reaproveitamento de resíduos gerados na fabricação de celulose e

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ISSN: 2178-3586 / 5ª Edição / Jan – Jul de 2012
REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS NA FABRICAÇÃO DE
CELULOSE E PAPEL COMO SUBSTRATO NA HIDROPONIA PARA A
CULTURA DE ALFACE (Lactuca sativa)
REUSE OF WASTE GENERATED IN THE MANUFACTURE OF PULP AND
PAPER AS SUBSTRATE IN HYDROPONICS CULTURE OF LETTUCE
(Lactuca sativa)
1
Sonia Aparecida Ferreira Anhaia ; Paulo Rogério Borszowskei
1
2
2
Formanda do curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, Centro de Ensino superior dos
Campos Gerais – CESCAGE, Ponta Grossa – PR
[email protected]
M.Sc. Coordenador e professor do Curso de Tecnologia em Gestão Ambiental, professor do
Curso de Agronomia, Centro de Ensino superior dos Campos Gerais – CESCAGE, Ponta
Grossa – PR
[email protected]
Resumo: O objetivo foi avaliar o potencial dos resíduos de cinza de biomassa,
casca de eucalipto e lodo da estação de tratamento de efluentes, como
substrato na hidroponia para a cultura de alface. O experimento foi realizado no
município de Piraí do Sul- PR, conduzido sob delineamento de blocos
aleatorizados (DBA) com sete tratamentos, constituindo em dois sistemas de
irrigação (com solução nutritiva comercial e sem solução nutritiva) e com 16
repetições, sendo que, cada planta era uma repetição. Os tratamentos
utilizados foram: T1 (cinza), T2 (lodo ETE), T3 (casca de eucalipto), T4
(controle - fibra de coco), T5 (T150%+T250%), T6 (T150%+ T350%), T7 (T250%+
T350%), sob sistema de irrigação contendo somente água e novamente todos os
tratamentos supracitados utilizando irrigação com solução nutritiva. As
variáveis analisadas foram: altura das plantas (AP) em cm, número de folhas
por planta (NFP), diâmetro do caule (DC) em cm, fitomassa fresca da raiz
(FFR) em gramas, fitomassa fresca aérea (FFA) em gramas e a fitomassa
fresca total (FFT) em gramas. Submeteu-se à análise de variância e as médias
foram comparadas pelo teste de LSD ao nível de 5% de probabilidade. Como
resultado foi possível observar que à FFA e FFT para o tratamento substrato,
foi aproximadamente 68% superior que o tratamento lodo +cinza, o qual
apresentou a segunda melhor média. Já sob irrigação com solução nutritiva, o
tratamento fibra de coco apresentou melhor desempenho em relação aos
demais para as variáveis FFA e FFT. O tratamento lodo+cinza proporcionou a
segunda melhor média para as varáveis FFA e FFT.
Palavras-chave: Cinza biomassa. Cultivo sem solo. Solução nutritiva. Lodo
ETE.
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Abstract: This study aims to evaluate the potential of waste biomass ash,
eucalyptus bark and sludge treatment plant effluent as a substrate in
hydroponics for growing lettuce. The experiment was conducted in Piraí do SulPR. The experiment was conducted in randomized block design (RBD) with
seven treatments in two irrigation systems (commercial nutrient solution with
and without nutrient solution) and 16 repetitions, and each plant was a repeat.
The treatments were: T1 (gray), T2 (STP sludge), T3 (eucalyptus bark), T4
(control - coconut fiber), T5 (T150% + T250%), T6 (T150% + T350%), T7
(T250% + T350%) as an irrigation system containing only water and again all
the above treatments using irrigation with nutrient solution. The variables
analyzed were: plant height (PH) in cm, number of leaves per plant (NLP), stem
diameter (SD) in cm, the fresh root (FR) in grams, the fresh air (FA) in grams
and total fresh biomass (TFB) in grams. Was subjected to analysis of variance
(ANOVA) and means were compared by LSD at 5% probability (P = 0.05). As a
result it was observed that the FA and TFB for the treatment substrate was
approximately 68% higher than the gray mud + treatment, which had the
second best average. Already under irrigation with nutrient solution treatment
coconut fiber showed better performance compared to other variables for the
FA and TFB. Sludge Treatment + Grey provided the second best average for
the variables FA and TFB.
