TERMO DE APROVAÇÃO Luiz Gustavo Voss TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C) Este trabalho de conclusão de curso foi julgado e aprovado para obtenção do título (grau) de Médico Veterinário no Programa (Curso) de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná. Curitiba, 18 de Maio de 2007 _________________________________ Medicina Veterinária Universidade Tuiuti do Paraná ________________________________________ Orientadora: Profa. MSC. Tais Marchand Rocha Moreira Universidade Tuiuti do Paraná ________________________________________ Prof a. Dra. Maria Aparecida de Alcântara Universidade Tuiuti do Paraná _________________________________________ Prof a. Dra. Ana Laura Angeli Universidade Tuiuti do Paraná UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURITIBA 2007 UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde Curso de Medicina Veterinária Luiz Gustavo Voss TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C.) CURTIBA 2007 Reitor Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitora Acadêmica Profa. Carmem Luiza Da Silva Pró-Reitor de Planejamento Sr. Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão Profa. Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Secretário Geral Prof. João Henrique Faryniuk Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profa. Neide Mariko Tanaka Coordenador de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária Profa. Elza Maria Galvão Ciffoni Metodologia Científica Profa. Ana Laura Angeli CAMPUS CHAMPAGNAT Rua Marcelino Champagnat, 505 – Mercês CEP: 80215-090 – Curitiba – PR Fone: (41) 3331-7958 APRESENTAÇÃO Este Trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C.) apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Médico Veterinário é composto por um Relatório de Estágio, no qual são descritas as atividades realizadas durante o período de 12/02 a 07/04/07 no Consultório Veterinário Nutrisul Ave Animal Ltda, localizado no município de Araucária – PR, local do cumprimento do estágio curricular. Dedico este trabalho aos animais, o verdadeiro motivo desta profissão. AGRADECIMENTOS Agradeço à Deus. Aos meus pais, irmãos, avó e demais familiares pelo incentivo e por acreditar no meu potencial para a conclusão desta carreira. Ao Dr. Paulo Eduardo Caron, ao Prof. MSC. Luiz Felipe Caron e a Dra. Fernanda Baumel Szczypior, pela oportunidade de convivência e experiência profissional à mim transferidas. Ao grande amigo Matheus Krolow, companheiro dos trabalhos, dos mates, dos gaitaços na faculdade, das sapecadas de pinhão e das lidas com os animais. À Profa. MSC. Tais Marchand Rocha Moreira pela orientação acadêmica. Aos demais mestres da Universidade Tuiuti do Paraná. Luiz Gustavo Voss RELATÓRIO DE ESTÁGIO CURRICULAR Relatório de Estágio Curricular apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para Obtenção do título de Médico Veterinário. Professora Orientadora: Profa. Tais Marchand Rocha Moreira Orientador Profissional: Dr. Paulo Eduardo Caron CURITIBA 2007 LISTA DE FIGURAS FIGURA 01 – FACHADA DO CONSULTÓRIO VETERINÁRIO..........................10 FIGURA 02 – EXAME CLÍNICO EM UM CÃO COM ICTERÍCIA E SUSPEITA DE LEPTOSPIROSE.................................................................................................17 FIGURA 03 – MUCOSA ICTÉRICA OBSERVADA EM UM CÃO INFECTADO POR Leptospira. copenhagenii............................................................................20 RESUMO O estágio curricular supervisionado foi realizado no Consultório Veterinário Nutrisul Ave Animal Ltda, sob a orientação profissional do Médico Veterinário Dr. Paulo Eduardo Caron, CRMV-PR 1890 no período de 12⁄02 a 07⁄04 de 2007 em um total de 328 horas, onde foram acompanhadas diariamente as atividades desenvolvidas nas áreas de Clínica Médica de Grandes e Pequenos Animais. Para os referidos relatos de casos, as revisões foram baseadas em literaturas científicas e também sobre a experiência profissional e vivência clínica observada na rotina do local de estágio. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9 2 CONSULTÓRIO VETERINÁRIO NUTRISUL ............................................... 10 3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS ................................................................. 11 4 LEPTOSPIROSE .......................................................................................... 12 4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 12 4.2 RELATO DO CASO CLÍNICO .................................................................... 17 4.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 20 5 PARVOVIROSE ............................................................................................ 23 5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 23 5.2 RELATO DO CASO CLÍNICO .................................................................... 28 5.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 30 6 CINOMOSE................................................................................................... 33 6.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 33 6.2 RELATO DE CASO .................................................................................... 37 6.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 38 7 INTOXICAÇÃO POR PIRETRÓIDES ........................................................... 39 7.1 DEFINIÇÃO................................................................................................ 39 7.2 RELATO DE CASO .................................................................................... 40 7.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 42 8 SESAMOIDITE.............................................................................................. 43 8.1 REVISÃO DE LITERATURA ...................................................................... 43 8.2 RELATO DO CASO CLÍNICO .................................................................... 45 8.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 47 8 9 MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA .......................................... 48 9.1 DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA ........................................................................ 48 9.2 RELATO DE CASO CLÍNICO .................................................................... 52 9.3 DISCUSSÃO .............................................................................................. 53 10 REFERÊNCIAS........................................................................................... 54 11 ANEXOS ..................................................................................................... 57 9 1 INTRODUÇÃO Este relatório de Estágio Curricular do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná tem a finalidade de descrever casos clínicos e seus respectivos tratamentos, observados durante o período de estágio, comparando os procedimentos realizados na prática com as referências bibliográficas. O estágio curricular teve duração de 328 horas e foi realizado no período de 12 de Fevereiro de 2007 à 07 de Abril de 2007 sob a orientação profissional do Médico Veterinário Dr. Paulo Eduardo Caron, nas áreas de Clínica Medica de Grandes e Pequenos Animais e sob orientação acadêmica da Profa. MSC. Tais Marchand Rocha Moreira. 10 2 CONSULTÓRIO VETERINÁRIO NUTRISUL O Consultório Veterinário Nutrisul iniciou suas atividades em Setembro de 1997 e desde então possui o atendimento clínico a grandes e pequenos animais. O consultório também possui o serviço de Radiologia Veterinária. No consultório trabalham 2 (dois) médicos veterinários, com atendimento de Segunda a Sexta-feira das 08:00 às 18:00 e Sábado das 08:00 às 12:00. O Consultório possui uma sala de recepção, duas salas de atendimento, sala de radiografia com sua respectiva sala de revelação. Possui ainda um local para o armazenamento de medicamentos de uso na rotina e uma geladeira exclusiva e específica para a conservação de vacinas e medicamentos que necessitem refrigeração. FIGURA 01 – FACHADA DO CONSULTÓRIO VETERINÁRIO 11 3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As atividades desenvolvidas no local de estágio foram o auxílio na preparação e aplicação de vacinas e medicamentos, administração de fluidoterapia intravenosa, contenção de animais, exame pré-anestésico, aplicação de MPA (medicação pré-anestésica), orientação à farmácia veterinária da empresa, atendimento a campo e domiciliar no setor de grandes e pequenos animais, limpeza e curativos simples, ataduras, talas e coleta de sangue para exames laboratoriais. Juntamente eram realizadas as discussões dos casos clínicos com os demais profissionais do consultório, relatórios para os órgãos fiscalizadores, projetos de destinação de resíduos de serviço de saúde e projetos de manejo e nutrição de bovinos e eqüinos para os criadores da região. 