A PREVENÇÃO DA PNEUMONIA ASSOCIADA À VENTILAÇÃO MECÂNICA COMO UM INDICADOR DE QUALIDADE NA UTI PEDIÁTRICA DO HOSPITAL REGIONAL UNIMED. PREVENT PNEUMONIA ASSOCIATED WITH MECHANICAL VENTILATION AS AN INDICATOR OF QUALITY IN PEDIATRIC ICU REGIONAL HOSPITAL UNIMED. Clarissa Coelho Vieira Guimarães I João Joaquim Freitas do Amaral II Mestranda em Terapia Intensiva (SOBRATI), Especialista em Neonatologia. Enfermeira Intensivista Pediátrica do Hospital Regional Unimed. II Doutor em Epidemiologia pela Universidade Federal de Pelotas/RS.Especialista em Saúde da Criança pela Universidade Estadual do Ceará. Professor adjunto de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará. I RESUMO Trata-se de um estudo sobre a implantação de um protocolo como indicador de qualidade do cuidado multiprofissional na Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica do Hospital Regional Unimed. Parte-se dos conceitos do Manual de Acreditação Hospitalar sobre qualidade, indicadores gerais e Diretrizes.Para estabelecer o indicador, tomamos como ponto de partida os indicadores básicos previstos no bundle de ventilação do Institute for Healthcare Improvement- IHI , assim como propomos alguns e outros indicadores que são fruto da nossa experiência e pesquisas na unidade intensivista. Apresentando no final desta pesquisa o protocolo implantado na rotina da UTI Pediátrica do Hospital Regional Unimed na intenção de reduzir drasticamente a incidência de Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. Palavras-chave: Pneumonia Associada à Ventilação, Indicadores de Qualidade; Terapia Intensiva. ABSTRACT This is a study on the implementation of a protocol as an indicator of quality of care in multidisciplinary Pediatric Intensive Care Unit of the Regional Hospital Unimed. It starts with the concepts of Hospital Accreditation Manual on quality indicators and General Guidelines To establish the indicator, we take as starting point the basic indicators specified in the Institute for Healthcare Improvement IHI bundle ventilation, as some propose, and other indicators that are the fruit of our experience and research in the intensive care unit. Presenting at the end of this research protocol implemented in routine ICU Pediatric Regional Hospital Unimed intending to drastically reduce the incidence of Ventilator-Associated Pneumonia in. Keywords: Ventilation Associated Pneumonia, Indicators of Quality, Intensive Care. INTRODUÇÃO A infecção hospitalar (IH), institucional ou nosocomial, é qualquer infecção adquirida após a internação do cliente e que se manifeste durante sua permanência no hospital ou mesmo após a alta, uma vez que possa ser relacionada com a hospitalização 1. É importante ressaltar que a maioria das IH manifestam-se como complicações naturais de pacientes gravemente enfermos, decorrentes de um desequilíbrio entre uma flora microbiana normal e seus mecanismos de defesa. Esse desequilíbrio é provocado por determinadas doenças responsáveis pela hospitalização e procedimentos invasivos ou imunossupressivos que o doente, correta ou incorretamente, foi submetido. No entanto, algumas infecções hospitalares são evitáveis, outras não. Essas infecções resultam de interações complexas e múltiplos fatores casuais, que interagem diferentemente, predisposto a infecções de diversos tipos2. Desde o inicio da terapia intensiva umas das mais importantes complicações das que se listam durante a internação em unidades desta modalidade terapêutica é a pneumonia hospitalar. Destas, a maioria é associada a dispositivo invasivo, isto é, relacionada à ventilação mecânica, como demonstrado pelo National Infection Survaillance System (NNIS), compondo 85% das pneumonias nosocomiais 3. A Pneumonia é uma doença aguda dos pulmões, que pode produzir sinais e sintomas respiratórios, como tosse, respiração curta e rápida, produção de secreção e dores no peito, além de sintomas sistêmicos não específicos, incluindo febre, fadiga, dores musculares e falta de apetite4. É a principal causa de infecção nosocomial em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), ocorrendo, em mais de 90% dos casos, em pacientes submetidos à intubação endotraqueal e ventilação mecânica (VM) 5,6. A Pneumonia associada à ventilação mecânica (PAVM) é definida como