1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Biomedicina Trabalho de Conclusão de Curso IDENTIFICAÇÃO DE MICRORGANISMOS EM APARELHOS CELULARES DE ESTUDANTES DE BIOMEDICINA E DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA (UCB) Autor: Aline Pereira de Sousa Orientador: Profa. MSc. Lidia Maria Pinto de Lima Brasília - DF 2013 2 ALINE PEREIRA DE SOUSA IDENTIFICAÇÃO DE MICRORGANISMOS EM APARELHOS CELULARES DE ESTUDANTES DE BIOMEDICINA E DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA (UCB) Monografia apresentada ao curso de graduação em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Biomedicina. Orientadora: Profa. MSc. Lídia Maria Pinto de Lima Brasília 2013 3 Monografia de autoria de Aline Pereira de Sousa, intitulado: “Identificação de Microrganismos em Aparelhos Celulares de Estudantes de Biomedicina e de Serviço Social da Universidade Católica de Brasília”, apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Biomedicina da Universidade Católica de Brasília, em 14/11/2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada: ____________________________________________________ Profa. Msc. Lídia Maria Pinto de Lima Orientadora Curso de Biomedicina – UCB ____________________________________________________ Profa. Dra. Thais Alves da Costa Lamounier Curso de Farmácia – UnB ____________________________________________________ Profa. MSc. Juliana Camargos de Oliveira Peres Curso de Biomedicina – UCB Brasília 2013 4 Dedico este trabalho a Deus primeiramente, pois sem ele nada seria possível. E em especial a minha mãe, meu esposo Edinaldo e meus filhos Yasmin e Eduardo que sempre me apoiaram nos momentos difíceis. 5 AGRADECIMENTO Queria agradecer primeiramente a Deus, pelo dom da vida, sabedoria e por estar sempre ao meu lado, me dando força para não desistir da caminhada, mesmo nas horas mais difíceis em que tudo parecia impossível. A minha mãe pelo carinho e paciência nos meus dias de aflição e por me ensinar que existem duas coisas importantes na vida fé e perseverança, a meu esposo Edinaldo que me deu total apoio e acreditou no meu sonho sempre me dando estimulo e me deu seu ombro amigo sempre que precisei, aos meus filhos Eduardo e Yasmin e também meu irmão Diego que foram minha fonte de inspiração para lutar pelos meus objetivos. Gostaria de agradecer a minha Tia Aparecida e minha prima Mery Ellem que sempre me deram apoio e suporte nas horas em que mais precisei. Aos meus tios e padrinhos Márcia e Henrique que sempre torceram por mim me dando estímulo e vontade de vencer. A minha grande amiga Mara Neubarth que me ajudou, auxiliou, e com seu jeito adorável sempre esteve torcendo para que este momento chegasse. Aos meus eternos amigos Jéssica, Júlio e Priscila que sempre estiveram do meu lado e juntos, dividimos as angústia e as alegrias que passamos ao longo dessa caminhada. A minha orientadora pelo apoio e pelas correções que foram necessárias para execução deste trabalho e que durante toda execução do trabalho esteve me apoiando. E a todos que contribuíram de forma direta ou indireta para realização deste trabalho. 6 “O mundo é como um espelho que devolve a cada pessoa o reflexo de seus próprios pensamentos. A maneira como você encara a vida é que faz toda diferença”. (Luís Fernando Veríssimo) 7 RESUMO SOUSA, Aline P. Identificação de Microrganismos em Aparelhos Celulares de Estudantes de Biomedicina e do Serviço Social da Universidade Católica de Brasília. 2013. 39 p. Monografia (Curso de Biomedicina) – Universidade Católica de Brasília, Águas Claras, 2013. Este estudo procurou demonstrar como cocos Gram positivos (Streptococcus ou Staphylococcus) e bacilos Gram negativos (E.coli) podem ser encontrados em aparelhos celulares de acadêmicos dos cursos de Biomedicina e do Serviço Social da Universidade Católica de Brasília. Esperava-se poder evidenciar um diferencial da população que coloniza os telefones móveis em função dos ambientes aos quais estes aparelhos são expostos (salas de aula, laboratório escola, estágio em ambiente hospitalar e laboratórios de análises clínicas). A pesquisa contou com apoio de 20 estudantes voluntários sendo 10 estudantes do curso de Biomedicina e 10 do Serviço Social. As amostras foram colhidas com swab diretamente do aparelho destes estudantes e foram semeadas em meios próprios para crescimento de Gram negativos e Gram positivos. No resultado obteve-se que 80% das amostras dos telefones móveis dos estudantes do Serviço Social foram Staphylococcus coagulase negativo, enquanto 40% das amostras dos celulares dos estudantes do curso de Biomedicina foram cocos Gram positivos sugestivos de Streptococcus ou Enterococcus e 30% de Staphylococcus coagulase negativo. Não foi observada a presença de bacilos Gram negativos como contaminantes dos celulares estudados. PALAVRAS – CHAVE: Staphyloccocus sp. Streptococcus sp. Contaminação de aparelho celular. 8 ABSTRACT SOUSA, Aline P. Identification of Microorganisms in Handsets Student Biomedicine and Social Service of the Catholic University of Brasilia. 2013. 39 page. Research (Course Biomedicine) - Catholic University of Brasilia, Águas Claras, 2013. This study sought to demonstrate how Gram-positive cocci ( Streptococcus and Staphylococcus ) and Gram-negative bacteria ( E.coli ) can be found on mobile devices for academic courses in Biomedical and Social Service of the Catholic University of Brasilia . Expected to be able to show a differential population that colonizes the mobile phones according to the environments to which these devices are exposed ( classroom , lab school, internship in hospitals and clinical laboratories ) . The research was supported by 20 student volunteers and 10 students of Biomedicine and 10 of the Social Services . The samples were collected directly from the swab device these students and media were inoculated themselves to growing Gram negative and Gram positive . In the result it was found that 80 % of the samples of the mobile phones of students of Social Work were Staphylococcus coagulase negative , while 40 % of the samples of Cellular Biomedicine course students were Gram positive suggestive of Streptococcus or Enterococcus and 30 % of Staphylococcus coagulase negative. Did not observe the presence of Gram-negative bacilli as contaminants of cell studied . KEYWORDS: Staphylococcus sp. Streptococcus sp. Mobile Phone 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Staphylococcus aureus-detalhe ampliado do aspecto macroscópico das colônias.....................................................................................................................................17 Figura 2- Streptococcus e a capacidade de hemolisar hemácias.............................................. 23 Figura 3- Fluxograma de Identificação Streptococcus sp...................................................... 36 10 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Constituintes da parede celular do S. aureus que contribuem para a indução da resposta imunológica no hospedeiro....................................................................................... 