12 4 LEPTOSPIROSE 4.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A Leptospirose é uma zoonose de ampla difusão em todo o mundo causada por microorganismos do gênero leptospira. Na classificação atual dois grandes grupos de espécies de leptospiras: as patogênicas, cujo principal representante é a leptospira interrogans e as saprófitas como a leptospira biflexa (CEPANZO, 1998). Devido as suas características morfológicas e culturais serem semelhantes, a classificação das leptospiras depende geralmente de suas características antigênicas verificas nas provas de aglutinação microscópica, utilizando-se de antisoros específicos para cada variante sorológica (CEPANZO, 1998). Vacinas de cães contem cepas de L.canicola e L.icterohaemorragiae e promove imunidade contra sorovares homólogas e protege contra a doença clínica, talvez não previna a colonização dos rins resultando em um quadro crônico e não oferece proteção contra outras cepas presentes na natureza (MCDONOUGH, 2003). A Leptospira sp. penetra nas mucosas, em solução de continuidade e na pele intacta: rapidamente invade a corrente sangüínea (4-7dias) dissemina-se por todas as partes do corpo (2-4 dias). A invasão leva o animal apresentar febre, leucocitose, anemia transitória (hemólise) hemoglobinúria moderada e albuminúria. A febre e a bacteremia são resolvidos rapidamente. Danos aos 13 capilares e células endoteliais ocasionalmente resultam em petéquias hemorrágicas, no fígado necrose e icterícia intrahepática, no rim leptospirúria e a leptospira pode estar localizada nos túbulos renais danificados. O organismo se replica nas células epiteliais dos túbulos, a morte geralmente ocorre como resultado de uma nefrite intersticial, danos vasculares e insuficiência renal podendo resultar em uma septicemia generalizada (MCDONOUGH, 2003). Geralmente uma ou mais sorovares estão envolvidos na doença endêmica. Os sorovares mais comuns são a L.canicola e L.icterohemorragiae. Está distribuída pelo mundo especialmente em regiões quentes e úmidas, águas paradas, solos neutros ou levemente alcalinos promovem a presença do microorganismo no ambiente, afetando principalmente cães e raramente gatos (MCDONOUGH, 2003). A leptospirose é causada por sorovares da leptospira interrogans, uma espiroqueta móvel e filamentosa que infecta a maioria dos animais silvestres, domésticos e o homem. Vários sorovares infectam os cães e gatos mas a doença clínica só ocorre nos cães (SHERDING, 1998). No Brasil, os cães são afetados pelos sorovares: L.canicola, L. icterohemorragiae, L. pomona, L. grippotyphosa, L. bratislava, L. copenhagenii, L. australis, L. autmnalis, L. ballum, e L. bataviae. e os gatos pelos sorovares L. canicola, L.pomona, L.grippothiphosa e L.bataviae (DODGE, 2006). Variam de acordo com a idade e com o estado imunológico do animal, fatores ambientais que afetam a sobrevivência da leptospira sp. e virulência do sorovar. Na forma aguda e subaguda os sinais são febre, mialgia, rigidez, calafrios, fraqueza, anorexia, depressão, vômito, rápida desidratação diarréia, 14 icterícia, tosse espontânea, dificuldade respiratória polidipsia e poliúria levando à anúria (SHERDING, 1998). Na forma crônica a doença não é aparente. A febre tem origem desconhecida, e o paciente apresenta polidipsia e poliúria levando à insuficiência renal crônica. Achados ao exame físico: taquipnéia, pulso rápido e irregular baixa perfusão capilar, hematemese, hamatoquesia, melena, epistaxe, congestão das mucosas, hemorragia petequial e equimótica disseminada, relutância para movimentar-se, hiperestesia paraespinhal andar rígido, conjuntivite, rinite, hematúria e linfadenopatia moderada (MCDONOUGH, 2003). A transmissão pode ser direta ou indireta. A forma direta ocorre pelo contato com o hospedeiro infectado com a urina contaminada, fetos e anexos fetais infectados e contato sexual (sêmen) (MCDONOUGH, 2003). Já, a forma indireta ocorre por meio de fômites e exposição a um ambiente contaminado como a vegetação, solo, comida, água e cama que oferece condições para Leptospira sp. sobreviver (MCDONOUGH, 2003). A vacina é a proteção contra o sorovar específico, previne uma doença clinica como resultado de um sorovar homólogo, a colonização do rim e a contaminação da urina podem não ser prevenidas. Escoriações na pele podem aumentar o risco de infecção (MCDONOUGH, 2003). As infecções subclínicas e crônicas são de difícil diagnóstico. Nos cães deve ser diferenciada de dirofilariose, anemia hemolítica imunomediada, bacteremia/septicemia, vírus da hepatite infecciosa canina, herpesvírus canino, neoplasia hepática, febre do carrapato, erliquiose, toxoplasmose, neoplasia renal, cálculo renal, brucelose e cinomose (MCDONOUGH, 2003). 15 Nos exames laboratoriais, o microhematócrito e proteínas plasmáticas totais estarão aumentados devido a desidratação. Leucocitose com desvio à esquerda, leucopenia inicial que perdura até a fase leptospirêmica, trombocitopenia e aumento nos produtos da degradação de fibrina. Elevação dos azotos e principalmente de acordo com o grau de insuficiência renal. Hiponatremia hipocloremia, hipocalemia, hiperfosfatemia, bem como proteinúria e isostenúria de acordo com o grau de insuficiência renal (MCDONOUGH, 2003). Na sorologia através do teste de aglutinação microscópica, durante a fase aguda e, 3 a 4 semanas de animais que não foram vacinados inicialmente, o titulo pode estar baixo (1:100 – 1:200) e elevado em animais convalescentes (1:800 – 1:1600), quando um sorovar homólogo de Leptospira sp. é testado. Quando vacinados apresentam titulo abaixo de (1:400) das cepas de L. canicola e L. icterohemorragiae (MCDONOUGH, 2003). Para confirmação da infecção atual versus a infecção vacinal anterior deve-se demonstrar um título em elevação, deve-se aumentar em 4 vezes o título durante a enfermidade aguda quando repetido durante a convalescença (SHERDING, 1998). O teste de anticorpos fluorescentes na urina é mais conclusivo e a Leptospira sp. não precisa estar viável, deve-se manter a urina sob refrigeração e enviá-la em um isopor com gelo, podendo ser feito um tratamento prévio com furosemida para obtenção da amostra (MCDONOUGH, 2003). Os métodos diagnósticos como cultura de fluidos corporais ante mortem como urina, sangue e humor aquoso e tecidos post mortem como rim, fígado, 16 feto e placenta. O que geralmente não é praticado devido à labilidade da Leptospira (MCDONOUGH, 2003). Os corantes especiais como o corante de prata Warthin-Starry possuem afinidade imunohistoquímica com anticorpos monoclonais das amostras de tecidos do fígado, rim, feto e placenta fixados com formalina (MCDONOUGH, 2003). Como tratamento é indicado o uso de Penicilina G procaína- 40.000 a 80.000 UI/kg IM a cada 12 ou 24 horas até que o rim retome suas funções normais. Diidroestreptomicina 10-15 mg/kg IM a cada 12 horas por um período de 2 semanas para eliminação dos organismos presentes no tecido intersticial renal. A Doxiciclina 5 mg/kg VO ou IV a cada 12 horas durante 2 semanas, deve ser usada isoladamente para tratar leptospiremia e leptospirúria (MCDONOUGH, 2003). Como a prevenção da exposição não constitui uma expectativa realista recomenda-se a vacinação em rotina contra a leptospirose. A vacinação ajuda a reduzir a incidência e a severidade da leptospirose mas não impede a infecção subclínica e a eliminação urinária (SHERDING, 1998). A bacterina contra a Leptospira bivalente (L.canicola, L. icterohemorragiae) é um componente da maioria das vacinas polivantes (incluída com o vírus da cinomose, parvovirose e adenovirose) utilizados em programas de vacinação rotineiros. As vacinas disponíveis no mercado específicas para leptospirose apenas tendem a proteger contra quatro sorovares entre eles L.canicola, L. icterohemorragiae, L. pomona, L. grippotyphosa (DODGE, 2006). 