CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL - PARTE II Casos de sujeito simples que merecem destaque Há muitos casos em que o sujeito simples é constituído de formas que fazem o falante hesitar no momento de estabelecer a concordância com o verbo. Em alguns casos, a concordância puramente gramatical é contaminada pelo significado de expressões que nos transmitem noção de plural apesar de terem forma de singular ou vice-versa. Por isso, convém analisar com cuidado algumas delas. a – expressões partitivas – Quando o sujeito é formado por uma expressão partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de, metade de, a maioria de, grande parte de) seguida de um substantivo ou pronome no plural, o verbo pode ficar no singular ou no plural. A maioria dos jornalistas aprovou/aprovaram a ideia. Metade dos candidatos não apresentou/apresentaram nenhuma proposta interessante. b – mais de um - Depois de mais de um o verbo é em geral empregado no singular, sendo raro o aparecimento de verbo no plural: “... mais de um poeta tem derramado...” [AH.2, 155]. “Mais de um coração de guerreiro batia apressado...” [AH.2, 169]. Quando o a expressão mais de um se associar a verbos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório. Masi de um deputado se ofenderam na tumultuada sessão de ontem. “Sei que há mais de um que não se envergonham dela” [AH.2, 169]. c – pronome relativo que – Quando o sujeito é o pronome relativo que, a concordância em número e pessoa é feita com o antecedente desse pronome. Observe: “Não gastava ele as horas que lhe sobejavam do exercício do seu laborioso ministério numa obra do senhor? ” [AH.1, 18]. “Ó tu, que tens de humano o gesto e o peito” [LC.1, III, 127]. d – pronome relativo quem - Se ocorrer o pronome quem, o verbo da oração subordinada vai para a 3ª pessoa do singular, qualquer que seja o antecedente do relativo, ou concorda com este antecedente: “Eram as paixões, os vícios, os afetos personalizados quem fazia o serviço dos seus poemas” [AH apud SA.5, 77]. “És tu quem me dás rumor à quieta noite, És tu quem me dás frescor à mansa brisa, Quem dás fulgor ao raio, asas ao vento, Quem na voz do trovão longe rouquejas” [GD apud SA.5, 77]. e – um dos que – O verbo da oração adjetiva pode ficar no singular (concordando com o seletivo um) ou no plural (concordando com o termo sujeito no plural), prática, aliás, mais frequente, se o dito verbo se aplicar não só ao relativo mas ainda ao seletivo um: “Este era um dos que mais se doíam do procedimento de D. Leonor”. “Um dos nossos escritores modernos que mais abusou do talento, e que mais portentos auferiu do sistema...” [AH.2, 46]. “Demais, um dos que hoje deviam estar tristes, eras tu” [CL.1, I,190]. O singular é de regra quando o verbo da oração só se aplica ao seletivo um. Assim nos dizeres “foi um dos teus filhos que jantou ontem comigo”, “é uma das tragédias de Racine que se representará hoje no teatro”, será incorreto o emprego do número plural; o singular impõe-se imperiosamente pelo sentido do discurso” [Cr.2, 763]. f – porcentagem - Nas linguagens modernas em que entram expressões numéricas de porcentagem, a tendência é fazer concordar o verbo com o termo preposicionado que especifica a referência numérica: Trinta por cento do Brasil assistiu à transmissão dos jogos da Copa. Trinta por cento dos brasileiros assistiram aos jogos da Copa. Dois por cento da assistência detestou o filme. Dois por cento dos espectadores detestaram o filme. Quando a expressão que indica porcentagem não é seguida de substantivo, o verbo deve concordar com o número. Veja: 25% querem a mudança. 1% conhece o assunto.