Turismo de Saúde: a união entre dois setores da economia, o turismo e a saúde Embora pareça ser mais um dentre os novos segmentos explorado pelo turismo nos últimos anos, o turismo de saúde é na verdade uma das mais antigas atividades turísticas se olharmos do ponto de vista das viagens em busca de tratamento médico, que sempre ocorreram e são exaustivamente citadas na história da humanidade. A busca pela “cura” ou de algum tratamento de saúde sempre moveu pessoas de diferentes estratos sociais em todas as épocas e partes do mundo a viajarem grandes distâncias, mesmo em face de perigos e guerras, a locais que oferecessem alguma forma de alívio temporário ou definitivo. Conhecido atualmente como “Turismo de Saúde” ou “Turismo Médico”, esse segmento sempre assumiu novas roupagens se aproximando do modelo moderno hoje amplamente conhecido. A denominação considerada mais aproximada à realidade é a de “turismo de saúde”, que é também o termo aceito em diferentes países por ser mais abrangente e menos tendencioso e restrito que o de “turismo médico”. Porém, ambos são encontrados na literatura, especialmente a americana. Nos últimos anos houve uma mudança gradativa nos fluxos desses viajantes até então despercebidos dentro do turismo e na economia, alterando a forma e os destinos dos deslocamentos tendo em vista o surgimento de novos destinos que passaram a oferecer o produto “saúde”. O declínio de alguns destinos e o surgimento de outros, assim como fatores econômicos, políticos, religiosos e sociais aumentou o número, tanto de pólos ou países emissores quanto de clientes que tem encontrado mais facilidades nesses deslocamentos, aquecendo esse segmento de mercado. O turismo de saúde compreende os deslocamentos de pessoas entre diferentes localidades cujo objetivo seja a busca de tratamento médico ou de recuperação da saúde, utilizando-se de forma parcial ou completa da infra-estrutura turística. Embora seja uma atividade planejada ou eletiva, ainda assim podem ocorrer situações emergenciais que desencadeiem a atividade de forma similar à planejada. Embora haja uma concentração dos serviços no entorno de algum hospital, clínica, SPA ou outro local de tratamento ou recuperação da saúde, uma parcela considerável dessas viagens incluem atividades turísticas, de lazer e principalmente atividades culturais no destino. Em muitos casos, o período de recuperação pode ser complementado com passeios em trilhas naturais, aulas de surfe ou atividades recreativas. Obviamente o objetivo principal está voltado para a saúde, sendo o restante complementar e relacionado ao “tipo” de tratamento que a pessoa realizará. Inicialmente é preciso diferenciar que a abordagem ao turismo de saúde envolve dois setores econômicos diferentes, o “Turismo” e a “Saúde”, sendo este um fenômeno estudado por ambos, cada qual com seu enfoque. Esta análise está voltada para o segmento de turismo em primeiro plano e da saúde em segundo. Do ponto de vista do turismo há a utilização de toda a infra-estrutura turística “a serviço” da pessoa que busca a forma de tratamento que seja mais vantajosa ou que não exista na sua localidade. Assim, o turismo surge como um setor que dá suporte a uma motivação maior ou superior que está voltada para a saúde. As viagens para recuperação ou tratamento de saúde são muito comuns dentro de todos os países, sendo difícil sua mensuração dado a amplitude e diversidade dos meios utilizados, de transportes a serviços de saúde (hospitais, clínicas, etc.) Normalmente os deslocamentos ocorrem em dois fluxos diferentes: 1. Pessoas que residem em regiões desprovidas de recursos de saúde compatíveis com suas necessidades, procuram grandes centros urbanos para realizarem seus tratamentos em hospitais, clínicas, consultórios médicos, etc. Tem sido as principais correntes turísticas observadas em número, na diversidade da origem embora se concentrem em poucos destinos. 