382 PROMOÇÃO DE SAÚDE: os bastidores do atendimento primário em uma instituição pública na cidade de Pedregulho. Mariana Silva Antonelli (bolsista PIBIC-CNPq - Uni-FACEF) Orientadora:Dra. Patrícia Espírito Santo (Uni-FACEF) Co-Orientadora:Dra. Daniela de Figueiredo Ribeiro (Uni-FACEF) Desde os tempos mais antigos... O conceito de saúde varia de acordo com as circunstâncias a que o indivíduo está submetido, sejam elas sociais, econômicas, etc. Portanto saúde não significa a mesma coisa para todas as pessoas. O mesmo pode ser dito do conceito de doença onde também há variação. A doença acompanha a espécie humana desde seus primórdios como revelam as pesquisas paleontológicas, demonstrando que desde muito cedo a humanidade luta contra esta ameaça. (SCLIAR, 2007) Para explicar as conceituações de saúde e doença e sua evolução o autor supracitado descreve toda a história do conceito de saúde iniciando com a concepção mágico-religiosa - que partia do princípio de que a doença resulta da ação de forças alheias ao organismo que o corrompem por causa do pecado ou de maldição; passando pelos hebreus – para quem a doença representava um sinal da cólera divina; chegando ao judaísmo - onde os preceitos religiosos demonstravam-se em leis dialéticas que tinham a finalidade de manter a harmonia grupal e acentuar as diferenças entre hebreus e os outros povos do Oriente Médio. Logo depois ressalta que a economia teve muita influência no desenvolvimento da medicina, com a chamada medicina tropical, já que o colonialismo tinha sua atenção voltada aos trópicos e os empreendimentos comerciais estavam comprometidos, devido à ameaça das doenças transmissíveis endêmicas e epidêmicas, surgindo assim a necessidade de estudá-las, preveni-las e curá-las. Foucault (1998) defende que a medicina moderna é uma medicina social, coletiva, cujas raízes encontram-se na Medicina de Estado, com 383 passagem pela Medicina Urbana e culminando na Medicina da Força do Trabalho. A Medicina de Estado nasceu na Alemanha no início do século XVIII e se caracterizava pela organização de um saber médico estatal, com a normalização da profissão médica e a subordinação dos mesmos a uma administração central além de sua conseqüente integração em uma organização médica controlada pelo estado. (FOUCAULT,1998) Ainda segundo o autor posteriormente surge a Medicina Urbana na França no fim do século XVIII, caracterizada pela mudança na medicina que passa a ser não apenas dos homens, mas também das coisas como ar, água, uma medicina voltada para as condições de vida e do meio de existência. Seguindo em sua explanação o autor refere-se à Medicina da Força de Trabalho que surge na Inglaterra e que é usada atualmente, pois em sua originalidade permitiu três sistemas médicos coexistentes, uma medicina assistencial destinada aos mais pobres, uma medicina administrativa encarregada de problemas como vacinação e epidemias e por fim uma medicina privada que beneficiava quem tinha recursos para pagá-la. Diante destas perspectivas, vemos um modelo que busca espaço no mundo atual por sair do enfoque individual e curativo, buscando o atendimento da população em geral de maneira preventiva. Atualmente conferências da OMS (Organização Mundial de Saúde), a fim de discutir a saúde no mundo, enfatizam as enormes desigualdades na situação de saúde entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos; destaca-se a responsabilidade governamental na provisão da saúde e a importância da participação de pessoas e comunidades no planejamento e implementação dos cuidados à saúde. (SCLIAR, 2007) O autor supracitado relata que no que se refere ao Brasil, a Constituição Federal Brasileira de 1988 declara que: "A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a promoção, proteção e recuperação" (CFB,1998) e este é um dos princípios que norteiam o Sistema Único de Saúde (SUS) do país. 384 Essa conceituação nos mostra como a relação saúde-doença foi evoluindo desde seu enfoque positivista, com a medicina centrada na doença, no