infecção das vias aérea inferiores diagnosticada após pelo menos 48 horas da intubação do paciente. A incidência de PAVM varia de 10% a 65%, com mortalidade atribuída entre 25% a 50%. Vários estudos demonstraram que a PAVM é variável independentemente associada à mortalidade em terapia intensiva. Nos Estados Unidos ocorrem cerca de 250 mil casos por ano, com aproximadamente 23 mil mortes relacionadas à PAVM 7. A VM é uma forma de tratamento artificial utilizando em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para manutenção de oxigenação e/ou ventilação dos pacientes críticos que desenvolvem insuficiência respiratória. Quando os clientes são submetidos à VM, os mecânicos de defesa do pulmão estão alterados pela doença de base, ou pela perda da proteção das vias aéreas superiores, em indivíduos intubados, trazendo distúrbios da fisiologia normal respiratória durante a ventilação mecânica, que vão desde a hipersecreção pulmonar até o aumento da frequência das infecções respiratórias, com alto índice e morbimortalidade 8. A tecnologia altamente especializada e complexa utilizada em UTI incrementa a sobrevida dos pacientes críticos nas mais diversas situações. Em contrapartida, aumenta os fatores de riscos predisponentes que levam a adquirir infecção hospitalar nos pacientes internados9. É uma luta incansável a busca pela manutenção da vida dos pacientes críticos que necessitam de monitorizarão e suporte contínuo para preservação de suas funções vitais, na qual a maioria absoluta deles são submetidos a procedimentos invasivos, tais como tubo orotraqueal, traqueostomia e ventilação mecânica, que prejudicam os mecanismos de defesa do trato respiratório, tendo como consequência a Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica (PAVM) 2. A ventilação mecânica é uma forma de tratamento artificial utilizado em UTI para manutenção da oxigenação e/ou ventilação dos pacientes críticos que desenvolvem insuficiência respiratória10. Por isso, a realização das metas de melhoria da qualidade e do desempenho de uma empresa requer que a gestão de processos seja baseada em dados, informações e análises confiáveis. Para poder analisar dados é necessário se estabelecer indicadores de desempenho 11. A compreensão de indicadores pode ser entendida como as características mensuráveis de produtos, serviços, processos e operações utilizadas pelo hospital para avaliar e melhorar o seu desempenho e progresso e a eficiência da assistência. O Controle de Qualidade do Atendimento Hospitalar preconiza que o hospital deve organizar se de tal modo que os fatores técnicos, administrativos e humanos, que afetam a qualidade de seus produtos e serviços, estejam sob controle. Esse controle deve ser orientado no sentido de reduzir, eliminar e prevenir deficiências da qualidade. Para isso, o hospital deve ter à disposição documentação suficiente para acompanhar os níveis de qualidade atingidos. Através dessa documentação se estabelece o levantamento de dados, garantindo-se que, ao fazê-lo, se utilize uma metodologia que sustente a fidedignidade da coleta de dados. Esse levantamento apresentará os resultados do hospital para determinado indicador e esses resultados serão comparados com índices estabelecidos de tal forma que saberemos se há qualidade ou não para o procedimento que se avalia 12,13. Pretende-se com esse estudo, oferecer subsídios que direcionem a prevenção do desenvolvimento de PAV no ambiente hospitalar através da implementação do protocolo de PAV a e alguns componentes da assistência e principalmente na melhoria da assistência prestada aos pacientes com Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. METODO Trata-se de estudo descritivo exploratório. Esse tipo de método de pesquisa consiste no exame da literatura científica, para levantamento e análise do que já se produziu sobre determinado tema em bases de dados nacionais, revistas por pesquisadores e em indexadores de produção científica (BIREME).14 A presente pesquisa, proporciona maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Tem ainda como método de abordagem o dedutivo, que a partir de uma visão geral chega-se a um fenômeno particular 15 . A pesquisa nos periódicos eletrônicos está relacionada na base de dados Scielo, utilizando-se os termos “Pneumonia