RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DO CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE NO ESTADO DE MATO GROSSO Eng. Agrº M.Sc.Antonimar Marinho dos Santos Eng. Agrº M.Sc. Luiz Carlos Coelho RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DO CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE NO ESTADO DE MATO GROSSO 1 - APRESENTAÇÃO A cultura do cajueiro, encontrada em quase toda a região tropical do mundo, é originária do Brasil e cultivada, principalmente, na região Nordeste, notadamente nos Estados do Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte. O Brasil tem uma área plantada de 647.499 ha, com uma produção de 164.156 t de castanha e 1.640.156 t de pedúnculo, sendo o Estado do Ceará, o maior produtor, com uma área de 332.882 ha e uma produção de cas- tanha de 80.896 t. No Estado de Mato Grosso, a cultura do cajueiro é inexpressiva pelo pouco conhecimento técnico e importância econômica que a mesma pode proporcionar à sociedade, através de geração de emprego e renda. Atualmente, a área plantada é de 369 ha e uma produção de castanha de 11.806 t (IBGE, 1999). Visando o incremento da área plantada, geração de emprego e renda para a população e dividendos econômicos para o estado, o Governo de Mato Grosso, Secretaria de Agricul- tura e Assuntos Fundiários e Panflora Agroflorestal Ltda estão incentivando e apoiando o plantio de 5.000 ha de cajueiro-anão-precoce, nos municípios de Rosário Oeste, Nobres, Jangada e Acorizal. O projeto envolve pequenos e médios produtores da região e conta com o apoio técnico da Empresa Matogrossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural S/A (EMPAER-MT). 2 - BOTÂNICA O cajueiro (Anacardium occidentale L.) pertence ao gênero Anacardium, família Anacardeaceae. Atualmente existem dez espécies conhecidas de Anacardium, podendo haver outras espécies, não descritas, necessitando de mais estudos na área de sistemática para melhorar a classificação taxonômica do gênero. A origem do cajueiro é, provavelmente, da região Amazônica e Planalto Central, tanto nas áreas de cerrados como de mata, predominando nesta região a maioria das espécies. O cajueiro-anão, apesar de ser classificado como Anarcadium occidentale V. nanum, parece ser um ecótipo, ou forma botânica do cajueiro-comum. É chamado também de caju- eiro-anão-precoce, cajueiro-precoce ou cajueiro-de-seis-meses. O cajueiro-anão é perene, tem porte baixo, atingindo uma altura média de 3,0 metros. As folhas são simples, inteiras, alternadas, glabras, ovadas, obtusas, onduladas, tem pecíolo curto, aspecto coriáceo, coloração roxa-avermelhada quando novas, verde-amareladas no estádio madura, caindo após atingir a maturação completa. As flores são pequenas, curtas pediceladas, pálidas, avermelhadas ou purpurinas, após a fertilização, dispostas em panículas terminais, pedunculadas, ramificadas e bracteadas na parte inferior. Os dois tipos de flores, a masculina (estaminada) e a hermafrodita, variam em quantidade e proporções entre plantas e panículas de uma mesma planta. Cada panícula pode ter de 200 a 1.600 flores, com as hermafroditas variando de 0,5% a 25% do número total de flores. A reprodução do cajueiro é predominantemente alogâmica, ou seja fecundação cruzada. Entretanto, a abertura de flores masculinas e hermafroditas na mesma planta e panícula podem favorecer a autopolinização, ocorrendo a endogomia. O fruto (castanha) é do tipo aquênio, tem forma de rim, consistindo de epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoa (Figura 1). O pedúnculo floral (falso fruto) é carnoso, suculento e variável no tamanho, forma, peso e cor (Figura 2). Figura 1 -Fruto (castanha) do cajueiro anão-precoce Figura 2- Pedúnculo (falso fruto) do cajueiro anão-precoce. 