curar, até a medicina atual já com uma visão mais global de saúde que não se limita apenas a ausência de doença. Para entendermos melhor como se dão as diferentes visões de saúde e sua conseqüente evolução, buscaremos uma explicação mais detalhada acerca de alguns modelos que permeiam este conceito. Saúde: qual olhar está nos guiando? Visão biomédica Segundo Barros (2002) o modelo biomédico tem suas raízes no Renascimento, René Descartes é o responsável por um método pioneiro na habilitação privilegiada do sujeito que conhece frente ao objeto ou realidade externa a ele e que vai ser conhecida, ele formula as regras que se constituem os fundamentos do conhecimento e que persistem hegemônicos no raciocínio médico ainda atualmente. Newton criou teorias matemáticas que confirmaram a visão do corpo e do mundo como uma máquina a ser explorada, a mecânica newtoniana possibilitou a explicação de muitos fenômenos da vida cotidiana, a medicina mecanicista passou a fornecer os instrumentos requeridos pelos médicos para que pudessem lidar de forma cada vez mais satisfatória, com uma parte crescente das doenças. (BARROS, 2002) Seguindo o raciocínio do autor, diante de tais colaborações, o interesse da medicina se transferiu da história da doença para uma descrição clinica dos efeitos da patologia, os defeitos da máquina humana. A maioria das descobertas médicas eram validadas em função de se adequarem ao modelo cartesiano. Koifman (2001) diz que na anatomia clínica do século XIX, o aprendizado das doenças se fez não pela observação da vida, mas pela observação de corpos mortos, diante disso a saúde passou a ser vista como ausência de doença e a cura se dava a partir da eliminação dos sintomas. A formação dos profissionais se tornava comprometida diante de tais modelos a que estes eram submetidos, o modo fragmentado de conhecer 385 dentro da medicina influenciou a relação da prática médica com o doente e a doença, ocorrendo um afastamento do médico em relação ao doente, e maior teorização dos discursos médicos. Concluindo, Koifman (2002) pontua que neste modelo a doença era vista como uma manifestação de causas externas, e se procurava alcançar uma causa universal da doença, o paciente era desprendido de sua condição de ser humano e passava a ser reduzido à sua patologia. O enfoque no paciente deixou de ser visto e a patologia centralizava a atenção da medicina. Contrapondo o pensamento de corpo como máquina surgiram outros pensamentos que ampliaram a visão da medicina em relação ao ser humano e sua complexidade, questões tratadas pela antropologia, melhor abordada abaixo. Visão antropológica De acordo com Uchoa e Vidal (1994) as noções de saúde referem-se a fenômenos complexos que conjugam fatores biológicos, sociológicos, econômicos, ambientais e culturais e o discurso antropológico aponta os limites da tecnologia biomédica quando se trata de mudar de forma permanente o estado de saúde de uma população que deve ser associado ao seu modo de vida, incluindo o universo social e cultural. Continuando, apontam que em decorrência do desenvolvimento da antropologia, surge uma nova concepção da relação individuo e cultura, tornando possível a integração do contexto na abordagem dos problemas da saúde. Nesta perspectiva o contexto sócio-cultural do doente é visto como o lugar onde se enraízam as concepções sobre a doença, as explicações fornecidas e os comportamentos diante delas. Para Canesqui (2003), a antropologia enfatiza a articulação da doença na construção das identidades sociais, relações de gênero e inserção nos padrões estruturantes da cultura, permitindo examinar as relações entre os modelos de prática que suportam as organizações dos serviços, os programas de prevenção, as intervenções terapêuticas e os modelos culturais dos usuários. 