17 4.2 RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente: Foguinho Espécie: Canina Raça: Pinscher Peso: 700 gramas Suspeita clinica: leptospirose. O paciente apresentou anorexia progressiva há dois dias, perda de peso, polidipsia e prostração, e encontrava-se com o quadro de vacinação em dia. O proprietário relatou a presença de ratos no ambiente. Ao exame clinico observou-se temperatura de 39,6ºC, freqüência cardíaca de 120 batimentos por minuto, freqüência respiratória de 40 movimentos por minuto e a palpação não se observou alterações significativas. FIGURA 02 – Exame clínico em um cão com icterícia e suspeita de leptospirose. 18 O principal diagnóstico era de leptospirose, e que haveria uma indicação de eutanásia devido ao risco de as pessoas que conviviam com o cão pudessem contrair a doença, e de que o tratamento clínico – medicamentoso não era indicado devido a possibilidade de haver uma possível cura dos sinais clínicos, mas de que o animal poderia ser um portador sadio de leptospirose e poderia ser um potencial disseminador da doença. Segundo orientação da equipe do laboratório Marcos Enriette, para confirmar o diagnóstico e detectá-la através de sorologia são necessárias três amostras de soro com coletas realizadas a cada oito dias sendo que a primeira normalmente dá negativa e que se o animal sobrevivesse seria necessário repetir o exame após oito dias e se novamente der negativo um terceiro exame seria necessário uma vez que a amostra de soro só será reagente na fase de leptospiremia. Os proprietários não optaram pela eutanásia, e sim por fazer o exame e aguardar a resposta em casa com o animal. Estes foram orientados sobre todos os cuidados ao manusear o paciente, bem como o uso de luvas, o isolamento e a limpeza e desinfecção dos ambientes com solução super concentrada de hipoclorito várias vezes ao dia e, em hipótese alguma de que crianças brincassem com o cãozinho. Procedeu-se a coleta do sangue sob anestesia geral com o protocolo de Tiletamina + Zolazepam na dosagem de 5 mg/Kg IM e enviado a amostra de 3 ml em um frasco estéril, conservado sob refrigeração ao Centro de Diagnóstico Marcos Enrriete, situado na cidade de Curitiba. Neste período foi prescrito o antibiótico a base de Difloxacino comprimidos na dosagem de 5 mg/kg/dia durante sete dias. 19 No dia seguinte, o resultado do primeiro exame apontou como não reagente, conforme anexo 01, foi conversado com o proprietário por telefone e avisado que era para dar seqüência com os cuidados e aguardar mais sete dias para proceder novamente outra coleta de sangue se o animal permanecesse vivo. Passados oito dias, o paciente voltou em um estado caquético, sem se alimentar e muito fraco, e então foi coletada novamente amostra e enviada ao laboratório no dia seguinte. No mesmo dia funcionários do laboratório avisaram que a amostra de soro confirmou como reagente, conforme o anexo 02, em seguida foi ligado para o proprietário comunicado o resultado. Ao mesmo tempo foi entrado em contato com o centro de zoonoses do município de Araucária e comentado sobre o resultado positivo. O nome do proprietário e o endereço foram informados bem como as medidas tomadas para com o paciente e com os contactantes que entraram em contato com o animal. Neste ponto ausentou-se a responsabilidade do Médico Veterinário com relação às orientações para os proprietários sobre as medidas que deveriam ser tomadas com as pessoas da casa. Dentro de 30 minutos o proprietário chegou no consultório trazendo o paciente para que fosse feita a eutanásia, a qual foi realizada com o seguinte protocolo: Tiletamina + Zolazepam na dosagem de 5 mg/kg IV, e quando foi atingido o plano anestésico adequado foi aplicado 10 ml de cloreto de potássio para promover uma fibrilação ventricular e conseqüentemente uma parada cardíaca levando o animal a óbito sem sofrimento. Após o procedimento de eutanásia, a pedido do cliente, o cadáver foi colocado em um saco plástico para que ele o levasse pra casa a fim de 20 proceder o enterro em uma cova profunda no local que ele escolhera. Foi orientado para que a cova fosse em um lugar protegido da circulação de pessoas e animais, e que fosse adicionado cal virgem em grande quantidade no local do enterro, sendo que o proprietário não optou pelo serviço de transporte e destino adequado do cadáver, que é realizado por uma empresa especializada que presta serviço para o consultório. FIGURA 03 – Mucosa ictérica observada em um cão infectado por Leptospira. Copenhageni. 4.3 DISCUSSÃO A leptospirose é uma zoonose de importância sanitária e revisando o caso, os sinais clínicos e exames laboratoriais vieram a confirmar uma suspeita previamente estabelecida. Sem dúvida a experiência clínica conta muito e muitas vezes os sinais clínicos são soberanos, vindo a confirmar um diagnóstico com segurança antes mesmo dos exames laboratoriais, proporcionando um cuidado especial 21 aos proprietários e sendo seguro até mesmo para os colegas de trabalho. A indicação da eutanásia visa principalmente a segurança dos contactantes. Quanto ao protocolo anestésico utilizado, anestesia dissociativa, oferece segurança em diversas espécies de animais e o fato do paciente estar anestesiado visa principalmente a segurança daqueles que estavam realizando o procedimento, pois tratava-se de uma zoonose de grande risco de contaminação e ao mesmo tempo pela segurança em manter o animal sem agressões durante os procedimentos de coleta de materiais para exames. Quanto as indicações de isolamento, cuidados com a desinfecção e o manuseio do animal com luvas, demonstram prova de um conhecimento aplicado não só à saúde animal e sim a segurança de todos os que convivem com o paciente. De acordo com a literatura a confirmação como reagente ao exame sorológico ocorre somente quando se encontra na fase de leptospiremia, em um período de 7 a 14 dias após a infecção e quando o resultado é dado como falso negativo em virtude do animal ainda estar no período de incubação. Com relação à eutanásia vem a ser muitas vezes uma decisão difícil e até dolorosa para uma pessoa que estuda tanto para preservar a saúde dos animais, mas também é uma atitude humanitária quando o animal está em sofrimento e, principalmente, quando pode ser um potencial disseminador de uma zoonose de grande risco para a saúde humana. E quanto a decisão do proprietário de enterrar o paciente por conta própria, considera-se uma decisão de risco, quando havia a possibilidade do transporte e destinação adequada do cadáver por uma empresa especializada 22 no destino de materiais e resíduos de serviços de saúde baseados na RDC 306 de 07⁄12⁄2004. 23 5 PARVOVIROSE 5.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A infecção por Parvovírus canino tipo 2 (CPV2), é uma doença sistêmica aguda que se caracteriza por enterite aguda e hemorrágica e altamente contagiosa, prevalece mundialmente desde o final dos anos setenta (SHERDING, 1998). Muitas vezes é fatal para filhotes, os quais podem evoluir para a forma miocárdica, sem sinais entéricos, depois de um breve período de indisposição. A forma miocárdica observada em alguns filhotes durante surtos anteriores de contaminação quando a população de animais era altamente susceptível, tornou-se rara hoje (CARMICHAEL, 2003). A maioria dos filhotes está protegido da infecção neonatal pelos anticorpos maternos. As cepas víricas CPV-2 e CPV-2b são geneticamente estáveis desde 1984, embora variações antigênicas não afetem o potencial de proteção das diversas vacinas utilizadas para promover a imunidade em cães. (CARMICHAEL, 2003). O CPV-2 está muito relacionado com o vírus da panleucopenia felina (VPF) e com outras parvoviroses que infectam carnívoros, este tem predileção e requer células que se dividem ativamente para seu crescimento (CARMICHAEL, 2003). Depois da ingestão do vírus existe um período de viremia de 2-4 dias comum crescimento concomitante nos tecidos linfáticos de todo o corpo. A infecção linfática precoce é acompanhada de linfopenia e precede a infecção 24 intestinal e os sinais clínicos. No terceiro dia pós a infecção as células de divisão rápida das criptas do intestino delgado são infectadas, a eliminação viral nas fezes começa cerca de 3-4 dias e alcança o pico máximo quando os primeiros sinais clínicos aparecem, o vírus pára de ser eliminado em quantidades detectáveis 8-10 dias. Acredita-se que a absorção das endotoxinas bacterianas originadas da mucosa intestinal lesada participe da doença causada pelo CPV-2 e a intensidade da doença parece estar relacionada com a dose viral e com o tipo antigênico (CARMICHAEL, 2003). Vários sistemas são afetados como o cardiovascular, na forma de miocardite com morte súbita, o gastrintestinal, onde provoca lesão nas células das criptas do intestino delgado e epitélio da mucosa adjacente, causando diarréia hemorrágica grave, vômitos e desidratação, choque hipovolêmico e endotóxico/séptico (CARMICHAEL, 2003). Em locais onde há a aglomeração de cães, canis de criação, abrigos de cães ou onde quer que filhotes sejam criados a prevalência é variada. As raças mais acometidas são Rottweilers, Doberman, Pinschers, e English Springer Spaniels, são relatados como as raças que apresentam altos riscos de desenvolverem a doença grave. (CARMICHAEL, 2003). A doença pode ocorrer em qualquer idade, mas os casos mais graves da doença ocorrem em filhotes de 6-20 semanas de idade, após o período de desmame, em virtude do declínio dos anticorpos maternais, para proteger, mas ao mesmo tempo suficientemente altos para interferir com a resposta à vacinação (SHERDING, 1998). 