeito expresso por horas
Se aparecer na frase a palavra relógio como sujeito, o verbo ficará no singular:
O relógio deu 15 horas.
O verbo dar deve concordar regularmente com o sujeito expresso:
Deram 10 horas no relógio da matriz.
Iam dar 18 horas, quando o diretor reuniu todos os gerentes.
Concordância com o verbo "ser"
Se o sujeito do verbo ser ou parecer for constituído pelos pronomes: isto, isso, aquilo, tudo e
o predicativo estiver no plural, o verbo irá para o plural:
Isto são ossos duros de roer.
Aquilo pareciam-me bisbilhotices...
Eram tudo falcatruas de profissional incompetente.
Se o sujeito designar pessoa, o verbo concordará com ele:
Ela era as alegrias da casa.
Jaime foi os terrores de seu bairro.
Se o sujeito é constituído de um substantivo e o verbo ser vem seguido de pronome
pessoal, o verbo concordará com o pronome:
Os funcionários mais aplicados somos nós.
Os maiores diretores sois vós.
Os verdadeiros profissionais são eles.
43
EXERCÍCIOS
Para melhorar seu domínio de concordância verbal, reescreva as orações a seguir, substituindo as
palavras em destaque pelas palavras entre parênteses:
01. Desapareceu, da pasta de Camila, a moeda de prata. (os três reais)
________________________________________________________________________________
02. Aconteceu, na reunião de ontem, uma decisão importante que pôs em risco o futuro da empresa.
(reações dos sindicalistas)
________________________________________________________________________________
03. Encerrada há duas horas, a pesquisa nos trouxe más notícias. (os levantamentos)
________________________________________________________________________________
04. Falta ainda um mês para o exame. (dois meses)
________________________________________________________________________________
05. Aconteceu, ao contrário do que previa o senador, uma boa receptividade ao plano. (os deputados
/manifestações de repúdio)
________________________________________________________________________________
06. Se persistirem, os altos juros levarão o Brasil ao caos. (a inflação)
________________________________________________________________________________
Preencha as lacunas das frases abaixo com formas verbais dos verbos bater, consertar e haver,
respectivamente, fazendo a correta concordância verbal.
- As aulas começam quando _____________ oito horas.
- Nessa loja ______________ relógios de parede.
- Ontem ______________ ótimos programas na televisão.
Analise as frases abaixo e analise as ocorrências de concordância nominal e justifique por que as
palavras em destaque apresentam flexões diferentes.
- As crianças queriam ficar sós no quintal.
- As crianças queriam ficar só no quintal.
________________________________________________________________________________
Observe e responda: Por que a palavra em destaque não poderia ser redigida assim, bom.
Esta água mineral é boa para a saúde.
________________________________________________________________________________
Complete os espaços com as palavras obrigado, certo, sensato, respectivamente, flexionando-as, se
necessário:
“Muito _________, disse ela. Vocês procederam_________ considerando meu ponto de vista e minha
argumentação_____________.
44
PONTUAÇÃO
O uso da vírgula é tão importante que o que chamamos de pontuação deveria na verdade
ser chamado de "virgulação", visto que é a vírgula e não o ponto que comanda o jogo de pausas e
as relações sintáticas dentro das frases. De fato, poucas coisas podem afetar tanto o sentido, a
clareza e a qualidade geral de um texto quanto o uso correto e racional da vírgula.
A vírgula corresponde a uma pequena pausa que se faz ao falar e que é exigida pelo
sentido. Daí que, para colocar as vírgulas corretamente, convém reler o escrito em voz alta (ou
silenciosamente), fixando-se nessas pausas breves. Tais pausas costumam coincidir com o final
de entidades gramaticais bem definidas, o que permite formular algumas regras de validade geral.