3 - CLIMA O cajueiro é cultivado em clima do tipo Aw, tropical, quente e úmido, chuvas de novembro a abril e período seco nos restantes dos meses do ano, segundo classificação de Kôepen. A precipitação ideal se situa entre 800 mm a 1.600 mm anuais, distribuída entre cinco a sete meses, podendo a planta tolerar valores abaixo ou acima deste intervalo. A umidade relativa do ar adequada para o cajueiro é de 70% a 80%. No período de florescimento, a umidade superior a 80% favorece o aparecimento de doenças fúngicas, principalmente a antracnose, quando inferior a 40% prejudica o florescimento e frutificação. A temperatura média ideal é de 27°C, podendo tolerar temperaturas superiores de 35°C. Em períodos prolongados, com temperatura abaixo de 22°C, a produção é re- duzida. As condições climáticas de Mato Grosso são favoráveis ao cultivo desta cultura, uma vez que a umidade relativa do ar, precipitação, quantidade de luz e temperatura, estão dentro dos limites préestabelecidos. 4 - SOLOS As principais exigências edáficas do cajueiro, quanto ao aspecto físico, são: solos bem drenados, porosos, sem risco de encharcamento ou de inundações freqüentes, com profundidade maior que 1,0 m, para um bom desenvolvimento do sistema radicular, o que condiciona maior quantidade de água disponível no período seco, por ocasião da frutificação e, preferencialmente, de textura média e arenosa, podendo ser pedrosos, desde que não possuam uma camada de petroplintita endurecida (pedra canga) ou laje nos primeiros 100 cm do solo. 5 - PREPARO DO SOLO A área deve ser totalmente limpa. O preparo do solo consiste em aração e gradagem. Em solos com declividade acima de 5%, recomenda-se fazer curvas de nível. 6 - CALAGEM Recomenda-se aplicar calcário dolomítico para elevar a percentagem de saturação de bases (V%) a 40% ou os níveis críticos de Ca2+ + Mg+2 a 2,0 meq/1 00 cm3 de solo, para aumentar os teores desses elementos no solo. O calcário deve ser aplicado a lanço em toda a área e incorporado a uma profundidade de 20 cm. Deve-se também fazer aplicação localizada na cova, numa quantidade de calcário proporcional ao volume de solo, segundo as dimensões da cova e baseado na análise de solo. 7 - ESPAÇAMENTO Para os clones disponíveis no mercado (CCP 76, CCP 09, EMBRAPA50 e EMBRAPA51, recomenda-se o espaçamento de 8,0 m x 6,0 m ou 7,0 m x 7,0 m, com uma população de 208 e 204 plantas/ha, respectivamente. A disposição retangular (Figura 3), no caso do primeiro espaçamento, permite a exploração de outras culturas em consórcio por mais tempo e facilita o manejo entre as fileiras, sendo o mais indicado sob o regime de irrigação. Figura 3 - Espaçamento do Cajueiro anão-precoce. 8 - COVEAMENTO Dependendo das características do solo, principalmente da textura e fertilidade natural, recomenda-se o uso de covas com dimensões de 0,30 m x 0,30 m x 0,30 m até 0,50 m x 0,50 m x 0,50 m (Figura 4), para solos de textura média. As covas podem ser feitas normalmente ou através de perfuratriz tratorizada. Recomenda-se separar a camada superficial do solo para ser misturado com os adubos químicos e orgânicos. Figura 4 - Dimensões da cova do Cajueiro anão-precoce. 