Keywords: Biomass ash. Cultivation without soil. Nutrient solution. Sewage
Sludge.
1 INTRODUÇÃO
As indústrias de celulose e papel geram uma grande diversidade e
quantidade de resíduos sólidos e líquidos ocasionando impactos ambientais e
econômicos para sua disposição final. Na maioria das vezes esses resíduos
são dispostos em aterros da própria indústria gerando riscos ambientais como
a contaminação do solo e lençol freático.
Outro problema são os elevados custos com o transporte, tratamento e
manutenção dos aterros. Assim é necessário estudar maneiras alternativas que
sejam
ecologicamente
corretas
e
economicamente
viáveis
para
o
reaproveitamento desses resíduos.
Os principais resíduos gerados no processo de fabricação de celulose e
papel são: lama da cal, gerada nos filtros de lama de cal (carbonato de sódio),
grits, gerado no processo de apagamento da cal para produção de licor branco
(soda cáustica), dregs, gerados na clarificação do licor verde (carbonato de
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sódio + sulfeto), casca da madeira de pinus ou eucalipto, resíduo celulósico,
cinzas oriunda da queima de biomassa e lodo da estação de tratamento de
efluentes.
Sendo o gerenciamento de resíduos um dos principais desafios
enfrentado pelas indústrias de celulose e papel, torna-se necessário encontrar
alternativas de reaproveitamento desses resíduos na tentativa de minimizar os
impactos causados pelos mesmos.
O aproveitamento de resíduos na agricultura, potencializados como
condicionantes
químicos,
físicos
e
biológicos
do
solo,
favorecem
o
desenvolvimento de plantas, evidenciando esta prática justificável na produção
de alimentos. Alguns resíduos podem ser utilizados como sistemas de
produção, como a exemplo do sistema hidropônico.
Diante do exposto, esse trabalho tem como objetivo avaliar o potencial
dos seguintes resíduos: cinza de biomassa, casca de eucalipto e lodo da
estação de tratamento de efluentes, como substrato na hidroponia para a
cultura de alface (Lactuca sativa).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O Brasil é um grande produtor de celulose e papel, sendo que em 2010
alcançou a 9ª posição mundial como produtor de papel e a 4ª posição mundial
como produtor de celulose (BRACELPA, 2012).
Essa crescente elevação da produção e a busca por produtos de melhor
qualidade levam a indústria de papel a gerar grandes quantidades de resíduos
que causam problemas ambientais e econômicos (PINHEIRO et al., 2008).
Segundo Bellote et al., (1998) para cada 100 Mg de celulose produzidas
são gerados aproximadamente 48 Mg de resíduos. Portanto, define-se como
resíduo, as sobras que ocorrem no processamento mecânico, físico ou
químico, e que não são incorporadas ao produto final (BELLOTE et al., 1998).
De acordo com Silva et al., (2009), os principais resíduos produzidos
pelas indústrias de papel e celulose são: a casca da madeira, o lodo da
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estação de tratamento de esgoto, o resíduo celulósico, a cinza de caldeira
resultante da queima de biomassa, a lama de cal, o “dregs” e o “grits”
(expressões usadas nas indústrias de celulose e papel, inclusive no Brasil, que
poderia ser traduzida como “borra”).
Geralmente estes resíduos são depositados em aterros da própria
indústria ou em aterros industriais. Porém essa opção “é inviável, em função
dos altos custos para implantação e manutenção, além da exigência de
cuidados especiais no manuseio, tendo em vista os riscos de contaminação
ambiental” (BELLOTE et al., 1998, p. 99).