386 No âmbito da saúde coletiva é preciso que as ciências sociais dialoguem entre si articuladas a outras disciplinas, sem se restringirem às fronteiras das especialidades, afirma a autora. Uma especialidade considerada atualmente quando se fala do processo saúde-doença é a Psicologia, melhor especificada abaixo. Visão psicológica Segundo Traverso-Yépez (2001), sofrimento e doença, bem como o processo de envelhecimento e a morte, fazem parte da existência humana e estão relacionados às características de cada sociedade e cada época. Os trabalhos de Freud apontando o papel dos conflitos emocionais na aparição de sintomas sem causa física imediata geraram a linha conhecida hoje como medicina psicossomática baseando-se inicialmente apenas em interpretações psicanalíticas, sendo posteriormente reconhecida sua complexidade. Ainda segundo a autora, as mudanças no processo do adoecer nas últimas décadas (diminuição de doenças infecciosas decorrente de medidas preventivas e aumento das denominadas doenças crônicas) vão deixar mais claro o papel dos aspectos psicológico e social expressos pela personalidade e os estilos de vida das pessoas. De acordo com Reis (1999), para a psicologia não há fronteiras entre o biológico, o psicológico e o social, estas três dimensões são consideradas partes integradas num todo que dão origem a uma expressão unitária onde o corpo deixa de ser dos médicos e passa a ser de cada um, pois o corpo é simultaneamente um corpo-objeto e um corpo-subjetivo e social, do qual a pessoa tem uma percepção pessoal e se inscreve no contexto da sua vida. Sendo assim saúde é vista como um equilíbrio biopsicossocial, onde o ser humano é visto como um todo sem a separação de sua subjetividade nem exclusão do contexto social. Devido a constante mudança nas formas de se pensar saúde e doença o pensamento sistêmico nos mostra uma visão de saúde que pensa em ambas como complementares. Abaixo abordaremos o conceito de saúde um uma perspectiva sistêmica. 387 Visão sistêmica Segundo Bertalanffy (1976), até a metade do século XX existia o pensamento de que o comportamento humano era um modelo robotizado, e os seres humanos eram enquadrados a este modelo, para tal as máquinas, os animais, as crianças e os doentes poderiam proporcionar modelos adequados para a explicação do comportamento humano. Os reflexos deste pensamento aparecem na formação dos profissionais que muitas vezes vêem o ser humano limitado a visão da sua especialidade. Tal postura é explicada por Esteves de Vasconcelos (2002) quando refere-se ao conceito de paradigma. Segundo a autora o paradigma tradicional da ciência se baseia no modelo cartesiano, de René Descartes, que abrange três diferentes pressupostos. O primeiro conhecido como pressuposto da simplicidade resulta em uma compartimentação do saber, dividindo o conhecimento científico em disciplinas cientificas, onde trabalham especialistas em conteúdos específicos, tendo grande dificuldade de se comunicar com especialistas de outras áreas. O segundo pressuposto trata da estabilidade onde o cientista por meio da reversibilidade pode interferir ou manipular um sistema, produzindo seu retorno ao estado inicial, em conseqüência ocorre a controlabilidade dos fenômenos. O terceiro pressuposto refere-se a objetividade que busca a eliminação de toda a interferência do observador para obter uma visão exterior do universo. O trabalho do cientista consiste em descobrir a realidade. Diante de todas as afirmações feitas pela autora, concluímos que o paradigma da ciência tradicional simplifica o universo para conhecê-lo e saber como ele funciona tal como ele é na realidade. Contrapondo a todo este pensamento podemos retomar Bertalanffy (1976) ao explicar que a teoria geral dos sistemas busca identificar leis e princípios característicos dos sistemas em geral, independentemente do tipo de cada um e da natureza de seus elementos. Um sistema é um complexo de elementos em interação sendo esta de natureza não ordenada. A teoria dos sistemas é interdisciplinar e aplica-se a qualquer todo constituído por componentes em interação. 