Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Efeito da Intervenção Psicoterápica Breve em Portadores de Diabetes Mellitus II Maria de Lourdes Fernandes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. São José dos Campos, SP 2004 Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Efeito da Intervenção Psicoterápica Breve em Portadores de Diabetes Mellitus II Maria de Lourdes Fernandes Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Ciências Biológicas. Orientadora: Profª. Dra. Rosé Colom Toldrá São José dos Campos, SP 2004 F41e Fernandes, Maria de Lourdes Efeito da intervenção psicoterápica breve em pacientes portadores de Diabetes Mellitus II / Maria de Lourdes Fernandes. São José dos Campos: UniVap, 2004. 110 p.: il.; 31cm. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Ciências Biológicas do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba, 2004. 1. Psicoterapia Breve 2. Diabetes Melittus II I. Toldrá, Rose Colom, Orient. II. Título CDU: 159.964.28 Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação, por processos fotocopiadores ou transmissão eletrônica. Assinatura do aluno: Data: Maria de Lourdes Fernandes Banca Examinadora: Profa. Dra. VIVIANE SANTALUCIA MAXIMINO (UNIVAP) __________________ Profa. Dra. ROSÉ COLON TOLDRÁ (UNIVAP) ______________________________ Profa. Dra. JONIA LACERDA FELÍCIO (HCFMUSP) _________________________ Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do IP&¨D – UniVap São José dos Campos, 14 de junho de 2004. DEDICATORIA Dedico este trabalho a todos os Diabéticos do tipo II que este possa contribuir para uma melhor compreensão e melhores cuidados nesta doença. AGRADECIMENTOS Ao Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, na pessoa do Prof. Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco. Ao Prof. Dr. José Carlos Gogo, Coordenador do Programa de Pós Graduação em Ciências Biológicas. À Profª. Dra. Rosé Colon Toldrá, por me orientar nesse ideal científico. À Profª. Dra. Viviane Santalucia Maximino presidente da banca. À Profª. Dra. Jônia Lacerda Felício (USP), pela orientação psicológica deste trabalho. Ao Prof. Dr. Luís Vicente Franco de Oliveira, pela orientação ética deste trabalho. Ao Prof. Dr. Francisco Gorgonio da Nobrega, pela orientação genética deste trabalho. Ao Prof. Dr. Wellington Ribeiro, pela orientação farmacológica deste trabalho. Ao Prof. Dr. Márcio Magini, pela orientação estatística deste trabalho. Ao engenheiro Luis Carlos Ternis, (GE - Brasil) e ao engenheiro Carlos Alberto Ferreira de Oliveira (Embraer) pela montagem estatística do teste WHOQoL – bref. À D. Ivone do IP&D, pelo apoio e carinho nesta caminhada. Aos recepcionistas, aos auxiliares, à xerox e à cantina, por terem auxiliado e facilitado minha caminhada neste Instituto. À todos os funcionários da Biblioteca, que semanalmente me recebiam com carinho, em especial à Rosângela Taranger pelo apoio na montagem desse trabalho. À Clínica Sagrada Família e seus funcionários, especialmente à Dra. Aniete Carolina Camargo Roma, coordenadora do Centro de Apoio ao Diabético, por gentilmente aceitar orientar a parte médica desse trabalho, e cedido seus pacientes para a execução do projeto. Ao Dr. José Eduardo Pulga e a Dra. Shizuka Yamakami do CEAMA por gentilmente cederem alguns pacientes para o grupo controle. Aos participantes do grupo experimental e do grupo controle, pela oportunidade de aumentar meus conhecimentos. Aos colegas de turma, foi um prazer conhecê-los e caminharmos juntos neste momento tão especial de nossas vidas. AGRADECIMENTOS PESSOAIS A DEUS Por vezes senti meu corpo fraquejar e Tu estendeste Tua mão e ergueste-me, Por vezes, senti minha alma se abater e Tu me deste coragem para prosseguir, Por vezes, senti meu espírito desvanecer e Tu enviaste o Teu próprio espírito para me consolar. Hoje, a vitória é minha, e a Ti meu Deus toda honra e toda glória, eternamente. Amém. À minha mãe Pelo quanto orou por mim Aos meus filhos Juliana Cristina e Mauro Cézar, e minha sobrinha Heloísa, por acreditarem que eu conseguiria vencer. Aos meus familiares Por acreditarem em mim e no meu trabalho Aos meus amigos Que torceram por minha vitória Em especial À Ivone Regina Fernandes, minha irmã, por tudo o que fez por mim. Obrigada! Obrigada! Obrigada! Resumo Na Psicoterapia Breve percebe-se que, com as doenças, emergem nos seres humanos sentimentos de medo, revolta e impotência, estes sentimentos causam depressão, desânimo e angústia. White (1990), diz que o corpo e a mente interagem incessantemente e não há como dissociá-los. tema para este estudo, A escolha do Diabetes Mellitus II como deu-se por ser esta doença bastante desorganizadora das emoções, ela é silenciosa, e seus efeitos não são percebidos imediatamente, o diabético tende a uma atitude de negação, não tomando medidas necessárias na busca de hábitos saudáveis, acostumando-se à elevação e queda de sua glicose. O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da Psicoterapia Breve, na melhoria da qualidade de vida dos diabéticos. Os recursos utilizados foram: entrevista semi-estruturada para análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), exames glicêmicos de jejum e pós-prandial coletados no início e no final do trabalho de campo, aplicação do teste de Qualidade de Vida World Health Organization Quality of Life (WHOQoL – bref), no início e no final do mesmo. O estudo ocorreu no período de agosto a dezembro de 2003 em uma clínica para diabéticos em São José dos Campos com 22 pacientes; sendo 13 no grupo experimental e 9 no grupo controle. O grupo experimental participou de 16 sessões de Psicoterapia Breve. Os resultados sugeriram uma mudança de hábitos e comportamentos, bem como uma diminuição da ansiedade, uma redução da glicemia e também do peso corporal, produzindo uma resignificação na forma do diabético ver a vida resultando em melhora de sua qualidade. Palavras chaves: Psicoterapia Breve, Diabetes tipo II, Qualidade de Vida ABSTRACT In Short Psychotherapy it is noticed that, in human beings, together with physical illnesses, also arise feelings of fear, rebellion and powerlessness. These feelings cause depression, discouragement and anxiety. White (1990) says that the body and the mind interact constantly and it is impossible to disassociate them. Diabetes Mellitus II was chosen as the subject of this study, due to the fact that this pathology disorganizes the nervous system; it is silent and its effects are not noticed immediately. The diabetic patient tends to have a negative attitude, does not take the necessary measures in the search of health habits and gets used to the rise of and fall of the glucose level. The subject of this study was to evaluate the effect of Short Psychotherapy in the improvement of life quality for the diabetics. The following resources were used: semi-structured interview to analyze the Discussion of the Collective Subject (DCS), blood samples to verify the glucose level at the beginning and at the end of the field study, application of the World Health Organization Quality of Life (WHOQoL - bref) test at the beginning and at the end. The study ocurred during the period of August to December of 2003 in a clinic for diabetics located in São José dos Campos São Paulo, Brazil. There were 22 patients – 13 in the experimental group and 9 in the control group. The experimental group participated in 16 sessions of Short Psychotherapy. The results showed a change of habits and behaviors, decrease of the anxiety level, reduction of the glucose, and also decrease of the body weight, an overall renewal of the way diabetic patients see life as a whole resulting in a bitter quality of life for them. Key Words: Short Psychotherapy, Diabetes Mellitus II, Quality of Life Sumário Introdução...................................................................................................................... 02 1. Diabetes Mellitus.......................................................................................................... 06 1.1 Definição.............................................................................................................. 06 1.2 Breve História do Diabetes Mellitus.................................................................... 06 1.3 Etiologia do Diabetes Mellitus............................................................................. 07 1.3.1 Aspectos Genéticos do Diabetes Mellitus................................................... 08 1.3.2 Aspectos Ambientais do Diabetes Mellitus ............................................... 09 1.4 Aspectos Emocionais do Diabetes Mellitus ........................................................ 10 1.5 Epidemiologia do Diabetes Mellitus.................................................................... 11 1.6 Tipos de Diabetes Mellitus .................................................................................. 11 2. Diabetes Mellitus tipo II .............................................................................................. 14 2.1 Histórico .............................................................................................................. 14 2.2 Problemas Decorrentes do Diabetes Mellitus II .................................................. 17 3. Tratamentos ................................................................................................................. 22 3.1 Acompanhamento Médico................................................................................... 22 3.1.1 Aspectos Psicológicos do Exame Médico .................................................. 23 3.1.2 Avaliação Glicêmica .................................................................................. 23 3.1.3 Medicamentos ............................................................................................. 24 3.2 Dieta .................................................................................................................... 26 3.3 Exercícios Físicos ................................................................................................ 28 3.4 Acompanhamento Psicoterápico ......................................................................... 29 4. Psicoterapia ................................................................................................................ 33 4.1 Algumas Modalidades da Psicoterapia ............................................................... 34 5. Psicoterapia Breve ....................................................................................................... 42 5.1 Histórico .............................................................................................................. 42 6. Materiais e Métodos ................................................................................................... 48 6.1 Tipo de Estudo .................................................................................................... 49 6.2 Local da Pesquisa de Campo ............................................................................... 49 6.3 Critérios de Inclusão da População ..................................................................... 49 6.4 Critérios de Exclusão da População .................................................................... 50 6.5 Critério de Seleção da População ........................................................................ 50 6.6 Procedimento do Trabalho de Campo ................................................................ 50 6.7 Procedimento da Psicoterapia Breve................................................................... 51 6.8 Metodologia para Análise dos Dados ............. ..................................................... 52 7. Resultados e Discussão ............................................................................................... 7.1 Resultados e Discussão dos Dados Quantitativos ............................................. 56 57 7.1.1 População Pesquisada ............................................................................... 57 7.1.2 Doença em Relação à População Pesquisada ................................... ......... 62 7.2 Resultados e Discussão dos Dados Qualitativos ................................................ 75 7.2.1 Caracterização do Discurso do Sujeito Coletivo ........................................ 75 7.2.2 Teste de Qualidade de Vida WHOQoL – bref Análise dos Dados ........... 87 8. Considerações Finais.................................................................................................... 92 Referências Bibliográficas........................................................................................... 95 Anexos: a- Certificado do Comitê de Ètica nº. L042/2003/CEP................................................ 103 b- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido......................................................... 104 c- Primeira Entrevista Individual................................................................................. 105 d- Entrevista Semi-Estruturada para o Discurso do Sujeito Coletivo.......................... 106 e- Teste de Qualidade de Vida WHOQoL – bref disponível para uso científico no site http://www.ufrgs.br/psip/whoqol5.html ............................................ 107 Lista de Figuras 1. Pâncreas face anterior e detalhe dos ductos.......................................................... 16 2. Ilhotas de Langerhans - figura esquemática........................................................ 17 3. Visão do diabético com retinite proliferante........................................................ 18 Lista dos Gráficos 1. Distribuição dos grupos estudados segundo a faixa etária................................. 59 2. Distribuição dos grupos estudados segundo tempo da doença........................... 63 3. Distribuição do grupo experimental segundo peso corporal.............................. 70 4. Distribuição do grupo controle segundo peso corporal...................................... 70 5. Distribuição da glicemia de jejum do grupo experimental................................. 71 6. Distribuição da glicemia de jejum do grupo controle ........................................ 72 7. Distribuição da glicemia pós-prandial do grupo experimental........................... 73 8. Distribuição da glicemia pós-prandial do grupo controle .................................. 73 9. Teste WHOQoL – bref do grupo experimental ................................................ 89 10. Teste WHOQoL – bref do grupo controle.......................................................... 89 Lista de Quadros 1. Distribuição dos grupos segundo o sexo............................................................. 58 2. Distribuição dos grupos segundo o estado civil.................................................. 59 3. Distribuição dos grupos segundo a escolaridade................................................. 60 4. Distribuição dos grupos segundo a profissão...................................................... 61 5. Distribuição dos grupos segundo a faixa salarial .............................................. 62 6 .Distribuição dos grupos segundo a hereditariedade .......................................... 64 7. Distribuição dos grupos segundo problemas de saúde........................................ 65 8. Distribuição dos grupos segundo sintomas decorrentes do Diabetes.................. 66 9. Distribuição dos medicamentos por participante do grupo experimental........... 67 10. Distribuição dos medicamentos por participante do grupo controle.................. 68 11. Distribuição da classificação do Diabetes nos grupos estudados....................... 74 12. Quadro nº 12 do Discurso do Sujeito Coletivo .................................................. 77 13. Quadro nº 13 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 79 14. Quadro nº 14 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 80 15. Quadro nº 15 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 81 16. Quadro nº 16 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 82 17. Quadro nº 17 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 83 18. Quadro nº 18 do Discurso do Sujeito Coletivo................................................... 84 19. Quadro n° 19 do Discurso do Sujeito Coletivo.................................................. 85 1 INTRODUÇÃO A mente que se abre a uma nova idéia, jamais voltará ao seu tamanho original. Albert Einstein 2 Introdução O presente trabalho visa como objetivo geral, avaliar o efeito da Psicoterapia Breve em pacientes com Diabetes Mellitus II e sua influência na qualidade de vida dos mesmos. A escolha do Diabetes Mellitus II deu-se por ser uma doença que apresenta várias complicações decorrentes de uma disfunção do pâncreas, que pode ser desde um simples mau funcionamento, até a perda da capacidade de produção de insulina, o Diabetes apresenta-se em nossos dias com altas taxas de morbidades tornando-se um problema de saúde pública, o Diabetes do tipo II, abrange 90% dos 151 milhões de adultos diabéticos no mundo, segundo dados do IBGE. A Psicoterapia Breve tem sido identificada segundo Kahtuni (1996) como uma psicoterapia que favorece a população economicamente carente e que, por ser de curta duração, pode ser largamente utilizada em instituições. As técnicas utilizadas em Psicoterapia Breve realmente tornaram-na acessíveis a uma ampla camada da população que se encontra em sofrimento psicológico, porém, o que é mais peculiar na Psicoterapia Breve é seu binômio crise-foco, crise significa a ruptura temporária de um estado de equilíbrio, e foco significa estabelecer o problema que desencadeou a crise para ser trabalhado em psicoterapia. A crise advém do sofrimento que pode ser interno (etapas de desenvolvimento) ou externo (acidentes, doenças ou morte na família). No mundo atual, continua Kahtuni (1996) em que se cronometram os minutos e o estresse já virou lugar comum, as pessoas procuram soluções rápidas para seus problemas e a situação de crise demanda mudança, seja ela numa direção saudável ou não, a Psicoterapia Breve é uma oportunidade que se oferece na busca de mudanças saudáveis a todos os que procuram ajuda neste sentido. A Psicoterapia Breve foi utilizada nos primórdios da Psicologia, obtendo êxito no pós guerra e nas terapias hospitalares, onde se fazia necessário abordar além dos problemas médicos, os transtornos psíquicos que estava-se vivendo naquele momento. Nas doenças crônicas a Psicoterapia Breve é um bom coadjuvante, auxiliando o sujeito em sua nova etapa de adaptação e mudanças que se farão necessárias para a promoção da sua saúde física e emocional (GILLIÉRON 1986). White (1990) diz que, o corpo padece pelo que está contido na mente e esta padece quando o corpo adoece, numa íntima relação entre a mente e o corpo, quando um é afetado o outro se ressente. O estado da mente atua muito mais na saúde do que 3 muitos julgam, muitas das doenças sofridas pelo homem são resultado de depressão, ansiedade, remorso, culpa e desconfiança, todos esses sintomas tendem a consumir as forças vitais. No tratamento do enfermo não se deveria esquecer o efeito da influência mental, devidamente usada, essa influência proporciona um dos mais eficazes meios para minimizar os efeitos da doença. Winter (1997), comenta que, nós os seres humanos temos “dois corpos” o biológico e o psicológico, precisamos aprender a entender o que se passa entre eles; no biológico funciona a rotina, a sobrevivência da espécie, o que é pré-determinado (nutrição, excreção, movimentos), no psicológico reside o tudo e o nada, o amor e ódio, a alegria e tristeza, as interpretações do mundo de acordo com o que foi recebido desde o ventre materno. As doenças circulam por entre os dois corpos transitando livremente entre a lógica do corpo e a “terra de ninguém” que é o psicológico, quase sempre desorganizando-os. Winter comenta ainda que, o medo e a insegurança poderão desencadear doenças. O ser humano nasce frágil e totalmente dependente e permanece assim por um bom período de tempo, dependendo da atitude e do investimento dos pais para que possa evoluir. Se há uma boa inter-relação familiar no propósito do desenvolvimento biológico e psicológico deste ser, ele estará sendo preparado para a vida e quando chegar seu momento de pensar, agir e se organizar sozinho isto não será para ele doloroso e nem carregado de medo. Porém, se não houver estímulos e investimentos, este ser tende a dar seus primeiros passos rumo à vida com medo e insegurança, e neste contexto, pode-se apresentar o desencadear dos desequilíbrios orgânicos o que mais tarde poderá evoluir para uma enfermidade. Mas o ser humano adulto consegue mudar sua organização biológica e psicológica através de seus pensamentos e desejos, se assim ele quiser ou buscar a ajuda que achar necessária para sua sobrevivência. São muitas as razões que movem as pessoas a realizarem algo, como psicóloga, o que me moveu a realizar este projeto, além da busca de um maior conhecimento científico, foi o profundo desejo de auxiliar os que sofrem com doenças crônicas como o Diabetes. Utilizaremos neste trabalho as palavras: Diabetes Mellitus, para relacionar todos os tipos de diabetes, e Diabetes Mellitus II, relacionar a doença alvo deste estudo, Diabetes Mellitus tipo II e Diabetes para e diabético (s) ,paciente (s), indivíduo (s) sujeito (s), ou participante (s), ao relacionar o ser humano deste estudo. 4 O primeiro capítulo descreve sobre o Diabetes Mellitus, sua etiologia, epidemiologia, tipos e os aspectos genéticos, ambientais e emocionais; O segundo capítulo enfoca o Diabetes Mellitus II e suas implicações como doença crônica; O terceiro capítulo, apresenta as formas de tratamentos do Diabetes do tipo II e sua importância; O quarto capítulo, trata da história da Psicoterapia e algumas de suas modalidades; O quinto capítulo, descreve especificamente a Psicoterapia Breve, seu conteúdo histórico e suas técnicas; O sexto capítulo, relaciona os Materiais e Métodos utilizados nesta pesquisa; O sétimo capítulo, apresenta os Resultados e a Discussão, que foram apreendidos no trabalho de campo; e no último capítulo as considerações finais do trabalho. 5 DIABETES MELLITUS Competência para servir a humanidade deveria ser, sem dúvida, o grande objetivo e resultado de todos os estudos. Benjamim Franklin 6 1. Diabetes Mellitus 1.1 Definição Davidson (2001), define o Diabetes Mellitus como uma síndrome com componentes metabólicos, vasculares e neuropáticos inter-relacionados. A síndrome metabólica é caracterizada por alterações no metabolismo dos carboidratos, das gorduras e das proteínas, que são secundárias a uma ausente ou diminuída secreção de insulina ou a uma ação ineficiente desta, causando a hiperglicemia, que pode gerar a síndrome vascular, tanto nos grandes vasos (macroangiopatia), como nos pequenos vasos (microangiopatia). As macroangiopatias são os acidentes cerebro-vasculares, infartos do miocárdio e doenças vasculares periféricas, estes riscos estão presentes em qualquer paciente, mas parecem ser mais precoces e mais severos em pacientes diabéticos. As microangiopatias são as retinopatias e a nefropatia diabética. 