19 Quadro 2- Enzimas e toxinas produzidas pelo S. aureus que participam dos mecanismos de patogenicidade e de resistência a esse patógeno .................................................................... 20 Quadro 3 – Componentes de Virulencia do Staphylococcus epidermidis ............................. 21 Quadro 4- Identificação de Staphylococcus e diferenciação de espécies................................ 21 Quadro 5- Subespécies patogênicas de Escherichia coli ........................................................ 24 Quadro 6- Características das provas bioquímicas da Escherichia coli ................................. 24 Quadro 7- Fatores de Virulência da Pseudomonas aeruginosa............................................... 26 Quadro 7- Identificação presuntiva de Streptococcus spp........................................................36 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1- Componentes de Virulência do Staphylococcus epidermidis ................................ 21 Tabela 2- Celulares que foram analisados na pesquisa............................................................ 30 Tabela 3- Identificação preliminar de Gram positivos e Gram negativos a partir das colônias crescidas em ágar sangue ........................................................................................................ 30 Tabela 4- Provas da Catalase................................................................................................... 31 Tabela 5 – Prova da Coagulase.................................................................................................31 Tabela 5- Crescimento em ágar Sangue segundo características da hemólise.........................32 Tabela 6- Microrganismos isolados a partir de telefones móveis foram semelhante.............. 35 12 ABREVIATURAS BGP – Bacilos Gram positivos CAMP – Proteína extracelular difusível EaggEC – Escherichia coli enteroagregativa EHEC – Escherichia coli enterohemorragica EIEC – Escherichia coli enteroinvasiva EPEC – Escherichia coli enteropatogenica ESS – Macromoléculas extracelulares ETEC – Escherichia coli enterotoxigenica PS – Polissacarídeo Capsular PYR – Enzima Pyrrolidonil arilamidase SCN – Staphylococcus Coagulase Negativo SIM – Teste sulfito, indol e motilidade TSI – Teste sugar iron TSST 1 – Toxic Shock Syndrome Toxin 1 UCB – Universidade Católica de Brasília UPEC – Escherichia coli Uropatogênica VM – Teste Vermelho de metila VP – Teste Voges Proskauer 13 SUMÁRIO 1. Introdução.................................................................................................................. 14 2. Revisão Bibliográfica................................................................................................. 15 3. Materiais e Métodos.................................................................................................. 28 4. Resultados................................................................................................................. 30 5. Discussão .................................................................................................................. 34 6. Conclusão.................................................................................................................. 37 7. Referências Bibliográficas........................................................................................ 39 14 1. INTRODUÇÃO As bactérias estão presentes nos mais variados ambientes e com o passar do tempo adquiriram uma importância ecológica e econômica sendo amplamente utilizadas no mais diversos campos principalmente indústrias e biotecnologia. Existem dispersas no ambiente bactérias que podem ser patogênicas para o homem, podendo desencadear as mais diversas patologias dependendo do estado imunológico do hospedeiro. A contaminação de aparelhos celulares pode ocorrer devido à incorreta higienização das mãos e do contato do telefone móvel com superfícies contaminadas por bactérias (SHAHABY et al, 2012). O presente estudo foi realizado com vinte acadêmicos dos cursos de Biomedicina e Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, a pesquisa foi realizada com auxílio de swab e as amostras coletadas em aparelhos móveis telefônicos do grupo acima descrito. O trabalho foi desenvolvido com a finalidade de identificar microrganismos em aparelho celulares de acadêmicos. Sabendo-se que estudantes do curso de Biomedicina estão em constante contato com ambiente laboratorial durante todo curso e principalmente ao término do mesmo. Entretanto também foi realizada a pesquisa em aparelhos celulares de acadêmicos do curso de Serviço Social haja vista que este alunos não tem contato com laboratório de análises clínicas durante todo o curso. Foi então proposto por este estudo realizar a averiguação do nível de contaminação nos aparelhos celulares de ambos os cursos. Contudo para realização do presente trabalho foi levantada a referida hipótese: aparelhos de estudantes e profissionais que lidam diretamente com ambiente laboratorial poderiam ter seu telefone móvel contaminado por algum tipo de bactéria proveniente da microbiota normal humana ou de bancadas laboratoriais? 15 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A evolução das telecomunicações trouxe para a sociedade o telefone celular, que foi uma das grandes inovações das últimas décadas e que proporcionou a todos um novo meio de comunicação que pode ser acessado a qualquer hora e em qualquer lugar. No entanto, a busca do ser humano em adequar cada vez mais tecnologia a esse pequeno aparelho, o transformou em objeto de estudo para estudantes que podem realizar pesquisas sem sair da sala de aula, como também objeto de trabalho e comunicação e sendo um instrumento indispensável seja em casa, na rua ou no trabalho (ALVES, 2007). Contudo, apesar de todas as conquistas e benefícios que os telefones móveis trouxeram, eles também são um ambiente propício a proliferação de microrganismos, e em específico por bactérias que se adaptam ao calor gerado pelo aparelho como, por exemplo, as que são normalmente encontrados na pele, tais como Staphylococcus epidermidis, que vivem em simbiose com o hospedeiro hígido e que em casos de imunossupressão podem vir a ser um patógeno (AL-ABDALALL, 2010). Inicialmente os telefones celulares tinham apenas a função de realizar e receber chamadas. Atualmente foram agregadas a esses aparelhos diversas tecnologias tais como: câmeras com megapixels, wireless, MP3 player, filmadora, android, touchscreen, GPS e outros itens, permitindo com esses itens acesso as redes sociais de internet, envio e recebimento de mensagens, download de jogos e músicas (ALVES, 2007). Partindo do princípio que diversos microrganismos estão por todos os lugares, sendo milhares de microrganismos que se acumulam na pele a toda hora e todos os dias, os aparelhos celulares tornaram-se objeto que acompanham a qualquer lugar seja em casa ou no trabalho, tendo contato com os mais variados ambientes e superfícies com maior ou menor indício de sujidades. Alguns desses aparelhos podem ser contaminados em função da higiene ineficiente ou até mesmo ter contato com animais e outros ambientes insalubres. E por ser um objeto portátil, que pode ser adquirido por vários tipos de público, desde profissionais de saúde e indivíduos com hábitos de higiene precários, esses aparelhos ficam expostos a todo tipo de superfícies, bolsas, mãos, bancadas, jalecos (REIS et al, 2010). Considerando que vários microrganismos podem estar presentes em diversas superfícies e podem causar uma série de patologias e uma ampla gama de infecções, principalmente em indivíduos imunocomprometidos, faz-se necessário a higienização das mãos bem como dos aparelhos celulares (REIS et al, 2010). 