9 - PLANTIO O plantio das mudas deve ser feito no período chuvoso (sequeiro) e qualquer época do ano (irrigado). Os sacos plásticos ou tubetes devem ser retirados sem quebrar o torrão ou danificar o sistema radicular da muda. O nível do solo do torrão da muda, deve coincidir com o nível de solo do terreno. A cova deve ser completada com o solo misturado com os adubos químicos e orgânicos (Figura 5). Após 30 dias do plantio, substituir as plantas mortas. Figura 5 - Plantio de muda do Cajueiro anão-precoce. 10 - ADUBAÇÃO Na Tabela 1 encontram-se as recomendações de dosagens de nitrogênio (N), fósforo (P2O5) e potássio (K2O) para cajueiro, desde o plantio até o sexto ano. A partir daí esta adubação é repetida anualmente. 10.1 - Adubação de plantio No preparo da cova, utilizar calcário dolomítico conforme a recomendação para calagem localizada e a adubação fosfatada correspondente ao primeiro ano (Tabela 1). Misturar os elementos com a terra da camada mais superficial, devolvendo, em seguida, o substrato para a cova. 10.2 - Adubação fosfatada O fósforo deverá ser aplicado anualmente em uma única dose, por ocasião do início do período chuvoso. Preferencialmente, utilizar superfosfato simples, por ser também fonte de enxofre (S). A aplicação deve ser em sulco e em dois terços da projeção da copa, incorporando ao solo. 10.3 - Adubação nitrogenada e potássica Deverá ser parcelada, no mínimo em três vezes ao ano, distribuída a lanço, ao redor da planta e numa faixa de dois terços da projeção da copa. No primeiro ano, fazer adubação de cobertura aos 30, 60 e 90 dias após o plantio; nos anos seguintes, fazer a primeira adubação junto com a adubação fosfatada e a seguir, em intervalos de 45 dias. Tabela 1: Recomendação de adubação para a cultura do cajueiro-anão-precoce (g/planta) EMPAER-MT, 2000. N Anos P2O5 K2O Teor de fósforo no solo Teor de potássio no solo Baixo Baixo Médio Alto Médio Alto 1º 30 100 75 50 30 20 10 2º 60 50 30 20 60 40 20 3º 90 75 50 30 90 60 30 4º 120 100 75 50 120 80 40 5º 150 100 75 50 150 100 50 6º em diante 150 100 75 50 150 100 50 11 - COBERTURA MORTA Consiste em colocar, em volta da muda, restos de vegetais secos sem sementes, palha de arroz, pó-de-serra ou um outro material similar. O objetivo desta prática é a manutenção e aproveitamento da umidade do solo e fornecimento de matéria orgânica para o cajueiro. 12 - CLONES DE CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE O plantio de mudas através de sementes tem alta variabilidade genética, reduzindo o potencial de produção dos plantios comerciais. Por isso, recomenda-se que os plantios de cajueiro sejam feitos com mudas enxertadas (clones), o que mantém a identidade genética do clone, uniformidade das plantas e alto potencial produtivo, por ser um genótipo selecionado, tanto para produção de fruto (castanha) como para pedúnculo (falso fruto). As mudas deverão estar prontas para o plantio no campo, de preferência, no início do período chuvoso, que em Mato Grosso ocorre nos meses de outubro/novembro. Para isso, é necessário que as atividades que antecedem o plantio iniciem cerca de seis meses antes, como preparo do substrato, aquisição de sacos ou tubetes para mudas, adubos, pesticidas, sementes para formação do porta-enxerto e garfos ou borbulhas para enxertia. Atualmente existem alguns clones de cajueiro-anão-precoce disponíveis para plantio. As principais características destes são: - Clone CCP 09 - No sétimo