1.2 Breve História do Diabetes Mellitus Willians e Pichup (2001), descrevendo a história do Diabetes, relatam que existem registros de Diabetes desde a antigüidade, e citam os papiros de Ebers datados de 1550 a.C., que descrevem pacientes com sede intensa, urina abundante e emagrecimento até a morte, características estas próprias do Diabetes. O sabor doce da urina (daí provem o nome da doença - Mellitus) foi redescoberto no século XVII pelo médico inglês Thomas Willis em 1679, mas só em 1776 o médico Matthew Dobson mostrou que o sabor doce da urina era devido ao excesso de açúcar no sangue. No século XIX o fisiologista francês Claude Bernard demonstrou a importante ligação entre o Sistema Nervoso Central e o Diabetes. Neste mesmo século Paul Langerhans em Berlim descreveu em sua tese de doutorado, pequenos agrupamentos de células no pâncreas que hoje conhecemos como “Ilhotas de Langerhans”que tem como uma de suas funções produzir e secretar insulina. Em 1889 dois médic os de Estrasburgo, Dr. Oscar Minkowski e Josef von Mering, removeram o pâncreas de um cão a fim de observar a importância deste órgão para a vida, o animal apresentou sinais típicos de Diabetes como polidipsia (sede 7 intensa), poliúria (urina intensa) e definhamento. Este experimento demonstrou na época que era um distúrbio pancreático que causava o Diabetes. No início do século XX, vários pesquisadores alemães, romenos e americanos isolaram extratos hipoglicêmicos impuros do pâncreas dando mais um passo importante na elucidação do Diabetes. A insulina foi descoberta em 1921 na Universidade de Toronto, no Canadá por quatro cientistas, o cirurgião Frederich G. Banting, seu assistente Charles H. Best, o bioquímico James B. Collip e o fisiologista J.J.R. Macleod. O Dr. Frederich e seu assistente injetaram pancreactomizados extratos pancreáticos resfriados de cães, em cães que demonstraram um declínio das concentrações da glicose sangüínea, o Dr. Collip desenvolveu um procedimento melhorado de extração e purificação de extratos pancreáticos e o primeiro paciente diabético Leonard Thompsom foi tratado em 1 de janeiro de 1922. A partir de 1923 a insulina foi amplamente comercializada na América do Norte e Europa. Com estes importantes avanços o Dr. Frederich Sanger recebe em 1958 o prêmio Nobel de Química, por descrever a estrutura primária da insulina, ou seja, a seqüência de aminoácidos nas duas cadeias da molécula e a Dra. Dorothi Hodgkin recebe em 1969 o prêmio Nobel de Química, por descrever a estrutura tridimensional da insulina utilizando os dados da cristalografia por raios X. 1.3 Etiologia do Diabetes Mellitus Segundo Brunner e Suddarth (1998), não se conhecem completamente a etiologia dessa enfermidade, admite-se a participação de fatores genéticos e ambientais. O Diabetes Mellitus é uma afecção que resulta da quebra na capacidade do corpo em produzir ou utilizar a insulina, este é um hormônio poderoso secretado pelas células Beta das Ilhotas de Langerhans no pâncreas e desempenha um papel fundamental nos processos metabólicos do corpo, pois controla o armazenamento e o metabolismo dos combustíveis ingeridos. Após uma refeição a secreção de insulina facilita a captação, a utilização e o armazenamento da glicose, dos aminoácidos e das gorduras, promovendo o armazenamento do glicogênio no fígado, a utilização da glicose nos músculos e o acúmulo de gordura nos tecidos adiposos, acelerando o transporte da glicose através das membranas celulares. No indivíduo não diabético, a velocidade com que a insulina é liberada pelo pâncreas é proporcional à quantidade de glicose no sangue, normalmente as células Beta 8 pancreáticas estimulam ou bloqueiam a secreção de insulina minuto a minuto, de acordo com as mudanças nos níveis de glicose no sangue. No Diabetico, a insulina não é secretada nesta mesma proporção por causa de alguns possíveis fatores: deficiência na produção de insulina pelas células Beta, insensibilidade do mecanismo secretor de insulina, liberação retardada ou insuficiente de insulina ou inativação excessiva pelos inibidores químicos ou pelos fixadores existentes na circulação. Para Contreras (1994), o Diabetes é um estado de hiperglicemia crônica, produzido por diversos fatores tanto genéticos como ambientais. 1.3.1 Aspectos genéticos no Diabetes Mellitus Para Wajchenberg (1995), a existência de um componente genético é indicada pela maior concordância para Diabetes entre gêmeos homozigóticos do que entre os dizigóticos. Com efeito, estudos da proporção de concordância de Diabetes entre gêmeos monozigóticos revelou uma concordância de 90% quando um deles tem Diabetes do tipo II, enquanto a concordância foi de 54% quando um deles apresenta Diabetes do tipo I, assim para o Diabetes tipo II, há uma forte influência genética, mas o modo de herança e a natureza dessa influência permanecem indefinidos. Segundo Lee (1997), na tentativa de descobrir os mistérios da vida, os cientistas estão pesquisando mais e mais a última fortaleza do nosso corpo, as células, e dentro da célula o seu núcleo. Neste núcleo estão depositados os segredos de cada célula individualmente. Cada pequena célula recebe impressas no núcleo, as exatas funções e atividades que ela precisa desempenhar, o núcleo é uma espécie de memória ou consciência da célula, a célula não tem liberdade de agir como bem lhe apraz, ela deve ser subordinada aos comandos de seu núcleo, que segue a orientação previamente impressa em seus componentes básicos: os genes. Lee (1997) comenta que, quando adotamos um estilo de vida sem qualidade ocorre uma de-gene-ração, a alteração do gene provoca um estado doentio no organismo, e quando adotamos um estilo de vida com qualidade os genes então se re-gene-ram, voltando a funcionar normalmente, e o resultado é a reconquista da saúde. 9 1.3.2 Aspectos Ambientais no Diabetes Mellitus Para Wajchenberg (1995), se o componente genético do Diabetes envolve a predisposição para a síndrome clínica, os fatores ambientais também tem um papel muito importante na emergência da doença, dentre estes o mais importante é a obesidade, pois cerca de 80% dos pacientes diabéticos do tipo II são obesos; resistência à insulina e aumento da concentração plasmática da insulina são fatos bem estabelecidos na obesidade, o grau de hiperinsulinemia parece ser proporcional à massa total de gordura corpórea. Nas populações com elevados números de diabéticos, a obesidade é também excessivamente prevalente. Um fator importante é a dieta comenta ainda Wajchenberg, um estudo com uma população indígena revelou que, antes da chegada dos colonizadores brancos, a dieta tradicional dos índios Pima no Arizona era rica em hidratos de carbono e proteína, principalmente de fontes vegetais, suplementadas por pequena quantidade de caça, consumindo muita fibra e pouca gordura. Na metade do século XX, com o contato maior com os colonizadores de origem européia, a dieta dos índios Pima se alterou bastante instaurando a Obesidade e o Diabetes. Outras populações como a mexicanoamericano estudada no Texas sugeriu que as mudanças no estilo de vida tradicional (agric ultura de subsistência ou caça) para o estilo de vida dito moderno ou ocidentalizado, predispôs também à Obesidade e conseqüentemente ao Diabetes. Outro fator ambiental com conseqüências para os diabéticos é o sedentarismo, Almeida et al (1997) comentam que, a atividade muscular se faz com consumo de glicose e que o exercício muscular representa, como que um segundo pâncreas, dado a sua importante interferência no metabolismo. Além do que, a vida ativa, expressa pelos pequenos e grandes exercícios, o trabalho com atividade física, a caminhada, ou os esportes, ocupam um papel importante na vida do homem. Ao lado do estímulo à esfera psíquica, a atividade física é também um segundo coração, a cada movimento, estamos ajudando o coração a ter um retorno melhor do sangue venoso, o treinamento físico aumenta a sensibilidade à insulina, enquanto que a inatividade física diminui. No Diabetes tipo II, o treinamento físico pode melhorar a tolerância à glicose e é um grande auxiliar na perda de peso. 10 1.4 Aspectos Emocionais no Diabetes Mellitus Segundo Kirsta (1999), o estresse é o estado de estímulo com o qual o corpo responde as exigências da vida. Não podemos viver sem estresse, já que enfrentamos esses desafios o tempo todo, nossa resposta é imediata, rápida e eficiente, é uma reação em cadeia de processos automáticos do corpo, que liberam uma onda instantânea de energia e força nos preparando efetivamente para lutar ou recuar. Porém a resposta do nosso corpo a estes desafios freqüentemente não é apropriada, a situação em si não é nociva, já que podemos descarregar a energia e a tensão geradas, mas, em geral quando enfrentamos situações persistentes e repetitivas que inconsciente estimulam o corpo, a energia é produzida, mas não usada. A pressão física é acumulada e pode levar à exaustão e à doença, para evitar esta situação precisamos aprender a liberar a pressão por meio do exercício ou do relaxamento. Acima de tudo, o estresse é o que nós achamos que ele é, algumas pessoas podem se sair bem em uma determinada situação, enquanto outras podem achá-la apavorante e altamente desgastante. A falta de estímulo pode ser tão estressante quanto o excesso. Mas o estresse só se torna prejudicial quando não podemos controlar nossas respostas a ele. Reconhecer este fato é o primeiro passo vital para reduzir seus efeitos nocivos em nossa vida. Em um artigo da Internet, Márcio Versiani professor titular de psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde dirige o Programa de Ansiedade e Depressão, relata que 20% da população em geral apresentam depressão. Os pacientes diabéticos têm ainda maior chance, pois o Diabetes altera o equilíbrio hormonal (podendo causar o estado depressivo). Versiani (2003) comenta ainda que, em situações de estresse, também há um aumento na secreção de alguns hormônios, principalmente o cortisol, que age contra a insulina e ajuda a manifestar o diabetes. O autor acrescenta outro motivo para a estreita ligação entre o diabetes e a depressão - a obesidade, que acomete muitos pacientes e que poderia facilitar o quadro de angústia, assim como o fato dos diabéticos terem dificuldade de conviverem com a disfunção. Outro fator associado à depressão é a terceira idade, uma das fases de maior pico da doença conforme Versiani, vale frisar que tristeza não é o mesmo que depressão. A primeira é um sentimento; a segunda, uma disfunção orgânica e psíquica que pode ser tratada com inibidores de recaptação de serotonina e psicoterapia. É fundamental que o 11 paciente tenha um bom relacionamento com seu médico, em todos os aspectos, especialmente o psicológico. 1.5 Epidemiologia do Diabetes Mellitus Segundo dados da International Diabetes Federation (2000), o número da população adulta entre 20 e 79 anos com Diabetes é de 151 milhões no mundo o que corresponde a 4,6 % dessa população (IBGE). A Organização Mundial da Saúde (2000) apontou 160 milhões de pessoas que foram consideradas diabéticas no mundo em todas as faixas etárias. No Brasil, o Diabetes está entre as 10 principais causas de mortalidade. Uma estatística do censo de 1989, único oficial no país, realizado pelo Ministério da Saúde em conjunto com a Associação Brasileira de Diabetes (ABD), apontou 7.6 % da população brasileira como diabética. índice desta população No Estado de São Paulo está contido o maior 9,66 %, sendo que as maiores prevalências por faixa etária são: dos 60 aos 69 anos (17,43 %) e dos 50 aos 59 anos (12,66 %). Este mesmo censo, revela que 23 % desta população diabética, não faz nenhum tratamento, 29 % faz apenas dieta, 7 % usam insulina e 41 % usam hipoglicemiantes orais. A doença antes se manifestava por volta dos 45 anos, hoje já se tem registro de pacientes com 30 anos e até mais jovens. O Diabetes tipo II evoluiu sem dar o menor sinal de sua presença, os principais fatores de risco são: obesidade, tolerância diminuída à glicose, sedentarismo, hereditariedade e estresse. 1.6 Tipos de Diabetes Netto (2000), descreve alguns tipos de Diabetes que são considerados secundários por sua baixa incidência, são eles: Diabetes hipofisário, hepático, renal, tireoidiano, gestacional e lábil, porém os de maior incidência são os do tipo I e II. Katzung (2003) relata que, recentemente a American Diabetes Association, procedeu a uma revisão da classificação e terminologia do Diabetes Mellitus. Os termos anteriormente melito utilizados, diabetes não-insulino-dependente melito (DMNID), diabetes tipo I e tipo II respectivamente. insulino-dependentes foram substituídos (DMID) pela e diabetes nomenclatura 12 O Diabetes tipo I inclui casos que decorrem da destruição das células Beta do pâncreas inviabilizando a produção de insulina, enquanto o diabetes tipo II, consiste em defeitos combinados da secreção e ação da insulina, variando desde uma resistência à insulina predominante com deficiência relativa de insulina até um defeito secretor predominante com resistência à insulina. Nos Estados Unidos, o número estimado de indivíduos portadores de diabetes é de 14 milhões, 1,5 milhões são do tipo I, e a maioria restante do tipo II. O tipo I é o mais grave, associado a cetose quando não tratado. Ocorre geralmente em indivíduos jovens, e algumas vezes em adultos não obesos, ou idosos quando a hiperglicemia aparece pela primeira vez; ele é caracterizado pela ausência de insulina, elevação dos níveis de glucagon e falta de resposta das células Beta do pâncreas a todos os estímulos insulinogênicos, tornando-se necessário a administração de insulina exógena para evitar a cetose e reduzir os níveis de glucagon e glicose. O Diabetes tipo II é a forma mais leve da doença, ocorrendo predominantemente em adultos, e ocasionalmente em adolescentes. Nesse caso a insulina endógena é suficiente para evitar a cetose, todavia é quase sempre inadequada, devido à falta de sensibilidade dos tecidos à insulina, como foi observada na maioria dos pacientes do tipo II, independente do peso corporal, além disso, verificou-se também uma deficiência na resposta das células Beta pancreáticas à glicose. Tanto a resistência à insulina quanto a resposta diminuída das células Beta à glicose parecem ser ainda mais agravadas pela hiperglicemia pronunciada, ambos os defeitos melhoram com a introdução das sulfoniluréias que reduzem a hiperglicemia, quando o tratamento dietético e a tentativa de redução de peso, não atingem o objetivo. 13 DIABETES MELLITUS TIPO II Aprender sobre aquilo que realmente nos atrai, não é apenas um exercício acadêmico, mas uma realística e concreta atitude em direção a um senso de gratificação pessoal. Jim Durant 14 2 Diabetes Mellitus Tipo II Segundo Brunner e Suddarth (1998), o Diabetes Mellitus tipo II é uma doença crônica, degenerativa e ocorre em maior escala após os 45 anos, constituindo a quinta causa principal de morte nos Estados Unidos e uma das principais causa de cegueira em adultos, em geral os diabéticos tem uma vida mais curta que outras pessoas na população em geral, existe uma história familiar de diabetes em um terço de todos os diabéticos. 2.1 Histórico Para Lee (1997), o Diabetes Mellitus do tipo II abrange 90% dos diabéticos, e é um problema relacionado com as células que não tem suficiente número de receptores de insulina para permitir a entrada de glicose, e tecidos acumulando-as no sangue. Assim as células que necessitam desta glicose para produzir energia acabam passando por racionamento. Essa incapacidade da glicose em penetrar nas células e fornecer a energia necessária às atividades vitais, é atribuída à falta de insulina, pois a função desta é “abrir as portas das células” para a glicose entrar, e quando isso não acontece a glicose se acumula no sangue que congestionado eliminando o excesso pela urina. Igualmente para Bandeira et al (1998), o Diabetes Mellitus tipo II, anteriormente mais conhecido como não-insulino-dependente, é responsável por cerca de 90% dos diabéticos e caracteriza-se por hiperglicemia associada a vários graus de resistência à insulina e disfunção da célula beta. Estima-se que o número de diabéticos dobrará em todo o mundo até o ano 2010. As regiões mais vulneráveis são aquelas em mais rápido desenvolvimento, como Ásia e América do Sul, em que o aumento da expectativa de vida da população, assim como a ocidentalização do estilo de vida, incluindo diminuição da atividade física e aumento da ingesta calórica, exerce importante papel no aparecimento de pessoas com diabetes. O aumento crescente na prevalência de obesidade nos adolescentes vem sendo responsável pelo número cada vez maior de indivíduos com diagnóstico de Diabetes tipo II nesse grupo etário. Além disso, a doença oferece elevadas taxas de morbidade e 15 mortalidade, que, aliadas a sua alta prevalência em seu curso assintomático, colocam-na entre as principais prioridades em saúde pública em todo o mundo. A mortalidade 20 anos após o diagnóstico é essencialmente cardiovascular entre 15% a 30% dos diagnosticados, o colesterol e a hipertensão, interagem com o Diabetes no sentido de determinar essa taxa de mortalidade. Continuando Bandeira et al (1998), diz que o componente genético é forte, o que é demostrado pela possibilidade 5 a 10 vezes maior de um paciente com história familiar desenvolver a doença em relação à população em geral; fatores ambientais, como obesidade e sedentarismo, tem importante interação com a genética, de modo geral em 90% dos diabéticos do tipo II, 80% deles apresentam-se com obesidade. O diagnóstico desta doença pode ser confirmado da seguinte forma: através de exame de sangue em jejum, se este apresentar uma porcentagem de glicose acima de 126 mg/dl, em duas ocasiões diferentes, associado ao exame de glicemia pós prandial feito 2 horas após uma refeição, apresentado este um valor acima de 140 mg/dl e um exame de sangue medindo a hemoglobina glicada, apresentando valor acima de 6,5%. O Diabetes Mellitus tipo II, não é uma doença isolada, havendo uma associação freqüente entre hiperglicemia, hiperinsulinemia, obesidade, dislipidemia e hipertensão, produzindo doença coronária e acidente vascular cerebral. Para Wajchenberg (1998), o Diabetes tipo II é uma afecção crônica caracterizada por anormalidades no metabolismo dos hidratos de carbono, proteínas e gorduras e freqüentemente acompanhada, após um certo período de tempo, por alterações microvasculares específicas, macrovasculares e neuropáticas. Aceita-se hoje que o Diabetes Mellitus tipo II, compreende um grupo de patologias genéticas e clinicamente heterogêneas em que a intolerância à glicose é o denominador comum, ele é de início geralmente insidioso, apresentando-se com pouco ou nenhum sintoma e sinais clínicos típicos do diabético. A idade de início geralmente é após os 40 anos, sendo a sua incidência progressivamente maior com o envelhecimento, atingindo o pico aos 60 ou 65 anos, a ingestão excessiva de calorias, com conseqüente obesidade está freqüentemente presente nestes pacientes. Segundo Wajchenberg (1998), o Diabetes tipo II classifica-se em três categorias: Diabetes leve com glicemia de jejum até 140mg/dl, Diabetes moderado com glicemia de jejum até 200 mg/dl e Diabetes severa com glicemia de jejum acima de 200 mg/dl. O Diabetes é uma doença que ocorre no pâncreas, este é do tamanho de uma mão e localiza-se atrás da parte baixa do estômago, produzindo duas enzimas: o suco 16 pancreático composto por substâncias químicas especiais chamadas enzimas digestivas que ajudam a digerir o alimento nos intestinos, e hormônios, tais como a insulina, que ajuda a controlar a quantidade de glicose no sangue. As enzimas trabalham para “quebrar” as proteínas, gorduras e açúcares dos alimentos, fazendo com que o organismo possa absorvê-los melhor. Figura 1 – Pâncreas face anterior e detalhe dos ductos Figura extraída da Enciclopédia Multimidia do Corpo Humano – volume 4 17 São dois os principais hormônios produzidos pelo agrupamento de células do pâncreas chamadas de “Ilhotas de Langerhans”, as células-beta produzem a insulina responsável pelo trabalho de facilitar a entrada da glicose nas células, e as células-alfa, produzem o glucagon, responsável pelo aumento dos níveis de glicose no sangue. (www.diabetenet.com.br) Figura 2 – Ilhotas de Langerhans – figura esquemática Figura extraída da Enciclopédia Multimidia do Corpo Humano – volume 4 2.2 Problemas decorrentes do Diabetes Mellitus Tipo II Valle, Ornellas e Franco (1979) e Netto (2000), comentam que as complicações agudas acontecem quando a glicemia tem variações intensas num curto espaço de tempo, ocorrendo em questão de horas ou de poucos dias o coma hiperglicêmico, que se dá quando a glicose está muito alta ou o coma hipoglicêmico, quando os níveis glicêmicos se tornam excessivamente baixos, estas complicações são mais raras nos diabéticos do tipo II, já as complicações crônicas ocorrem em decorrência do processo degenerativo e está ligada ao mau controle da doença, sendo a mais importante a aterosclerose, que incide em maior ou menor intensidade em todos os seres humanos a partir de 40 anos. Entre os diabéticos, especialmente convenientemente, o aqueles que não se cuidam processo é mais intenso, constituindo-se na deposição de substâncias gordurosas nas paredes das artérias e arteríolas, como se fora o entupimento 18 lento de um cano. Daí resulta uma progressiva redução da quantidade de sangue circulante, interferindo assim na irrigação dos órgãos. Ao longo dos anos a aterosclerose se agrava e, entre os diabéticos atinge com maior intensidade as pequeninas artérias das partes mais importantes do organismo, como seja: o cérebro, a retina, o coração, os rins, pernas e pés. Valle, Ornellas e Franco (1979) e Netto (2000), descrevem que na retina vamos encontrar os microaneurismas, que surgem, sobretudo, em torno da mácula (ponto de maior acuidade visual), assemelhando-se a cabeças de alfinete. Aí também se localizam pequenas hemorragias, as quais indicam a progressão da esclerose das arteríolas; novas hemorragias podem ir aparecendo, bem como manchas em floco de algodão e a mais grave complicação – a retinite proliferante, resultando a cegueira. Figura 3 – Visão do diabético com retinite proliferante Figura extraída do site http://encarta.msn.com/midia Tanto a hipoglicemia como a hiperglicemia podem trazer alterações de visão, como a miopia, visão dupla e vista embaçada, que são de caráter temporário, e cessam com a volta do açúcar sangüíneo ao normal, os líquidos intra-oculares contêm açúcar e as 19 variações da glicemia alteram as pressões destes líquidos e, como conseqüência, surgem as perturbações visuais. As lesões das gengivas, particularmente em torno dos dentes (periodontites), são mais freqüentes entre os diabéticos mal controlados que entre os bem tratados ou pessoas normais. A incidência de cáries é aparentemente a mesma entre diabéticos e não diabéticos. As periodontites e o tártaro são, assim, complicações dos diabéticos habitualmente mal cuidados. Por outro lado, não é raro diabéticos bem tratados terem excelente dentição. Isto é explicado pelo bom cuidado com a saúde, o bom estado de nutrição e pelo cuidado que um diabético, que vai freqüentemente ao médico, tem consigo mesmo, e com os seus dentes. Gonçalves (1996), ressalta a doença renal como uma das complicações sérias pois pode evoluir para uma diálise e, posteriormente nos casos mais sérios, para a necessidade de um transplante. A perda da visão talvez seja a complicação mais temida, a ansiedade que ela desperta à menor alteração de retina representa muitas vezes um quadro assustador para o diabético. A obesidade constitui o principal fator de risco para o Diabetes tipo II, pois cerca de 80% deles são obesos, e muitos estudos mostraram uma forte relação entre o índice de massa corpórea e o risco de Diabetes. A obesidade e o consumo exagerado de alimentos tendem a criar um estado de resistência à insulina. Para Brito (1998) e Netto (2000), no Diabetes os problemas de pele surgem com mais facilidade, alguns deles podem acometer qualquer pessoa, mas com os diabéticos acontecem mais freqüentemente. Entre esses estão as infecções causadas por bactérias, são três as mais freqüentes, 1- terçol, infecção de uma glândula da pálpebra, 2furúnculo, infecção da raiz de um pêlo ou de uma glândula da pele, 3- carbúnculo que são várias espinhas próximas umas das outras, o furúnculo e o carbúnculo ocorrem com mais freqüência na parte de trás do pescoço, nas axilas, nas virilhas ou nas nádegas. Todas estas afecções são causadas mais freqüentemente pela bactéria estafilococo. As mais freqüentes infecções provocadas por fungos são quatro: 1- Dermatite nas virilhas, consiste em uma área de prurido avermelhado que se espalha da região ao redor dos genitais, para a parte interna das coxas, 2- Pé-de-atleta, a pele que fica entre os dedos dos pés torna-se cheia de pruridos e dolorida, podendo rachar, descascar ou formar bolhas, 3- Tinha é um anel avermelhado, escamoso, que pode formar bolhas ou se tornar cheio de pruridos, pode aparecer nos pés, nas virilhas, no couro cabeludo, nas unhas ou no tronco, 4- Infecções vaginais que provocam corrimento espesso e esbranquiçado, que pode ser acompanhado de prurido, queimação ou irritação. 