16 Segundo estudo de Ilusanya et al (2012), realizado em cinquenta aparelhos celulares de vendedores de alimentos, os microrganismos mais isolados de acordo com sua frequência de ocorrência percentual foram Staphylococcus aureus (50%), Streptococcus faecium (34%), Bacillus cereus (30%), Esherichia coli (26%) e Micrococcus luteus (10%). Outro estudo publicado por Al-Abdalall, (2010), realizado através da pesquisa de microrganismos em aparelhos móveis, foram encontrados: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Pseudomonas aeruginosa, Neisseria sicca e Proteus mirabilis. A autora do estudo sugere que estes microrganismos possam ter chegado aos aparelhos através das mãos de seus manipuladores e também por superfícies contaminadas com o qual estes aparelhos tiveram contato. Segundo estudo publicado por Ilusanya et al 2012, os cocos Gram positivos: comumente encontrados são as bactérias do gênero Staphylococcus são esféricas, Gram positivas, que geralmente se dispõem em cachos irregulares, crescem rapidamente em meios de cultura sendo metabolicamente ativas e são encontradas geralmente na pele e mucosa do homem e de outros animais fazendo parte da flora normal, porém podem causar formação de abcessos e várias infecções piogênicas e até mesmo choque séptico. Os Staphylococcus foram descrito pela primeira vez em 1880, através do pus de abscessos cirúrgicos, pelo cirurgião escocês Alexandre Ogston sendo atualmente um dos microrganismos mais comuns nas infecções piogênicas (SANTOS et al, 2007). Essa espécie está amplamente distribuída na pele tais como o S. capitis que pode ser encontrado como parte da microbiota normal da pele e das glândulas sebáceas do couro cabeludo, da fronte e do pescoço enquanto a S. auricularis pode ser encontrado no conduto auditivo externo. O gênero Staphylococcus pertence à família Micrococaceae sendo subdividido em 33 espécies, contudo as três de maior importância clínica são: Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis e Staphylococcus saprophyticus (KONEMAN et al, 2001). A espécie de maior interesse clínico em ambiente nosocomial é o S.aureus que está frequentemente relacionado com diversas infecções em seres humanos (SANTOS et al, 2007). O S. aureus é coagulase positivo diferenciando assim das outras espécies sendo um importante patógeno humano. A maior parte dos seres humanos já sofreu algum tipo de infecção ocasionada por S. aureus, como infecção cutânea e intoxicação alimentar (BROOKS et al, 2009). As cepas de S. aureus se desenvolvem em meios de cultura comuns e também em ágar simples com pH 7,0. A uma temperatura de 37°C após 18 a 24 horas de incubação é possível observar a formação de colônias em placa com forma arredondada, cremosa, convexa, lisa e brilhante e com coloração que pode variar do cinza ao amarelo (Figura 1) 17 (SANTOS et al, 2007). Alguns Staphylococcus patogênicos para o homem produzem a enzima coagulase que é útil para sua identificação porém as espécies S. epidermidis e S. saprophyticus são coagulase negativas. Figura 1: Staphylococcus aureus - detalhe ampliado do aspecto macroscópico das colônias. Colônias grandes, bordas convexas, cremoso e liso. A maioria das cepas de S. aureus β hemólise ocorre dentro de 24-36 horas de incubação em meio de ágar de sangue. Fonte: Atlas de Bacteriologia. Disponível em: http://fundacionio.org/img/bacteriology/cont/Staphylococcus_aureus.html A distribuição do S. aureus é muito ampla visto que essa espécie é capaz de sobreviver à dessecação e ao frio, podendo permanecer viável por longos períodos em partículas de poeira sendo resistentes ao calor por 30 minutos a 50°C (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). Esse microrganismo pode ser encontrado no ambiente de circulação do ser humano, sendo o próprio homem o seu principal reservatório. Essa espécie também pode ser encontrada em vários sítios anatômicos: intestinos, pele, fossas nasais e garganta. Sendo que o sitio de colonização é maior nas narinas visto que ele possui preferência por mucosa (SANTOS et al, 2007). O encontro de S. aureus em fossas nasais ou na pele tanto de crianças quanto adultos pode, a partir desses sítios anatômicos propiciar um ambiente favorável para o S. aureus se alojar no tecido e desencadear uma infecção local. Essas infecções podem atingir desde uma superfície local até tecidos mais profundos, a depender do estado geral e imunológico do paciente (SANTOS et al, 2007). Na colonização nasal por S. aureus o hospedeiro não desenvolve sintomas, e essa colonização assintomática tem importância clínica, pois uma vez que as narinas estão 18 colonizadas o indivíduo pode contaminar as mãos e passar a ser veículo de transferência bacteriana com o mecanismo de transferência por contato. Sendo assim em ambiente nosocomial o hospedeiro assintomático pode ser o paciente, o visitante e até mesmo um profissional da saúde (SANTOS et al, 2007). A capacidade de colonização e patogenicidade do S. aureus está correlacionada com os mecanismos de virulência da bactéria, estando associada com o mecanismo de adesão celular, captação de nutrientes e evasão da resposta imunológica do hospedeiro. Classicamente o mecanismo de patogenicidade dessa bactéria esta relacionado primeiramente com mecanismo de invasão por trauma ou processos cirúrgicos, seguido de aderência à pele ou mucosa e rompimento das barreiras epiteliais do hospedeiro. Após a invasão a bactéria utiliza mecanismos de sobrevivência e proliferação no organismo do hospedeiro que estão relacionadas com a opsonização do complemento, neutralização da fagocitose e inibição das respostas imunes humorais e celulares (SANTOS et al, 2007; TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). Os fatores de virulência que contribuem para patogenicidade bacteriana podem ser classificados em três categorias: Enzimas, Toxinas e Constituintes Celulares, como se pode ver nos Quadros 1 e 2. O S. epidermidis é a espécies que esta