Dermatite por poxvírus em jacarés-do-pantanal, Mato Grosso. Cardoso, K.G.M., Moraes, L.G., Dias, G.B.G., Lima, S.R., Silva, L.A., Ducatti, K.R., Colodel, E.M., Pescador, C.A. Autor correspondente: [email protected] (Pescador, C.A.). Laboratório de Patologia Veterinária, HOVETUFMT, Av Fernando Correa da Costa sn, CEP78060-900, Cuiabá, MT. PALAVRAS-CHAVE: Caiman, lesões de pele, Mato Grosso. INTRODUÇÃO: Dermatopatias infecciosas podem ser fatores limitantes da produção de pele de crocodilianos, uma vez que causam escoriações irreversíveis, depreciam o produto e diminuem seu valor comercial [2]. Caiman poxvirus e Crocodilo pox vírus são patógenos que infectam crocodilianos jovens, produzindo ulcerações cinza ou cinza-esbranquiçadas localizadas na boca e na pele [5]. Surtos desta doença foram relatados nos Estados Unidos [4], Brasil [8] e Africa do Sul [6]. Durante um surto, uma grande parte de animais em uma unidade de criação pode ser afetada. Em boas condições de criação a recuperação é espontânea, mas pode durar seis semanas ou mais. Não há tratamento específico disponível. A prevenção se baseia na higiene rigorosa e criação em ambiente livre de estresse [6]. Neste trabalho relatamos a ocorrência de um surto de dermatopatia infecciosa em jacarésdo-pantanal (Caiman yacare), em Mato Grosso. MATERIAL E MÉTODOS: O surto foi observado em setembro de 2013, em jacarés com até seis meses de idade em um criatório localizado na microrregião do Alto Pantanal. Os jacarés eram alimentados com uma mistura triturada de pulmão e baço de bovinos. Foram necropsiados quatro jacarés de três meses de idade. Fragmentos de diversos órgãos foram coletados e fixados em formalina a 10% para exame histopatológico. Fragmentos de pele também foram fixados em glutaraldeído 2,5% e posteriormente enviados ao Laboratório Regional de Diagnóstico da Universidade Federal de Pelotas para microscopia eletrônica de transmissão. RESULTADOS: Os jacarés necropsiados apresentavam baixo escore corporal. Na pele foram observadas ulcerações branco-acinzentadas, de 1 a 5 mm de diâmetro, por vezes coalescentes, ao longo do corpo. Ao exame histopatológico observou-se hiperplasia de queratinócitos, alguns com degeneração hidrópica com aspecto baloniforme e corpúsculos de inclusão intracitoplasmáticos eosinofílicos. Não foram observadas alterações nos demais órgãos. Na microscopia eletrônica foram observadas formações globosas intra-citoplasmáticas de vários tamanhos, nos queratinócitos, contendo grande quantidade de partículas virais constituídas por porção nucleóide mais eletrodensa envolvida por duas membranas. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO: Os achados macroscópicos e histopatológicos são compatíveis com os descritos na literatura [1,7]. A microscopia eletrônica confirmou a presença de partículas virais com morfologia típica de poxvírus nas inclusões intracitoplasmáticas. A fonte de infecção neste surto não foi determinada, mas a ausência de doença aparente nos animais mais velhos pode indicar que era endêmica no criatório, sendo mantido como infecção persistente em portadores. A multiplicação e derramamento do vírus em tais animais podem ocorrer em condições de stress [8]. Surtos de infecção por poxvírus são susceptíveis de afetar negativamente a produção de carne e qualidade das peles [3]. A produção de jacarés está desenvolvendo-se como uma atividade econômica promissora no centro-oeste do Brasil, por isso, é importante que os produtores e veterinários se familiarizem com a doença e as medidas necessárias para o seu controle. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 1. Ariel, H. 2011. Viruses in reptiles. Vet. Res. 42:100. 2. Buenviaje, G.N., et al. 1998. Pathology of skin diseases in crocodiles. Aust. Vet. J. 76(5):357-363. 3. Fernandes, V.R.T. Caracterização e processamento da carne de jacaré-do-pantanal (Caiman yacare): composição físico-química e rendimento. Maringá, 2011. 129p. [Dissertação, programa de pósgraduação em zootecnia da Universidade Estadual de Maringá – UEM]. 4. Jacobson, E.R., et al. 1979. Poxlike skin lesions on captive caimans. J. Am. Vet. Med. Assoc. 175(9):937940. 5. Huchzermeyer, F.W. 2002. Diseases of farmed crocodiles and ostriches. Rev. sci. tech. Off. int. Epiz 21(2):265-276. 6. Huchzermeyer, F.W. et al Observations on a field outbreak of pox virus infection in young nile crocodiles (Crocodylus niloticus). J. S. Afr. Vet. Assoc. 62(1):27-29, 1991. 7. Matushima, E.R., Ramos, M.C.C. Algumas patologias na criação de jacarés no Brasil. In: Larriera, A. y Verdade, L. M. La conservación y el manejo de caimanes y crocodilos de América Latina. 1.ed. v.1. Santa Fé: Fundación Banco Bica, 1995. p.171-187. 8. Ramos, M.C.C., et al. 2002. Poxvirus dermatitis outbreak in farmed Brazilian caimans (Caiman crocodilus yacare). Aust. Vet. J. 80(6):371-372.