20 A dermopatia diabética, é uma manifestação cutânea em que surgem manchas escamosas, vermelhas ou marrons na parte frontal das pernas, ela é inofensiva e não necessita de tratamento. A Esclerose digital provoca espessamento e esticamento da pele das mãos, dos dedos e dos artelhos, e assume uma aparência cerosa e brilhante, a esclerose pode provocar dor e endurecimento nos dedos. O cuidado com os pés tem sua especial importância, pois o Diabetes pode estreitar e endurecer os vasos sangüíneos dos pés o que limita o fluxo de sangue tornando-os mais resistentes à infecções, cuidar dos pés para não ferí-los, mantê-los secos e arejados são cuidados necessários para o diabético, bem como deixar de fumar para melhorar a circulação sangüínea. 21 TRATAMENTOS De todas as ciências que o homem pode e deve saber, a principal é a ciência de viver fazendo o mínimo de mal e o máximo possível de bem. Leon Tolstoi 22 3 Tratamentos 3.1 Acompanhamento Médico No juramento de Hipócrates, o médico se compromete a fazer o bem, segundo o seu saber e a sua razão, o paciente coloca sua vida na mão do médico com total confiança, e toda a palavra dita por ele, é a mais pura verdade para o paciente. Segundo White (1990), o médico é um verdadeiro educador, ele reconhece sua responsabilidade, não somente para com o doente que se acha sob seu cuidado imediato, mas também para com a coletividade no meio da qual vive, ocupa este o lugar de guardião da saúde. É seu esforço, não somente buscar métodos corretos no tratamento dos enfermos, mas incentivar hábitos saudáveis de vida. Para Capisano (1993), toda pessoa em seu projeto de vida, enfrenta diariamente situações conflitivas, sejam elas de mudança (emprego, lugar, postura) ou de perdas (emprego, entes queridos, saúde) e procura resolvê-las para adaptar-se à realidade, quando consegue, vive seus dias livre de sintomas, quando não, perturba-se com o aparecimento de manifestações psíquicas que levarão ao adoecimento do corpo, não podendo prosseguir adequadamente sua labuta habitual, onde se faz necessário a busca de ajuda. Segundo Pierre Marty, “o procedimento médico, como o procedimento terapêutico, procura analiticamente, partindo do complexo para o mais simples, os elementos constitutivos do ser humano, com o intuito de compreender o percurso habitual ou os distúrbios da construção e do funcionamento deste ser. Procura também identificar os fenômenos exteriores que intervêm nessa construção e nesse funcionamento. As duas ciências se ajudam mutuamente, uma confiando à outra seus setores de maior competência” (DEBRAY 1995). 23 3.1.1 Aspectos Psicológicos do Exame Médico Para o paciente as técnicas usadas para identificar alterações anatômicas ou funcionais contêm outro componente, muitas vezes esquecido pelo médico. Assim, na inspeção está incluído o ato de olhar, na palpação e na percussão o de tocar e na ausculta o de ouvir. Se o médico estiver consciente do significado psicológico das técnicas semióticas, verificará como isso reforça a relação médico - paciente pela proximidade que se estabelece com o doente. É necessário, portanto, compreender que inspecionar e olhar são indissociáveis, enquanto palpar e tocar são procedimentos que se complementam. A síntese desse duplo significado do exame físico é mais bem compreendida ao considerar-mos o que os pacientes querem traduzir quando dizem ao médico: “ Doutor, estou em suas mãos “. Esta expressão tem duplo sentido, tanto quer dizer que o paciente espera que das mãos do médico, saia uma prescrição ou ato cirúrgico capaz de livrá-lo de um padecimento como a ele está entregando sua vida permitindo-lhe decidir o que é melhor ( PORTO 2000). 3.1.2 Avaliação da Glicêmia São 3 os tipos de exames mais comuns que geralmente os médicos utilizam para medir os níveis glicêmicos nos pacientes com Diabetes Mellitus. Segundo o Manual de Exames do Laboratório Fleury (1999), o exame Glicemia de Jejum, é útil no diagnóstico das hiper e hipoglicemias; para o diagnóstico de diabetes é necessário valor igual ou superior a 125 mg/dl, na amostra de jejum, em pelo menos duas oportunidades. O exame de Glicemia Pós Prandial, é utilizado na avaliação de pacientes com probabilidade de desenvolver diabetes, é colhido material (amostra de sangue) duas horas após uma refeição, valores abaixo de 140 mg/dl são considerados normais; entre 140 e 200 mg/dl são considerados como intolerantes; acima de 200 mg/dl, em pelo menos 2 ocasiões, é compatível com o diagnóstico de diabetes. Hemoglobina Glicada é uma glicose sangüínea ligada à hemoglobina, este exame é útil como parâmetro de controle do paciente diabético. Para Gordon (1997), este é o melhor método de se medir a glicose, pois quando a glicose se liga à hemoglobina que está contida nos glóbulos vermelhos, forma a hemoglobina glicosilada ou glicada quanto maior a taxa de açúcar no sangue, maior será a quantidade de hemoglobina glicada 24 presente nele. Os glóbulos vermelhos vivem aproximadamente um período de quatro meses. Não se apresentou os resultados deste exame neste estudo em virtude do tempo da Psicoterapia Breve coincidir com o tempo de vida da hemácia (4 meses) o que não demonstraria nenhum resultado significativo. Chacra et al (2003), comenta que, no decorrer dos anos ou décadas a hiperglicemia prolongada promove o desenvolvimento de lesões orgânicas extensas e irreversíveis, afetando os olhos, os rins, os nervos, ou os grandes e pequenos vasos, ademais estes níveis constantemente elevados são tóxicos ao organismo. 3.1.3 Medicamentos Valle, Ornellas e Franco (1987), relatam o surgimento das drogas hipoglicemiantes, nos experimentos do médico francês M. Janbon, em 1942 que observou a ação hipoglicemiante de uma sulfa recomendada para o tratamento da febre tifóide. A introdução de certas sulfas na terapêutica do Diabetes data de 1946, quando foram descobertas e estudadas pelo médico francês Loubatières, que utilizava sulfas para infeccões, e verificou que os animais morriam em convulsões e que estas derivavam da hipoglicemia. Nesses estudos, Loubatières observou que dois tipos de sulfas eram capazes de produzir queda da glicemia. Após a 2ª Guerra Mundial, isolou as sulfas que foram reconhecidas como úteis no tratamento do Diabetes, estas sulfas foram: O BZ-55 ou Carbutamida, que se mostrou com apreciável efeito hipoglicemiante, além de grande ação antiinfecção. Em numerosas experiências clínicas desta droga, foram observadas manifestações tóxicas diversas. Na literatura há a citação de uma dezena de casos fatais, infelizmente ocorridos. O D-860 ou Tolbutamida, resultou de uma modificação da fórmula original da Carbutamida. Não tem ação antiinfecção e seu efeito hipoglicemiante é um pouco menor que o daquela. Por apresentar mínimos efeitos secundários, passou a ser usada de preferência. A Chlorpropamina, é uma modificação da droga anterior, de eliminação lenta pelo organismo e permitiu bom efeito hipoglicemiante, com doses menores. Um outro grupo de medicamentos hipoglicemiantes não derivado das sulfoniluréias é representado pelas biguanidas, elas têm como característica principal reduzirem a taxa glicêmica, sem interferência sobre o estímulo à produção de insulina pelo pâncreas. Seus mecanismos de ação são variados, como baixar a gluconeogenese 25 (formação de açúcar a partir das proteínas), aumentar perifericamente a utilização de glicose, reduzir a absorção de glicose pelo tubo intestinal. Estão contra-indicadas nos diabéticos sem reserva pancreática e tem melhor ação no grupo dos diabéticos estáveis e obesos. As sulfoniluréias hipoglicemiantes não são isentas de ação secundária, elas podem causar a hipoglicemia, muito mais freqüente do que se imagina, são indicadas somente para os diabéticos do tipo II, que não se controlam só com dieta. O uso de drogas orais para os diabéticos mais idosos (alguns com certo grau de insuficiência renal, deve ser feito com a maior prudência e em doses pequenas. Segundo Wajchenberg (1995), as sulfoniluréias são bem absorvidas pelo trato digestivo; e há uma substancial diferença na velocidade de absorção de diferentes preparados de tolbutamida, tolazamida, clorpropamida, gliburida, glipizida e gliquidona. Para reduzir eficazmente os níveis de glicose pós-prandial as sulfoniluréias de menor tempo de ação, devem ser ingeridas 30 minutos antes das refeições. A clorpropamida, com tempo de ação mais prolongado, tem menor efeito hipoglicemiante se for administrada junto com o alimento. Estima-se que 90 a 99% da dose de sulfoniluréias absorvida, circula ligada a proteínas principalmente a albumina. A excreção das sulfoniluréias e seus metabólitos são feitos pela urina, com exceção da gliquidona que é excretada na bile. Não é bem conhecida a depuração dessas drogas pelo rim. Sabe-se que a meia vida de eliminação da glipizida é curta e da clorpropamida bastante longa. Cerca de 60 a 70% dos diabéticos do tipo II respondem bem à terapêutica com esses hipoglicemiantes. É importante afastar outras causas de descontrole, como negligência na dieta e infecções. As sulfoniluréias são utilizadas no tratamento do Diabetes tipo II, quando dieta e exercícios não são suficientes para controlar a glicose; as sulfoniluréias são contra indicadas nas insuficiências renal e hepática. A clorpropamida não deve ser usada em pacientes com insuficiência cardíaca. Rang, Dale e Ritter (2001), descrevem que o mecanismo de ação das sulfoniluréias tem sua principal ação sobre as células Beta das Ilhotas, estimulando a secreção de insulina, reduzindo assim a concentração plasmática de glicose. Katzung (2003), relata que no momento o mercado americano dispõe de quatro categorias de agentes antidiabéticos orais, chamado de secretagogos da insulina, as sulfoniluréias descritas anteriormente, são as mais utilizadas, as biguanidas, as tiazolidinodionas e os inibidores da alfa-glicosidase. As sulfoniluréias e as biguanidas 26 estão disponíveis há mais tempo no mercado e são as escolhas iniciais para o tratamento do Diabetes tipo II. As tiazolidinodionas, são agentes muito eficazes que reduzem a resistência à insulina infelizmente, a formulação mais amplamente prescrita, a troglitazona, tem sido associada à hepatotoxicidade; os inibidores da alfa-glicosidase possuem efeito antidiabético relativamente fraco e efeitos adversos incômodos, e são utilizados como terapia adjuvante em indivíduos que não conseguem atingir as metas glicêmicas com o uso de outras medicações. Em recente publicação de Avenell et al (2004), ficou demonstrado que o uso da metformina reduziu a mortalidade após 10 anos em obesos com Diabetes Mellitus II associadas a dietas de baixas calorias e exercícios físicos; E que, estudos combinando dietas de baixas calorias, exercícios físicos e terapias de conhecimentos, sugeriram melhora na hipertensão e doenças cardiovasculares. Na perda de peso, o paciente adquire benefícios e sai da faixa de risco da mortalidade. 3.2 Dieta Para Bandeira et al (1998), a dieta tem como objetivo básico não só alcançar o controle glicêmico, mas também do peso, dos lipídios, lipoproteínas e da pressão arterial, mantendo oferta suficiente de micronutrientes, como vitaminas e minerais. Uma perda de peso melhora o controle do Diabetes mesmo se o peso ideal não for alcançado. Brito (1998), explica que para se sentir bem e permanecer sadio, o diabético precisa manter sua taxa de glicose dentro dos parâmetros recomendados por seu médico, manter esta taxa dentro do parâmetro ideal, evitando elevações e quedas, requer um certo esforço, o diabético pode conseguir isso conciliando uma alimentação balanceada, atividades físicas e medicamentos. As gorduras também fazem parte de cada célula do corpo, entre as gorduras estão o colesterol e os triglicérides. Essas substâncias são produzidas pelo próprio organismo e podem ser obtidas de alimentos de origem animal. O organismo utiliza o colesterol para formar as paredes das células e para produzir certas vitaminas e hormônios, os triglicérides são usados como reserva de gordura, essa reserva mantém o corpo quente, protege os órgãos e funciona também como reserva de energia. O colesterol e o triglicérides viajam pelo corpo através do sangue e para que isso aconteça, ambos precisam ser carregados, e para isso utilizam as lipoproteínas (lipo significa 27 gordura). Existem três espécies de lipoproteínas: a de densidade muito baixa, que é chamada de VLDL, sigla que vem do inglês (very-low-density-lipoprotein), essa lipoproteína carrega entre outras gorduras, o triglicérides e o colesterol, conforme avança na corrente sangüínea deixa escapar triglicérides e outras gorduras, que aderem ao tecido gorduroso do corpo, transformando em LDL ( low-density-lipoprotein) que é a lipoproteína de baixa densidade, esta leva o colesterol para onde o organismo necessita dele. No trajeto, porém, o colesterol pode ficar retido nas paredes dos vasos sangüíneos o que acaba gerando problemas na circulação, quanto menos LDL houver no organismo melhor. A lipoproteína de alta densidade, ou HDL (high-density-lipoprotein), retira o colesterol das paredes dos vasos sangüíneos e leva-o para o fígado, onde é neutralizado e depois eliminado do corpo, quanto mais HDL houver no organismo melhor. Pessoas com Diabetes geralmente têm alta taxa de gordura no sangue, o que as coloca em risco de sofrer distúrbios cardíacos, infarto do miocárdio ou derrame cerebral. Cabe neste momento explicitar-mos as taxas ideais de gordura no sangue: Colesterol total, abaixo de 200 mg/dl. Colesterol LDL, abaixo de 130 mg/dl. Colesterol HDL, acima de 35 mg/dl. Triglicérides, abaixo de 200 mg/dl. Também para Brito (1998), uma dieta, ou alimentação saudável, deve conter pouca gordura saturada e colesterol, uma quantidade moderada de proteínas, e ser rica em complexos de carboidratos e fibras. Para seguir uma dieta deste tipo, é necessário ingerir menos alimentos que contenham gordura e colesterol, dando preferência a gorduras não-saturadas, como por exemplo: óleo de milho, algodão, soja, girassol, oliva, canola, amendoim. Gorduras saturadas, como por exemplo: carnes, laticínios, toucinho, banha e óleos extraídos de castanhas elevam a taxa de colesterol mais do que qualquer outra coisa que se coma, as gorduras não-saturadas por sua vez, baixam a taxa do colesterol, ele é encontrado nos alimentos de origem animal, como por exemplo: os ovos, leite integral, queijos e carnes, estes devem ser consumidos com moderação. Para fazer uma dieta adequada em proteínas, deve-se dar preferência aos peixes, vegetais, grãos e legumes que são pobres em colesterol. Para uma dieta rica em carboidratos e fibras, são mais indicados as frutas, verduras, grãos e legumes, que apresentam baixo teor de gordura e não contém colesterol. 28 3.3 Exercícios Físicos Já no século XVIII os exercícios tinham sua importância no tratamento de pacientes com Diabetes, estes ocasionam um aumento na utilização periférica da glicose, associado com o aumento na sensibilidade periférica da ação da insulina por 12 horas, após o final do exercício. Nos pacientes com diabetes do tipo II, com problemas freqüentes de resistência à insulina, obesidade e vasculares, o exercício é um potente coadjuvante, aliado à terapêutica e com baixo risco de hipoglicemia ( RAMALHO 2003). Gordon (1997), trabalha com exercícios físicos nos pacientes diabéticos na Clínica Cooper, seu programa visa atingir 4 objetivos: ajudar o paciente a controlar o açúcar sangüíneo, manter o peso ideal, melhorar a qualidade de vida e evitar o desenvolvimento de complicações da doença. Ele diz que um programa regular de exercícios é de grande valia no controle da taxa de açúcar no sangue para pessoas portadoras de Diabetes do tipo II, o aumento de atividade física é um fator muito eficiente na prevenção do Diabetes, e o efeito benéfico parece ser especialmente pronunciado nas pessoas com alto risco para a doença: os obesos, as pessoas com pressão alta e os filhos de diabéticos. O exercício sozinho não é a solução, uma dieta correta aliada é o método preferencial para conseguir a melhora do controle da glicose sangüínea. Para Bandeira et al (1998), o exercício físico tem importância não só na melhora do controle glicêmico, mas também na redução do risco cardiovascular, acompanhado de uma avaliação cardiológica sistemática. Nisto também Wajchenberg (1998) concorda, quando comenta que a atividade física é freqüentemente estimulada nos pacientes diabéticos pelos seus benefícios fisiológicos e psicológicos. A prática esportiva melhora a tolerância à glicose, aumenta a sensibilidade à ação da insulina, reduz os níveis de LDL e triglicérides e eleva o HDL, auxilia no controle da hipertensão arterial, perda de peso, melhora a capacidade cardiovascular e a qualidade de vida. No diabético do tipo II, um programa de dieta e exercícios constitui a abordagem mais efetiva para promover perda de peso e melhorar a ação da insulina, justificando o uso de hipoglicemiantes orais ou insulina apenas quando estes dois recursos tenham falhado. Embora existam contradições na literatura quanto aos efeitos do exercício isolado na regulação da glicose, a maior parte dos estudos constatou aumento da sensibilidade à ação da insulina, sendo especialmente beneficiados os diabéticos com alterações leves e 29 moderadas, por outro lado se o exercício for associado a uma dieta hipocalórica, o resultado é vantajoso. Continuando sua descrição Wajchenberg (1998) comenta que, a regulação da glicose durante o exercício no Diabetes tipo II, difere do normal, pois o aumento da utilização da glicose não é acompanhado de diminuição da concentração da insulina (portanto não há aumento da produção hepática de glicose). Consequentemente, há redução dos níveis glicêmicos em direções a valores normais, mas não em níveis hipoglicêmicos. Desta forma não há necessidade de suplementação alimentar. Todo diabético que intencione praticar esportes deve ser submetido a exame físico detalhado para identificar complicações macro, microvasculares e neurológicas que impossibilitem os exercícios, devem prevalecer os exercícios aeróbios sempre acompanhados inicialmente de aquecimento prévio e seguidos no final por uma fase de progressiva diminuição de atividade física, para reduzir o risco de alterações pressóricas e complicações musculoesqueléticas. 