Emprego da Vírgula
Estando a oração em ordem direta (seus termos se sucedem na seguinte progressão: sujeito →
verbo → complementos do verbo (objetos) → adjunto adverbial), isto é, sem inversões ou
intercalações, o uso da vírgula é, de modo geral, desnecessário. Assim:
Não se usa vírgula:
Não se usa vírgula separando termos que ligam-se diretamente entre si:
a) entre sujeito (QUEM) e predicado (O QUÊ).
Todos os colaboradores da empresa estiveram presentes.
Sujeito
predicado
b) entre o verbo e seus objetos.
O trabalho
custou
sacrifício
V.T.D.I.
O.D.
aos realizadores.
O.I.
Entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto adnominal.
A surpreendente reação
Adj.Adnominal
Nome
do governo
Adj.Adnominal
contra os sonegadores
Compl.Nominal
despertou reações entre empresários.
Uso obrigatório da vírgula
1. Se houver elemento intercalado, utilize duas vírgulas.
Exemplos: Comunico-lhe que, a partir desta data, atenderemos em novo endereço.
Quase sempre, as perguntas são respondidas. Obs.: (adjunto adverbial antecipado – vírgula
facultativa)
2. Para assinalar orações subordinadas que se encontrem no princípio de uma frase, ou seja,
antes da principal.
Exemplo: Se não houvesse crise financeira, viveríamos no paraíso.
3. Para assinalar as orações intercaladas.
Exemplo: Os dois fornecedores, embora tivessem bons produtos, não atendiam às
especificações necessárias.
4. Para assinalar a presença das orações adversativas, ou seja, qualquer oração coordenada
adversativa é antecedida por uma vírgula ou outro sinal de pontuação forte.
Exemplo: Faz muito sol, no entanto está frio.
A regra anterior aplica-se também às orações coordenadas conclusivas.
Exemplo: Está revisando conteúdos de língua Portuguesa, portanto, melhorará sua escrita.
Nota: Quer as conjunções/locuções adversativas, quer as conclusivas sempre que se apresentem
no meio de uma oração vêm isoladas por vírgulas
45
Exemplo: A secretária chegou tarde. Os candidatos à vaga, no entanto, continuavam à sua
espera.
5. Para assinalar orações justapostas.
Exemplo: Na empresa, os produtos são desenvolvidos com rigoroso controle de qualidade, o
mercado consumidor abrange 95% do consumo nacional, a tecnologia de fabricação/processo do
produto não depende de terceiros.
6. Para assinalar orações coordenadas aditivas que apresentem sujeitos diferentes.
Exemplo: Eu vou trabalhar, e você vai estudar.
Outras situações de uso obrigatório da vírgula
É obrigatória a vírgula para assinalar o vocativo onde quer que ele se encontre na frase.
Exemplo: Prezados senhores,
Comunicamos que os itens solicitados serão entregues até o dia 05 de novembro.
É obrigatória a vírgula para assinalar o aposto.
Exemplo: A empresa, com mais de 70 anos, cresce continuamente com a determinação de quem
faz da qualidade e do respeito ao consumidor o melhor de sua história.
É obrigatória a vírgula para assinalar expressões de caráter explicativo, como, ou seja, isto é...
Exemplo: Sua missão é informar, ou seja, garantir a disseminação de informações de forma
idônea.
É obrigatória a vírgula para assinalar o local numa data.
Exemplo: Caçador, 10 de junho de 2011.
É obrigatória a vírgula para assinalar enumerações simples de caráter morfológico.
Exemplo: Entre as subdisciplinas da comunicação incluem-se a teoria da informação,
comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal, marketing, publicidade, propaganda,
relações públicas, análise do discurso, telecomunicações e Jornalismo.
Emprego do ponto e vírgula
O ponto-e-vírgula indica uma pausa um pouco mais longa que a vírgula e um pouco mais
breve que o ponto. O emprego do ponto-e-vírgula depende muito do contexto em que ele aparece.