25 Suspeitar de infecção por CPV-2 sempre que os filhotes apresentarem doença entérica, principalmente com início súbito de letargia vômitos ou diarréia (CARMICHAEL, 2003). Início súbito de diarréia sanguinolenta, anorexia e episódios repetidos de vômitos, rápida perda de peso e em alguns filhotes podem vir a colapsar em um estado de choque e morrer sem apresentar os sinais entéricos. Em canis de criação filhotes de várias ninhadas podem apresentar a doença simultaneamente ou em um curto espaço de tempo (CARMICHAEL, 2003). No exame físico note-se a desidratação, perda de peso e desconforto abdominal, diarréia com a presença de sangue e alças intestinais cheias de líquidos podem ser palpadas e às vezes linfonodos mesentéricos podem ser palpados, podendo haver febre ou hipotermia. (CARMICHAEL, 2003). Cães originados de canis de criação, abrigos para cães, pet shops ou onde quer que filhotes estejam aglomerados. Filhotes com menos de 4 meses de idade apresentam maior risco de infecção grave. Acredita-se que copatógenos como parasitas, vírus e certas espécies de bactérias como Campylobacter spp. e Clostridium spp. possam exacerbar a doença. As infecções graves por parvovírus muitas vezes fatais foram demonstradas em filhotes expostos simultaneamente a CPV-2 e coronavírus canino (CARMICHAEL, 2003). O diagnóstico diferencial é baseado em infecção por coronavírus canino, salmonelose, colibacilose, corpo estranho gastrointestinal, parasitoses, intussuscepção e ingestão de toxina (CARMICHAEL, 2003). A linfopenia ocorre geralmente de 4 a 6 dias pós infecção, cães gravemente acometidos muitas vezes apresentam neutropenia grave 26 concomitantemente com o início da lesão intestinal. Leucocitose é comum durante a recuperação o padrão bioquímico sérico ajuda assegurar os desequilíbrios eletrolíticos (sobretudo hipocalemia) a presença de azotemia associada com desidratação, hipoproteinemia e hipoglicemia (CARMICHAEL, 2003). Pode-se detectar o vírus nas fezes ou no conteúdo intestinal no início da doença e por 2-4 dias depois com o uso do teste comercial ELISA de fase sólida, em que a sensibilidade e a especificidade são mais altas. A microscopia eletrônica é outro método de detecção do vírus nos primeros estágios de infecção. O vírus pode ser identificado em amostras de tecidos pela coloração com imunoflorescência ou imunoperoxidase. As amostras para detecção do vírus devem ser submetidas na fase aguda da infecção e enviar amostras refrigeradas e não congeladas (CARMICHAEL, 2003). As alterações macroscópicas incluem congestão e hemorragia da subserosa ou hemorragia franca do lúmen do intestino delgado, alguns cães apresentam intestino vazio ou com fluidos amarelados ou tingidos de sangue. Os linfonodos mesentéricos muitas vezes estão aumentados ou edematosos, com hemorragia no córtex. A atrofia do timo é comum em animais já o edema pulmonar e o hidropericárdio podem ser as únicas alterações macroscópicas causadas por miocardite e insuficiência cardíaca em filhotes. A histopatologia revela inflamação e necrose intestinal com atrofia grave das vilosidades e os filhotes que morrem da forma cardíaca em geral apresentam áreas focais de infiltração linfocitica e necrose do miocárdio (CARMICHAEL, 2003). Não administrar alimentos e água por via oral, até que o vômito cesse por pelo menos 24 horas e que a diarréia esteja diminuída e livre de 27 hemorragia macroscópica. Isso pode levar de 3 a 5 dias nos casos mais severos. Ao reassumir a alimentação por via oral, esta deve ser de alta digestibilidade como por exemplo galinha sem pele cozida com arroz até que a função intestinal pareça estar estabilizada (SHERDING, 1998). Informar a necessidade de uma desinfecção, sobretudo se houverem outros cães no local. Uma diluição de 1:30 de alvejante (hipoclorito de sódio a 5%) destrói o CPV-2 em poucos minutos, uma higienização rigorosa é essencial, se possível isolar os filhotes até que atinjam 3 meses de idade pois podem se contaminar com um vírus virulento antes que qualquer vacina produza qualquer imunidade. O CPV-2 é liberado no ambiente por menos de duas semanas no ambiente e não existem dados que comprovem o estado de portador. (CARMICHAEL, 2003). Os fármacos adicionalmente recomendadas incluem restrição dietética, antibióticos parenterais (ampicilina, gentamicina), corticóides solúveis de curta duração (fosfato sódico de dexametasona ou succinato sódico de prednisolona) e antieméticos como metoclopramida (CARMICHAEL, 2003). Adicionalmente podemos intervir através de transfusão sanguínea, imunoterapia e ocasionalmente antidiarréicos (SHERDING, 1998). A intensidade depende da gravidade dos sinais clínicos, o objetivo é estabilizar o trato gastrintestinal e manter o equilíbrio eletrolítico a fim de resolver o choque e a endotoxemia, o cuidado intensivo e imediato do paciente favorece o sucesso do tratamento (CARMICHAEL, 2003). Vacinas vivas e inativadas estão disponíveis para a profilaxia, vacinas inativadas produzem proteção com a doença mas não interrompem a transmissão e a imunização é incerta em filhotes que tiverem anticorpos 28 maternos. Cerca de 75% de filhotes vacinados com produtos eficientes terão imunidade desenvolvida com doze semanas de idade. A vacinação não é um método eficaz de controle em ambientes contaminados. As vacinas não demontraram ser a causa da doença clinica, se os cães desenvolverem sinais de infecção 5 dias após a vacinação é porque foram expostos ao vírus na mesma época em que foram vacinados. As vacinas diferem na sua capacidade de imunização dos filhotes com anticorpos maternos com isso o controle do CPV-2 requer vacinas eficazes, isolamento dos filhotes e higiene rigorosa (CARMICHAEL, 2003). 5.2 RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente: Piti Espécie: Canina Raça: Pit Bull Sexo: Macho Idade: 7 meses. Peso: 10Kg O proprietário chegou ao consultório relatando que o paciente já estava há dois dias com anorexia, com vômitos freqüentes, apático e principalmente com uma diarréia sanguinolenta. A vacinação estava em dia, porém as vacinas utilizadas eram de linha comercial, compradas em aviário. Ao exame clínico constatou-se temperatura de 39,3ºC, ao retirar o termômetro foram observadas fezes pastosas com presença de muco 29 sugestivo de gastrenterite hemorrágica com grandes possibilidades de ser Parvovirose. A freqüência cardíaca era de 90 batimentos por minuto e a frequência respiratória de 22 movimentos por minuto. Tratamento: Com base nos sinais clínicos foi instituído o tratamento com um antibiótico a base de enrofloxacina na dosagem de 5 mg/kg SID por um período de 5 dias, metoclopramida na dosagem de 0,5 mg/kg TID por um período de três dias e principalmente manter a hidratação em casa com a administração oral de soro caseiro em pouca quantidade e várias vezes ao dia, de preferência gelado e este soro deveria ser trocado várias vezes ao dia. Se a hidratação oral não resultasse em melhora do quadro, foi recomendado ao proprietário que trouxesse o paciente para receber fluidoterapia e parar com a administração oral. Como o paciente continuou vomitando e perdendo eletrólitos em virtude da diarréia, ele acabou voltando no outro dia pela manhã para receber fluido por via endovenosa. Como padrão, a dosagem máxima a ser feita por animal em situações de extrema desidratação é de 90 ml por kg. Neste caso, considerando a desidratação moderada foi instituído o cálculo de 50 ml por kg. Considerando o peso, foi administrado um frasco de 500ml de fluído no consultório. O paciente voltou mais duas vezes para restabelecer a hidratação, neste tempo, permaneceu por cinco dias sem se alimentar e a diarréia tinha um cheiro forte caracterizando o quadro de gastrenterite hemorrágica. A alimentação dele foi substituída por arroz cozido com frango, por ser de digestibilidade mais rápida, e somente no quinto dia ele começou a tomar o soro caseiro sem vomitar. Após dois dias voltou a se alimentar normalmente voltando a ganhar peso em um curto espaço de tempo. 