Assim, este tipo de disposição não é mais visto como uma solução viável
em longo prazo. Diante disso alternativas de reaproveitamento dos resíduos
gerados vêm sendo estudadas na tentativa de minimizar os impactos
causados, sendo o sistema hidropônico um deles.
O termo hidropônico foi criado pelo pesquisador da Universidade da
Califórnia, Dr. W.F.Gericke na década de 30 e deriva de duas palavras gregas:
hydro= água e ponos= trabalho. Qualquer espécie vegetal pode ser cultivada
hidroponicamente.
A hidroponia pode ser definida como uma técnica alternativa de cultivo
protegido, onde o solo é substituído por uma solução aquosa que contém os
elementos minerais indispensáveis aos vegetais. (BENOIT; CEUSTERMANS,
1995; FAQUIM; FURLANI, 1999).
As vantagens do cultivo comercial de plantas em hidroponia são:
padronização da cultura e do ambiente radicular; drástica redução no uso de
água, eficiência do uso de fertilizantes, melhor controle do crescimento
vegetativo, maior produção, qualidade e precocidade, maior ergonomia no
trabalho, maiores possibilidades de mecanização e automatização da cultura. A
desvantagem seria o maior custo inicial para a instalação. (BENOIT;
CEUSTERMANS, 1995; FAQUIM; FURLANI, 1999).
Segundo Silva et al.,(2007) com a técnica hidropônica é possível
produzir três ou quatro vezes mais por unidade de área que com o cultivo
tradicional. Com relação aos métodos de sistema hidropônico utilizados no
Brasil Furlani (2008) cita os seguintes:
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a) Sistema NFT (“nutrient film technique”) ou técnica do fluxo laminar de
nutrientes, composto basicamente de um tanque de solução nutritiva,
de um sistema de bombeamento, dos canais de cultivo e de um
sistema de retorno ao tanque. A solução nutritiva é bombeada aos
canais e escoa por gravidade formando uma fina lâmina de solução
que irriga as raízes.
b) Sistema DFT (“deep film technique”) ou cultivo na água ou “floating”:
Neste sistema a solução nutritiva forma uma lâmina profunda (5 a 20
cm) onde as raízes ficam submersas. Não existem canais e sim uma
mesa plana onde fica circulando a solução, através de um sistema de
entrada e drenagem características.
c) Sistema com substratos: para hortaliças frutíferas, flores e outras
culturas que têm sistema radicular e parte aérea mais desenvolvida.
Utilizam-se vasos ou outros recipientes preenchidos com substratos
comercias. Os mais usados são os compostos por casca de pinus e
fibra de coco.
d) Também são usados areia, argila expandida, pedras diversas
(seixos, brita), vermiculita e outros para a sustentação da planta,
onde a solução nutritiva é percolada através desses materiais e
drenada pela parte inferior dos vasos podendo retornar (sistema
fechado) ou não (sistema aberto) ao tanque de solução. Nos
sistemas fechados, ainda há risco de contaminação de todo o plantio
por recirculação da solução nutritiva contaminada.
A função do substrato é sustentar as plantas para permitir as raízes
procurar na solução nutritiva os nutrientes necessários para o seu
desenvolvimento. Um bom substrato deve possuir as seguintes características:
reter uma boa quantidade de umidade, não conter microorganismos que podem
causar doenças ou danos as plantas, não conter microorganismos prejudiciais
a saúde dos seres humanos, ser fácil de conseguir, transportar, manejar, ser
leve e de baixo custo (SILVA et al., 2007). O substrato não é a fonte de
nutrição da planta, simplesmente deverá fornecer suporte e sustentação para
ela. Sendo assim, um substrato poderia ser constituído por pedras, mas
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existem na natureza substratos mais aptos para as plantas. A fonte de nutrição
da planta será a solução nutritiva que lhe fornecerá os nutrientes necessários
para seu crescimento e desenvolvimento.
Paulus et al.,(2005) comentam que a escolha do substrato vai depender
de suas características físicas e químicas e das exigências da espécie utilizada
no enraizamento.
