Influência do substrato no desenvolvimento da muda e o reflexo na produção de tomate T49-12. Aparecida C. Zandron1; Carlos D. de S. Rodrigues2; Cecília A. Machado3; Márcia P. Braga1; Paulo R.R. Chagas4. 1- Engª Agrônoma; 2- Técnico em Agricultura Natural; 3- Bióloga; 4- Orientador de Pesquisa. Centro de Pesquisa Mokiti Okada, C. Postal 033, 13537-000 Ipeúna, SP, Br. RESUMO Com o objetivo de avaliar a influência do desenvolvimento da muda na produção de tomate T 49-12, foi conduzido um experimento em estufa do Centro de Pesquisa Mokiti Okada, em Ipeúna -SP. O experimento foi instalado no delineamento estatístico inteiramente casualizado com 7 tratamentos e 4 repetições. Os substratos foram preparados a partir de misturas com húmus, kuntan, bokashi e solo da estufa em diferentes proporções, conforme os tratamentos. Pelo comprimento da parte aérea observa-se que as mudas dos tratamentos com substratos que receberam solo apresentaram os menores desenvolvimentos, diferindo significativamente (p ≤ 0,05) das mudas dos tratamentos que não receberam solo. Por outro lado, as plantas desenvolvidas nos substratos que receberam bokashi apresentaram melhor adaptação na estufa após o transplantio e os tratamentos de substratos que receberam solo e bokashi em suas composições apresentaram as maiores produções de frutos. Palavras-chaves: Lycopersicon esculentum , agricultura natural, EM (microrganismos eficazes), bokashi. ABSTRACT Influence of substrate in seedling´s development and its reflex on T 49-12 tomato yield. With the objective of evaluating the influence of seedling's development on T 49-12 tomato yield, an experiment was led in Mokiti Okada Research Center is greenhouse, in Ipeúna-SP. The experiment was installed entirely in the statistical randomized design with 7 treatments and 4 repetitions. The substrates were prepared starting from mixtures with humus, kuntan, bokashi and the greenhouse is soil in different proportions, according to the treatments. For the length of seedling´s aerial part it was observed that the seedlings of the treatments with substrate that received soil showed the smallest developments, differing significantly (p < 0,05) from the seedlings of the treatments that didn't receive it. On the other hand, the plants which developed on the substrate that received bokashi presented better adaptation in the greenhouse after the transplante and the treatments of substrate that received soil and bokashi in their compositions presented the largest fruits yield. Keywords: Lycopersicon esculentum, nature farming, EM (efficient microorganisms), bokashi. Com a modernização da agricultura e a segmentação do mercado, surgiu a especulação na atividade de produção de mudas por constituir uma das etapas mais importantes do sistema produtivo, influenciando diretamente o desempenho final da planta nos canteiros e na produção (Luz, 2000; Minami, 1995). Uma das estratégias utilizadas para se ter um ganho de competitividade é a preparação de um bom substrato para as mudas, de forma que estas consigam uma grande gama de nutrientes em um volume reduzido. Foi demonstrado nos trabalhos de Bezerra & Bezerra (2000) e Brito et al (2002) que o sucesso de uma cultura na agricultura orgânica, está sustentado na qualidade e adaptabilidade da muda tendo como fator importante na sua formação o substrato. Kämpf (2000) cita a casca de arroz com baixa densidade e o húmus com bom nível de nutrientes (ambos com capacidade de retenção de água) para formação de um bom substrato. Por existirem inúmeros tipos de substratos no mercado, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a influência do desenvolvimento da muda em diferentes substratos e o reflexo na produção de frutos do tomate T 49-12 para o cultivo no sistema natural protegido. MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado de fe vereiro a agosto de 2002, no Centro de Pesquisa Mokiti Okada em Ipeúna/SP, no sistema de cultivo natural protegido em 2 fases: fase 1 produção de mudas em bandejas de isopor com 128 células; e, fase 2 – desenvolvimento e produção, em estufa. Para a fase 1 foram utilizados 07 tratamentos: T1 = húmus (60%) + kuntan (30%) + bokashi (10%), T2 = húmus (40%) + solo (30%) + kuntan (20%) + bokashi (10%), T3 = húmus (90%) + bokashi (10%), T4 = húmus (100%), T5 = húmus (50%) + solo (50%), T6 = solo (90%) + bokashi (10%) e T7 = solo (70%) + kuntan (30%). O solo utilizado na composição dos substratos dos tratamentos T2, T5, T6 e T7, foi retirado da estufa onde foi realizada a fase 2 do experimento. Adicionou-se EM4 a 1% na composição de cada substrato e deixado em período de fermentação aeróbia por 7 dias. Após o período de fermentação, os substratos foram colocados em uma bandeja por tratamento, e, em cada célula, uma semente da cultivar de tomate T49-12. Após