Podem-se seguir as seguintes orientações para empregar o ponto-e-vírgula:
a) Para separar duas orações coordenadas que já contenham vírgulas:
Ex. Enviamos a remessa do seu pedido; no entanto, em virtude de problemas com a
transportadora, ocorreu atraso na entrega.
b) Para separar duas orações coordenadas, quando elas são longas:
Ex. O diretor e a coordenadora já avisaram a todos os colaboradores que não serão permitidas
trocas de turno durante o semestre na empresa; porém alguns funcionários ignoram essa ordem.
c) Para separar enumeração após dois pontos:
Ex. Os colaboradores devem respeitar as seguintes regras:
- não fumar nas dependências da empresa;
- otimizar o uso da internet;
- utilizar adequadamente os Equipamentos de Proteção Individual.
46
EXERCÍCIO
Coloque a pontuação, quando for necessário, nos períodos abaixo:
José venha cá
Amanda a mais moça da família é mais esperta
Ao acabarem as aulas os alunos se retiraram
Os funcionários os gerentes os diretores e os visitantes saíram
O candidato estudou e fez ótima prova
O Brasil espera que cada um cumpra com seu dever
Que cada um cumpra com seu dever o Brasil espera
Logo que eles chegaram o secretário começou a fala
Se puder irei visitá-lo
Este caso por exemplo não está totalmente esclarecido
José estuda Física e eu Português
Os dois irmãos Cosme e Damião saíram...
Antonieta e Antônia as duas irmãs são lindas
Aborrecimentos tristezas nada incomoda
Já lhe disse tudo querida
Ela é uma menina linda mas
Quanta saudade meu amor
José João Jair ninguém viu o crime
Na praia do morro houve uma competição
Houve na praia do morro uma competição
Maria quando corre sua mãe diz dá-me água gelada
Todos foram à praia exceto Pedro
O homem que é mortal tem a alma imortal
Haveremos um dia homens e mulheres de nos entender
47
ALGUMAS DIFICULDADES
Nenhum ou nem um?
A dúvida quanto ao emprego de tais palavras é comum, para tentar esclarecê-la observe os
enunciados:
Nenhum centavo foi destinado à educação.
Nem um centavo foi destinado à educação.
Nenhum é um pronome indefinido, significa nulo, inexistente, no primeiro exemplo o pronome
refere-se ao substantivo centavo, assim afirma sua inexistência. Afirma que não existe centavo
algum.
Nem um é uma sequência formada por nem (advérbio) e um (numeral), significa nem sequer um,
nem mesmo um, enfatiza a ideia de que nem o mínimo foi considerado, como visto no segundo
exemplo.
Por que / Por quê / Porque ou Porquê?
A maioria da população sofre com as dificuldades em entender a utilização da língua-padrão
portuguesa, principalmente na utilização do "Por que / Por quê / Porque / Porquê". Confira alguns
exemplos:
- Não sei por que você acha isso.
- Claro. Por quê?
- Não julgues porque não te julguem.
- Dê-me ao menos um porquê para sua atitude.
A forma por que é a sequência de uma preposição (por) e um pronome interrogativo (que). É
equivalente a "por qual motivo", "por qual razão", vejamos:
- Não sei por qual motivo você acha isso.
- Não sei por qual razão você acha isso.
Caso surja no final de uma frase, imediatamente antes de um ponto: final, de interrogação ou
exclamação, ou um ponto de reticências, a sequência deve ser grafada por quê, pois, devido à
posição na frase, o monossílabo que passa a ser tônico.
- Não sei por quê!
- Ainda não terminou? Por quê?
Existem casos em que por que representa uma sequência preposição + pronome relativo,
equivalendo a pelo qual, pelos quais, pelas quais, pela qual. Em outros contextos por que
equivale a "para que".
- O túnel por que deveríamos passar desabou ontem. (por que = pelo qual)
A forma porque também é uma conjunção, equivalente a pois, já que, uma vez que, como:
- Você continua implicando comigo! É porque eu faltei ontem?
Porque também pode indicar finalidade, como: para que, a fim de. Trata-se de um uso mais
frequente na linguagem atual.
