1 EFEITO DE DIFERENTES SUBSTRATOS NA FORMAÇÃO MUDAS DE PARICÁ1 Idelfonso Leandro Bezerra2, Luciano Pedrosa de Vasconcelos3, Nilton Roberto4, Geônidas José Machado4 & Paulo José Biesek4 RESUMO O presente trabalho teve como objetivo comparar os efeitos de diferentes substratos no crescimento inicial de mudas de paricá Schizolobium amazonicum Huber ex Duke em tubetes. O experimento foi conduzido no viveiro de mudas do Batalhão de Polícia Ambiental de Rondônia (BPA), Candeias do Jamarí, RO. Os tratamentos testados, foram: misturas de terra de subsolo (TSS), terra preta de índio (TPI), palha de café (PC), esterco de galinha (EG) e substrato orgânico comercial (SOC). Avaliaram-se: número de folhas, altura de planta e diâmetro de caule. O tratamento S1 apresentou os melhores resultados no crescimento vegetativo (número de folhas, altura de planta e diâmetro de caule). Palavras Chaves: substratos; formação de mudas; crescimento. SUBSTRATUM EFFECT DIFFERENT IN THE PARICA FORMATION DUMB ABSTRACT This study aimed to compare the effects of different substrates in the initial growth of seedlings of paricá Schizolobium amazonicum Huber former Duke in tubes. The experiment was conducted in nursery seedlings of the Environmental Police Battalion of Rondônia (BPA), Candeias of Jamarí, RO. The treatments were: mixtures of land of subsoil (TSS), and Indian black earth (TPI), straw of coffee (PC), chicken manure (EG) and organic substrate business (SOC). It was evaluated: the number of leaves, plant height and diameter of stem. The S1 treatment showed the best results in vegetative growth (number of leaves, plant height and stem diameter). Words Keys: substrates; formation of seedlings, growth. 1 Parte da Monografia de Graduação apresentada a FARO em 2006 pelo terceiro autor. Prof. Orientador/UNIRON. Fone:(69)3733-5066 Fax:(69)3733-5001. E-mail: [email protected] 3 Prof. Co-orientador/UNIRON. Fone: :(69)3225-1303. E-mail: [email protected] 4 Engenheiro Florestal/FARO. 2 2 1. INTRODUÇÃO O paricá Schizolobium amazonicum Huber ex Duke é também conhecida na Região Amazônica como bandarra ou guapuruvu-da-amazônia. Ocorre naturalmente na Amazônia Brasileira, no Peru e na Colômbia, em mata primária e mata secundária de terra firme e várzea alta (CARVALHO, 1994). A árvore de grande porte assemelha-se bastante ao Schizolobium parahyba (Vell.) Blake (guapuruvu), principamente no que se refere ao crescimento e ao emprego de sua madeira. Segundo (MELO, 1973) a espécie pode fornecer boa matéria-prima para a obtenção de celulose para papel, com fácil branqueamento e excelente resistência obtida com o papel branqueado. Seu tronco é alto e liso e sua casca cinzenta e de tonalidade bastante clara. A espécie pode alcançar de 20 a 30 m de altura e até um metro de diâmetro. A copa galhosa e regular forma uma abóbada perfeita, mas não impede o crescimento de vegetação de sub-bosque e rasteira. Sua madeira tem coloração branco-amarelo-claro, às vezes com tonalidade róseo-pálido, com superfície lisa, mais ou menos sedosa. Com o aumento dos sistemas agroflorestais nos últimos anos, principalmente na Região Amazônica e visando a preservação da floresta nativa e o uso racional do solo, o paricá tem se tornado uma importante alternativa para estes sistemas e, em função de seu rápido crescimento (PECK, 1979) incluiu-o na seleção de espécies leguminosas para consórcios agroflorestais naquela região. O tipo de substrato e o tamanho do recipiente são os primeiros aspectos que devem ser pesquisados para