ano após plantio em condições de sequeiro, este clone apresenta um peso médio de castanha de 7,8 g e produtividade de 1.300 kg/ha de castanha com umidade de 12%. O rendimento do pedúnculo é de 15.200 kg/ha, tem coloração vermelho-alaranjada. Sob irrigação, a produção de castanha é de 4.250 kg/ha. - CCP 76 - O pedúnculo tem coloração vermelho-clara, com produtividade de 17.200 kg/ha. A produção de castanha é de 1.250 kg/ha/ano, com peso médio de 7,9 g no sétimo ano. Com irrigação, este clone pode chegar a 2.500 kg de castanhas. É o clone mais plantado no Brasil, por ter maior adaptação aos vários tipos de solo e clima e qualidade do pedúnculo para consumo in natura. - EMBRAPA 50 - O pedúnculo tem coloração amarela e produção de 5.590 kg/ha. A produção de castanha é de 649 kg/ ha (no quarto ano após plantio), com o peso médio de 10 g. - EMBRAPA 51 - A coloração do pedúnculo é vermelha e produção de 8.700 kg/ha. A produção de castanha é de 666 kg/ha (quarto ano), com peso médio de 10,3 gramas, o que possibilita, ao clone, alta característica para industrialização do fruto. - CCP 1001 - Tem pedúnculo de cor vermelha, podendo chegar a uma produção de 33.000 kg/ha. A castanha tem peso médio de 6,3 gramas, com 2.500 kg/ha em cultivo de sequeiro, no sétimo ano. É um clone que apresenta muita variação no peso médio da castanha, por isso tem sido pouco cultivado. - CCP 06 - A produção de pedúnculo é de 24.400 kg/ha, de cor amarela. A castanha tem peso médio de 6,3 gramas, com produtividade média de 1.300 kg/ha, sob sequeiro no sétimo ano. É muito utilizado para obtenção de sementes visando a produção de porta-enxerto. 13 - PROPAGAÇÃO DO CAJUEIRO A propagação do cajueiro pode ser feita através de sementes (sexuada) e vegetativa (assexuada), utilizando garfos, gemas e estacas. Por ser uma planta predominantemente de cruzamento, recomendase a propagação vegetativa, objetivando a homogeneidade das características agronômicas tanto do fruto, como do pedúnculo. Dentre os processos de propagação vegetativa, o método mais utilizado é o da enxertia. A muda para plantio deve ser enxertada com material vegetatívo idôneo, estar livre de pragas e doenças, ter no máxi- mo quatro meses de idade e perfeita cicatrização na região do enxerto. A enxertia consiste em obter uma planta através da combinação do porta-enxerto e enxerto. A gema ou garfo é retirada da planta e justaposta ao porta-enxerto. O porta-enxerto fornece o sistema radicular e o enxerto a copa da planta. Principais vantagens da enxertia: - Assegurar as características genéticas da planta matriz; - precocidade na frutificação (1º ano após plantio); - menor porte da planta; e - maior produtividade das plantas. 14 - TIPOS DE MUDAS 14.1 - Mudas em saco de plástico Os porta-enxertos devem ser formados em sacos de plásticos de polietileno, medindo 15 cm x 25 cm x 0,15 mm, furados, sanfonados e cor preta. O substrato utilizado nos sacos de plástico varia conforme a disponibilidade em cada propriedade. Por tanto, recomenda-se uma mistura, na proporção 2:1 de terra superficial e terra preta. Em cada metro cúbico da mistura, utiliza-se 10 kg de superfosfato simples e 3 kg de cloreto de potássio. Os sacos de plástico são colocados em canteiros, com 1,0 m de largura e comprimento variável em pleno sol. Entre os canteiros, deixa-se 50 cm de largura para os tratos culturais do viveiro (Figura 6). Figura 6 - Viveiro de Cajueiro anão-precoce em sacos de plástico. As sementes