A forma porquê representa um substantivo. Significa causa, razão, motivo e normalmente surge
acompanha de uma palavra determinando, um artigo, por exemplo.
- Creio que os verdadeiros porquês mais uma vez não vieram à luz
48
Mas/Mais:
Mas: conjunção adversativa, equivale a porém, contudo, entretanto:
Ex.: Tento não sofrer, mas a dor é muito forte.
Mais: pronome ou advérbio de intensidade, opõe-se a menos:
Ex.: É um dos garotos mais bonitos da escola.
Onde/Aonde:
1. Só se deve usar onde quando se referir a lugar.
O país onde nasci fica muito distante.
Nos demais casos, use em que
São muito convincentes os argumentos em que você se baseia.
2. Só se deve usar aonde, quando a regência do verbo assim o exigir.
Aonde iremos à noite? (ir a) / Aonde você pretende chegar? (chegar a)
3. Não use onde para se referir a datas.
Isto aconteceu nos anos 70, onde houve uma verdadeira revolução de costumes.
Melhor dizer:
Isto aconteceu nos anos 70, quando houve uma verdadeira revolução de costumes.
Mal/Mau
Mal: advérbio (opõe-se a bem), como substantivo indica doença, algo prejudicial:
Ex: Ele se comportou muito mal. (advérbio)
Ex: A prostituição infantil é um mal presente em todas as partes do Brasil. (substantivo)
Mau: adjetivo (ruim, de má qualidade)
Ex: Ele não é um mau sujeito.
Ao encontro de/De encontro a
Ao encontro de: significa “ser favorável a”, “aproximar-se de”.
Ex: Quando avistei minha mãe fui correndo ao encontro dela.
De encontro a: indica oposição, colisão.
Ex: Suas idéias sempre vieram de encontro às minhas. Somos mesmo diferentes.
Afim/A fim
Afim: adjetivo que indica igual, semelhante.
Ex: Temos objetivos afins.
A fim: indica finalidade:
Ex: Trabalho hoje a fim de folgar amanhã.
Demais/De mais
Demais: advérbio de intensidade, sentido de “muito”.
Ex: Você é chato demais.
Demais também pode ser pronome indefinido, sentido de “os outros”.
Ex: Alguns professores saíram da sala enquanto os demais permaneceram atentos às orientações.
De mais: opõe-se a de menos.
Ex: Não vejo nada de mais em seu comportamento.
49
Senão/Se não
Senão: sentido de “caso contrário”, “a não ser”. Ex: não fazia coisa alguma senão conversar.
Se não: sentido de “caso não”.
Ex: Se não houver conscientização, haverá escassez de água.
Meio-dia e meio ou meio-dia e meia?
A expressão meio-dia e meio (12h30min.) é comumente dita, no entanto, é incorreta, pois o
numeral fracionário meio deve concordar em gênero com a palavra da qual ele é uma fração.
Observe:
Comprei três metros e meio de tecido (três metros mais meio metro).
Andei duas léguas e meia para chegar até aqui. (duas léguas mais meia légua).
Podemos concluir que a expressão correta é meio-dia e meia, já que o numeral fracionário
concorda em gênero com a palavra hora, embora essa esteja subtendida.
Eu ou mim?
No caso oblíquo dos pronomes há as formas “mim” e “ti” que correspondem aos pronomes
pessoais “eu” e “tu”, respectivamente. Por este motivo, há sempre muitos equívocos no uso dos
mesmos, pois são equivalentes.
Você já escutou frases do tipo: Gostaria que esse assunto ficasse entre eu e você! Isso é
entre mim e ele!
De acordo com a norma culta da língua, a primeira oração está equivocada! O correto é:
Entre mim e você ou Entre mim e ti! Esse fato é justificado no emprego do pronome oblíquo após
preposição (entre) ao invés do pronome pessoal. Obedecendo a este princípio, a segunda oração
está adequada!
