UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECOLOGIA CÍNTIA CARDOSO PINHEIRO PLASTICIDADE MORFOLÓGICA DE ÁRVORES E SUA APLICAÇÃO NA RESTAURAÇÃO DA CAATINGA NATAL, RN 2016 CÍNTIA CARDOSO PINHEIRO PLASTICIDADE MORFOLÓGICA DE ARVORES E SUA APLICAÇÃO NA RESTAURAÇÃO DA CAATINGA Tese apresentada ao programa de PósGraduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Ecologia. Dra. Orientadora: Gislene Maria da Silva Ganade NATAL, RN 2016 2 CÍNTIA CARDOSO PINHEIRO PLASTICIDADE MORFOLÓGICA DE ÁRVORES E SUA APLICAÇÃO NA RESTAURAÇÃO DA CAATINGA Tese apresentada ao programa de PósGraduação em Ecologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como parte das exigências para a obtenção do título de Doutor em Ecologia. Data da defesa: Resultado: ____________________ ____________________________ Dr. ____________________________ Dr. ____________________________ Dr. ____________________________ Dr. ____________________________ Dr. Gislele Maria da Silva Ganade (Orientadora) 3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Biociências - CB Pinheiro, Cíntia Cardoso. Plasticidade morfológica de árvores e sua aplicação na restauração da Caatinga / Cíntia Cardoso Pinheiro. - Natal, 2017. 81 f.: il. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Biociências. Programa de Pós-Graduação em Ecologia. Orientadora: Profa. Dra. Gislene Maria da Silva Ganade. 1. Restauração da Caatinga - Tese. 2. Plasticidade - Tese. 3. Caatinga Tese. I. Ganade, Gislene Maria da Silva. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/UF/BSE-CB CDU 574 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que de alguma forma estiveram envolvidos com as várias etapas deste orientadora Gislene processo, Ganade que principalmente tem minha sido meu grande exemplo de vida e de ciência ao longo destes 11 anos de amizade e orientação. Agradeço à minha família pela confiança e apoio, mesmo de longe, ao longo de toda a minha trajetória de busca pessoal e profissional, amo vocês! Principalmente, agradeço à minha amada filha Clara, que nasceu e se criou neste meio científico sendo uma das pessoas que eu mais confio e admiro no mundo. Por vezes ela que foi minha mãe. Tu és a melhor parte de mim. Te amo profundamente. Minha segunda família, meus amigos. Lhes agradeço por escolherem fazer parte da minha vida e fazer com maestria e altruísmo. Agradeço à minha amiga/irmã Marina Fagundera. Passamos por coisas semelhantes em tempos distintos e tu me ensinaste coisas que nem os mais letrados deste mundo conseguiriam descrever… Eu sei que você sabe que eu sei que você sabe que é difícil te dizer. Te amo. Gustavão, meu amigo, como eu te admiro! Você é um amigo grande, grande de tamanho, grande sorriso, grande profissional, grande músico e um coração que é enorme! Obrigada por permitir que eu acompanhe as suas lutas diárias e ainda ajudar nas minhas. Te amo! 5 Agradeço à Bibicksunt, Lica, Piulips, Talitão, Letícia, as tanquetetes: Laura, Francisca, Pocas, à família (que é minha também!) mais bonita da cidade: Marília (Como eu te admiro e amo!!!), Adrian e as pequenas Alice queen e Luíza pulguinha! Obrigada por atuarem lindamente na minha novela mexicana e compartilharem desta montanha russa linda que é viver! Agradeço à República internacional do tanquetão (Meu lar), República Pinga Pinga e seus moradores amados! Agradeço à Eugênia e Juank, pela ajuda em campo, pela amizade, pelos apertões, pelo prazer de ter vocês em minha família e eu nas suas. Obrigada seus fofinhos! Agradeço à minha turma de pós, trade-off…. Tantas emoções! Sou a última deste ciclo que encerra parte da nossa vida acadêmica… Espero que vocês sejam muito felizes em toda e qualquer escolha que vocês façam para as suas vidas! Obrigada por compartilharem um pouquinho da minha felicidade! Agradeço à minha/nossa banda, Madame Xique-xique e as suas lindas integrantes: Lili, Má, Maíra e Gis! Obrigada por enfeitar a minha vida de música e poesia!! Arte como forma de escape, arte como forma de desabafo, arte para chorar, arte para rir, arte para abraçar…ser feliz…viver…Arte pela arte! Ao grupo do Laboratório de Ecologia da Restauração da UFRN – LER, em especial Léo, Felipe, Adler, Edjane e Bruna. 6 A equipe da Floresta Nacional de Assu, em especial ao Mauro, que me permitiu realizar todo o meu trabalho de forma sempre prestativa, mesmo em condições adversas de recursos. Aos senhores, Irmão, Seu Antônio e Seu Zé Holanda, que foram fundamentais para que eu pudesse aprender as espécies da caatinga e pelos gerimuns cozidos levados até mim quando estava sozinha em campo! Muito obrigada! Agradeço ao programa de Pós Graduação em Ecologia da UFRN que me permitiu aprender e crescer profissionalmente e pessoalmente. Que me forneceu toda estrutura e profissionais necessários para que minha tese fosse desenvolvida. Agradeço a agência de fomento CAPES, que investiu em mim por quatro anos para que eu me dedicasse a minha realização profissional e assim poder contribuir com o meu país. Agradeço aos demais que não estão listados aqui e que de alguma maneira fizeram parte desta trajetória. 7 ÍNDICE RESUMO GERAL….………………..…………………………………………....... 9 CAPÍTULO 1- Plasticidade morfológica e a performance de espécies arbóreas da caatinga em programas de restauração .......................................................................................12 Resumo..............................................................................................13 Introdução......................................................................................... 14 Objetivos............................................................................................16 Métodos..............................................................................................18 Resultados......................................................................................... 26 Discussão...........................................................................................31 Referências........................................................................................33 CAPÍTULO 2- Estratégias de alocação de recursos em resposta à seca em espécies arbóreas da caatinga..................................................37 Resumo..............................................................................................38 Introdução......................................................................................... 39 Objetivos............................................................................................41 Métodos............................................................................................42 Resultados.........................................................................................47 Discussão...........................................................................................55 Referências........................................................................................59 CAPÍTULO 3- Padrões de plasticidade em espécies lenhosas distribuídas globalmente....................................................................61 Resumo..............................................................................................62 Introdução......................................................................................... 63 Objetivos............................................................................................67 Métodos..............................................................................................61 Resultados..........................................................................................68 Discussão...........................................................................................73 Referências....................................................................................... 77 8 RESUMO GERAL A Plasticidade fenotípica em espécies de plantas tem se demonstrado um bom mecanismo para explicar parte da distribuição e ocorrência de espécies no planeta. Estudos vêm sendo desenvolvidos para testar o papel da plasticidade em processos como invasão de espécies exóticas e expansão geográfica de espécies para locais heterogêneos, perturbados ou estressantes. Para tal, leva-se em consideração a capacidade de uma espécie em modificar suas estruturas frente à um ambiente independente do genótipo. Dentro do contexto da biologia do desenvolvimento, a literatura tem utilizado uma abordagem com linhagens de genótipos conhecidos, o que chamamos de plasticidade fenotípica strictu sensu. Por outro lado, estudos que tenham como foco aspectos ecológicos, tendem a assumir como plasticidade qualquer modificação do fenótipo frente a mudanças no recurso ambiental. Para esta abordagem ecológica, o termo utilizado é a Plasticidade fenotípica latu sensu, onde são incluídos e assumidos como mecanismos: normas de reação, variabilidade genética e a própria plasticidade strictu sensu, intra e interespecífica. Neste caso específico, um bom delineamento na coleta de dados é fundamental para que não ocorra algum viés interpretativo. As características plásticas possuem uma grande importância adaptativa. Através delas é possível compreender quais estratégias morfológicas e fisiológicas permitem com que as plantas lidem com perturbações pontuais e com ambientes altamente estressantes. A compreensão destas estratégias pode trazer, além do melhor entendimento das comunidades naturais, uma ferramenta útil em programas de restauração. O semiárido brasileiro é um bioma altamente estressante, caracterizado por um forte filtro ambiental de estresse hídrico e altas temperaturas. Ademais, 53% de seu território já foi desmatado, e os métodos de restauração utilizados possuem baixa efetividade. A compreensão das estratégias de alocação de biomassa das plantas neste sistema é urgente para que esses métodos de restauração possam ser mais efetivos. Neste sentido, o 9 primeiro capítulo desta tese busca compreender as possíveis relações entre padrões de plasticidade e a capacidade de espécies arbóreas serem bem sucedidas em programas de restauração. Pôde-se observar que espécies diferiram significativamente em sua capacidade plástica no que diz respeito à alocação de biomassa em raiz versus parte aérea. As espécies mais plásticas apresentaram em geral um maior potencial de sobrevivência em campo, demonstrando que a flexibilidade na alocação de biomassa, desempenha um importante papel em ambientes estressantes. Grime (1977) em seu trabalho clássico aponta 3 principais estratégias de