são desinfectadas por via seca, em um tambor rotativo e misturadas com fungicidas à base de PCNB (pentacloronitrobenzeno), na dosagem de 500 g do produto em 60 kg de sementes. A semeadura deve ser feita diretamente nos sacos de plástico com a castanha na posição vertical, ponta voltada para baixo, enterrada no máximo 3,0 cm (Figura 7). Figura 7 -Semeadura de castanha em sacos plásticos. A germinação das sementes em condições normais ocorre entre 12 e 20 dias. Aos 50-60 dias, as plântulas estão aptas para enxertia, quando tiverem 0,5 cm de diâmetro na região do enxerto, a 15 cm do coleto (Figura 8). Figura 8 - Germinação da castanha do cajueiro anão-precoce. A muda enxertada está apta para o plantio no campo aos quatro meses de idade, livre de doenças, pragas e apresentar uma perfeita cicatrização na região do enxerto. 14.2 - Mudas em tubetes Tubete é um recipiente de plástico rígido. Tem vantagens sobre os sacos de plástico por apresentar menor diâmetro, peso, espaço no viveiro, menos substrato, mecanização nas operações de produção e redução do custo de transporte de mudas para o campo (Figura 9). Figura 9 - Tubetes. A produção de mudas de caju em tubetes está em franca expansão no mercado. Atualmente, vários viveiros estão adotando este processo por ser prático e econômico. Podem ser utilizados vários substratos como: vermiculita, composto orgânico, moinha de carvão e terriço. A semeadura é feita diretamente no tubete, com a castanha na posição vertical, ponta para baixo e enterrado no máximo 3,0 cm. Aos quarenta dias é feita a microenxertia, que consiste na colocação do garfo no porta-enxerto, pelo processo garfagem em fenda lateral. Aos 40-60 dias, as mudas estarão aptas para serem plantadas no campo. 15 - CONSORCIAÇÃO O consórcio com o cajueiro é uma prática que deve ser utilizada pelos produtores, visando ocupar o grande espaço deixado pelas plantas e melhorar a renda dos produtores através de culturas intercalares propícias para cada região. Outra vantagem é o aproveitamento do resíduo de fertilizantes e a ocupação da mão-de-obra durante todo ano. A escolha das culturas para o consórcio depende de vários fatores, tais como: clima, solo, pragas, doenças, crescimento e desenvolvimento de plantas e mercado. No Estado de Mato Grosso podem ser usados para plantio no cajueiral, as seguintes espécies: mandioca, algodão herbáceo, milho, feijão, mamona, arroz, amendoim, batata-doce, maracujá, banana, abacaxi e girassol (Figura 10). O consórcio com o cajueiro-anão deve ser realizado até o terceiro ano após plantio. A partir daí, a faixa entre as fileiras ficam estreitas, não permitindo o crescimento, desenvolvimento e a exploração de outras culturas. A consorciação do cajueiro-anão-precoce com abelhas (Apis mellifera), além de gerar uma renda adicional para o produtor, através da produção de mel, traz benefícios na floração, melhorando a polinização das flores e, conseqüentemente, o aumento na produção de caju. Figura 10 - Consorciação de cajueiro-anão-precoce, mandioca e abacaxi. 16 - LIMPEZA DE PLANTAS INVASORAS O cajueiral é muito afetado pela concorrência de plantas invasoras, sendo necessário a sua limpeza, deixando livres de competição. A retirada destas plantas pode ser feita através de capinas e roçadas, e usadas como cobertura morta. 17 - PODA A poda é importante na condução do pomar de cajueiro-anão-precoce, já que a produção ocorre nas: brotações periféricas, concentrando na sua grande maioria nos dois terços inferiores. 