correlacionada a categoria dos Staphylococcus coagulase negativos. Essa espécie pode ser encontrada na pele e mucosa de indivíduos normais e está em predominância provavelmente por sua capacidade de produzir bacteriocinas ativas contra outras bactérias Gram positivas que podem competir por nichos de colonização. Podendo estar associada a infecções, tais como: endocardite, infecções produzidas por cateteres endovenosos, bacteremia e infecções de feridas. As bacteriocinas produzidas pelo S.epidermidis são da família lantibióticos (antibióticos que possuem lantionina na sua estrutura) (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). Os fatores de virulência do S. epidermidis se caracterizam por não possuir um grande número de enzimas e toxinas, quando comparado com o S. aureus, e por isso o curso das infecções causadas por essa espécie tendem a ser subagudo ou crônico. A principal característica do S. epidermidis é a sua capacidade de aderência em superfícies de polímeros formando biofilmes (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). 19 Quadro 1 – Constituintes da parede celular do S. aureus que contribuem para a indução da resposta imunológica no hospedeiro. Constituintes Definições e Funções de cada Componente Ácido Teicóico Polissacarídeo espécie-específico constituído de fosfato de ribitol e Nacetilglucosamina, capaz de ativar a via alternativa do complemento e estimular a produção de citosinas. Polímero de polissacarídeo que atua como agente quimiotático para leucócitos polimorfonucleares e induz a produção de IL-1, que vai atuar Glicanopeptideo como elo entre as respostas inflamatória e imune, e opsoninas, que revestem a bactéria, tornando-a mais facilmente fagocitada. Proteína A Proteína ligada ao peptideoglicano presente em mais de 90% das cepas de S. aureus e que se liga à porção Fc da molécula de IgG, contribuindo para a geração de efeitos anticomplementares, quimiotáticos, antifagocitários, com liberação de histamina, reações de hipersensibilidade e lesão plaquetária. Cápsula Estrutura polissacarídica que envolve a parede celular da maioria das cepas de S. aureus, protegendo a bactéria da fagocitose mediada pelo complemento (C3b) por parte dos neutrófilos polimorfonucleares, aumentando a virulência e a capacidade de invasão dos tecidos e da corrente sangüínea. Adesinas Moléculas que fazem parte da estrutura gelatinosa do glicocálix (que envolve a célula bacteriana) e que se ligam aos receptores químicos encontrados na superfície das células epiteliais do hospedeiro, promovendo a aderência da bactéria a essas células. Fonte: Santos et al, 2007. Com adaptações. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v43n6/v43n6a05.pdf 20 Quadro 2 – Enzimas e toxinas produzidas pelo S. aureus que participam dos mecanismos de patogenicidade e de resistência a esse patógeno. Nome Coagulase Catalase Alfa – toxina Beta – toxina Delta – toxina Gama – toxina Classe Enzima Enzima Toxina Toxina Toxina Toxina Esfoliatina Toxina TSST – 1 Toxina Definição e função Inativa os antibióticos betalactâmicos pela abertura do anel betalactâmico (exs.: penicilinases e cefalosporinases). Converte o fibrinogênio em fibrina, independentemente da presença do íon Ca+2 e dos fatores V, VI e VII da coagulação sangüínea, provocando a deposição de fibrina em torno do microorganismo e dificultando a fagocitose celular. Pode apresentar quatro conformações diferentes, sendo capaz de lisar hemácias e causar danos às plaquetas em casos de intoxicações graves. Degrada a esfingomielina, provocando lesões na membrana dos eritrócitos e, conseqüentemente, conduzindo à hemólise. É capaz, ainda, de inibir a absorção de água pelo íleo, devido à alteração do mecanismo de ação do monofosfato de adenosina cíclico (AMP-c), desencadeando uma diarréia aguda. Apresenta atividade hemolítica, cujo mecanismo ainda não foi devidamente estabelecido. Promove a clivagem do extrato granuloso da epiderme, causando síndromes cutâneas severas (síndrome da pele escaldada e impetigo bolhoso). Provoca febre, choque e envolvimento de sistemas orgânicos múltiplos, incluindo erupção cutânea descamativa. Fonte: SANTOS et al.,2007. Com adaptações. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v43n6/v43n6a05.pdf Nas últimas décadas o S. epidermidis vem sendo reconhecido como um importante agente de patologias, principalmente por ser agente de doenças ocasionadas em indivíduos imunocomprometidos submetidos aos processos invasivos. A maioria das infecções ocasionadas por esse patógeno é de aquisição nosocomial e raramente ocasiona infecções piogênicas ou doenças ocasionadas por toxinas. O S. epidermidis tem caráter oportunista requerendo hospedeiros comprometidos para atuar como agente patogênico. Os hospedeiros imunocomprometidos podem ser os neonatos nos quais o sistema imune ainda não está totalmente desenvolvido. Estes podem ser suscetíveis à septicemia ocasionada por S. 21 epidermidis.Os componentes de virulência que fazem correlação com a patogenicidade do S. epidermidis estão relacionados na Quadro3. Quadro3: Componentes de Virulência do Staphylococcus epidermidis Enzimas Toxinas Biofilme Cisteína proteínase – Delta hemolisina – produz - Importante agente em degrada proteínas do SI poros nos eritrócitos e outras infecções nosocomiais; Metaloprotease – Dermacina Inativa células do hospodeiro. - Dificulta ação de peptideo antimicrobianos; antimicrobiano presente na - Predomínio pele e que faz parte da defesa bacteriocinas ação de inata do hospedeiro Fonte: TRABULSI; ALTERTHUM, 2008. Com adaptações. Essa bactéria é responsável por produzir macromoléculas extracelulares (ESS) que aumentam a aderência bacteriana a superfícies plásticas de corpos estranhos (válvulas e cateteres). Essas macromoléculas são o glicocálice (adesinas). A ESS é responsável pela formação do biofilme sobre as superfícies plásticas e essa matriz extracelular pode atuar protegendo os microrganismos de agentes antimicrobianos utilizados para tratar infecções, sendo necessária a retirada do corpo estranho para que o tratamento seja eficaz (KONEMAN et al, 2001). Existem várias provas de diferenciação de identificação bioquímica da bactéria S. aureus e S. epidermidis (Quadro 4): Urease Maltose Frutose Sacarose + + V + + + + S. epidermidis - - + + + + + V Fonte: KONEMAN et al, 2001. Com adaptações. Legenda: (+) positivo, (-) negativo e V (variável) Lactose Redução de nitratos + Coagulase S. aureus subesp. aureus Espécie Fator de Aglutinação Quadro 4: Identificação de Staphylococcus e diferenciação de espécies. 