captação e uso de recursos que plantas utilizam para lidar com diversas pressões ambientais: Ruderais, Competidoras e Estresse-tolerantes. Sabe-se que plantas Competidoras tendem a apresentar maior plasticidade fenotípica enquanto que em plantas Estresse-tolerantes a plasticidade é menos expressiva. Pouco se compreende sobre como estas estratégias de captação de recurso funcionam no semiárido brasileiro. Da mesma forma, ainda permanece como uma lacuna entender se existe variação plástica das espécies com estratégias distintas em diferentes situações de disponibilidade de recurso. Por isto, no segundo capítulo buscou-se testar se características morfofuncionais dessas espécies vegetais estariam correlacionadas com suas estratégias de resposta à seca e se espécies arbóreas diferem nas suas estratégias de alocação em raiz e parte aérea quando enfrentam situações de estresse hídrico. Espera-se que as espécies “Competidoras” tendam a apresentar maior capacidade de realocação de biomassa frente as alterações abióticas do que as espécies com características “Estresse-tolerantes”. As estratégias de crescimento e alocação em raiz e parte aérea das espécies lenhosas estudadas diferiram de acordo com as disponibilidades de recursos. Algumas espécies apresentaram respostas de maior acúmulo de biomassa em raiz em relação à parte aérea quando irrigadas, outras apresentaram maior investimento em biomassa em raiz quando em tratamentos de seca. Em geral, a relação do investimento em raiz e 10 parte aérea não demonstrou estar correlacionadas com características morfofuncionais de altura, SLA e densidade de madeira, no entanto, árvores mais altas se mostraram mais propensas a alongarem suas raízes em situações de seca. A diversidade de estratégias que possuem as espécies da Caatinga pode ser atribuída aos seus diferentes históricos de pressões, aliado ao filtro ambiental que a Caatinga exerce, modulando um grupo de estratégias que não podem ser completamente explicadas pelo modelo do triângulo do Grime (1977). A compreensão em larga escala de como os tipos de plasticidades morfológicas e fisiológicas e de parte aérea e raiz variam de acordo com fatores abióticos ainda não é clara. Por isto, no terceiro capítulo testamos se espécies que apresentam maior plasticidade fisiológica apresentam também maior plasticidade morfológica, se plantas são mais plásticas em atributos fisiológicos ou morfológicos e se o tipo de recurso disponível, seja este acima ou abaixo do solo poderia influenciar diferencialmente a plasticidade de alocação em raiz e parte aérea. Vimos que de modo geral não há diferença entre investimento de plasticidade entre atributos fisiológicos e morfológicos. Pode-se também verificar que existe diferença nos níveis de plasticidade entre espécies, porém aquelas que são mais plásticas em atributos morfológicos também o são em atributos fisiológicos. Adicionalmente, verificou-se que a alteração de um recurso de solo como água e nutrientes leva a uma maior alocação em raízes, enquanto que a alteração em recursos acima do solo como luz e CO 2 leva a uma maior alocação de biomassa em folhas e galhos. Esses resultados demonstram que plantas não só diferem em sua capacidade de serem plásticas frente às alterações ambientais, mas que também o seu maquinário fisiológico e morfológico evolui conjuntamente para expressar características plásticas. Adicionalmente, a plasticidade em plantas é usada como um meio de intensificar a captura de um recurso quando este se torna disponível. 11 CAPÍTULO 1 PLASTICIDADE MORFOLOGICA E A PERFORMANCE DE ESPÉCIES ARBOREAS DA CAATINGA EM PROGRAMAS DE RESTAURAÇÃO 12 CAPÍTULO 1 PLASTICIDADE MORFOLÓGICA E A PERFORMANCE DE ESPÉCIES ARBÓREAS DA CAATINGA EM PROGRAMAS DE RESTAURAÇÃO RESUMO A Caatinga se encontra entre os três ecossistemas mais degradados do Brasil apresentando regiões com alto risco de desertificação. Desta forma, torna-se urgente a reversão desse quadro através da implementação de programas de restauração florestal. Métodos de restauração florestal desenvolvidos para esse ecossistema são ainda incipientes e raramente incorporam em suas práticas informações científicas recentes sobre características das espécies vegetais que possam melhorar a sua performance em programas de restauração. A plasticidade de espécies arbóreas representa um processo promissor porque consiste na capacidade de uma planta se adaptar rapidamente a uma dada condição ambiental extrema. Desta forma, estudos que tenham como foco a plasticidade de plantas elucidariam a maneira pela qual determinadas espécies nativas estariam se comportando após seu plantio em um ambiente degradado. Este trabalho tem como objetivo principal investigar padrões de plasticidade morfológica em quatro espécies arbóreas nativas da Caatinga e discutir possíveis relações entre esses padrões de plasticidade e a capacidade dessas espécies serem bem sucedidas em programas de restauração. Quatro espécies arbóreas nativas da Caatinga foram estudadas quanto à suas capacidades plásticas e suas performances em um programa de restauração: Anandenanthera colubrina (Angico), Myracodrum urundeva (Aroeira), Mimosa tenuiflora (Jurema) e Poincianella bracteosa (Catingueira). A capacidade plástica das espécies foi medida em casa de vegetação utilizando o índice “Scope of plasticity response” que se baseou nas diferenças em desenvolvimento de raiz e parte aérea das plantas submetidas por 3 meses aos tratamentos de seca e água em 5 blocos de repetição. Essas espécies foram também transplantadas em uma área de Caatinga degradada e seu crescimento foi monitorado por 1ano. Houve uma tendência para que as espécies com maior capacidade plástica apresentassem melhor performance de crescimento durante a restauração. Este resultado é discutido como uma evidência da relação positiva entre plasticidade morfológica e o sucesso de estabelecimento da planta em ambientes degradados. 13 INTRODUÇÃO Em ambientes naturais fatores abióticos como disponibilidade de luz, água e nutrientes variam em pequena e larga escala. Nesses ambientes altamente heterogêneos no espaço e no tempo as plantas devem se aclimatar às condições adversas ou dispersar. Em situações como essas, espécies vegetais recorrem a plasticidade fenotípica que representa a capacidade de um dado genótipo alterar a sua expressão morfológica e fisiológicas em resposta à variação em condições ambientais (Schlicting e Pigliucci, 1998, Pigliucci, 2001). Esta capacidade é particularmente vantajosa para organismos sésseis (Bradshaw, 1965; Sultan, 2000). Embora os custos e limites da plasticidade fenotípica não sejam tão bem compreendidos como os seus benefícios (DeWitt et al, 1998; Givnish, 2002), a amplitude de condições adversas suportadas por uma determinada espécie de planta pode ser parcialmente explicada pela sua capacidade plástica em relação às variações ambientais (Sultan, 2001; González e Gianoli, 2004; Saldaña et al, 2005). É reconhecido que capacidade plástica de uma planta é definida geneticamente. Vários tipos de plasticidade fenotípica e suas derivações foram descritas em estudos de plasticidade (Piersma and Drent, 2003; Sultan, 2004). De qualquer forma, compreende-se que a capacidade de ser plástico e o tipo de plasticidade está sob pressões seletivas ambientais que fazem com que as plantas apresentem variações em suas respostas plásticas em diferentes ambientes. 14 Programas de restauração de florestas tropicais frequentemente enfrentam altas taxas de mortalidade devido à incapacidade de algumas espécies vegetais se estabelecerem em ambientes degradados (Holl et al. 2000). Fatores que limitam a sobrevivência de plântulas e o estabelecimento de regenerantes em áreas restauradas e de sucessão secundária estão associados ao estresse ambiental, à competição por recursos com a vegetação estabelecida e limitação de sítios seguros para a germinação de sementes (Holmgren e Scheffer, 2001; Janzen, 1970; Harper, 1983). Já é consenso que para restaurar um ambiente, em primeiro lugar, é preciso compreender algumas interações ecológicas-chave como processos de aclimatação, colonização e interação entre espécies (Connell et al, 1987; Hughes 1990; Gomez-Aparicio et al. 2005). O próximo passo seria utilizar esse entendimento, a fim de garantir um sucesso na sobrevivência inicial e, paulatinamente, restabelecer processos essenciais do ecossistema original. No entanto, estudos que tenham uma abordagem mais autoecológica das espécies são ainda escassos e poderiam trazer avanços no entendimento dos limites reais de tolerância das espécies introduzidas em condições de campo. A Caatinga é um ambiente semiárido situado no nordeste brasileiro que se apresenta particularmente suscetível à desertificação por apresentar baixos índices de precipitação durante um longo período no ano. Além disso, modelos climáticos preveem uma diminuição nas taxas pluviométricas dessa região até o final do 15 próximo século (Salazar et al. 2007), fazendo com que a suscetibilidade à desertificação desse sistema aumente. A agricultura, o pastejo intensivo, a exploração excessiva de madeira são atividades amplamente praticadas nesse bioma (Marinho et al. 2016) o que contribui para o processo de desertificação e para diminuição da sua resiliência frente às alterações climáticas previstas (Leal et al. 2005). Foi estimado que até 50% desse bioma pode estar sob efeitos antrópicos e que 15% da área do bioma Caatinga se encontra em processo de desertificação (Leal et al. 2005). Adicionalmente, seus serviços ecossistêmicos não se encontram adequadamente protegidos em Unidades de Conservação (Manhães et al. 2016). Experimentos de introdução de sementes e plântulas em áreas degradadas de Caatinga revelam taxas muito altas de mortalidade (Paterno et al. 2016). Desta forma, seria de extrema urgência o desenvolvimento de técnicas de restauração para esse sistema. OBJETIVOS Objetivo Geral O presente trabalho investiga padrões de plasticidade morfológica em quatro espécies arbóreas típicas da Caatinga e discute possíveis relações entre esses padrões de plasticidade e a capacidade dessas espécies serem bem sucedidas em programas de restauração. 16 Objetivos específicos 1. Investigar padrões de respostas plásticas de espécies arbóreas da Caatinga frente a alterações na disponibilidade de água. Hipótese: Esperamos que as espécies sejam diferentes em sua capacidade plástica e que possuam uma maior resposta plástica em suas raízes pelo fato do fator limitante da Caatinga ser a água. 2. Discutir se o grau de plasticidade dessas espécies arbóreas poderia estar relacionado com a sobrevivência e crescimento destas espécies em um experimento de restauração. Hipótese: Esperamos que espécies que apresentam maior plasticidade terão maior sobrevivência em campo. 