17.1 - Desbrota É feita no primeiro ano após plantio e consiste na retirada das brotações do porta-enxerto e dos ramos mais próximos do enxerto. 17.2 - Poda de limpeza É feita anualmente após a colheita. O objetivo é retirar os ramos secos, doentes e praguejados. 17.3 - Poda de formação É feita a partir do segundo ano após plantio. Consiste na retirada de pontas de ramos, para deixar livre das plantas vizinhas. Serve para formar a arquitetura da copa e facilitar a penetração dos raios solares (Figura 11) Figura 11 - Poda de formação do cajueiro-anão-precoce. 18 - PRINCIPAIS DOENÇAS No cajueiro são registradas várias doenças, as quais têm variação na intensidade de infecção; dentre estas, destacam-se: 18.1 - Antracnose A antracnose ( Colletotrichum gloeosporioides) é a principal doença do cajueiro-anão-precoce, por ser a mais disseminada, ocorrer durante todo ano e em todas as fases da cultura, com mais prejuízo para as plantas na fase de florescimento e frutificação. O fungo ataca os ramos, folhas, flores, frutos e pedúnculos. Nas folhas, os sintomas são manchas necróticas pardo-avermelhadas, que ficam escuras com o decorrer dos dias. As folhas novas ficam enegrecidas e caem prematuramente, quando o ataque é muito severo. Também causa seca e queda de flores e frutos jovens. Nos ramos, o ataque pode ser confundido com o de pragas, a diferença é de não ter exsudação ou orifícios nos ramos. O controle da doença é feito através de pulverizações (Tabela 2). 18.2 - Mofo-preto Causada pelo fungo Diploidium anacardiacearum, ocorre mais comumente no cajueiro-anãoprecoce do que no cajueiro comum. Nas folhas velhas, na parte inferior, aparecem manchas escuras com aspecto de feltro, prejudicando o metabolismo da planta. 18.3 - Oídio É causada pelo fungo Oidium anacardii. Caracteriza-se pelo revestimento pulverulento de cor branco-acizentada nas folhas e inflorescência do cajueiro. As folhas mais afetadas caem mais precocemente, resultando em danos a produção. O controle é feito conforme a Tabela 2. 18.4 - Resinose É causada pelo fungo Lasiodiplodia theobromae, que provoca lesões no caule das plantas. Nos caules e ramos afetados ocorrem uma exsudação de resina (goma) que se acumulam e desprendem exalando um cheiro forte de fermentação. O controle é feito conforme a Tabela 2. Tabela 2 - Controle das principais doenças do cajueiro-anão-precoce. EMPAER-MT, 2000. Doenças Patógeno Antracnose Produtos Técnico Comercial Benomil Benlate 500 (Colletotrichum gloeosporioides) Mancozeb Oidio (Oidium anacardi) Dosagem (g ou ml/l) 2,0 Pulverização Dithane PM 4,0 Pulverização Manzate 4,0 Pulverização Oxicloreto Cuprantol 3,0 Pulverização de cobre Cuprosan 3,0 Pulverização Fluguoran 3,0 Pulverização Cupravit 3,0 Pulverização Calixin 2,5 Pulverização Tridemorph Aplicação Kúmulus Kúmulus 3,0 Pulverização Resinose Oxicloreto Cuprantol 3,0 Pincelamento (Lasiodiplodia theobromae) de cobre Cuprosan 3,0 nos ramos Fluguoron 3,0 Afetados Cupravit 3,0 19 - PRAGAS DO CAJUEIRO No Brasil e no mundo, várias pragas atacam o cajueiro, dentre elas, algumas causam dano econômico. Em Mato Grosso, algumas pragas atacam o cajueiro, tanto em fundo de quintal como em pequenos plantios, principalmente na fase de frutificação, que ocorre no período de julho a novembro. Como o cultivo com a cultura do cajueiro está tendo seu início no estado, ainda não se tem medidas eficazes de controle para as pragas existentes. Neste trabalho serão relatadas algumas pragas que tenderão aumentar consideravelmente, com a expansão da cultura. 