2. Pessoas que residem nos grandes centros urbanos e que procuram regiões fora desses centros como no interior do país, na natureza, em estâncias climáticas ou hidrominerais, etc. na busca de tratamentos alternativos ou não-convencionais. Tratase de um fluxo menor com poucos pólos emissores e grande diversidade de destinos. Centros Urbanos Hospitais, clínicas, etc. Medicina convencional Fluxo 1 Fluxo 2 Área Rural/Natural Estâncias, SPA’s, etc. Espiritualismo, etc. m Essa inversão apresenta motivações similares, mas com objetivos e resultados diferentes. São fluxos crescentes, muitas vezes polarizados que podem sofrer alterações na origem e no destino de acordo com os investimentos realizados no setor de saúde, e utilização parcial ou completa da infra-estrutura turística existente. No âmbito internacional o turismo de saúde tem sido reconhecido ultimamente por alguns países como um dos segmentos econômicos promissores para os próximos anos. Na busca de tratamento de saúde milhares de pessoas, principalmente de países ricos, viajam todos os anos para diferentes países, geralmente países em crescimento, e que possuem padrões de qualidade e atendimento igual ou superior ao do seu país de origem de forma programada para algum tratamento ou cirurgia. São várias as justificativas para essas viagens como o alto custo da medicina em países desenvolvidos em contraste com o baixo custo em países em crescimento; padrão de excelência similar ou superior ao do próprio país de origem do turista; busca de tratamentos e/ou procedimentos não permitidos ou não aprovados no país de origem (como proibição do FDA nos Estados Unidos); domínio de técnicas diferenciadas dentre outras. No entanto, a motivação principal que justifica de forma convincente a grande maioria das viagens tem sido o fator econômico. Uma mesma cirurgia realizada nos Estados Unidos que é um dos principais países emissores de turistas de saúde, realizada por profissionais de formação similar, em hospitais luxuosos e com a mesma tecnologia de ponta pode custar até 15% do valor cobrado em países como Tailândia, Índia, Malásia, Cingapura, México, Costa Rica dentre outros países. Apenas o valor inferior por si só já é um atrativo poderoso, não bastasse o atendimento humano ser ainda mais caloroso e o tratamento ocorrer em hospitais tão confortáveis quanto hotéis de alto luxo. Muitos países são referência internacional em algumas áreas da medicina como o Brasil é em cirurgia plástica, ortopedia, fertilização humana e mesmo em ortodontia. Padrões de qualidade conferidos pelos mesmos órgãos que atuam nos países ricos com selos de “Acreditação Internacional” garantem os mesmos critérios e padrões de atendimento e excelência, além do rigor médico e assistencial praticado no mundo inteiro. Embora o objetivo principal seja submeter-se a algum tratamento de saúde, o conjunto de serviços oferecidos, a infra-estrutura disponibilizada e o suporte recebido interferem na escolha do turista de saúde. Para receber esse cliente diferenciado, os hospitais, clínicas e outros serviços de saúde precisam preparar-se adequadamente com profissionais qualificados fluentes em outros idiomas principalmente o inglês. Precisam alterar a sinalização interna, conhecer e respeitar os hábitos culturais dos visitantes, preparar-se para lidar com situações conflituosas e penosas como garantias legais dentre outras. Para atender esse segmento surgiram hospitais diferenciados em diversos países com uma oferta de acomodações de alto padrão, próximas das existentes na hotelaria, dentro dos conceitos conhecidos como hotelaria hospitalar e que vem de encontro à expectativa do turista de saúde internacional. Imagens: Suíte do Hospital BNH, em Bangcoc, Tailândia Fonte: BNH Hospital Imagens: Suíte do Hospital Bumrungrad, em Bangcoc, Tailândia Fonte: Bumrungrad Como resultado do aumento consistente do turismo de saúde no mundo inteiro, numerosos hospitais tem investido na capacitação de profissionais e na adequação da sua estrutura física e operacional, para receber esses clientes do mundo inteiro e não mais apenas do seu próprio país. Os governos de países receptores ou destinos de saúde, cientes do volume de negócios gerados tem procurado dar segurança jurídica e divulgado suas potencialidades nos países emissores viabilizando inclusive a entrada de turistas de saúde em seus territórios. E mesmo potenciais turistas têm procurado cada vez mais opções de hospitais e outros serviços de saúde existentes no mundo, de acordo com sua necessidade através de agências especializadas e pela internet. Contudo, nem todos os países que são destinos do turismo de saúde parecem perceber o aquecimento dessa atividade no mundo, perdendo uma parcela valiosa desse mercado. Muitos hospitais de forma isolada e pioneira prepararam-se para essas mudanças e já anunciam em jornais de grandes cidades como Londres e Nova Iorque, oferecendo seus serviços em diversos idiomas. Por outro lado, a grande maioria despercebe oportunidades como essa que bate à porta. Assim, aqueles países que não atentarem às oportunidades já existentes no mercado, podem até não ficar sem beber a água do pote, mas terão que se contentar em beber o que restar, ou terão que cavar novas fontes. Adalto Felix de Godoi