17 MÉTODOS Local de Estudo Experimentos de plasticidade e de restauração foram implementados, respectivamente, em casa de vegetação e em campo na Floresta Nacional de Açu (FLONA de Açu), uma Unidade de Conservação do Instituto Chico Mendes (ICMBio) localizada na cidade de Açu, Rio Grande do Norte. A FLONA de Açu possui 413,52 ha, e se localiza na região central do estado (05º35’2’’S, 36º56’42’’ O) representando um importante remanescente de vegetação nativa em uma região que sofre constante pressão antrópica. De acordo com o PAN-Brasil (MMA 2005), a FLONA de Açu está localizada na região das áreas suscetíveis à desertificação principalmente por apresentar alta incidência de secas. A formação vegetal que cobre a unidade é predominantemente arbório-arbustiva densa e se encontra em grande parte preservada. Apesar disso, dentro dessa unidade existem áreas com histórico de intenso desmatamento e baixa resiliência. A casa de vegetação onde o experimento de plasticidade foi conduzido se localiza ao lado da sede dessa Unidade, tem dimensões de 20 x 15 metros, é completamente protegida por uma camada de tela de nylon preta, possui sistema de irrigação controlada e recebe irradiação direta durante todo o dia. O local da casa de vegetação onde o experimento foi conduzido possui dimensões de 6 x 4 metros, é coberto por telha transparente, e a irrigação local é realizada manualmente. 18 O local de campo onde o experimento de restauração foi realizado se encontra em uma área de 5 ha que foi impactada no passado por cultivo agrícola. Apesar de abandonada há cerca de 10 anos, esta área ainda apresenta características de extrema degradação com ausência de espécies arbóreas e solos completamente expostos durante a estação seca. Experimento em casa de vegetação Coleta de sementes Foram coletadas sementes das espécies arbóreas Anandenanthera colubrina, Myracodrum urundeva, Mimosa tenuiflora e Poincianella bracteosa, essas espécies de agora em diante no texto serão referidas pelo seu nome popular (Tabela 1). As sementes foram coletadas de 5 indivíduos adultos de cada espécie. Essas árvores matrizes selecionadas em campo se localizavam nas imediações da FLONA de Açu, região da condução do experimento. As sementes foram processadas para a retirada da estrutura de dispersão, e deixadas por 24 horas em local arejado e temperatura ambiente para secagem parcial. Posteriormente foram armazenadas a 18 °C por um período que variou entre 1 e 3 meses. As sementes foram germinadas em casa de vegetação em sementeiras e posteriormente as plântulas, 19 de aproximadamente 5 cm de altura, foram transferidas para o experimento. Tabela1. Informações sobre nomenclatura das espécies de árvores nativas utilizadas nos experimentos de casa de vegetação e de campo. Nome científico Família Nome popular Anadenanthera macrocarpa Fabaceae - Mimosoidae Angico Myracrodruon urundeva Anacardiaceae Aroeira Mimosa tenuiflora Fabaceae-Mimosoideae Jurema Preta Poincianella bracteosa Fabaceae-Caesalpinioideae Catingueira Delineamento do experimento de casa de vegetação O experimento foi estruturado utilizando 5 blocos de repetição. Em cada bloco um indivíduo de cada uma das quatro espécies foi alocado para o tratamento Alta Disponibilidade de Água e um indivíduo de cada uma das quatro espécies foi alocado para o tratamento Baixa Disponibilidade de Água. As diferentes combinações de espécies e tratamento de disponibilidade de água foram aleatoriamente posicionadas dentro de cada bloco, totalizando 40 plantas utilizadas no experimento. Para cada espécie, 10 plântulas com no máximo duas folhas além dos cotilédones foram transplantadas das sementeiras para tubos de PVC com 1m de comprimento protegidos por potes plásticos na base para evitar o contato com o solo. A fim de garantir a sobrevivência das plântulas assim como o crescimento das raízes, todos os indivíduos foram irrigados por um mês. Após esse período, no tratamento de alta disponibilidade de água, as plantas foram mantidas com regas diárias 20 para manter a saturação hídrica do solo em 100% (capacidade de campo do solo). No tratamento baixa disponibilidade de água as plantas foram mantidas sob a condições de saturação hídrica do solo de 15% da capacidade de campo. A capacidade de campo do solo foi calculada a partir da diferença de peso entre terra seca e terra totalmente saturada utilizando 5 tubos de 1m x 0,075m totalmente preenchidos de solo. Os pesos dos tubos referentes à 15% da capacidade de campo do solo foram utilizados como parâmetro para definir a frequência de rega manual de 5 minutos 2 vezes por semana para a o tratamento “seca”. Medidas de plasticidade Ao final do terceiro mês de crescimento todos os indivíduos de cada espécie em cada tratamento foram removidos dos potes e a altura e o comprimento das raízes foram medidos. Para cada planta foram também pesadas a biomassa fresca da raiz e a biomassa fresca da parte aérea que inclui folhas (parte fotossintética), galhos e tronco. As raízes foram lavadas em água para remoção de partículas de solo aderidas antes da pesagem. Os dados de biomassa úmida foram utilizados para se calcular a variável Razão: raiz/parte aérea (biomassa úmida de raiz dividida pela biomassa úmida da parte aérea). Essa variável representa a estratégia de alocação de biomassa para captura de recursos pela planta. Uma alta razão raiz/parte aérea representa um maior investimento em captura de água e nutrientes do solo, enquanto que uma baixa razão raiz/parte 21 aérea representa um maior investimento em captura de luz para fotossíntese. Um índice de plasticidade foi calculado para cada uma das variáveis medidas (altura da planta, comprimento da raiz e razão de alocação em biomassa de raiz em relação à parte aérea). O índice calculado utilizou uma fórmula baseada na métrica intitulada “Scope of plasticity response” onde a plasticidade foi calculada em cada bloco de repetição a partir do valor medido no tratamento com alto recurso (Alta Disponibilidade de Agua) menos o valor medido no tratamento com baixo recurso (Baixa Disponibilidade de Agua) (Stearns, 1992; Valladares et al 2006). Estudos de plasticidade, na literatura, que utilizam clones ou indivíduos selecionados de uma mesma matriz são raros. Neste sentido, é intuitivo pensar que os genótipos foram imperfeitamente replicados para ambientes naturais experimentais. Assumimos que as diferenças na expressão fenotípica entre os tratamentos podem ser advindas de variações genéticas entre os indivíduos, normas de reação e plasticidade fenotípica. Se, no entanto, as plantas a partir de uma dada população (ou espécie) expressam consistentemente seus diferentes fenótipos em diferentes ambientes, a plasticidade fenotípica pode ainda ser analisada. As estimativas de plasticidade resultantes terão uma maior incerteza do que os baseados na medição de genótipos replicados (veja Funk 2008). Por outro lado, o uso de apenas alguns genótipos poderia resultar em uma má 22 representatividade dos níveis de plasticidade disponível dentro de uma dada espécie, ou mesmo, se existem níveis moderados ou elevados de variação genotípica na plasticidade fenotípica entre populações. Para o presente trabalho, não há nenhuma tendência evidente na forma como as plantas (com seus específicos genótipos) foram escolhidas para os tratamentos de crescimento, por isso não deve haver desvio sistemático na medida resultante da diferença de plasticidade entre tratamentos. Experimento de restauração em campo Foi implementado um experimento de restauração de Caatinga degradada em campo onde indivíduos jovens das quatro espécies estudadas foram transplantados em uma área de Caatinga degradada presente na FLONA de Açu (veja descrição do local de estudo). O experimento foi implementado em março de 2013, início da estação chuvosa. Os indivíduos transplantados apresentavam altura padrão de aproximadamente 30 cm e foram produzidos seguindo as técnicas de produção dos viveiros da região, onde as plântulas crescem em sacos plásticos de 12 cm de diâmetro por 16 cm de altura, em substrato contendo 1/3 de areia, 1/3 de terra barrada e 1/3 de adubo. Foram plantados em 5 blocos distribuídos na área de estudo, um indivíduo de cada uma das quatro espécies estudadas, em um total de 20 plantas. As mudas foram plantadas em linha com distanciamento de 2 m. A localização do indivíduo de cada espécie foi aleatorizada dentro de cada linha, representada por um bloco. A 23 vegetação herbácea estabelecida na área foi previamente removida com trator antes do plantio. Todas as plantas receberam irrigação por gotejamento durante o primeiro mês após o plantio e após este período a irrigação foi suspendida. O número de folhas e a altura das plantas foram contabilizados no momento do plantio para se obter o tamanho inicial da planta. Essas mesmas variáveis foram medidas após um ano de crescimento. Análise Estatística Para testar se houve diferença no grau de plasticidade das 4 espécies arbóreas estudadas, foi realizado um teste de ANOVA para cada uma das três variáveis medidas (altura da planta, comprimento da raiz, razão raiz/parte aérea). O índice de plasticidade calculado para cada variável foi utilizado com variável resposta e a identidade das espécies como variável explanatória categórica. As diferenças entre as médias das espécies foram testadas utilizando o teste post hoc de Tukey. Para testar se as diferentes espécies apresentaram performances distintas no experimento de restauração em campo, foi realizado um teste de ANOVA para cada uma das duas variáveis medidas (crescimento em altura e número de folha). A variável resposta crescimento em altura foi calculada a partir da diferença entre a altura inicial no momento do transplante e a altura final após um ano de crescimento. O mesmo procedimento foi realizado para a variável 24 resposta número de folhas. As diferenças entre as médias das espécies foram testadas utilizando o teste post hoc de Tukey. Através destas análises foram discutidas as possíveis relações entre a plasticidade morfológica das espécies medida em casa de vegetação e a sobrevivência e o crescimento das mesmas espécies medidas em um experimento de campo. 