30 Foi orientado o cliente para que seu cão receba pelo menos duas doses com um intervalo 30 dias de uma vacina de boa qualidade e principalmente que seja feito um acompanhamento das vacinações com um veterinário de confiança. Também foi orientado sobre a desinfecção do ambiente em que o cão habitava com solução concentrada de hipoclorito de sódio 5% destruindo o vírus da parvovirose em poucas horas. 5.3 DISCUSSÃO Como foi relatado as gastrenterites hemorrágicas, causadas principalmente pelo Coronavirus e o CPV-2 são bem comuns no dia-a-dia, e também é uma das maiores causas de mortalidade em cães de até um ano de idade, principalmente em cães não vacinados ou em cães vacinados com as vacinas comerciais. Há uma grande possibilidade de um cão vacinado com essas vacinas de balcão, é que muitas vezes a falha não está no laboratório, e sim no armazenamento e acondicionamento durante o transporte, seja ele do laboratório até a loja ou da loja até a casa do cliente no momento da aplicação, pois é necessário manter a temperatura entre 2ºC e 8ºC para que a vacina seja capaz de produzir a resposta imune desejada. Também é importante que o animal esteja em condições de responder imunologicamente aos antígenos presentes na vacina, e isto ocorre de maneira eficiente quando está em plena saúde. O antibiótico à base de enrofloxacina, poderia ser substituído por uma sulfa ou gentamicina devido a uma contra indicação do laboratório, alertando sob uma possível lesão de cápsula articular em filhotes em crescimento, e 31 principalmente filhotes de cães de raças grandes. Mas também a enrofloxacina tem suas vantagens como ser relativamente barata, ser de fácil aplicação, ter apresentação em diferentes concentrações ajustando facilmente a dosagem correta em um baixo volume aplicado, proporcionando menor reação no local da aplicação. Poder ser aplicada pela via subcutânea, sendo esta via de mais fácil aplicação para quem não tem muita pratica na aplicação um vez que a via oral está impossibilitada de ser utilizada pelo vômito apresentado e o medicamento não ter a devida absorção, Outra vantagem é o intervalo de aplicação que é de 24 horas, mas ainda é melhor não correr o risco pela possibilidade de lesão articular. O medicamento antiemético, à base de metoclopramida sem dúvida é o de eleição, de baixo custo e fácil aplicação, porém o intervalo entre aplicações é de 8 horas. Já a hidratação é um dos principais fatores no sucesso do tratamento das gastrenterites. Para tratamento domiciliar, a via oral seria a de eleição, quando não é possível em virtude da emese, deve-se utilizar outro meio de hidratação, seja ele endovenoso, intra-peritoneal ou até mesmo subcutâneo, sendo a via endovenosa a de eleição. A fluidoterapia deve ser à base de Ringer com Lactato de sódio devido aos componentes eletrolíticos presentes na fórmula a base de cloreto de sódio, cloreto de potássio, cloreto de cálcio, lactato de sódio e água proporcionando a reposição destes eletrólitos que são amplamente perdidos durante o vômito e a diarréia. Substituindo-se a alimentação natural por alimentos de melhor digestibilidade, favorece a recuperação mais rápida do paciente, devido sua rápida absorção, 32 A desinfecção é importante para que não ocorra a disseminação do vírus pelo ambiente e para os demais contactantes predisponentes à doença. 33 6 CINOMOSE 6.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Doença febril, contagiosa aguda e subaguda e frequentemente fatal com manifestações respiratórias, gastrintestinais e alterações no Sistema Nervoso Central (SNC). Causada pelo Vírus da Cinomose (VC), um morbilivírus da família Paramyxoviridae e que afeta muitas espécies diferentes da ordem carnívora, com uma taxa de mortalidade com grandes variações entre as espécies (APPEL, 2003). Relaciona-se intimamente com o vírus do Sarampo (SHERDING, 1998). Via de infecção natural por aerossóis e exposição a gotículas a partir da cavidade nasal, da faringe e dos pulmões, macrófagos transportam o vírus para os linfonodos locais onde ocorre a replicação virótica. Em uma semana infectam – se virtualmente todos os tecidos linfáticos, há disseminação por viremia para o epitélio superficial dos tratos respiratório, gastrintestinal, urogenital e para o SNC (APPEL, 2003). Febre por um a dois dias e linfopenia podem constituir os únicos achados durante o período inicial e o desenvolvimento posterior depende da cepa virótica e da resposta imune (APPEL, 2003). Acomete todos os tecidos linfáticos, epitélio superficial nos tratos respiratório, digestório, urogenital, glândulas endócrinas e exócrinas e no sistema nervoso substância branca e substância cinzenta (APPEL, 2003). 34 A cinomose é uma doença de caráter mundial, maior parte da ordem Carnívora – Canidae, Hyaenidae, Mustelidae, Procyonidae, Viverridae e Felidae (APPEL, 2003). Em animais selvagens como guaxinins, gambás e raposas é razoavelmente comum (APPEL, 2003). Os sinais clínicos são multissistêmicos e extremamente variáveis. A taxa de mortalidade pode variar de 0 a 100% dependendo da virulência da cepa do VC e da idade e resistência do hospedeiro (SHERDING, 1998). Os sinais sistêmicos são mal-estar (anorexia e depressão), febre de 39,5º a 41ºC – difásica (os sinais geralmente coincidem com o segundo pico de febre). (SHERDING, 1998). Pode acometer o sistema respiratório apresentando rinite, conjuntivite e pneumonia. No sistema gastrintestinal ocorrem vômitos e diarréias. Os olhos podem apresentar ceratoconjuntivite, coriorretinite e neurite óptica. Mas os principais sinais ocorrem no SNC onde o animal apresenta encefalites agudas que ocosionam ataques convulsivos chamados de “mascadores-de-chiclete”, passos medidos, ataxia e distúrbios da andadura como andar em círculos e alterações comportamentais (SHERDING, 1998). O VC, um morbilivírus da família Paramixoviridae, relacionado proximamente com o vírus do sarampo, da peste bovina e das cinomoses Focina (focas) e delfina (golfinhos). E infecções secundárias geralmente acometem o sistema respiratório e gastrointestinal (APPEL, 2003). Os fatores de risco incluem o contato de animais não-imunizados com animais infectados por VC (cães ou carnívoros selvagens) (APPEL, 2003). O diagnóstico diferencial é baseado na tosse dos canis por poder mimetizar a doença respiratória em sinais intestinais onde deve-se diferenciar 35 de infecções com parvovírus e coronavírus, parasitismo (giardiase), infecções bacterianas, gastrenterite por ingestão de toxinas e enteropatia inflamatória (APPEL, 2003). A forma nervosa pode ser confundida com meningoencefalite granulomatosa, encefalite por protozoários (toxoplasmose, neosporose), criptococose ou outras infecções (meningite, erliquiose, febre meculosa das montanhas rochosas, encefalite dos cães e envenenamento por chumbo (APPEL, 2003). Os testes laboratoriais são baseados na sorologia por meio de testes de anticorpos positivos não diferenciam entre vacinação e exposição a vírus virulentos; o paciente pode morrer de uma doença aguda antes de se produzirem anticorpos neutralizantes; pode – se observar respostas de IgM em até 3 meses após exposição a vírus virulento e em até três semanas após a vacinação (APPEL, 2003). Antígenos ou corpúsculos de inclusão viral nas “buffy coat cells” ( são leucócitos que se acumulam no sobrenadante após centrifugação do hematócrito, formando uma camada branco amarelada) e em decalques conjuntivais ou vaginais porém resultados negativos não descartam resultado (APPEL, 2003). Reação em cadeia polimerásica nas “buffy coat cells” e no sedimento urinário mais sensível (APPEL, 2003) Fluido cérebro espinhal – Teste quanto as células e ao teor protéico, anticorpos VC-específicos, interferon, antígenos viróticos no inicio do curso da doença (APPEL, 2003). Os achados patológicos podem ser macroscópicos, sendo os principais no Timo – em animais jovens onde fica reduzido enormemente de tamanho e 36 algumas vezes gelatinoso. Os pulmões apresentam consolidação macular como resultado de pneumonia intersticial, os coxins podais e o nariz raramente apresentam hiperqueratose e as secreções mucopurulentas – a partir dos olhos e do nariz, broncopneumonia, enterite catarral e pústulas cutâneas; causadas principalmente por infecções secundárias são observadas comumente (APPEL, 2003). O tratamento é sintomático, por meio de fluídos intravenosos em casos de anorexia e diarréia e quando controlada a febre e as infecções bacterianas secundárias os pacientes geralmente começam a comer novamente e remover as secreções oculares (APPEL, 2003). Os fármacos antiviróticos, não se sabe de nenhum que seja efetivo, então a medicação é baseada em Antibióticos para reduzir infecções bacterianas secundárias, pois o VC é altamente imunossupressor. Terapia anticonvulsiva como a administração de fenobarbital e ou brometo de potássio para controlar as manifestações neurológicas tais como mioclonia e ataques convulsivos (APPEL, 2003). O prognóstico depende da cepa e da resposta ao hospedeiro, tal como infecções subclinica, aguda, sub aguda , fatal ou não fatal. Sinais no SNC como mioclonia por exemplo, o paciente pode se recuperar, porem o mioclonus pode permanecer durante vários meses. Pode ocorrer do paciente vir a óbito em um período de tempo de duas semanas a 3 meses após a infecção e a taxa de mortalidade é de 50%. Os cães recuperados não disseminam o VC (APPEL, 2003). 