Para ficar mais claro, os pronomes oblíquos têm função de complemento e os pessoais do
caso reto de sujeito:
1. Ela mandou o recado para mim.
Veja: Ela mandou. O quê? O recado. Para quem? Para mim. Logo, “mim” está completando o
objeto direto “recado”.
2. Dê-me uma folha para eu escrever o recado.
Veja: Alguém vai praticar a ação de escrever. Quem? Eu. Logo, “eu” é o sujeito da oração.
O mesmo acontece com as demais preposições, além de “para” e “entre”:
a) Ele falou algo sobre mim.
b) Faça isso por nós.
c) Nós não podemos falar por ti!
Portanto, é ERRADO dizer “para mim fazer”, pois quem vai praticar a ação é “eu”: para eu fazer.
Haja vista
Podem ocorrer as seguintes concordâncias:

A expressão fica invariável
Exemplo: Haja vista aos livros da escola. (atente-se)
Haja vista os livros da escola. (por exemplo)

A expressão vai para o plural
Exemplo: Hajam vista os livros da escola. (vejam-se)
50
Fragmentação
Nunca interrompa seu pensamento antes dos pronomes relativos, gerúndios, conjunções
subordinativas.
ERRADO:
O carro ficara estacionado no shopping. Onde tínhamos ido fazer compras.
A empresa tem aumentado sua receita. Ampliando seu mercado.
Ele tem lutado para manter o status. Uma vez que perdeu quase toda a fortuna.
CERTO:
As mesmas orações sem ponto final, apenas o emprego da vírgula.
Pronome Relativo
Não transforme sem necessidade o pronome relativo QUE em o qual, a qual, os quais, as quais.
Só o faça quando houver ambiguidade, como neste exemplo:
Encontramos a filha do fazendeiro que perdeu todo o dinheiro na Bolsa.
Nesse caso, o QUE pode referir-se tanto à filha quanto ao fazendeiro.
Verificar os verbos que se relacionam
*Presente do indicativo com Presente do subjuntivo
Ex.: É inevitável / que cedo ou tarde estas qualidades sejam valorizadas.
* Imperativo com presente do subjuntivo
Ex.: Faça a revisão do carro / para que viaje tranquilo.
* Futuro do presente com Presente do subjuntivo
Ex.: Fará a revisão do carro / para que viaje tranquilo.
*Pretérito Imperfeito (indicativo) com Pretérito imperfeito (subjuntivo)
Ex.: Desejávamos/ que tudo não passasse de um grande sonho.
*Pretérito Perfeito (indicativo) com Pretérito imperfeito (subjuntivo)
Ex.: Desejei / que tudo não passasse de um grande sonho.
*Futuro do Pretérito (indicativo) com Pretérito Imperfeito (subjuntivo)
Ex.: Desejaria / que tudo não passasse de um grande sonho
*Futuro (subjuntivo) com Futuro do Presente (indicativo)
Ex.: Quando terminarem a reforma da casa / ficarei sossegado.
*Pretérito Imperfeito (subjuntivo) com Pretérito Imperfeito (indicativo)
Ex.: Se eu pudesse ficar sem escrever / não escreveria mais.
O emprego de APESAR DO....x / APESAR DE O ..
Uma pessoa que entende como ninguém a República dos Tucanos lembra que, apesar de o
ministro estar sendo acusado de falar demais, ele nunca foi desautorizado pelo presidente.
Observe o detalhe
apesar de o ministro Bresser Pereira estar sendo acusado...
Outros casos
1. Apesar da chuva, ele saiu de casa.
Apesar de a chuva cair torrencialmente, ele saiu de casa.
51
2. Ele reclamou desses artigos, que já foram revogados.
O fato de esses artigos terem sido revogados não vem ao caso.