25 RESULTADOS As espécies diferiram significativamente em sua capacidade plástica no que diz respeito à alocação de biomassa em raiz versus parte aérea, e ao comprimento da raiz, sendo que essas diferenças foram apenas marginalmente significativas para a altura da planta (Tabela 2). A plasticidade no investimento de biomassa em raiz em relação à parte aérea foi, segundo o teste de Tukey, 4 vezes maior para Jurema em relação à Catingueira (p< 0,01), Aroeira (p< 0,01) e Angico (p< 0,01, Figura 1a), sendo que as outras comparações entre espécies não se apresentaram significativas. Já a plasticidade em comprimento de raiz, segundo o teste de Tukey, foi 4 vezes maior em Catingueira em relação ao Angico (p<0,05), não havendo diferença significativa na comparação entre as outras espécies (Figura 1b). Quanto à plasticidade em altura, apesar das diferenças serem apenas marginalmente significativas, vale salientar que Jurema apresentou a maior amplitude de respostas se mostrando a espécie mais plástica (Figura 1c). Quanto ao crescimento em campo, as espécies apresentaram diferenças significativas em sua capacidade de crescimento em altura e número de folhas (Tabela 3). Em relação à altura, o teste de Tukey indicou que a Jurema apresentou o maior crescimento sendo significativamente diferente do Angico (p =0.05). Após um ano, as plantas de Jurema cresceram em média 0,5 metro sendo que plantas 26 de Angico chegaram a diminuir em altura em relação ao seu tamanho inicial. As outras espécies se mantiveram com altura semelhante ao momento do plantio (Figura 2a). Em relação ao crescimento em número de folhas, o teste de Tukey indicou que o crescimento de Jurema foi sete vezes maior que o crescimento de Angico (p< 0,01) e de Catingueira (p< 0,01) e três vezes maior do que o crescimento de Aroeira (p< 0,05). O crescimento em número de folhas não se apresentou significativamente diferente entre Catingueira, Aroeira e Angico. É interessante notar que Angico apresentou um crescimento negativo (Figura 2b). 27 Tabela 2. Tabela de ANOVA comparando a plasticidade de 4 espécies arbóreas da Caatinga quanto as seguintes variáveis: biomassa de raiz:parte aérea, comprimento de raiz e altura. Plasticidade de biomassa razão Raiz:Parte aérea Fonte de variação Espécie gl SQ MQ F P 3 797.6 265.88 11.672 <0.001 Bloco 4 198.7 49.68 Erro 11 250.6 22.78 2.181 0.1383 F P Plasticidade Comprimento da Raiz Fonte de variação Espécie Bloco Erro gl SQ MQ 3 3732 1243.8 5.003 0.0177 4 0.846 0.5228 MQ F P 876 2.606 0.0999 0.798 0.549 841 210.2 12 2983 248.6 Plasticidade Altura Fonte de variação Espécie gl SQ 3 2628 Bloco 4 1073 268.3 Erro 12 4033 336.1 28 Figura 1. Plasticidade em alocação de biomassa de raiz : parte aérea (a), comprimento de raiz (b) e altura da planta (c) de 4 espécies arbóreas da Caatinga descritas na Tabela 1. As barras de variação representam + 1 erro padrão. As letras minúsculas acima das barras distinguem as diferenças significativas entre médias pelo teste de Tukey. 29 Tabela 3. Tabela de ANOVA para a comparação de crescimento em altura e número de folhas de 4 espécies arbóreas da Caatinga utilizadas em um experimento de restauração em campo. Altura Fonte de variação gl SQ MQ F P Espécie 3 2.054 0.684 3.516 0.049 Bloco 4 0.64250.1606 0.825 0.534 Erro 12 2.337 0.1947 Número de Folhas Fonte de variação gl Espécie Bloco Erro SQ MQ F P 3 212.16 70.72 10.11 0.001 4 0.191 50.65 12.66 1.81 12 83.97 7 Figura 2. Performance de crescimento em altura e número de folhas de 4 espécies arbóreas da Caatinga descritas na Tabela 1 utilizadas em um experimento de restauração em campo. As barras de variação representam + 1 erro padrão. As letras minúsculas acima das barras distinguem as diferenças significativas entre médias pelo teste de Tukey. 30 DISCUSSÃO Esse estudo indica uma possível relação positiva entre a plasticidade morfológica de árvores da Caatinga e sua chance de sucesso em programas de restauração. Jurema, a espécies que apresentou maior plasticidade, foi também a espécies que apresentou maior taxa de crescimento em altura e produção de estruturas fotossintéticas. Por outro lado, Angico, a espécie que apresentou pior performance no campo apresentou restrições em sua capacidade plástica, principalmente no que diz respeito ao alongamento da raiz. A capacidade de aumentar o investimento em raiz em resposta a alterações de água no solo ocorreu em duas das espécies estudadas. Este pode ser um padrão comum, dado que o investimento em raiz em relação à parte aérea é maior na Caatinga quando comparado a outras florestas secas (Costa et al. 2014). Vale ressaltar que apesar de não apresentar crescimento expressivo no campo, Catingueira, uma árvore que é frequentemente encontrada em áreas degradadas, apresentou grande plasticidade no alongamento de suas raízes. Essa capacidade de alongamento das raízes possibilita o acesso a regiões mais úmidas do solo em períodos de seca, permitindo que essa espécie acesse fontes de água em regiões mais profundas que seriam indisponíveis para espécies com raízes superficiais. Este resultado pode ser considerado mais um evidencia da relação positiva entre plasticidade morfológica e o sucesso de estabelecimento da planta em ambientes inóspitos que se encontram degradados. 31 Esse estudo indica que a amplitude de condições adversas suportadas por uma determinada espécie de planta pode ser parcialmente explicada pela sua capacidade plástica em relação às variações ambientais (Sultan , 2001; González e Gianoli, 2004; Saldaña et al, 2005). A abordagem desse estudo contribui como um primeiro passo na compreensão de como o mapeamento de uma característica auto-ecológica, nesse caso a plasticidade morfológica da espécie, poderia elucidar o comportamento de espécies vegetais frente às condições adversas enfrentadas durante programas de restauração de ambientes degradados (Paterno et al 2016). Futuros trabalhos deveriam ampliar o conhecimento sobre como características plásticas estariam correlacionadas com o sucesso de estabelecimento de uma grande variedade de espécies vegetais da Caatinga, para desta forma, contribuir de maneira efetiva para o desenvolvimento de técnicas de restauração para esse sistema. 32 REFERÊNCIAS Bradshaw, A.D. (1965) Evolutionary significance of phenotypic plasticity in plants. Adv. Genet. 13, 115–155 Connell, J. H., I. R. Noble, and R. O. Slatyer. (1987) On the mechanisms producing successional change. Oikos 50,136-137. Costa, T.L., Sampaio, E.V.S.B., Sales, M.F. et al. (2014). Root and shoot biomasses in the tropical dry forest of semi-arid Northeast Brazil. Plant Soil 378–113. DeWitt, T.J. et al. (1998) Costs and limits of phenotypic plasticity. Trends Ecol. Evol. 13, 77–81 Givnish, T.J. (2002). Ecological constraints on the evolution of plasticity in plants. Evol. Ecol., 16, 213–242. 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Por isto, neste trabalho, (1) caracterizamos as estratégias de alocação de recurso entre parte aérea e raiz, (2) testamos se estas alocações diferem dependendo da disponibilidade de recurso e (3) testamos se estas mudanças estão relacionadas às estratégias estresse-tolerante e competidoras. Para isso, um experimento utilizando 10 espécies arbóreas da Caatinga com 30 indivíduos foi conduzido. Os indivíduos foram germinados e submetidos a tratamentos com alta disponibilidade hídrica e seca. A cada mês, 5 indivíduos de cada espécie foram amostrados e suas biomassas aéreas e de raiz foram medidas. Características gerais de alocação de biomassa entre raiz e parte aérea foram descritas e utilizando as diferenças entre tratamentos de irrigação e seca calculou-se um índice de plasticidade. Para compreender se as estratégias de alocação raiz e parte aérea diferiam entre si, foi utilizado o teste de ANOVA. Para compreender se as respostas plásticas estão relacionadas com as características morfofuncionais das espécies, foi utilizada a seleção de modelos de Akaike. Verificamos que as espécies da Caatinga possuem uma grande diversidade de respostas plásticas alocando mais raízes tanto no tratamento de maior disponibilidade hídrica quanto no tratamento de seca dependendo da espécie. De acordo com a seleção de modelos, esta alocação de recursos não está relacionada às estratégias de tolerância a estresse ou competição das espécies. Acreditamos que as características selecionadas na Caatinga podem estar representando uma outra dimensão de estratégias para além das classicamente consideradas de forma binária como estressetolerantes ou competidoras. 38 INTRODUÇÃO Espécies de plantas desenvolveram diversas estratégias morfológicas e fisiológicas para lidar com estresses ambientais. Dentre essas estratégias, a realocação de recursos entre parte aérea e raiz cumpre uma importante função para a otimização do funcionamento da planta em locais que possuem alta sazonalidade marcada pela ausência periódica de recursos (Van der Putten, et al 2013). Em espécies vegetais, algumas estratégias de alocação de biomassa são esperadas dependendo do tipo de recurso que se encontra escasso no ambiente. Por exemplo, espera-se um maior investimento da planta em parte aérea em locais onde o recurso limitante é a luz (Chapin 1980, Aerts 1999; Coley et al, 1985). Por outro lado, espera-se um maior investimento em raiz se o recurso limitante no ambiente for a água (Colasanti & Hunt 1997, Aerts & Chapin 1999). Porém estudos experimentais que testem o quanto as estratégias de realocação de recursos estão relacionadas ao tipo de estresse ambiental ainda são escassos. Grime (1977) em seu trabalho clássico, apresentou estratégias ecológicas básicas das plantas, agrupando-as em 3 classes de tipos funcionais: 1) “Competidoras”: espécies de crescimento rápido, alta capacidade de captura de recursos, capazes de desenvolver rápidas alterações morfológicas e associadas a ambientes ricos em recurso; 2) “Tolerantes a capacidade de stress”: captura espécies de de crescimento recursos, lento, apresentam baixa alterações 39 morfológicas lentas e se encontram associadas a ambientes pobres em recurso; 3) “Ruderais”: rápido crescimento vegetativo nos momentos onde existem pulsos de disponibilidade de recursos, espécies de vida curta; desvio de recursos para a produção de sementes. Essas estratégias ecológicas estão muitas vezes associadas a características morfológicas das plantas (Lambers & Poorter, 1992, Grime & Mackey, 2002). Como exemplo, as características de alta área específica da folha (SLA), baixa densidade de madeira e estatura alta estão em geral relacionadas com plantas do tipo “competidoras” (Reich 