se garantir a produção de mudas de boa qualidade. O tamanho do recipiente deve ser tal que permita o desenvolvimento da raiz sem retrições durante o período de permanência no viveiro. O substrato exerce uma influência marcante na arquitetura do sistema radicular e no estado nutricional das plantas, afetando profundamente a qualidade das mudas (CARNEIRO, 1983). Dada a facilidade na produção, o crescimento rápido e um bom índice de estabelecimento no campo, o paricá reune excelentes parâmetros silviculturais, justificando-se sua introdução em programas de reflorestamento. Os estudos de substratos para produção de mudas de paricá ainda são escassos. Desta forma, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o efeito de diferentes composições de substratos no crescimento de mudas de paricá, visando obter informações para formulação de um sistema de produção de mudas adequado à espécie. 3 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. Localização e condução do experimento O presente trabalho foi conduzido em viveiro de produção de mudas, coberto com sombrite 50%, por um período de três meses no Batalhão de Polícia Ambiental de Rondônia – BPA, situado no município de Candeias do Jamarí – RO, apresentando as seguintes coordenadas geográfica: com uma altitude de 08º48'35" Sul e a uma longitude 63º41'44" Oeste. O clima da região corresponde à categoria AM segundo classificação de (KÖPPEN, 1936), sendo descrito como clima Equatorial quente e úmido, apresentando uma estação seca que chega até 3 meses. Segundo dados (SEPLAD, 2002), o município de Candeias do Jamari apresenta uma precipitação pluviométrica média anual de 2000 mm com temperaturas médias anuais de 24 a 26 ºC. 2.2. Tratamentos O delineamento experimental utilizado foi em blocos casualizados, com 5 tratamentos e 4 repetições, os quais consistiram das misturas de terra de subsolo (TSS), terra preta de índio (TPI), palha do café (PC), esterco de galinha (EG) e substrato orgânico comercial (SOC): S1 – 100% (SOC); S2 – 50% (TSS) + 25% (SOC) + 25% (PC); S3 - 50% (TSS) + 25% (EG) + 25% (PC); S4 – 50% (TPI) + 25% (SOC) + 25% (PC) e S5 – 50% (TPI) + 25% (EG) + 25% (PC). A parcela experimental foi composta por 36 plantas, sendo considerada parcela útil, as 12 plantas centrais. Após o preparo dos tratamentos, coletaram-se amostras para análises no Laboratório de Solos e Águas da EMBRAPA/CPAFRO – Rondônia, cujos resultados da análise química encontram-se na Tabela 1. Tabela 1. Análise química* dos substratos utilizados no experimento. Candeias do Jamari, RO, 2006. pH M.O P K Ca Mg Al H+Al V Substrato H2O g kg-1 mg dm-3 cmolcdm-3 % S1 4,8 97,82 1400 31,28 98,6 49,7 3,1 176,6 64 S2 4,7 90,34 610 35,38 69,3 40,2 2,4 204,6 41 S3 6,4 86,89 1130 32,82 50,1 35,5 0,0 69,3 63 S4 5,5 26,76 310 21,54 34,3 23,7 0,0 94,0 46 S5 6,7 28,20 420 30,51 25,8 21,2 0,0 52,8 59 (*) Análise realizada pelo Laboratório de Solo da EMBRAPA/CPAFRO, Porto Velho, RO, 2006. 4 2.3. Recipientes As mudas foram formadas em recipientes denominados de tubetes, por ser um recipiente levemente cônico, de seção circular com capacidade para 288 cm 3. São providos de oito frisos internos, eqüidistantes, com função de direcionar as raízes ao fundo do recipiente, evitando o desenvolvimento em forma espiral. Os tubetes foram cheios com os substratos e colocados em mesas com tampo de tela, em cujas malhas os tubetes foram encaixados. 