3.4 Acompanhamento Psicoterápico A importância do acompanhamento psicoterápico em doenças como o Diabetes que tem a característica de ser crônica e degenerativa é descrita por Brunner e Suddarth (1998) como sendo a transição da saúde para a doença uma experiência complexa e individual. Dois aspectos são encarados por qualquer pessoa nesta condição, primeiro modificar sua imagem corporal, o seu conceito de si mesma e sua relação de pessoa e trabalho, e segundo reajustar suas limitações reais e adaptar-se a sua nova condição. Neste cic lo saúde/enfermidade passa-se por três estágios: primeiro, a transição de saúde para a doença, segundo, o período de aceitação da doença e terceiro, a recuperação ou o controle da doença. Este ciclo gera ansiedade, estresse e medo do novo que se apresenta. Passos e Maciel (2000), acreditam que o apoio psicológico é importante a todas as pessoas que procuram lidar melhor com suas questões cotidianas, tomando consciência das suas necessidades, conhecendo suas limitações e potencialidades, podendo então superar as barreiras, buscando alternativas que sejam boas para si e os que o rodeiam. Considerando o portador de Diabetes como uma pessoa com sua 30 identidade, sonhos e medos, o apoio psicológico é importante, pois no momento do diagnóstico alguns se sentem limitados, o que muitas vezes acaba gerando tristeza, e pensamentos do tipo: “não tenho mais direito de viver bem”, isolando-se do grupo social em função de idéias errôneas a respeito do Diabetes. Outros não dão importância às recomendações médicas, por não apresentarem sintomas clínicos evidentes e outros se revoltam por ter que controlar coisas que anteriormente faziam livremente. Todos nós sentimos medo de mudança, o que gera insegurança, pois não sabemos como será o novo, no entanto, para buscar uma vida mais saudável, necessitamos resolver nossos complexos internos, nossas mágoas e tristeza para termos auto-estima adequada e vivermos bem a vida. Um aspecto importante do acompanhamento psicoterápico é desenvolver no paciente o valor do autocuidado, conforme comenta Orem (apud GEORGE et al, 2000) no autocuidado os seres humanos são diferenciados de outros seres vivos por sua capacidade de: refletir sobre si mesmo e seu ambiente, simbolizar o que eles experimentam e usar de criações simbólicas, (idéias, palavras) para pensar, comunicarse e orientar esforços para fazer coisas, que são benéficas para si a para os outros. O funcionamento humano integrado inclui os aspectos físicos, psicológicos, interpessoais e sociais. Devemos acreditar que os indivíduos tem potencial para aprender e desenvolver-se pois a necessidade de autocuidado não é instintiva, mas um comportamento aprendido, os fatores que afetam este aprendizado incluem a idade, a capacidade mental, a cultura, a sociedade e o estado emocional de cada um. O Ministério da Saúde (1993) comenta que, é preciso mostrar ao paciente, que o melhor controle do Diabetes reduz a incidência e a gravidade das complicações; é sem dúvida através da educação que os pacientes poderão melhorar sua qualidade de vida, permitindo sua plena integração na sociedade, com vantagens econômicas e sociais para o governo e a sociedade. A maioria das internações por elevação dos níveis glicêmicos ou infecções poderiam ser evitadas, com a educação e o treinamento desses pacientes, é preciso instruí-los sobre a fisiopatologia da doença, sua causa e o significado dos seus sintomas, além dos riscos a que ele está sujeito. É necessário que ele seja esclarecido sobre as possibilidades atuais que a medicina e os médicos têm para controlar o Diabetes, e que ele seja estimulado a participar ativamente do seu próprio cuidado, controlando sua dieta e seu exercício físico diário, bem como o correto uso dos hipoglicemiantes orais; deve-se ainda, ensinar o diabético a dar uma atenção especial à sua higiene, em particular a dos pés e pernas 31 evitando assim sérias complicações. A família deve ser estimulada a conhecer o assunto, no mínimo sobre as necessidades básicas que lhes permitam atender ao diabético em uma situação de emergência. Debray (1995), comenta que tentar compreender os mecanismos que regem o estado de saúde de uma pessoa, assim como os que vão entrar em jogo se ele adoecer, constitui um ambicioso projeto; estabelecer uma hierarquia entre o que corresponde ao psiquismo na doença, e o que corresponde ao corpo propriamente dito, como uma afecção, por exemplo, é um grande desafio. De fato o ser humano deve ser aprendido como um todo, mas ele é uma totalidade extremamente complexa, que num determinado momento do curso de sua vida, precisa fazer ajustamentos variados para realizar um estado de equilíbrio (saúde) ou desequilíbrio (doença). O que se passa no cenário mental de um indivíduo envolvido num movimento de desorganização atrai a atenção do profissional psicossomático, os fenômenos mentais sozinhos não constituem a causa das doenças crônicas, o homem não responde necessariamente às situações de doença com atividades mentais organizadas. Na verdade, a carga representada pela doença, será diferentemente suportada, de acordo com o lugar por ela ocupado na economia geral da pessoa. Quanto melhor for seu funcionamento mental, mais a doença se evidenciará e será assumida, para se proporcionar os cuidados necessários. Ao contrário, se o funcionamento mental estiver alterado, a doença poderá ser negada, podendo se tornar invasora e impossível de ser assumida, originando o desequilíbrio e as complicações. 32 PSICOTERAPIA “Para ver o que se passa na mente de outrem, precisamos repetidamente mergulhar no caudal de suas associações e sentimentos; precisamos nós mesmos, ser seu instrumento de ressonância.” John Nemiah 33 4. Psicoterapia Para Jung, (apud FADIMAN e FRAGER, 1986), a terapia é um esforço conjunto do analista e do analisando, trabalhando juntos como iguais. Uma vez que os dois formam uma unidade dinâmica; o analista precisa também estar aberto à mudança como conseqüência da interação. Ocorre um fato notável na psicoterapia, não se pode decorar nenhuma receita e aplicá-la mais ou menos adequadamente, mas só se é capaz de curar a partir de um ponto central; este consiste em compreender o paciente como um todo psicológico e chegar a ele como um ser humano, deixando de lado toda a teoria e ouvindo atentamente o que quer que ele venha a dizer. Davidoff (2001), descreve sobre o desenvolvimento inicial do estudo da área mental, que se deu com Gustav Fechner, o cientista da mente, no início da década de 1850, quando este começa a se interessar pela relação entre estímulo físico e sensação. Fechner levantava questões como: Quanto deve brilhar uma estrela para ser vista? Quão alto deve ser um ruído para ser ouvido? Quão forte deve ser um toque para ser sentido?, ele concebeu técnicas engenhosas para descobrir respostas precisas. Quando seu principal trabalho foi publicado em 1860, demonstrou-se com precisão como procedimentos experimentais e matemáticos podiam ser usados para estudar a mente humana. Wilhelm Wundt, foi o fundador da Psicologia Científica, lecionou fisiologia na Alemanha, demonstrando grande interesse pelos estudos dos processos mentais, na sua época a psicologia ainda não existia, seu conteúdo fazia parte da filosofia, a ambição de Wundt era estabelecer uma identidade independente para a psicologia. Em 1879 fundou o primeiro grande laboratório de pesquisa em psicologia, ele acreditava que os psicólogos deveriam investigar os processos elementares da consciência humana, suas combinações, relações e interações, o método de Wundt é em geral chamado de estruturalismo . Mas antes do surgimento do laboratório de Wundt, o psicólogo americano Willian James, montou seu modesto laboratório na Universidade de Harvard, para fins de ensino e demonstração dos fatores fisiológicos que influenciam a psicologia (alguns historiadores alegam que Wundt montou um laboratório deste tipo em 1865), o fato marcante é que o trabalho de James influenciou a psicologia em especial como observador da vida mental, sua psicologia tentava captar o temperamento da mente em funcionamento. Ao caracterizar a consciência usava frases como “pessoal e única”, “em 34 mudança contínua”, e “modificando-se ao longo do tempo”, acima de tudo achava notável como a consciência e outros processos mentais ajudavam as pessoas a se ajustarem às suas experiências. A ênfase de James sobre a mente em funcionamento reflete-se no nome atribuído ao movimento que surgiu em torno dele, o funcionalismo 4.1 Algumas Modalidades da Psicoterapia Iniciaremos a descrição com aquele que, ainda hoje é considerado o Pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Fadiman e Frager (1986) e Cloninger (1999), descrevem Freud como excelente aluno, nascido em 1856; aos quatro anos sua família mudou-se para Viena (Áustria) por motivos financeiros; por ser judeu foi perseguido na Universidade, escolheu estudar Medicina e aos vinte e seis anos recebeu seu diploma de médico, tornando-se médico interno do principal hospital de Viena, fez o curso de psiquiatria o que aumentou seu interesse pelas relações entre sintomas mentais e físicos. Em 1885, já era conferencista da Universidade de Viena, de 1884 a 1887 fez algumas das primeiras pesquisas com cocaína; o trabalho de Freud foi nascido das disciplinas de Neurologia e Psiquiatria, porém dando uma ênfase ao desenvolvimento normal e anormal da condição humana, escreve e faz experimentos sobre a histeria, a hipnose, a interpretação de sonhos e muitos outros temas que lhe chamavam a atenção. Freud explorou áreas da psique e criou novas abordagens para o tratamento da doença mental, seu trabalho contestou tabus culturais, religiosos, sociais e científicos da época, na sua determinação em ampliar os limites da psiquiatria, criou uma nova forma de tratar o doente mental, e em 1896 usou pela primeira vez o termo “psicanálise” em Viena, onde criou o movimento psicanalítico, com vários colegas médicos. Para Freud não havia nenhuma descontinuidade na vida mental, ele afirmava que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais; há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou ação. Freud cria a teoria do consciente e inconsciente psicanalítico, o consciente é somente uma pequena parte da mente, é tudo o que estamos cientes num dado momento, mas a maior parte da psique é inconsciente, ali estão os principais determinantes da personalidade, as fontes de energia psíquica, e pulsões ou instintos. No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disso, há o material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser 35 lembrado. Há uma vivacidade e imediatismo no material inconsciente. Memórias muito antigas quando liberadas à consciência, não perderam nada da sua força emocional. O propósito da psicanálise é revelar os complexos reprimidos que causam desprazer e que produzem sinais de resistência ante a tentativa de levá-los à consciência. Uma das atribuições da psicanálise é erguer o véu da amnésia que oculta os anos iniciais da infância e trazer à memória consciente as manifestações do início da vida sexual infantil que estão contidas neles. As metas pressupõem que se uma pessoa liberar-se das inibições do inconsciente, o ego estabelecerá novos níveis de satisfação em todas as áreas de funcionamento. Continuando, Fadiman e Frager (1986) e Cloninger (1999) descrevem, Carl Jung nascido na Suíça em 1875, escolheu a medicina e a psiquiatria como profissão, e, em 1900 torna-se interno de uma famosa clínica psiquiátrica em Zurique, em 1905 aos 30 anos já era professor em psiquiatria na Universidade de Zurique e médico efetivo desta clínica, Jung fazia críticas ao trabalho de Freud ao afirmar que as causas da repressão advinham sempre de traumas sexuais, porém nunca desconsiderou o seu valor. Freud convidou Jung para ir à Viena e num primeiro encontro conversaram treze horas ininterruptamente; a despeito da amizade ambos discordavam um do outro em pontos fundamentais. Freud e Jung rompem a amizade em 1912 e Jung desenvolve gradualmente suas próprias teorias sobre processos inconscientes criando a Psicologia Analítica. A concepção de Jung sobre o inconsciente pessoal é semelhante ao inconsciente da teoria psicanalítica. O inconsciente pessoal é composto de memórias esquecidas, experiências reprimidas e percepções subliminares. Jung formulou também o conceito de inconsciente coletivo. Também conhecido como impessoal ou transpessoal. Seus conteúdos são universais e não estabelecidos em nossa experiência pessoal. Este conceito constitui, talvez, a maior divergência em relação à Freud e, ao mesmo tempo, sua maior contribuição à Psicologia. Os conceitos mais usados nesta linha são a introversão e a extroversão, ninguém é só introvertido ou só extrovertido, Jung faz uma comparação com os batimentos cardíacos, na contração do batimento está a (introversão), na expansão do batimento está a (extroversão), cada indivíduo tende a favorecer mais uma do que a outra, nenhuma é melhor do que a outra, e não se pode manter ambas ao mesmo tempo, o ideal é ser flexível e capaz de adotar qualquer uma quando for apropriado, trabalhar em equilíbrio e não desenvolver uma maneira fixa de responder ao mundo. 36 Alfred Adler, foi o fundador da Psicologia Individual que enfatizou uma abordagem, a qual compreende cada pessoa como uma totalidade integrada dentro de um sistema social, seus princípios mais importantes são: o holismo, unidade do estilo de vida do indivíduo, o sentimento de comunidade e a existência de comportamentos dirigidos para um objetivo. Adler argumentava que os objetivos e expectativas têm maior influência no comportamento que as experiências passadas. Nascido em Viena em 1870, foi uma criança bastante doente, que lutou muito para superar sua fraqueza física, daí advindo sua ênfase teórica. Em 1895 tornou-se médico oftalmologista e depois clínico geral; posteriormente seus interesses voltaram-se para o funcionamento do sistema nervoso, deslocando-se então para o campo da neurologia e psiquiatria, era membro do círculo íntimo de Freud, que o indicou para ser o primeiro presidente da Sociedade Psicanalítica Vienense, as diferenças teóricas os separaram em 1911, Adler criou o termo “complexo de inferioridade” enfatizando que todos nós desenvolvemos conceitos de inferioridade quando criança, por causa do tamanho e a falta de poder, quando há uma percepção ou desejo de superação, lutamos pela superioridade que pode caminhar de forma positiva, trazendo satisfações na luta pelo crescimento, ou negativa gerando domínio sobre os outros. Adler e seus seguidores tornaram-se ativos no campo da educação especialmente em treinamentos de professores pois acreditava ser importante trabalhar com aqueles que formavam a mente e o caráter dos jovens; estabeleceram centros de orientação de crianças nas escolas públicas, onde estas e suas famílias podiam receber aconselhamento. Derivando também do círculo psicanalítico de Freud está Wilhelm Reich, fundador da Psicologia do Corpo, nascido em 1897 na Áustria, tornou-se médico em 1922, membro da Sociedade Psicanalítica, e vice-presidente de uma clínica psicanalítica fundada por Freud; em 1924 tornou-se diretor do Seminário para Terapia Psicanalítica, o primeiro Instituto de Treinamento para jovens analistas. O rompimento com Freud se deu pelas diferenças teóricas e pela recusa de Freud em analisar Reich, porém grande parte do seu trabalho se fundamenta na teoria psicanalítica; as primeiras contribuições da psicologia do corpo se basearam no conceito de caráter e couraça, pela necessidade do ego de defender-se contra forças instintivas. Segundo Reich o caráter de um indivíduo inclui um padrão de defesas que começa com o fator psicológico, e, gradualmente vai associando várias formas de 37 resistências transformando-as em uma couraça muscular. Ele enfatizou a importância de perder-se e dissolver-se a couraça muscular, além de lidar com o material psicológico. Reich descobriu que a perda da couraça muscular libertava considerável energia libidinal e auxiliava o processo de psicanálise, ele passa cada vez mais a trabalhar com a liberação das emoções (prazer, raiva, ansiedade) atravé s do trabalho com o corpo, isso conduzia a uma vivência muito mais intensa do material infantil descoberto na análise. Somente depois que a emoção “engarrafada” fosse expressa é que a tensão crônica poderia ser abandonada por completo. Aos poucos Reich começou a trabalhar diretamente com suas mãos sobre os músculos tensos a fim de soltar as emoções presas a eles. Os princípios básicos da Gestalt-terapia são de Frederich S. Perls, após sua formação médica, Perls foi atraído para a psicanálise, sua educação e as primeiras experiências profissionais com a psicanálise puseram-no em contato com Kurt Goldsteim e com as idéias da psicologia da Gestalt e do Existencialismo, foi ainda influenciado pela I Guerra Mundial; sua emigração da Alemanha nazista para a África do Sul como psiquiatra do exército, levou-o a desenvolver naquele país formas mais eficientes, segundo o autor, de tratamento psíquico juntamente com sua esposa Laura. A Gestalt-terapia se utilizou da teoria da percepção, da forma e do objeto, e como o indivíduo o percebe; se utilizou também da figura e fundo da Gestalt, ampliando-os incluindo a auto-percepção, a motivação e os aspectos motores do comportamento, enfatizando o “aqui e agora”, a compreensão da experiência e dos comportamentos. Caballo (1999), comenta a história da Terapia Comportamental (TC), as técnicas predominantes em TC são tão antigas quanto a história da humanidade, os princípios básicos do reforço e do castigo positivo e negativo foram utilizados durante milhares de anos de maneira intuitiva, desprovida de proposições formais sobre os princípios implicados. No final dos anos 50 registram-se notáveis esforços para sistematizar estes princípios, em certo sentido, poder-se-ia considerar que tais esforços constituíram o nascimento da TC tal como a conhecemos hoje. Mas por outro lado, a terapia comportamental tem muitas origens e nenhum fundador ou ponto de partida único. Nenhum país ou escola de pensamento pode reivindicar a exclusividade no campo da TC e nenhuma técnica tampouco poderá fazê-lo. 38 Os que se autodenominam “terapeutas comportamentais” tem o compromisso com a avaliação, a intervenção e os conceitos que se apoiam no tipo de marco teórico de aprendizagem E-R (estímulo-resposta). Quando a psicologia foi capaz de abandonar as especulações filosóficas em favor da metodologia científico-experimental, deixou o terreno preparado para que a TC germinasse. O trabalho de Pavlov sobre o condicionamento clássico, o de Watson sobre o comportamentalismo (behaviorismo), o de Thorndike sobre a aprendizagem e o de Skinner sobre o condicionamento operante, constituíram-se pedras angulares da TC, mesmo assim foi preciso esperar até o final dos anos 60 para que estes fundamentos conceituais se encontrassem preparados para sustentar toda a estrutura. Várias fronteiras foram sendo abertas para o conhecimento entre elas o biofeedback no campo médico, a psicofarmacologia, a psicologia ecológica, a psicologia comunitária e o mundo da administração e do governo, esta era também a época excitante da expansão intelectual em conceitos, metodologias e modos de encarar os dados além dos considerados pela teoria da aprendizagem tradicional. Desenvolveram-se métodos de tratamento mais sofisticados, aperfeiçoou-se a metodologia e estabeleceram-se melhores procedimentos para a avaliação dos resultados. A TC se desenvolveu na Inglaterra e se apoiava, em grande parte, no condicionamento clássico, o mesmo não se pode dizer dela nos Estados Unidos, talvez pelo ambiente e pelas conquistas diferentes, a ênfase nas variáveis externas, nas influências ambientais e no condicionamento operante de Skinner predominam até hoje nos Estados Unidos. Caballo (1999), comenta também a história da Terapia de Avaliação Cognitiva (TAC). As cognições (ou conhecimentos) e as avaliações (ou valorizações) de si mesmo, de outra pessoas e das situações são aspectos cruciais das emoções e das ações. A TAC supõe uma interdependência dos acontecimentos cognitivos, afetivos e comportamentais e uma necessidade de interagir os esforços terapêuticos em todos os aspectos do tratamento. A TAC desenvolveu-se não como resultado de uma investigação empírica específica, mas como conseqüência da prática clínica trabalhando a distimia e a ansiedade. D.Alessandro (1970), descreve a técnica do Psicodrama cujas origens se acham no Teatro, na Psicologia e na Sociologia, do ponto de vista técnico, constitui em princípio, um processo de ação e de interação. Seu núcleo é a dramatização, diferente das terapias verbais, o Psicodrama faz intervir manifestadamente o corpo em suas 39 variadas expressões e interações com outros corpos e o verbal é de responsabilidade do indivíduo, esta participação corporal na terapia demonstrou ser muito valiosa, para evidenciar as defesas conscientes e inconscientes do paciente, assim como sua conduta e quadros patológicos. J. L. Moreno é o criador deste método que insere nas técnicas da Psicologia a forma de tratar o indivíduo em grupo ao invés de isoladamente e de usar a ação, além da verbalização, a técnica é direta, o processo se realiza no “aqui e agora”, com todos os elementos emocionais da situação patológica que se expressam através dos personagens. O psicodrama coloca o indivíduo no seu meio, não o tratando isoladamente, investigando ao máximo os vínculos multipessoais e suas influências conjuntas, para sua utilização deve-se levar em conta três contextos, Social, Grupal e o Dramático, bem como, cinco instrumentos fundamentais, Protagonista ou Paciente, Cenário, Ego Auxiliares, Diretor ou Terapeuta e Auditório, e três etapas, Aquecimento, Dramatização e Comentários ou Análises. Esta técnica é muito utilizada em hospitais psiquiátricos. Estas são algumas das principais técnicas que a Psicoterapia se utiliza, dando suporte ao ser humano em seu caminhar frente há um problema que lhe traga medo ou angústia não lhe permitindo avançar com segurança. Atualmente entende-se que as psicoterapias podem ser compreendidas também sob o olhar de Gabbard (1992), este autor nos diz que, diante de um desconcertante espectro de teorias psicanalític as, poder-se-ia optar por negar o valor de toda e qualquer teoria, porém uma solução mais sensível, consiste em familiarizar-se com os fenômenos descritos, por todas, e focalizar cada perspectiva na medida em que for clinicamente adequada a determinado paciente. Deve-se permitir ao paciente, conduzir o terapeuta ao âmbito teórico que melhor se ajuste ao material clínico, pois a terapia não depende só da abordagem do terapeuta, ou qual linha este siga, mas da demanda do paciente e do que este necessita naquele momento, a atenção a esta necessidade definirá a melhor abordagem; se será diretiva, (mais típica da abordagem comportamental, de apoio, proteção e compreensão), se de insight, (mais típica da análise com maior aprofundamento no inconsciente), ou se ambas, conforme a primazia que o paciente determinar em sua fala. Finalizando Porchat (1999), ressalta que procura-se a psicoterapia, quase sempre por causa de problemas de várias ordens que se tornaram insolúveis e angustiantes para quem os vivência. Esta busca não é a solução dos problemas, pois não cabe ao terapeuta fornecer receitas para solucionar problemas; buscar soluções tem a ver 40 com a reorganização do mundo interior, as respostas aos problemas virão no decorrer desta reorganização e serão dadas pelo próprio paciente. Muitos destes problemas são características do nosso contexto socio-econômico-cultural, outros são universais, atemporais, pertencentes à condição humana, portanto o homem é um ser problemático e sua necessidade de ajuda sempre se fará presente ao longo da história. A psicoterapia parece ser o recurso atual, oficialmente aceito para a efetivação dessa ajuda, seus instrumentos de trabalho são: o conhecimento, a sensibilidade, a intuição e o domínio dos sentimentos e emoções. Caberia perguntar: sendo o homem um só, por que tantas psicoterapias?. Porque o homem possui diversas dimensões, ele é um ser pluridimensional, e, é por isso que se pode enfocá-lo, através do seu comportamento, dos papéis que ele representa, da sua vida psíquica ou do seu corpo. O enfoque de qualquer destas dimensões, corresponde às diferentes formas de psicoterapia; do ponto de vista dos resultados todas apresentam sua eficácia, o que não significa que não haja fracassos também. Um caminho para um bom êxito em psicoterapia, além do conhecimento teórico é o relacionamento desenvolvido entre terapeuta e paciente e a disponibilidade de ambos para o tratamento, provavelmente assim pode-se partir em busca do êxito e da busca da construção compreendidos. de uma vida onde os problemas poderão ser melhor 41 PSICOTERAPIA BREVE Não basta consolar, é preciso lutar bravamente para conseguir que a personalidade humana enfrente a dor e o sofrimento com algo mais do que uma resignação passiva. É preciso declarar uma só guerra contra a infelicidade e contra a morte. Neste combate, a psicoterapia, tanto individual como social, tem um posto avançado. Mira Y López (1941) 42 5. Psicoterapia Breve Psicoterapia Breve é uma forma de psicoterapia projetada para produzir mudanças terapêuticas em um curto espaço de tempo. As psicoterapias concentram suas expectativas de mudança no poder modificador e revelador da palavra, do paciente e do terapeuta. Não se obtém bons resultados na Psicoterapia Breve, em indivíduos que apresentam uma organização mental do tipo rígida ou severa, pois o fator tempo não permite que se trabalhe estruturas neuróticas, psicóticas ou histéricas com profundidade (FIORINI 1976). 