2014). Adicionalmente, Grime & Mackey (2002) argumentam que plantas do tipo “competidoras” teriam uma maior plasticidade morfológicas por estarem mais adaptadas à captura rápida de recursos. Tendo como base este mesmo modelo, vários experimentos chegaram à conclusão que o espectro de respostas morfológicas de plantas varia entre dois extremos de tipos funcionais opostos: “Competidoras” e “Tolerantes ao Estresse”. Espera-se que as espécies “Competidoras” tendam a apresentar maior capacidade de realocação de biomassa frente as alterações ambientais (Lambers & Poorter, 1992, Reich et al, 1992, Grime & Mackey, 2002). Essas previsões podem, no entanto, não funcionar na Caatinga, onde espécies arbóreas de vida longa evoluíram em um ambiente com pulsos de secas extremas alternadas a pulsos de alta disponibilidade de chuvas, características ambientais que não se enquadram neste triângulo. Sendo assim, estudos que tenham como foco a 40 compreensão de estratégias de alocação de biomassa em espécies vegetais da Caatinga, podem elucidar diferentes maneiras pelas quais determinadas espécies nativas estariam se comportando frente às alterações ambientais em seu ecossistema de origem. OBJETIVOS 1. Descrever padrões de taxa de crescimento em raiz e parte aérea de 10 espécies arbóreas da Caatinga. Hipótese: Esperamos uma maior alocação em raiz do que em parte aérea pelo fato do recurso limitante do sistema ser a água. 2. Testar se essas espécies arbóreas diferem nas suas estratégias de alocação de raiz e parte aérea quando enfrentam situações de estresse hídrico. Hipótese: Esperamos que as plantas quando confrontadas com estresse hídrico invistam em biomassa de raiz em busca de água. 3. Investigar se características morfofuncionais relacionadas a estratégias estresse-tolerantes e competidores estariam correlacionadas com suas estratégias de alocação em resposta à seca. Hipótese: Esperamos que espécies que possuem características morfofuncionais competidoras tenham respostas mais ativas nas alocações de recursos. 41 MÉTODOS Coleta de sementes Foram coletadas sementes de dez espécies arbóreas da Caatinga (Tabela 1). As sementes foram coletadas de 5 indivíduos adultos de cada espécie localizados nas imediações da FLONA de Açu. As sementes foram processadas para a retirada da estrutura de dispersão, e deixadas por 24 horas em local arejado e temperatura ambiente para secagem parcial. Posteriormente foram armazenadas a 18 °C por um período que variou entre 1 e 3 meses. As sementes foram germinadas em casa de vegetação em sementeiras e posteriormente as plântulas foram transferidas para o experimento. Experimento Para cada espécie, 3 conjuntos de 10 plântulas com no máximo duas folhas além dos cotilédones foram transplantadas para tubos de PVC com 1m de comprimento e 7,5 cm de diâmetro, dispostas em 5 blocos, com um total de 30 plântulas para cada espécie, 300 plântulas no total. A fim de garantir a sobrevivência das plântulas todos os indivíduos foram irrigados por um mês antes do início do experimento que durou 3 meses (4 meses no total). Posteriormente, cada bloco recebeu 2 tratamentos: “Alta disponibilidade de água” e “Baixa disponibilidade de água”. No tratamento de alta disponibilidade de água as plantas foram mantidas com regas diárias, 2 vezes por dia por 5 minutos para manter a saturação hídrica do solo em 100%. No tratamento baixa disponibilidade de água as plantas 42 foram mantidas com irrigação de 2 vezes por semana por 5 minutos para manter a saturação hídrica do solo de 15% da capacidade de campo. A capacidade de campo do solo foi calculada a partir da diferença entre o peso seco e o peso de terra em máxima saturação de água no solo. As medidas foram realizadas utilizando os mesmos tubos do experimento. Para compreender a frequência de rega necessária para a manutenção de 15% ou 100% da capacidade de campo do solo, 5 tubos aleatorizados em cada tratamento foram pesados com pesola digital de mão. A irrigação ocorreu até que o peso dos tubos se equiparasse ao peso calculado anteriormente para 15% e 100% da capacidade de campo do solo para calibrar a frequência de rega necessária para manter os tratamentos. Caraterísticas mensuradas Para a caracterização do padrão de alocação em raiz e parte aérea de cada espécie ao longo dos 3 meses, indivíduos aleatorizados foram mensalmente retirados do tratamento com alta disponibilidade de água. As plantas foram retiradas dos tubos, e os comprimentos foram imediatamente registrados tanto de raiz quanto de parte aérea. As raízes foram lavadas e alinhadas de forma a se permitir a medição do comprimento das raízes para além do comprimento de 1 metro do tubo. 43 Tabela1. Espécies de árvores nativas germinadas e cultivadas em tratamentos com distintas disponibilidades hídricas. Valores morfofuncionais das espécies estudadas de Altura Máxima, Densidade de Madeira e Área Específica da Folha (SLA) foram retiradas da literatura Nome popular SLA Fabaceae - Mimosoidae Angico 45.74 0.80 7 1 Anacardiaceae Aroeira 11.08 0.71 5 0.98 Fabaceae - Mimosoideae Jurema Preta 16.25 0.80 5.5 1 Fabaceae - Caesalpinioideae Catingueira 10.73 0.88 6 1 Pityrocarpa moniliformis Fabaceae - Mimosoideae Catanduva 10.73 0.79 8 0.86 Amburana Cearensis Fabaceae- Papilonoideae Cumaru 42.8 0.60 10 0.81 Capparaceae Feijão-Bravo 5.79 0.74 3.5 0.78 Malvaceae Imbiratanha 12.93 0.29 6 0.80 Fabaceae - Caesalpinoideae Jucá 11.12 0.77 15 1 Apocynaceae Pereiro 10.69 0.69 7 0.95 Anadenanthera macrocarpa Myracrodruon urundeuva Mimosa tenuiflora Poincianella bracteosa Cynophalla hastata Pseudobombax marginatum Libidibia ferrea Aspidosperma pirifolium Densidade Altura da madeira máxima Comprimento médio da raiz em 3 meses (m) Família Nome científico 44 Para compreender os padrões de resposta à seca das espécies ao final do terceiro mês 10 indivíduos foram amostrados por espécie, 5 no tratamento de “Alta disponibilidade de água” e 5 no tratamento de “Baixa disponibilidade água”. As plantas foram retiradas dos tubos, a parte aérea foi separada da raiz e ambas foram imediatamente medidas e seu peso úmido registrado. A partir deste procedimento, foram obtidas medidas de 1. Biomassa da raiz; 2. Biomassa da parte aérea (parte fotossintética, galhos e tronco); 2. Comprimento da raiz e 4. Comprimento da parte aérea. Para medidas de biomassa úmida foi calculada a proporção de alocação raiz:parte aérea. Para investigar se características morfofuncionais das plantas estariam correlacionadas com suas estratégias de resposta à seca, primeiramente, foi gerado um índice de capacidade plástica das espécies frente às condições de seca “Scope of Plasticity Response” (Valladares et al 2006). Este foi calculado subtraindo-se os valores de comprimento de raiz, comprimento de parte aérea e razão de biomassa raiz/parte aérea entre os tratamentos de alta e baixa disponibilidade de água. Posteriormente, foram obtidas da literatura as seguintes características morfofuncionais utilizadas na análise: densidade de madeira, área especifica da folha (SLA) e altura máxima das espécies arbóreas estudadas (Tabela 1). Análise estatística Para descrever os padrões de alocação de raiz e parte aérea das espécies estudadas valores mensais médios de comprimento e biomassa de raiz e parte aérea foram plotados para as 10 espécies em condições ótimas de irrigação. Para testar se as alocações de recurso da parte aérea e raiz das espécies estudadas são influenciadas pela disponibilidade de água, as vaiáveis Y1: comprimento de raiz, Y2: comprimento de parte aérea e Y3: razão raiz/parte aérea foram comparadas entre os tratamentos X1: de alta e baixa disponibilidade de água e X2: identidade da espécie, utilizando ANOVA fatorial em bloco. Para investigar a relação entre capacidade plástica das espécies e suas características morfofuncionais, os índices de plasticidade em resposta à seca calculados para: altura da parte aérea, comprimento de raiz e razão da biomassa raiz/parte aérea, foram utilizados como variáveis resposta e altura, SLA e densidade de madeira foram utilizadas como variáveis preditoras em um processo de seleção de modelos pelo método de “AIC”. Todas as possíveis combinações de modelos entre as variáveis respostas e preditoras foram contrastadas entre si, e contrastadas com o modelo nulo (sem variável preditora). De acordo com esse método, assumimos como melhor modelo aquele com menor AIC. Todas as análises estatísticas foram realizadas utilizando o programa R (R Core Team 2015, Vienna, Austria. URL https://www.R-project.org/). Para o processo de seleção de modelos pelo critério de AIC foi utilizado o pacote MuMIn (Bartoń 2016). 46 RESULTADOS Padrões de alocação raiz parte aérea ao longo do tempo Todas as espécies estudadas apresentaram maior investimento em comprimento de raiz do que em parte aérea, e todas foram capazes de crescer suas raízes até valores próximos ou maiores de 1 metro ao longo do período de 3 meses (Fig. 1). No entanto, algumas espécies como Catanduva, Feijão Bravo e Imbiratanha (Fig. 1c, 1f e 1g, respectivamente) só alcançaram o seu maior crescimento em raiz no terceiro mês, enquanto que outras como Jurema, Catingueira e Jucá (Fig. 1i, 1h e 1d, respectivamente) alcançaram valores próximos a 1 m de raiz logo no primeiro mês de crescimento. O investimento médio das espécies em comprimento da raiz em 3 meses foi de 93.57cm, sendo M. tenuiflora (Jurema) a espécie que mais investiu em raiz com 108.6cm e Feijão-Bravo a espécies que menos investiu com 66.8cm As espécies diferem em sua capacidade de crescimento em parte aérea, sendo que espécies como Jurema (Fig. 1i) e Jucá (Fig. 1h) cresceram de maneira bem mais pronunciada em relação as demais espécies alcançando cerca de 0,5 m logo no primeiro mês de monitoramento (Fig.1). Por outro lado, Feijão bravo (Fig.1f), Imbiratanha (Fig. 1g) e Pereiro (Fig.1j), foram as espécies que tiveram um menor crescimento aéreo total, apresentando valores de cerca de 10 cm de altura ao final do experimento. 