388 Esteves de Vasconcellos (2002) complementa que a teoria dos sistemas é considerada uma ciência da totalidade, da integridade e que a noção de sistema vem substituir a noção de partes separadas do todo e refere-se a este como a mais que a soma das partes. Portanto um sistema é o todo integrado cujas propriedades não podem ser reduzidas as propriedades das partes. Entretanto, as características do todo se mantém mesmo que haja substituição das partes e os componentes não são insubstituíveis. Com essa noção de integração supõe-se que segundo a integralidade o comportamento do todo é mais complexo que a soma do comportamento das partes. (ESTEVES DE VASCONCELLOS,2002) Ao discutirmos o pensamento sistêmico nos deparamos com uma visão integradora de se pensar o comportamento humano e conseqüentemente de se pensar saúde. O ser humano deixa de ser visto como um emaranhado de partes fragmentadas e que devem ser trabalhadas de acordo com cada patologia para ser visto como um ser integral que não se limita apenas a sistemas físicos e mentais mas a um ser dotado de vontades, sentimentos e expectativas. Diante das várias abordagens que definimos acima, fica claro que para possibilitar saúde a todos, prevenir doenças tornou-se necessário e técnicas para a execução de tal proposta foram desenvolvidas, dentre estas técnicas, a promoção em saúde que trataremos a seguir. Promoção em saúde: do que se trata? Desde suas origens nos anos 70 o ideário da Promoção à Saúde vem tendo uma crescente influência nas políticas públicas de distintos países. No Brasil a promoção de saúde se faz presente na proposta da Vigilância à Saúde, sustenta o projeto de Cidades Saudáveis, influencia práticas de Educação à Saúde e suas diretrizes são alicerces de muitos dos projetos de reorganização da rede básica hoje vinculados ao Programa Saúde da Família. (CARVALHO,2004) A promoção da saúde representa uma estratégia promissora para enfrentar os múltiplos problemas de saúde que afetam as populações humanas 389 e seus entornos neste final de século. Partindo de uma concepção ampla do processo saúde-doença e de seus determinantes, propõe a articulação de saberes técnicos e populares, e a mobilização de recursos institucionais e comunitários, públicos e privados, para seu enfrentamento e resolução, sendo esta também interpretada, de um lado, como reação à acentuada medicalização da vida social e, de outro, como uma resposta setorial articuladora de diversos recursos técnicos e posições ideológicas. (BUSS, 2000). A promoção em saúde se propõe a enfocar os fatores sócio-ambientais e econômicos, atuando sobre as condições de vida cotidianas e sendo direcionada ao coletivo e à defesa dos direitos sociais. Tratando-se de um processo de desenvolvimento do compromisso político e de impulsão às mudanças sociais. (SICOLI e NASCIMENTO 2003) Segundo Fleury-Teixeira et al (2008) as condições sociais são a base para o padrão sanitário de um povo, assim como a posição de cada indivíduo na sociedade é um determinante fundamental da própria saúde. A qualidade, o padrão das relações sociais resulta em elemento cm ampla e determinação sobre a saúde. Tal evidência respalda o postulado correspondente da eficácia na intervenção nas relações sociais para o incremento da saúde. Considerando este novo pensamento a promoção à saúde pode contribuir para a ruptura entre as velhas e novas práticas em saúde, fornecer elementos para transformação do status quo sanitário e para a produção de sujeitos autônomos e socialmente solidários. (CARVALHO,2004) O trabalho foi realizado na cidade de Pedregulho, cuja estrutura da saúde mostraremos abaixo. Estrutura da saúde na cidade de Pedregulho A saúde no município de Pedregulho é estruturada por 05 Unidades Básicas, duas unidades na zona Urbana compostas por: Ginecologia, Obstetrícia, Clinica Médica, Pediatria, Farmácia Centralizada, Sala de Vacina e Sala de Curativo. 