Nosocomial ” e “Ventilação Mecânica”, no período de 2006 a 2012, assim como outras fontes. Dos artigos selecionados, realizou-se uma leitura crítica, com necessária imparcialidade e objetividade, selecionando os de maior significância para a pesquisa. Após análise sistemática da literatura, procurou-se realizar um apanhado de ações de multiprofissionais correlacionadas com a temática necessária para a prevenção e promoção da saúde do paciente sob ventilação mecânica, realizado em uma das seis unidades de terapia intensiva do Hospital Regional Unimed (HRU), sendo esta uma empresa privada com público de grande porte e alta complexidade, da capital do Ceará, que atende pacientes em situações de urgência e emergência. Desde sua criação, em 1998, o HRU vem crescendo em estrutura e corpo clínico, sempre mantendo excelente padrão de qualidade. Com 26.900 m2 de área construída, o HRU é referência em procedimentos de alta complexidade no estado do Ceará, contando com 220 leitos e 600 médicos prontos para dar o melhor atendimento aos seus paciente,mas o que faz o HRU tão especial é o comprometimento e seriedade de seus profissionais, que trabalham diariamente para fazer desta instituição o que ela é: o maior hospital do sistema Unimed no Brasil e o único particular nas regiões Norte/Nordeste com certificação em nível 2 da Acreditação Hospitalar, concedida pela Organização Nacional de Acreditação (ONA). O Hospital Regional Unimed, situado em Fortaleza (CE), é uma empresa particular que dispõe atualmente de seis UTI´s sendo estas uma UTI de Alta Complexidade funcionando no primeiro andar com 14 leitos , uma UTI Neonatal funcionando no primeiro andar com 10 leitos atuando com até 15 leitos , duas UTI´s Clínicas funcionando no terceiro andar com oito leitos cada uma ,uma UTI Pediátrica funcionando no quarto andar com 8 leitos e uma UTI Coronária no oitavo andar funcionando com 13 leitos.Todas as UTI´s são climatizadas e seus leitos divididos com cortina. A engenharia clínica dispõe de um respirador para cada paciente internado nas seis UTI´s do HRU. A unidade de escolha foi a UTI Pediátrica, composta por uma equipe de doze médicos, cinco enfermeiros, dezesseis auxiliares mais ferista e três fisioterapeutas. O hospital, como uma empresa prestadora de serviços, vem passando por uma rápida evolução tecnológica e social que atinge diretamente a todos os seus usuários. Nesse processo, surgiram os programas de gestão pela qualidade, que são sistemas estruturados de forma a atender e superar as necessidades e expectativas dos clientes, através do controle e aperfeiçoamento contínuo do seu processo de trabalho16. Quadro 1. Distribuição do número de profissionais das Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Regional Unimed Unidades de Terapia Intensiva ALTA COMPLEXIDADE NEONATAL CLÍNICA NORTE CLÍNICA SUL PEDIÁTRICA CORONÁRIA * Feristas Aux./Tec. Enfermagem Leitos Enfermeiros Fisioterapeutas Médicos 28+3* 20+1* 16+1* 16+1* 16+1* 20 14 10-15 8 8 8 13 10+1* 10+1* 5 5 5+1* 10+1* 2 2 2 2 3 2 12 12 12 12 12 16 REVISÃO DE LITERATURA MEDIDAS DE PREVENÇÃO De acordo com diversos estudos, é fortemente recomendado realizar vigilância de Pneumonia Relacionada à Ventilação Mecânica (PAV) com definições padronizadas em unidades de terapia intensiva, assim como calcular taxas de PAV,dar um retorno destes índices para a equipe de saúde e, sobretudo associar estas taxas com as medidas de prevenção pertinentes. Este indicador pode tornarse um importante aliado na avaliação da qualidade da assistência17. Para tanto a vigilância deve ser efetuada por equipe treinada com conceitos de epidemiologia e critérios definidos de pneumonia. Educar a equipe de saúde e envolvê-la na prevenção de infecção hospitalar de acordo com nível de responsabilidade do profissional. Alguns estudos observaram importante impacto de programas educacionais na redução de PAV18,19. A higiene das mãos deve fazer parte de todas as campanhas educativas tanto fortalecendo os conceitos da periodicidade como da técnica. Muitos estudos recomendam a utilização de sabonete líquido com antissépticos como a clorexidina em locais onde é frequente a presença de bactérias multirresistentes como uma prática e diminuir a transmissão cruzada. A utilização do álcool-gel deve ser estimulada