47 48 Figura 1. Investimento em crescimento de raiz e parte aérea em cm em plantas cultivadas em casa de vegetação com irrigação frequente (100% da capacidade de campo do solo), ao longo de três meses de desenvolvimento. Nomes científicos das plantas e suas características morfofuncionais se encontram na Tabela 1. Barras de erro representam + 1 erro padrão. Resposta à seca As estratégias de crescimento e alocação de recursos em raiz e parte aérea das espécies lenhosas estudadas diferiram tanto entre espécies como entre diferentes tratamentos de irrigação (Tabela 2, Fig. 2). Plantas em geral acumularam mais biomassa em raiz em relação à parte aérea quando irrigadas (F=11.88, gl=1:74, p<0.001, Fig. 2). Espécies também diferiram em sua capacidade de alocação em raiz (F=15.55, gl=9:74, p<0.001), Angico, Cumaru e Imbiratanha apresentam alocação de biomassa em raiz mais expressiva do que Catanduva, Catingueira, Feijão Bravo e Pereiro (Fig 2 a). Na maior parte dos casos a razão de investimento de biomassa raiz/parte aérea foi de cerca de 2.7, sendo a espécie Imbiratanha a que mais investe na proporção biomassa raiz/parte aérea com 5.78 e a espécie 49 Catanduva a espécie com menor investimento proporcional em biomassa de raiz com 0.64. Em relação ao comprimento de raiz, uma interação significativa entre os tratamentos espécie e irrigação demonstrou que as espécies diferem em suas estratégias de alongamento de raiz em resposta à seca (F=3.768, gl=9;74, p<0.001, Tabela 2). Enquanto algumas espécies como Catingueira, Feijão Bravo, Imbiratanha e Jurema tiveram alongamento mais pronunciado de suas raízes com maior irrigação, espécies como Catanduva alongaram mais as suas raízes em condições de seca (Fig. 2b). As outras espécies estudadas não modificaram expressivamente o alongamento de suas raízes quando expostas à seca (Fig. 2b). Em relação à altura das plantas, uma interação significativa entre os tratamentos espécie e irrigação demonstrou que as espécies apresentaram diferentes investimentos em altura da parte aérea dependendo do estresse hídrico a que estas foram submetidas (F=2.397, gl=9;74, p=0.019, Tabela 2). Espécies como Jurema, Angico e Aroeira diminuíram seu investimento em altura na seca, sendo que em Jurema essa diminuição foi mais drástica (Fig. 2c). Por outro lado, as outras espécies arbóreas estudadas não apresentaram modificações claras em seu investimento em altura quando colocadas em condições de seca (Fig. 2c). 50 Tabela 2. Tabela de ANOVA, medidas de investimento em raiz e parte aérea em tratamentos de alta disponibilidade de água e baixa disponibilidade água. Biomassa raiz:parte aérea Fonte de variação gl Espécie 9 Tratamento SQ MQ F P 171.9 15.54 <0.00 19.103 3 9 1 1 14.59 14.594 11.87 <0.00 9 1 Bloco 4 7.45 1.862 1.516 0.206 Espécie*Tratamento 9 9.64 1.071 0.872 0.554 Erro 74 90.92 1.229 Comprimento Raiz Fonte de variação gl SQ MQ F P Espécie 9 24874 2763.7 16.33 <0.00 5 1 Tratamento 1 1921 1921.4 11.35 0.001 6 Bloco 4 2317 579.2 3.423 0.012 Espécie*Tratamento Erro 9 5738 637.5 3.768 <0.00 1 74 Altura Parte aérea Fonte de variação Espécie gl SQ MQ 9 13983 1553.7 F P 15.42 <0.00 3 1 Tratamento 1 432 432.1 4.29 0.041 Bloco 4 113 28.3 0.281 0.889 Espécie*Tratamento Erro 9 2173 241.4 2.397 0.019 74 7455 100.7 51 Figura 2. Estratégias de alocação de biomassa em 10 espécies da Caatinga em tratamentos de alta e baixa disponibilidade de água (veja Tabela 1 para resultados estatísticos). a) Razão de investimento de biomassa fresca de raiz:parte aérea. b) Comprimento das raízes. c) Altura da parte aérea. Barras azuis representam tratamentos com alta disponibilidade de água e barras vermelhas representam tratamento com baixa disponibilidade de água. Barras de erro representam + 1 erro padrão. 52 Características morfofuncionais e resposta à seca No processo de seleção de modelos seguindo o método de AIC, somente o modelo que envolveu o alongamento de raiz em resposta à seca como variável resposta e a altura máxima da árvore como variável morfofuncional preditora não foi descartado. Este modelo e o modelo nulo se mostraram igualmente possíveis (Tabela 3). Todos os outros modelos foram descartados por apresentarem delta AIC maior que 2 quando contrastados ao modelo de menor AIC (Modelo nulo). Esses modelos continham a altura da parte aérea ou a razão da biomassa raiz:parte aérea como variáveis resposta contrastadas com todas as possíveis combinações das variáveis preditoras: altura, SLA e densidade de madeira. Tabela 3. Modelos finais definidos pelo método AIC que se mostraram igualmente possíveis. A variável resposta representa a plasticidade de comprimento de raiz (comprimento de raiz na água – comprimento de raiz na seca), e a variável morfofuncional preditora representa a altura máxima da árvore. O modelo nulo não contém variáveis preditoras. Delta AIC representa as diferenças em AIC de cada modelo em relação ao modelo com menor AIC. Modelos com Delta AIC maiores do que 2 foram descartados. Modelo β gl AIC Delta Peso r2 0.425 0 AIC Nulo Altura árvore -7.614 2 89.3 0 3 89.4 0.15 0.394 0.25 53 Figura 3. Relação entre plasticidade de comprimento de raiz (comprimento de raiz na água – comprimento de raiz na seca), e a variável morfofuncional preditora altura máxima da árvore. A flecha lateral que aponta para baixo indica as espécies que alongaram suas raízes em tratamento de seca (resposta à seca), e a flecha lateral que aponta para cima indica as espécies que alongaram suas raízes em tratamentos de maior disponibilidade de água (resposta à água). A relação entre comprimento da raiz e altura máxima da árvore, demonstra que árvores mais altas como: Catanduva e Jucá investem mais na extensão da raiz em situações de seca. Por outro lado, árvores com menor estatura como: Feijão Bravo, Aroeira, Jurema, Imbiratanha e Catingueira, estendem as suas raízes somente quando ocorre adição de água (Fig. 3). 54 DISCUSSÃO O grande investimento em raiz observado nas 10 espécies arbóreas da Caatinga estudadas reforça a ideia de que plantas em ambientes com restrição hídrica tendem a investir mais em raiz do que em parte aérea. O maior investimento em raiz não parece estar restrito aos primeiros meses de vida das plantas, dado que as espécies do semi-árido Brasileiro apresentam uma proporção de investimento em biomassa de raiz maior em relação à parte aérea quando comparadas com outras florestas secas (Costa et al. 2014). Adicionalmente, Grime e Mackey (2002), discutem que modificações na raiz seriam menos custosas do que modificações na parte aérea das plantas e desta forma mais prováveis de ocorrerem. Isto se deve ao fato do investimento em raiz representar um investimento em estruturas vegetais de vida longa que apresentam menor custo de manutenção para a planta do que folhas. Adicionalmente, o investimento em folhas incorre em um custo extra porque essas estruturas serão perdidas durante a estação seca nesse ambiente semiárido (Barbosa et al. 2009). A alocação diferenciada das plantas em relação ao seu comprimento de raiz em resposta à seca demonstrou que algumas espécies têm estratégias de fuga, isto é, procuram por água para manter seu status hídrico (Pérez-Ramos et al. 2013). Espécies que claramente apresentaram essa estratégia foram: Catanduva, que em situação de seca alongou mais as suas raízes do que quando irrigada; e Angico e Jurema que reduziram seu crescimento em altura mas 55 mantiveram o maior alongamento da raiz. O fato das outras espécies, quando irrigadas, terem investido mais em raiz ou mantido o mesmo padrão de crescimento, revela a ocorrência de uma multiplicidade de adaptações das plantas da Caatinga em resposta à seca, o que pode ser comum em sistemas semiáridos mais diversos (Pérez-Ramos et al. 2013). Em termos de alocação de biomassa pode-se detectar que as plantas maximizam a chance de captura de água investindo mais em biomassa de raiz quando a água se torna mais disponível. Vale ressaltar que plantas como Angico, Imbiratanha e Cumaru, que investem mais em biomassa de raiz quando expostas à maior disponibilidade de água são aquelas que também investem mais em biomassa de raiz quando expostas à condição de seca. Desta forma, não podemos descartar a existência de uma restrição alométrica de crescimento em que as plantas quando crescem nesse sistema semiárido investem proporcionalmente mais biomassa em suas raízes. Desta forma, é possível que não seja a maior disponibilidade de água que provoque a maior alocação em raiz e sim o fato das plantas crescerem mais rapidamente com maior irrigação, e ao crescerem automaticamente investirem em maior biomassa na raiz. Esperava-se que espécies com atributos morfofuncionais típicos de plantas densidade com de estratégias madeira e competidoras maior altura) (maior SLA, apresentassem menor maior plasticidade de alocação em raiz e parte aérea em resposta à seca (Grime e Mackey 2002). No entanto, esses atributos morfofuncionais 56 em sua maioria não se mostraram correlacionadas com estratégias de alocação em raiz nos indivíduos jovens. Isto, no entanto não descarta a possibilidade que outras características morfofuncionais como por exemplo capacidade de estoque de água em caule e raiz influenciem de maneira mais efetiva as estratégias de enfrentamento ou tolerância à seca dessas espécies (Pérez-Ramos et al. 2012). Vale salientar que a altura máxima da árvore se mostrou correlacionada com a capacidade de alocação em raiz dos indivíduos jovens em resposta à seca. Este estudo demonstrou que árvores com maior altura investem mais na extensão da raiz em situações de seca, enquanto que árvores menores respondem ao pulso de recurso estendendo as suas raízes somente quando ocorre adição de água. Árvores mais altas necessitam de um maior volume de água disponível para que esta tenha pressão suficiente para atingir folhas localizadas nos extremos de sua copa, desta forma estratégias de intensificação de procura por água devem ser melhor adaptadas as suas necessidades. As espécies arbóreas da Caatinga, em geral, apresentam grande investimento em estrutura de raiz. No entanto, elas apresentam diferentes estratégias de alocação de recursos entre parte aérea e raiz, da mesma forma que apresentam diferentes maneiras de lidar com o estresse hídrico em se tratando de mudar seus investimentos em comprimento de raiz e altura de parte aérea em resposta à seca. Características morfofuncionais das espécies como SLA, altura máxima e densidade de madeira não se mostraram 57 importantes preditores das respostas plásticas dessas espécies à condição de seca. O único padrão morfofuncional reconhecido foi o fato de plântulas de árvores mais altas tenderem a apresentar um maior alongamento de suas raízes quando expostas a condições de seca. O bioma Caatinga é caracterizado por forte estresse abiótico e pulsos de recurso hídrico pouco previsíveis ao longo do ano, o que segundo Grime (1977) selecionaria espécies com estratégias ruderais. Porém as espécies arbóreas são indivíduos de vida longa que a priori possuiriam estratégias de tolerância ao estresse ou competidoras. A Caatinga é composta por espécies oriundas de 3 biomas vizinhos: Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, cada um com diferentes pressões ambientais. A diversidade de estratégias que possuem as espécies da Caatinga pode ser atribuída aos seus diferentes históricos filogenéticos de colonização, aliado ao filtro ambiental que o ambiente de Caatinga exerce, com secas periódica, mas com solos ricos em nutrientes e pluviosidade intensa na estação chuvosa. Esses fatores modularam um grupo de estratégias de plantas que não podem ser completamente explicadas pelo modelo do triângulo do Grime (1977). 