Portfolio de: Escrevendo a equação de BQM... Vimos que para um VC não homogêneo qualquer equação de balanço correspondente a uma lei de conservação pode ser escrita como: ∂ !! " " = − +Ψ ψρ ψρ dV nvdA M /O + ΨG ∫ ∫ ∂t VC SC ! mv ! Assim para obtermos a equação de BQM basta substituir ψ = = v na m expressão acima, donde obtemos: ∂ ! ! !! " " = − ρ ρ nvdA + Ψ v dV v M /O + ΨG ∫ ∫ ∂t VC SC Resta agora analisarmos os termos de geração e dos mecanismos de transporte. Há controvérsias com relação a como definir estes dois. Adotaremos uma mistura da visão de Bird et al. e de Brodkey & Hershey. Estes últimos autores se fundamentam no enunciado de Isaac Newton de que um movimento pode ser provocado e assim gerado pela ação de forças. Por outro lado, vimos que no escoamento laminar a força de atrito está relacionada com o transporte por condução de quantidade de movimento e assim podemos interpretar que para o caso do balanço de quantidade de movimento, o termo de geração se sobrepõe com o de mecanismos de transporte de modo que: ! " / +Ψ " =∑F Ψ M O G i i ! sendo ∑ Fi a somatória de todas as forças atuantes no VC considerado. i Assim o BQM fica: ! ∂ ! ! !! = − + ρ ρ v dV v nvdA F ∑i i ∫ ∫ ∂t VC SC (BQM-VC-NH) Uma proposta de simplificação da equação (BQM-VC-NH) – em busca de uma equação para VC homogêneo: ! !! Vamos ver como o termo de E/S, a saber − ∫ v ρ nvdA , pode ser simplificado. Para tanto SC assumiremos que para cada entrada e saída sobre a superfície de controle o fluido possa ser considerado incompressível, isotérmico e sem alteração da composição de modo que o termo de E/S pode ser escrito como uma somatória das entradas e saídas e cada entrada e saída i pode ser escrita como: UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 68 Portfolio de: !!! ρi ∫ vi ni vi dA Ai ! onde Ai indica a área superficial da entrada ou saída i. Analogamente, ρi , vi são, ! respectivamente, a densidade e a velocidade na entrada i e ni é o vetor normal à superfície Ai. A hipótese assumida é bastante razoável, para entendê-la, pense na água quente escoando por uma tubulação não isolada. À medida que a água escoa pela tubulação, a sua temperatura cai, mas para cada seção transversal assumir uma temperatura uniforme é razoável(pelo menos em termos do cálculo da densidade). É isto que diz a hipótese levantada. !! Seja vi = ni vi , de modo que tenhamos: ! ρi ∫ vi vi dA Ai Note que neste caso Ai corresponde à área da seção transversal da entrada ou saída i e ! que o vetor vi pode ser escrito, por exemplo, em relação ao sistema de coordenadas ! cartesianas como vi = ( vx ,i , v y ,i , vz ,i ) . Se o perfil de velocidades for uniforme temos então que para cada entrada e saída (Ai) podemos escrever: ! ! ! ! ρi vi vi ∫ dA = ρi vi vi Ai = ρi vi Ai vi = m" i vi Ai De modo que o BQM passa a ser escrito como: ! ! ! ! ∂ " " ρ = − + vdV m v m v F ∑ ∑ ∑i i i i i i ∫ ∂t VC i∈E i∈S (BQM-PU) A equação (BQM-PU) é bastante mais simpática que a equação (BQM-VC-NH) e sugere que se tente estabelecer uma equação alternativa para (BQM-VC-NH) para volumes de controle homogêneos. Trataremos disso adiante. Mas antes iremos mostrar algumas aplicações da equação de BQM e iremos para tanto trabalhar com a equação (BQM-PU). Pode no momento parecer que a equação (BQM-PU) seja restritiva, mas veremos mais adiante que não é bem assim. Para inúmeros problemas reais (para não dizer a maioria dos problemas de escoamento interno) assumir um perfil uniforme é bastante razoável. Isto não significa que estejamos desprezando o atrito! Um último comentário ainda é referente ao termo de acúmulo. A integral só poderá ser supressa se não houver alteração na UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 69 Portfolio de: área da seção transversal de escoamento, uma vez que se a área não for constante, vimos ao estudarmos o BM que a velocidade não será constante. Percebe-se nitidamente que a equação de BQM é muito mais complexa que a equação de BM! Cabe perguntar para que serve o BQM, haja vista a sua complexidade. Dado que, como postulado por Isaac Newton, o movimento é quantificado pela grandeza quantidade de movimento, a equação de BQM serve para descrever o escoamento de fluidos! Resta, pois, analisar o que significa “descrever o escoamento de fluidos”. Descrever o escoamento de um fluido significa querer obter informações específicas deste