em todas as áreas do serviço de saúde, principalmente na beira do leito. Recomenda-se implantar e manter estratégias para melhor adesão à higienização das mãos conforme as diretrizes publicadas pela Anvisa. O treinamento da equipe multiprofissional que presta assistência a pacientes em ventilação mecânica é fundamental e tem impacto direto nas taxas de PAV. As estratégias devem ser, de preferência, multimodais, ou seja, envolvendo metodologias variadas: treinamento aula presencial, e-learning, aula prática e com simulações, discussão da prática à beira do leito, feedback de indicadores com discussão de medidas preventiva 13. É fundamental manter uma rotina de visitas multidisciplinares com a participação dos médicos da unidade, farmacêutico, enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista, médico e/ou a enfermeira da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar entre outros profissionais envolvidos diretamente na assistência aos pacientes internados na UTI. Estas visitas à beira do leito proporcionam a identificação de não conformidades dos processos assistenciais, auxiliam o gerenciamento de medidas de prevenção e facilitam o relacionamento entre os profissionais. Quadro 2. Taxa de PAV Total nº de Casos de PAV/ Ventilador Dia x 1000 = Taxa de PAV A profilaxia da úlcera de estresse e a profilaxia da trombose venosa profunda (TVP), embora não estejam diretamente associadas com a prevenção de pneumonias relacionadas à assistência à saúde, são importantes medidas de qualidade assistencial e têm impacto na diminuição da mortalidade hospitalar e na diminuição do tempo de internação.A profilaxia de úlcera de estresse deve ser indicada apenas para pacientes com alto risco de sangramento: úlcera gastroduodenal ativa sangrante, sangramento digestivo prévio, traumatismo cranioencefálico, uso de ventilação mecânica, politrauma, coagulopatia, uso de corticosteróides.É fortemente recomendável que a unidade desenvolva protocolos e processos para medir à aderência a estas práticas, como por exemplo, avaliando se as prescrições incluem medicamentos específicos para este fim naqueles pacientes que tenham indicação para estas profilaxias18,20. MEDIDAS ESPECÍFICAS FORTEMENTE RECOMENDADAS PARA PREVENÇÃO DE PNEUMONIA Estas são medidas fundamentais que devem ser gerenciadas em conjunto com as anteriormente citadas para a prevenção das pneumonias hospitalares e da mortalidade relacionadas à ventilação mecânica: A. Manter os pacientes com a cabeceira elevada entre 30º e 45º; B. Avaliar diariamente a sedação e diminuir sempre que possível; C. Aspirar a secreção acima do balonete (subglótica); D. Higiene oral com antissépticos (clorexidina veículo oral). Decúbito elevado (30- 45°) Manter pacientes em posição de semi-recumbente, ou seja, com elevação da cabeceira em 30 a 45°, salvo na existência de contra-indicação, tem demonstrado associação com um risco reduzido de aspiração pulmonar.A utilização do decúbito elevado reduz o risco de aspiração do conteúdo gastrintestinal ou orofaríngicos e de secreção nasofaríngea, por este motivo, diminui a incidência de PAV especialmente em pacientes recebendo nutrição enteral 21. Outra razão para o acréscimo desta intervenção é a melhoria dos parâmetros ventilatórios quando na posição semi-recumbente. Por exemplo, os pacientes nesta posição apresentam um maior volume corrente quando ventilados com pressão de suporte e redução no esforço muscular e na taxa de atelectasia 21 . Interrupção diária da sedação e evitar o uso de agentes paralisantes A utilização da interrupção diária da sedação e a avaliação da prontidão do paciente para a extubação são parte integrante do Ventilator Bundle e têm sido correlacionadas com uma redução do tempo de ventilação mecânica e, portanto a uma redução na taxa de PAV19. Apesar dos benefícios gerados pela interrupção diária da sedação, esta intervenção pode apresentar alguns riscos. O exemplo disso está na extubação acidental, no aumento do nível de dor e ansiedade e na possibilidade de assincronia com a ventilação, o que pode gerar períodos de dessaturação. É importante implantar um protocolo de avaliação diária da sedação, avaliar a prontidão neurológica para extubação, incluir precauções para evitar a extubação acidental, tais como maior