19.1 - Mosca Branca (Aleurodicus cocois) É uma praga que ataca a parte inferior da folha do cajueiro, protegidas por uma secreção pulverulenta branca. Na face superior da folha desenvolve-se a fumagina, favorecida pela eliminação do excesso de seiva sugada pela praga. O controle é feito, através de pulverizações na copa das plantas com fenitrothion (100 a 200 ml/100 l de água), parathion methil (70 a 100 ml em 100 l de água) e malathion (150 a 200 ml/100 l de água). 19.2 - Outras pragas Com a expansão da cultura e as condições favoráveis de clima, podem ocorrer as seguintes pragas: broca-das-pontas (Anthistarcha binocularis), larva-do-broto-terminal (Contarinia sp.), lagartasaia-justa (Cicinnus callipius), larva-véu-de-noiva (Thagona sp.), lagarta-verde (Cerodirphia rubripes), lagarta-de-fogo (Megalopyge lanata), besouro-vermelho (Crimissa cruralis), tripes de cinta vermelha (Selenothips rubrocinetus), pulgão-das-inflorescências (Aphis gossypii) e traça-das-casta- nhas (Anacompsis sp.) etc. 20 - COLHEITA, ARMAZENAMENTO E COMERCIALIZAÇÃO A colheita é efetuada manualmente, somente após a queda dos frutos. Quando o objetivo é somente o aproveitamento da castanha, esta pode permanecer no solo por um período de mais de dez dias, no entanto, para evitar perdas por ataques de insetos, fungos e umidade, a colheita deve ser feita três vezes por semana. Após a colheita, as castanhas devem ser secadas ao sol, em terreiros ou locais cimentados, por um período de no mínimo dois dias. Quando o teor de umidade da castanha estiver em 12%, estas serão colocadas em sacos de aniagem ou similar e comercializadas. Caso o produtor queira comercializar as castanhas mais tarde, as mesmas podem ser armazenadas por longos períodos, podendo permanecer por mais de um ano em locais adequados. Quando se objetiva o aproveitamento do pedúnculo para a indústria de sucos, doces, polpas etc, procede-se à colheita diariamente, no período da manhã, recolhendo os frutos recém-caídos, que estejam em bom estado. Também o pedúnculo pode ser aproveitado na alimentação animal, na forma in natura ou de farinha, que neste caso não precisa ser colhido diariamente. Para o mercado de frutas in natura, a colheita do pedúnculo e do fruto deve ser feita diariamente na planta, completamente maduras. Os pedúnculos devem ser acondicionados em bandejas de isopor, com quatro a nove unidades (dependendo do tamanho do pedúnculo), recobertos com filme de PVC (tipo rolopac), onde serão colocados em caixa de papelão (três a quatro bandejas) e submetidos à refrigeração a 5°C e umidade relativa de 85% a 90%. Nestas condições os pedúnculos são conservados por um período de dez a quinze dias. 21 - BIBLIOGRAFIA BARROS, L. de M.; PIMENTEL, C. R. M.; CORREA, M. P. F.; MESQUITA, A. L. M. Recomendações técnicas para a cultura do cajueiro-anão-precoce. Fortaleza: EMBRAPA- CNPAT, 1993.65p. (EMBRAPA- CNPAT. CircularTécnica,1). COSTA, J. N. M.; TEIXEIRA, C. A. D.; ALVES, P. M. A. Pragas do cajueiro em Rondônia. Porto Velho: EMBRAPA - CPAF - Rondônia, 1996. 10p. (EMBRAPA. CPAF -Rondônia. Circular Técnica, 25). CLONES de cajueiro-anão-precoce. Fortaleza: EPACE, s.d. (Folder). SILVA, V. V. da. Caju. O produtor pergunta, a EMBRAPA responde. Brasília: EMBRAPASPI/Fortaleza: EMBRAPA-CNPAT, 1998. 220 p. RAMOS, A. D. BLEICHER, E.; FREIRE, F. C. de O. {et ai.