2.4. Semeadura As sementes de paricá foram coletadas em árvores matrizes ocorrentes na Floresta Amazônica, na região de Ariquemes, Rondônia. Depois de coletadas as sementes, estas foram selecionadas e armazenadas no Banco de Sementes Florestais, do Batalhão de Polícia Ambiental de Candeias do Jamarí. Em seguida, foi realizada a contagem de sementes e a quebra de dormência da mesma, onde se realizou a imersão em água fervente com aproximadamente 70°C e em seguida adicionou-se água fria para que houvesse os choques térmicos das sementes, permanecendo por 24 horas, sendo este procedimento realizado um dia antes da semeadura, onde se realizou a semeadura no dia 13 de abril de 2006, distribuiu-se 1 (uma) semente/tubete. Após a semeadura, foi realizada irrigação por aspersão, duas vezes ao dia, em média. 2.5. Variáveis analisadas 2.5.1. Crescimento e desenvolvimento As avaliações referentes aos parâmetros de crescimento foram realizadas mensalmente, durante 3 meses. Aos 30, 60 e 90 dias após a semeadura (DAS). Para isso foram coletadas 9 plantas por parcela/tratamento. Na medição do diâmetro do caule (DC), foi utilizado paquímetro metálico de precisão, medindo o colo da planta. Para a altura da planta (AP) foi utilizada régua graduada, medindo-se da base do colo até o ponto apical da planta. O número de folhas (NF) foi obtido através de contagem em cada planta. 5 2.6. Análises estatísticas Os efeitos dos substratos sobre a germinação, crescimento e desenvolvimento das plântulas de paricá foram avaliados por meio de análise de variância com teste “F” (GOMES, 1978 e FERREIRA, 1996). Como também, por ser qualitativo, aplicou-se o teste de Tukey (p<0,05) para comparação das médias segundo (SANTOS, et al., 2000). Para análises estatísticas, utilizou-se o programa computacional ASSISTAT (SILVA & SANTOS, 2006). 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1. Crescimento e desenvolvimento Os resultados médios referentes a número de folhas (NF), altura de planta (AP) e diâmetro do caule (DC), para as três épocas de avaliações (30, 60 e 90 dias após a semeadura, DAS) estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3. Resumo de ANAVA e médias para número de folhas (NF), altura de planta (AP) e diâmetro do caule (DC) de plantas de paricá submetidas a diferentes substratos, aos 30, 60 e 90 dias após a semeadura (DAS). Candeias do Jamari (RO), 2006. 30 DAS Causa da variação 60 DAS 90 DAS Variáveis NF AP DC NF AP DC 6,15 ns 0,02 ns 0,13 ns 13,18 19,57 0,28 ** 0,04 ns 146,52 NF AP DC Valores de Quadrado médio Blocos 0,04 ns Tratamentos 0,10 * Resíduo 0,02 4,58 0,02 0,12 2,98 0,02 0,11 3,53 0,06 CV(%) 3,59 9,97 4,37 6,88 5,14 4,00 5,36 4,82 6,10 ** * ** 0,07 ns 0,05 ns 13,10 * 0,48 ** 0,41 * 179,04 ** 0,07 ns 4,78 ** Médias nº cm mm nº cm mm nº cm mm Substrato S1 4,33 a 25,33 a 3,80 a 5,25 43,99 a 4,28 a 6,80 a 50,41 a 6,21 a S2 4,00 b 20,54 a 3,31 bc 5,16 29,82 b 3,62 bc 5,90 b 32,83 c 3,71 b S3 4,08ab 21,16 ab 3,10 c 5,25 28,91 b 3,34 c 6,46 ab 36,79 bc 3,83 b S4 4,00 b 19,90 b 3,26 bc 5,00 32,64 b 3,91 b 6,39 ab 36,95 bc 3,89 b S5 3,91 b 20,36 b 3,46 b 5,08 32,40 b 3,73 b 6,49 ab 37,70 b 3,66 b 0,32 4,82 0,33 0,79 3,89 0,34 0,77 dms 4,23 0,58 (*) significativo a 0,05 e (**) a 0,01 de probabilidade; (ns) não significativo a 0,05; (dms) diferença mínima significativa; médias seguidas de letras diferentes diferem entre si, ao nível de 0,05 de probabilidade, pelo teste de Tukey. 