escoamento, sendo as seguintes situações as mais corriqueiras: • • • • • Uso do BQM para o cálculo de forças atuantes no escoamento. Dentre as forças incluem-se forças de sustentação de tubulações ou aparatos diversos ou o cálculo de forças de atrito ou arrasto(termo usado para o atrito em escoamento externo). Por exemplo, o cálculo da força de arrasto é importante para o projeto do motor de veículos diversos (aviões, barcos, carros, trens, etc.) ou para o projeto de um sistema de controle de aviões, naves espaciais, helicópteros, em que intempéries podem desestabilizar o vôo. Uma outra força que deve ser descrita é o peso de aeronaves, i.e., deseja-se saber como projetar a nave de modo que esta se mantenha no ar inobstante o seu peso. Uso do BQM para o cálculo da variação de pressão ao longo do escoamento de um fluido. Uso do BQM para o cálculo de velocidades de fluidos em escoamento. Uso do BQM para o cálculo da viscosidade de fluidos. Uso do BQM para a dedução do perfil de velocidades (neste caso é necessário o uso de uma abordagem microscópica) . Embora o BQM possa ter outros usos, os acima são os mais comuns. Por exemplo, não se recomenda usar o BQM para o projeto de instalações hidráulicas, pois o seu uso é bastante complexo nestas situações e veremos que uma equação de balanço mais simples pode ser usada com muita facilidade (a equação de balanço de energia mecânica). Ainda, cabe destacar que o principal uso do BQM é para o cálculo de forças, o que mostraremos a seguir através dos exemplos e exercícios propostos, sobre os quais você deve refletir. Mas antes disso, analisaremos a importância da escolha adequada do VC quando do uso do BQM. Para tanto, considere a escolha dos seguintes VC para a análise do escoamento no interior de um tubo suspenso por suportes como mostrado nas figuras a seguir. Identifique as forças atuantes e discuta as aplicações de um e de outro VC. UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 70 Portfolio de: Exercícios: Exercício 01: (adaptado do exercício 3.64 de White) Um jato de água a 20oC em formato cilíndrico de 6cm de diâmetro atinge uma placa contendo um orifício de 4cm de diâmetro, conforme mostra a figura. Parte do jato atravessa o orifício e parte é defletida. Observou-se que o perfil de velocidades do jato antes de atingir a placa é uniforme com velocidade de 25m/s e não se altera ao passar pelo orifício. Determine a força na direção horizontal necessária para conter a placa. Resp.: 980N Exercício 02: (adaptado dos exemplos 7.4 e 7.6 de Brodkey & Hershey) Água escoa a uma vazão de 28.3 l/s através de um cotovelo horizontal de 60o com redução na saída. A pressão absoluta na entrada do cotovelo é 6.8 atm e a pressão de saída é de 1.97 atm. Os diâmetros na entrada e saída são, respectivamente, de 6 e 4 polegadas. A pressão atmosférica local vale 1 atm. Pede-se: a-) A força exercida pelo cotovelo sobre o fluido. b-) Se o cotovelo é segurado por flanges, determine a força que deve ser exercida pelos parafusos das flanges. UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 71 Portfolio de: fotografia mostrando uma flange (catálogo da Armfield) UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 72 Portfolio de: Exercício 03: (adaptado da PAF do 2o semestre de 2002) Neste exercício, objetiva-se descrever o escoamento de ar sobre um helicóptero, visando ao entendimento de alguns fatores que estão relacionados com a sustentação do mesmo. A massa total do helicóptero considerado neste problema é de 1 ton e o helicóptero se encontra parado a uma altitude de 100m da superfície terrestre em um dia em que não há vento. As figuras a seguir mostram a vista frontal e de topo do escoamento do ar sobre o helicóptero. Para a modelagem do problema, as seguintes hipóteses simplificadoras serão feitas: !"as pressões do ar na entrada e saída do escoamento sobre o dispositivo mostrado na figura serão admitidas como sendo a pressão atmosférica local de 1 atm. !"a variação de energia potencial ao longo do escoamento será desprezada. !"a perda de carga será desprezada. !"o escoamento será assumido como sendo incompressível. !"o ar atmosférico à altitude de 100m encontra-se a 18oC. !"densidade do ar de 1.2 kg/m3 !"a acelaração da gravidade local é de 9.8m/s2 Pede-se efetuar para o volume de controle indicado na figura, um balanço de massa e um balanço de quantidade