22 Os estreptococos (gênero Streptococcus) são bactérias Gram positivas, anaeróbios facultativos, porém algumas cepas crescem melhor em condições de anaerobiose. São oxidase e catalase negativos, que tendem a crescer dispostos aos pares ou em cadeias. Não resistem ao aquecimento por 30 minutos a 60°C. Foi observado que formam cadeias em meios líquidos. A composição da parede celular dos estreptococos é similar a de outras bactérias Gram positivas, sendo formada de glicopeptídeo onde estão inseridos vários carboidratos, ácidos teicóicos, lipoproteínas e proteínas antigênicas de superfície. Contudo os sítios com maior incidência de colonização por esse patógeno é o trato respiratório, pele e tecidos moles (OPAS,2008). Os Streptococcus pneumoniae pode ser classificado como os agentes mais frequentes que podem desencadear patologias invasivas e graves como a pneumonia, meningite ou bacteremia. O S. faecium pode ser encontrado em amostras biológicas humanas e são mais resistentes a agentes antimicrobianos e também podem ser encontrados em diversas espécies animais. Os estreptococos requerem meios ricos para seu crescimento in vitro e algumas cepas dependem de CO2 para seu isolamento. Quando isolados em meio sólidos que contenham sangue estes microrganismo possuem a capacidade de hemolisar hemácias (Figura 2) e por isso podem ser classificados pelo tipo de hemólise em meio ágar sangue de carneiro: beta hemólise (lise completa dos eritrócitos e formação de halo transparente em torno da colônia), alfa hemólise (lise parcial dos eritrócitos) e gama hemólise (não produz hemólise) (KONEMAN et al, 2001). Dependendo da espécie podem causar febre puerperal, bacteremia, febre reumática, endocardite e outros (BROOKS et al, 2009). Figura 2: Streptococcus e a capacidade de hemolisar hemácias. a: alfa – hemólise b: beta - hemólise c: gama - hemólise Fonte: KONEMAN et al, 2001. Os pneumococos não produzem a enzima catalase, porém podem ser lisados facilmente por detergentes fracos como a bile e desoxicolato de sódio sendo uma característica útil para distingui-lo de outras bactérias. Quanto a morfologia os pneumococos 23 podem ser dispostos em pares (diplococos) e medem cerca de 0,5 a 1,25µm de diâmetro, não possuem flagelos e por isso são imóveis, não formam esporos e podem possuir cápsula. O constituinte mais importante dos penumococos é a cápsula de polissacarídeo que envolve externamente sendo um grande fator de virulência. O polissacarídeo capsular (PS) é um determinante para antigenicidade dos pneumococos e podem induzir a resposta imunológica especifica através de sua diversidade bioquímica. Essa diversidade antigênica do S.pneumoniae é responsável por pelo menos 91 sorotipos nesta única espécie. A cápsula vai proporcionar proteção a bactéria impedindo o processo de fagocitose e a ação de alguns antibióticos. Permitindo maior sobrevivência, multiplicação e disseminação para vários órgãos. Contudo a virulência, o poder de invasão pode variar de acordo com o sorotipo e a quantidade de PS produzido (OPAS, 2008). O principal habitat do Streptococcus pneumoniae é o trato respiratório, sendo assim a principal porta de entrada para o hospedeiro é a nasofaringe e começa logo nos primeiros anos de vida e até mesmo após o nascimento atingindo a taxa máxima na idade pré-escolar e diminui com o avançar da idade, dessa forma todas os indivíduos já foram colonizados por esse microrganismo em algum estágio da vida e por esse motivo existem espalhados pelo mundo muitos indivíduos portadores principalmente nos meses de inverno (OPAS,2008). Existem bacilos enterais que podem ser encontrados em aparelhos celulares segundo estudos publicados por Al- Abdalall 2010, tais como os bacilos Gram negativos Escherichia coli. A Escherichia coli é uma bactéria pertencente à família Enterobacteriaceae, bacilo Gram-negativo, anaeróbio facultativo, habita o trato gastrointestinal de seres humanos e animais. Algumas possuem flagelos. A E. coli é aeróbia e anaeróbia facultativa sua temperatura ótima de crescimento é de 30 a 37°C podendo crescer também em 25°C até 45°C, seu pH ótimo esta entre 7,2 a 7,5 porem podem desenvolver-se em pH entre 4,0 e 8,5, sua resistência segue em até 8% NaCl. Essa espécie possui fímbrias que auxilia na adesão a superfícies epiteliais do hospedeiro impedindo desta forma ser arrastadas pelo fluxo urinário ou em caso de diarréia (KONEMAN et al, 2001). A bactéria E. coli faz parte da microbiota intestinal porém algumas linhagens ou subespécies são patogênicas com produção de toxinas que causam distúrbios gastrointestinais tais como a gastrenterite, conforme descrito no Quadro 5 (KONEMAN et al, 2001; TORTORA e ALTERTHUM, 2008). Essas cepas patogênicas, que possuem como reservatório o próprio homem, são as EPEC (E.coli enteropatogênicas) e as EIEC (E.coli enteroinvasivas) sendo a forma de transmissão mais comum pessoa a pessoa. Contudo as cepas ETEC (E.coli enterotoxigênica) e EHEC (E.coli enterohemorrágicas) possuem como reservatório os animais (GONÇALVES et al, 2002). 24 Quadro 5: Subespécies patogênicas de Escherichia coli. Denominação Abreviatura Fenótipo Patogênico E.coli enterotoxigênica ETEC Produção de toxinas secretoras (toxinas labéis – LT e toxinas estáveis - ST) que não causam danos ao epitélio mucoso. E.coli enteropatogenica EPEC Adere às células epiteliais como micro colônias localizadas e causam lesões de aderência destrutivas. E.coli enteroinvasiva EIEC Invade células epiteliais. E.coli enterohemorragica EHEC Elaboração de citocinas Shiga E.coli enteroagregativa EaggEC Aderem às células epiteliais dispondo-se como uma pilha de ladrilhos. Fonte: KONEMAN et al, 2001. Com adaptações. Quadro 6: Características das provas bioquímicas da Escherichia coli Provas Bioquímicas Positivo/Negativo Principio da Prova Bioquímica Motilidade + Indica indiretamente a produção de flagelos e motilidade da bactéria. Sulfeto de hidróxido + Identifica se a espécie de bactéria que esta sendo pesquisada possuem a capacidade de liberar enxofre na forma de H2S Lisina + Verifica se a bactéria possuem enzimas que podem descarboxilar aminoácidos no meio da prova( lisina descarboxila cadaverina). VM + Proporciona a identificação de espécies de bactérias que produzem ácido fortes a partir da glicose. VP - Indol + Permite identificar bactérias que produzem a enzima triptofanase que cliva o triptofano produzindo indol, ácido pirúvico e amônia. Citrato - Determina a capacidade de um microrganismo em utilizar citrato de sódio como única fonte de carbono para metabolismo e crescimento. Urease - Permite observar se os microrganismos possuem a enzima uréase hidrolisando a ureia e, liberando amônia e produzindo coloração vermelha no meio. Fonte: KONEMAN, 2001. Com adaptações. 