37 6.2 RELATO DE CASO Paciente: Thor Raça: SRD Idade: 4 anos Peso: 20 kg A proprietária trouxe o paciente ao consultório, relatando envenenamento, devido aos sinais de tremores musculares (mioclonia), com sialorréia, e entrando em convulsão. Relatou que há 20 dias o cão apresentou sinais de gripe, com secreção nasal e ocular, de não conseguir abrir os olhos. O animal não era vacinado e tinha acesso à rua. No exame físico, constatou-se temperatura de 38,5 ºC freqüência cardíaca de 90 batimentos por minuto, freqüência respiratória de 20 movimentos por minuto, e auscultação cardiopulmonar estavam normais. Com base nestes sinais foi instituído tratamento com antibiótico a base de difloxacino na dosagem de 5 mg/kg SID durante um período de 10 dias e devido ao histórico de convulsão foi prescrito fenobarbital 50 mg na dosagem de um comprimido uma vez ao dia durante 30 dias e vitamina C na dosagem de 100 mg/kg SID no aguardo de resposta sob sinais de melhora ou piora. Infelizmente o quadro nervoso evoluiu para convulsões sucessivas, foi dobrada a dose do fenobarbital, a mioclonia não cessava e começou a fazer lesões devido a constantes traumas pelos movimentos involuntários, evoluindo o quadro para uma severa ataxia e perda quase total dos movimentos. 38 O veterinário juntamente com a proprietária acabou optando pela realização da eutanásia. 6.3 DISCUSSÃO Ao pensar em doenças infecto–contagiosas em cães, tem que pensar em medicina veterinária preventiva, fazendo um programa de vacinação eficiente e principalmente com vacinas de boa qualidade, até mesmo pensando em relação custo beneficio pois um animal vacinado e desverminado periodicamente e bem alimentado dificilmente fica doente, evitando transtornos a seu donos. Em relação ao tratamento prescrito o difloxacino é um excelente antibiótico e se encaixa perfeitamente no protocolo para evitar infecções secundárias que por ventura levem o animal a óbito mesmo antes do vírus da cinomose. E o gardenal é o medicamento de eleição para terapia anticonvulsiva e situações de epilepsia. É uma pena que muitas vezes algumas cepas são tão severas que acabam fazendo lesões irreversíveis a nível de SNC e o animal fica em um estado tão difícil de se recuperar com seqüelas tão graves que a eutanásia acaba sendo a opção mais indicada. Poderia ser tentado uma terapia medicamentosa a base de um corticóide a base de dexametasona na dosagem de 2,2 mg/kg SID mais associação de vitaminas do complexo B. E quanto a Vitamina C não teria contra indicação desde que o paciente não apresente problemas renais. 39 7 INTOXICAÇÃO POR PIRETRÓIDES 7.1 DEFINIÇÃO Os piretróides são inseticidas naturais derivados da Chrysanthemum cinerariaefolium e outras plantas relacionadas, entre os piretróides sintéticos incluem a aletrina, cipermetrina, deltametrina, fenotrina e tetrametrina (HARSEY, 2003). Os inseticidas piretróides agem no sistema nervoso central promovendo a condução prolongada reversível de sódio nos axônios das células nervosas, resultando em descargas nervosas repetitivas, com efeito maior em mamíferos hipotérmicos e em animais pecilotérmicos (HARSEY, 2003). Reações adversas ocorrem mais freqüentemente em gatos, cães de pequeno porte, animais jovens, velhos, doentes ou debilitados e pacientes com temperatura subnormal, após sedação ou após anestesia geral (HARSEY, 2003). Os sinais clínicos resultam em hipersensibilidade alérgica imunomediada e reações idiossincrásicas baseadas geneticamente e reações neurotóxicas (HARSEY, 2003). Sinais leves incluem sialorréia, espasmos de orelha, depressão leve, vômito e diarréia. Sinais moderados à graves incluem depressão marcante, ataxia e tremores musculares (HARSEY, 2003) A superdosagem – podem produzir convulsões e morte. Sinais alérgicos como urticária, hiperemia, prurido podem evoluir para anafilaxia seguido de choque, evoluindo para angustia respiratória e morte (HARSEY, 2003). 40 O diagnóstico é baseado no histórico de exposição e varia com a quantidade e freqüência de uso do produto, além do tipo e gravidade dos sinais clínicos (HARSEY, 2003). Deve-se diferenciar de intoxicação por compostos organofosforados e carbamatos. Por não haver testes analíticos para detecção de compostos piretróides nos tecidos e fluidos, pode-se excluir a possibilidade de exposição a inseticidas organofosforados através do exame da pupila em que a atividade de colinesterase não está diminuída (HARSEY, 2003). Durante o tratamento os efeitos colaterais como salivação, espasmos de orelha muitas vezes são leves e autolimitantes, sinais leves e contínuos, com banhos com esponja e detergente, muitas vezes reverte e casos graves como tremores e ataxia progressiva requerem hospitalização para tratamento sintomático (HARSEY, 2003). As medicações utilizadas são: diazepam (0,05 – 1,0 mg/kg IV) e fenobarbital na dose de 3,0 – 30 mg/kg IV até obter o efeito desejado (HARSEY, 2003). A principal contra-indicação é o uso de sulfato de atropina, que deve ser evitado pois pode causar taquicardia, estimulação do SNC, desorientação, sonolência, depressão respiratória e até mesmo convulsões (HARSEY, 2003). 7.2 RELATO DE CASO Deu entrada no consultório o cão da raça Pinscher com 26 meses de idade e pesando 800 gramas. O proprietário chegou às pressas ao consultório trazendo o paciente e relatando que havia aplicado minutos antes meia bisnaga 41 (3 ml) do produto SPOT VET, com composição a base de permetrina, partida 001 A/2006 fabricação janeiro de 2006, com vencimento em janeiro de 2008. A dose recomendada pelo fabricante é de uma bisnaga para cães de até 15 quilos, sendo feita a aplicação diretamente na pele, da base da nuca até entre as escápulas para evitar a ingestão do produto pelo animal. No exame clínico o paciente apresentava sialorréia, depressão marcante, tremores musculares, ataxia, incoordenação motora, angústia respiratória, tempo de preenchimento capilar significativamente aumentado (5 segundos) temperatura retal 37,8 ºC, bradipnéia, taquicardia, sinais de hipóxia respiratória e atividade de colinesterase normal. O mesmo foi lavado vigorosamente em água fria com shampoo neutro, para remoção do produto ainda presente na pele. Sendo todos os sinais compatíveis com a intoxicação por piretróides e a formulação do produto baseada em permetrina, procedeu-se imediatamente o início do tratamento e o contato com a empresa fabricante, COVELI IND. E COM. por meio de seu SAC (021- 3419-7329). Após o recebimento do animal o tratamento instituído foi: cloridrato de doxapram na dosagem 0,7 mg/kg , e dexametasona 0,5 mg/kg. Por recomendação do laboratório foi aplicada Atropina na dosagem 0,044 mg/kg , apesar de ser este um protocolo estranho ao consultório veterinário nestes casos. O paciente apresentou sinais de melhora do quadro de angústia respiratória, e da incoordenação, reduzindo o tempo de preenchimento capilar para 3 segundos, temperatura estável e sem alterações, porém o quadro evoluiu para uma parada cardio-respiratória sendo imediatamente entubado e 42 realizada massagem cardíaca, porém sem sucesso levando o animal a óbito instantes depois. 