Particularidades léxicas e gramaticais
1. ao nível de: (= à mesma altura) // em nível de (= hierarquia)
2. em princípio: (= em tese) // a princípio: (= no início)
3. tampouco: (=também não) // tão pouco: (=muito pouco)
4. acerca de:(= a respeito de) // cerca de: (=durante) // a cerca de: (ideia de distância // há
cerca de: (aproximadamente no passado)
5. bastantes: (= muitos, suficientes) // bastante: (muito)
Não Use: ao meu ver / a cores / a nível / às expensas / comunicamo-lhes / conseguimos nos
concentrarmos / ajoelhamos-nos / face ao / haja visto / inflingirem / econômicas-financeiras / à rua /
custei para / haviam(=existiam) / ao par (= ciente) / fazem 15 dias / de sábado / iremos no / intervi /
implicou em /
Use: a meu ver // em cores // ao nível // a expensas // comunicamos-lhes // conseguimos nos
concentrar // ajoelhamo-nos // em face de // haja vista // infringirem // econômico-financeiras // na
rua // custou-me // havia // a par // faz 15 dias // aos sábados // iremos ao // intervim // implicou
“Vítima fatal" Fatal significa mortífero, que causa a morte, que traz ruína ou desgraça. Por isso,
não existe a expressão "vítima fatal": a vítima recebe a morte, e não a produz. Fatal é um golpe,
um tiro, um acidente, uma pancada, um choque, uma batida, e nunca a vítima.
Anexo / bastante / incluso / leso / mesmo / próprio + Substantivo
Essas palavras concordam com o substantivo a que se referem.
Vão anexas as cópias.
Recebi bastantes flores.
Vão inclusos os documentos.
Ele mesmo falou aquilo.
Ela mesma falou aquilo.
Elas próprias falaram aquilo.
Substantivo + é bom / é preciso / é proibido
Em construções desse tipo, quando o substantivo não está determinado, as expressões "é bom",
"é preciso", "é proibido" permanecem no singular.
Exemplos: Maçã é bom para a saúde.
É preciso cautela.
É proibido entrada.
Observação:
Quando há determinação do sujeito, a concordância efetua-se normalmente:
É proibida a entrada de meninas.
Exercícios:
1. A opção que apresenta erro quanto à grafia do porquê:
a) Leio revistas e jornais, porque desejo estar sempre informado.
b) Gostaria de rever os lugares por que andei antigamente.
c) Você não me apresentou os resultados. Por quê?
d) Não sei porque desistes das coisas com tanta facilidade.
e) Se eu pudesse resolver todos os porquês do mundo...
52
2. Em relação ao uso da palavra destacada nas frases abaixo, todas as alternativas estão
corretas, exceto:
a) Quero saber o porquê de seu aborrecimento.
b) Não sei aonde está o livro.
c) “Não há mal que sempre dure.”
d) Como você é mau!
e) O avião aterrissará daqui a pouco.
3. Preencha as lacunas com um dos termos entre parênteses.
a) João não está _______ de ir à Europa este mês. (afim – a fim)
b) _________ela mora? (Onde - Aonde)
c) Irei ____________ você quiser que eu vá. (onde/aonde)
d) Não gosto muito dela, ________ tenho de admitir que é ________ inteligente do que eu
supunha. (mas/mais)
e) Comportou-se ______ durante a reunião. Não creio que seja um ______ sujeito, porém.
(mal/mau)
f) _______-humorados de todo o mundo, uni-vos (mal/mau)
g) Várias pessoas expuseram opiniões que vieram __________________________ minhas durante
o debate, o que muito me animou. (de encontro às / ao encontro das)
h) Muitas pessoas têm opiniões que vêm _____________________ minhas, o que chega a me
desanimar. (de encontro às / ao encontro das)
i) Não há nada ________________ em gostar ___________ de doces. (de mais/demais)
j)
Ela anda ___________ chateada com os acontecimentos. (meio/meia)
k) Já passava de _________-noite e ___________ quando ela chegou. Estava cansada e
_______________ nervosa. (meio/meia)
l) Não tinha _____________________ centavo para comer (nem um / nenhum)
m) Não vou te entregar coisa______________. (Não vou te entregar nada.) (nenhuma / nem uma)
n) Ela não derramou ______________lágrima sequer. (Ela não derramou nem uma única lágrima)
(nenhuma / nem uma)
o) Não havia ____________carro parado na frente da empresa. (Não havia nada parado) (nem um
/ nenhum)
p)
Ela não disse ________________ palavra. (Ela não disse nada ou Ela não disse palavra
alguma.)