Para Fanchinello et al., (1994) apud Paulus et al., (2005) outra função do
substrato é manter o ambiente, na base das mesmas, úmido, escuro e com
adequada aeração.
A alface (Lactuca sativa) é a hortaliça folhosa mais consumida no Brasil,
sendo um componente básico de saladas preparadas nos domicílios
domésticos quanto comercialmente (MORETTI; MATTOS, 2005). Originária do
Mediterrâneo foi uma das primeiras hortaliças cultivadas pelo homem.
Atualmente é explorada em todo território nacional, tanto em solo como em
sistemas hidropônicos, sendo a principal cultura utilizada em hidroponia no país
(SOARES, 2002).
3 MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no município de Piraí do Sul- PR, nas
dependências da Iguaçu Celulose, Papel S/A. A empresa está localizada sob
as coordenadas: latitude de 24º 36´50”S, longitude de 49º 58´13” W e altitude
de 1036m. Conforme a classificação climática de Koppen apresenta clima
subtropical (Cfb) e temperatura média inferior de 18ºC (mesotérmico) com
verões frescos, temperatura média no mês mais quente inferior a 22ºC e sem
estação seca definida.
O manejo das mudas foi realizado sob ambiente protegido em estufa
com estrutura de arcos coberta com polietileno.
O experimento foi conduzido sob delineamento de blocos aleatorizados
(DBA) com sete tratamentos, constituindo em dois sistemas de irrigação (com
solução nutritiva comercial e sem solução nutritiva) e com 16 repetições, sendo
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que, cada planta era uma repetição. Para cada tratamento foi utilizado duas
bandejas de madeira de 1,0 x 1,0 m e 20 cm de profundidade e com desnível
de 1 cm (para escoamento do excesso da solução nutritiva) onde cada bandeja
agrupava 16 plantas, espaçadas de 25 x 25 cm.
Os tratamentos utilizados foram: T1 (cinza), T2 (lodo ETE), T3 (casca de
eucalipto), T4 (controle - fibra de coco), T5 (T150%+T250%), T6 (T150%+ T350%),
T7 (T250%+ T350%), sob sistema de irrigação contendo somente água e
novamente todos os tratamentos supracitados utilizando irrigação com solução
nutritiva.
No sistema de irrigação sem solução nutritiva, foi utilizado como
tratamento controle (T4) substrato comercial (SC) Germina Plant turfa fértil (pH
5,8 + ou – 0,2; condutividade: 0,7 + ou – s; umidade: 55% peso/peso;
densidade base seca: 330 Kg/m3; CRA (capacidade de reter água): 102%;
Composição: turfa e calcário, calcítico e aditivado com fertilizantes minerais).
As características químicas dos resíduos utilizados como substrato podem ser
observadas na Tabela 1.
Tabela 1. Análise dos elementos contidos na cinza de queima de biomassa,
lodo de ETE
Lodo ETE1
Elementos
Cinza de biomassa1
pH
*N (mg/L)
*P2O5(mg/L)
*K2O
*Ca (mg/L)
*Mg (mg/L)
*S (mg/L)
B (mg/L)
*Carbono orgânico
total
Na (mg/L)
Al (mg/L)
As (mg/L)
Cd(mg/L)
Cr
Pb
Ni
8,84 (solução CaCl2)
0,11
0,099
0,20
0,42
0,12
0,17
0,0050
9,99 (solução CaCl2)
0,73
0,021
0,19
0,058
0,028
0,80
0,027
22,55
0,079
0,95
Não detectado
Não detectado
Não detectado
Não detectado
Não detectado
14,58
0,050
3,50
Não detectado
Não detectado
Não detectado
Não detectado
Não detectado
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Se
Hg
Umidade
Não detectado
Não detectado
33,86
Não detectado
Não detectado
86,45
1
Análise realizada pelo Laboratório de Tecnologias Ambientais e Agronômicas– Instituto de
Tecnologia do Paraná – TECPAR– Curitiba – PR. Os resíduos utilizados foram
classificados como resíduos classe II A de acordo com a NBR 10.004/04.