25 A bactéria E.coli uropatogênica (UPEC) é comumente encontrada como agente de infecção das vias urinárias sendo responsável por cerca de 90% das primeiras infecções em mulheres jovens e os sinais e sintomas mais característicos são a disúria, hematúria e piúria. A dor no flanco já pode ser indício de uma infecção da via urinária ascendente. As E.coli uropatogênicas podem produzir hemolisinas e fatores de adesão (BROOKS et al, 2009). Com relação a outro tipo de bactéria Gram negativa, a Pseudomona aeruginosa é um bacilo Gram negativo móvel e aeróbico que pode obter energia a partir de carboidratos implicando um metabolismo oxidativo podendo ser classificado como microrganismo não fermentador. Essa versatilidade permite que essa bactéria possa crescer em meios muito simples, isolando-se de praticamente todos os meios de cultura utilizado em laboratório, a uma temperatura entre 4°C a 42°C (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). Microscopicamente essa espécie é um bacilo não esporulado e móvel com um simples e único flagelo polar. As bactérias dessa espécie são amplamente distribuídas na natureza e estão frequentemente na microbiota intestinal normal e na pele dos seres humanos e também em locais úmidos e ambientes hospitalares. A maioria das cepas utiliza glicose e outros carboidratos oxidativamente são citocromo oxidase positiva (KONEMAN et al, 2001). A P. aeruginosa pode ser diferenciada das outras espécies do seu gênero através de algumas provas bioquímicas e podem ser: oxidase (+) no qual avalia se a bactéria produz a enzima citocromo oxidase permitindo identificar bacilos Gram negativos; a prova da motilidade (+) que auxilia na identificação de flagelos da cepa analisada; e as provas glicose (+) e lactose (-), que permitem avaliar se o microrganismo fermenta carboidratos, e a lisina (-) essa prova permite avaliar se a bactéria produz a enzima lisina descarboxilase a qual descarboxila lisina produzindo cadaverina e CO2 alcalinizando o meio (BROOKS et al, 2001). Macroscopicamente a P.aeruginosa cresce em meio sólido formando colônias iridescentes irregulares e a maioria das cepas produzem pigmentos hidrossolúveis tais como a piocianina que confere uma coloração azulada no meio, a pioverdina que pode ser observada com uma coloração esverdeada no meio porém, existem outros pigmentos produzidos por essa espécie. Pode ser considerado um dos principais agentes de infecção nosocomial e caracterizase pela expressão de resistência a antibióticos, sendo sua importância clínica baseada na difícil erradicação da infecção e contínuos fracassos terapêuticos como consequência da ampla expressão de fatores de virulência levando à resistência natural e adquirida a muitos antibióticos e desinfetantes (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). De fato, em hospitais, pias e 26 equipamentos para terapia respiratória podem agir como reservatórios para Pseudomonas aeruginosa (NEVES et al, 2011). As infecções ocasionadas pela P.aeruginosa envolve diversos órgãos e tecidos relacionados aos fatores de virulência (Quadro 7) que são bem diversificados e os mesmos fazem parte da estrutura celular e outros são produtos extracelulares. Quadro 7: Fatores de Virulência da Pseudomonas aeruginosa. Fatores de virulência Fatores Extracelulares Fimbrias ou Pili: auxilia na adesão as células Exoenzima S Exoenzima U (Exo S e Exo U): confere proteção bacteriana uma vez epiteliais. que a toxina Exo S é toxica para neutrófilos enquanto a Exo U é toxica para macrófagos. Flagelo: auxilia na disseminação da bactéria ao Exotoxina A: é extremamente toxica para organismo. as células. Lipopolissacarideo (LPS): confere atividade imunoestimulante, sendo liberado quando a bactéria morre ou sofre autólise da parede celular o LPS é liberado e este estimula a liberação de citocinas e aumenta a produção de anticorpos do hospedeiro. Proteases Elastase A e Elastase B: enzimas responsáveis pela danificação do tecido pulmonar e os vasos sanguíneos facilitando a disseminação da bactéria a partir de sítios localizados da infecção. Fonte: KONEMAN et al 2001. Com adaptações. Dificilmente essa espécie pode causar uma infecção em indivíduos imunocompetentes, pois para dar início a uma infecção requer em alguma alteração nas defesas do sistema imune do hospedeiro tal como traumas, cirurgias, diálises, imunodepressão fisiológica em idosos e crianças e imunodepressão terapêutica como ouso de corticóides. A patogênese consiste em três etapas cruciais: adesão bacteriana, colonização e invasão do local e infecção sistêmica disseminada. A primeira fase da infecção inicia com a colonização do epitélio alterado e adesão bacteriana, mediadas pelas fimbrias e flagelos, seguindo com a etapa de colonização no qual atuam as enzimas elastases e proteases, as quais contribuem para destruição do tecido local da infecção facilitando assim a sua disseminação (TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). Segundo estudo publicado por CASTRO e FIRMINDA (2011), que correlaciona a P. aeruginosa com algumas doenças inclusive a Fibrose cística que é uma doença autossômica e recessiva que têm como característica uma patologia complexa por afetar diversos órgãos e predileção pelo sistema respiratório e digestório e manifestando-se por quadro obstrutivo, crônico e sulpurativo. O histórico evolutivo dessa patologia é marcado por intensa 27 colonização e infecções pulmonares. Os agentes bacterianos que mais acometem são Staphylococcus aureus e o Haemophillus influenzae e a P.aeruginosa, porém dentre os citados o mais prevalente é a Pseudomonas aeruginosa que ao desencadear infecção assume o fenótipo mucóide e no caso do insucesso de um tratamento pode desenvolver e permanecer formando uma capa de proteção (biofilme) podendo conferir maior resistência aos antibióticos e dificultar o êxito de tratamento terapêutico de erradicação (CASTRO e FIRMINDA, 2011). 28 3. MATERIAIS E MÉTODOS Foram coletadas amostras de telefones móveis de alunos do curso de Biomedicina e do Serviço Social da Universidade Católica de Brasília, que voluntariamente permitiram a coleta. Estes foram divididos em dois grupos: um composto por dez telefones móveis de estudantes do curso de Biomedicina e outro composto por dez aparelhos de estudantes do curso de Serviço Social. A coleta das amostras foram realizadas com utilização de swab que foram colocados em 1 mL de solução salina estéril para serem transportados para o laboratório, onde foram semeados pelo método de estrias nos meios ágar Sangue (PROBAC) e ágar MacConkey (HIMEDIA). Os meios de ágar Sangue e ágar MacConkey semeados foram incubados entre 24 a 48 horas em aproximadamente 35°C a 37ºC, e as colônias típicas formadas nos meios foram avaliadas. As colônias típicas formadas por Streptococcus spp. são geralmente menores, puntiformes e com halos de hemólise total ou parcial (beta e alfa hemólise) que são produzidas em ágar sangue (BROOKS et al, 2009). Contudo para os Staphylococcus spp. as colônias típicas são geralmente maiores, convexas e com coloração que podem variar do branco-porcelana a amarelo e pode apresentar hemólise ou não em ágar sangue (BRASIL, 2004). As colônias típicas formadas pelos microrganismos no meio de ágar Sangue foram semeadas em ágar nutriente (HIMEDIA) com auxílio de alça bacteriológica seguindo para incubação das placas em estufa por 24 horas a 35°C e 37°C. Findo às 24 horas, partiu-se para incubação das colônias típicas em ágar nutriente e seguiu-se para incubação por 24horas a 37°C. Após decorrido o tempo, as colônias típicas que cresceram, foram realizadas a identificação presuntiva com a realização de esfregaços para coloração de Gram. No caso de Gram positivos seguiu-se então para provas de identificação de gênero sendo realizada a prova da catalase, a partir da colônia crescida no ágar nutriente para evitar interferência na prova da catalase. Sendo catalase positiva, seguiu-se para confirmação com a prova da coagulase (BRASIL, 2004). No caso do ágar MacConkey ocorreu ausência de crescimento durante os tempos de incubação entre 24 a 48 horas, caso estivesse ocorrido algum crescimento teria seguido o fluxograma descrito seguindo para testes identificação presuntiva com a prova da oxidase e os testes confirmatórios com as provas bioquímicas (TSI, SIM e Citrato). 