390 Três Unidades nos Distritos:Igaçaba, Alto Porã e Vila Primavera – Usina Estreito, compostas por: ginecologia, obstetrícia, clinica médica, pediatria e sala de curativo. Uma ESF (Estratégia Saúde da família) composta por: médico, enfermeira, técnica de enfermagem, agentes comunitárias. auxiliar administrativa. A cidade ainda possui um hospital filantrópico. COM O QUE PODEMOS AJUDAR? Este estudo pretende contribuir para desvelar as questões anteriormente apontadas com vistas às: Objetivo geral Conhecer um serviço de promoção em saúde na cidade de Pedregulho. Objetivos específicos Conhecer o espaço em que este atendimento é prestado. Conhecer a metodologia utilizada pelo serviço. Conhecer as percepções dos usuários acerca do atendimento prestado. COMO CHEGAMOS ATÉ AQUI... Utilizamos a metodologia qualitativa que de acordo com Martins e Bicudo (2005) questiona, e põe em duvida, o valor da generalização, diferenciando-se da pesquisa comum feita em moldes tradicionais. Sadala (2000) argumenta que a pesquisa qualitativa busca descrições individuais, interpretações oriundas das experiências vividas, tentando compreender os fenômenos que não são passíveis de serem estudados quantitativamente, por apresentarem dimensões eminentemente pessoais. De acordo Minayo (1999) a pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares, trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças e atitudes, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. A Busca de Relatos 391 Marconi & Lakatos (1990) destacam que a entrevista é considerada por alguns autores o instrumento por excelência da investigação social sendo esta a outra técnica a ser utilizada, na modalidade de entrevista estruturada (cujo roteiro será posteriormente elaborado). As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas literalmente. Cada entrevista foi identificada por um código. O material será guardado pelo período de cinco anos. Finalizando foram escolhidos 4 colaboradores, 2 técnicos e 2 usuários, a fim de se realizar uma entrevista em profundidade, elaborada com o intuito de melhor configurar o fenômeno pesquisado. Análise de dados preliminar Depois de repetidas leituras da transcrição literal das entrevistas realizadas, foi efetuada uma pré-análise de conteúdo, segundo os moldes propostos por Minayo (1999), identificando os temas abordados pelos participantes, e organizados em categorias que abordaremos a seguir. Vínculo Esta categoria busca retratar a questão vincular como sendo um dos fatores que levam os pacientes ao posto de saúde. “Aqui no posto de saúde de Pedregulho eu conheço todo mundo,são todas pessoas muito boas,tenho amizade com todas eles não tratam a gente com indiferença, sempre tratam muito bem...” Considerando que a saúde e o que se relaciona a ela são fenômenos culturalmente construídos e culturalmente interpretados, a antropologia nos coloca frente a frente com nossas verdades de maneira crítica e favorecendo a construção de um novo processo de saúde e doença. Em decorrência do desenvolvimento da antropologia, surge uma nova concepção da relação individuo e cultura, tornando possível a integração do contexto na abordagem dos problemas da saúde. Nesta perspectiva o contexto sócio-cultural do doente é visto como o lugar onde se enraízam as concepções sobre a doença, as explicações fornecidas e os comportamentos diante delas.(UCHOA e VIDAL,1994) Como podemos observar a busca pelo atendimento no posto de saúde não visa apenas curar doenças o buscar um atendimento necessariamente. O 392 posto se torna um lugar de encontro de troca de experiências, de amizades, estes fatores não são excluídos e se tornam parte essencial para uma melhoria na saúde. A realidade dos pacientes é valorizada e este espaço de conversa é cedido como algo complementar na busca da melhoria da qualidade de vida dos pacientes. O afeto é levado em consideração e as relações se tornam mais próximas, fazendo com que os pacientes optem pelos serviços do posto de saúde por ser um lugar agradável para eles, um lugar em que todos se conhecem. Concepção de saúde Nesta categoria levantamos o significado de saúde para os pacientes. “...eu não sei te explicar o que é ser saudável, pra mim ser saudável é não ter problema de saúde, estar 100% bem com os exames de sangue todos em dia de urina, fezes.” “É ter paz, é estar em paz com a família com os amigos, cuidar dos problemas de saúde e aproveitar a vida com o que a gente gosta, ou o restinho dela.” Acima observamos que as concepções de saúde dos pacientes são distintas e levam em consideração diferentes fatores. Pensar saúde em uma perspectiva biomédica nos leva a pensar que o interesse da medicina se transferiu da história da doença para uma descrição clinica dos efeitos da patologia, os defeitos da máquina humana.