}. A cultura do caju. Brasília: EMBRAPA - CNPAT, 1996. 93 p. (Coleção Plantar, 34). ANEXOS CUSTO DE IMPLANTAÇÃO DE 1 (UM) HECTARE DE CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE1- EMPAER-MT, 2000. ESPAÇAMENTO: 8,0 m x 6,0 m Descrição Valor R$ Unid. Ouant. Desmatamento e enleiramento2 h/tr 3 60,00 180,00 Gradagem pesada h/tr 1 30,00 30,00 Aplicação de calcário h/tr 0,7 30,00 21,00 Gradagem niveladora h/tr 0,7 30,00 21,00 Alinhamento e piqueteamento h/d 4 12,00 48,00 Coveamento h/tr 4 30,00 120,00 Enchimento e adubação das covas h/d 3 12,00 36,00 Plantio e replantio h/d 3 12,00 36,00 Coroamento das plantas (4 vezes/ano) h/d 6 12,00 72,00 Aplicação de fertilizantes (2 vezes/ano) h/d 4 12,00 48,00 Controle de pragas e doenças (4 vezes/ano) h/d 4 12,00 48,00 Limpeza das entrelinhas (4 vezes/ano) h/d 2 12,00 24,00 Mudas (10% de replantio) Unid. 228 2,20 501,60 Calcário dolomítico + frete t 1 20,00 20,00 Sulfato de amônio kg 32 0,44 14,08 Superfosfato simples kg 104 0,38 39,52 Cloreto de potássio kg 10,4 0,50 5,20 FTE BR 12 kg 5 1,00 5,00 Unit. Total SERVIÇOS INSUMOS INSETICIDAS E FUNGICIDAS Landrin kg 3 10,00 30,00 l 2 18.00 36,00 Parathion methyl kg 2 14,00 28,00 Oxicloreto de cobre kg 5 15,00 75,00 l 2 7,00 14,00 Trichlorfon Óleo mineral TOTAL 1 2 1.452.40 Área de cerrado No projeto caju, o desmatamento e enleiramento não serão contemplados para financiamento. CUSTOS DE MANUTENÇÃO DE 1 (UM) HECTARE DE CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE. EMPAER.MT, 2000. Descrição Unid 2º ano Quant Total h/d 16 h/d 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano Quant Total Quant Total Quant Total Quant Total 192,00 12 144,00 10 120,00 10 120,00 8 96,00 4 48,00 4 48,00 4 48,00 4 48,00 4 48,00 24,00 3 36,00 4 48,00 4 48,00 4 48,00 4 48,00 1 12,00 1 12,00 2 24,00 2 24,00 2 24,00 2 24,00 h/d 1 12,00 1 12,00 1 12,00 1 12,00 1 12,00 1 12,00 h/d 2 24,00 2 24,00 1 12,00 1 12,00 1 12,00 Colheita h/d 3 36,00 14 168,00 20 240,00 23 240,00 23 240,00 23 240,00 Sub-total - - 348,00 - 492,00 - 528,00 - 504,00 - 504,00 - 468,00 kg 64 28,16 94 41,36 125 55,00 156 68,64 156 68,64 156 6864 kg 52 19,76 78 26,94 104 39,52 104 39,52 104 39,52 104 39,52 kg 20,8 10,40 31,2 15,60 41,6 20,80 52 26,00 52 26,00 52 26,00 kg 13,00 13,00 16 16,00 16 16,00 17 17,00 17 17,00 17 17,00 Trichlorfon L 20 36,00 3 54,00 3 54,00 3 54,00 3 54,00 3 54,00 Oxicloreto de kg 3 45,00 3 45,00 4 60,00 4 60,00 4 60,00 4 60,00 Quant Total 192,00 16 4 48,00 h/d 2 h/d Poda Limpeza das Serviços Coroamento das plantas Aplicação de fertilizantes Controle de pragas Controle de doenças entrelinhas INSUMOS Sulfato de amônio Superfosfato simples Cloreto de potássio FTE BR 12 cobre Óleo mineral Londrin Sub-total l 2 14,00 2 14,00 2 14,00 2 14,00 2 14,00 2 14,00 kg 4 40,00 4 40,00 4 40,00 - - - - - - - - 206,32 - 255,00 - 299,32 - 279,16 - 279,16 - 279,16 Total - - 554,32 - 747,60 - 827,32 - 783,16 - 783,16 Espaçamento: 8,0 m x 6,0 m PRODUÇÃO E RECEITA MÉDIA DE CASTANHA E PEDÚNCULO/ha DO CAJUEIRO-ANÃO-PRECOCE. EMPAER-MT, 2000. Ano Castanha Produção (kg) Pedúnculo Valor (R$) Produção (kg) Receita Valor (R$) Total (R$) 2º 80 80,00 1.200 60,00 140,00 3º 755 755,00 2.500 125,00 880,00 4º 783 783,00 3.500 175,00 958,00 5º 906 906,00 6.000 300,00 1.206,00 6º 1.100 1.100,00 8.500 425,00 1.525,00 7º 1.300 1.300,00 12.000 600,00 1.900,00 8º 1.300 1.300,00 12.000 600,00 1.900,00 Obs.: Valores unitários Castanha - R$ 1,00/kg Pedúnculo - R$ 0,05/kg - 747,16