Os Tratamentos fertirrigados apresentaram a seguinte composição
química na solução nutritiva comercial: Nitrato de cálcio (15,5% N, 14,5%
nítrico, 1% amoniacal e 19% cálcio), fertilizante mineral misto (12% N, 45%
K2O, 1,2% S), fosfato monoamônico (11% N, 60% P2O5), sulfato de magnésio
hepta hidratado (9% Mg, 11% S) e com micronutrientes standard (7,26% Fe
EDTA, 1,82% Cu FDTA, 0,73% Zn EDTA, 1,82% Mn EDTA, 1,82% B, 0,36%
Mo, 0,335%).
Todos os tratamentos (com solução e sem solução nutritiva) foram
irrigados 15 minutos no período da manhã e 15 minutos no período da tarde. O
sistema de irrigação utilizado foi do tipo localizado por gotejamento, cujas
mangueiras gotejadoras possuíam diâmetro interno de 16,5 mm; espessura da
parede de 0,2 mm; pressão de serviço de 30 a 100 kPa e espaçamento de 0,10
m entre emissores. Foram utilizados quatro tubos gotejadores por parcela, de
modo a atender individualmente as fileiras de plantas.
A cultivar de alface utilizada foi a do grupo repolhuda lisa “Lídia”, a
colheita foi realizada 38 dias após o transplantio.
As variáveis analisadas foram: altura das plantas (AP) em cm, número
de folhas por planta (NFP), diâmetro do caule (DC) em cm, fitomassa fresca da
raiz (FFR) em gramas, fitomassa fresca aérea (FFA) em gramas e a fitomassa
fresca total (FFT) em gramas.
Submeteu-se à análise de variância (ANOVA) e as médias foram
comparadas pelo teste de LSD ao nível de 5% de probabilidade (P=0,05),
através do programa SISVAR – versão 5.1 (FERREIRA, 1999). Os resultados
que apresentaram diferenças estatisticamente significativas ao nível de 5% de
probabilidade no teste F, foram considerados estatisticamente diferentes e
comparados utilizando o teste de médias de Student (LSD).
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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Observando a tabela 2 e 3, verificou-se que houve diferença significativa
entre as plantas que foram submetidas a irrigação com solução nutritiva e as
que foram irrigadas sem solução nutritiva. Isso deve-se ao fato que a solução
nutritiva supriu as necessidades elementares das plantas.
Os tratamentos irrigados sem solução nutritiva a exemplo do substrato
apresentou médias superiores para todas as variáveis analisadas. Esse
resultado corrobora com diversos estudos, devido o mesmo possuir
propriedades físicas, químicas e biológicas adequadas ao desenvolvimento das
plantas (BEUTLER; FERRAZ; CENTURION, 2005).
O substrato apresentou aproximadamente 54% a mais em relação a
altura de planta quando comparado ao tratamento que obteve a menor altura,
que neste caso foi cinza e cinza +casca. O tratamento lodo + cinza apresentou
valores significativos em relação aos demais tratamentos, para a mesma
variável, correspondendo a segunda melhor média.
Tabela 2. Altura da planta (AP), número de folhas por planta (NFP) e diâmetro
do caule (DC).