4. Complete com “eu” ou “mim”:
- eles chegaram antes de ________ .
- há algum trabalho para ________ fazer?
- há algum trabalho para ________ ?
- ele pediu para __________ elaborar alguns exercícios;
- para ________, viajar de trem é uma aventura deliciosa;
5. Assinale a única frase correta quanto ao uso dos pronomes pessoais:
a) você não pode ir sem eu;
b) meu amigo, o diretor quer falar consigo;
c) entre eu e tu não pode haver romance;
d) era para mim encontrar a solução do problema;
e) para mim, jogador de futebol tem que ter raça.
53
6 . Era para _________ falar ________ ontem, mas não __________ encontrei em parte alguma.
a) mim – consigo – o;
b) eu – com ele – lhe;
c) mim – consigo – lhe;
d) mim – contigo – te
e) eu – com ele – o .
7. Leia atentamente as seguintes frases:
I - João deu o livro para mim ler.
II - João deu o livro para eu ler.
A respeito das frases anteriores, assinale a afirmação correta:
a) a frase I está certa, pois a preposição para exige o pronome oblíquo mim.
b) a frase II está certa¸ pois o sujeito de ler deve ser o pronome do caso reto eu.
c) a frase I está certa, pois mim é objeto direito de deu.
d) a frase II está certa, pois para exige o pronome do caso reto eu.
e) ambas as frases estão corretas, pois a preposição para pode exigir a forma mim quanto a eu.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 1999.
BRITTO, Luiz Percival Leme. À sobra do caos: ensino da língua X tradição gramatical. Campinas: ALB / Mercado de Letras, 1997.
CUNHA, Celso Ferreira da. Língua Portuguesa e realidade brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1968.
------. A questão da norma culta brasileira. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1985.
HOUAISS, Antonio. A crise de nossa língua de cultura. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1983.
LUFT, Celso Pedro. Língua & liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino. 4ª ed. Porto Alegre: L&PM,
1985.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática: história, teoria e análise, ensino. São Paulo: UNESP, 2002.
NOGUEIRA, Júlio. O conceito de correção na linguagem. Rio de Janeiro: Arte Moderna, 1933. [Tese de concurso para a cadeira
de Português do Colégio Pedro II, em que o autor defende a flexibilização do ensino gramatical com base em argumentos
diacrônicos].
OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Como e quando interferir no comportamento lingüístico do aluno. In: JÚDICE, Norimar et al.,
org. Português em debate. Niterói: Universidade Federal Fluminense, 1999. p. 65-82.
------. Colocação de pronomes: uma questão de política da língua. In: HENRIQUES, Cláudio Cezar (org.). Linguagem,
conhecimento e aplicação: estudos de língua e lingüística. Rio de Janeiro: Europa, 2003 a.
PERINI, Mário A. Sofrendo a gramática. 3ª ed. 2ª imp. São Paulo: Ática, 2000.
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escolar. Campinas: ALB / Mercado de Letras, 1996.
ROSA, Maria Carlota. Introdução à morfologia. São Paulo: Contexto, 2000.
SANTOS, Emmanoel dos. Certo ou errado? Atitudes e crenças no ensino da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Graphia, 1996.
SENNA, Homero. O problema da língua brasileira. Rio de Janeiro: MEC, 1953.
SILVA, Rosa Virgínia Mattos e. Contradições no ensino de Português: a língua que se fala X a língua que se ensina. 3ª ed. São
Paulo: Contexto / EDUFBA, 2000.
54
Download