7.3 DISCUSSÃO A intoxicação por piretróide se tornou comprovada neste caso, pelos sinais clínicos e relato do proprietário após o uso de anti-pulga à base desta classe farmacológica. O banho imediato veio a atuar de forma mecânica retirando o produto, e assim evitando a contínua absorção cutânea. Quanto à medicação utilizada à base de Dexametasona foi levada em conta a prevenção de um possível choque anafilático, em virtude do quadro clínico apresentado. O uso de cloridrato de doxapram torna-se indicado para estimulação respiratória, aumentando a ventilação e o volume corrente de oxigênio após a administração, pois age no centro respiratório medular. Quanto a administração de atropina não é indicada por aumentar os parâmetros cardíacos, estimulação do SNC e depressão respiratória, porém por indicação do laboratório foi administrada. A morte ocorreu, por parada cardio-respiratória, e então o laboratório responsável pelo anti-pulgas se propôs a arcar com os custos inerentes ao tratamento ambulatorial e indenizar o proprietário. Foi recomendado ao laboratório que na bula do medicamento conste o tratamento emergencial para o caso de intoxicações pelo princípio ativo, bem como que a apresentação do produto venha especificamente separada por frascos de acordo com o peso⁄dose a ser administrada. 43 8 SESAMOIDITE 8.1 REVISÃO DE LITERATURA A sesamoidite é o processo inflamatório dos ossos sesamóides proximais e de seus ligamentos, acometendo os membros anteriores de cavalos de salto e de corrida. Lesão que se apresenta pos osteíte localizada e conseqüente a traumatismos direto sobre o boleto (articulação metacarpofalangeana). Pode também ser originada após a extensão exagerada do membro, sobrecarregando os ligamentos colaterais do boleto até o ligamento suspensor do boleto (THOMASSIAN, 1996). A gravidade das lesões e a manifestação clínica da sesamoidite depende do grau de comprometimento dos ligamentos e dos ossos que podem apresentar erosões das cartilagens e espículas marginais (THOMASSIAN, 1996). Os sinais clínicos são geralmente evidentes devido à intensa claudicação que o animal manifesta. Durante a locomoção o animal procura caminhar sobre a pinça demonstrando intensa dor devido à pressão e tração que as estruturas atingidas sofrem. Em repouso o cavalo procura alternar o apoio com os membros anteriores conservando o membro doente apoiado sobre a pinça. O boleto extremamente sensível se apresenta aumentado de volume, quente e ao ser sesamóides (THOMASSIAN, 1996). pressionado, principalmente sobre os 44 O diagnóstico é feito com base na impotência funcional motora e nos sinais de alteração local. Há a necessidade de radiografar o boleto, principalmente os sesamóides, para fazer o diagnóstico diferencial com fratura, que pode manifestar sinais semelhantes. Um aspecto importante é que lesões dos sesamóides somente são detectadas radiograficamente após duas semanas de início do processo (THOMASSIAN, 1996). As alterações radiológicas da sesamoidite verdadeira foram descritas como alterações ósseas com aumento de formações radiopacas; aumento no numero e irregularidade dos canais vasculares e aumento na rugosidade (MORGAN, 1994). O tratamento deve ter como base um repouso mínimo de 60 dias e ser acompanhado por uma liga de descanso embebida em água vegetomineral. A utilização de corticóides para e reversão do processo inflamatório deverá ser feita assim como a indicação de ferraduras ortopédicas munidas com rampões de 1 a 3 cm de altura. A finalidade principal do ferrageamento é aliviar a tensão dos ligamentos e ossos atingidos reduzindo a dor (THOMASSIAN, 1996). A aplicação tópica diária de substâncias heparinóides ou antinflamatórias em DMSO solução a 20% acompanhadas de penso compressivo durante 5 a 7 dias na fase aguda do processo auxilia a recuperação e poderá prevenir seqüelas junto ao periósteo (THOMASSIAN, 1996). 45 8.2 RELATO DO CASO CLÍNICO Paciente: Pampa Idade: 10 anos Espécie: eqüina O animal feriu gravemente o membro torácico esquerdo na base do sesamóide, em virtude de um salto sobre uma cerca. Por conta, o cavalariço estava administrando flunixim meglumine na dosagem 1 mg/kg SID IV por três dias. Após uma semana do ocorrido chamaram um médico veterinário que prescreveu o tratamento a base de penicilina na dosagem de 8.000 UI /Kg com intervalo de 48 horas entre uma aplicação e outra em um total de três aplicações, seguida de curativos tópicos com lavagem diária com um produto a base de Peróxido de hidrogênio até cicatrizar, além de indicar manter o animal estabulado para evitar novas fugas. Após o período de 20 dias o animal já não apoiava o membro no chão não se levantava e já apresentava sinais de úlceras de decúbito. Ao exame clínico observou-se que havia um tecido de granulação sobre o local da lesão. Junto a isso comprovou-se sinais de escaras, que o animal continuava a não apoiar o membro, apresentava sinais de infecção local com a presença de pus, crepitação e edema na articulação do sesamóide e aumento de temperatura local, o que levou a suspeita de um quadro de sesamoidite ou que pudesse haver algum corpo estranho. O diagnóstico foi confirmado através de uma radiografia do osso sesamóide com áreas de osteíte e periostite. 46 Como tratamento foi instruído a interrupção imediata com os curativos diários a base de peróxido de hidrogênio, levantar a quantidade de serragem da cocheira para uma camada de 20 cm, e prescrito um antibiótico a base de ceftiofur na dosagem de 2mg/kg na dose de 20 ml/dia por via endovenosa por um período de 8 dias, seguido de aplicação de flunixim meglumine na dosagem de 1 mg/kg SID durante 5 dias. Junto a isso, foi recomendada a administração de omeprazol da dose de 20 gr por dia durante 30 dias, seguido de lavagem diária com solução fisiológica de cloreto de sódio a 0,9% somente para retirada da sujeira, sem escarificar, associada à aplicação tópica de um pomada a base de alantoína. Foi recomendado fazer a proteção do curativo com uma faixa desde que fosse passado a pomada pelo menos três vezes ao dia, e frente a sinais de melhora, fosse solto em um piquete separado para poder pastar sozinho. Durante o tempo que permanecer estabulado deverá receber capim fresco á vontade e água limpa e fresca. Passados oito dias de tratamento com antibiótico e antinflamatório e sucessivos curativos, o ferimento continuava supurando porém já apresentando sinais de melhora. Solicitado uma radiografia do membro para melhor avaliação, tornando a confirmar o diagnóstico da sesamoidite. Como não se tratava de nenhum corpo estranho foi prescrito outra medicação a base se Sulfadoxina + Trimetropin na dosagem de 1ml/15 kg e continuar com os curativos. Em um prazo de 10 dias o animal estava caminhando apoiando o membro e apresentando poucos sinais de dor, evoluindo até a cura total. 47 8.3 DISCUSSÃO Quanto ao tratamento indicado pelo primeiro veterinário, a penicilina tem uma boa ação sob ferimentos em eqüinos é uma medida eficiente na profilaxia do tétano. Mas o peróxido de hidrogênio, só é indicado no primeiro dia do tratamento, devido a estimular o crescimento de um tecido de granulação e dificultar o processo de cicatrização. E se o animal não apoiava o membro sobre o solo e permanecia em decúbito ventral durante horas do dia a confecção de uma cama de serragem com 20 cm de altura é uma boa alternativa para evitar a formação de calos de decúbito. Quanto ao uso da solução fisiológica para a higiene da ferida é uma boa alternativa de forma que não produz efeito curativo em cima de uma ferida contaminada. Já o antibiótico a base de ceftiofur, é uma potente cefalosporina de 3ª. geração, com grande indicação para problemas infecciosos crônicos, porém possui um custo mais elevado e de difícil disponibilidade no mercado. O uso do omeprazol é uma alternativa para evitar uma possível gastrite e úlcera devido ao uso prolongado de antinflamatórios principalmente em cavalos. A radiografia foi solicitada para fazer um diagnóstico diferencial de alguma fratura ou suspeita de corpo estranho, pois com todos aqueles cuidados o processo de cicatrização estava retardado, se não houvesse resposta ao segundo tratamento poderia ser solicitado um ultra-som para poder melhor avaliar tecidos moles, ligamentos e tendões, que não são visualizados ao Raio-X simples. 48 A pomada à base de alantoína tem grande indicação e alto poder de cicatrização sendo seu uso compatível com o caso. O uso da sulfadoxina + trimetropin vem a ser uma potente alternativa quimioterápica no controle de infecções crônicas e de custo bem mais baixo, porém deve-se tomar cuidado na hora da aplicação, pois se trata de um medicamento oleoso que se não aplicado lentamente pela via endovenosa pode acarretar em choque anafilático. 