5.1 Histórico Para Small (1974),” A Psicoterapia Breve é pelo menos tão antiga quanto os esforços de Freud na busca de uma cura para as neuroses. Do mesmo modo que a psicoterapia moderna, o conceito de psicoterapia breve enraíza suas origens na teoria psicanalítica”. p.5. Freud primeiro procurou uma cura rápida, ele acreditava que o conhecimento da causa de uma neurose conduziria prontamente à sua solução e cura, a ênfase inicial incidia sobre um rápido diagnóstico da psicodinâmica envolvida e sobre sua anulação através da forma ativa de interpretar. Nos primórdios da psicanálise, o tempo de duração da terapia não constituía problema relevante, os conceitos contrastantes de Psicoterapia Breve e Psicoterapia Longa só apareceram quando a psicoterapia e a psicanálise evoluíram até os processos mais prolongados agora utilizados. O Instituto Psicanalítico de Chicago em 1941 patrocinou uma reunião nacional, com o nome de, Simpósio Sobre Psicoterapia Breve; houve muito consenso entre os trabalhos apresentados, principalmente o de que é possível uma Psicoterapia Breve derivada da compreensão psicanalítica da personalidade. Um trabalho marcante apresentado e que exerceu grande influência na época foi o de que é possível aplicar a teoria psicanalítica aliada à sensibilidade humana em relação a uma pessoa que sofre. Deste simpósio resultou o livro, Terapia Psicanalítica de Franz Alexander e Thomas 43 French (1946), este trouxe uma grande contribuição às pesquisas em torno da psicoterapia mais breve, os autores, pesquisadores dedicados e criativos, procuravam com a colaboração de colegas do Instituto Psicanalítico de Chicago, definir os processos básicos que tornaram possível a existência de métodos psicoterapêuticos mais eficientes e mais breves. A luz que lançaram continua a iluminar esse campo, quase todos os esforços posteriores em busca de um método mais rápido estão relacionados àquelas pesquisas de campo das múltiplas inter-relações do comportamento humano, no sentido de um tratamento mais adequado e mais eficaz para cada indivíduo. Small (1974) diz que na abordagem tática para a psicoterapia estão as seguintes fases: (1) proteção do paciente (o tratamento requer que o terapeuta seja altamente astuto e flexível e, portanto, extremamente sensível às pistas, dicas e sinais); (2) investigação, como um meio de despertar o paciente para a atividade psicoterapêutica; (3) interrupção do ciclo ruminativo (voltar sempre ao foco); (4) uso da ¹terapia ocupacional (dar ao paciente tarefas, para serem feitas, pensadas ou analisadas fora da sessão); (5) iniciar uma mudança de atitude. O ponto crucial de uma Psicoterapia Breve, reside na flexibilidade e na adaptabilidade do terapeuta, que se refletem no cuidado com que ele revê e planeja a terapia de cada paciente. Na Psicoterapia Breve deve-se inserir os seguintes componentes (1) elevação da auto-estima diminuída, (2) restauração da confiança em si mesmo, (3) inversão da autoagressão, (4) quando possível estabelecer uma ligação dos aspectos de hoje, com a predisposição hereditária anterior, (5) lidar com as manifestações transferenciais, (6) oferecer apoio através da disponibilidade expressa pelo terapeuta, (7) atenção em caso de perigo de suicídio, (8) incentivo a terapia medicamentosa. Apesar do curto espaço de tempo na psicoterapia breve, a paciência e a vontade de ouvir são tão importantes como em qualquer tipo de psicoterapia, e não devem ser negligenciadas. ¹ Provavelmente, devido à época em que este livro foi escrito, este termo não se referia à profissão Terapia Ocupacional, mas sim a idéia de que fazer atividades é bom para a saúde Para Fiorini (1976), dentro da assistência institucional em equipe, o terapeuta não é apenas o agente da psicoterapia, mas também o supervisor e o coordenador do conjunto de atividades terapêuticas. Sua relação com o paciente ganha maior complexidade pelo 44 fato de que mantém contatos ao mesmo tempo com o paciente e com seus familiares, assim como por outra série de vínculos indiretos, através de outros pacientes, do pessoal empregado na instituição, e em outros contextos fora das sessões; estas ligações permitem ao terapeuta conhecer uma gama mais ampla de comportamentos do que aquelas reveladas na psicoterapia, assim como permitem dar mais relevo, para o paciente, aos traços da personalidade do terapeuta (em contraste com a impessoalidade necessária no enquadramento de uma analise). O terapeuta deve desempenhar na psicoterapia breve um papel essencialmente ativo. Exige-se dele uma ampla gama de interpretações, não se limitando ao material fornecido pelo paciente; mas, além disso, explora e interroga (começando pela minuciosa coleta de dados com que elabora desde o início a história clínica). O terapeuta sendo este introduz na sessão suas iniciativas para a confrontação, promove o diálogo, um dos componentes originais desta técnica, talvez o mais específico para sua caracterização. Sem esta intervenção abertamente participante, o curso de uma Psicoterapia Breve, entregue à espontaneidade do paciente, sofre sérias dificuldades. A falta de uma adequada compreensão deste fato fundamental por parte do terapeuta pode ser apontada com freqüência como um dos determinantes fundamentais de fracassos em tratamentos breves. A participação ativa do terapeuta, assume nesta técnica aspectos particulares específicos, depois de avaliar a situação total do paciente, compreendendo a estrutura dinâmica essencial de sua problemática, elabora então um plano de abordagem individualizado, este projeto terapêutico estabelece por exemplo, a que áreas de conflito se liga os sintomas, quais dentre as defesas torna-se conveniente atacar e que outras defesas deve -se tender a fortalecer. Continuando Fiorini (1976), diz que o terapeuta opera mantendo em mente um “foco”, termo que se refere à interpretação central sobre a qual está baseado todo o tratamento; o paciente é encaminhado para esse foco por meio de interpretações parciais e atenção seletiva, o que significa omissões deliberadas. É preciso que o terapeuta se adestre no esforço de deixar passar material atraente, inclusive tentador, sempre que o mesmo venha a ser irrelevante ou afastado do foco. Um primeiro objetivo desta focalização consiste, geralmente, em dirigir a atenção do paciente para a função e o significado interpessoal de seus sintomas. Além da focalização na psicoterapia breve que é sua condição essencial de eficácia, também o chamado “princípio de flexibilidade” aplica-se a ela, não apenas na individualização da mesma, baseada no conceito de que pacientes diferentes requerem 45 tratamentos diferentes, como também na remodelação periódica da estratégia e das táticas; em função da evolução do tratamento. Uma avaliação dinâmica continuamente atualizada leva a efetuar reajustamentos, por tentativas e erros, até obter o rendimento máximo do arsenal terapêutico disponível. Com expectativas de melhoras importantes, indicam-se para uma Psicoterapia Breve; quadros agudos, particularmente situações de crises ou descompensações, situações de mudança, por exemplo, em transição de etapas evolutivas (adolescência, casamento, graduação, menopausa, aposentadoria); distúrbios de natureza reativa em pacientes que conservam previamente um nível de adaptação aceitável; distúrbio de intensidade leve ou moderada que não justificariam um tratamento com anos de duração; problemática neurótica incipiente ou psicossomática de início recente. Destaquemos que esta perspectiva pode ser válida não apenas no âmbito institucional, mas também no da assistência privada, à margem de razões sócioeconômicas, uma Psicoterapia Breve pode ser o tratamento mais desejável para determinados pacientes. Segundo Gilliéron (1986), tão logo foi criado, o movimento psicanalítico foi sacudido por numerosas correntes contrárias, cada psicanalista desenvolveu sua própria técnica e sua própria teoria, assim sendo o nascimento das psicoterapias analíticas breves, data das primeiras experiências de S. Ferenczi, por volta de 1918. Foi a Ferenczi que Franz Alexander, fundador do Instituto de Psicanálise de Chicago em 1931, referiuse, ao elaborar sua teoria da “experiência emocional corretiva”, essa nova experiência pode ser fornecida, seja pela relação transferencial, seja pelas novas experiências de vida, ou por ambas. Alexander propôs diversos meios visando a flexibilizar as rígidas coordenadas da Psicanálise e organizou uma nova forma de psicoterapia analítica, fortemente aparentada com as psicoterapias breves. Durante a II Guerra Mundial, o interesse dos psiquiatras orientou-se rapidamente para as situações de crise e as neuroses atuais. Além disso, a ênfase se deslocou dos conflitos internos para os externos, como por exemplo: as neuroses de guerra, crises conjugais e profissionais. A partir de 1960, o número de publicação em Psicoterapia Breve aumentou muito, sempre direcionada às necessidades externas da população, que cresceu mais do que o número de psicanalistas; a Psicoterapia Breve cresceu também, pelas dificuldades financeiras de muitos pacientes, pela falta de tempo e a expectativa de resultados rápidos para as situações de crise; assim constatamos a facilidade com que foi deslocada a ênfase do conflito interno para o externo, justificando com isso os 46 temores manifestados por Freud em face das inovações de Ferenczi. Mesmo assim as evoluções são interessantes, na medida em que nos confronta com a questão da mudança psíquica e nos obriga a variar nossas posições. Com efeito, parece certo que meios diferentes permitem obter resultados terapêuticos bastante satisfatórios, duradouros e, com freqüência, num tempo relativamente curto em comparação com a psicanálise. Caracushansky (1990), comenta que uma Psicoterapia Breve é um acompanhamento psicoterápico de curta duração cujo objetivo é o sintoma, diferente das terapias “profundas” cujo objetivo é resgatar o sujeito dos seus conflitos inconscientes. A psicoterapia breve ao focalizar o sintoma atual, isto é o que mais incomoda o ser humano no momento leva em consideração não a reconstrução da personalidade, mas o alívio e compreensão do fato atual, e acredita que ao se liberar deste incômodo o sujeito terá um acréscimo de energia (que até o momento era gasto na doença por exemplo) para repensar o seu modo de vida e se fará mudanças ou não em sua qualidade de vida. 47 MATERIAIS E MÉTODOS Por que temos de passar vinte vezes por um conjunto de dados até entendêlos? Por que as primeiras afirmativas de fatos novos nos deixam indiferentes?. Isso ocorre porque nosso cérebro primeiro precisa ser desarranjado do conjunto de idéias arraigadas para receber algo novo. Jean Martin Charcot 48 6. Materiais e Métodos Na primeira fase deste projeto, escolheu-se o Diabetes Mellitus do tipo II como a doença alvo deste trabalho científico, visto ser esta uma doença que ainda é objeto de estudo na ciência. A escolha da Psicoterapia Breve como técnica psicoterápica dentre tantas outras se deu pelo fator tempo e pelo foco (doença) que esta psicoterapia permite trabalhar. Tanto a escolha da doença como o enfoque terapêutico deu-se como cita Minayo (2001), por um "labor artesanal", o ciclo da pesquisa segundo a autora, e sua importância no campo social é um labor artesanal, que não prescinde da criatividade, e se realiza em uma linguagem fundada em conceitos, proposições, métodos e técnicas, que se constroe com um ritmo próprio e particular de cada pesquisador. A primeira fase foi exploratória, dedicada a interrogações, sobre o objeto da pesquisa e seus pressupostos, a teoria e metodologia adequada, e as questões operacionais do trabalho de campo, para a viabilização e construção do projeto de pesquisa. Numa segunda fase como cita Minayo (2001), realizou-se o trabalho de campo propriamente dito, a fim de verificar o efeito de uma Psicoterapia Breve em pacientes com Diabetes Mellitus II, que se compôs de entrevistas, questionários e exames glicêmicos específicos, bem como a técnica da Psicoterapia Breve; nesta fase utilizou-se vários instrumentos: foi elaborada a Entrevista Individual para coleta geral de informações sobre cada participante e sua doença. Embasado em Lefèvre (2000), foi construída a entrevista semi-estruturada para análise do Discurso do Sujeito Coletivo, esta entrevista for composta de 7 questões para todos os participantes e uma oitava questão feita somente para os participantes do grupo experimental, referindo-se à Psicoterapia Breve, as perguntas foram apresentadas aos sujeitos nos dois encontros iniciais e finais; utilizou-se também o Questionário de Qualidade de Vida - World Health Organization Quality of Life (WHOQoL - bref ), no início e final do trabalho para avaliação da qualidade de vida dos participantes, este teste foi traduzido e validado para o português pelo psiquiatra Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolveu a partir do teste WHOQoL original, composto de 100 questões, um teste com 26 questões, mais relacionado com a realidade brasileira; testado e aprovado este teste denominou-se: 49 World Health Organization Quality of Life - WHOQoL – bref (disponível para uso científico no site http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol2.html ). Foi colhido material sangüíneo para exames laboratoriais, a fim de medir a glicêmia inicial e final de cada participante; os exames foram: Glicêmia de Jejum, o material para a realização deste exame, é o plasma com fluoreto de sódio, o paciente deve estar em jejum de 8 a 12 horas e não ter realizado esforço físico; Glicêmia Pós Prandial, é colhido sangue, duas horas após uma refeição, o material para a realização do exame é o plasma com fluoreto de sódio. O grupo experimental participou de 16 sessões de Psicoterapia Breve, para avaliação de seus efeitos sobre o grupo e sua qualidade de vida. 6.1 Tipo de Estudo Trata-se de um estudo de campo com abordagem quantitativa e qualitativa, analisando dados de 22 pacientes com Diabetes Mellitus II, divididos em: Grupo Experimental e Grupo Controle. 6.2 Local da Pesquisa de Campo A pesquisa de campo, foi realizada no Centro de Apoio à Diabetes, localizado na Casa da Saúde Sagrada Família, em São José dos Campos – São Paulo – Brasil, esta escolha se deu, em razão deste local ser referência para o tratamento de diabéticos nesta cidade; estes podem contar com o apoio de uma equipe multidisciplinar especializada nesta patologia. 6.3 Critérios de Inclusão da População Pacientes portadores de Diabetes Mellitus do tipo II, ambos os sexos, maiores de 18 anos, que faziam uso ou não de medicamentos, independente do tempo da doença, grau de escolaridade, estado civil, nível socio-econômico, cor, raça ou credo. 50 6.4 Critérios de Exclusão da População Pacientes com Diabetes Mellitus tipo I, pacientes em estado avançado de Diabetes Mellitus tipo II, já implicando em morbidades, do tipo cardiopatias e hemodiálises graves, pacientes fora da condição de entendimento (retardo mental) ou menores de 18 anos. 6.5 Critério de Seleção da População Para a seleção da população deste estudo, foi montado na Casa da Saúde Sagrada Família, entre agosto e dezembro de 2003, um consultório de atendimento psicoterápico, para a execução do trabalho de campo. Os participantes diabéticos que passavam pela consulta com a endocrinologista e que estavam dentro dos critérios de inclusão, eram encaminhados à minha pessoa, quando então era apresentado o projeto, objetivando convidá-los a participarem do mesmo. 6.6 Procedimento do Trabalho de Campo A todos os que aceitaram participar do estudo, foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foi esclarecido aos mesmos, que a participação era voluntária e gratuita, e que teriam a liberdade de abandonar o grupo a qualquer momento que desejassem. Mediante a aceitação do convite para participar do projeto, foi agendado um horário para cada participante, tanto do grupo experimental, quanto do grupo controle. Neste primeiro contato, foi preenchido o questionário de entrevista individual, a fim de conhecer o participante e levantar dados para a pesquisa. Neste momento, era feito a cada participante as duas primeiras perguntas do Discurso do Sujeito Coletivo, sendo esclarecido também ao participante que faria exames glicêmicos iniciais, e que, os mesmos seriam repetidos ao final do projeto, da mesma forma, foi explicado e preenchido o Questionário de Qualidade de Vida WHOQoL – bref. Os participantes dos dois grupos receberam orientações verbais nos dois primeiros encontros, de como poderiam colaborar com o cuidado do seu organismo, através de uma alimentação saudável, prática de exercícios físicos e a atenção aos 51 pontos estressores, como por exemplo: conflitos familiares, excesso de trabalho e a falta de lazer. O critério de inclusão no grupo experimental não foi aleatório, uma vez que pudemos perceber quais os participantes que apresentavam uma predisposição a se cuidar e quais negavam a doença, sendo assim, o critério passou a ser a disponibilidade de tempo dos partic ipantes solicitando deles o comparecimento ao consultório, uma vez por semana, em dia e hora preestabelecidos, num total de 16 sessões de terapia. Após o processo ser explicado, designou-se os participantes do grupo experimental e do grupo controle. Foram selecionados 16 pacientes para o grupo experimental, 3 deles desistiram nas primeiras 3 sessões, alegando o fator tempo, finalizando a terapia com 13 pacientes. Para o grupo controle foram selecionados 15 pacientes, 12 da Casa da Saúde Sagrada Família e 3 do CEAMA (Centro de Atendimento Médico Ambulatorial dos Servidores Públicos), todos deveriam retornar ao consultório, ao final da terapia do grupo experimental, para que fossem refeitos os exames glicêmicos e o questionário WHOQoL – bref de qualidade de vida; 3 deles não retornaram para a segunda entrevista inicial e 3 deles não retornaram no final do trabalho de campo, concluindo o trabalho com 9 participantes no grupo controle. Os participantes do grupo controle, receberam convite no final do trabalho de campo para uma Psicoterapia Breve. 6.7 Procedimento da Psicoterapia Breve Small (1974) e Fiorini (1976), sugerem que o período da Psicoterapia Breve pode ser definido pelo psicoterapeuta ou seu paciente. Neste estudo o critério para a escolha do tempo foi definido pela endocrinologista e a psicóloga; como o trabalho de campo envolveria avaliar a glicemia e o peso corporal entendeu-se que o período de 4 meses ou 16 sessões, seria aceitável para buscar resultados, principalmente porque necessitaríamos contar com o envolvimento e adesão do participante, no sentido do controle alimentar e prática de exercícios físicos. As sessões foram realizadas uma vez por semana, individualmente de forma dinâmica como sugere Small e Fiorini, o foco do trabalho foi o Diabetes Mellitus II. Os 13 participantes foram distribuídos em dois dias de atendimento semanais (4ª e 6ª feira), com uma hora para cada participante, reservando um espaço entre um 52 atendimento e outro para anotações e descrição da sessão, a fim de se obter os dados necessários para o estudo. Devemos ressaltar que só foi atendido quem se dispôs a ser tratado, isso possibilitou a adesão ao trabalho. Poucos participantes deixaram de comparecer as sessões, criando um vínculo e uma empatia onde a Psicoterapia Breve pudesse fluir com liberdade. Buscou-se embasamento bibliográfico para dar suporte a este trabalho, foi pesquisada a relação Psicoterapia Breve e Diabetes Mellitus II, porém nada foi encontrado nesta linha, pesquisou-se então Psicoterapia e Diabetes Mellitus II foram encontrados alguns trabalhos relacionados a terapia de grupo ou acompanhamento de pacientes em hospitais ou clínicas. 6.8 Metodologia para Análise dos Dados A terceira fase do ciclo da pesquisa, segundo Minayo (2001) é o tratamento do material recolhido no campo, subdividindo-se em ordenação, classificação e análise; este tratamento nos conduz à teorização sobre os dados, confrontando a teoria e o que a investigação de campo aponta como contribuição. Este ciclo não se fecha, pois uma pesquisa produz conhecimentos afirmativos e questões para aprofundamento posterior. Na pesquisa quantitativa deste estudo, considerou-se a informação referente aos dados pessoais dos participantes como: sexo, faixa etária, estado civil, escolaridade, profissão, faixa salarial; e no histórico da doença considerou-se dados como: tempo de doença, hereditariedade, sintomas decorrentes do Diabetes, problemas de saúde, uso de medicamentos, peso corporal e exames glicêmicos, visando tecer uma comparação com a bibliografia existente. Na pesquisa qualitativa, Mazzotti e Gewandsznadjer (1999) nos dizem que esta tipicamente gera um enorme volume de dados que precisam ser organizados e compreendidos. Isto se faz através de um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias, tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. À medida que os dados vão sendo coletados, o pesquisador vai procurando identificar temas e relações, construindo interpretações e gerando novas questões e/ ou aperfeiçoando as anteriores, o que, por sua vez, o leva a buscar novos dados, complementares ou mais específicos, que testem suas interpretações, num processo de “sintonia fina” que vai até a análise final. 