monitorização e vigilância, avaliação diária multidisciplinar e implementação de uma escala a fim de evitar aumento da sedação21, 22,23. Aspirar a secreção subglótica rotineiramente O acúmulo de secreção no espaço subglótico é uma variável associada ao maior risco de desenvolvimento de pneumonia associada à ventilação mecânica. Esta secreção acumulada torna-se colonizada pela microbiota da cavidade oral. Em pacientes submetidos à ventilação mecânica e uso de antimicrobianos, esta microbiota é composta principalmente de bacilos Gram-negativos e é importante fonte de bactérias resistentes aos antimicrobianos. A rotina de aspiração deve ser prescrita de acordo com a necessidade de cada paciente, pela maior ou menos produção de secreção e realizada com técnica estéril. Higiene oral com antissépticos Diversos estudos têm demonstrado diminuição das pneumonias associadas à ventilação quando a higiene oral é realizada com clorexidina veículo oral (0,12% ou 0,2%). Muitos protocolos preconizam a higiene da cavidade oral com clorexidina oral, formulação de 0,12%, com uma pequena esponja, evitando lesões da cavidade, três a quatro vezes ao dia. O profissional deve ficar atento para alergias, irritação da mucosa ou escurecimento transitório dos dentes. OUTRAS MEDIDAS DE PREVENÇÃO Circuito do ventilador. A frequência da troca do circuito do ventilador não influencia na incidência de PAV. Recomenda-se a troca de circuito entre pacientes e quando houver sujidade ou mau funcionamento do equipamento17. Umidificadores Umidificadores passivos ganharam ampla aceitação nos cuidados da prática clínica; no entanto, não existe nenhum consenso sobre sua superioridade em termos de prevenção PAV, tempo de internação e mortalidade, em comparação com umidificadores ativos (umidificadores aquecidos) 19,24,25. A preferência do sistema passivo de umidificação das vias respiratórias em pacientes mecanicamente ventilados é devido à facilidade de manuseio e ausência de condensados nos circuitos além do relativo baixo custo. Umidificadores aquecidos podem ser a preferência em pacientes com copiosa quantidade de secreções respiratórias, hemoptise abundante, ou naqueles com maior susceptibilidade à atelectasias, porém, a água e condensados formados são possíveis fontes de microrganismos. Recomenda-se a troca dos umidificadores passivos não antes de 48 horas sendo que o manual canadense de prevenção de pneumonia recomenda a troca entre 5 a 7 dias13,23. Sistema de aspiração Em relação ao sistema de aspiração de secreções das vias respiratórias de pacientes mecanicamente ventilados, não existe diferença na incidência de PAV quando foram comparados os sistemas de sucção aberto ou fechado. 26 Existe uma possível vantagem do sistema fechado em relação a manutenção da pressão positiva das vias aéreas. Além disso, este tipo de sistema de aspiração pode ser útil em pacientes infectados com patógenos multirresistentes, como a Staphylococcus aureus ou Mycobacterium tuberculosis27,28. Recomenda-se a troca do sistema fechado de aspiração se houver sujidade ou mau funcionamento13,26. Aspiração de secreção subglótica contínua A presença do tubo endotraqueal em pacientes em ventilação mecânica contribui para o desenvolvimento de pneumonia. O tubo endotraqueal facilita a colonização bacteriana da árvore traqueobrônquica e predispõe aspiração da secreção contaminada pela diminuição do reflexo de tosse, acumulo de secreção acima do balonete e a própria contaminação do tubo19,20,29. A utilização da cânula orotraqueal com um sistema de aspiração de secreção subglótica contínua ou intermitente é recomendada para pacientes que irão permanecer sob ventilação mecânica acima de 48hs. Evitar extubação não programada (acidental) e reintubação A reintubação está associada com o risco de PAV devido ao aumento do risco de aspiração de patógenos da orofaringe para vias aéreas baixas. O risco de desenvolver PAV aumenta com o tempo de VM, portanto, recomenda-se que o tubo endotraqueal seja removido assim que as condições clínicas se estabeleçam e a duração da entubação pode ser reduzida por protocolos de sedação e aceleração do desmame, utilização da ventilação não invasiva e a monitorização da freqüência de extubações acidentais19,23,25. Quadro 3. Extubação Acidental Eventos/100 dias