9 MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQUINA 9.1 DEFINIÇÃO E ETIOLOGIA A mieloencefalite eqüina por protozoário (MEP) é uma moléstia progressiva multifocal do SNC eqüino causada pela infecção por parasita esporozoário não classificado. O parasita produz inflamação e necrose do tronco cerebral caudal e medula espinhal (DUBEY, 1993) E estrutura do agente da MEP assemelha-se ao Toxoplasma gondii, mas a análise por microscopia eletrônica indica que os estágios maturacionais nos tecidos de cavalos infectados naturalmente são mais característicos do gênero Sarcocystis sp (SIMPSON, 1993). A moléstia é mais comum em cavalos de 1 a 3 anos de idade, mas também foi descrita em cavalos com mais de 10 anos de idade. O problema foi descrito em cavalos Árabes, Puro Sangue, Quarto de Milha sendo mais comum em Standardbreds. (CUSICK, 1993). Esta taxa mais elevada em cavalos 49 Standardbreds provavelmente está relecionada a fatores de manejo ou a diferenças de ou a diferenças de susceptibilidade genética (TRAVER, 1993). A mais elevada incidência de MEP ocorre em cavalos que foram criados no leste e sudeste dos Estados Unidos (MAYHEU, 1993). Foram descritas simultaneamente ocorrência de MEP em irmãos inteiros (TRAVER, 1993).não foram identificados de manejo específico que promovem a transmissão do parasita e a invasão do SNC. O modo de entrada do parasita no SNC é desconhecido. Alguns investigadores postularam a migração centrípeta ao longo das raízes dos nervos periféricos; contudo, parasitas foram observados em neutrófilos circulantes de cavalos afetados, indicando possível via hematógena de disseminação (SIMPSOM, 1993). As repostas celulares são indubitavelmente importantes para a imunidade do parasita, porque a administração de corticóides a animais clinicamente afetados invariavelmente piora os sinais no SNC e aumenta o numero de protozoários nos tecidos (MAYHEW, 1993). As alterações patológicas em cavalos com MEP estão restritas ao SNC, tanto na matéria branca quanto na matéria cinzenta são afetadas (ROONEY, 1993). As lesões são multifocais e assimétricas. macroscopicamente, as lesões são alterações na coloração (cinzas – castanhas), acompanhadas de hemorragia, tumefação, e liquefação (DUBEY, 1993). Microscópicamente há inflamação não supurativa que se caracteriza por malácia e hemorragias focais, formação de manguitos perivasculares linfocitários e eosinofilicos, gliose, astrocitose, necrose neuronal, proliferação das células granulosas compostas (DUBEY, 1993). Células gigantes multinucleadas são frequentemente observadas no sitio da lesão. A observação do parasita no 50 SNC constitui o único método definitivo para o diagnóstico da MEP, esquizontes ou merozoÍtos são mais abundantes nas periferias das lesões necróticas e podem surgir isoladamente ou em aglomerados. Infelizmente, os protozoários podem não ser demonstráveis, a despeito de exaustivos exames de múltiplos cortes (DUBEY, 1993). O sinais clínicos da MEP resultam de lesões do tronco cerebral ou medula espinal e na maior parte das vezes os casos exibem sinais assimétricos ou perda local da função dos neurônios motores inferiores. (TRAVER, 1993). As anormalidades da ambulação em cavalos com MEP são ataxia, tetraparesia, circundação, troca de membros, membros cruzados. As anormalidades podem ser observadas unilateralmente (TRAVER, 1993). Dependendo da localização da lesão da medula espinhal podemos observar arreflexia, hiporreflexia, ou hiperreflexia. Infecções do mielencéfalo podem resultar em inclinação da cabeça, paralisia facial, ambulação em círculos, nistagmo, disfagia, paralisia facial, e aparente cegueira, com ou sem reflexos pupilares anormais. A invasão parasitária dos nervos periféricos, raízes espinais ventrais, ou radículas do ramo maxilar do ramo trigemio podendo resultar em atrofia neurogênica dos feixes específicos do masseter, língua e músculos frontais. Isto está frequentemente associado por áreas focais de dessensibilização. A sudorese regional (“sudorese em faixas”) pode ser observada, se houve lesão aos tratos da substância branca simpática. Os casos não tratados são em geral progressivos, e os animais afetados geralmente entram em decúbito após 14 dias à 6 meses (SMITH, 1993) 51 O diagnóstico e feito através de sorologia e isolamento do parasita, normalmente achados de necrópsia. Também há a possibilidade de isolamento do parasita através de coleta da líquor. Deve-se diferenciar de mieloencefalopatia difusa lesões da espinha cervical lesão e infecção pelo herpes vírus eqüino do tipo I. A progressão dos sinais neurológicos é interrompida pela administração de Pirimetamina (daraprim; 0,25 mg/kg p.o. como dose de ataque, seguindo-se por dose diária de 0,1 a 0,2 mg/kg), combinada com trimetropim (2 a 3 mg/kg). ácido fólico (75 mg de dose total por via intra-muscular, uma vez a cada três dias é concomitante administrado (MAYHEU, 1993). A combinação medicamentosa deve ser administrada continuamente durante 30 a 75 dias. O tratamento pode bloquear a progressão da moléstia e ocasionalmente pode reverter em parte os sinais clínicos. Apesar disto, os animais afetados em geral não conseguem se recuperar completamente, mesmo após terapia prolongada e intensiva. Foi recomendada terapia com manitol (0,5 mg/kg IV) duas vezes ao dia durante os primeiros 3 a 5 dias; contudo a eficácia do raciocínio justificador deste tratamento não estão esclarescidas. Devido a necessidade das respostas imunes celular- mediadas para o controle da proliferação de protozoários, a administração de corticoesteróides a pacientes com MEP está contra-indicada (SMITH, 1993). 52 9.2 RELATO DE CASO CLÍNICO Paciente: Zaino Idade 12 anos Espécie: eqüina Peso : 500 kg Ao chegar no local que se encontrava o animal, o mesmo estava com dificuldades de locomoção, para se levantar, se alimentar, sem coordenação motora principalmente no membro pélvico direito. Havia muitos gambás na região circunvizinha. Ao exame clínico pôde-se constatar que era uma alteração neurológica, o paciente não conseguia permanecer parado com os membros posteriores ficava movimentando de um lado para outro, e quando se movimentava arrastava um dos membros posteriores, sinal este compatível com “bambeira”, como é conhecida a MEP na região, e principalmente quando os movimentos ocorriam em forma de círculos, na tentativa de afastar para trás. O animal perdia o equilíbrio e caía no chão e às vezes ficava sentado com os membros anteriores na posição de se levantar. Foi instituído o tratamento medicamentoso com um fármaco corticóide a base de dexametasona na dosagem de 4mg para cada 100Kg de peso vivo, sendo assim 20mg SID, por um período de três dias e um polivitamínico a base de vitaminas do complexo B a cada quarenta e oito horas num total de três aplicações. 53 Também foi orientado a manter o paciente estabulado, com as devidas proteções a cantos e locais que pudessem originar fraturas devido a incoordenação motora e sucessivas quedas. O prognóstico foi conceituado como ruim, devido às alterações de locomoção e equilíbrio as chances de recuperação seriam mínimas, e as chances do paciente se machucar em virtude das quedas e ocasionar fraturas eram grandes. No decorrer do tratamento o paciente sofreu uma fratura no fêmur e acabou sacrificado com um tiro por um policial. 9.3 DISCUSSÃO Os sinais apresentados neste paciente eram compatíveis com mieloencefalite protozoária eqüina. Quanto ao tratamento é relativamente difícil, pois a literatura cita seqüelas muito graves em animais sobreviventes e também a dificuldade de diagnóstico que não é feito no Brasil e pelo alto custo do tratamento. Quanto a administração do corticóide é interessante do ponto de vista do tratamento clinico diferencial para Leucoencefalomalácea causada pelo Fusarium sp. presente em grãos de milho. O uso de vitaminas do complexo B é indicado como protocolo em enfermidades relacionadas ao sistema nervoso central. Pelas alterações em nível do Sistema Nervoso Central deve-se diferenciar de outras enfermidades como raiva, encefalomielite e intoxicações. 54 10 REFERÊNCIAS APPEL, M.J.G. Cinomose. In: TILLEY, L.P. e SMITH, F.W.K. Consulta veterinária em 5 minutos. 2.ed. Barueri: Manole, 2003. p. 634-635. CARMICHAEL, L. Parvovirose. In: TILLEY, L.P. e SMITH, F.W.K. Consulta veterinária em 5 minutos. 2.ed. Barueri: Manole, 2003. p. 1044-1045. CEPANZO, A. 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