29 FLUXOGRAMA DA METODOLOGIA SWAB DE APARELHOS CELULARES (EM SALINA ESTÉRIL) Ágar MacConkey Oxidase Fermentador + Não Fermentador TSI ( ENTEROBACTÉRIAS ) SIM Citrato ESTREPTOCOCOS + ESTAFILOCOCOS 30 4. RESULTADOS No presente estudo 20 acadêmicos da Universidade Católica de Brasília (UCB) aceitaram participar do estudo sendo que 10 estudantes foram do curso de Serviço Social e 10 estudantes do curso de Biomedicina, dos quais foram coletadas amostras dos celulares, como descritos na Tabela 1. Tabela 1 - Celulares que foram analisados na pesquisa. Celulares n = 20 Biomedicina Serviço Social 10 (50% ) 10 ( 50%) No total foram coletadas 20 amostras/celulares (100%) para ambos os cursos. E de acordo com a metodologia descrita anteriormente foi realizada a semeadura em meio ágar Sangue de carneiro 5 % e subcultura em ágar nutriente das colônias típicas. Após o crescimento em ágar nutriente foi realizada a coloração de Gram das colônias para identificação preliminar dentre microrganismos Gram positivos e Gram negativos conforme descriminados na Tabela 2, sendo que 8 (80%) das amostras do Serviço Social apresentaram cocos Gram positivos. Das amostras da Biomedicina, 90 % foram Gram positivas, das quais 2 (20%) foram bacilos Gram positivos e 7 (70%) foram cocos Gram positivos. Em 3 amostras de ambos os cursos não houve crescimento no meio de ágar sangue, tanto de Gram positivos quanto de Gram negativos, sendo 1 (10%) das amostras do grupo da Biomedicina e 2 (20%) amostras do grupo do Serviço Social. Não houve crescimento no meio de MacConkey de nenhuma amostra analisada: n = 20 (100 %). Tabela 2 – Identificação preliminar de Gram positivos e Gram negativos a partir das colônias crescidas em ágar sangue. Gram Positivos Gram negativos Biomedicina 9 (90%) 0% Serviço Social 8 (80%) 0% 31 Após a análise de Gram, foi realizada a prova da catalase e da coagulase para identificação da bactéria que apresentou a morfologia de cocos Gram positivos, que apresentou os seguintes resultados, descritos conforme Tabela 3 e 4. Conforme citado anteriormente 5 amostras de ambos os cursos não foram submetidas ao teste da catalase por serem Bacilos Gram positivos (2 amostras) ou por não terem crescimento (3 amostras). Tabela 3 – Prova da Catalase N = 20 Biomedicina Serviço Social Catalase ( + ) 3 (30%) 8 (80%) Catalase ( - ) 4 (40%) 0% N = 20 Biomedicina Serviço Social Coagulase negativa 3(30%) 8(80%) Coagulase positiva 0% 0% Tabela 4 – Prova Coagulase De acordo com a Tabela 3, do total de 20 amostras coletadas, observou-se que entre os celulares dos estudantes de Biomedicina, dos cocos Gram positivos, 30% (3/10) positivaram na prova da catalase e 40% (4/10) apresentaram-se catalase negativo para a mesma prova. Contudo na prova da coagulase, 30% (3/10) das amostras, ou seja, todas as amostras que deram a prova da catalase positiva, apresentaram-se negativas para a prova da coagulase e nenhuma amostra foi coagulase positiva. Enquanto que as amostras dos celulares dos acadêmicos do Serviço Social apresentaram 80% (8/10) das amostras positivas na prova da catalase e nenhuma destas amostras foram coagulase positiva. Desse modo foi possível observar que das 10 amostras coletadas de aparelhos celulares do grupo de acadêmicos da Biomedicina, 30% das amostras foram positivas na prova da catalase e negativas na prova da coagulase. Pode-se então sugerir a existência de colonização de Staphyloccoccus coagulase negativo (SCN) nos aparelhos desses estudantes. Enquanto no grupo de acadêmicos do Serviço Social das 10 amostras coletadas dos telefones 32 móveis, 80% das amostras foram catalase positiva e coagulase negativa, podendo-se inferir a mesma sugestão (SCN). Das nove amostras da Biomedicina 2 amostras foram bacilos Gram positivos e 7 foram cocos Gram positivos. A tabela 5 demonstra o aspecto hemolítico das colônias crescidas no meio ágar Sangue de acordo com a morfologia da colonia. Pode-se observar que dos 7 cocos Gram positivos isolados dos celulares do grupo da Biomedicina, 71 % (5/7) apresentaram crescimento com alfa-hemólise e 29 % (2/7) com beta-hemólise. Dos telefones móveis dos acadêmicos do Serviço Social obteve-se crescimento de alfa-hemolíticos em todas as amostras com crescimento bacteriano (80 %). Sendo assim, os resultados dos testes citados, sugerem a presença de Streptococcus sp ou Enterococcus sp sendo necessário mais testes subsequentes para uma adequada identificação do gênero e espécie. Tabela 5 - Crescimento em ágar Sangue segundo características da hemólise. γ Β α Biomedicina 5 (71%) 2 (29%) 0% Serviço Social 8 (80%) 0% 0% 33 Os gráficos 1 e 2 demonstram as características morfológicas de acordo com a coloração de Gram e hemolíticas segundo o crescimento em ágar sangue de acordo com o grupo de celulares analisados da Biomedicina e Serviço Social. Contudo no gráfico 1 da Biomedicina 20% das amostras das amostras são foram bacilos Gram positivos (BGP), 40% são sugestivas de Streptococcus spp. ou Enterococcus e 30% são SCN. Entretanto no gráfico 2 do Serviço Social 80% das amostras foram SCN e 20% não houve crescimento. Gráfico 1 – Grupo de Celulares da Biomedicina 2 (20%) Streptococcus ou Enterococcus (2) 20% BGP (2) 20% Streptococcus ou Enterococcus (3) 30% SCN Gráfico 2 – Grupo de Celulares do Serviço Social. 