53 Para Minayo et al (2001) “ A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares; ela se preocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” p. 21 e 22 . Não existe uma continuidade entre qualitativo e quantitativo, em que o primeiro termo teria lugar na intuição, no subjetivismo, e o segundo representaria objetivamente os dados matemáticos, o conjunto de dados qualitativos e quantitativos, porém, não se opõem; ao contrário se complementam, pois a realidade dos fatos interage entre si, não havendo dicotomia. Lefèvre (2000) comenta que, quando a opção é pelo método qualitativo, esta baseia-se em alguns pressupostos teóricos, dentre eles o de que as abordagens qualitativas são mais capazes de incorporar a questão do significado e da intencionalidade. Por sua vez, o significado e a intencionalidade, que ocupam posições centrais na pesquisa social que utiliza metodologia qualitativa, aparecem mais claros e naturalmente nos discursos, sejam eles frutos de depoimentos coletados em entrevistas semi-estruturadas ou estejam presentes em artigos de jornais e revistas. Positivamente, uma entrevista semi-estruturada nos permite através de um discurso, que é o modo como naturalmente as pessoas pensam, o acesso a dados da realidade, do caráter subjetivo, isto é, das idéias, crenças, maneiras de pensar, opiniões, sentimentos e conduta. Na entrevista semi-estruturada deste estudo, procurou-se abordar questões que pudessem levar todos os sujeitos pesquisados a repensar e avaliar sua conduta frente a doença; foi perguntado a eles sobre a aceitação ou negação da doença, os sentimentos produzidos pela descoberta da mesma, a percepção da variação do diabetes, a freqüência do regime alimentar, como ficou o humor e as atividades sociais depois do diabetes e qual a maior dificuldade em relação aos cuidados com o diabetes. No último encontro, perguntou-se aos participantes do grupo experimental o que foi a Psicoterapia Breve para cada um deles conforme descrito no discurso do sujeito coletivo. Outro dado qualitativo coletado será o teste de qualidade de vida, World Health Organization Quality of Life - WHOQoL - bref . Na busca de medir a qualidade de vida do sujeito da pesquisa, utilizou-se este teste que divide-se em 4 domínios: 1- Físico, com 6 questões, avaliando dor e desconforto, energia e fadiga, sono e repouso; 2- 54 Psicológico, com 7 questões, avaliando sentimentos positivos e negativos, pensar, aprender, memória e concentração, auto-estima, imagem corporal e aparência; 3Ambiental (nível de independência), com 3 questões, avaliando mobilidade, atividades da vida cotidiana, dependência de medicação ou tratamentos, capacidade de trabalho; 4- Social, com 8 questões, avaliando relações pessoais, apoio social, atividade sexual, necessidade de proteção, ambiente no lar, recursos financeiros, cuidados de saúde, oportunidades de adquirir novas informações, lazer e recreação, ambiente físico e transporte; todos os domínios convergem para um só objetivo - a qualidade de vida. A expressão qualidade de vida foi usada pela primeira vez pelo presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson em 1964, ao declarar que “os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos, eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas”. O interesse em conceitos como “padrão de vida” e “qualidade de vida” foi inicialmente partilhado por cientistas sociais, filósofos e políticos. O crescente desenvolvimento tecnológico da Medicina e ciências afins trouxe como conseqüência negativa a sua progressiva desumanização. A preocupação com o conceito de “qualidade de vida” refere-se a um movimento dentro das ciências humanas e biológicas no sentido de valorizar parâmetros mais amplos que o controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou o aumento da expectativa de vida; a avaliação da qualidade de vida foi acrescentada nos ensaios clínicos randomizados como a terceira dimensão a ser avaliada, além da eficácia e da segurança que um estudo possa proporcionar. http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol2.html 55 RESULTADOS E DISCUSSÃO Escrever é um ofício fácil, basta começar com a letra maiúscula e terminar com o ponto. No meio é só colocar as idéias. Pablo Neruda 56 7. Resultados e Discussão Passado mais de um ano, chega-se ao momento de trazer para o papel, os resultados e a discussão deste estudo. Buscando um texto bibliográfico introdutório para este capítulo, me deparei com um livro escrito há 37 anos atrás por Lópes (1967), que se apresentou tão atual neste momento, o autor descreve quatro significados para o enfermo: ser, estar, sentir-se e viver enfermo. Um homem é enfermo quando tem uma vitalidade insuficiente, uma integração defeituosa de sua unidade funcional ou um desvio de seus planos de maturação evolutiva que o levam a ficar abaixo da média de eficiência biológica característica de sua geração. Um homem está propriamente enfermo, quando em um momento ou período de sua curva existencial se produz em seu organismo, uma alteração tal que em um ou vários de seus planos funcionais se originam a insuficiência, a desintegração ou o desvio de sua eficiência vital. Um homem sente-se enfermo, independentemente de que esteja ou não, quando autopercebe algum sinal correspondente à região somática e o interpreta como indicador de um estado de doença, podendo oscilar entre o temor ou a suspeita e a crença ou certeza de sofrer um estado doentio. Finalmente, um homem vive enfermo quando a noção de que o estar doente alcança tal grau no campo de sua consciência que desloca os demais conteúdos de interesse e focaliza somente a doença. Assim percebi o diabético na psicoterapia dentro dos 4 significados, sendo enfermo por ter uma vitalidade insuficiente, estando enfermo, pois num determinado período de sua vida se produziu em seu organismo uma doença crônica; sentindo-se enfermo, pois a história do Diabetes coloca este ser com medo de perder parte de seu corpo ou até mesmo a vida, e finalmente o diabético vive enfermo, pois diariamente existe a preocupação com o controle da glicemia, com o controle alimentar, gerando insatisfação e angústia por ser diferente da “normalidade”. 57 Este trabalho foi realizado; envolvendo 22 participantes portadores de Diabetes Mellitus II, que disponibilizaram seu tempo e boa vontade durante os 4 meses em que o projeto de campo foi executado. 7.1 Resultados e Discussão dos Dados Quantitativos Os dados quantitativos deste estudo, analisou a população pesquisada afim de buscar uma noção geral de suas características, oferecendo embasamento para os dados qualitativos. Quanto a população pesquisada foram analisados os seguintes itens: sexo, faixa etária, estado civil, escolaridade, profissão e faixa salarial. Quanto a doença da população pesquisada foram analisados os seguintes itens: tempo da doença, hereditariedade, problemas de saúde, sintomas decorrentes do Diabetes, uso de medicamentos, peso corporal e exames glicêmicos. 7.1.1 População Pesquisada Nenhum dos 22 diabéticos deste estudo apresentou uma organização mental mais rígida como, neurose obsessiva, psicose ou histeria severas, os participantes se apresentaram com estados mistos de queixas semelhantes a sintomatologia depressiva ou ansiosa, e ou reações defensivas presentes nos relacionamentos familiares. Esta população foi constituída de 13 pacientes no grupo experimental e 9 pacientes no grupo controle. As características referentes ao sexo, faixa etária, estado civil, escolaridade, profissão e faixa salarial serão demonstradas nos quadros e gráficos a seguir. Observa-se no quadro nº1, um maior contingente de indivíduos do sexo feminino (16), sendo (6) do sexo masculino. A maior prevalência, foi do sexo feminino perfazendo 69% no grupo experimental e 78% no grupo controle, confirmando a estatística de Arduino (1980) e um estudo de Escudine (2002), ²que nos diz que o Diabetes do tipo II incide em mulheres, mais do que em homens na proporção de 50%. O Diabetes é classicamente considerado mais prevalente no sexo feminino. A diferença seria pequena antes dos 45 anos, mas aumenta após esta idade, o que se deve 58 provavelmente, em parte, ao maior número de mulheres na população, nesta faixa etária, acredita-se, em geral que a maior freqüência do Diabetes nas mulheres após os 40 anos é devido também a obesidade. ² Esta incidência também é alta, segundo Escudine (2002) em negros, hispânicos e americanos nativos. Quadro 1: Distribuição dos grupos estudados segundo o sexo. Grupo Controle Grupo Experimental % Grupo Controle % 9 4 7 2 69,23 30,77 77,78 22,22 13 9 100,00 100,00 Sexo Grupo Experimental Feminino Masculino Total Pode-se considerar também esta porcentagem feminina como um viés de gênero neste estudo, dado a dois fatores significativos na seleção dos grupos, os diabéticos do sexo masculino alegaram primeiro, falta de tempo para participar do projeto devido ao trabalho e segundo que, sozinhos conseguiam controlar bem o seu Diabetes não necessitando da terapia. As mulheres foram mais acessíveis, e as que trabalhavam fora fizeram ajustes em seus horários, alegando tratamento. que, uma terapia seria de ajuda em seu 59 Conforme gráfico 1, a idade dos participantes deste estudo, variou dos 40 aos 79 anos, nos dois grupos, sendo a maior faixa em torno do 50 a 54 anos. Gráfico de Faixa Etária 45% 40% 40% 34% 35% % 30% 25% G.EX % 22% G.CONT % 20% 15% 15% 15% 15% 15% 11% 11% 11% 11% 10% 5% 0% 0% 0% 0% 40-44 45-49 50-54 55-59 60-64 65-69 70-80 Faixa Etária (anos) Gráfico 1: Distribuição dos grupos estudados, segundo a faixa etária. O quadro 2 demonstra, uma pequena incidência de solteiros, divorciados e viúvos e uma maior incidência de casados, 69,23 % no grupo experimental e 88,89 % no grupo controle. Quadro 2: Distribuição dos grupos estudados, segundo o estado civil. Grupo Controle Grupo Experimental % Grupo Controle % 1 0 7,69 0,00 9 3 0 8 0 1 69,23 23,08 0,00 88,89 0,00 11,11 13 9 100 100 Grupo Experimental Solteiro Casado Divorciado Viúvo Estado Civil Total Pereira (2000) nos diz que a saúde das pessoas está associada ao estado civil. No Brasil, esta constatação é de difícil comprovação, pela falta de dados sobre o tema. As 60 pesquisas internacionais segundo este autor constatam que os casados, apresentam melhores níveis de saúde, do que solteiros, viúvos ou divorciados. Casados e não casados têm diferentes modos de vida; esta diferença é associada, de maneira causal a eventos favoráveis e desfavoráveis. A família confere proteção e segurança, que se refletem no nível de saúde, isso é um evento favorável, porém o evento desfavorável dos casados, é que muitos passam a ter uma vida mais sedentária, o que os predispõe a doenças crônicas associadas ao sedentarismo. No entanto, se observarmos a faixa etária em que incide o Diabetes, podemos verificar que é a mesma em que geralmente a maioria da população está casada. Conforme o quadro houve participantes de vários 3 do demonstrativo da escolaridade, pode-se perceber que níveis escolares, porém a maioria da população deste estudo encontrou-se com o 1º grau incompleto coincidindo com os dados do SEADE (Fundação Sistema Estadual de Analise de Dados) demonstrando que, com o primeiro grau incompleto, se situa 35 % da população que trabalha no região metropolitana de São Paulo. Quadro 3: Distribuição do grupos estudados, segundo a escolaridade. Grupo Controle Grupo Experimental % Grupo Controle % 2 5 2 2 1 0 1 3 2 2 1 1 0 0 15,38 38,48 15,38 15,38 7,69 0,00 7,69 33,34 22,22 22,22 11,11 11,11 0,00 0,00 13 9 100 100 Escolaridade Grupo Experimental 1º Grau Completo 1º Grau Incompleto 2º Grau Completo 2º Grau Incompleto 3º Grau Completo 3º Grau Incompleto Pós-graduação Total 61 Em relação à profissão, o quadro 4 nos apresenta os seguintes resultados: no grupo experimental, 30,77 % são profissionais do lar, 46,15 % trabalham fora e 23,08 % são aposentados; e no grupo controle, 44,50 % são profissionais do lar, 44,50 % trabalham fora e 11,00 % são aposentados. Estes resultados condizem com os dados do SEADE (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados), onde 70 % da população de 40 a 59 anos é economicamente ativa, caindo para 22,2 % para 60 anos ou mais. Quadro 4: Distribuição dos grupos estudados, segundo a profissão. Grupo Controle Grupo Experimental % Grupo Controle % 4 4 30,77 44,50 Aposentados 3 1 23,08 11,00 Outros 6 4 46,15 44,50 13 9 100 100 Grupo Experimental Do Lar Profissões Total Os participantes que estão em atividade neste estudo, apresentaram um faixa salarial variada, conforme demonstra o quadro .5. A maior prevalência salarial ficou entre 1 a 3 salários mínimos, 30,77 % no grupo experimental e 44,44 % no grupo controle, este estudo condiz com a estatística do Departamento Intersindic al de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) demonstrando que em 1990, 30,1 % da população brasileira recebia menos de 1 salário mínimo, e 42,6 %, recebia de 1 a 4 salários mínimos, sendo que apenas 27,2 %, recebia mais de 4 salários mínimos. Procurou-se neste estudo estatísticas que relacionassem renda versus diabetes, porém nada foi encontrado neste sentido na literatura. 62 Quadro 5: Distribuição dos grupos estudados, segundo a faixa salarial. Grupo Controle Grupo Experimental % Grupo Controle % 2 4 3 1 3 3 4 1 0 1 15,38 30,77 23,08 7,69 23,08 33,34 44,44 11,11 0,00 11,11 13 9 100,00 100,00 Faixa Salarial Grupo Experimental Sem Renda 1 a 3 Salários 4 a 6 Salários 7 a 9 Salários 10 ou mais Total 7.1.2 A doença em relação à população pesquisada Segundo Arduino (1980), apesar de se tratar de doença tão antiga, o Diabetes Mellitus, no que diz respeito ao seu mecanismo, continua desafiando os pesquisadores. Talvez em nenhuma outra doença, tenha havido tanta controvérsia, tantos avanços e recuos nas idéias sobre a sua causa (ou causas) que, apesar disso, permanece ainda no terreno das hipóteses. O único ponto pacífico a este respeito é o reconhecimento do Diabetes como uma doença genética, embora o tipo ou tipos de transmissão permaneçam ainda controvertidos. Não parece haver dúvidas, também, de que fatores ambientais possam desempenhar papel de relevo na precipitação e na expressão clínica da doença. O gráfico n. 2 demonstra que 12 participantes do grupo experimental e 7 participantes do grupo controle, estão na faixa de 1 a 9 anos de doença, não se observou neste estudo nenhuma diferença significativa nas faixas de tempo da doença de 1 a 3 anos, em relação aos de 4 a 6 e aos de 7 a 9 anos, no que diz respeito ao comprometimento crônico do Diabetes. 63 Considerando a faixa etária, conforme gráfico 1 confirma-se o que descreve Brunner e Suddarth (1998), Pastore e Neiva (2003) e Bandeira et all (2003), que o Diabetes se inicia por volta dos 40 anos. Tempo de Doença 6 5 4 3 2 1 0 5 4 3 3 3 2 1 1 0 Menos de 1 ano Grupo Experimental Grupo de Controle 0 1a3 anos 4a6 anos 7a9 anos 10 ou mais Gráfico 2: Distribuição dos grupos estudados, segundo o tempo da doença Em relação a hereditariedade o Diabetes Mellitus II atinge indivíduos com mais de 40 anos, sendo que as mulheres compõem a maioria dos casos, e existe uma forte relação de hereditariedade, sendo que mais de 20% dos casos tem um dos pais com Diabetes. (www.imafar.com.br). 64 A maior prevalência deste estudo foi de hereditariedade materna, conforme quadro 6. Quadro 6 - Distribuição dos grupos estudados, segundo a hereditariedade Hereditariedade Mãe Avó Pai,mãe e tio Pai Não sabe Pai e tios Mãe morreu de infarto aos 54 anos na roça Não tem antecedentes Mãe morreu aos 58 anos na roça Tia Total Grupo Experimental 6 2 1 1 1 1 0 1 0 0 Grupo Controle 3 0 0 2 0 0 1 1 1 1 13 9 Em relato de Nora e Fraser (1991), e Willard et al (1993), há mais de 30 anos, sabe-se que a transmissão de influências hereditárias não está confinada ao núcleo, mas pode ser atribuído a fatores no citoplasma que estão presentes em óvulos e não em espermatozóides. Uma característica singular do DNA mitocondrial é sua herança materna. O ovócito é bem suprido de mitocôndrias, a mãe transmite seu DNA mitocondrial a toda a prole, suas filhas por sua vez as transmitem, mas os filhos não. Em recente trabalho Alcolado (2002) comenta que há 10 anos atrás notamos que pacientes com Diabetes tipo II lembravam que tinham mães diabéticas mais do que pais diabéticos. Desde 1992 pelo menos 16 outras publicações examinaram o papel da herança materna no Diabetes tipo II. Nesses estudos, 11 concluíram que existe um efeito materno e 5 falharam em estabelecer tal efeito. Nenhum mostrou um excesso de transmissão maternal. Existe a probabilidade de que as mães são mais facilmente diagnosticadas com Diabetes que os pais, ou que os filhos se lembram mais facilmente das doenças maternas. Em resumo, a maioria dos estudos em que se perguntou ao paciente com Diabetes tipo II se algum dos seus pais eram diabéticos, as respostas informaram que o número de mães afetadas pela doença é o dobro do número de pais. 65 Estas observações não foram feitas em estudos que testaram pais e mães, mas mesmo estes sugerem que mães diabéticas aumentam a predominância de intolerância a glicose nos filhos e isso é um fator de risco para diabetes em crianças. Quanto aos problemas de saúde apresentados participantes do grupo experimental, relataram de acordo com o quadro 7, 5 não ter nenhum problema de saúde, além do Diabetes, 13 deles tem pressão alta, o que é confirmado por Valle, Ornellas e Franco (1979) e pela International Diabetes Federation Européia em seu artigo (2003) que mencionam a relação do Diabetes com a pressão alta devido a idade, a obesidade e aos fatores emocionais; 9 tem problemas de obesidade, conforme relato de Wajchenberg (1995) , Bandeira et al (1998) e Avenell et al (2004) pois a faixa etária em que se encontra o diabético do tipo II é mais propensa ao sedentarismo e consequentemente à deposição de gorduras no organismo; 7 participantes queixaram de insônia alegando que, por não terem conseguido controlar bem o seu dia, seja na parte alimentar ou na emocional ao chegar a noite preocupavam com o possível descontrole do diabetes no dia seguinte, esta também era a preocupação dos participantes do estudo de Nascimento et al (1999). Estes são problemas de saúde que mais incomodavam os participantes deste estudo; todos relataram que, quando a glicose subia, sempre ocorria algum problema de inflamação na gengiva ou na pele, igualmente citado por Valle, Ornellas e Franco (1979), Netto (2000) e Oliveira, Paula e Aarestrup (2000) ou infecção na urina, ou a visão fica “embaralhada” e mais fraca, porém assim que conseguiam equilibrar a glicose estes problemas diminuíam ou desapareciam. Quadro 7 – Distribuição dos grupos estudados, segundo problemas de saúde. Problemas de Saúde Não tem Pressão Alta Vista Fraca Obesidade Inflamação na Gengiva Varizes Feridas nas Pernas Insônia Infecção de Urina Grupo Experimental 5 7 4 7 1 1 0 6 2 Grupo Controle 0 6 2 2 2 1 1 1 0 Os sintomas do Diabetes têm geralmente um início insidioso, e o diabético só presta atenção neles quando começam a ter uma intensidade maior, o que geralmente é 66 acompanhado de uma situação de estresse emocional, um momento cirúrgico, ou uma infecção, é normal o paciente queixar-se ao seu médico de tonturas e cansaço, imaginando-se com um estresse e ao concluir os exames, deparam-se com o diagnóstico de Diabetes (KIRSTA,1999) Os sintomas decorrentes do Diabetes no grupo estudado de acordo com o quadro nº 8, apresentaram-se iguais à literatura, Davidson (2001) e William e Pichup (2001) com maior prevalência de poliúria (urina intensa), polidipsia (sede intensa), cansaço, desânimo, vista turva e diminuição da libido. Com o aumento da glicose, o organismo se movimenta em função de expulsar uma parte dela como forma de não chegar ao coma diabético, havendo com isso, um consumo extra de energia. Segundo relato dos pacientes, sempre que a glicose está fora de controle, estes sintomas estão presentes. O estado emocional esta presente nos sintomas, pois o diabético teme sempre que sua glicose poderá subir nos estados de angústia, depressão, ansiedade e ou estresse. Quadro 8 – Distribuição dos grupos estudados, segundo sintomas decorrentes do Diabetes. Sintomas Decorrentes do Diabetes Cansaço e Desânimo Urina Intensa Vista Turva Sede Intensa Enjôo Tonturas Boca Seca Pernas Pesadas Esquecimento Diminuição da Libido Grupo Experimental 7 9 8 9 2 4 2 5 3 6 Grupo Controle 6 6 5 6 1 3 3 2 2 4 Nos quadros 9 e 10, foram relacionados todos os medicamentos e alternativos que os participantes dos dois grupos utilizaram. Neste estudo verificou-se a necessidade do uso regular de medicamentos, devido ao controle alimentar não ser seguido à risca e a dificuldade da prática regular de exercícios físicos, somente 3 dos 22 participantes não faziam uso de hipoglicemiantes, segundo Wajchenberg (1995), Ramalho (2003) e o site www.diabetes.org.br, sempre que o regime alimentar é insatisfatório e não há prática 67 regular de exercícios físicos, é necessário o uso de hipoglicemiantes orais para manter os níveis glicêmicos em baixa. Quando esta população estudada relata suas dificuldades em praticar exercícios físicos regulares e manter uma dieta pobre em calorias diariamente, verifica-se a necessidade do uso diário de hipoglicemiantes, pois as sulfoniluréias e as metiglinidas, estimulam a secreção pancreática de insulina, as biquanidas, melhoram a resistência à insulina, as glitazonas, aumentam a sensibilidade à insulina no tecido muscular e os inibidores de alfa-glicosidase, diminuem a absorção de carboidratos, o médico pode então auxiliar o controle da glicemia com a administração de hipoglicemiantes orais dependendo da necessidade de cada paciente, o que será determinado pelos exames glicêmicos; pois os medicamentos se apresentam como uma forma segura de controlar a glicemia, quando a dieta e os exercícios falham. Quadro 9 – Distribuição dos medicamentos por paciente do grupo experimental. Paciente 1 2 3 4 5 Diabetes Não toma Starform Biguanida Insulina 6 7 8 Sulfoniluréia + Biguanida Biguanida Não toma Biguanida 9 Sulfoniluréia 10 11 Outros Glucosamina (Artrite) Diovan ³(P.A) Aldomed (P.A) Copresotec (P.A)Eutirox (tireóide) Sivantantina (colesterol) Hormodase (reposição) Captopril (P.A) Não toma Não toma Topomax (Extresse) Micardis (coração) Besiolato de Aulodipino (P.A) Tenoretic (P.A) Sulfoniluréia Não toma Sulfoniluréia + Tenoretic (P.A) Anticoncepcional Biguanida 12 Hipoformim Não toma 13 Sulfoniluréia Não toma ³PA = Pressão Arterial Alternativos Não toma Chá pata de vaca e florais Não toma Não toma Colírio (retinopatia) e chás calmantes Não toma Não toma Vitamina C e ginkobiloba Suco de beringela e chá de maracujá Chá calmante Não toma Não toma Chá de tremosso 68 Quadro 10 – Distribuição dos medicamentos por paciente do grupo controle Paciente 1 2 3 4 5 6 Diabetes Biguanida Glucovan Sulfoniluréia Biguanida Não toma Sulfoniluréia + Biguanida 7 Biguanida + Biguanida 8 Biguanida 9 Biguanida Outros Captopril (P.A) * Não toma Não toma Aldomed (P.A) Desobesin (Apetite) Não toma Lozartan Potássio (P.A) Puran T4 (Tireóide) Daformim e Rivotril (Calmantes) Igroton (P.A) Unasim (Antibiótico) Cordarene e Ideral (P.A) Libian e Sintróid (Reposição) Não toma Alternativos Não toma Não toma Não toma Não toma Não toma Chás calmantes Não toma Não toma Não toma Em relação aos gráficos nº 3 e 4 do peso corporal, Krall (1983) e Biazzi (2000) comentam que o alimento é o combustível do organismo, a necessidade de alimento adequado é especialmente importante para o homem, pois além de suprir energia, também fornece ingredientes para a reposição do organismo. O homem tem a capacidade de estocar combustível, que não é usado imediatamente, em depósitos no seu corpo, para uso futuro. Os requerimentos de energia na média para um adulto normal durante um período de 24 horas são de aproximadamente 25 calorias por quilograma. Krall (1983), Biazzi (2000), comentam ainda que Netto (2000) e o site www.diabetes.org.br os carboidratos são necessários para energia e produzem 4 calorias a cada grama que é ingerida, as proteínas são necessárias para um tipo de energia de uso mais lento, mais de sustentação, que é liberada para construir músculos e tecidos, cada grama produz 4 calorias, as gorduras fornecem energia e quando estocadas, são reservas para necessidades futuras, cada grama de gordura produz 9 calorias. A dieta para as pessoas em geral, deveria ser escolhida de acordo com as necessidades individuais. O adulto que tem vida mais sedentária requer apenas uma quantidade de 1000 a 1500 calorias por dia, pessoas com grande atividade ou em desenvolvimento podem requerer, 2500 a 3000 calorias por dia. Krall (1983) nos diz que Dieta é uma das palavras mais impopulares em qualquer língua, a mera menção da palavra sugere sacrifício das boas coisas da vida. A idéia de dieta ataca os instintos 69 básicos da espécie humana, fazer dieta não é agradável aos mais velhos, entre os quais estão os diabéticos, quando a doença priva as pessoas do prazer de comer, isso soa como uma perda e com ela vem a resistência. Porém, segundo Arduino (1980) e Avenell et al (2004) a deitoterapia é indispensável ao controle do Diabetes, o programa dietético é a base do tratamento, tendo como objetivos, o controle metabólico da doença, a manutenção do paciente em seu peso normal e a possibilidade que este terá de sair da faixa de risco das doenças coronarianas. O incentivo ao autocuidado, através da psicoterapia, levou um maior número dos participantes do grupo experimental a aderir a dieta, depois que passaram a perceber que controlar a alimentação não era o mesmo que ser privados do prazer de comer mas sim libertar-se de um inconveniente maior que era o risco da glicose alta; também houve uma adesão a pratica de algum tipo de exercício físico para contribuir com a queima da glicose em excesso, embora a maioria relatou a dificuldade que tiveram na adesão, e que muitas vezes abusavam dos alimentos. O gráfico nº 3 demonstrou uma maior variação do peso corporal no grupo experimental, 9 participantes perderam peso, 1 manteve o peso e 2 ganharam peso, no gráfico nº4 do grupo controle, 3 participantes perderam peso e 6 ganharam peso nos 4 meses do trabalho de campo. Esta análise está diretamente ligada à melhora da qualidade de vida destes participantes. Observa-se que houve uma maior experimental, em média 1,85 kg. por participante, redução do peso no grupo a diminuição do peso corporal está relacionado à redução de gorduras, que por sua vez está ligado à diminuição da glicose. Quanto maior for a redução de gorduras do cardápio do diabético, menor será o nível glicêmico, segundo (GORDON 1997) e (AVENELL 2004). 