6 3.2. Número de folhas (NF) O crescimento das plantas, com base no número de folhas (Tabela 3 e Figura 1), nota-se que o número de folhas (NF) avaliado aos 30 e 90 dias após a semeadura (DAS), foi influenciado significativamente pelos substratos (S), em nível de 0,05 de probabilidade. Percebe-se, através dos dados contidos na referida tabela e figura, que as diferentes misturas de substratos aos 60 DAS, não exerceram efeito significativo sobre o número de (NF). Nota-se ainda na Tabela 3 e Figura 1, mediante a aplicação do teste de Tukey (p<0,05) que aos 30 DAS os tratamentos S1 (4,33 g) e S3 (4,08 g), foram os que auferiram as maiores médias de número de folhas, em relação aos demais tratamentos. Entretanto, aos 90 DAS foi constatado efeito significativo (p<0,05) entre os tratamentos S1 (6,80 g) e S2 (5,90 g) com um acréscimo de 13,23% no número de folhas. 8,0 30 DAS NF a a ab ab ab a a b 90 DAS ab b 6,0 5,0 60 DAS a 7,0 a b a b 4,0 3,0 2,0 1,0 0,0 S1 S2 S3 S4 S5 Tratamentos Figura 1. Número de folhas aos 30, 60 e 90 DAS, em função de diferentes substratos. 3.3. Altura de planta (AP) A altura média de plantas (AP) observadas aos 30, 60 e 90 DAS estão apresentadas na Tabela 3 e Figura 2. Considerando-se as médias nas épocas de avaliações, observam-se efeitos significativos para os tratamentos estudados ao nível de 0,01 de probabilidade. Aos 30 DAS os tratamentos S 1, S2 e S3, apresentaram maiores médias em altura de planta. Pelo teste de Tukey, notam-se decréscimos em relação a S1 no crescimento das plantas aos 60 DAS de 32,21, 34,28, 25,28, 26,34% e aos 90 DAS 34,87, 27,01, 26,70, 25,21%, respectivamente para S2, S3, S4 e S5. 7 60,0 30 DAS a AP (cm) 50,0 90 DAS a ab 40,0 30,0 60 DAS b ab ab b b b a a ab 20,0 b b 10,0 0,0 S1 S2 S3 S4 S5 Tratamentos Figura 2. Altura de plantas (cm) aos 30, 60 e 90 DAS, em função de diferentes substratos. 3.4. Diâmetro do caule (DC) Para a característica diâmetro do caule (DC), foi influenciado pelos diferentes substratos (p < 0,01) nos períodos de medição (Tabela 3 e Figura 3). Nota-se um melhor desenvolvimento do diâmetro do caule nas mudas produzidas no tratamento S1 (composto orgânico industrializado), sugerindo a exigência da espécie por misturas mais leves. O diâmetro do caule foi estatisticamente superior aos demais tratamentos S2, S3, S4 e S5, aos 30 DAS, com decréscimos de DC de 12,89, 18,42, 14,21 e 8,94%, aos 60 DAS 15,42, 21,96, 8,64, 12,85% e aos 90 DAS 40,25, 38,32, 37,35, 41,06%. Nota-se diferença significativa de S3 em relação a S5 aos 30 DAS, com o decréscimo de 10,40% e aos 60 DAS, com decréscimos de 14,57 e 10,45%, comparados a S4 e S5. Caldeira et al. (2005), analisando também aos 30, 60 e 90 DAS, a altura e o diâmetro do colo das mudas de Paricá tiveram desenvolvimento semelhante e compatível durante os três períodos de avaliação, independentemente dos volumes de tubetes utilizados. 8 7,0 30 DAS a 60 DAS 90 DAS 6,0 DC (mm) 5,0 4,0 a a bc b bc b c 3,0 c b b b bc b b 2,0 1,0 0,0 S1 S2 S3 S4 S5 Tratamentos Figura 3. Diâmetro do caule (mm) aos 30, 60 e 90 DAS, em função de diferentes substratos. 4. CONCLUSÕES Os tratamentos S2, S3, S4 e S5 promoveram redução da altura e diâmetro do caule das plantas aos 30, 60 e 90 dias após a semeadura; Os substratos utilizados como tratamentos, não afetou negativamente a emissão de folhas (NF) aos 60 dias após a semeadura, mas influenciou quando analisadas aos 30 e 90 dias após a semeadura; Considerando os resultados obtidos, o tratamento S1 (100% substrato orgânico comercial-Plantmax) pode ser recomendado para a produção de mudas de paricá em tubete. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARNEIRO, J. 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