2 (20%) Ausência de crescimento (2) 20% SCN (6) 60% SCN 34 5. DISCUSSÃO Os Staphylococcus coagulase negativos (SCN) foram considerados por muito tempo como microrganismos saprófitas e raramente patogênico, entretanto atualmente foram identificados como agentes etiológicos em uma série de processos infecciosos podendo ser isolados de amostras humanas e de animais. As principais espécies envolvidas em infecções são: Staphylococcus epidermidis, Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus haemolyticus, Staphylococcus warneri, Staphylococcus hominis, Staphylococcus simulans, Staphylococcus lugdunensis e Staphylococcus xylosus, apesar de existir outras espécies que possam também causar infecções em humanos e as quais não foram citadas. Dentre as descritas o Staphylococcus epidermidis é o mais associado a infecções tais como bacteremia. São considerados patógenos oportunistas, pois raramente causam doenças em hospedeiros hígidos, somente em pacientes imunocomprometidos e em condições de risco associadas à infecções nosocomiais ocasionadas por permanência prolongada em hospitais, exposição a procedimentos de alto risco (dispositivos médicos: cateteres e próteses artificiais) e prematuridade. Os SCN fazem parte da microbiota da pele e mucosas e, portanto a pele pode ser um reservatório para esse microorganismo inclusive aquelas espécies resistentes a antimicrobianos. Sendo assim diante do exposto é notável a importância clínica desse patógeno diante de uma situação em que esses microorganismos possam alcançar a corrente sanguínea como durante um procedimento cirúrgico e ocasionar uma sepse ou bacteremia. Outro grande entrave que vêm sendo discutido em vários estudos é a capacidade que esses microorganismos têm de formação de biofilme, podendo formar biofilmes nos dispositivos médicos implantados, e uma vez aderidos ao dispositivo impedir a ação dos mecanismos de defesa do hospedeiro além de dificultar também a terapia bacteriana (TEIXEIRA, 2009). Dentre os cocos Gram positivos, catalase negativos, que foram observados no presente estudo, pode-se sugerir os gêneros Enterococcus e Streptococcus spp. que englobam os cocos com essas características de maior importância na medicina, estes são integrantes da microbiota normal, porém podem ser tipicamente oportunistas. Os Enterococcus tem aumentado sua frequência em isolados de amostras clinicas representando um desafio para os esquemas terapêuticos utilizados. Este microrganismo faz parte do trato intestinal e em menor frequência no trato genital feminino e masculino, e podem atuar como agentes etiológicos nos casos de endocardite infecciosa, bacteremia, síndromes diarreicas em recém-nascidos, infecções no trato urinário e infecções em feridas cirúrgicas. Os Streptococcus spp. possuem 35 como relevância clinica a frequência com que podem ser isolados de infecções do trato respiratório, pele e tecidos moles, endocardite, sepse e meningite. Estes microrganismos podem produzir hemolisinas que auxiliam na sua identificação e diferenciação dos Enterococcus, pois ambos possuem características morfológicas e fisiológicas semelhantes dificultando na identificação com as técnicas simples que foram abordadas no presente trabalho, de modo que teriam que serem realizadas outras técnicas mais específicas para determinação e diferenciação do gênero e espécie, como as apresentadas no fluxograma de identificação da figura 3 e quadro 7. O Teste CAMP (Christie, Atkins e Munch – Pertesen) tem como função identificar S. agalactiae, classificado no grupo B e com beta-hemolise. Algumas bactérias produzem fator CAMP (uma proteína extracelular difusível), que atua em sinergia com a beta-lisina de Staphylococcus aureus e aumenta a lise das células vermelhas do sangue ( TRABULSI e ALTERTHUM, 2008). O teste de PYR visa determinar a produção de enzima pyrrolidonil arilamidase produzida por algumas bactérias inclusive por S.pyogenes, porém podem ser confundidas colônias beta-hemolíticas de enterococos com S. pyogenes pois ambos podem apresentar positividade para esse teste (OPAS,2008). Figura 3 – Fluxograma de Identificação Streptococcus sp. Referência: OPAS/ANVISA/CGLAB-MS/Laboratório Central do Hospital são Paulo-UNIFESP. Curso Boas 36 Práticas em Microbiologia Clínica, 2008. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/boas_praticas/modulo4/id_stre8.htm Quadro 7 – Identificação presuntiva de Streptococcus spp. Referência: OPAS/ANVISA/CGLAB-MS/Laboratório Central do Hospital são Paulo-UNIFESP. Curso Boas Práticas em Microbiologia Clínica, 2008. Disponível em http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/boas_praticas/modulo4/id_stre8.htm 37 6. CONCLUSÃO O presente estudo comparou quais bactérias podem ser encontradas na superfície de aparelhos celulares de estudantes da Universidade Católica de Brasília dos cursos de Biomedicina e de Serviço Social. Estes aparelhos celulares móveis estão em constante manipulação, seja em contato com a pele de seus portadores, como vestimentas e ambientes frequentados por estes portadores de telefones móveis, fazendo uma comparação entre quais microrganismos podem estar presentes nos telefones moveis de acadêmicos de ambos os cursos. Foi esperado que os aparelhos celulares de estudantes do curso de Biomedicina tivessem um diferencial em sua população microbiana devido ao fato de terem constante contato com laboratórios de análises clínicas bem como ambientes hospitalares ao longo da sua formação e os quais são locais de intensa e diversificada população de microrganismos e, dependendo do local, estes podem adquirir resistência a vários antimicrobianos dependendo da espécie e desse modo poder representar um risco a comunidade. Ficou evidenciado no presente trabalho a presença de cocos Gram positivos, que podem ser patógenos, ocasionando infecções no trato urinário bem como infecções do trato gastrointestinal e respiratório. Enquanto que dentre as amostras analisadas foram encontrados bacilos Gram positivos que também podem fazer parte da microbiota, contudo estes microrganismos podem desencadear infecções oportunistas. Foi de grande relevância o fato de não se obter crescimento de bactérias Gram negativas no meio de MacConkey, considerando em especial os bacilos Gram negativos fermentadores (enterais), sendo um possível indicativo de que o hábito de higienização e assepsia das mãos ou higienização dos aparelhos celulares vem sendo realizado por todos os estudantes abordados na pesquisa considerando que os gêneros e espécies a que pertencem esse grupo de bactérias são ubíquos. O grupo de celulares estudados teve uma amostragem pequena e desse modo não é possível estabelecer mais espécies e gêneros de bactérias. Poderia ter sido obtido outras bactérias através de uma amostragem um pouco maior, porém haveria um entrave na metodologia descrita pois teriam que ser adotadas outras metodologias tais como teste de PYR, teste de CAMP, bile esculina e tolerância ao sal dentre outros, e com certeza mais espécies poderiam ser identificadas, assim como as bactérias em questão tais como os 38 Streptococcus spp e os Enterococcus sp que ao longo da pesquisa não se teve meios mais específicos para identificação das amostras. 39 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AL-ABDALALL, A.H.A. Isolation and Identification of Microbes Associated whith Mobiles Phones in Dammam in eastern Saudi Arabia. J Family Community Med. v. 17, p. 11-14, 2010. ALVES, J. Tecnologia Celular: uma convergência de mídias para aproximação de públicos. In: XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 2007. Disponível em <http://www.portal-rp.com.br/bibliotecavirtual/comunicacaovirtual/0317.pdf> Acessado em: 24/04/2013. BRASIL. 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