o plantio todos os tratamentos receberam irrigação com uma solução de EM4 a 0,1%. Durante o período de germinação e de aclimatação das mudas, todos os tratamentos receberam pulverizações semanais com EM4 a 0,05% e irrigações com água conforme a necessidade da planta. Durante a fase de produção de mudas o solo da estufa permaneceu com cobertura morta de 0,13m de espessura composta de capim napiê inteiro e picado e com irrigação constante. Uma semana antes do transplantio foi aplicada uma solução de calda de bokashi a 0,1% em área total na estufa. Para o transplantio foram abertas covas de 0,15m x 0,15m x 0,15m, colocado 300g de composto previamente preparado com húmus de minhoca (70%) + kuntan (30%) umedecido com EM4 a 1% e fermentado por uma semana. Quando um dos tratamentos apresentou-se com mudas em condições ideais para o transplantio passou-se para a fase 2. Sendo o experimento instalado no delineamento estatístico inteiramente casualizado com 7 tratamentos e 4 repetições, com parcelas compostas de 8 plantas espaçadas de 0,5m x 0,7m entre si, perfazendo 2,80m2 de área útil. Durante as fases de desenvolvimento da planta e de produção, os tratos culturais de manejos do solo e da cultura foram próprios do sistema natural (Machado et al., 2001). Para as análises de variância dos resultados e a comparação das médias utilizou-se o programa estatístico SANEST (Zonta e Machado, 1992). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados apresentados na Tabela 1 demonstram que nos dados avaliados houve diferenças significativas para p ≤ 0,05 entre os tratamentos. Na formação da muda demonstrada na Figura 1 e avaliada pelo crescimento da raiz e da parte aérea (Tabela 1), observa-se que para comprimento de raiz T1, T4, T5, T7 e T3 não diferiram significativamente entre si, porém diferiram de T6 e T2 com os menores desenvolvimentos. Para parte aérea, também T2 e T6 juntamente com T7 apresentaram os menores resultados de crescimento, diferindo significativamente dos demais tratamentos. Tabela 1- Comprimentos da raiz e parte aérea da muda medida por ocasião do transplantio (21 DAS), altura da planta na estufa (26 DAT) e produção final. Comprimento (cm) Produção Tratamento T2 T6 T1 T3 T4 T5 T7 Muda Raiz 6,08 b 6,39 b 8,47 a 7,38 ab 8,44 a 8,33 a 8,31 a Planta na Aérea 7,92 c 8,61 c 13,55 a 10,46 b 11,64 b 8,34 c 6,19 d Estufa 77,50 a 68,75 a 70,00 a 58,75 ab 63,75 ab 41,50 bc 33,75 c de frutos (kg.ha –1 ) 31.973 a 30.654 a 28.666 ab 27.094 abc 24.978 abc 13.067 bc 10.772 c DMS (5%) 1,24 1,43 23,20 16.393 valores nas colunas seguidos pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey (p ≤ 0,05). DAS = dias após o semeio; DAT = dias após o transplantio para o campo definitivo. Para produção de frutos as maiores médias foram conseguidas em T2 e T6, que apresentaram-se entre os tratamentos com melhores desenvolvimentos na estufa, não diferindo estatisticamente entre si e de T1, T3 e T4. As menores produções foram obtidas em T5 e T7, que por sua vez, também apresentaram os menores desenvolvimentos na estufa. Pelos resultados do experimento observa-se que as plantas provenientes dos tratamentos T2 e T6 que receberam solo e bokashi na composição de seus substratos, apresentaram os mais fracos desenvolvimentos na fase de mudas, porém com os melhores desenvolvimentos na estufa, ratificando-se com as maiores produções de frutos. Esses resultados concordam com os obtidos por Bezzera & Bezerra (2002) e Brito et al (2002). Porém, contrariam, as afirmações de Luz (2000); e Minami (1995) de que tamanho e desenvolvimento da muda são os principais fatores responsáveis pela alta produção. LITERATURA CITADA BEZERRA, F.C.; BEZERRA, G.S.S. Efeito no substrato na formação de mudas de meloeiro (Cucumis melo). Embrapa Agroindústria Tropical, n.78, dezembro/2002, 1-3 p. BRITO, T.D.; Machado, C.A; Rodrigues, C.D.S.. Avaliação do desempenho de substratos para a produção de mudas de alface em agricultura orgânica. Horticultura Brasileira, v.20, n.2, julho, 2002. Suplemento 2. KÄMPF, A.N. Produção comercial de plantas ornamentais. 1 ed. Guaíba: Agropecuária, 2000, 254p. LUZ, J.M.Q.; Paula, E.C.; Guimarães, T.G. Produção de mudas de alface, tomateiro e couve-flor em diferentes substratos comerciais. Horticultura Brasileira, v.18, suplemento, p. 579-581, 2000. MACHADO, C.A.; RODRIGUES, C.D.S.; WEIRICH, M.; CHAGAS, P.R.R. Avaliação de produção e de resistência ao Oídio de híbridos de pepino cultivado no sistema de agricultura natural protegido. Brasília: Horticultura Brasileira, v. 19 suplemento CD ROM, julho. 2001; MINAMI, K. Produção de Mudas de alta qualidade em horticultura. Piracicaba: T.A.Queiroz, 1995. 135p. ZONTA, E.P.; Machado, A.A. SANEST – Sistema de Análises Estatísticas. Série Didática CIAGRI, nº 6, ESALQ – USP, Piracicaba, 1992. 80p.