Tratamentos
Sem solução Lodo
Cinza
Casca
Cinza+casca
Lodo+cinza
Lodo+casca
Substrato
Valor de P
Com solução Lodo
Cinza
Casca
Cinza+casca
AP (cm)
9,1 ± 2,30
8,2 ± 3,20
8,6 ± 1,30
8,2 ± 2,34
11,6 ± 4,33
8,4 ± 2,21
17,9 ± 1,23
0,0014
11,4 ± 3,45
16,7 ± 2,46
14,4 ± 1,56
15,9 ± 2,78
NFP
c
g
d
g
b
f
a
e
b
d
c
7,2 ± 3,12
5,8 ± 4,23
4,7 ± 1,23
5,4 ± 3,32
8,0 ± 3,32
5,4 ± 1,26
8,2 ± 4,23
0,0005
8,6 ± 3,45
8,5 ± 2,67
7,9 ± 2,98
9,0 ± 3,45
DC (cm)
b
c
d
c
a
c
a
4,2
3,9
3,3
3,3
4,9
3,7
7,3
± 2,13
± 5,45
± 3,65
± 2,87
± 3,03
± 2,17
± 4,54
0,3460
d 6,1 ± 3,87
d 6,4 ± 2,76
e 6,2 ± 3,90
c 6,7 ± 3,45
c
d
e
e
b
d
a
d
c
d
b
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Lodo+cinza
15,6 ± 3,45 c 10,4 ± 4,23 a 7,5 ± 1,45 a
Lodo+casca
11,5 ± 2,12 e 7,7 ± 1,34 e 5,8 ± 1,98 e
Fibra de coco 19,1 ± 1,87 a 9,8 ± 1,87 b 7,0 ± 3,29 b
Valor de P
0,0525
0,0001
1,0028
Desvio padrão da média (±). Letras minúsculas diferentes na coluna entre
os tratamentos diferem estatisticamente pelo teste de LSD – Student
(P<0,05).
A
mistura
lodo
+
cinza
apresenta
características
adequadas,
possivelmente devido a cinza apresentar porosidade, proporcionando espaços
vazios aumentando a oxigenação das raízes, o conteúdo de nutrientes do lodo
(tabela 1) também deve ter contribuído para este resultado.
A variável número de folhas por planta não diferiu estatisticamente para
os tratamentos substrato e lodo + cinza e também para os tratamentos cinza,
cinza+casca e lodo+casca. Para diâmetro do caule, o tratamento substrato
apresentou a melhor média com 7,3 cm, isso significa 4 cm a mais quando
comparado aos tratamentos que apresentaram menor diâmetro do caule (casca
e cinza+casca). O segundo melhor resultado pode ser observado para o
tratamento lodo+cinza, apresentando 2,4 cm a menos que o tratamento
substrato.
Tratamentos submetidos a irrigação com solução nutritiva, observando a
fibra de coco, apresentou melhor altura de planta, podendo ser notado que
esse tratamento obteve 7,5 cm a mais que os menores resultados encontrados
(lodo e lodo+casca).
Já para o número de folhas por planta, o tratamento lodo+cinza
apresentou a melhor média entre os tratamentos (10,4 folhas por planta), isso
significa 2,4 folhas a mais por planta quando comparado ao tratamento casca e
lodo+casca. Para a variável diâmetro do caule, o tratamento que apresentou a
melhor média foi lodo+cinza e, o segundo melhor resultado pode ser observado
no tratamento cinza+casca e fibra de coco, o menor diâmetro do caule foi
apresentado pelo tratamento lodo+casca com 5,8 cm.
Resultados observados na tabela 3 para os tratamentos irrigados sem a
solução nutritiva, evidenciaram que, o tratamento substrato apresentou a
melhor fitomassa fresca da raiz seguido dos tratamentos lodo e cinza.
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Tabela 3. Fitomassa fresca da raiz (FFR), fitomassa fresca aérea (FFA) e
fitomassa fresca total (FFT).