70 Média = -1.85 Desvio Padrão = 2.55 120 4 100 2 80 0 60 -2 40 -4 20 -6 0 -8 1 2 3 4 5 6 7 8 Variação de Peso (kg) Peso (kg) Peso Corporal - Grupo Experimento Peso inicial Peso Final Variação 9 10 11 12 13 Paciente Gráfico 3 – Distribuição do grupo experimental, segundo peso corporal. Média = -1.22 Desvio Padrão =1.94 120 4 100 2 80 0 60 -2 40 -4 20 -6 0 -8 1 2 3 4 5 6 7 8 Variação de Peso (kg) Peso (kg) Peso Corporal - Grupo Controle 9 Paciente Gráfico 4 – Distribuição do grupo controle, segundo peso corporal. Peso Inicial Peso Final Variação 71 Em relação à glicêmia Fischbach (1998), comenta que os dois hormônios que regulam diretamente a glicose sangüínea são o glucacon e a insulina, a insulina aumenta a permeabilidade da membrana celular à glicose, transporta glicose para o interior das células, estimula a formação de glicogênio e reduz os níveis sangüíneos de glicose. O exame, glicemia de jejum é um componente vital do controle do Diabetes. O metabolismo anormal da glicose pode ser causado por incapacidade das células beta das ilhotas pancreáticas de produzir insulina, por um número reduzido de receptores para insulina, e por deficiências na absorção intestinal da glicose. As pessoas que vivem com diabetes são continuamente afetadas pela flutuação nos níveis sangüíneos de glicose e devem aprender a tratar e adaptar seu estilo de vida dentro desta estrutura. Glicemia de Jejum - grupo experimental 330 290 (mg/dl) 250 210 Exames Iniciais Exames Finais 170 130 90 50 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 Participantes Gráfico 5 – Distribuição da glicemia de jejum do grupo experimental 13 72 Glicemia Jejum - grupo controle 330 290 (mg/dl) 250 210 Exames iniciais 170 Exames finais 130 90 50 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Participantes Gráfico 6 – Distribuição da glicemia de je jum do grupo controle Pelo gráfico 5, pode-se perceber neste estudo que os níveis glicêmicos de jejum apresentaram uma queda mais acentuada nos participantes do grupo experimental em relação ao grupo controle; este exame reflete mais o estado emocional do diabético, pois a coleta é feita em jejum de 8 a 12 horas, o efeito emocional do trabalho terapêutico pôde ser percebido neste exame, pois não há interferência do alimento que para o diabético é um forte oscilador de glicemia; em contrapartida o diabético pode estar calmo e sem estresse, mas se exagerar nos alimentos (principalmente os carboidratos e doces) sua glicose tenderá a subir num exame pós-prandial. Fischbach (1998) comenta ainda que os resultados do exame pós- prandial são fidedignos apenas na proporção em que o paciente esteja bem preparado. Fatores que interferem na validação do teste são: vômito, mascar chiclete, fumar e comer novamente durante o intervalo de duas horas do teste. Os valores pós-prandial estão freqüentemente aumentados em pessoas com diabetes sem controles ou recentemente diagnosticados. 73 Glicemia Pós-Prandial - grupo experimental 500 460 420 380 (mg/dl) 340 300 Exames Iniciais 260 Exames Finais 220 180 140 100 60 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 Participantes Gráfico 7 – Distribuição da glicemia pós-prandial do grupo experimental (mg/dl) Glicemia Pós-Prandial - grupo controle 500 460 420 380 340 300 260 220 180 140 100 60 Exames iniciais Exames finais 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Participantes Gráfico 8 – Distribuição da glicemia pós-prandial do grupo controle Como a maior dificuldade dos participantes deste estudo foi o controle alimentar, neste exame pós-prandial que é realizado após duas horas de uma refeição, pode-se atestar 74 esta dificuldade do diabético, os resultados não foram tão significativos quanto o de jejum, mesmo assim houve uma redução sugerindo que os participantes do grupo experimental e controle haviam mudado de alguma forma seus hábitos alimentares. Wajchenberg (1998) classificou o Diabetes Mellitus II em 3 classes tendo como parâmetro a glicemia de jejum, conforme quadro 11. Quadro 11 Distribuição da Classificação do Diabetes nos grupos estudados. Classificação do Diabetes Leve até 140 mg/dl Grupo Experimental inícial Grupo Experimental Final Grupo Controle Inicial Grupo Controle Final Moderada entre 140 e 200 mg/dl Severa acima de 200 mg/dl 3 5 5 7 5 1 3 2 4 3 5 1 Os níveis glicêmicos no diabético variam com facilidade, bastando apenas um descontrole na dieta ou na medicação ou ainda um descontrole emocional e a glicose já esta em desequilíbrio. O nível de glicêmia de jejum equilibrado no diabético, deve estar entre 90 a 110 mg/dl, acima de 110 mg/dl é caracterizado uma intolerância à glicose e acima de 126 mg/dl já se caracteriza o Diabetes. No grupo experimental pudemos perceber pelo quadro nº 11, que os participantes classificaram-se no início da terapia desta forma: 3 sujeitos com glicose de jejum de até 140 mg/dl (Diabetes leve); 5 sujeitos com glicose de jejum entre 140 e 200 mg/dl (Diabetes moderada) e 5 sujeitos com glicose de jejum acima de 200 mg/dl (Diabetes severa). No final da terapia, o grupo experimental apresentou 7 sujeitos com Diabetes leve; 5 com Diabetes moderada e apenas 1 com Diabetes severa, sendo através deste quadro demonstrado o efeito benéfico da psicoterapia breve neste estudo. No grupo controle, classificou-se no inicio do trabalho de campo, 3 pacientes com Diabetes leve, 2 com Diabetes moderada e 4 com Diabetes severa, e no final do 75 trabalho o grupo controle apresentou 3 pacientes com Diabetes leve, 5 com Diabetes moderada e 1 com Diabetes severa, lembrando que 19 pacientes dos dois grupos faziam uso de hipoglicemiantes orais. 7.2 Resultados e Discussão dos Dados Qualitativos Para análise dos dados qualitativos foram utilizados o: Coletivo (DSC) criado pelo Prof. Fernando Lefèvre (2000) na Discurso do Sujeito Faculdade de Saúde Pública (USP) São Paulo; e o Teste de Qualidade de Vida (WHOQoL – bref), validado no Brasil em 1998 pelo Prof. Dr. Marcelo Pio de Almeida Fleck do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 7.2.1 Caracterização do Discurso do Sujeito Coletivo A proposta da pesquisa qualitativa para o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), Lefèvre (2000), para este estudo será o de avaliar, como forma de conhecimento, a fala individual do sujeito da pesquisa, unificando-a no DSC, não para anulá-la ou reduzi-la a uma categoria comum, é justamente o inverso, ou seja, reconstruir, com pedaços de discursos individuais, como em um quebra-cabeças, tantos discursos-síntese quantos se julgue necessário para se expressar uma “figura” ou seja, um pensamento ou representação social sobre um fenômeno, deste modo discursivo é possível visualizar melhor a representação social, na medida em que ela aparece. Para a elaboração do DSC, parte-se dos discursos em estado bruto, que são submetidos a um trabalho analítico inicial de decomposição que consiste, basicamente, na seleção das principais idéias presente em cada um dos discursos individuais, buscando a reconstituição da representação social. Em síntese, o DSC é como se o discurso de todos fosse o discurso de um. Feito isso, e encontradas as palavras ou expressões adequadas para representar os depoimentos, temos o que se chama de categorias, neste estudo utilizou-se como categorias as palavras: aceitação, negação, revolta, medo, raiva, tensão, restrições, controle e dificuldades (LEFREVE 2000). A vida do ser humano se apresenta na linguagem e seus símbolos, tudo o que o ser humano sente, ele tem uma grande necessidade de expressar. O Discurso do Sujeito 76 Coletivo, retrata as respostas dos participantes às perguntas específicas, que foram feitas nos dois encontros iniciais e finais, com os grupos estudados, as respostas se agrupam formando um só discurso, o que abre para a possibilidade da análise do DSC. Em determinado momento da vida do diabético tipo II ele se acha acometido de uma doença devido ao mal funcionamento do seu pâncreas, segundo Brunner e Suddarth (1998) que o acompanhará para sempre. De uma forma geral este indivíduo também já adquiriu outras doenças, como por exemplo: obesidade e hipertensão, provavelmente devido ao sedentarismo, e a má qualidade de vida, aliado ao seu nível de estresse, conforme Wajchenberg (1995) e Brito (1998) . Tudo isso precisa ser corrigido e reorganizado para que este organismo não entre em colapso, o acompanhamento médico, auxilia este indivíduo a controlar seus níveis glicêmicos, o acompanhamento psicoterápico é um recurso que acrescenta benefícios emocionais a este indivíduo, que se encontra em uma condição enferma como um todo, portanto se faz necessário reorganizar seu aspecto emocional, melhorar sua valorização pessoal, levando-o a perceber novas possibilidades e novas escolhas em busca da qualidade de vida. A entrevista em uma psicoterapia é um instrumento fundamental de trabalho para o psicólogo, quando ela é semi-estruturada, como neste estudo. As perguntas já estão previstas, e o entrevistador não pode alterá-las; ela passa a ser um questionário recolhendo os mesmos dados de todos os participantes (BLEGER, 1998). Apresentaremos a seguir as questões do Discurso do Sujeito Coletivo, estas foram distribuídas da seguinte forma: as questões nº 1 e 2, foram feitas aos participantes dos dois grupos no primeiro encontro, as questões nº 3, 4, 5, 6 e 7 foram respondidas nos dois últimos encontros com os dois grupos e a questão nº 8 foi feita somente aos participantes do grupo experimental. 77 Quadro 12 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 1 VOCÊ DEU SEQÜÊNCIA AO TRATAMENTO MÉDICO ASSIM QUE DESCOBRIU O DIABETES? Resposta Pacientes Sim, faço tratamento, mas foi difícil, demorei a aceitar, fazia o tratamento de forma relaxada, o Diabetes modificou muito a minha vida. Não, demorei a aceitar, neguei a doença por muitos anos, não me preocupava com o Diabetes. 16 06 Nas respostas da questão nº1, “Você deu seqüência ao tratamento médico assim que descobriu o Diabetes?” do quadro nº 12, 16 pacientes apresentaram-na de forma positiva, porém com conotações negativas, enfatizando a pobre adesão terapêutica e a dificuldade de aceitação da doença. Os 6 pacientes que apresentaram resposta negativa, pode-se perceber a atitude de negação da doença já de início e a dificuldade em reconhecê-la por muitos anos. Considerando que se trata de doença crônica, o diabético precisa mudar seus hábitos e sua rotina, passando a sofrer ainda as ameaças de outras perdas, decorrentes das complicações do Diabetes. Para um paciente aceitar o fato de estar diabético, há uma necessidade de integrar em seu self (consciente) esta nova informação, o que gerará em sua mente a condição de ser doente, remetendo a uma perda irreversível da sua saúde. A principio, esta idéia pode incapacitá-lo, tornando difícil a adesão a um tratamento ou mesmo a negação da idéia, até que seu self processe todo o novo conteúdo lentamente. Após o diagnóstico, a vida do paciente diabético muda, este passa a perceber as limitações que a doença impõe, que incluem dieta, medicação, exercícios, exames glicemicos constantes e até internações, apesar de não incapacitar o doente que mantém sua glicose em controle. O Diabetes é uma doença crônica de difícil adaptação, gerando 78 constantes negações, pois o diabético tem que conviver dentro de normas preestabelecidas, para conseguir uma boa qualidade de vida. Diante desta circunstância, fica claro perceber porque o diabético foge dos primeiros cuidados. Sua nova condição de vida requer muitas mudanças, em alguns diabéticos esta aceitação pode ser rápida, mas a maioria precisa de um tempo para refazer seu processo mental, neste momento delicado de resignificação se faz importante um suporte psicoterápico. 79 Quadro 13 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 2 QUAL FOI SEU PRIMEIRO PENSAMENTO OU REAÇÃO QUANDO DESCOBRIU O DIABETES? Resposta Pacientes Fiquei com medo, já tinha perdido parentes com Diabetes, achei que seria a próxima, pensei na amputação da minha mãe, escondi a doença, tive medo de morrer, pensei no sofrimento e morte do meu pai com Diabetes pensei que ia ficar igual a ele. Fique indignado porque eu?, era a última coisa que eu queria, me pareceu que o mundo desabou sobre mim, fiquei revoltado; como eu se na minha família quase ninguém tem?. 07 06 Fiquei triste, tive dificuldades de falar com as pessoas sobre o Diabetes, pensei que não ia mais poder comer doces eu amo doce, fiquei triste porque era doador de sangue, fiquei pensativa, achei que tinha puxado minha avó até na doença. 05 Não pensei nada acho que não tem perigo, achei normal minha mãe tinha, sabia que não tinha cura, mas tinha controle. 03 Achei que estava “ferrado” e neguei a doença. 01 Na questão nº 2, “Qual foi seu primeiro pensamento ou reação quando descobriu o Diabetes?” do quadro nº 13, suas respostas foram apresentadas pela maioria dos participantes de forma, negativa; sentimentos como, medo, sofrimento, medo de morrer, indignação, revolta, negação e restrição estão bem presentes neste discurso. Para Atkinson et al (1995), quanto mais incontrolável um evento parece, mais provavelmente será percebido como estressante; eventos incontroláveis importantes incluem: morte de um ente querido, perda do emprego ou doença. Uma razão lógica pela qual os eventos incontroláveis são estressantes é que: se não podemos controlá-los, não podemos impedir que aconteçam. Para nós seres humanos é importante saber que podemos controlar qualquer evento, quando isso não acontece aumenta a ansiedade e 80 com ela o estresse. Só o fato de sermos capazes de prever a ocorrência de um evento estressante, mesmo se não podemos controlá-lo, geralmente reduz a gravidade do estresse. As situações estressantes produzem reações emocionais que variam desde a alegre vivacidade (quando a questão é prazerosa), até a emoções comuns de ansiedade, raiva, desânimo e depressão, os sintomas incluem, sensação de torpor em relação ao mundo com falta de interesse por atividades, um senso de alienação e perturbações do sono. As respostas da questão nº 2, possibilitou o trabalho terapêutico no campo dos sentimentos negativos apresentado por cada participante; analisando com cada um sua queixa, abríamos possibilidades para que percebessem o quanto este tipo de sentimento lhes fazia mal, procurando levá-los à mudança de pensamento e atitude em relação ao Diabetes. Quadro 14 do Discurso de Sujeito Coletivo Questão nº 3 EM QUE MOMENTO SEU DIABETES VARIA? Resposta Pacientes Não varia. 03 Quando fico nervoso, ansioso ou preocupado. 14 Quando tenho problemas, fico deprimido ou no verão. 03 Quando sofro emoções fortes, fico tenso ou contrariado. 02 Na questão nº 3, “Em que momento ser Diabetes varia?” do DSC, se apresenta com conteúdos emocionais como a ansiedade e depressão, apenas 3 participantes relataram que seu Diabetes não varia. O que os diabéticos atribuíram à variação da doença, isto é, às elevações dos níveis glicêmicos foram os fatores emocionais, Porto (2000) nos diz que toda a enfermidade ou o medo de estar doente provoca certo grau de ansiedade, reconhecida a ansiedade o profissional deve se preparar psicologicamente para enfrentar a situação, demonstrando segurança e tranqüilidade para conduzir a 81 terapia, outro aspecto foi a depressão, que é quando o indivíduo aparenta desinteresse por si mesmo e pelas coisas que acontecem ao seu redor, tendo forte tendência a se isolar e durante a terapia reluta em descrever seus sofrimentos ignorando ou respondendo pela metade as perguntas, é comum que se ponha cabisbaixo, os olhos sem brilho a face toda exprimindo tristeza, com choro fácil e imotivado, relatando insônia, inapetência, redução da capacidade de trabalho e perda da vontade de viver, a primeira tarefa do profissional é conquistar sua atenção e confiança, demonstrando sincero interesse pela sua pessoa. Os mesmos sintomas foram relatados por alguns dos participantes deste estudo, os conteúdos foram trabalhados em terapia, procurando elevar sua auto estima, analisando com eles outras formas de se posicionar frente a situações de elevação e queda de sua glicose. Quadro 15 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 4 COM QUE FREQÜÊNCIA VOCÊ SEGUE O REGIME ALIMENTAR? Resposta Pacientes Sigo o regime regularmente 08 Sigo o regime esporadicamente (quando o Diabetes sobe) 13 Não sigo o regime. 01 Na questão nº 4 “Com que freqüência você segue o regime alimentar?” do quadro nº 15, 13 pacientes tem dificuldades de seguir regularmente o regime alimentar e 1 não segue de forma alguma, porém dos 8 pacientes que relataram seguir o regime alimentar regularmente, apenas 2 não fazem uso de hipoglicemiantes orais, confirmando-se a literatura, quanto à necessidade do uso de medicamentos, quando o regime alimentar é falho WAJCHENBERG (1998). Um forte complicador para o diabético, é que ele precisa mudar suas exigências internas, referentes às necessidades fisiológicas. É necessário que ele mude sua alimentação em primeiro lugar e isso eqüivale dizer que ele deve fazer uma mudança 82 psíquica comportamental em relação ao que foi aprendido desde a infância; reconhecer, aceitar e promover esta mudança é o mesmo que mudar sua estrutura primária e inata. Krall (1983) comenta que, nenhum diabético pode viver quase que normalmente quanto uma pessoa não diabética. A completa liberdade para comer como qualquer um e a toda hora é restrita por um programa pré-estabelecido. A reação de cada um à esta restrição é influenciada, pela idade e por como se iniciou o Diabetes, nestes momentos é importante a ajuda dos amigos, da família e do médico. A dificuldade no controle alimentar e na pratica de exercícios, eram sempre pontuados em terapia, a medida que a compreensão da doença ia sendo aos poucos desenvolvida, alguns participantes começaram a mudar seu ritmo biológico inserindo algum tipo de exercício físico no seu dia a dia, o mesmo acontecendo com a alimentação, outros participantes relatavam que tinham muita dificuldade nestas mudanças, pois todos da casa tinham hábitos alimentares que não condizia com o seu Diabetes, e que era difícil separar um tempo para exercícios, porém lentamente estes participantes conseguiram algumas mudanças, que foram percebidas por eles como benéficas ao seu organismo. Quadro 16 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 5 DEPOIS DO DIABETES COMO FICARAM SUAS ATIVIDADES SOCIAIS? Resposta Pacientes Minhas atividades sociais tiveram uma restrição parcial, por causa de doces e massas quando vou a festas os parentes ficam controlando o que você come. 10 Minhas atividades sociais ficaram normais, só controlo um pouco o que como. 09 Houve restrição total de minhas atividades sociais, não gosto de ir a festas, porque as pessoas te controlam. No 03 DSC da questão nº 5, “Depois do Diabetes como ficaram suas atividades sociais?” do quadro nº 16, levou a maioria dos participantes a responder a sua 83 dificuldade quanto a ingestão de alimentos, relacionando-a com a restrição social. Em quase todos os 22 participantes o discurso foi o mesmo (a dificuldade de controle alimentar); muito embora a atividade social nesta questão tivesse sido colocada de uma forma geral (viagem, passeio ou reunião social). Mesmo assim alguns participantes enfatizaram a restrição alimentar, como primeiro fator que mais alterava as atividades sociais como um todo. A saúde/doença se manifesta no ser humano de forma física e concreta e é o corpo que detém a saúde ou sofre a doença. É interessante notar como ela se expressa no plano simbólico, com referência ao social a doença é vivida como sinônimo de infelicidade individual e coletiva, representando o rompimento do homem com seus limites e a saúde passa a significar bem-estar e felicidade, traduzindo o equilíbrio deste ser humano com a sociedade e seu ecossistema (MINAYO 1999). Quadro 17 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 6 COMO FICOU SEU HUMOR DEPOIS DE INSTALADO O DIABETES? Resposta Pacientes Meu humor continua bom. 07 Meu humor ficou regular, tem dias que a gente explode. 10 Meu humor ficou ruim, não consigo me controlar. 05 A questão nº 6 “Como ficou seu humor depois de instalado o Diabetes?” do quadro 17, levou 7 participantes a perceberem que o Diabetes não interferia em seu humor, 10 participantes correlacionaram os dias de mau humor com o Diabetes e 5 participantes relataram que o Diabetes descontrolou totalmente seu humor. 84 Quadro 18 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 7 QUAL A ORIENTAÇÃO QUE VOCÊ TEVE MAIS DIFICULDADE DE SEGUIR, TOMAR A MEDICAÇÃO TODOS OS DIAS, FAZER EXERCÍCIOS FÍSICOS OU CONTROLAR A ALIMENTAÇÃO? Resposta Pacientes Sigo à risca a medicação. 22 Minha maior dificuldade é praticar exercícios físicos regulares. 