58 REFERÊNCIAS Aerts, R. (1999) Interspecific competition in natural plant communities: mechanisms, trade-offs and plant-soil feed- backs. Journal of Experimental Botany , 50, 29–37. Aerts, R. & Chapin, F.S. III. (2000) The mineral nutrition of wild plants revis- ited: a re-evaluation of processes and patterns. Advances in Ecological Research, 30,1–67 Barbosa, D. C., Barbosa, M.C, Lima, L.C.M (2005) Fenologia de espécies lenhosas da Caatinga. Em Leal IR, Tabarelli M, Cardoso JM, Ecologia e Conservação da Caatinga, pg 657-693. Editora Universitaria UFPE, Recife, Brasil, 822pg. Bartoń, K. (2016). MuMIn: Multi-Model Inference. R package version 1.15.6. https://CRAN.R-project.org/package=MuMIn. Chapin, F.S. III (1980) The mineral nutrition of wild plants. 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Van der Putten, Bardgett, R. Bever, J.D, Bezemer, T.M, Casper, B.B, Fukami, T, Kardol, P. Klironomos J.N, Kulmatiski, A., Schweitzer, J, Suding, K. Van de Voorde, Warlde, D. (2013) Plant-soil feedbacks: the past, the present and future challenges. Journal of Ecology. 60 CAPÍTULO 3 PADRÕES DE PLASTICIDADE EM ESPÉCIES LENHOSAS DISTRIBUIDAS GLOBALMENTE 61 CAPÍTULO 3 PADRÕES DE PLASTICIDADE EM ESPÉCIES LENHOSAS DISTRIBUIDAS GLOBALMENTE Resumo A Plasticidade das plantas é um importante mecanismo que permite com que estas ocupem diferentes biomas e resistam aos seus fatores de estresse. Diferentes estudos têm abordado a plasticidade das espécies de forma integrada, com um valor de plasticidade para cada espécie. Porém sabe-se que as plantas possuem estratégias que diferem dentro do próprio indivíduo, como alterações de plasticidade em raiz ou parte aérea, ou mesmo alterações na plasticidade morfológica e fisiológica. A maneira como esses comportamentos plásticos se expressam nas espécies do globo ainda é uma importante questão em aberto. Além disto, poucos estudos analisam como as relações entre raiz e parte aérea se dão e quais são os fatores abióticos que interferem nesta razão. Neste capítulo, testamos se (1) as plantas são mais plásticas em atributos fisiológicos ou morfológicos, se (2) espécies que apresentam maior plasticidade fisiológica apresentam também maior plasticidade morfológica, e se (3) a plasticidade de alocação de biomassa em raiz ou parte aérea depende do recurso alterado se encontrar acima ou abaixo do solo. Para tal, utilizamos dados da literatura de 51 espécies distribuídas globalmente com dados de plasticidade fisiológica e morfológica. E realizamos testes de análise de variância para responder as perguntas 1 e 3 e um teste de correlação para responder a pergunta 2. Ao contrário do esperado, não encontramos diferenças entre plasticidades fisiológicas e morfológicas. Pôde-se também verificar que existe diferença nos níveis de plasticidade entre espécies, porém aquelas que são mais plásticas em atributos morfológicos também o são em atributos fisiológicos. Adicionalmente, verificou-se que a alteração de um recurso de solo como água e nutrientes leva a uma maior alocação em raízes, enquanto que a alteração em recursos acima do solo como luz e CO2 leva a uma maior alocação de biomassa em folhas e galhos. Esses resultados demonstram que plantas não só diferem em sua capacidade de serem plásticas frente às alterações ambientais, mas que também o seu maquinário fisiológico e morfológico evolui conjuntamente para expressar características plásticas. Adicionalmente, a plasticidade em plantas é usada como um meio de intensificar a captura de um recurso quando este se torna disponível. Ressaltamos aqui que as estratégias plásticas das plantas individuais são de grande relevância para entendermos adaptações locais e padrões globais, desta forma sugerimos que essas estratégias sejam consideradas em futuros estudos. 62 INTRODUÇÃO A Plasticidade fenotípica em espécies vegetais tem se demonstrado um bom mecanismo para explicar parte da distribuição e ocorrência de espécies em diferentes localidades (Sultan 2000, Valladares et al 2006). Bradshaw (1965), definiu como plasticidade o fato de um dado genótipo ser capaz de alterar sua expressão por influências ambientais. A plasticidade é vista com diferentes abordagens na literatura, sendo a strictu sensu baseada em uma linhagem genética pré-definida. Em outra abordagem, mais ecológica, a plasticidade fenotípica latu sensu é nada mais que o conjunto de variações gerados por normas de reação e variabilidade genética. Para ambos, a plasticidade é extraída dos valores fenotípicos médios expressos por um único genótipo (ou genótipos afins) em duas ou mais condições ambientais (via e Lande, 1985; Schlichting, 1986; Schlichting e Pigliucci, 1998). A maior parte da extensa literatura sobre o significado ecológico e evolutivo da plasticidade (Schmitt e Wulff, 1993; Scheiner, 1993; De Jong, 1995;. Via et al, 1995; Sultan e Spencer, 2002;. Pigliucci et al, 2003;. Schmitt et al, 2003) assume uma visão do indivíduo como um todo em sua relação com o ambiente, no momento em que este expressa um único fenótipo (Winn, 1996a, 1996b). Este artigo analisa como a plasticidade se expressa em diferentes estruturas da planta, enfocando uma abordagem que não é comumente vista na literatura. Experimentos comparativos medindo a forma e extensão das respostas das plantas aos fatores ambientais são escassos no que diz 63 respeito à distinção ecológica entre a plasticidade de características morfológicas e fisiológicas. Embora pouco abordado em trabalhos experimentais, sabe-se que os dois tipos de plasticidade estão associados à diferentes conjuntos de características da planta e podem ter papéis distintos ao longo do gradiente de produtividade (Grime, 2002). A explicação mais provável para esse fenômeno é que há limites regidos por custos diferenciados que envolvem a regulação da capacidade plástica entre diferentes características (morfológicas ou fisiológicas). Esses custos podem definir se o tipo de plasticidade que os organismos podem desenvolver seriam mais baseados em alterações morfológicas (que requerem mais recurso em termos de carbono) ou fisiológicas (Wright, 2002; DeWitt et al , 1998; Utz et al, 2014). A heterogeneidade na disponibilidade de recursos ocorre, também, de maneira distinta acima e abaixo do solo (Van der Putten, 2013). Desta maneira é intuitivo pensar que, em um ambiente onde o recurso limitante seja luz, as plantas tenderiam a ser mais plásticas em características morfológicas e fisiológicas relacionadas à parte aérea, como por exemplo: alta taxa relativa de crescimento, baixa proporção raiz / parte aérea, alta área específica da folha (Chapin 1980, Aerts 1999; Coley et al, 1985). De outra maneira se o recurso limitante for água ou nutrientes, a planta direcionará seus recursos 64 para alterar a fisiologia e morfologia da raiz (Colasanti and Hunt 1997, Aerts and Chapin 2000). OBJETIVOS Este trabalho plasticidade em tem como plantas, objetivo entendendo investigar como esses padrões padrões de se expressam em termos fisiológicos e morfológicos, e compreendendo como as plantas alteram sua plasticidade frente à disponibilidade do tipo de recurso que lhe é oferecido. Mais especificamente, o trabalho traz como principais perguntas: 1. Testar se as plantas são mais plásticas em atributos fisiológicos ou morfológicos Hipótese: Espera-se que plantas sejam mais plásticas em seus atributos fisiológicos pelo fato do investimento por unidade de mudança ser mais barato para essas alterações fisiológicas (alterações de baixo custo) do que para alterações morfológicas cuja mudança envolve gastos estruturais maiores, principalmente em carbono (alterações de alto custo). 2. Testar se espécies que apresentam maior plasticidade fisiológica apresentam também maior plasticidade morfológica Hipótese: Espera-se que a capacidade plástica seja dependente da espécie. Plantas mais plásticas, serão mais plásticas em quaisquer que sejam os seus atributos, morfológicos ou fisiológicos. 65 3. Testar se a plasticidade de alocação de biomassa em raiz ou parte aérea depende do recurso alterado se encontrar acima ou abaixo do solo. Hipótese: A plasticidade de alocação de biomassa em raiz ou parte aérea pode ter relação com o tipo de recurso que está disponível de duas maneira: 1) Se o recurso que está sendo oferecido é utilizado pela planta acima do solo e a planta aloca mais em parte aérea, a planta estaria promovendo modificações que aumentam sua capacidade de obtenção do recurso disponível, o mesmo se aplica se a adição de recursos do solo levar a um comportamento de maior alocação em biomassa de raízes. Este comportamento caracterizaria uma plasticidade para intensificação do forrageamento pelo recurso disponível no presente; 2) Alternativamente, se o recurso é oferecido no solo e a planta investe mais sua biomassa em parte aérea (ou o recurso é oferecido para parte aérea e a planta investe sua biomassa em raiz) esse comportamento plástico caracterizaria uma resposta de otimização do seu crescimento futuro, porque a planta estaria tentando aumentar a obtenção de um recurso que no momento se encontra limitante, mas que uma vez encontrado multiplicaria sua capacidade de crescimento. 