Tratamentos
FFR (g)
FFA (g)
FFT (g)
Sem solução Lodo
1,08 ± 1,23 b 3,31 ± 3,6 c 4,39 ± 3,7
Cinza
1,15 ± 2,67 b 3,19 ± 4,3 c 4,34 ± 5,9
Casca
0,58 ± 3,21 d 1,03 ± 4,6 e 1,61 ± 3,6
Cinza+casca 0,73 ± 2,24 c 1,38 ± 3,6 d 2,11 ± 2,9
Lodo+cinza
0,75 ± 4,23 c 6,71 ± 2,6 b 7,46 ± 5,8
Lodo+casca
0,78 ± 1,98 c 1,11 ± 5,4 e 1,89 ± 5,0
Substrato
2,14 ± 2,79 a 30,75 ± 3,7 a 32,89 ± 4,6
Valor de P
0,0073
0,0342
0,0004
Com solução Lodo
2,52 ± 2,34 b 12,84 ± 3,45 g 15,36 ± 2,6
Cinza
3,10 ± 1,45 a 26,31 ± 4,01 d 29,41 ± 4,8
Casca
1,58 ± 4,76 e 16,65 ± 2,80 f 18,23 ± 3,2
Cinza+casca 2,29 ± 3,89 c 36,57 ± 3,04 c 38,86 ± 3,1
Lodo+cinza
2,34 ± 1,34 c 38,64 ± 4,69 b 40,98 ± 3,0
Lodo+casca
1,44 ± 1,98 f 21,23 ± 3,85 e 22,67 ± 3,1
Fibra de coco 1,73 ± 2,45 d 41,65 ± 3,45 a 43,38 ± 4,50
Valor de P
0,3429
0,0019
0,0345
Desvio padrão da média (±). Letras minúsculas diferentes na coluna entre os
tratamentos diferem estatisticamente pelo teste de LSD – Student (P<0,05).
c
c
e
d
b
e
a
g
d
f
c
b
e
a
Com relação à fitomassa fresca aérea e fitomassa fresca total, o valor
médio total do tratamento substrato foi de aproximadamente 68% superior ao
tratamento lodo +cinza, o qual apresentou a segunda melhor média.
O tratamento de menor expressividade para a variável fitomassa fresca
total, foi a casca e lodo+casca, resultando em 31 g a menos quando
comparado a média do melhor tratamento evidenciado pelo substrato
Já sob irrigação com solução nutritiva, o tratamento fibra de coco
apresentou melhor desempenho em relação aos demais para as variáveis,
fitomassa fresca aérea e fitomassa fresca total. Segundo Rosa et al. (2002), a
fibra de coco tem alta capacidade de absorção hídrica e com isso maior
disponibilidade de nutrientes para as plantas. Isso também foi observado em
trabalho realizado por Oliveira e Hernandez (2008) em mudas de berinjela.
Ao contrário foi observado para a variável fitomassa fresca da raiz que, o
tratamento cinza apresentou superioridade aos demais.
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ISSN: 2178-3586 / 5ª Edição / Jan – Jul de 2012
Neste sentido, há evidencias neste trabalho que a utilização de
suprimento nutricional a exemplo da solução nutritiva, concede baixo
desenvolvimento às raízes, uma vez que o nutriente próximo a superfície, a
planta não irá buscar o nutriente em profundidade através das raízes.
O tratamento lodo+cinza proporcionou a segunda melhor média para as
varáveis fitomassa fresca aérea e fitomassa fresca total. Santos et al. (2011)
obtiveram resultados menores para as variáveis altura, número de folhas e
diâmetro do caule utilizando 80% de resíduo da indústria sisaleira no substrato
comercial Tropstrato.
Durante o desenvolvimento do experimento, observou-se também que
as raízes das plantas sob tratamento lodo, apresentaram crescimento
horizontal, tanto para a irrigação com solução nutritiva como para irrigação sem
solução.
De acordo com Andriolo et al. (2004) isso ocorreu possivelmente devido
a compactação ou lixiviação das partículas menores pela solução de irrigação,
observa-se que o lodo apresenta características físicas como a alta densidade,
evidenciando baixa capacidade de penetração por parte das raízes, que
segundo Moreto et al. 2011, pode chegar a 1,57 kg dm -¹.
5 CONCLUSÃO
Todos os resíduos apresentam potencial para serem utilizados como
substratos na hidroponia para a cultura de alface (Lactuca sativa).
O tratamento lodo + cinza foi o mais promissor depois dos tratamentos
usuais para produção da cultura de a alface, tanto sob irrigação sem solução
nutritiva ou com a solução nutritiva.
Sugere-se que mais trabalhos semelhantes a este sejam realizados,
devido haver poucos estudos referentes ao uso de resíduos gerados na
produção de celulose e papel como substrato na hidroponia.
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