de Tubo Endotraqueal Monitorizar pressão de cuff A manutenção da correta pressão de cuff os pacientes submetidos à ventilação mecânica é essencial. Excessiva pressão pode comprometer a icrocirculação da mucosa traqueal e causar lesões isquêmicas, porém se a pressão for insuficiente, pode haver dificuldade na ventilação com pressão positiva e vazamento da secreção subglótica por entre o tubo e a traquéia. A pressão do cuff do tubo orotraqueal ou da traqueostomia deve ser o suficiente para evitar vazamento de ar e a passagem de secreção (microaspiração) que fica acima do balonete. Recomenda-se, portanto, que esta pressão permaneça entre 20 e 25cmH2O19,25,27,30. Utilização de ventilação mecânica não-invasiva (VMNI). O uso de VMNI tem demonstrado redução na incidência de VAP comparado com ventilação mecânica invasiva em pacientes com falência respiratória. A VMNI tem sido uma alternativa efetiva nos pacientes com insuficiência respiratório devido a edema agudo pulmonar cardiogênico ou na doença pulmonar obstrutiva crônica, e no desmame da VM. O uso da VMNI não está recomendado para pacientes comatosos19,23,25. Sonda Enteral na posição gástrica ou pilórica O refluxo gastroesofágico pode contribuir para a aspiração de conteúdo colonizado para vias aéreas inferiores e consequente aumento no risco de PAV. Apesar disso, existem pacientes que se beneficiariam com o uso da sonda em posição pós pilórica, como pacientes que necessitam de posição prona para ventilação, pacientes queimados e pacientes com lesão cerebral grave e pressão intracraniana elevada13,27. Inaladores É recomenda a troca de inaladores a cada procedimento e utilizar o processo de desinfecção estabelecido na sua instituição.Além de só utilizar líquidos estéreis para a inalação. Estas recomendações estão embasadas principalmente na possibilidade de transmissão de Legionella spp pelo resíduo de líquido acumulado nos inaladores entre os procedimentos30. Na prática, as instituições de saúde criaram rotina de troca de inaladores que variam de 24 a 48 horas quando estes dispositivos estão sendo utilizados no mesmo paciente. Aparentemente, a utilização de água e medicamentos estéreis, a cada inalação, inviabiliza a contaminação do líquido pela Legionella spp.Uma recomendação importante é dar preferência às medicações em aerossol em dose única13. Nebulizadores O cuidado com nebulizadores está diretamente relacionado à manipulação do dispositivo e da água utilizada. As recomendações oficiais não são muito claras, pois não existem trabalhos criteriosos que façam a análise desta questão. Outros dispositivos Respirômetros, sensores de desinfetados a cada paciente13. oxigênio e outros dispositivos devem ser Prevenção de administração de antibiótico intravenoso A administração prolongada de antibióticos tem sido associada com alto risco de PAV. Devido ao desenvolvimento de resistência microbiana, não se recomenda a administração preventiva de antibióticos intravenoso 19,25. RESULTADOS/PROTOCOLO DE PREVENÇÃO A partir destes dados, foi elaborado um check-list do protocolo prevenção de infecção associada a ventilação mecânica composto pelos dados dos paciente itens abaixo que são diariamente checados pelo profissional enfermeiro do plantão e notificado por uma auxiliar administrativa. Nome Completo Paciente: Idade: Data de Admissão: Nº do Atendimento: Nº do Leito: Diagnostico: Data do Inicio da Ventilação Mecânica: Mês: Legenda: S- SIM E-EXTUBADO N- NÃO RI-RÉ INTUBADO E os seguintes questionamentos: Cabeceira está elevada entre 30º e 45º ? Realizado Profilaxia Ulcera Péptica? Circuito sem Condensação? Verificação da possibilidade de Extubação? Higiene Oral Adequada ao Protocolo? Verificado a necessidade de Anticoagulante? Quadro 4. Check List do Protocolo Prevenção de Infecção Associada a Ventilação Mecânica CHECK LIST DO PROTOCOLO PREVENÇÃO DE INFECÇÃO ASSOCIADA A VENTILAÇÃO MECÂNICA COD: FOR.001.ASS.PED DATA: 28/10/2008 REVISÃO: 01 PACIENTE (NOME COMPLETO) :___________________________________________________________________________________________ IDADE:_________________________ Nº ATENDIMENTO:_________________ Nº LEITO: _______________________ DATA ADMISSÃO:______/______/_____ DATA INÍCIO VM:______/______/_____ DIAGNÓSTICO:_________________________________________________________________________________________________ __ MÊS:________________________ LEGENDA: S - Sim N - Não E - Extubado RI - Ré intubado DIA 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 CABECEIRA ESTÁ ENTRE 30º A 45º? REALIZANDO PROFILAXIA ÚLCERA PÉPTICA? CIRCUITO SEM CONDENSAÇÃO? VERIFICADO POSSIBILIDADE DE EXTUBAÇÃO? HIGIENE ORAL ADEQUADA AO PROTOCOLO? VERIFICADO NECESSIDADE DE ANTICOAGULANTE? Visto da Enfermagem:___________________________________________________ Critérios de inclusão e exclusão, sistemas de medicação e protocolos requerem adaptação à realidade da intuição para que se tornem viáveis e efetivos. O único fator primordial destas decisões é que os padrões, uma vez decididos, devem ser mantidos ao longo do tempo. A utilização de formulários para a coleta de dados permite o monitoramento da adesão ao protocolo ao longo do tempo; facilitando também a elaboração de gráficas de acompanhamentos mensais. CONCLUSÃO A aplicação do protocolo de pneumonia associada a ventilação mecânica pode reduzir drasticamente a incidência de PAV. As razões para o sucesso são provavelmente decorrentes do efeito das intervenções subjacentes e trabalho em equipe desenvolvendo a aplicação consistente e constante dos cuidados. A prevenção de PAV se resume a aplicar medidas de prevenção a todo o paciente com tudo orotraqueal que é colocado sob ventilação mecânica. A adaptação desta iniciativa para que ela se encaixe nos padrões e hábitos da instituição é essencial. Toda mudança é difícil. O antídoto para o medo é o conhecimento sobre as deficiências do processo atual e ao otimismo sobre os potenciais benefícios do novo processo. A prevenção de infecção hospitalar requer constante vigilância e um processo contínuo de educação dos profissionais de saúde. É importante despertar, no médico,enfermeiros e fisioterapeutas, o entusiasmo e compromisso necessários ao sucesso de qualquer programa de controle de infecção hospitalar. É recomendável que aqueles que cuidam de pacientes mecanicamente ventilados participem de programas educacionais visando a prevenção de pneumonias. Seria ideal um programa que submetesse os novos funcionários, residentes, internos e estudantes,às rotinas vigentes elaboradas pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar CCIH 31,32. Durante a pesquisa percebeu-se que a maioria dos estudos relatados na literatura avaliando a prevenção e a incidência de PAVM, considerou o efeito de apenas uma intervenção em reduzir a incidência dessa infecção. O que se propôs no presente estudo foi uma abordagem multinível, agrupando muitas das principais medidas de prevenção simples e de baixíssimo custo, até então não padronizadas sistematicamente. Pretende-se com este estudo instigar mudanças na atuação e postura dos profissionais do Hospital Regional Unimed, promovendo uma assistência integral, a fim de se criar um atendimento mais humanizado e de melhor qualidade ao paciente sob ventilação mecânica. Para isto, é necessário que todos os profissionais operem em concordância, adotando medidas de prevenção da PAVM metodicamente. O enfermeiro enquanto integrante e líder da equipe assistencial deve instituir medidas de educação permanente e treinamento como forma de associar a teoria à prática. A conscientização, o compromisso e a educação permanente são fatores fundamentais para que os profissionais de saúde das UTI se envolvam e contribuam de maneira efetiva na prevenção de PAVM. ABREVIATURAS PAVM – Pneumonia Associada à Ventilação Mecânica. NNIS – National Nosocomial Infection Survaillance System VM – Ventilação Mecânica UTI – Unidade de Terapia Intensiva VMNI - Ventilação Mecânica Não-invasiva CCIH - Comissão de Controle de Infecção Hospitalar IH – Infecção Hospitalar IHI – The Institute for Healthcare Improvement CDC - Centers for Disease Control and Prevention TVP - Trombose Venosa Profunda HRU – Hospital Regional Unimed REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 1. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria ministerial Nº 2616,12 de maio de 1998. Expede em forma de anexos, normas para o controle de Infecção Hospitalar. Diário Oficial da União. Brasília, [online] 1999. Disponível em: www.ccih.med.br/portaria2616.html. 2. 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