66 MÉTODOS Para se testar estabelecimento de o papel plantas da em plasticidade gradientes fenotípica ambientais no foram utilizados dados de artigos publicados na literatura. Os dados estavam disponíveis em 46 estudos, que mediram 362 características em 125 espécies de 72 países distribuídos em todos continentes (Davidson, 2011). Para cada estudo foram extraídas as médias de cada tratamento, os desvios padrões e o tamanho amostral. A partir destes dados, foram calculadas o Heges g (Hedges, 1981) que constitui na diferença das médias estandardizadas, os dados foram transformados em módulos para termos somente o tamanho dos efeitos de forma comparável. Nesta meta-análise a autora separou as espécies em nativas e exóticas. Para o presente estudo as espécies foram agrupadas independentemente de sua classificação de invasibilidade. Para responder se as plantas são mais plásticas em seus atributos fisiológicos ou morfológicos, primeiramente separamos todas as 51 espécies que apresentavam medidas para ambos os atributos. Como atributos morfológicos considerou-se: Biomassa, comprimento da raiz, biomassa de raiz, proporção raiz/parte aérea, SLA e taxa relativa de crescimento. Constituindo encontram-se as seguintes o grupo variáveis: de atributos Conteúdo de fisiológicos Nitrogênio, Eficiência no uso de nitrogênio, Taxa fotossintética, Eficiência de uso de água. Calculou-se uma média de atributos para cada grupo por 67 espécie. Os dados foram analisados através de uma ANOVA onde as espécies foram utilizadas como bloco. Posteriormente foi feita uma correlação entre variáveis morfológicas e fisiológicas para compreender como estas estariam relacionadas. Para responder se o investimento em biomassa da razão raiz/parte aérea difere com o tipo de recurso experimentalmente modificado (acima ou abaixo do solo), foram separados os recursos capturados pela parte aérea da planta como luz e CO2 e os recursos do solo capturados pela raiz como água e nutrientes. Os dados foram analisados através de uma ANOVA onde a variável resposta foi o tamanho do efeito da plasticidade na proporção raiz/parte aérea e variável preditora o recurso: acima ou abaixo do solo. RESULTADOS Ao contrário do esperado, não encontramos diferenças entre plasticidades fisiológicas e morfológicas, porém a plasticidade difere entre espécies (Fig. 1, Tabela 1). Pode-se notar que algumas espécies são menos plásticas fisiologicamente do que morfologicamente, e o contrário também se aplica. No entanto, de modo geral, quando uma espécie possui alta plasticidade em características fisiológicas, também possui alta plasticidade em características morfológicas (Fig. 2). 68 Figura 1. Relações entre valores de plasticidade fisiológica e morfológica para 51 espécies ao redor do mundo. Para a maioria das espécies, ambos grupos (fisiológicos e morfológicos) possuem valores de plasticidade semelhantes. 69 Tabela 1. ANOVA testando a diferença de plasticidade fisiológica e morfológica em 51 espécies ao redor do mundo. As espécies diferem em seus níveis e plasticidade entre si, porém não há diferença entre plasticidade morfológica e fisiológica dentro das espécies Fonte gl SQ MQ F P Espécie 50 18.12 0.36 4.63 <0.0001 Tipo de plasticidade 1 0.13 0.13 1.74 0.193 Resíduos 3.90 0.07 50 Figura 2. Relação de plasticidade morfológica e fisiológica em 51 espécies de plantas. Espécies com alta plasticidade morfológica tendem a ter alta plasticidade fisiológica. Tabela 2. Resultados do teste de correlação entre plasticidade morfológica e fisiológica em 51 espécies de plantas. Características fisiológicas e morfológicas t gl P Correlação = 0.645 5.91 49 <0.0001 70 A proporção raíz/parte aérea difere de acordo com os tipos de recursos oferecidos para as plantas (Fig. 3, Tabela 3). Quando os recursos de luz e CO 2 são alterados, a razão raiz/parte aérea diminui, indicando um maior investimento em biomassa aérea em resposta ao aumento na disponibilidade desses recursos. Da mesma forma, quando os recursos como água e nutrientes são alterados, as raízes apresentam uma maior resposta plástica. Vale salientar que mesmo que as duas partes apresentem diferenças nos tamanhos dos efeitos devido à diferentes disponibilidades de recursos, existe uma maior resposta plástica nas raízes das plantas do que em sua parte aérea. (Fig. 3). Figura 3. Cálculo do tamanho do efeito da plasticidade para raiz:parte aérea de acordo com a modificação dos recursos. O tamanho de efeito é maior para as estruturas abaixo do solo do que para a parte aérea das plantas. 71 Tabela 3. ANOVA que compara o investimento de biomassa em raiz ou parte aérea (razão raiz:parte aérea) de acordo com a modificação dos recursos acima (luz e CO2) ou abaixo do solo (água e nutrientes) gl SQ F p Tipo de Recurso 1 2.71 7.48 Resíduos 54 19.57 0.00 8 72 DISCUSSÃO Diferença entre plasticidade fisiológicas e morfológicas. Ao contrário do que esperávamos, a plasticidade fisiológica não foi mais frequente que a morfológica em plantas amplamente distribuídas no globo. Esta abordagem, utilizando um grande número de espécies e com ampla distribuição geográfica não havia sido ainda realizada. Entendemos que, apesar de modificações nos atributos fisiológicos serem menos custosas (Silby e Grime, 1986), o maior investimento em atributos morfológicos é possível em situações em que as espécies evoluíram características para crescimento rápido em ambientes ricos em recurso em que o custo para produção de novas estruturas como folhas e galhos é baixo. Adicionalmente, a ampla variedade de plantas que foram estudadas deve contemplar um gradiente extenso de estratégias plásticas representadas pelo tradeoff entre crescimento e persistência, presente em várias comunidades vegetais, desde campos até florestas tropicais. Esse trade-off seria o ponto chave para determinar o tipo de estratégia adotada pelas plantas, e a posição em que a espécie se encontra dentro do gradiente de recursos (Berendse e Elberse 1989, Veneklaas e Poorter 1998; Walters e Reich 1999). O balanço entre plasticidades fisiológicas e morfológicas pode de maneira geral não apresentar diferenças, porém foi visto que existe diferença significativa entre as espécies e estas variaram quanto a sua capacidade plástica entre atributos morfológicos e fisiológicos (Fig.1). Cordell (1998), encontrou evidências, trabalhando 73 com uma espécie com diferentes genótipos em um gradiente de altitude, que a plasticidade morfológica está pré-determinada genotipicamente e a fisiológica responde melhor ao gradiente ambiental independente do genótipo. Acreditamos, neste sentido, que estudos que abordem de forma ampla e que compreendam a importância da pressão ambiental para estes tipos de plasticidade serão válidos no sentido de compreender a distribuição da plasticidade em suas formas e sua real importância. Potencial plástico das espécies Encontramos uma razoável correlação entre a plasticidade morfológica e fisiológica. Este fato pode ser discutido levando em consideração as pressões distintas do ambiente e sua relação com o histórico evolutivo da plasticidade. Uma população pode responder a um ambiente extremamente variável, tornando-se ao mesmo tempo mais plástica e geneticamente mais variável e assim paralelamente aumentar tanto a plasticidade fisiológica quanto morfológica (Cordell et al 1998). A literatura sugere que a plasticidade pode evoluir, quando há variação genética suficiente (Via e Lande 1987, Via et al 1995), devido às correlações genéticas com outros traços que estão sob seleção (van Kleunen e Fisher 2005). Em particular, o ambiente pode induzir mudanças no comportamento do indivíduo a um nível morfológico e / ou fisiológico (Price et al 2003) e tais mudanças podem ser cruciais para a sobrevivência em condições heterogêneas 74 (Gratani 1996, Zunzunegui 2011). A seleção para características fotossintéticas pode, muitas vezes, operar indiretamente através correlação com outras características. Assim, enfatizando a importância do fenótipo como uma função integrada de crescimento, morfologia, história de vida, e da fisiologia (Arnts e Delphs 2001). O tempo de desenvolvimento da planta pode em si ser plástico (Sultan 2000) e muitas respostas fenotípicas às mudanças no recurso podem ser consequência da redução do crescimento devido à limitação do mesmo (Gratani e Crescente 1997, Dorn et al 2001). Devido ao balanço entre pressões ambientais e a interdependência entre traços morfológicos e fisiológicos de plantas, podemos assumir que em geral, as plantas respondem de maneira esperada quanto à capacidade plástica como um todo. Influência do recurso na alocação raiz/parte aérea Para a proporção de raiz/parte aérea, alterações na plasticidade devido ao aumento de recursos destinados à raiz foram evidentes. Este fenômeno pode ser explicado pelo fato de que o investimento em raiz possui longa duração, baixa ciclagem e sua complexidade de tecidos é mais baixa comparada com as partes aéreas das plantas (Grime and Makey, 2002). Esta estratégia plástica também pode ser particularmente importante para a adaptação ao aumento da temperatura e seca pois uma menor copa reduz a perda de água devido à transpiração (DeLucia et al., 2000) e uma grande rede de raiz melhora o acesso à água e nutrientes (Markesteijn e Poorter 75 2009). Várias espécies são conhecidas por aumentarem sua alocação de biomassa para as raízes, quando expostas ao estresse hídrico (Valladares e Sanchez-Gómez 2006). O grau de plasticidade na adaptação razão raiz/parte aérea, no entanto, é desconhecido em outras partes do mundo. Em espécies de zonas temperadas, por exemplo, os estudos têm sido muitas vezes restritos às medidas de crescimento acima do solo (Reich e Oleksyn 2008). A abundância de luz e recursos relacionados ao solo podem ser negativamente correlacionados espacialmente em ambientes naturais (Schlesinger et al., 1990; Alpert e Mooney, 1996). Neste sentido, nosso trabalho aponta resultados importantes no que diz respeito à plasticidade em setores da planta que correspondem localmente a seus recursos limitantes. Acreditamos que este resultado pode ajudar futuros estudos que pretendam discutir a relevância da plasticidade. Este trabalho demonstra que plantas não só diferem em suas capacidades plásticas frente às alterações ambientais, mas que também o seu conjuntamente maquinário para fisiológico expressar e morfológico características evoluiu plásticas. Adicionalmente, a plasticidade em plantas é usada como um meio de intensificar a captura de um recurso quando este se torna disponível. Ressaltamos aqui que as estratégias plásticas das plantas individuais são de grande relevância para entendermos adaptações locais e padrões globais, desta forma sugerimos que essas estratégias sejam consideradas em futuros estudos. 76 REFERÊNCIAS Aerts, R. (1999) Interspecific competition in natural plant communities: mechanisms, trade-offs and plant-soil feed- backs. Journal of Experimental Botany , 50, 29–37. Aerts, R. e Chapin, F.S. III. (2000) The mineral nutrition of wild plants revisited: a re-evaluation of processes and patterns. Advances in Ecological Research, 30,1–67 Alpert, P., & Mooney, H. A. (1996). 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