de movimento em regime permanente e determine a vazão volumétrica de escoamento de ar necessária para que o helicóptero não caia. Determine também, as velocidades de ar na entrada e na saída do dispositivo. Exercícios recomendados da lista: Exercícios do capítulo 3 de White: P3.43, P3.49 UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 73 Portfolio de: Finalmente! Escrevendo a equação de BQM para um VC homogêneo... Obtivemos até o momento as seguintes equações de BQM-linear para volumes de controle macroscópicos: ! ∂ ! ! !! = − + ρ ρ v dV v nvdA F ∑i i ∫ ∫SC ∂t VC ! ∂ ! ! ! " " ρ = − + vdV m v m v F ∑ ∑ ∑i i i i i i ∫ ∂t VC i∈E i∈S (BQM-VC-NH) (BQM-PU) A equação (BQM-PU) pode ser considerada idêntica à equação (BQM-VC-NH) na condição de perfil uniforme de velocidades (as demais hipóteses não são muito restritivas). Assim, para o caso em que o perfil não for uniforme uma idéia para simplificar a equação (BQM-VC-NH) é substituir a velocidade nas entradas e saídas pela velocidade média nas entradas e saídas e introduzir um fator de correção do perfil de velocidades β como segue: ! ∂ ! ! ! " " ρ β β = − + vdV m v m v F ∑ ∑ ∑ i m ,i i i m ,i i ∫ ∂t VC i∈E i∈S (BQM-VC-H) Vejamos como o fator de correção pode ser obtido de modo que a equação (BQM-VCH) seja idêntica à equação (BQM-VC-NH) na hipótese de que em cada entrada e saída, o fluido possa ser assumido incompressível, isotérmico e com composição uniforme. !!! Nestas condições vimos que para cada entrada e saída temos: ρi ∫ vi ni vi dA . Iremos Ai adicionalmente supor que o vetor velocidade seja ortogonal à superfície Ai, de modo que ! tenhamos: ρi ∫ vi vi dA . Assim, o fator de correção pode ser obtido igualando esta Ai expressão à correspondente em (BQM-VC-H), a saber: βi = ! ρi ∫ vvdA Ai ! m" i vm,i = ! ρi ∫ vvdA ! ∫ vvdA i i ! = ! ρ i vm,i Ai vm,i Ai vm ,i vm ,i A A (FC) Um caso particular da equação (FC) corresponde à situação em que o escoamento é unidirecional, quando (FC) é escrito como: ∫ v dA 2 βi = Ai Ai vm2 ,i (FC-U) UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 74 Portfolio de: Para podermos calcular o fator de correção de velocidades, devemos conhecer o perfil de velocidades. É do que trataremos em seguida, apresentando um segundo uso do BQM, a saber, mostraremos como o BQM pode ser usado para se deduzir o perfil de velocidades. Mas antes disso, vamos introduzir uma outra visão sobre a não uniformidades dos escoamentos, analisando como os padrões de escoamento são formados ou desenvolvidos. leitura recomendada: Brodkey & Hershey: Bird et al.: Bennett & Myers: Granger: Wiggert & Potter: White: p. 275-286 p. 195-196 p. 15-16, p. 61-67 p. 1530158, p.233-269 p.103-113, p. 129-130, p.135-137 p.89-109 Exemplos recomendados para leitura: Bird et al.: Brodkey & Hershey: Granger: White: Wiggert & Potter: exemplo 7.2-1 exemplos 7.4 a 7.6 exemplo 5.4, 5.5 exemplo 3.7, 3.8, 3.9, 3.10 exemplo 4.11, 4.15 Exemplo - clássico: (exemplo 7.6-1 de Bird et al., p. 204, exercício P3.59 de White, exemplo 4.14 de Wiggert & Potter, p. 134) Um fluido incompressível escoa isotermicamente, em escoamento turbulento, de um pequeno tubo circular para um grande tubo conforme mostrado na figura a seguir. As áreas da seção transversal dos dutos são S1 e S2. Mostre que a variação da pressão entre S os planos 1 e 2 pode ser representada por P2 − P1 = ρ vm2 ,2 2 − 1 , sendo ρ a densidade S1 do fluido e vm,1 a velocidade média de escoamento pelo tubo de menor área. Figura extraída de Bird et al., p. 204 UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 75 Portfolio de: Solução: Hipóteses: e.e. (dutos); ρ=cte (f. incompressível e isotérmico); β=1 (e. turbulento); Logo após a expansão, a pressão é tomada como P1 pela proximidade do plano 1, ou seja P1 é assumido atuar sobre a área S2. Entre 1 e 2 não é considerada a ação de nenhuma força viscosa. BM entre 1-2: m" 1 = m" 2 ⇒ vm ,1S1 = vm ,2 S 2 BQM entre 1-2: 0 = m" 2 ( vm ,1 − vm ,2 ) + PS 1 2 − P2 S 2 ( P2 − P1 ) S 2 = vm,2 S 2 ρ (vm ,1 − vm ,2 ) P2 − P1 = vm ,2 ρ (vm ,1 − vm ,2 ) Substituindo o BM: S P2 − P1 = vm ,2 ρ vm ,2 2 − vm ,2 S1 S P2 − P1 = vm2 ,2 ρ 2 − 1 , c.q.d. S1 Exercícios recomendados da lista Exercícios do capítulo 3 de White: Exercícios complementares: P3.40, P3.41, P3.60, P3.62, P3.64, P3.67, P3.68, P3.77 21, 22 UPM/EE/DEM&DEE/FT-I-3E/Profa. Dra. Míriam Tvrzská de Gouvêa/2004-2S 76