(KOIFMAN,2001) Para tal, estar saudável significa não apresentar patologias, o que podemos observar é que apesar de relativamente incompleto o conceito de saúde como ausência de doença ainda é hegemônico e se faz presente nos discursos até das pessoas que não tiveram acesso a uma formação médica. Contrapondo esta concepção, o pensamento sistêmico adota uma visão onde o próprio sistema reflete suas interações e vivencia a possibilidade de formar alternativas para lidar com o que define como problema.(AUN et al,2004). Assim, podemos observar que o afeto, a proximidade da família são fatores significantes para a qualidade de vida o que nos leva a pensar na questão contextual que não deve ser excluída do processo saúde e doença. 393 Hospital versus Posto de Saúde “...na Santa Casa tem um povo que nem olha a gente direito, se você é rico, conhecido na cidade é bom mas pros pobres já é mais difícil eles nem olham a gente. Só fazem a ficha e manda você esperar nem pergunta se você precisa de alguma coisa, então eu prefiro o posto que trata a gente com carinho.” “...porque eu acho que a Santa Casa trata a gente com indiferença e no posto não todo mundo é amigo de todo mundo.” Fica clara a comparação entre os serviços prestados pelo posto de saúde e pela Santa Casa. Os pacientes buscam na Santa Casa a realidade eu vivem no posto de saúde. O hospital tem uma função emergencialista, onde tudo é feito rapidamente, sem a possibilidade do estabelecimento do vínculo. Além disso a alta rotatividade de plantonistas faz com que a cada consulta o médico seja diferente. Os pacientes atendidos pelo posto nítidamente buscam um atendimento igual na Santa Casa, mas o que não fica claro é que ambos tem diferentes funções e o tratamento por conseqüência não é o mesmo. Ao falar do atendimento emergencial nos atemos a questão do modelo biomédico e ao pensamento cartesiano que em uma de suas regras postulava que se deve separar cada dificuldade a ser examinada no maior número de partes possível e que sejam requeridas para solucioná-la, relacionando com a medicina moderna podemos ver que o paciente não é visto em sua totalidade, este é reduzido a sua patologia e o tratamento é feito buscando a cura desta, deixando de lado as várias facetas e dificuldades que uma doença pode ocasionar.(BARROS,2002) Portanto, os profissionais emergencialistas estão focados na resolução do problema, na cura da patologia, o que faz com que neste contexto a visão totalitária do ser humano não seja o mais importante. Acesso a informação Nesta categoria procuramos mostrar como o acesso a informação, pode auxiliar no processo de qualidade de vida. “...pouco tem dia que eu venho na nutricionista porque quando a gente tem problema de pressão tem que controlar e também não pode comer de tudo que 394 nem eu gosto de arroz com banha de porco mas a doutora disse que não pode por causa do colesterol então eu tenho que me controlar porque se não dá problema.” Como podemos perceber o acesso a informação torna as pessoas mais próximas do tratamento, do conhecimento da doença e até mesmo das formas de intervenção. Lefevre e Lefevre (2007), ressaltam que a informação contribui para a obtenção do máximo possível ganho de saúde e a maior perda possível da doença, já que na medida em que a informação é repassada ao paciente no atendimento, a doença que o acomete vai sendo contextualizada e remetida aos processos de determinação, dos quais o paciente é integrante como subjetividade. 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