08 Minha maior dificuldade principalmente doces. é controlar a alimentação, 14 No DSC da questão nº 7, “Qual a orientação que você teve mais dificuldade de seguir, tomar a medicação todos os dias, fazer exercícios físicos ou controlar a alimentação?” do quadro nº 18, todos os 22 pacientes, mesmo os 3 que não fazem uso regular de medicamentos, relataram que seguem à risca a medicação. A maior dificuldade porém foi o controle alimentar, passar longe de doces, controlar massas e frituras, fazer exercícios são algumas medidas que devem ser adotadas pela pessoa que descobriu estar diabética, mas antes é preciso que ela aceite a doença e adote um tratamento adequado. O organismo transforma grande parte dos alimentos que é ingerido em glicose, que é transportada até as células, onde será usada como fonte de energia, o transporte é feito pela insulina que retira a glicose do sangue e a transporta até a célula. O tratamento pode não ser medicamentoso, se o controle alimentar e os exercícios físicos forem regulares, porém se o controle não for obtido, são indicados o uso dos hipoglicemiantes orais (www.centrinho.usp.br). O que faz a diferença no tratamento do diabético é assumir para si a responsabilidade que a doença exige. Na verdade, o diabético que assume a doença vive o cotidiano mais tranqüilo. Ao encarar o tratamento, ele pode ganhar uma vida com mais qualidade do que aquela que tinha antes se descobrir diabético, além de diminuir o risco de ter problemas como infarto, cegueira, derrame e má circulação nos membros inferiores, o diabético vai perder peso, alimentar-se melhor e sentir-se bem consigo 85 mesmo. Quem não foge do diabetes e se dedica ao seu controle, tem muito a ganhar. (Revista Saúde – especial Diabetes 2004). A questão nº 8 foi dirigida somente aos 13 participantes do grupo experimental. Quadro 19 do Discurso do Sujeito Coletivo Questão nº 8 O QUE FOI A PSICOTERAPIA BREVE PARA VOCÊ? Resposta Pacientes Foi excelente, um grande presente de Deus para mim, foi ótima, abriu minhas idéias, coisas que não tinham importância na minha vida agora tem, mudei meu comportamento, aprendi a ver a vida diferente, aprendi que para tudo tem uma saída, agora tenho coragem de ficar calada e de agir na hora certa. 06 Foi boa, mudei minhas atitudes, era muito teimoso, me desliguei mais das coisas, não tenho mais explodido com tanta facilidade, o Diabetes agora, já não me assusta. 05 A terapia foi uma experiência que não conhecia, o meu diálogo melhorou, a forma de pensar melhorou muito, nunca imaginei que a gente poderia ser diferente do que é, só mudando a forma de pensar. 01 Uma grande transformação dentro do dia a dia, foi para mim uma descoberta do meu próprio eu, me deu equilíbrio na vida e no trabalho, eu percebi a mudança e isso foi muito bom. 01 Em relação à psicoterapia, Jung (1991) comenta que a cada seção o psicólogo reflete sobre cada participante; utilizando-se dos princípios da escuta, e, estando atento às primeiras falas do participante o psicólogo já pode delinear o caminho da sessão. O corpo fala, se dermos atenção a ele, teremos a capacidade de perceber suas mensagens. A terapia deve ser dirigida para o momento do participante, utilizando as técnicas aprendidas, segundo Small (1974), criando um ritmo terapêutico, uma empatia e um vínculo, que irão facilitar o trabalho. O trabalho terapêutico com cada paciente, é 86 um rico aprendizado para o psicólogo, que vai sendo construído lentamente, porque cada paciente leva o psicólogo, à pesquisa, à leitura, à compreensão de uma dinâmica única, própria de cada sujeito. Ao iniciarmos a Psicoterapia Breve, partimos do pressuposto de que um trabalho de escuta do paciente poderia promover mudanças na qualidade de vida, e o desenvolvimento do trabalho de campo nos permitiu verificar os efeitos produzidos com a terapia. Delineou-se o trabalho terapêutico com o objetivo de elevar a auto-estima dos pacientes, pois a energia e a disposição estão intrinsecamente ligadas à glicose. Ao mesmo tempo em que se enfocava as questões psíquicas, também se estimulava verbalmente a busca da qualidade de vida, através das mudanças de hábitos na alimentação e prática de exercícios físicos, sabendo que este trabalho somente o paciente poderia promover para si, se assim o desejasse. Os participantes eram levados a pensar na importância destes estímulos rumo às mudanças, e que se não houvesse essa promoção de forma dinâmica, os resultados poderiam ficar comprometidos. Nas respostas, “mudei meu comportamento”, “aprendi a ver a vida diferente”, percebe-se que houve uma mudança comportamental gerada do interior para o exterior, refletindo na fala cotidiana dos participantes. Nas respostas “agora tenho mais coragem”, “o Diabetes já não me assusta”, percebe-se que sentimentos, como coragem e medo passam a ter uma conotação positiva. Respostas ao final da terapia como “mudei minhas atitudes”, “meu diálogo melhorou”, “minha forma de pensar melhorou muito”, “nunca imaginei que a gente poderia ser diferente do que é, só mudando a forma de pensar” e “a terapia foi para mim uma descoberta do meu próprio eu”, “me deu equilíbrio na vida e no trabalho”, “eu percebi a mudança e isso foi muito bom”, levam-nos a concordar com Jung (1991), quando ele diz que em terapia visa-se produzir algo eficaz, um estado psíquico em que o paciente comece a fazer experiências com o seu ser; este ser não precisa necessariamente ter nada definido; ele poderá aprender a criar um estado de fluidez, de transformações, de gostar de ser, de produzir mudanças porque quer fazê-lo, gerando nele mesmo um estado libertador, saindo da passividade, da aceitação, começando a recriar seu mundo pessoal, próprio, com fantasias e realidades produzidas por suas próprias escolhas. Percebe-se pelas respostas da questão nº 8 dadas por cada participante, que o trabalho terapêutico produziu mudanças psíquicas que repercutiram no plano 87 fisioló gico, conforme estão demonstradas especialmente no gráfico nº 5 da glicemia de jejum, e no gráficos nº 3 do peso corporal, pois segundo descreve Brunner e Suddart (2002) “a prontidão emocional tem um impacto na motivação para aprender. A pessoa que não aceitou uma doença existente ou o fato de que a doença é uma ameaça possível não estará motivada a aprender. A pessoa que não aceita um esquema terapêutico ou o vê como um conflito com o seu estilo de vida, pode, conscientemente, evitar aprender” p. 40 7.2.2 Teste de Qualidade de Vida WHOQoL – bref : Análise dos Dados Souza e Guimarães (1999) comentam que por muito tempo, através de publicações científicas, percebeu-se a relação da saúde com a qualidade de vida, mais especificamente na medicina. No livro “Quality of Life and Pharmaco – economics in Clinical Trials” de 1990, os autores introduziram a qualidade de vida como um novo conceito científico para médicos, psicólogos, sociólogos, estatísticos, pesquisadores, enfermeiros e outros profissionais de saúde. A Organização Mundial da Saúde, (OMS) com o objetivo de tentar definir e uniformizar os instrumentos de avaliação da qualidade de vida, criou um grupo de qualidade de vida, este grupo criou o teste WHOQoL – 100, com este teste a OMS tem, conseguido uniformizar o estudo da qualidade de vida, porém, muito ainda há para se fazer, buscando atingir um campo cada vez maior de pesquisas científicas, sobre o tema. O teste WHOQoL 100, foi validado em 34 países, incluindo o Brasil, posteriormente a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolveu um teste abreviado mais próximo da realidade brasileira, chamado de WHOQoL - bref com 26 questões divididas em 4 domínios (físico, psicológico, ambiental e social). As 26 questões são divididas da seguinte forma: as questões 1 e 2 são avaliativas da qualidade de vida e da satisfação com a saúde em geral e não pertencem a nenhum domínio. As questões 5,6,7,11,19,26 pertencem ao domínio físico; as questões 3,4,10,15,16,17,18 pertencem ao domínio psicológico; as questões 20,21,22 pertencem ao domínio ambiental; as questões 8,9,12,13,14,23,24,25 pertencem ao domínio social. Em seguida apresentaremos os resultados do teste aplicados nos 22 pacientes no início e final do trabalho de campo, o teste WHOQoL - bref, nos proporcionou a 88 possibilidade de perceber e avaliar o indivíduo como um todo biopsicossocial, foram analisados 44 testes perfazendo um total de 1.144 questões, após os testes preenchidos, ao final do trabalho de campo, foram entregues a dois analistas que compilaram estatisticamente os dados num programa Excel, produzindo os resultados em forma dos gráficos nº 8 e 9. O objetivo de aplicar o teste WHOQoL - bref, neste estudo, foi o de avaliar a melhoria da qualidade de vida dos diabéticos, após a Psicoterapia Breve. Na busca desta melhoria, percebia-se que era necessário que este ser humano fosse acolhido pois estava em sofrimento psíquico, e que fosse recebido em cada seção com um abraço e um elogio, para que aos poucos percebesse seu valor, seu lugar e significado no mundo. A cada semana, o trabalho psicoterápico se fortalecia; poucos participantes deixaram de comparecer às sessões e quando o faziam era por motivo de doença ou viagem, comunicando antecipadamente, explicando seus motivos; podíamos perceber que a interação mente e corpo iam aos poucos sendo apreendidas e mudanças comportamentais sendo construídas lentamente em cada indivíduo. Em uma sessão terapêutica breve, o terapeuta não pode perder o “foco”. Quando o participante entrava em sessão queixoso, relatando por exemplo suas dificuldades de expressar idéias ou se posicionar em relação aos seus familiares, a pergunta que era colocada pelo terapeuta em primeiro lugar sempre se referia ao “foco”, “O que o seu Diabetes acha desta dificuldade de relacionamento?”. Ou, um outro tipo de informação: Fui a uma festa neste fim de semana. Pergunta do terapeuta: “O seu Diabetes gostou da festa?”. Através dessas abordagens terapêuticas os participantes respondiam com humor, se posicionando com menos sofrimento em relação ao Diabetes, percebendo que era preciso cuidar da doença, pois a cada sessão procurava-se valorizar esta que já fazia parte de sua vida e, portanto necessitava ser bem tratada. A descoberta destes valores psíquicos fortalecidos foram se tornando cada vez mais administráveis para os mesmos, e isso os deixava realizado, pois percebiam que haviam mudado sua própria maneira de conduzir a vida. Os gráficos a seguir demonstram os resultados iniciais e finais do teste WHOQoL – bref, aplicados neste estudo. 89 WHOQoL Bref - Grupo Experimental 600 500 melhoria 0,13 melhoria 0,32 Inicial Final melhoria 0,13 400 melhoria 0,13 300 200 100 0 Físico Psicologico Ambiental Social Gráfico 8: Teste WHOQoL – bref do grupo experimental WHOQoL Bref - Grupo Controle 600 500 melhoria 0,07 melhoria 0,12 Inicial Final melhoria 0,09 400 300 melhoria 0,02 200 100 0 Físico Psicologico Ambiental Gráfico 9: Teste WHOQoL – bref do grupo controle Social 90 Dundar (2004), ressalta que o WHOQoL – bref, é o mais sensível instrumento para as variáveis sociodemográficas, demonstrando bons resultados nos domínios a que se propõe, não requerendo um alto grau de educação onde for aplicado. Conforme pode-se observar neste estudo, houve uma melhoria na qualidade de vida nos dois grupos estudados. Porém nos domínios físico, ambiental e social do grupo experimental observou-se uma melhoria significativa em relação ao grupo controle, em média 0,13%. O resultado mais significativo deu-se no domínio psicológico do grupo experimental 0,32%, percebe-se que mesmo uma psicoterapia com tempo limitado como foi a proposta deste estudo, conseguiu atingir um bom resultado, o trabalho foi focalizado nos seguintes itens: sofrimento do diabético, autocuidado, aceitação da doença, valor do reconhecimento e valorização do Eu. A verificação do efeito benéfico de uma Psicoterapia Breve, foi também no gráfico nº 8 confirmado. O ser humano diabético, como outro qualquer, é um ser biopsicossocial e espiritual ao mesmo tempo, Barchifontaine (2003), descreve a saúde no ser humano e divide-a em quatro dimensões: - Saúde Física, é a ausência de mutilações, lesões, dor, cansaço, fome e sede. É o desenvolvimento normal do indivíduo e o equilíbrio entre os componentes orgânicos. - Saúde Psíquica, implica em orientação no tempo e no espaço, é ausência de alienação, é capacidade de equilibrar-se nas diversas situações da vida, auto-realização, reconhecimento do outro e de si mesmo, é liberdade de pensamentos e de expressão. - Saúde Social, é o ajustamento do indivíduo no grupo social, habitação adequada, equilíbrio dos fatores econômicos, laser, educação, amizade, relacionamentos. - Saúde Espiritual, revela -se na maneira de encarar a vida, toda pessoa tem uma finalidade na vida, sede de um ser absoluto, para os cristãos Deus, para os muçulmanos Alá, para os ateus o Homem. Esse ser absoluto é fundamental para a separação das dificuldades, de um sofrimento ou de uma doença. Estas quatro dimensões formam um conjunto em que o relacionamento humano é a chave principal. 91 CONSIDERAÇÕES FINAIS Em ciência, como no amor, nada é para sempre. Louis Pasteur 92 8. Considerações Finais Ao longo da história, inúmeras doenças têm marcado sua presença, algumas a ciência elimina-as, outras se vão, porém deixam seqüelas, e outras de uma forma sutil chegam, instauram-se, e os seres humanos aprendem a conviver com elas, assim é o Diabetes, uma doença que se bem administrada e bem cuidada, não causa maiores danos, porém se descuidada traz uma lista de conseqüências que só trarão prejuízos à vida do diabético. Aliou-se ao tratamento dos 13 diabéticos participantes do grupo experimental uma intervenção psicoterápica breve no intuito de verificar o efeito desta terapia e avaliar a melhoria na qualidade de vida dos mesmos, através de informações quanto à doença e suas conseqüências; aumentar a auto-estima e o valor pessoal; incentivá-lo à prática de exercícios físicos e controle alimentar sem culpa; e desenvolver a autocrítica em relação à sua saúde. A partir dos relatos coletados neste estudo, nos pareceu que a associação dieta versus exercícios físicos, proporcionou benefícios aos participantes do grupo experimental, colaborando para uma redução do peso corporal, indicando também redução dos níveis glicêmicos, e um alivio dos sintomas decorrentes do Diabetes. Os depoimentos dos próprios participantes referem-se ao impacto positivo da Psicoterapia Breve em seu aspecto emocional e o auxílio no enfrentamento da doença, coletado através do Discurso do Sujeito Coletivo; e do teste WHOQoL – bref, observou-se mudanças significativas no âmbito, psicológico, ambiental, social e físico levando-nos a perceber uma melhora na qualidade de vida dos indivíduos do grupo experimental. Ter empatia pelo ser humano, foi fundamental neste trabalho e esta empatia, levou os participantes a caminharem conosco por 4 meses, desconstruindo e reconstruindo, não sem sofrimento, não sem lágrimas. É doloroso para o ser humano perceber-se frágil, perdendo aquilo que é mais precioso em sua vida - a sua saúde. Refazer o caminho junto com o diabético a fim de resgatar esta saúde perdida, foi o desafio da terapia, e neste sentido ela propôs-se a elaborar o luto do corpo perfeito e saudável. 93 Ao término da psicoterapia pudemos perceber que o objetivo foi cumprido, porém ao finalizarmos este estudo observamos a necessidade de dar prosseguimento a pesquisa no intuito de responder algumas questões que o mesmo suscitou: Quanto tempo durará a mudança de atitude que a ação da Psicoterapia Breve efetuou nos participantes?. Quanto tempo após a Psicoterapia Breve os níveis glicemicos e o peso corporal permaneceram estáveis? Não temos respostas ainda a estas questões, entretanto os dados que obtivemos em relação aos objetivos propostos neste trabalho como a melhoria na qualidade de vida dos diabéticos, e o efeito benéfico da Psicoterapia Breve no tratamento nos estimula a continuar este trabalho de investigação. 94 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Um bom livro é aquele que se abre com expectativa e se fecha com proveito. Louisa May Alcott 95 Referências ALMEIDA, H.G.G. Diabetes Mellitus – Uma Abordagem Simplificada para Profissionais de Saúde. São Paulo: Atheneu, 1997. p. 11 - 85 ARDUINO, F. Diabetes Mellitus. 45,65,78,95. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1980. p. ATKINSON, R.L. et al. Introdução á Psicologia. 11.ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. BALINT, M. O Médico seu Paciente e a Doença. Rio de Janeiro / São Paulo: Livraria Atheneu, 1988. p. 240 – 242. BANDEIRA, F; et al. Endocrinologia e Diabetes. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 793 – 1017. BANDEIRA, F; et al. 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Rosé Colon Toldrá, está de acordo com os Princípios Éticos, seguindo as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos, conforme Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde e foi aprovado por esta Comissãp de Ética em Pesquisa. São José dos Campos, 10 de outubro de 2003 _________________________________________________ PROF. DR. LANDULFO SILVEIRA JUNIOR Presidente do Comitê de Ética em Pesquisa da Univap Av. Shishima Hifumi, 2911 – Urbanova – cep. 12.244-000 – PABX. (012) 347.1002 – Caixa Postal 82 – S.J.Campos-SP 104 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido O trabalho que o Sr. (a) irá participar é uma verificação do efeito de um acompanhamento psicoterápico em pacientes com Diabetes Mellitus II, este trabalho terá a duração de 5 (cinco) meses, sem acompanhamento psicoterápico e com acompanhamento psicoterápico totalmente gratuíto, uma vez por semana na Casa da Saúde Sagrada Família, sem riscos à sua saúde; Trabalharemos neste estudo com um grupo controle de 12 pacientes sem acompanhamento psicoterápico e um grupo experimental com 12 pacientes com acompanhamento psicoterápico, para sua aceitação será necessário o preenchimento deste formulário. Sua identidade será mantida em sigilo e a qualquer momento do trabalho o Sr. (a) poderá interromper sua participação, caso não queira mais participar deste estudo. Com este estudo espera-se verificar melhorias ou não na qualidade de vida, benefícios emocionais e avaliação dos níveis glicêmicos do Sr. (a). Pesquisador Responsável ____________________________________________________________ Casa da Saúde Sagrada Família Dra.Aniete Carolina Camargo Roma_________________________________________ Termo de Consentimento Livre e Informado Eu____________________________________________________________________ Entendi todas as informações fornecidas quanto à minha participação no presente estudo e tive a oportunidade de esclarecer minhas dúvidas e concordo voluntariamente em participar do mesmo. Entendo que receberei uma cópia deste Termo de Consentimento e Livre e Esclarecido e caso não queira continuar participando não haverá qualquer mudança no meu direito de ser atendido nesta clínica. Assinatura _____________________________________________________________ São José dos Campos, __ de _____________________ de 2003 105 PRIMEIRA ENTREVISTA INDIVIDUAL Data / / Nome: Endereço: Telefone: Idade: Estado Civil: Escolaridade: Profissão: Ocupação: Qual sua faixa salarial? (em salários mínimos): 1 a 3 ( Sexo: ) 4a 6 ( ) 7a 9 ( ) acima de 10 ( Desde quando tem Diabetes? Qual sua taxa de Glicemia? Ela varia muito? Não ( ) Sim ( ) Em que momento de sua vida você percebe que ela varia? Relacione outros problemas de saúde que você tem decorrentes do Diabetes Você é acompanhado por outros especialistas? Não ( ) Sim ( ) Quais? Em que aspecto você acha que o Diabetes atrapalha sua vida? Porque? Social Profissional Familiar Sexual ) 106 Entrevista Semi-Estruturada do Discurso do Sujeito Coletivo 1ª - VOCÊ DEU SEQÜÊNCIA AO TRATAMENTO MÉDICO ASSIM QUE DESCOBRIU O DIABETES? 2ª - QUAL FOI SEU PRIMEIRO PENSAMENTO OU REAÇÃO QUANDO DESCOBRIU O DIABETES? 3ª - EM QUE MOMENTO SEU DIABETES VARIA? 4ª - COM QUE FREQÜÊNCIA VOCÊ SEGUE O REGIME ALIMENTAR? 5ª - DEPOIS DO DIABETES COMO FICARAM SUAS ATIVIDADES SOCIAIS? 6ª - COMO FICOU SEU HUMOR DEPOIS DE INSTALADA O DIABETES? 7ª - QUAL A ORIENTAÇÃO QUE VOCÊ TEVE MAIS DIFICULDADE DE SEGUIR, TOMAR A MEDICAÇÃO TODOS OS DIAS, FAZER EXERCÍCIOS FÍSICOS OU CONTROLAR A ALIMENTAÇÃO? ESTÁ PERGUNTA FOI FEITA AO FINAL DA TERAPIA BREVE PARA OS 13 PACIENTES DO GRUPO EXPERIMENTAL 8ª - O QUE FOI A TERAPIA BREVE PARA VOCÊ? 107 Teste de Qualidade de vida WHOQOL – ABREVIADO Versão em Português disponível para uso Científico no site:http://www.ufrgs.br/psiq/whoqol84.html Por favor, leia cada questão, veja o que você acha e circule no número e lhe parece a melhor resposta. 1 2 Como você avaliaria sua qualidade de vida? Quão satisfeito(a) você está com a sua saúde? muito ruim Ruim nem ruim nem boa boa 1 2 3 4 muito boa 5 muito insatisfeito Insatisfeito nem satisfeito nem insatisfeito satisfeito muito satisfeito 1 2 3 4 5 As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas últimas duas semanas. nada muito pouco mais ou menos bastante extremamente 3 Em que medida você acha que sua dor (física) impede você de fazer o que você precisa? 1 2 3 4 5 4 O quanto você precisa de algum tratamento médico para levar sua vida diária? 1 2 3 4 5 5 O quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5 6 Em que medida você acha que a sua vida tem sentido? 1 2 3 4 5 108 7 O quanto você consegue se concentrar? 1 2 3 4 5 8 Quão seguro(a) você se sente em sua vida diária? 1 2 3 4 5 9 Quão saudável é o seu ambiente físico (clima, barulho, poluição, atrativos)? 1 2 3 4 5 As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas duas semanas. nada muito pouco médio muito completamente 10 Você tem energia suficiente para seu dia-a- dia? 1 2 3 4 5 11 Você é capaz de aceitar sua aparência física? 1 2 3 4 5 12 Você tem dinheiro suficiente para satisfazer suas necessidades? 1 2 3 4 5 13 Quão disponíveis para você estão as informações que precisa no seu dia-a- dia? 1 2 3 4 5 14 Em que medida você tem oportunidades de atividade de lazer? 1 2 3 4 5 As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas duas semanas. muito ruim 15 Quão bem você é capaz 1 ruim nem ruim nem bom bom muito bom 2 3 4 5 109 de se locomover? Insatisfeito nem satisfeito nem insatisfeito satisfeito Muito satisfeito 1 2 3 4 5 17 Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade de desempenhar as atividades do seu dia- adia? 1 2 3 4 5 18 Quão satisfeito(a) você está com sua capacidade para o trabalho? 1 2 3 4 5 19 Quão satisfeito(a) você está consigo mesmo? 1 2 3 4 5 20 Quão satisfeito(a) você está com suas relações pessoais (amigos, parentes, conhecidos, colegas)? 1 2 3 4 5 21 Quão satisfeito(a) você está com sua vida sexual? 1 2 3 4 5 22 Quão satisfeito(a) você está com o apoio qu e você recebe de seus amigos? 1 2 3 4 5 23 Quão satisfeito(a) 1 2 3 4 5 muito insatisfeito 16 Quão satisfeito(a) você está com o seu sono? 110 você está com as condições do local onde mora? 24 Quão satisfeito(a) você está com o seu acesso aos serviços de saúde? 1 2 3 4 5 25 Quão satisfeito(a) você está com o seu meio de transporte? 1 2 3 4 5 As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou experimentou certas coisas nas últimas duas semanas 26 Com que freqüência você tem sentimentos negativos tais como mau humor, desespero, ansiedade, depressão? . nunca Algumas vezes freqüentemente muito freqüentemente sempre 1 2 3 4 5 Alguém lhe ajudou a preencher este questionário? .................................................................. Quanto tempo você levou para preencher este questionário? .................................................. Você tem algum comentário sobre o questionário? OBRIGADO PELA SUA COLABORAÇÃO